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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU – PETROLINA

PSICOLOGIA

ALESSANDRA BATISTA NUNES – 01310175


ANA CAROLINA FERNANDES COELHO – 0126292
EDUARDA SILVA DE SOUZA – 01308655
ERICA LAIS CAXIAS DA COSTA NUNES – 01361214
FRANSCISCA ROMANA BRAGA FERNANDES – 012375740
HILDA SAMARA FREITAS BRAVO FONSECA – 01326031
MARIA DE FÁTIMA GONÇALVES FIRMINO – 01383353

ABORDAGEM TRANSPESSOAL E A PSICOONCOLOGIA

PETROLINA-PE
2023
1. ABORDAGEM TRANSPESSOAL
Abraham Maslow foi um psicólogo americano, que ficou conhecido pela sua teoria
da Hierarquia das Necessidades e pelos estudos que incentivaram o movimento
humanista. Maslow acreditava que o ser humano era capaz de comportamentos
mais nobres que o ódio, preconceito e guerra; desviou sua energia para criar uma
psicologia que tinha como foco os atributos nobres do ser humano, que estimula o
que termos de melhor.
A Abordagem Transpessoal surgiu nos EUA, em 1968, a partir do encontro de
Abraham Maslow, Anthony Sutich, Stanislav Grof, Carl Rogers, Victor Frankl,
Chartole Buhler e James Fadiman.
Psicologia Transpessoal ou Quarta Força, tem como enfoque o estudo dos estados
saudáveis que colaboram para a promoção de bem-estar. Esta não refuta o
conhecimento objetivo do homem no mundo, mas valida o conhecimento subjetivo,
posicionando-o como observador participativo e consciente e não como um
observador distante e desinteressado. A palavra TRANS vem do latim e no contexto
da Transpessoal, significa além do ego, através do pessoal e transformando-o.
É uma disciplina que integra ciência e espiritualidade, sua visão de homem é a de
um ser bio-psico-sócio-espiritual e encontra-se sob a égide da abordagem sistêmica,
que facilita a compreensão de manifestações psicossomáticas e da abordagem
transdisciplinar.
A Transpessoal está relacionada em sua própria definição, ao conceito de
transcendência e espiritualidade. Se faz necessário, neste âmbito, esclarecer tal
conceito. E fundamental diferenciar espiritualidade de religiosidade. Religiosidade
refere-se à extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião.
Espiritualidade tem sido compreendida como a prática da reflexão, de modo
particular, das questões relacionadas ou significado da vida e da razão de viver. A
religião lida com códigos externos de conduta, definidos pela tradição religiosa
especifica e baseados em dogmas seguidos pela comunidade. A espiritualidade diz
respeito a dimensões intimas da personalidade e sua busca por serenidade, não
necessariamente através da figura de Deus, mas junto à natureza, por exemplo. A
espiritualidade pode ser definida como produtora de sentido, algo que conecta o
indivíduo ao mundo, criando uma sensação de pertencimento e acolhimento, e ainda
como algo que fornece valor e faz transcender.
Em tempos atuais, a espiritualidade tem sido definida de um modo mais amplo,
como uma dimensão que contribui para a saúde, é encontrada em todas as culturas
e sociedades humanos e se expressa como a busca do indivíduo pelo sentido último
de sua existência. No contexto das práticas de saúde, a influência de aspectos
espirituais e religiosos na cura e no tratamento de doenças físicas ou mentais, tem
sido amplamente pesquisada no exterior e também aqui no Brasil. A ampla maioria
dos estudos de boa qualidade pontua que os maiores níveis de envolvimento
religioso/espiritual estão associados positivamente a indicadores de bem-estar
psicológico (satisfação com a vida, felicidade, afeto positivo e moral mais elevado e
a menos depressão, pensamentos e comportamento suicidas, uso/ abuso de
álcool/drogas.
2. PSICOLOGIA TRASPESSOAL E A PSICOONCOLOGIA
O artigo pesquisado trata da discussão e proposição da aplicação clínica da
abordagem transpessoal e pacientes adultos de câncer, através de intervenções
psicossociais que levam em conta os aspectos da espiritualidade e das formas de
enfrentamento (coping religioso/espiritual) destes pacientes.
O coping define-se como formas de enfrentamento para lidar com situações de
adversidade (Como situação de enfermidade). Está ligado aos estudos sobre
estresse e qualidade de vida, sendo importante para a sua manutenção especial na
presença de uma doença grave. Guarda relações com a criatividade e flexibilidade,
pois o indivíduo que consegue criar novas formas de ver e agir em situações de
risco transita e comunica bem com seu contexto conseguindo um maior ajustamento
e bem-estar.
O termo coping religioso/espiritual (CRE) é caracterizado como o uso da religião,
espiritualidade ou fé para lidar com o estresse e as consequências negativas dos
problemas de vida, por meio de um conjunto de estratégias religiosas e/ou
espirituais utilizadas para manejar o estresse diário advindo de circunstanciais ou
existenciais como são o câncer e o seu tratamento.
2.1 Técnicas oriundas da abordagem
Para o atendimento psicossocial transpessoal a adultos com câncer, além dos
instrumentos utilizados que serão descritos em seguida, foi desenvolvida uma
anamnese espiritual. Trata-se de um roteiro de perguntas que nos permite conhecer
sobre a relação do paciente com a espiritualidade (seja ela pautada por uma
religiosidade organizacional e extrínseca ou puramente intrínseca), além do estilo de
CRE utilizado no contexto do adoecimento e tratamento oncológico. Esse roteiro é
utilizado como uma entrevista e é por si só uma forma de criar um elo de confiança
entre paciente e psicooncólogo, oferecendo elementos importantes para a reflexão
que ajudam a traçar os objetivos principais do acompanhamento.
2.2 Recursos da abordagem transpessoal ao paciente oncológico
Além do recurso da intervenção verbal usualmente encontrada nos modelos clínicos,
a Transpessoal oferece outras ferramentas, entre elas: relaxamento, exercícios
meditativos, imaginação ativa, visualização criativa, recursos expressivos como
grafismo, mandalas, argila, colagem etc.
3. ESTUDO DE CASO
3.1 Dados do paciente
JM, um paciente oncológico adulto, 28 anos, advogado, solteiro, que foi atendido
logo após receber o diagnóstico de Linfoma Não-Hodgkin, foram realizadas oito
sessões de acompanhamento durante as etapas de seu tratamento.
3.2 Queixas do paciente
Traz a metáfora do câncer como um enorme tsunami que carrega seu corpo e sua
vida sem avisar, justamente quando encontra-se num momento mais tranquilo após
dois anos de sacrifícios profissionais. A sensação é de “traição” do destino, de
armadilha. Quando indagado sobre a mensagem que este momento lhe dá, ele diz:
“não posso relaxar, tenho que ficar alerta pois de onde menos se espera aparece
uma emboscada para tirar teu sucesso, tua paz, tua vida!”.
O desafio é ajuda-lo a perceber de que forma esta emboscada se relaciona com sua
vida e o estilo de vida que escolheu para si ao longo dos últimos anos. Longe de
fazê-lo sentir-se responsável pelo aparecimento do câncer, a tarefa aqui era auxiliá-
lo a ressignificar a doença. Perceber o câncer menos como uma perseguição de
algo externo a si e mais como uma oportunidade de recobrar o equilíbrio, identificar
seus limites, cuidar melhor de si, aprender a relaxar e confiar para ganhar uma
perspectiva mais ampla do quadro de sua própria existência, dando atenção a outros
aspectos de sua vida que estavam adormecidos e ofuscados pela questão
profissional.
Ao realizarmos a anamnese espiritual, percebemos que JM tinha um histórico
familiar em que a religiosidade esteve presente. Foi criado na fé católica, mas não
era praticante. Segundo JM, ele trazia dessa fé para sua vida valores cristãos, como
honestidade, esforço e ética. Ao refletir sobre o tema, perguntou-se sobre o sentido
de uma doença na vida de alguém. Percebia que era importante para ele buscar um
sentido no que estava lhe acontecendo. E talvez Deus estivesse presente nesse
sentido maior.
3.3 Início das Intervenções Psicooncológicas
Nesta fase inicial, passamos então a trabalhar com a imagem metafórica que ele
mesmo trouxe. Nas sessões iniciais, após representar a enorme onda num pedaço
de papel, sugerimos que visualizasse a si mesmo num lugar protegido, um lugar que
o colocasse numa posição privilegiada para tomar decisões. Ele imaginou-se em
cima de uma montanha muito alta. Não por acaso, JM contou sobre uma sensação
inesquecível de paz e plenitude quando escalou uma montanha pela primeira vez,
aos 21 anos. No intuito de resgatar essa memória e valorizar a sensação de
plenitude um dia sentida, fizemos alguns exercícios para amplificar essa imagem,
ajudando-o a associar a montanha com seu refúgio, lugar tranquilo onde pudesse
sentir-se seguro, protegido e pleno. Incentivamos que utilizasse a imagem de si
mesmo na montanha quando se percebesse particularmente ansioso ou com medo.
O câncer é hoje em dia caracterizado como uma doença crônica, para a qual
sempre há possibilidades de tratamento, mesmo quando a cura total não é possível.
Cada vez mais encontramos pacientes que realizam seu tratamento
ambulatorialmente e, quando a doença não é completamente debelada, ela pode ser
controlada. O paciente passa então a ser acompanhado pelo médico que realiza
exames periódicos para prevenir que a doença fuja ao controle. E nesse vai e vem
os pacientes podem hoje conviver com a doença e levar uma vida praticamente
normal. Ao discutirmos os cuidados ao paciente oncológico dentro da abordagem
transpessoal, estamos neste trabalho efetuando o recorte da compreensão do
câncer como uma doença crônica, que possui três fases distintas que se
complementam: a fase da crise, a fase crônica e a final.
1. Fase da crise corresponde ao diagnóstico e ao início dos tratamentos, com a
realização de exames como biópsias ou mesmo cirurgias quando necessário. É o
momento do choque, mas também da coragem – de reunir os recursos emocionais e
preparar-se para lutar, deixando como pano de fundo, todos os outros aspectos da
vida e voltando a energia para o cuidado de si. A negação pode ser um mecanismo
de defesa bastante observado nesta fase e o paciente pode demorar a tomar
decisões importantes em relação ao seu tratamento por conta da negação em
aceitar que está doente. Também é importante que examinemos as crenças
pessoais e familiares a respeito da doença, bem como o histórico dela ao longo das
gerações – o câncer pode ter deixado uma herança de dor e sofrimento na memória
familiar e isso pode ter repercussões sérias no modo que este paciente e sua família
percebem a doença e lidam com ela.
Nosso desafio aqui é o de estreitar o vínculo terapêutico que está apenas
começando e oferecer ao paciente e família, uma boa qualidade de escuta. Uma
escuta interessada nos recursos saudáveis presentes que serão o alicerce para a
superação desta fase. Uma escuta que acompanha as indagações do paciente e,
sem oferecer respostas prontas, o estimule a formulação de outras perguntas tais
como “Por que não eu?” e “se eu estou com câncer, como quero passar por ele?”,
“Como quero viver esse momento?”, “Quais os meus pontos fortes e fracos?”, “Onde
tenho que ser mais cuidadoso e onde posso contar com minha experiência?”, “Quem
pode me ajudar neste momento?”, “Quantas informações e detalhes quero saber
sobre o tratamento?”
Nesta etapa, é, portanto, importante que o terapeuta o ajude a passar pelas
emoções de forma genuína, criando um espaço de acolhimento e não julgamento
que mobilize no paciente sua autoconfiança.
2. Fase Crônica
Esta fase convida ao cuidado do paciente para consigo mesmo e ao exame das
repercussões da doença e do tratamento na vida familiar, social e profissional. A
palavra chave aqui é cuidado. Cuidar do emocional, do físico, e de todo o resto da
vida que continua acontecendo, apesar de desacelerações, reduções de ritmo e
alterações na rotina do paciente.
É nesta fase que, ativa-se o processo de transcendência e a consciência se amplia.
O paciente para compreendê-la que nada é inteiramente bom ou mal, certo ou
errado e aspectos funcionais e disfuncionais fazem parte de uma mesma realidade.
O terapeuta, neste momento, o faz relembrar seus valores, aquilo que poderia fazê-
lo ter a coragem de recomeçar, de lutar contra o câncer, de voltar a ser quem ele de
fato queria ser, de forma plena. Para isso, foi proposto que o paciente fizesse
visualizações de imagens pessoais específicas, que o ajudem a resgatar
sentimentos de felicidade, segurança, coragem, força e proteção.
3. Fase Final
Dependendo do prognóstico do paciente, podemos ter pelo menos duas situações
diferentes. Se a cura física é possível, os desafios vão se relacionar ao retorno do
paciente ao convívio familiar, social e ao trabalho. Se o prognóstico se volta para a
morte, os desafios relacionam-se à significação da vida, aos cuidados em relação às
questões financeiras, pendências afetivas e espiritualidade.
A visualização desse cenário relaxante, descrito anteriormente, e do percurso da
consciência em direção a uma figura espiritual acolhedora e amorosa, adaptada à
história do paciente e suas crenças, reduz comprovadamente os medos
relacionados à morte.
O artigo não deixa claro o desfecho do caso de JM, porém, fica evidente como a
aplicabilidade da abordagem transpessoal é efetiva em casos oncológicos,
permitindo assim uma ressignificação do sofrimento causado pela doença e
tratamento.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, podemos afirmar que a espiritualidade, juntamente com as dimensões
biológicas, psíquicas e sociais, é elemento essencial que deve ser conhecido e
instrumentalizado quando oferecemos cuidados a um paciente oncológico e sua
família. (Peres, 2007). A Psicologia Transpessoal oferece não somente recursos
conceituais que ampliam a visão de saúde, mas agrega a estes recursos a própria
espiritualidade, na utilização de práticas terapêuticas que estimulam a ampliação da
Consciência. E como podemos perceber, trata-se de um acompanhamento bastante
complexo, com muitas facetas e para o qual é necessário definirmos objetivos e
prioridades, sem perder, no entanto, a visão e a escuta integral. Ao possibilitar uma
visão dinâmica e interativa do processo do paciente em seu enfrentamento do
câncer, a Psicologia Transpessoal e mais especificamente a Abordagem Integrativa
Transpessoal, favorece o diálogo entre as partes e o todo do tratamento oncológico.
REFERÊNCIAS
MAZIN, Gabriel. VIDA E OBRA DE ABRAHAM MASLOW: História da Psicologia.
Psicoeduca, 25 de novembro de 2016. Disponível em: <
https://psicoeduca.com.br/psicologia/historia-da-psicologia/12-abraham-
maslow#comments>. Acesso em: 07 de março de 2023.
FERREIRA, L. A. et al. Tratado de Psicologia Transpessoal: Perspectivas atuais em
Psicologia. Recife: Ed. UFPE. Volume 2, 2019.

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