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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CUIDADOS PALIATIVOS

JUNTO AO BINÔMIO PACIENTE E FAMILIARES

Joanemar Alves Oliveira Paoli1, Juliana Berzin2

1Acadêmica do Curso de Psicologia – 8º. Período – MULTIVIX – Vila Velha (ES)


2Doutoranda em Psicologia pela UFES – Professora da Multivix – Vila Velha (ES)

1. INTRODUÇÃO

A forma como o fim da vida é experienciado, sofreu e ainda sofre


modificações ao longo da linha histórica da humanidade e das diferentes
manifestações culturais.
Reduzindo o alcance do olhar para o último século e para os costumes em
nossa sociedade, já vemos como o momento da morte e seus rituais finais se
modificaram. Antes, o próprio paciente observava o surgimento da enfermidade
bem como seu agravamento. Mesmo acamado, ainda tomava decisões quanto
aos cuidados pessoais, seu negócio e chamava pessoas com as quais queria
conversar. Era cuidado em casa, por sua família, e ali via seus últimos dias
chegarem rodeado pelos entes queridos. Tinha tempo para despedir-se, resolver
questões práticas e subjetivas envolvendo sua morte e seus relacionamentos.
Ao morrer era velado na sala de casa onde familiares e a comunidade vinham
prestar homenagens, independente de idade, e morte era um assunto natural.
Com o desenvolvimento das ciências médicas e o advento dos hospitais
como lugar de tratamento e prolongamento da vida, os enfermos passaram a ser
cuidados nesses espaços, longe do convívio familiar, por vezes, morrendo após
dias ou meses tendo contato apenas com os profissionais técnicos.
Ao se falar em Cuidados Paliativos (CP) desenvolvidos por psicólogo,
queremos rever este atendimento ofertado ao enfermo e sua família neste
momento de final de vida, onde a hospitalização é o caminho mais naturalmente
trilhado e o assunto morte tornou-se, na maioria das vezes, um tabu.
O presente trabalho justifica-se pela necessidade prática de localizar o
Psicólogo na multidisciplinaridade do contexto hospitalar. O objetivo geral é
observar a atuação do psicólogo e seu atendimento junto ao paciente terminal e
seus familiares enquanto seres biopsicossocio e espiritual. Como objetivos
específicos com este trabalho pretende-se saber em qual momento do
tratamento multidisciplinar a presença e atuação do Psicólogo é requerida, e
conhecer ações psicológicas práticas no acompanhamento dos pacientes
terminais e seus familiares.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 – DEFINIÇÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua Cuidados Paliativos em


seus escritos de 1990 e este é citado por Brasil (2014) como assistência
promovida por equipe multidisciplinar e tem por objetivo a melhoria da qualidade
de vida do paciente que tem doença além das possibilidades terapêuticas, bem
como de seus familiares. Os Cuidados Paliativos requerem identificação precoce
e acontecerão na prevenção e alívio do sofrimento, avaliação do paciente,
acompanhando o tratamento de dor e os outros sintomas físicos, sociais,
psicológicos e espirituais para que receba o tratamento adequado que resgate
sua dignidade, mesmo diante a morte.
A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP, 2017) discrimina uma
equipe multidisciplinar como aquela composta por psicólogos, enfermeiros,
fisioterapeutas, médicos, religiosos, assistentes sociais e outros, que, sendo
treinados e capacitados, possam trabalhar em forma colaborativa que concorra
para o melhor tratamento do paciente.
A assistência que a equipe multidisciplinar presta é voltada para a pessoa
doente, com olhos para suas necessidades. Não para a doença a ser curada
mas para o ser a quem se preservará a autonomia e serão fornecidas
informações para tomadas de decisão (PEREIRA e RIBEIRO, 2019)
De acordo com o Manual de Cuidados Paliativos da ANCP, estes estão
baseados em princípios e não em protocolos sendo:
“(...) promover o alívio da dor e de outros sintomas
desagradáveis, (...) afirmar a vida e considerar a morte
um processo normal da vida, (...) não acelerar nem adiar
a morte, (...) integrar os aspectos psicológicos e
espirituais no cuidado ao paciente, (...) oferecer sistema
de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente
quanto possível até o momento da sua morte, (...) oferecer
sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a
doença do paciente e o luto, (...) oferecer abordagem
multiprofissional para focar as necessidades dos
pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento
ao luto, (...) melhorar a qualidade de vida e influenciar
positivamente o curso da doença, (...) iniciar o mais
precocemente possível o Cuidado Paliativo, juntamente
com outras medidas de prolongamento da vida, como
quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as
investigações necessárias para melhor compreender e
controlar situações clínicas estressantes.” (ANCP, 2009)

2.2 – ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO AO PACIENTE COM DOENÇA


QUE AMEAÇA A VIDA

A prática do profissional da psicologia junto ao paciente com doença que


ameaça a vida será direcionada em três eixos: as técnicas da própria psicologia,
aos aspectos assistenciais e ainda aos aspectos relacionadas ao fator espiritual
e à morte. A escuta psicológica é destaque como ferramenta de cuidado com o
enfermo (ALVES et al 2014) para ajudá-lo a passar pelo que Kübler-Ross (1996)
chamou de estágios, a saber, negação e isolamento, raiva, barganha, depressão
e aceitação do seu estado.
Durante o tempo de terminalidade o psicólogo servirá de elo entre o
paciente, sua família e a equipe de saúde que o assiste de forma a contribuir
com o desenvolvimento de uma prática de cuidados humanizada. O
acompanhamento psicológico proporcionará a melhora da qualidade de vida do
paciente, trabalhará com ética as questões espirituais trazidas por este,
estimulará a busca da autonomia quanto ao seu fim de forma digna, e sempre
que possível atenderá ao desejo final (ALVES et al 2014).
Gonçalves e Araújo (2018) apresentam a “crise de morte” como
acontecimento psíquico único e singular vivido pelo paciente sendo que nesse
processo, o psicólogo trabalha identificando seus mecanismos de defesa
inconscientes, respeitando-os e ajustando-se a eles.
2.3 – ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO AOS FAMILIARES DO ENFERMO

Abordar os familiares e expor os Cuidados Paliativos nem sempre é algo


que o profissional da saúde sabe como fazer. A presença do psicólogo se faz
necessária nesse momento promovendo uma comunicação clara, prestando
esclarecimentos e oferecendo sua escuta psicológica. Essa escuta é importante
na prevenção do luto complicado (BRAZ E FRANCO, 2017). Com sua escuta e
técnicas variadas fará o elo entre família/paciente/equipe de saúde, trabalhará
os processos de morrer em seus conceitos, acompanhará o médico no ato da
comunicação de óbitos, dará assistência aos familiares de forma a obter uma
prática humanizada de cuidado (ALVES et al 2014).
Os familiares chegam a este ponto do tratamento com inseguranças
principalmente quanto à acessibilidade aos médicos e à equipe de saúde, com
necessidades, emoções e dúvidas que, sendo tratadas, contribuirão para
construir um vínculo de confiança. O psicólogo pode atuar promovendo as
conferências familiares, também chamadas de relação deliberativa que são
“a melhor forma de abordar e conversar com a
família sobre objetivos de tratamento e limitações
terapêuticas, pois promovem um compartilhamento
da carga de decisão e suporte à família”. (BRAZ e
FRANCO, 2017)

Estas conferências darão segurança à rede familiar quanto aos cuidados


que seu ente querido está recebendo da equipe de saúde. Nelas o psicólogo
conhecerá os pensamentos, medos e angústias da família, que o ajudará a
responder a estas necessidades e promover o enfrentamento à situação bem
como à tomada de decisões compartilhadas.
Outra atuação significativa do psicólogo junto à família diz respeito ao luto
antecipatório. Nele os familiares vivem e experimentam a perda sem que
efetivamente ela tenha ocorrido, permitindo que hajam despedidas, resolução de
pendências e o início da construção de novos significados, identidades e
relações.
“O luto antecipatório é o conjunto de reações
cognitivas, emocionais e comportamentais próprias
dos estados convencionais de luto, relacionadas não
à morre, mas à ameaça dela”. (NASCIMENTO, 2020,
p. 26)

A vivência do luto antecipatório permitirá que o familiar passe pela perda


de uma forma considerada normal, isto é, a tomada de consciência que a pessoa
estará ausente para as conversas, conselhos, ajudas, relacionamento diário,
ficando apenas a saudade (ROCHI, 2020).

1. METODOLOGIA

Este estudo é classificado, quanto à sua natureza, como pesquisa


aplicada por ter a finalidade de contribuir para ampliar o conhecimento de forma
a ser utilizado em situação específica. A situação problema estudada estará
debaixo da abordagem qualitativa, em uma visão interpretativista. Este é um
olhar onde o mundo, a sociedade e os fenômenos devem ser entendidos pela
ótica da experiência daqueles que vivenciam o fenômeno. Tem por propósito ser
uma pesquisa exploratória, em função desta ser marcada por considerar os mais
variados aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado, com vistas a torná-lo
mais conhecido (GIL, 2017).
O procedimento adotado será o de pesquisa bibliográfica junto à literatura
anteriormente publicada bem como em artigos científicos, mantendo o foco na
atuação do psicólogo nos cuidados paliativos junto ao paciente e seus familiares.
Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como
livros, revistas, periódicos, teses, dissertações e anais de eventos científicos
(GIL, 2017).
A partir da utilização dos descritores como cuidados paliativos e
intervenção psicológica, cuidados paliativos a doentes terminais e intervenção
psicológica, cuidados paliativos a doentes terminais e familiares, serão coletadas
publicações entre os anos de 2015 e 2021 em bases de dados de meio eletrônico
(SciELO, PePSIC, Google Acadêmico), e em sites na Internet de organizações
e instituições que fazem e publicam estudos sobre a intervenção psicológica em
cuidados paliativos. Serão excluídos os artigos que fogem a temática central e
os que apareceram de forma repetida. Também serão utilizados dados de livros
de referência de autores clássicos e fontes impressas de acervos de bibliotecas.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Railda Fernandes. Et al. SABERES E PRÁTICAS SOBRE CUIDADOS
PALIATIVOS SEGUNDO PSICÓLOGOS ATUANTES EM HOSPITAIS
PÚBLICOS. Revista Psicologia, Saúde & Doenças, 2014, 78-96. Disponível
em: http://dx.doi.org/10.15309/14psd150108

ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). ANCP E OS CUIDADOS


PALIATIVOS NO BRASIL. (2017). Disponível em: <
https://paliativo.org.br/cuidados-paliativos/cuidados-paliativos-no-brasil/>.
Acesso em: 21 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da saúde. Cuidados Paliativos. 2014.


Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-
ministerio/principal/secretarias/901-sasraiz/daet-raiz/doencas-cronica/l3-
doencas-cronica/13310-doencas-respiratorias-2 Acesso em: 21 abr. 2021.

BRAZ, Mariana Sarkis. FRANCO, Maria Helena Pereira. PROFISISONAIS


PALIATIVISTAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA PREVENÇÃO DE LUTO
COMPLICADO. Revista Psicologia: Ciência e Profissão jan/Mar. 2017 v. 37 no
1, 90-105. Disponível em: https://doi.org/10.590/1982-3703001702016

GONÇALVES, José Edilmar, ARAÚJO, Verônica Siqueira. O PSICÓLOGO E O


MORRER: Como integrar a Psicologia na Equipe de Cuidados Paliativos numa
perspectiva fenomenológica existencial. Gestão e Desenvolvimento. 2018. p.
209-222

KÜBLER-ROSS, E. SOBRE A MORTE E O MORRER. São Paulo: Martins


Fontes. 7ª ed. 1996

MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS / Academia Nacional de Cuidados


Paliativos. - Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009. 320p
NASCIMENTO, Paulo. PSICOLOGIA DO LUTO EM TEMPO DE COVID-19:
Pequeno manual para o acompanhamento de pessoas em luto persistente. Dez
2020. Ed. Learning Set.

PEREIRA, Célia de Almeida; RIBEIRO, Juliana Fernandes de Souza.


CUIDADOS PALIATIVOS: reflexões sobre a psicologia e os cuidados
paliativos para pacientes e familiares. Revista Mosaico 2019 Jul/Dez.; 10 (2):
SUPLEMENTO 111-115.

ROCHI, Marinara. A RELEVÂNCIA DO APOIO PSICOLÓGICO PARA


FAMILIARES DAS PESSOAS EM CUIDADOS PALIATIVOS. TCC - n. 1, p. 1–
51, Criciúma-SC, 2020. Disponível em:
http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7938/1/Marinara Rochi.pdf.

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