Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JACAREÍ
2022
KELVIN ALISSON RODRIGUES CATALANO
Jacareí
2022
KELVIN ALISSON RODRIGUES CATALANO
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
RESUMO
The purpose of this monograph is to discuss perversion and guilt from the
psychoanalytic approach and the objective was to transcribe about perversion in
Freud's perspective and the feeling of guilt and its implications for the contemporary
subject. The methodology used in the present work was based on theoretical review,
using bibliographic sources. It appears that when addressing perversion, it is essential
to mention the concept of fantasy as a psychic reality, just as there would be no way
to develop the clinic of perversion, without considering the fundamental implications of
the Oedipus Complex in the process of constituting the subject. It was also necessary
to describe some of the peculiarities of the perverse subject, which involve the fetish
process, often present in the subject's experience in relation to his sexuality. It is
necessary that the psychoanalyst's gaze be directed to the unconscious, in a way
devoid of irreducible or deterministic opinions, seeking to provide welcoming and
listening to each subject who presents himself for treatment. The understanding of the
conscious and the superego allowed to approach guilt in the psychoanalytic context
and in the context of dealing with guilt on the therapeutic site, placing transference as
an essential foundation for psychoanalytic practice.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
2. PERVERSÃO NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ............................................ 15
3. PERVERSIDADE E CULPA .............................................................................. 30
4. INCONSCIENTE ................................................................................................ 33
5. PSICANÁLISE ................................................................................................... 37
6. TRANSFERÊNCIA ............................................................................................ 42
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 45
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 47
13
1. INTRODUÇÃO
eu poder abrir mão de algo meu e que aparentemente faz muita falta, para tentar ficar
tocado e poder questionar o meu ato…e muitos outros....
Conforme Freud (apud QUINODOZ, 2007), a religião seria uma forma de
expressão, desde a religião totêmica das origens até o cristianismo, este último
fundado no pecado original cometido pelos primeiros homens contra o Deus Pai.
Em termos pessoais, o presente trabalho de pesquisa se justifica ao permitir a
aquisição e desenvolvimento de competências importantes para a atuação em
psicanálise.
Com este estudo pretende-se assimilar a complexidade conceptual da
perversão e culpa no âmbito terapêutico, no qual o inconsciente pode ser manifestado
na análise dos tormentos que assolam a consciência diante de um senso consciente
de culpa ou de perversão.
O trabalho vai ao encontro com o desejo dos profissionais psicanalistas em
elaborar ações que promovam as resoluções dos conflitos de seus pacientes.
15
Portanto, o sujeito perverso, acredita não precisar desejar, já que pensa ser
completo. Coloca-se como objeto de gozo do Outro e coloca o outro apenas como
facilitador de seu gozo. E por acreditar ter o falo, o perverso tem o comportamento
de desafio e transgressão perante a lei. (DOR, 1991).
“É, pois, a partir do que falta no simbólico, que toma lugar a perversão: graças
ao objeto pequeno a complementar ou suplementar o Outro para sua plenitude”.
(JULIEN, 2002, p.129). [grifo do autor]
O perverso não quer se haver com seu desejo. Para tanto, ele acredita ser
completo. E, assim, ele se coloca como objeto de gozo do Outro, e coloca o outro
apenas como instrumentos facilitadores de seu gozo. Ele acredita ter o falo e, por
isto, tem o comportamento de desafio perante a lei, já que ele acredita ser mais do
que a lei. Mas ele precisa da lei, para poder desafiá-la. E é neste constante desafio
e comportamento transgressor, provocando angústia inesperada no outro, que faz
surgir seu gozo. (JULIEN, 2002).
Lacan (1960), de acordo com Julien (2002), vai a partir do fetiche, apresentar
a estrutura de toda a perversão, ao mostrar a dupla função do véu e da cortina.
Assim,
O véu é a um só tempo o que esconde e o que designa. Na perversão, trata-
se, para o sujeito, de esconder a falta fálica da mãe, embora designe com a
ajuda do véu, a figura daquilo de que há falta [...] O véu esconde o nada que
está para além do Objeto enquanto desejo do Outro: a mãe não tem o falo.
Mas, ao mesmo tempo e mesmo assim, o véu é o lugar onde se projeta a
imagem fixa do falo simbólico: a mãe tem o falo. (JULIEN, 2002, p.111-112).
Assim, “todo gozo fálico é perverso, isto é, estabelece relação sexual graças
ao Outro, completo“(JULIEN, 2002, p.129).
Julga-se fundamental descrever o conceito de fantasia no presente trabalho,
entendendo que a teoria da sedução é uma “cena real ou fantasística em que o
sujeito (geralmente uma criança) sofre passivamente da parte de outro (a maioria
20
Por outro lado, os efeitos do pecado original sobre os sujeitos são similares aos
efeitos dos pecados pessoais. Neste sentido, igual os pecados de cada um, no meio
social diabólico em que se é lançado, a pessoa se torna frágil e predisposta para o
pecado.
Para Freud (apud QUINODOZ, 2007), articulando religião, mito, herói, Moisés
e culpa, trata do mito do nascimento do herói. Freud mostra uma situação comum, isto
é, o herói geralmente é filho de pais de posição elevada, filho de rei, e é condenado à
morte pelo pai; mas a criança é recolhida e criada por uma família pobre e, desta
maneira, escapa da morte. Adolescente, o herói se vinga do pai, vencendo-o.
“Freud acha que na verdade Moisés pertencia a uma família real egípcia, mas
para alimentar o mito atribuiu-se a ele uma família de origem modesta, aquela que
abandonou a criança” (idem, p. 288).
A questão da culpa não é só do homem, já que se observa que o pecado
original é uma história que é sentida pela psique coletiva como uma onda de
desespero e dano irreparável, em que se observa expulsão, rejeição e desterro da
essência feminina.
Este é o grande segredo que as mulheres carregam, ou seja, a ideia e
sentimento de ter cometido um erro imperdoável, que não pode ser reparado e deve
ser conhecido e usado contra a liberação da mulher, de forma integral e com regozijo
para o encontro de Deus.
Quinodoz (2007) afirma que a tragédia escrita por Sófocles – Édipo Rei – e que
deu a Freud o modelo original da relação primária familiar está impregnado de uma
culpa circulante que se inicia com a recusa e o abandono do pequeno Édipo indo até
a expiação final em Colono, com o castigo divino exercido com toda a crueldade, no
intuito de resolver uma grande culpa.
Em outras palavras, com base em Yong (2005), Édipo cometeu vários pecados:
matou o pai, casou com a mãe, quebrou o tabu do incesto, foi egoísta, odiou o pai,
agiu por impulsos violentos e tornou-se culpado diante das regras sociais. Nesta visão
é que se observa a consciência sobre não agir contra as convenções culturais e
sociais. O sujeito, portanto, teme uma represália e se sente culpada de sentir desejos
que vão de encontro com as normas. A culpa se caracteriza como a arma fundamental
contra os impulsos de incivilidade, voracidade e sexualidade sublimada. No caso de
Édipo, ele fura os próprios olhos na tentativa de não ver a sua realidade.
24
Nesta perspectiva, a psicanálise veio mostrar que a tragédia grega não era
apenas uma história, mas a descrição teatral de um acontecimento comum a todo ser
humano, como se fosse mais um, ou o verdadeiro pecado original.
O conhecimento e a consciência são construídos pela interação social e não
podem estar desvinculados da materialidade do real, mesmo que seja mediado pela
abstração, pelo âmbito das ideias, pelos mitos.
Na sociedade do capital, o mito tem função de justificar a relação de
desigualdade, ou seja, justifica-se a ordem social estabelecida, mesmo que seja
desigual, mas podendo vir-a-ser como no passado, em que havia unidade de grupo,
visão consensual de mundo, determinação coletiva, tradição e comportamento grupal.
“O Inconsciente assinalando que é nas lacunas das manifestações conscientes
que temos de procurar o caminho do inconsciente. Estas lacunas vão trazer para a
investigação: o sonho, o lapso, o ato falho, os sintomas, o chiste” (GARCIA-ROZA,
2007, p. 171). [grifo do autor]
Conforme o mesmo autor, o inconsciente traz a culpa por ser humano e causa
traumatismos, numa situação em que o que se tenta negar acaba reaparecendo de
uma forma modificada – como é o caso do reaparecimento da antiga religião de
Moisés. Na verdade, à luz da experiência psicanalista, Freud estabelece um paralelo
entre o tempo de latência que se observa na clínica entre o surgimento de um
traumatismo psíquico e a aparição dos sintomas consequentes e, na história religiosa,
entre o abandono da religião de Moisés e o ressurgimento tardio do monoteísmo
judaico. Ressurge o mito. Este trauma e psíquico. O fato pode nunca ter ocorrido. Mas
é vivenciado pelo sujeito da mesma forma.
Exemplifica-se com a afirmação de que a democracia é um mito, ou seja, uma
ideologia que encobre uma sociedade racista e que age de forma sutil. Uma sociedade
que abomina o racismo, mas hipocritamente é condescendente com o preconceito, o
desprezo, a desvalorização dos negros, índios e mestiços. Parece que ficou enraizada
no inconsciente do homem branco, a relação de senhor e escravo, de modo que a
resistência em se igualar à raça “inferior” ainda é grande. É uma questão social,
política, econômica e cultural, que ainda exigirá muitas lutas de várias gerações para
ser apagada da memória histórica do brasileiro branco.
25
Retornando à culpa, Singh (2005) defende que a punição tem a ver com o
legado do psicodrama do complexo de Édipo, que, não resolvido na infância, continua
pressionando a psique do adulto.
“Em O Mal-Estar na Civilização, ele (Freud) observou que era alto o custo
humano da civilização (avançada) quanto à repressão dos instintos e que, quando ela
se transformava em neurose e psicose, o custo era alto demais” (SINGH, 2005, p. 34).
Nesta perspectiva, todas as doutrinas e ideologias religiosas não conseguem
propiciar uma sociedade feliz de indivíduos felizes. Fornece-se a pista da origem dos
mitos, já que a vida dos homens primitivos se definia pela ligação com a natureza
como fonte de recursos de sobrevivência e como força misteriosa de difícil domínio. A
relação primitiva era do homem com a natureza, em que o mito é tanto conhecimento
e identificação com a natureza, como ordenação de uma conduta e justificativa de
uma vida social.
Contudo, a relação se amplia, isto é, envolve homem-natureza-cultura, em que
o mito tem seu papel modificado para o sentimento da segregação, do “sagrado”, até
se tornar tabu ou fetiche diante da natureza e dos novos grupos dominantes.
Defende-se que a identidade do homem vem sendo historicamente construída
e, na modernidade, ela nasce no Iluminismo, se torna socializada no capitalismo
industrial e se transforma na pós-modernidade diante da globalização.
O não-Eu universal e abstrato do mundo antigo ganha individualidade e se
torna Eu, poderoso e não-social, quando passa a usar a razão. Depois, o capitalismo
cria as cidades e a as relações entre capital e força de trabalho. Assim, o Eu individual
se torna Eu social e coletivo, sujeito alienado, sem significação própria, pois é
institucionalizado e naturalizado pelo poder hegemônico, que ainda usufrui a culpa e
sua superioridade incontestável diante da religião de Moisés.
Para Quinodoz (2007), Freud vê nesta incontestável superioridade a marca da
nostalgia do pai que habita cada sujeito desde a infância, razão pela quais os traços
que se atribuem ao grande homem são traços paternos. De fato, a religião mosaica
proporcionou aos judeus uma representação de Deus bem mais sublime que os
outros, pois a proibição de criarem uma imagem de Deus teve como consequência
favorecer uma representação abstrata do divino, o que constitui um progresso notável
no plano psíquico. Sim. Se sou a imagem e a semelhança de uma forma que
desconheço. Esta busca passa a ser individual e não coletiva de imago.
26
limites sociais de cada tribo tinham identificação com um totem animal específico,
segundo o qual se identifica a tribo, e cada elemento da tribo é referido numa forma
de identificação social mais forte do que a união de sangue (QUINODOZ, 2007).
O totem animal é definido como o espírito pai e guardião da tribo e cada
membro têm obrigações quanto a não matar e nem comer o animal, com exceção de
cerimônias tribais.
Neste aspecto, para Freud, com base em Quinodoz (2007), entretanto, a prática
mais interessante do totemismo é a exogamia, ou seja, a proibição das relações
sexuais entre os indivíduos que se unem diante de um totem, uma prática sem
justificativa na concepção do totemismo – não há conexão.
A culpa, assim, vem do totem e tabu do incesto, desde a religião totêmica das
origens até o cristianismo, com fundamento no pecado original cometido contra o Pai.
O horror do incesto pode ser comparado à psicologia da neurose.
Freud coloca a questão do totem e tabu na perspectiva do mito, no qual o
aparecimento da cultura é resultado de uma violência de caráter primordial. Na
verdade, o pecado original de todos é um crime, isto é, a morte do pai pelo filho, ação
extraordinária que deu início de muitas coisas, entre elas: a organização da
sociedade, as restrições impostas pela moral e pela religião (QUINODOZ, 2007).
Neste aspecto, é onde se localiza a culpa na sua origem, em que se destaca o
retorno do amor em formato de remorso.
Portanto, na origem da consciência moral é que se encontra o amor, com o
acompanhamento do inevitável e fatal sentimento de culpa, resultado da ambivalência
afetiva e emocional relacionada ao pai, numa realidade de duas faces: uma em que
se destaca a agressividade, com a morte do pai pelo filho e outra, emocional, com a
presença do remorso. Amor e ódio estão, portanto, em conjugação no
estabelecimento do laço social, onde se defrontam pulsões de vida e pulsões de
morte.
A horda primária representa o agrupamento original primitiva da humanidade,
caracterizada pela autoridade paterna, que proibia o incesto entre os jovens, que para
obterem sua liberdade sexual, eventualmente obtinham poder e comiam o pai, para
descobrir o poder e os benefícios da comunidade.
Na relação do totem e tabu com o complexo de Édipo, observa-se que apesar
da importância sem descrição da mãe, a criança precisa ir adquirindo independência,
29
3. PERVERSIDADE E CULPA
como uma qualidade do psíquico, que pode achar-se presente em acréscimo a outras
qualidades, ou está ausente.
33
4. INCONSCIENTE
que não é sempre parte da consciência (pré-consciência), mas pode ser resgatada
facilmente a qualquer tempo e vir para a consciência.
Na compreensão do inconsciente, torna-se relevante a abordagem do ego e do
id, já que para Freud, segundo Quinodoz (2007), já que a divisão topográfica de Cs,
Pcs e Ics já não são suficientes para dar conta do funcionamento psíquico, precisando,
pois, amplia-lo. Freud introduziu uma divisão do psiquismo em três instâncias, o ego,
o id e o superego, complementando a divisão topográfica. O ego, para Freud é uma
instância de regulação, de fenômenos psíquicos, que deve buscar permanentemente
um equilíbrio entre as exigências do id, que é a reserva das pulsões – e do superego,
que é a instância crítica da consciência.
As tensões conflituosas inconscientes que se produzem entre ego, id e o
superego, cujas exigências são contraditórias, tem uma influência duradoura sobre a
formação da personalidade, resultante de forças respectivas presentes e de seu
equilíbrio dinâmico. Neste sentido, para se tornar consciente o que é inconsciente, do
id deve advir o ego (QUINODOZ, 2007).
Jorge (2002) afirma que para Freud, as características especiais do sistema
inconsciente são as seguintes: não há na inconsciente negação, dúvida ou quaisquer
graus de certeza, já que estes elementos são introduzidos pelo trabalho de censura
entre o Ics e o Pcs (Cs). Neste sentido, a negação é um substituto, em grau mais
elevado, do recalcamento. No Ics só existem só existem conteúdos investidos com
maior ou menor força; os investimentos sofrem processo de condensação e, também,
de deslocamento, que tem a ver com a maneira de funcionar o processo psicológico
primário; os processos do inconsciente não se ligam ao tempo, já que o tempo é
apenas vinculado à consciência e, também, os processos do inconsciente não
dispensam atenção adequada ao contexto exterior, já que se sobressai o princípio do
prazer, envolvendo a realidade psíquica.
Mollon (2005) afirma que a interpretação dos sonhos é a via principal para se
conhecer as atividades inconscientes da mente humana, possibilitando o tratamento
analítico e tornando-se o recurso mais relevante para que se abra um caminho para
acessar o inconsciente. Na verdade, os sonhos carregam grande objetividade, mas
não apresentam correspondência às expectativas do sonhador, que também não os
inventa. Freud chegou à hipótese de que os sonhos representam a realização
disfarçada de um desejo que se encontra reprimido. Os sonhos ficam mais obscuros
35
distintos, mesmo que parte do ego esteja fundida no id (o ego é a parte do id que
sofreu modificação por estar próxima à influência do mundo exterior). “Em um dos
seus extremos, o id está aberto às influências somáticas e em seu interior abriga
representantes pulsionais que buscam satisfação, regulados exclusivamente pelo
princípio do prazer”. No id não se observa negação, ou mesmo ação de obediência
para uma situação de não contradição ou juízo de valor, mal ou bem, moral ou ainda
vontade coletiva.
O ego, segundo Garcia-Roza (2007), tem a função de se apresentar como
mediador do id e o mundo exterior, em que existe confronto de princípios de regulação
do aparelho psíquico: realidade e prazer. Mas não é apenas contra o id que o ego tem
que se confrontar, já que se viu que uma parte do ego se diferencia e se constitui com
uma instância autônoma e como agente crítico, ou seja, uma terceira região do
psiquismo denominada superego.
Quinodoz (2007) afirma que quando as percepções internas que provêm das
camadas mais profundas do aparelho psíquico, elas são mais elementares que as
percepções externas e chegam à consciência por meio de sensações de prazer e
desprazer e não pelos órgãos do sentido.
37
5. PSICANÁLISE
analisando deve elaborar, e é por este caminho que o tratamento deve ser conduzido,
além de se considerar que a análise visa atravessar a fantasia, e não retirar o sintoma
(NOGUEIRA, 2006).
Assim, de acordo com o que foi mencionado no presente trabalho, o fim da
análise, para o perverso, seria uma travessia de fantasia de gozo, que implica no
acesso a dimensão do amor, da qual ele se defende (JORGE, 2006).
Conforme Quinodoz (2007), o trabalho psicanalítico só pode ser um trabalho
de muito fôlego, se o analista quiser realmente libertar um ser humano de seus
sintomas e inibições neuróticas. Freud ergue-se assim contra as tendências de se
abreviar a duração das análises. Fixar um prazo é eficaz desde que se escolha o
momento adequado, mas para isto não existe regra geral, e se deve confiar na
intuição.
É comum ouvir dizer que uma análise não terminou ou que o paciente não foi
analisado até o fim e, neste aspecto, o que seria o fim da análise? O fim pode ocorrer,
segundo Freud (2006), quando o paciente não sofre mais de seus sintomas, e quando
o reprimido se tornou consciente, de modo que não há mais por que temer a repetição
de processos patológicos. Se faltam estes elementos, a análise não está completa.
Quinodoz (2007) afirma que nos casos bem-sucedidos, consegue-se eliminar
completamente o distúrbio e evitar seu retorno. Os casos mais favoráveis ao
tratamento são aqueles que têm uma etiologia traumática, para Freud, pois a análise
psicanalítica consegue resolver as situações traumáticas que remontam à infância
precoce, que na época o ego imaturo não conseguir dominar.
Ao contrário, quando a força das pulsões é excessiva, isso impede a
domesticação das pulsões pelo ego, e a análise é então condenada ao impasse, pois
o impacto das pulsões provoca modificações no ego.
Para Freud (2006), o êxito de uma terapia analítica depende essencialmente
de três fatores: a influência dos traumatismos, a força constitutiva das pulsões, as
modificações do ego. Deve-se reivindicar a originalidade do tratamento psicanalítico,
pois ele capacita o paciente para ter domínio sobre o reforço das pulsões, processo
que não é espontâneo. Contudo, o domínio das pulsões está longe de ser garantido,
pois ele é jamais completo ou definitivo.
40
6. TRANSFERÊNCIA
poderá ser curado pelo trabalho terapêutico, já que é no manejo da transferência que
se encontra o principal meio de conter o automatismo de repetição e de transformá-lo
em uma razão de se lembrar (QUINODOZ, 2007).
Na questão da transferência, Maurano (2006, p. 35) trata dos impasses da
contratransferência e o desejo do analista:
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
direção à ética, que é uma suposta decisão, a de não ceder no que se refere ao desejo
próprio.
Os pacientes precisam ver como eles projetam seus pensamentos e atitudes a
fim de ganhar novamente autoestima, já que o que é de fato uma deficiência do
superego é manifestada como uma recusa autodestrutiva de se conhecer a perversão
ou a culpa, provocando assim uma desordem obvia do funcionamento do ego.
De fato, tentou-se ilustrar como a teoria psicanalítica e terapia requerem o uso
da perversão e da culpa e da responsabilidade como concepções psicanalíticas
essenciais enquanto usadas no sentimento moral. Descreveu-se sobre o superego e
sua função de censor crítico interno e como se considera a perversão e a culpa como
fenômeno universal que se levanta e, talvez, dos tabus universais.
Portanto, na origem da consciência moral é que se encontra o amor, com o
acompanhamento do inevitável e fatal sentimento de culpa, resultado da ambivalência
afetiva e emocional relacionada ao pai, numa realidade de duas faces: uma em que
se destaca a agressividade, com a morte do pai pelo filho e outra, emocional, com a
presença do remorso. Amor e ódio estão, portanto, em conjugação no
estabelecimento do laço social, onde se defrontam pulsões de vida e pulsões de
morte.
O importante para a psicanálise é o sujeito do desejo, e não o enquadramento
do mesmo em conceitos pré-estabelecidos, o presente trabalho explicita, com
embasamento teórico, características relevantes e muitas vezes desconhecidas sobre
o processo da clínica da perversão, que é sempre a partir da realidade psíquica, ou
seja, da fantasia manifestada na fala do sujeito em análise.
Acreditando ter deixado claro que existem julgamentos e rótulos acerca de
questões complexas, como no caso da perversão, é preciso que o olhar do
psicanalista seja dirigido ao inconsciente, de forma desprovida de opiniões irredutíveis
ou deterministas, buscando proporcionar acolhimento e escuta a cada sujeito que se
apresenta para o tratamento.
47
REFERÊNCIAS
BRENNER, C. Noções Básicas de Psicanálise: introdução à psicologia
psicanalítica. 5ª ed. Rio de janeiro: Imago Ed., 1987.
FERRAZ, F.C. A Eternidade da Maçã: Freud e a ética. São Paulo: Escuta, 2010.
GUEDES, P.S.R.; WALZ, J.C. O Sentimento de Culpa. Porto Alegre: Julio Walz,
2007.