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Católica de
Brasília
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E
PESQUISA
STRICTO SENSU EM PSICOLOGIA
Mestrado
INTERAÇÃO SOCIAL EM DIFERENTES
CONTEXTOS ESCOLARES: ESTUDO DE CASO DE UMA
CRIANÇA COM AUTISMO
Lúcia de Carvalho Brandão
Orientadora: Drª Tânia Maria de Freitas Rossi
BRASÍLIA 2009
LÚCIA DE CARVALHO BRANDÃO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília,
como requisito para obtenção do
Título de Mestre em Psicologia
Brasília
2009
Dissertação de autoria de Lúcia de Carvalho Brandão, intitulada
“INTERAÇÃO SOCIAL EM DIFERENTES CONTEXTOS ESCOLARES:
ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM AUTISMO”, apresentada como
requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, em 29 de setembro de 2009, defendida e
aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:
Brasília
2009
DEDICATÓRIA
Eduardo Galeano
RESUMO
The objective of this case study was to analyze the social interactions of a child
with autism in the contexts of two different schools: Escola Classe and Escola
Parque. Involved in the survey were a child with autism diagnosis - registered in
the second year of elementary school in public institutions of Distrito Federal -,
his teachers and colleagues. Several structured pedagogical activities and free
moments were observed in both contexts. The results analyses were based on
the Activity Theory by Leontiev as well as on Hinde’s interactions typology and
unveiled the autistic student’s interactions quality and the fact that there is a
pattern in both schools. However, while at Escola Parque parallel individual and
parallel supplementary interactions predominate; at Escola Classe individual
and group interactions prevailed. Ordering and obeying are the most common
behavioral categories that involve the child at Escola Classe and, at Escola
Parque, the categories Ordering and Soliciting are the most common. The
rejection and imitation are more present at Escola Parque whilst the
complement is more noticeable at Escola Classe. The investigation points to the
importance of the context over quality; structure; and the autistic’s child
interaction behavioral style. Furthermore, it is visible that the context of Escola
Parque favors the focalized child’s social development once it stimulates
autonomy.
INTRODUÇÃO................................................................... 11
1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................ 21
1.1 Revisão de literatura......................................................... 21
1.2 Interação social.................................................................. 32
1.3 “Pessoas são pessoas através de outras pessoas”:A 35
emergência do sujeito nas interações sociais
1.4 A defectologia e os problemas gerais no
desenvolvimento da pessoa com autismo......................... 39
1.5 A teoria psicológica da atividade....................................... 45
2 METODOLOGIA................................................................ 53
2.1 Contexto............................................................................ 54
2.1.1 A Escola Classe................................................................ 54
2.1.2 A Escola Parque................................................................ 55
2.2 Participante........................................................................ 56
2.3 Procedimentos.................................................................. 58
3 ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 58
RESULTADOS..................................................................
3.1 Interações na Escola Classe: Um olhar panorâmico ....... 62
3.2 O ambiente da observação............................................... 65
3.3 Atividades Pedagógicas Estruturadas............................... 66
3.3.1 Construindo uma pirâmide alimentar................................. 66
3.3.2 Copiando o texto do saci................................................... 74
3.3.3 Encontrando a página de um livro..................................... 78
3.3.4 Momentos livres................................................................ 80
3.3.4.1 Proteção em série............................................................. 80
3.3.4.2 Quem pegou minha revista?............................................. 82
3.3.4.3 A busca frustrada............................................................... 85
3.4 Interações na Escola Parque: novo panorama ............... 86
3.5 Observação na escola parque........................................... 89
INTRODUÇÃO
funções e estrutura.
O autor relaciona a linguagem em dois planos, o plano dos aspectos
semânticos, interiores e o plano dos aspectos físicos, externos e sonoros da
linguagem. Vygotski (2001) considera que o aspecto externo da linguagem se
desenvolve das partes para o todo, da palavra para a oração. Já o aspecto
interno se desenvolve inversamente, do todo para as partes, logo da oração
para as palavras.
Golse e Bursztejn (1993) pontuam alguns exemplos como marcas do
desenvolvimento da linguagem, sinalizando peculiaridades presentes no
desenvolvimento da linguagem da criança com autismo:
1) O grito, que, com o passar de algumas semanas, passa a ser
reconhecido pelos pais pela diferenciação de sensações da criança, a exemplo
da dor, fome, prazer. Na criança com autismo, no entanto, de acordo com o
autor, este grito se apresenta de forma monótona e não diferencia as
sensações.
2) Iniciam-se as vocalizações, que se assemelham em crianças do
mundo todo, em que estão presentes a emissão de tritongos e quadritongos.
No caso das crianças com autismo, há a presença de ruídos guturais e uma
fixação por estes, o que, na avaliação dos autores, é um bom sinal, pois trata-
se de um momento em que a vocalização deixa de ser solitária, sinalizando
que poderão abandonar a condição de autistas.
3) Dois a seis meses: o gorgeio, o balbucio e o tagarelar, emissão de
sons mais articulados e repetição de sílabas. Nas crianças com autismo,
observa-se a ausência dessa fase.
4) Seis a nove meses: nesta fase, a criança inicia a interiorização da
linguagem como um ato entre pessoas e começa a frasear, a replicar o diálogo
entre pessoas. Salientam os autores que, no tocante às crianças com retardo
ou psicóticas, essa fase é mais visível. Em crianças com autismo não é
possível identificar essa fase, pois elas parecem não perceber os diálogos
entre pessoas e não os replicam.
5) Momento marcado pela repetição de sílabas. Algumas crianças com
autismo também entram na linguagem pela repetição de sílabas, o que é
considerado por Golse e Bursztejn (1993) como um bom sinal, pois é possível
15
considerar que seu aparelho psíquico é capaz de fazer junções. Nesta fase
aparecem as primeiras palavras soltas.
Observa-se, também, nesse momento, o ato de apontar, que geralmente
acontece quando um objeto se encontra distante da criança, que o aponta e o
adulto nomina ou o alcança. Entretanto, há ausência do ato de apontar em
crianças com autismo.
6) Por volta dos dois anos, ocorre a junção de duas palavras. Iniciam-se
as frases, é também frequente a ecolalia no final dos dois anos, a criança
repete a frase do adulto, indicando uma percepção da fala do outro. No
autismo, apesar de aparecer ecolalia, ela não se instala nesta idade como
forma de percepção da fala do outro, é uma repetição que não emite uma
reciprocidade.
7) O aparecimento do “sim” e do “não” é comum na idade de dois anos e
meio aos três anos. Quando estimulados a negar ou afirmar, o “não” é bem
mais frequente, tendo em vista que é mais fácil negar do que afirmar. Destaca-
se, também, o uso do pronome “eu”, momento em que a criança se identifica
como sujeito de determinada situação. Observamos que crianças com autismo
não costumam usar o pronome “eu”, demonstrando que não se reconhecem.
8) Por volta dos três anos/três anos e meio, entra em cena o “eu
narrativo”, fase na qual a criança começa a narrar fatos externos, fazendo um
misto de emoções anteriores, apelando a risos, etc. A criança com autismo não
se coloca como “eu”, como vimos anteriormente, e não narra fatos.
Golse e Bursztejn (1993) também consideram como marco do
desenvolvimento da linguagem o momento em que a criança estrutura a frase,
e, que, com a fantasia aflorada, principalmente nas brincadeiras de faz-de-
conta, sugere a possibilidade de mudar de papel social ou de lugar, colocando-
se ora como objeto, ora como sujeito de uma determinada situação. Essa
característica, muitas vezes, inexiste em crianças com autismo, que parecem
não reconhecer os outros, bem como não se reconhecer. Elas se referem a si
mesmas como se fosse outro ser, sendo comum fazê-lo pelo seu próprio nome.
Nota-se que, no lugar do jogo imaginativo, o real tem sua marca fortemente
registrada.
16
Objetivo geral
1
Ao longo do trabalho contextos e ambientes escolares serão considerados sinônimos.
21
Objetivos específicos
1 REFERENCIAL TEÓRICO
2
Tradução do ditado Xhosa – língua materna de Nelson Mandela: “UBUNTU
UNGAMNTU NGANYE ABANTU”
36
70% dos casos, como antes afirmado. Para Wing (1997), tal fato é
demonstrado pelo déficit do reconhecimento social, prejuízos na imaginação e
na compreensão social, e dificuldades na capacidade de brincar de faz-de-
conta, de imaginar-se no lugar do outro ou de se reconhecer.
Lewin (apud VYGOTSKI, 1997) considera que, na deficiência intelectual,
a característica fundamental é justamente a falta de fantasia, ou seja, o
pensamento carece de imaginação, o que dificulta o processo de abstração,
pois este demanda fluidez e mobilidade dos sistemas psicológicos. A
generalização e a formação de conceitos se vêem, portanto, igualmente
comprometidos.
Nestes processos dinâmicos, pensamento e ação constituem uma
unidade em movimento, onde a ação se transforma em pensamento e este, em
ação, num processo dialético, no qual a situação real fluída em pensamento só
é possível quando acontece também um movimento inverso, em que o
pensamento fluído transforma-se em situação real. Os comportamentos e
ações, entretanto, por terem uma relação biunívoca com afeto e pensamento,
são gerados, em grande medida, em função do aspecto volitivo. O motivo e a
vontade exercem uma força propulsora no mecanismo de controle das ações, e,
de certa maneira, estão ligados às significações que se instituem socialmente.
O pensamento vincula-se a um motivo e tem sua gênese na dimensão
afetiva:
Assim como nossas ações não nascem sem causa, e são movidas
por determinados processos dinâmicos, necessidades e estímulos
afetivos, também nosso pensamento sempre é motivado, sempre
está psicologicamente condicionado, sempre deriva de algum
estímulo afetivo pelo qual é posto em movimento e orientado. O
pensamento não motivado é tão impossível como uma ação sem
causa (VYGOTSKI, 1997, p. 266) (Tradução nossa).
ações sobre os objetos; e (b) sistemas de signos, que, por sua vez, são
orientados a regular as ações sobre o psiquismo dos outros e de si mesmo. É a
incorporação dos signos à atividade instrumental (mero uso de instrumentos)
que confere à atividade sua dimensão humana (SIRGADO, 1990).
O instrumento carrega em si as características da criação humana e se
estabelece como um produto cultural. Não se limita apenas a um objeto de
forma pré-determinada, que fala “por si”, mas, sim, como um objeto social no
qual estão incorporadas e fixadas as operações de trabalho historicamente
organizadas. O homem, diferentemente dos animais, se organiza socialmente e
executa atividades criadoras, que se cristalizam e são repassadas de geração
a geração, sofrendo mudanças que se desenvolvem historicamente. A
atividade, que se constitui na relação do homem com o mundo exterior,
implicada na ação - e esta em um motivo - estrutura-se em diferentes níveis de
funcionamento.
Leontiev (2004) define atividade como um processo que é eliciado e
dirigido por um motivo - aquele no qual uma ou outra necessidade é objetivada.
Por trás de uma relação entre atividades, há sempre uma relação entre
motivos. Relações entre necessidade, objeto e motivo estruturam a atividade.
Assim, o funcionamento da atividade humana inicia-se por uma condição
interna: a necessidade. Essa condição é a razão pela qual a atividade
acontece, pois é a geradora do motivo. O motivo é ligado ao objeto da
atividade, visto que toda atividade necessita de um objeto, pois quem
necessita, necessita de algo. Quando o motivo passa a ser consciente, é
transformado em um objetivo que passa a nortear ações que serão realizadas.
E é por meio destas que a atividade acontece, pois toda ação tem um objetivo
definido, que se subdivide em pequenos outros objetivos que se relacionam
com uma operação (LEONTIEV, 2004).
A operação é a maneira como se executa uma ação. Portanto, uma ação
pode ser executada de diversas maneiras, ou operações. As operações se
relacionam com as condições que são oferecidas pelo contexto onde a
atividade ocorre.
Atividade, ação e operação diferem porque, enquanto a atividade está
relacionada a um motivo, a ação está relacionada a um objetivo (que é a
47
A atividade inicia-se com a necessidade, mas esta, por si só, não basta.
É necessário encontrar um objeto para ser objetivado, tornando-o o motivo da
atividade. Assim, a necessidade é apenas o pré-requisito para a atividade que,
no desenvolvimento, com a ação do sujeito, converte-se em resultados através
de transformações.
Comer e beber, por exemplo, são necessidades animais, mas a cultura
constrói, em si e por si, outras fomes e outras sedes que se modificam com o
passar dos tempos, e que se estabelecem pela criação social humana, a
exemplo da arte. Antunes, Fromer e Britto (1997), na música “Comida”, deixam
claro o quanto nos diferenciamos dos animais pela cultura, e que é esta que
nos leva do nível filogenético ao sócio-genético:
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem fome de quê?
Você tem sede de quê?
A gente não quer só comida
A gente quer comida,
Diversão e arte.
dominante não é a que mais aparece. Essa atividade deve ser considerada
qualitativamente, pois independe do número de vezes e frequência com que
acontece. Nessa perspectiva, não são descartadas outras atividades, o que
determina a atividade é o estágio de desenvolvimento em que a criança se
encontra.
A atividade principal ou dominante é "aquela cujo desenvolvimento
condiciona as principais mudanças nos processos psíquicos da criança e as
particularidades psicológicas da sua personalidade num dado estágio de seu
desenvolvimento" (LEONTIEV, 2004, p.312).
Neste sentido, de acordo com Facci (2004), a atividade, que é
dominante em certo período, deixa de ser no período seguinte, mas não
desaparece; continua a existir, porém, através de um processo de
enfraquecimento. Elkonin (apud FACCI, 2004) identifica e divide a atividade
dominante de acordo com as características objetais, em dois grupos:
[...] no primeiro grupo estão aquelas atividades desenvolvidas no
sistema criança-adulto social, as quais têm orientação predominante
na atividade humana e na assimilação de objetivos, motivos e
normas das relações entre as pessoas; no segundo grupo estão
presentes as atividades que ocorrem num sistema criança-objeto
social, no qual ocorre a assimilação de procedimentos de ação com
os objetos (ELKONIN apud FACCI, 2004, n. p.)
Há, ainda, na adolescência, uma segunda fase que tem como atividade
principal a atividade profissional de estudo. Nesta fase, a escola passa a
ocupar o lugar de orientadora para um futuro profissional.
Dessa maneira, cada etapa é constituída por dois períodos que se
interligam, iniciando com o período em que prepondera a assimilação de
objetivos, dos motivos e das normas da atividade, havendo, assim, uma
preparação para a passagem para o próximo período, onde vai ocorrer a
assimilação dos procedimentos de ação com o objeto e a formação de
possibilidades operacionais e técnicas (FACCI, 2004).
As condições sócio-históricas determinam a atividade dominante num
determinado estágio do desenvolvimento. Este estágio, porém, não é definido
pela idade da criança, mas pelas relações humanas que acontecem no
contexto social em que se encontra, relações estas que mudam
sucessivamente, e que, em cada fase, são carregadas de especificidades, a
exemplo da brincadeira infantil, do jogo, da escola e do trabalho.
Leontiev (2004) esclarece que a mudança de atividade dominante
acontece no momento em que a criança percebe que o lugar que ocupa no
mundo que a rodeia – considerado este como o das relações humanas –
deixou de corresponder às suas possibilidades, e, a partir daí, começa a se
esforçar para modificá-lo. Neste sentido, ocorre uma contradição entre as
possibilidades que já foram por ela superadas e seu modo de vida, levando-a a
reorganizar sua atividade. Nesse momento, a criança passa para um estágio
de desenvolvimento psíquico novo.
Dessa forma, o desenvolvimento do psiquismo da criança é determinado
pela sua vida, pelo desenvolvimento da atividade interior e exterior, admitindo
que ambas atividades apresentam uma mesma estrutura geral. A atividade
externa apresenta-se como forma primária da atividade, constituída na prática
externa e coletiva. Esta ultima, por sua vez, constitui a atividade interna,quando
é internalizada, ou seja, há a transformação da atividade externa em interna
(ASBAHR, 2005).
Segundo Leontiev (2004), esta transformação da atividade externa em
interna é o ponto crucial da chamada superioridade psíquica do homem, pois é
desse processo que advém a subjetividade humana, a consciência. E a criança
52
2 METODOLOGIA
2.2 Participante
Eric3 nasceu no ano 2000 de parto normal. Sua mãe tinha 15 anos e
seu pai 23 anos. Foi o primeiro filho do casal. De acordo com a mãe, a
gravidez foi planejada, sem complicações e desejada pelos pais, embora tenha
levado um tombo no sexto mês de gestação. Eric foi amamentado até os 3
meses. A amamentação foi interrompida por que o leite havia acabado.
Quanto ao desenvolvimento da linguagem, a mãe não se lembra se o
filho balbuciou, apenas de que falava algumas sílabas repetidas com
aproximadamente 8 meses de idade (pa, ma, da). Permaneceu sem
linguagem oral até os 6 anos de idade e comunicava-se por meio de gritos,
birras e choro. Não mantinha o contato afetivo. Sacudia sempre mãos e braços
3
Nome fictício.
57
2.3 Procedimentos
Estrutura de participação
Categorias Comportamentais
Sem
sincronia 06 37,5 04 13,8 10 22,2 6 60 4 40 0
Afeto
negativo 06 37,5 06 20,7 12 26,7 3 25 9 75 8 66,7
Paralela
independente 04 25 07 24,1 11 24,4 0 0 11 100
Paralela
complementar 02 12,5 07 24,1 09 20 7 77,8 2 22,2 0
*O somatório das dimensões não é de 100% uma vez que em uma mesma interação aparece mais de
um comportamento.
a) Proteção em série
b) Quem pegou minha revista
c) A busca frustrada
4
A duração da observação desse episódio foi de 11 min 25 seg.
67
A PEC estava explicando a tarefa, Eric se levantou de sua cadeira foi até a
professora e disse:
Eric: pode xi xi (Posso ir fazer xixi)
PEC: tá
Eric saiu da sala de aula acompanhado de Manuela
PEC: Na pirâmide == as coisa que come em casa . lembra aquela lista que
fizemos das coisas que nos comemos (2.0) nos agora vamos colocar dentro
da pirâmide (2.0) só que a gente . PRESTA ATENÇÃO . vai colocar . no
lugar que a gente pode comer . Ai tia, mas eu trazia chips para a escola todo
dia == agora não posso mais trazer . pode comer chips todo dia?
Alunos: NÃO
PEC: quando é que é que pode comer chips?
Alunos: RARAMENTE/
PEC: /raramente . então a gente vai poder comprar só um pacote
de chips uma vez por mês/
Nesse momento, Eric entrou na sala de aula e sentou na sua carteira// olhou
para a câmera e depois olhou o que a professora estava colocando em cima
da mesa// olhou para a professora// olhou para trás, onde estavam os
colegas e voltou a dirigir o olhar para a professora// abriu e fechou a boca
diversas vezes, em movimentos estereotipados // olhou para os colegas ao
lado e voltou a olhar a professora// movimentou os braços e os dedos
seguidamente em movimentos estereotipados// olhou a professora// //
movimentou novamente os braços e os dedos, circularmente, de modo
seguido, em movimentos estereotipados// olhou para os colegas e sorriu//
reativo a mesma estereotipia// parou// olhou para o teto e olhou a
professora// arrumou a cadeira para mais próximo da carteira e olhou para a
68
PEC: / que vai poder comer chips só uma vez por mês .
então olha lá == chiiiiii (2.0) pronto . olha aqui . vai fazer o desenho da
pirâmide . igual nos fizemos no papel grande
Aluna: dever de casa?/
PEC: / dever de casa NÃO . é pra fazer agora (2.0) ai olha LÁ . EU
como CHIPS não é? Não como chips? . aonde é que eu vou desenhar o
chips?
Alunos: no raramente/
PEC: /no raramente . EU como arroz com feijão . aonde é que eu
vou colocar arroz com feijão?
Manuela: é deitado tia? (a aluna se referiu à posição da folha que a
professora havia entregue para desenhar a pirâmide)
PEC: em pé
PEC: AQUI . segundo ano . AQUI (2.0) quanta vezes?
Elisa: uma vez/
PEC: /uma vez por/
Elisa: /semana
José : tia é pra desenhar ou pra escrever?
PEC: é pra desenhar . o que o desenho não der pra identificar == você
escreve o nome em baixo (2.0) aqui
José: quantas vezes por dia
PEC: por dia?
José: por semana/
PEC: / por semana
José: quantos dias...
PEC: comer três ou (2.0) quatro vezes por semana . não é por dia não, heim
. senão vai ficar gordo
/José: ó tia comer(3.0)
/PEC: e aqui?
José: comer todos os dias/
PEC: /comer todos os dias (2.0) só o José que tá assistindo
aula é? [...]
PEC: (Dirigindo-se a Eric) o que ‘tá’ escrito aqui? . escreve seu nome (3.0)
pronto? . deixa a tia riscar pra você (3.0) fala pra tia uma coisa que você tem
que comer todo o dia . heim?
Eric: arrozi ( arroz)
PEC: arroz? . então você vai desenhar o arroz . tá . vai desenha aqui o arroz
PEC: tem que falar pra mamãe comprar outro oh. num tá fechando . por isso
69
PEC: pode comer todo dia? . não . é raramente que pode comer bolo de
aniversário (3.0) é uma vez por semana . o que pode comer só uma vez por
semana?
Eric: rão (macarrão)
PEC: ah?
Eric: Ca carrão ( macarrão)
PEC: fala de novo que a tia não ouviu
Eric: cacarrão (macarrão)
PEC: ah macarrão * miojo . miojo pode comer só uma vez por semana . não
pode comer muito miojo == que faz mal . muito bem . lembrou de tudo (2.0)
isso . agora deixa eu escrever o nome
/.../
PEC: agora vai pintar Eric
PEC: vai lá pegar o giz de cera ‘pra’ você pintar sua pirâmide . vai
Eric levantou, mostrou o desenho para professora e disse
Eric: MACHÃ (maçã)
PEC: a gente escreveu maçã aí oh . ‘TÁ’
Eric foi pegar o giz de cera arrastando os pés até a prateleira que está nos
fundos da sala // pegou a lata de giz de cera e voltou para a carteira//
colocou a lata em cima da carteira e sentou na cadeira// pegou um giz e
colocou na mesa// ficou olhando para o desenho// pegou o giz novamente
em cima da mesa e começou a pintar a pirâmide alimentar que ele fez.
PEC: (Dirigindo-se a Eric) o que ‘tá’ escrito aqui? . escreve seu nome (3.0)
pronto? . deixa a tia riscar pra você (3.0) fala pra tia uma coisa que você tem
que comer todo o dia . heim?
Eric: arrozi ( arroz)
PEC: arroz? . então você vai desenhar o arroz . tá . vai desenha aqui o arroz
PEC: tem que falar pra mamãe comprar outro oh. num tá fechando . por isso
que cai toda hora oh ( a professora se referia a latinha de lápis de Eric)
Eric estava concentrado no desenho//levantou a cabeça e disse:
Eric: cabei ( acabei)
PEC: isso . agora outra coisa que você tem que comer todo dia?
Eric: futa/ (fruta)
PEC: /fruta . então desenha a fruta ai (2.0) não tá em todo dia ainda oh .
todos os dias . então desenha a fruta aqui . todos os dias (3.0) que mais? .
arroz, fruta . que mais?
No entanto, Eric, que apresenta notória predileção por chips, pois inseriu
o alimento no local destinado àqueles que podem ser consumidos três vezes
por semana. A pirâmide seguia um padrão numérico que indicava a quantidade
de vezes que o alimento poderia ser consumido. O mesmo ocorreu em relação
ao bolo de aniversário. A professora retoma o significado da palavra raramente,
e questiona o único erro de Eric quanto à inserção dos alimentos em seus
devidos lugares.
Por um lado, a palavra raramente talvez não faça parte do campo
semântico do aluno o que pode ter dificultado a compreensão da categorização
dos alimentos que apenas se pode consumir em ocasiões incomuns ou pouco
frequentes. Por outro, o fato de serem alimentos prediletos os inserem em um
campo semântico regido por sentidos, isto é, pela região mais de afetos do que
do ponto de vista categorial, conceitual, impelindo a criança a fazer a alocação
dos alimentos como algo “permitido” mais vezes por semana, em função do
prazer que geram.
É interessante observar que não houve movimentos motores
estereotipados durante todo o período em que Eric esteve envolvido na tarefa
junto à professora, mostrando que a presença da docente regula o
comportamento de Eric, uma vez que ele controla sua ansiedade e demonstra
segurança na resolução da tarefa, aceitando prontamente os questionamentos
e sugestões da professora.
5
A duração do episódio foi de 13 min. 27 seg.
75
PEC: hã?
ERIC: hã
PEC: vai lá no quadro e mostra pra tia . vai lá no quadro
Eric levantou, foi até o quadro e apontou a palavra.
PEC: cachimbo
Eric: bo
PEC: cachimbo
Eric sentou novamente na cadeira e ficou olhando para o quadro.
PEC: então escreve
Eric levantou novamente, foi até o quadro e ficou olhando.
PEC: Eric
Eric: esse (apontou com o dedo a palavra)
PEC: esse . então senta pra escrever
Eric sentou na cadeira e continuou copiando o texto
Eric apoiou a cabeça nos braços postos na mesa// levantou o corpo e
continuou a copiar.
PEC: Eric
Eric: esse (apontou com o dedo a palavra)
PEC: esse . então senta pra escrever
Eric sentou na cadeira e continuou copiando o texto
PEC: Agora nós vamos abrir a página do livro onde nós paramos e vamos
observar o desenho que tem nessa página (a professora mostrou seu livro
aberto para os alunos)
Carla abriu o livro// Eric abriu o seu também//Carla começou a folhear o
livro// Eric observou e folheou o seu também// o livro escapou da mão de Eric
e fechou// Eric abriu novamente e, olhando para Carla, tentou acompanhá-la,
passando as páginas rapidamente.
Carla falou: Pronto tia (abriu o livro na página indicada e deixou sobre a
mesa).
Eric olhou para o livro de Carla// passou mais páginas de seu livro// o livro
fechou//Eric abriu novamente e tentou encontrar a página também.
PEC: pronto . agora ajuda o Eric aí.
Carla pegou o livro de Eric e começou a procurar a página certa// Eric
estendeu o braço sobre a mesa// deitou sobre o braço// virou a cabeça em
direção a Carla e ficou olhando a ação da colega// Carla entregou o livro a
Eric//Eric riu//olhou para Carla, que observava a gravura do livro//olhou para
seu livro e fixou o olhar assim como a colega fazia.
6
A duração da observação desse episódio foi de 1 min. e 24 seg.
79
Eric foi à mesa de Loli e viu que seu saco de pipoca estava vazio// pegou o
saco// amassou-o//o jogou no lixo// voltou para perto de Loli// ficou em pé
atrás de sua cadeira// saiu.
7
A duração da observação desse episódio foi de 3 min. e 18 seg.
81
8
A duração da observação desse episódio foi de 2 min. e 03 seg.
83
mas ele não lhes deu atenção. Carla viu a cena e tentou tomar a revista mas
Lina tomou a frente e tentou justificar a ação de Eric, afirmando que ele apenas
desejava ver a revista pelo fato de ser o Sitio do Pica-pau Amarelo, sua
predileta. Em seguida, já em outra brincadeira, as demais crianças faziam
perguntas a Eric, que respondeu a algumas, demonstrando compreensão da
situação e envolvimento nas brincadeiras.
abrir a mochila da colega para pegar a revistinha de seu grupo preferido. Lina
protege Eric, demonstrando afeto pelo colega - Ap ( afeto positivo) - ,
impedindo Carla de ser ríspida com Eric. Carla rejeita a proibição de Lina e
guarda a revista. Eric tenta argumentar com Carla, que demonstra insatisfação
pela ação do colega - An (afeto negativo).
Lina expressa sua empatia em relação ao comportamento de Eric,
tratando o assunto de forma natural e sem penalizá-lo. Vitor e Alex também
procuram protegê-lo, mudando o foco da situação conflitante em que ele e
Carla se encontravam para uma brincadeira que o envolvia numa seção de
perguntas. Eric responde as perguntas dos colegas e assim estabelece uma
relação Csi (com sincronia), pois evidencia uma articulação entre os
comportamentos de ambos. Contudo, demonstra nas respostas que se frustrou
com a atitude de Carla em retirar-lhe a revista, ao eleger o não como resposta.
A partir do momento que Lina pede que Eric fale que o colega é feio, ele
reage, batendo de leve em seu rosto. Ela, por sua vez, não considera a reação
de Eric como negativa e inicia uma brincadeira de luta com ele, que
corresponde - Csi (com sincronia) - e responde a brincadeira.
Eric saiu da sala de aula com seus colegas// foram formados grupinhos entre
os colegas na saída para o recreio. Eric ficou sozinho no pátio, andou um
pouco; observou um grupo de meninas que estava conversando// olhou para
a câmera e continuou a caminhar pelo pátio descoberto// parou e dirigiu seu
olhar para uns colegas que estavam mais distantes, jogando bola// olhou
para a filmadora// começou a caminhar na direção dos colegas que estavam
brincando de bola// olhou para uma menina que vinha em sua direção// a
menina apressou os passos ao chegar próximo de Eric e passou direto// Eric
a acompanhou com o olhar// começou a caminhar e correr em direção de um
colega que correu pelo pátio// parou de correr e ficou parado.
/.../
Eric entrou para o pátio interno da escola (coberto) e andou sozinho // entrou
na sala de aula da educação infantil// parou em frente a uma prateleira//
9
A duração da observação desse episódio foi de 8 min. e 12 seg.
86
equilíbrio quanto aos tipos de participação, uma vez que um tipo não se
sobrepõe aos demais, ainda que as categorias comportamentais permaneçam
centralizadas no ordenar e obedecer.
Já nas Atividades Pedagógicas Estruturadas estão presentes o afeto
positivo, a sincronia e a supervisão, mas ao contrário do que acontece na
Escola Classe, há um significativo aumento das interações paralelas
complementares e independentes e surgem interações mais pautadas no
“sugerir” e não apenas no “ordenar”. É o que evidenciam as tabelas que se
seguem:
Tabela 4. Frequência absoluta e percentual de qualidade das interações na
Escola Parque.
Com
supervisão 1 12,5 34 77,3 35 67 1 2,5 34 97,5 0
Sem
supervisão 7 87,5 10 22,7 17 33 0 0 0
Com liderança 2 25 31 70,5 33 63,5 1 3 32 97 0
Paralela 2 25 11 25 13 25 0 0 13 100
independente
Paralela
complementar 2 25 14 31,8 16 31 16 100 0 0
TOTAL 8 44 52
88
Freq. % Freq. %
Freq. % Freq. % Freq. %
Solicitar/ 2 8,7 21 91,3 23 57,5 6 26 17 74 0
sugerir
Ordenar 3 37,5 14 31,8 17 32,7 0 17 100 0
Proibir 1 12,5 1 2 0 1 100 0
Atender 3 37,5 12 27,3 15 28,8 12 80 3 20
solicitação
/sugestão
Obedecer 2 25 13 29,5 15 28,8 15 100 0 0
Rejeitar 1 12,5 09 20,5 10 19,2 07 70 3 30 0
Elogiar 06 13,6 6 11,5 6 100 0
Imitar 2 13,5 14 87,5 16 30,8 100 0 0
Total
*O somatório das dimensões não é de 100% uma vez que em uma mesma interação aparece mais de
um comportamento.
Artes Visuais:
Música:
a) No ritmo do violão
b) A banda de percussão
Momentos livres:
a) No bebedouro
b) Lendo um livro
89
10
A duração da observação desse episódio foi de 10 min. e 59 seg.
91
11
A duração da observação desse episódio foi de 4 min. e 55 seg.
95
iguais é que pode ter sido revelado a ele o sentido do jogo. Eis um bonito
exemplo de como o sujeito se constitui pela mediação entre o eu e o outro, e
de como o contexto da atividade é determinante na constituição e pode se
diferenciar de acordo com as variações das intenções (PINO, 1991)
Assim, a estrutura da tarefa em grupo tem um peso importante no que
diz respeito ao comportamento de Eric. A mediação de Lina e o
estabelecimento de situações de cooperação exerceram um papel regulador de
seu comportamento, tornando-o mais típico e menos ritualístico, desvelando o
objetivo do jogo. O episódio mostra que as crianças percebem Eric como um
colega diferente, mas agem no sentido de promover seu desenvolvimento,
respeitando a diferença.
12
A duração da observação desse episódio foi de 7 min. e 16 seg.
97
13
A duração da observação desse episódio foi de 12 min. e 07 seg.
101
PMU: Agora vamos fazer assim . eu vou chamar um por um . vou dizer qual
o instrumento e vamos fazer dois grupos, um aqui desse lado (apontou para
sua direita) e outro desse lado (apontou para a esquerda). Vamos começar
por esse lado.
Alguns alunos: Eu. eu . tio .
Eric: Eu.
PMU: Calma . você Lina. pega o pandeiro meia-lua.
Lina se levantou pegou o pandeiro meia lua e sentou onde o professor
indicou.
PMU: Põe o pandeiro no chão . antes de começar a tocar nós vamos bater
palmas ta . vamos fazer a marcação da música. Pá . pá. pá. ( todos os
alunos acompanharam).
O professor pegou o violão e começou a tocar.
PMU: Agora: dois, três e pá, pá, pá.
/ Eric: dois, tês, (três) quato,(quatro) pá ,pá.
PMU: Dois três e pá, pá, pá. (os alunos acompanharam com palmas).
PMU: Isso. vamos lá ( olhando para Lina, que pega o pandeiro no chão e se
posiciona para começar). Vamos lá. dois . três e pá.
Lina começou a tocar Eric acompanhou com palmas.
PMU: Só o pandeiro. deixa só ela Eric. Eric encerrou as palmas// olhou para
o professor// colocou as mãos no queixo//olhou Lina tocar)
PMU: Muito bem . agora você .( apontou para Vitor) Pega o tambor e senta
ao lado dela.
PMU:Vamos lá agora Vitor. você acompanha ele Lina . dois, três e ...
( o professor tocou e os alunos também, Eric olhou para o tambor e fez
movimentos com as mãos e os braços repetidamente// levantou as
sobrancelhas //fechou e abriu os olhos/abriu e fechou a boca//sorriu//olhou
para o tambor//repetiu os movimentos motores estereotipados.
PMU: - Agora você ( apontou para Elisa/ Elisa levantou) Pega o triângulo e
senta aqui desse outro lado. (indicando o lado oposto ao que Lina e Vitor
haviam sentado) vamos lá, pá, pá, pá (2.0) vocês aqui vão marcar ta . vamos
juntos agora (2.0) dois três e ( o PMU tocou o violão e os alunos
acompanharam com os instrumentos).
PMU: Agora (2.0), deixa eu ver. Você Eric.
Eric se levantou foi até os instrumentos.
PMU:Pega o (2.0) o ovinho.
Eric pegou e sacudiu fortemente o ovinho// se dirigiu ao seu lugar// antes de
chegar, o professor falou:
102
PMU: Aqui (apontando para o lugar onde Eric deveria sentar), ao lado do
Vitor.
Eric sentou ao lado de Vitor// sacudiu várias vezes o ovinho// bateu com ele
no rosto// fez movimentos estereotipados, sacudindo o ovo//parou de
sacudir// segurou a ovo entre as pernas//olhou para o tambor que estava
com Vitor.
PMU: Eric olha pra mim . pá, pá, pá . vamos lá
Eric começou a acompanhar o professor// Vitor também acompanhou//Vitor
olhou para Eric e sorriu//Eric olhou para Vitor e sorriu.
O PMU olhou para Elisa e falou:
PMU: Você três e eles duas.
Enquanto isso Eric bateu com o ovinho no tambor de Vitor que também
estava tocando, Vitor sorriu, Lina também. Os outros colegas começaram a
fazer barulho.
/.../
PMU: - Loli, você. (PRE entregou um pandeiro menor para Loli) Aqui do lado
de Manuela. (A PRE conduziu Loli e colocou ao lado de Manuela). Vamos lá,
pá, pá, todo mundo, dois três e
Todos tocaram.
Eric tocou//sacudiu o corpo//fez movimentos estereotipados//tocou com os
dedos no tambor de Vitor// Vitor permiti//Eric tocou novamente no tambor de
Vitor// Vitor sorriu//Eric sorriu
PMU: Alan, você. Pega o atabaque. ( Alan pegou,) Agora senta lá do lado de
Lina.
Vamos lá,( o professor repetiu o exercício)
Eric se sacudiu//deu pulinhos sentado// fez diversas expressões
faciais//passou a mão no rosto// abriu e fechou a boca//balançou o
corpo//esticou a perna//sacudiu o ovinho em movimentos repetitivos.
PMU: Agora Ana . pega o outro pandeiro e fica perto de Loli. (Ana
obedeceu).
O professor repetiu o exercício.
Eric fazia movimentos estereotipados//sacudia as mãos e os braços pegava
na camisa//balançava o corpo//olhava para o tambor//
PMU: Eric olha pra mim
Eric olhou para o professor//tocou acompanhando a turma.
3.5.3.1 No bebedouro14
Acabou a aula de Educação Física, a turma saiu para o pátio para aguardar
a aula de Artes Visuais. Alan. Ana e Eric pararam no bebedouro para tomar
água, enquanto os demais alunos seguiram em frente. Alan, que ia na frente,
se posicionou na primeira torneira da esquerda para a direita; Ana, em
seguida, na segunda; logo após chegou Eric, que ficou na terceira.Quando
Eric chegou, Alan já bebia água e Ana tentava abrir a torneira, Eric começou
a abrir a torneira e a água não saiu. Eric sacudiu várias vezes a torneira e
gritou:
Eric: NÃO . NÃO
Ana tentou ajudar Eric, abrindo e girando ainda mais a maçaneta da
torneira.Eric olhou para Ana// a água não saiu.
Alan terminou de beber e seguiu adiante ao encontro dos colegas. Eric
fechou sua torneira e passou para a torneira de Alan. Enquanto isso, a água
jorrou na torneira de Ana. Eric abriu a torneira e a água mais uma vez não
saiu. Eric sacudiu a torneira com força diversas vezes e gritou:
Eric: Não!
Ana fechou sua torneira e foi ajudar Eric. Abriu a torneira de Eric e a água
saiu. Eric começou a tomar água. Ana voltou para sua torneira, abriu e a
água não saiu. Ana foi para a torneira de Eric e os dois tomaram água juntos.
14
A duração da observação desse episódio foi de 53 segundos.
105
PAV: Eric vem prá cá ó (apontou o dedo para a cadeira que ele tinha sentado
no início da aula). Senta aqui com os meninos. VEM!
Eric sentou no lugar indicado pela professora// folheou o livro//olhou para os
colegas que estavam lendo//olhou para o livro//começou a passar página por
página//olhou para os colegas//olhou para o livro//parou//começou a passar
15
A duração da observação desse episódio foi de 1minuto e 23 segundos.
106
Eric tentou se isolar dos demais colegas. Talvez menos por ser uma
criança com autismo e, mais, por estar em uma situação de leitura, habilidade
que ele ainda não domina. A professora percebeu o distanciamento do aluno e
o chamou para fazer a leitura em grupo. Eric obedeceu à ordem da professora,
sentou-se junto aos colegas e iniciou sua leitura, folheando o livro rapidamente.
Em seguida, percebeu “como” os colegas liam ao seu lado e mudou a postura:
olhava para as páginas do livro, passava o dedo vagarosamente sobre o texto.
Quem lê, não folheia, portanto, rapidamente as páginas do livro. Deve haver
alguma outra operação possivelmente ligada a acompanhar cada linha com o
dedo, lentamente. Acostumado a interações sincrônicas e complementares e
paralelas complementares, mais uma vez, Eric tenta imitar as ações das
demais crianças, de modo a estruturar a sua ação e ter um “comportamento de
leitura”. Há um processo de comunicação em curso, o mesmo que sustenta a
participação e é o lugar de aluno e colega que Eric assume na escola.
A comunicação é um processo que permite os seres humanos entrarem
em contato com os fenômenos do mundo circundante através de outros
homens. Nesse sentido, seja a comunicação verbal ou não-verbal, esta se
apresenta como a condição necessária para o desenvolvimento humano.
(LEONTIEV, 2004).
Assim, é a comunicação com os demais colegas que faz florescer em
Eric o motivo da leitura e escrita. Ele passa a reconhecer a função do texto no
intercâmbio com seus colegas. A ação de Eric em deixar de folhear o livro e
passar a “lê-lo”, indica que se instaura uma transição de atividades. Eric aponta
para o surgimento de uma nova atividade dominante: o estudo. A passagem de
uma atividade dominante a outra, no entanto, não significa a existência de uma
ruptura radical, mas sim o enfraquecimento de uma atividade em detrimento ao
107
Com
supervisão 26 57,8 2 7,7 24 92,3 24 92,3 35 67 1 2,5 34 97,5 0
Sem
supervisão 19 42,2 0 0 0 17 33 0 0
Com
liderança 25 55,6 1 4 24 96 24 96 33 63,5 1 3 32 97 0
Sem
liderança 20 44,4 0 0 0 00 19 36,5 0 0
Solicitar/
sugerir 14 42 5 36 9 64 0 23 57,5 6 26 17 74 0
Ordenar 21 58 0 21 100 0 17 32,5 0 17 100 0
Proibir 0 0 0 0 0 1 2 0 1 100 0
Atender
solicitação/ 6 13,3 4 67 2 33 15 28,8 12 80 3 20 0
sugestão
Obedecer 18 40 15 83 0 0 15 28,8 15 100 0
Rejeitar 11 24,4 9 89 2 11 0 10 19,2 7 70 3 30 0
Elogiar 8 17,8 8 100 0 6 11,5 6 100 0
Imitar 9 20 9 100 0 0 16 30,8 16 100 0 0
pois, numa análise da direção da sentido, conclui-se que ela parte do outro
para Eric, enquanto que, em relação à obediência, o sentido é oposto: de Eric
para o outro. Para Hinde (1997), o poder faz parte do relacionamento e envolve
seus participantes, variando de acordo com o contexto. Nesse caso, todo
poder é relativo, e se ampara na visão que o sujeito que é controlado tem do
sujeito controlador da situação. No caso da Escola Classe, o sujeito
controlador é a professora.
O elogio e a rejeição também aparecem mais frequentemente na Escola
Classe, o elogio parte sempre do outro para Eric e está posto geralmente em
situações de conquistas pedagógicas. A rejeição é evidenciada em situações
de falta de interesse de Eric por certas brincadeiras iniciadas por seus colegas
nos momentos livres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. O Capital - crítica da economia política, 13. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1989.
http://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=492r> Acesso
em: jun. 2009.
Cordialmente,
Aluno(a):
____________________________________________________________
Data:_________________
124
Senhores Professores,
Respeitosamente,
Lúcia de Carvalho Brandão
Nome:____________________________________________________