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Da Universidade para a

Comunidade: perspectivas em
psicologia social e comunitária
Volume II
Prof. Ms. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial

Dr. Cristiano S. Araujo


Assessor

Engenheira Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira


Diretora Administrativa
Presidente da Editora

CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
Prof. Dr. Henryk Siewierski (UNB)
Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG - Catalão)
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana (UNESP)
Profa. Ms. Margareth Leber Macedo (UFT)
Profa. Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno (UFG)
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
Profa. Dra. Leila Bijos (UnB)
Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá (UFPR)
Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
Jackeliny Dias da Silva
Organizadora

Da Universidade para a
Comunidade: perspectivas em
psicologia social e comunitária
Volume II

1ª edição

Goiânia - Goiás
Editora Espaço Acadêmico
- 2019 -
Copyright © 2019 by Jackeliny Dias da Silva

Editora Espaço Acadêmico


Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15 Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
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Larissa Pereira - (62) 98230-1212

Editoração: Franco Jr.

CIP - Brasil - Catalogação na Fonte

U58 Da universidade para a comunidade : perspectivas em psicologia so-


cial e comunitária [livro eletrônico] / Organizadora Jackeliny Dias
da Silva. – 1. ed. – Goiânia : Editora Espaço Acadêmico, 2019.
2 v. ; PDF.

Inclui referências bibliográficas


ISBN: 978-65-80274-32-1

1. Psicologia social. I. Silva, Jackeliny Dias da (org.).


CDU 316.6

O conteúdo da obra e sua revisão são de total responsabilidade dos autores.

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A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido
pelo artigo 184 do Código Penal.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil


2019
“Não há saber mais ou saber menos:
há saberes diferentes.”

Paulo Freire
PRÓLOGO

O mundo mudou, e se quisermos fazer uma psicologia que


abarque a realidade das pessoas, precisamos primeiramente
modificar a nossa forma de levá-la até elas. E foi nesta perspec-
tiva, que inicie minha atuação em psicologia, no início não sabia,
mas estava me preparando para docência por meio dos inúme-
ros treinamentos e cursos que realizava.
Neste tempo fui responsável por implantar e conduzir pro-
cessos de desenvolvimento de pessoas em um incorporadora, e
foi neste lugar, rodeada por pessoas maravilhosas, que percebi o
quanto era bom trabalhar com gente, auxiliar as pessoas a com-
preenderem melhor sobre si mesmas, sobre os processos sociais
que as rodeiam, sobre a importância do trabalho em equipe e
dos relacionamentos interpessoais.
Estava adentrando um novo universo, que não havia ex-
perienciado durante a graduação, mas que nos envolve desde o
nosso nascimento, a minha querida psicologia social.

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Foi a partir de então, que comecei minha jornada em busca
da minha identidade profissional, do meu sentido neste mundo.
E foi neste caminho de busca, que anos depois, comecei o meu
propósito, este que mudou a minha vida e que levarei para sem-
pre dentro da minha alma – utilizar o meu trabalho para trans-
formar e inspirar vidas.
Eu me descobri na docência o espaço no qual encontrei o
verdadeiro sentido da minha profissão, e que me fez apaixonar.
Me transformei em educadora, ensinando, aprendendo e aman-
do o que fazia, junto aos meus queridos alunos, a termos um
olhar humano para a psicologia, por meio do social.
E foi nesta caminhada, que pude perceber que se não
modificarmos nós mesmos, a nossa realidade, ninguém mais a
modificará. E com estas perspectivas, comecei a aplicar este pen-
samento em minhas aulas, descobrindo e cultivando um novo/
velho modelo de ensino, baseado na afetividade e na constante
busca pelo envolvimento dos meus alunos com o que estavam
aprendendo.
Hoje posso dizer que aprendi mais do que ensinei, e esta
é a recompensa de ter vivenciado momentos incríveis com alu-
nos tão maravilhosos, que me fizeram ver que é possível ensinar
e aprender com prazer, lição esta que carregarei para toda vida.
Ao fim, pude ver florescer a sementinha que havia planta-
do, e que eles também plantaram em meu coração: de que a mu-
dança começa em nós mesmos, e se quisermos fazer do mundo
um lugar melhor, somos nós que temos que mudá-lo, através de
nossas próprias ações e intervenções.
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

E foi neste espírito de transformação social, de mudança


de olhar, de mudança de lugar e de perspectiva, de tentar enxer-
gar o antigo por meio de novas lentes e novos olhares, que decidi
organizar um livro, fruto de experiências partilhadas com alguns
dos incríveis alunos que tive.
Alguns trabalhos aqui encontrados, são frutos de experiên-
cias vinculadas a disciplinas que eu ministrava, e também de in-
vestigações teóricas que nos aventuramos a fazer.
Acredito, que quando entrelaçamos conhecimentos, e aju-
damos a despertar o potencial do outro, podemos desenvolver
trabalhos fantásticos. Como educadores, não podemos achar
que somos os donos do conhecimento, afinal somos meramente
facilitadores, que estão de passagem naquele tempo, e naquele
espaço.
A sala de aula é um espaço privilegiado, e quando acredi-
tamos no potencial de cada aluno, enxergamos muito além, e
juntos nessa relação de reciprocidade, conseguimos obter uma
visão mais ampla sobre aquilo que estudamos, nos permitin-
do assim a oportunidade de pensar, elaborar e decidir coleti-
vamente.
Portanto, tornamo-nos, cada dia mais protagonistas em
nosso próprio caminho, e auxiliamos o outro em seu empodera-
mento pessoal.
Este livro, tem o intuito de trazer à tona experiências incrí-
veis vivenciadas pelos autores, assim como trabalhos duros de
investigações qualitativas. Compostas por ex-alunos, e alguns
agora colegas de profissão, que sempre me procuraram para

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

desenvolvermos algo em prol da ciência psicológica, mesmo de-


pois que não mais me encontrava na instituição a qual nos co-
nhecemos.
Sei que para muitos dos autores, esta pode ser uma das
primeiras publicações científicas, de muitas que virão. E podem
sentir-se orgulhosos disso! O caminho pode até ser longo, mas
jamais duvidem do seu potencial, e quando o desanimo bater,
lembrem sempre dessas palavras: vocês são capazes de ser e fa-
zer! não deixem que ninguém dia o contrário.
Esta fala serve também para todos alunos que tive o pri-
vilégio de ser professora e/ou orientadora durante a minha jor-
nada como docente, e que não estão nesta coletânea, mas que
caso queiram seguir o mesmo caminho, dos que aqui estão, es-
tarei sempre disponível para ajudá-los.
A todos os leitores, desejo uma jornada de conhecimen-
to, e quem sabe de novas aplicações do que aqui está publi-
cado. Sempre com ética e respeito ao ser humano, se assim o
fizerem sinta-se, pertencente a este espaço a este universo: de
uma psicologia humana e que obtém um olhar para o outro, e
com o outro.
Para todos leitores, espero que façam uma jornada praze-
rosa por estas páginas, e que na prática, em nosso cotidiano pos-
samos fazer da psicologia, uma profissão mais solidária e menos
solitária (Matraga).
Um grande abraço,

Jackeliny Dias

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SUMÁRIO

Capítulo 1
INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL COM IDOSOS
INSTITUCIONALIZADOS: A UTILIZAÇÃO DA
ARTE COMO FERRAMENTA...................................... 12
Thiago Ferreira
Vanessa Santos Passos Miranda
Jackeliny Dias Silva

Capítulo 2
PSICOLOGIA SOCIAL: RACISMO, PRECONCEITO
E REPRESENTATIVIDADE........................................... 31
Rosana Rodrigues Chaves
GRAZIELA Cristina de Miranda Vieira
Jackeliny Dias da Silva

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Capítulo 3
OFICINAS EM DINÂMICA DE GRUPO COMO
ESPAÇO PARA PROMOÇÃO DE
AUTOCONHECIMENTO E RELACIONAMENTO
INTERPESSOAL COM ADOLESCENTES....................... 51
Nayara Coelho Rosa
Paulo Henrique Félix Borges
Jackeliny Dias da Silva

Capítulo 4
CUIDANDO DE QUEM CUIDA: UMA OFICINA
PSICOSSOCIAL COM GRUPO DE VOLUNTÁRIOS........ 64
Adriana Vieira Gomes
Daniella Dantas Calixto
Susi Pereira da Luz
Jackeliny Dias da Silva

Capítulo 5
DO PASSÁRO E DO PASSARINHO: OFICINAS
PSICOSSOCIAIS PARA PROMOÇÃO DE RELAÇÕES
POSITIVAS ENTRE PAIS & FILHOS............................. 89
Dayane Aparecida Rodrigues Chagas
Geziel Alves da França
Mariana Dayse Paulina Buck
Jackeliny Dias da Silva

AUTORES............................................................... 107

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Capítulo 1
INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL COM IDOSOS
INSTITUCIONALIZADOS: A UTILIZAÇÃO DA
ARTE COMO FERRAMENTA

Thiago Ferreira
Vanessa Santos Passos Miranda
Jackeliny Dias Silva

A psicologia social comunitária é campo de atuação do


psicólogo desde meados da década de 60, sendo grande aliada
das reformas sociais principalmente no campo de saúde men-
tal. Com o passar do tempo, muitos espaços foram se ampliando
para atuação do profissional ligado a este campo do saber, sen-
do assim, a comunidade carente que anteriormente não recebia
atenção psicológica, com o passar do tempo foram sendo intro-
duzidas aos acompanhamentos psicossociais (CAMPOS, 2017).

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Uma comunidade que ainda hoje carece da atuação profis-


sional do psicólogo são os sujeitos institucionalizados, sejam da
população infanto-juvenil ou terceira idade.
Em se tratando destes, Magesky (2009) aponta que os asi-
los surgiram como uma necessidade social abarcando uma ta-
refa que anteriormente era destinada a família, contudo essas
residências não atendem as necessidades biopsicossociais dos
idosos, contribuindo muitas vezes de forma negativa ao seu de-
senvolvimento, principalmente no que tange as necessidades
humanas de afetividade, interação social e saúde mental. Muitas
vezes os idosos não são envolvidos em atividades que possam
lhe trazer prazer, assim perdem atividades que anteriormente
faziam parte da rotina, o que impacta de forma significativa em
sua autoestima contribuindo com sentimentos de exclusão e
outros aspectos psicológicos negativos que os afligem, além do
fato de estar longe da família e laços sociais anteriormente vi-
venciados.
Desta forma, a intervenção psicológica nestes espaços tor-
na-se de primordial importância, para que se promova melhoria
na qualidade de vida e promoção de saúde mental de forma pre-
ventiva.
Tendo como base a ideologia da psicologia comunitária e
baseado nas metodologias de intervenção psicossociais o pre-
sente buscou realizar um trabalho para intervenção em uma ins-
tituição não governamental que abriga idosos, com intuito de
auxiliar os integrantes a assumirem progressivamente o papel de
sujeitos protagonistas com identidade e história própria.

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1. METODOLOGIA

1.1 Instituição

Para realização da intervenção foi contatada uma institui-


ção não governamental a qual acolheu o projeto e permitiu a
realização das atividades e da divulgação dos resultados poste-
riores. Foi assinado um termo de consentimento livre e esclare-
cido ao qual explicava os objetivos de todo o projeto e solicitava
a anuência na divulgação dos resultados, sem identificação dos
participantes.
O local é conhecido por ser uma instituição filantrópica
sem fins lucrativos que, desde 1991 desenvolve um programa
de atendimento integral a idosos em vulnerabilidade social.
É mantida por doações pontuais, sem parcerias com o poder
público, resultados da generosidade e solidariedade da popu-
lação. Hoje, seu maior capital advém dos colaboradores e vo-
luntários, sensibilizados com a proposta do abrigo. Tem por
finalidade a promoção, apoio, incentivo e patrocínio de ações
nos campos: social, filantrópico, cultural, recreativo, esportivo
e assistência à comunidade, com ênfase no amparo e proteção
ao idoso.
Para realização do projeto primeiramente foi realizada uma
entrevista com a coordenadora da instituição, com a qual perce-
beu-se que os pontos a serem melhorados foram relacionados a
demandas afetivas e emocionais, integração ao grupo, dificulda-
des perante a distância da família, restrições psicomotoras, me-

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dos de ficarem sós, ansiedades entre outras. Frente a demanda


constatada junto a instituição firmou-se com a coordenação do
local o compromisso de se trabalhar com os internos na busca
por mudanças das condições vividas.
Como a maioria dos que ali vivem possuem restrições
motoras, psíquicas, visuais e/ou na qualidade da fala, teve-se
o cuidado de elaborar e planejar atividades que pudessem am-
parar e integrar a todos que demonstraram interesse em par-
ticipar.

1.2 Participantes

Atualmente, a instituição possui 28 internos com idades


que variam entre 37 e 101 anos, os quais estão sobre os cuida-
dos de 5 funcionários que se revezam entre os turnos.
O abrigo funciona 24 horas por dia, todos os dias da sema-
na, com horários de visitas entre às 11:00 e 16:00 horas.
Os serviços oferecidos são avaliados com certo grau de
precariedade, visto que, a infraestrutura passa por problemas, e
o número de funcionários acaba sendo insuficientes para aten-
der a todos. Diante de tais dificuldades, a instituição possui um
projeto de construção de um novo abrigo que prospecta au-
mentar ou dobrar a capacidade de atender mais idosos e pesso-
as que estão expostos à penúria, abandono e à violência física
e moral.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

1.3 Desenvolvimento das Atividades

O projeto de intervenção foi desenvolvido a posteriori


da visita dos Facilitadores a instituição, levando em conside-
ração as demandas e necessidades psicossociais encontradas
no local.
Foram acordados a realização de quatro encontros com os
participantes, cada encontro contava com uma temática diferen-
te a ser realizada, as técnicas utilizadas amplamente foram pau-
tadas na arte, utilizando-se de desenhos, pinturas, modelagens
em massas coloridas e na música para alcançar e possibilitar aos
internos expressarem seus sentimentos e emoções, trabalhando
a timidez e desenvolvendo a socialização, a criatividade, espon-
taneidade e valorização de suas histórias de vida por meio da lin-
guagem não verbal.
No primeiro encontro o objetivo central foi realizar pintu-
ras e desenhos livres, aproveitando este momento para conver-
sar com os participantes sobre suas histórias de vida.
No segundo encontro foram desenvolvidas atividades com
massinhas de modelar, afim de possibilitar os sujeitos a expres-
são de sentimentos, emoções, criatividade e socialização.
No terceiro encontro os es desenvolveram junto aos idosos
uma atividade de pinturas livres em tecidos, que posteriormente
foi utilizado para fazer almofadas para os participantes.
No quarto e último encontro foram realizadas atividades
com músicas, confraternização e entrega das almofadas.

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2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.1 Primeiro Encontro

A proposta para esse encontro foi fazer com que os idosos


participantes pudessem através da arte, expressarem seus sen-
timentos e emoções, diminuindo a timidez e desenvolvendo a
socialização, a criatividade, espontaneidade e valorizando suas
histórias de vida por meio da linguagem não verbal, que visivel-
mente contribui para a melhoria da autoestima e cooperação en-
tre os membros do grupo.
De acordo com Batista (2000), a arte é uma forma de ex-
pressão do ser humano, no qual a comunicação e a linguagem
simbólica são produtos da intuição, da observação, do incons-
ciente e do consciente, da emoção e do conhecimento, do talen-
to e da técnica, favorecendo a criatividade. E é justamente isso
o que se buscou através desta ferramenta, fazer com que os in-
ternos pudessem através da linguagem simbólica, passar tudo
o que o tempo e as condições atuais lhes privaram de dizer por
meios verbais.
Após a realização do Rapport, foi explicado aos participan-
tes as atividades a serem realizadas, foram entregues folhas A3,
tintas e lápis de cor, os participantes foram deixados livres para
escolherem realizar a atividade ou não. No início, alguns demons-
traram certa resistência, utilizando frases como “isso não é para
mim, nunca pintei na minha vida”; “não sei pintar, prefiro escre-
ver”. Já outros, demonstraram interesse ao realizar a atividade,

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se dedicando ao desenho e sorrindo durante a realização da ati-


vidade. Ao longo do encontro, os Facilitadores buscaram ques-
tionar os desenhos e motivar os integrantes, quanto mais elogios
eles recebiam, mais se dedicavam a se expressar no papel.
O método utilizado neste encontro foi bastante eficiente,
pois possibilitou até mesmo para aqueles internos com maiores
dificuldades psicomotoras externarem seus sentimentos.
As atividades em grupo implementadas de maneira criati-
va e adequada, proporciona uma atmosfera de aceitação e âni-
mo para discussão e reflexão sobre novas atitudes, emoções e
sentimentos junto às cognições, e constituem-se em meios faci-
litadores para a consciência de questões importantes envolvidas
no dia a dia que normalmente são despercebidas (SILVA, 2002).

Imagem 1. Desenho realizado por uma participante

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Imagem 2. Desenho realizado por um participante

2.2 Segundo Encontro

A atividade planejada para esse encontro foi pensada e


proposta com o objetivo de auxiliar os internos a expressarem
seus sentimentos por meio da modelagem com massinhas pró-
prias para tal propósito. A organização da intervenção manteve
a mesma ideologia, que, através da arte é possível aos parti-
cipantes externalizarem sentimentos e emoções. Os quais al-
mejam serem ouvidos, e percebidos como seres ativos, com
uma história de vida, uma bagagem cheia de experiências e um

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

amplo conhecimento capaz de ensinar a cada um que queira


aprender.
A massa de modelar é um recurso bastante conhecido no
meio infantil, principalmente no contexto escolar, já que esta
possui muitas funções que vão da simples diversão, incitando a
criatividade, até a oportunidade de auxiliar no desenvolvimento
de habilidades sensoriais, cognitivas, motoras e/ou mesmo so-
ciais. Entre idosos e pessoas com deficiências não é diferente,
a massa de modelar, ou, simplesmente, “massinha” tem essas
mesmas funções, podendo ser utilizada como um recurso tera-
pêutico poderoso.
Para cada participante foi entregue uma caixa de massi-
nha de modelar com 12 cores diferentes, assim como uma folha
A3 para fixação das produções. Durante essa atividade foi per-
cebido que pelo fato das massinhas possuírem um cheiro muito
agradável e saboroso, três dos participantes no início tentaram
comê-las. Nessa situação, a Facilitadora intervinha explicando
que a massinha não era para comer, e sim, ser sentida, usada
para criar formas e expressões. Percebe-se com isso como as
fases do desenvolvimento se fecham/aproximam-se nas extre-
midades: infância e velhice, o qual, o idoso volta a ser criança e
completa o ciclo da vida.
Para os participantes que detêm maior grau de lucidez, a
atividade mostrou-se mais produtiva com surpreendentes cria-
ções que estimularam os processos cognitivos, utilizando dife-
rentes cores, fazendo formas diversas, alguns utilizando letras
para formar seus nomes e/ou de pessoas queridas. Com a mani-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

pulação das massinhas com as mãos, alguns enrolando a massa


entre os dedos, sobre a mesa, e/ou usando as palmas das mãos
juntas, trabalhou-se os processos motriz, principalmente as ha-
bilidades finas das mãos, ajudando a melhorar a força, destreza,
e até mesmo a coordenação.
As habilidades sociais também foram estimuladas, já que
no grupo, os participantes puderam se socializar com a troca
de cores e deslumbre das criações uns dos outros. Os Facilita-
dores tiveram o cuidado de estimular esse contato direto uns
com os outros através de perguntas como: “o que você achou da
criação de tal pessoa?”, ou “que cor você acha que ela poderia
utilizar para fazer isso ou aquilo?”, sempre com o intuito de me-
lhorar as relações de convivência entre os internos, já que estes,
acabam tornando-se os “familiares” mais presentes no dia a dia
de cada um.
Ao final do encontro, com resultados surpreendentes,
além de muita emoção entre os grupos e facilitadores que reco-
nheceram na intervenção, um trabalho sério por meio do qual
pode-se tocar e ajudar o próximo a conviver neste ambiente
esquecido por muitos, mas onde há possibilidades de alcançar
melhores condições psicológicas e sociais, assim a atividade de
modelar com massinhas teve efeito terapêutico no grupo e nos
participantes.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Imagem 3. Atividade com massinha de modelar

2.3 Terceiro Encontro

Na terceira atividade prática com os idosos do abrigo fo-


ram elaboradas atividades de pintura em tecidos, as quais foram
utilizadas na confecção de almofadas. A ideia consistiu em usar
os tecidos com as expressões artísticas de cada participante para
elaborar pequenas almofadas que foram entregues aos partici-
pantes no último encontro, como presente pelo empenho e de-
dicação de cada um nas atividades.
Seguindo a linha de psicoterapia em grupo com o uso da
arte, a cada encontro os Facilitadores aproximaram mais de cada
participante, observando que quando os idosos pintavam, dei-
xavam fluir de forma natural suas emoções, revivendo e expres-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

sando no tecido momentos de grandes emoções. Diferente dos


demais encontros, neste os participantes estavam com visitas
quando os Facilitadores chegaram ao abrigo.
Os visitantes haviam levado algumas comidas e bebidas, e
vários idosos estavam ao redor da mesa prontos para tomar o ca-
fé da tarde. Enquanto eles comiam, realizou-se o Rapport, apro-
veitando para explicar e convidá-los à participarem da atividade
do dia.
Durante a atividade, houve clima de colaboração, harmo-
nia, diálogo e sorrisos. Mais uma vez os Facilitadores chegaram
ao fim da programação com a certeza de estarem levando mo-
mentos únicos aos internos e colhendo simultaneamente a grati-
dão de todos os envolvidos.
Como afirmava Carl Jung mesmo que conheçamos todas
as teorias, dominemos todas às técnicas, ao tocarmos uma al-
ma humana, sejamos apenas outra alma humana. Pois, de nada
adianta o conhecimento, se não compreendermos que a emo-
ção em ambientes carentes deve andar de mãos dadas com a
razão. A cada encontro pode-se observar pelos Facilitadores as
emoções e sentimentos de cada participante destinada a seu
trabalho.

2.4 Quarto Encontro

O quarto encontro foi o momento de encerramento do


projeto e complementação do anterior – que teve pintura em te-
cidos com as expressões artísticas. Como este seria o último en-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

contro da intervenção, os Facilitadores focaram em finalizar com


algo que os integrantes do grupo pudessem recordar com afini-
dade, confiança e amor conquistado a cada atividade.
Neste sentido, a partir dos tecidos pintados, foram confec-
cionadas pequenas almofadas personalizadas com o nome de
cada interno, e entregue a eles como forma de presenteá-los pe-
los momentos vivenciados no grupo, emoções, aprendizado, en-
sinamento, sentimentos diversos, a fim de torna-los um símbolo
de recordações, alegrias e conforto a todos que vivem no abrigo.
O preparo deste presente foi realizado pensando em todos os
internos do abrigo, mesmo para aqueles que não participaram
das atividades em nenhum encontro, seja por impossibilidade
de questões ligadas a saúde ou mesmo por não gostar da intera-
ção alvitrada.
Com esta proposta, pôde-se trabalhar o afeto composto de
emoções positivas, uma vez que acredita-se que o afeto propor-
ciona múltiplos benefícios para todos, melhora a percepção so-
bre as relações e fortalece os laços.
Segundo Pucci (2016) atividades de criatividade estimu-
lam a produção de hormônios do bem-estar, prazer e recompen-
sa, tais como a endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina, os
quais interferem diretamente no cotidiano de nossas vidas e es-
tão relacionadas ao bem-estar geral.
Quando estão em harmonia produzem sensação de afetivi-
dade, motivação, satisfação, sociabilização, alegria de viver, pra-
zer pela vida, além de diminuir processos dolorosos e promover
a serenidade, amorosidade e plenitude.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

A partir do planejado, levou-se as almofadas personali-


zadas que trazem consigo a identidade de cada um que ajudou
a confeccionar. Ao chegar na instituição os idosos já recebiam
os Facilitadores com sorrisos, sendo este o cartão de visitas dos
mesmos, em um dos encontros, isto gerou uma situação engra-
çada, quando uma das Facilitadoras foi elogiada por uma inter-
na que disse: “você é muito bonita, seu dente é seu mesmo ou
é dentadura? Após um momento de descontração, e mediante a
resposta que eram verdadeiros, a interna completou: “Então vo-
cê não tira eles para lavar não? ”, a partir daí não teve como con-
ter o riso, o que tornou o clima bastante receptivo, com todos
participando da discussão.
Neste encontro os Facilitadores levaram uma caixinha de
som para tocar músicas ao decorrer da atividade, já que esta po-
de ser utilizada para promover o bem-estar, a melhora da me-
mória, comunicação e mesmo no alívio da dor. A música ajuda a
harmonizar o ambiente e ligada a emoção pode estimular boas
memórias e dar sensação de prazer. Motivos mais que suficien-
tes para a decisão de utilizá-la, principalmente enquanto eram
conferidas aos integrantes do grupo suas respectivas almofadas,
elucidando nos mesmos a recordação e os sentimentos sobre o
dia em que eles fizeram as pinturas no tecido.
A medida com que as almofadas foram entregues, era vi-
sível o contentamento que demonstravam ao ver no que tinha
transformado suas pinturas, e para aqueles que não haviam pin-
tado nada, foram questionados se gostariam de pintar algo ne-
las, dos quais, três idosos aceitaram.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Por meio deste encontro percebeu-se emoções, alegrias,


afetividade, reconhecimento, busca pela integração, enfim, tudo
aquilo que a intervenção psicossocial tem a oferecer quando in-
serida em grupos da comunidade.
Promovendo um encontro de conhecimento e troca de
experiências que tornam o pesquisador como sujeito ativo na
prevenção e promoção de saúde, mantendo uma postura de fa-
cilitador, não assistencialista, capaz de firmar o compromisso
com a transformação social, por meio da busca de mudanças nas
condições vividas pela população a qual está se intervindo.
A etapa de intervenção foi finalizada com a certeza dos Fa-
cilitadores em realizar um trabalho único, leve, simples e carre-
gado de emoções, que tocou todos os envolvidos.

Imagem 4. Almofadas confeccionadas com desenhos em tecido


dos participantes

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar deste trabalho de intervenção, conclui-se o


quão se faz necessário a inserção da psicologia em instituições
como este abrigo de idosos e demais pessoas em vulnerabilida-
des sociais.
Apesar de muito frequente, o sujeito nestes espaços ain-
da é visto como um ser com necessidades somente orgânicas,
com pouca ou nenhuma atenção as suas necessidades psicos-
sociais.
Essa visão retrógrada, tende a ser menos isolada com a
evolução dos campos de estudo e desenvolvimentos teóricos da
Psicologia, principalmente da comunitária, social e institucional
que tem dado real atenção ao sujeito como ser social, saindo do
espaço clínico para atuar na comunidade em diferentes institui-
ções e grupos sociais.
Na cultura brasileira atual, diferentemente da japonesa –
que a velhice é vista como símbolo de respeito e status – ainda
tem-se a noção que na terceira idade as pessoas tornam-se in-
competentes e de baixo valor. Muitos os veem como improduti-
vos, um estorvo para o progresso da economia, claramente um
tipo de estereótipo construído por um sistema capitalista volta-
do para o consumismo.
Enquanto se é produtivo há valor, contudo, com o envelhe-
cimento e a redução da força motriz capaz de mantê-los como
produtor ativo e visível, acaba sendo colocado a margem da so-
ciedade que ao longo da vida ajudaram a criar.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Envelhecimento é inevitável para todos, sendo um proces-


so gradual de deterioração física e mental, como vários estudos
apontam, depende muito do estilo de vida que a pessoa levou,
das doenças acometidas, dos abusos, vícios e/ou maus tratos.
Uma vida cheia de extravagâncias pode vir a acelerar o proces-
so de envelhecimento natural, resultando em idosos mais velhos
com sérios problemas de saúdes e grande consumo de progra-
mas assistencialista como o de pensões ou custos com assistên-
cia medica.
É em meio a este cenário que os abrigos com ênfase no
amparo e proteção as pessoas em situação de risco e vulnerabi-
lidade social, surgem com a proposta de oferecer assistência e
acolhimento as necessidades humanas básicas. Instituições im-
portantíssimas quando possuem infraestrutura adequada, e re-
almente cumprem com a o papel de oferecer serviços nas áreas
de assistência social, psicológica, médica, fisioterapêutica e ou-
tras atividades específicas do segmento social, que garanta re-
pouso, lazer e qualidade de vida aos internos. Uma proposta que
nem sempre é apreciada na realidade.
Enfim, a finalidade deste trabalho não foi demonstrar as
falhas e discrepâncias encontrada nestas instituições, nem mui-
to menos julgar os familiares que recorrem aos abrigos em bus-
ca de ajuda para lidar com parentes na idade adulta tardia e/
ou com transtornos diversos, mas sim, apresentar como o pro-
cesso de intervenção psicossocial pode melhorar a qualidade
de vida do interno que enfrenta inúmeras dificuldades, seja por
conta deste afastamento do núcleo familiar ou pela inatividade

28
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

do mesmo, acelerando processo como – debilitação da cognição,


da consciência, carência, ansiedade, nervosismo, medos, frustra-
ções, depressão – que podem provocar a somatização e agravo
das doenças orgânicas.
As atividades de intervenção psicossocial se mostraram
bastante eficiente e úteis, já que possibilitaram mesmo para
aqueles internos com maiores dificuldades psicomotoras, exter-
narem seus sentimentos e visões reprimidas.
No fim do projeto, os Facilitadores da intervenção confir-
maram o quão importante e valioso é a inserção da psicologia
para estes espaços, permitindo aproximar e ajudar o próximo a
conviver neste âmbito esquecido por muitos, mas onde há gran-
des possibilidades de alcançar melhores condições psicológicas
e sociais. Pois, a vida não se finda na terceira idade, nem com
transtornos, doenças degenerativas ou demais questões confli-
tivas. Enquanto houver profissionais que auxilie na recuperação
ou manutenção da esperança, dos sentimentos, da socialização,
na mediação de conflitos e na prevenção e promoção de saúde
mental, haverá sempre vida.

REFERÊNCIAS

BATISTA, Lurdinha. Expressão e arte. Apsicologiaonline, 2013.


Disponível em: <http://apsicologiaonline.com.br/2013/04/ex-
pressao-e-arte/>. Acesso em: 03 set 2017.

29
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Psicologia social comunitá-


ria: da solidariedade à autonomia. Editora Vozes Limitada, 2017.

MAGESKY, Ana Maria; MODESTO, Jhonatan Leite; TORRES, Léa


Corrêa Afonso. Intervenção psicossocial com um grupo de idosos
institucionalizados. Saúde e Pesquisa, v. 2, n. 2, p. 217-224, 2009.

PUCCI, Joely. Hormônios do bem-estar e prazer. Allegrum Vivi,


2016. Disponível em: <http://radioboanova.com.br/hormonios-
-bem-estar-e-prazer-2/>. Acesso em: 29 out 2017.

SILVA, Rosalina Carvalho da. Metodologias participativas para


trabalhos de promoção de saúde e cidadania. In: Metodologias
participativas para trabalhos de promoção de saúde e cidadania.
Vetor, 2002.

30
Capítulo 2
PSICOLOGIA SOCIAL: RACISMO,
PRECONCEITO E REPRESENTATIVIDADE

Rosana Rodrigues Chaves


GRAZIELA Cristina de Miranda Vieira
Jackeliny Dias da Silva

O ano de 2018 completa 130 anos da assinatura da Lei áu-


rea, realizada por princesa Isabel e que promulgou a abolição
da escravatura no Brasil. Contudo é importante refletir que esta
ação ocorreu por diversos e complexos fatores, de pressão exter-
na e interna e não apenas por um ato benevolente.
Se por um lado a assinatura da Lei “Aurea” iniciou um mo-
vimento em direção a “liberdade” dos seres humanos que esta-
vam em situação de escravidão, por outro não organizou e não

31
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

ofereceu condições a essa população de ser inserida socialmen-


te de forma igualitária, já que não proveu nenhum suporte para
que o negro, antes escravo, se tornasse um cidadão com direitos,
espaços e deveres iguais. (MONTEIRO, 2012).
Neste sentido, é importante se refletir como o espaço de
visibilidade negra vem sendo constituída e construída na socie-
dade brasileira, principalmente no que tange ao imaginário cole-
tivo a construção de representações sociais.
O presente trabalho tem como objetivo ressaltar sobre a
importância da representatividade negra na construção social,
dando enfoque na sua trajetória e atualidade, enfatizando a im-
portância do profissional da psicologia nas discussões sobre re-
lações raciais.

1. METODOLOGIA

Levando em consideração a perspectiva anteriormente


apontada, o presente trabalho se propôs a realizar um ensaio te-
órico, que visa refletir sobre a importância da representatividade
negra para o combate do preconceito e construção de represen-
tações sociais que auxiliem na diminuição do racismo implícito
ou explícito.
Para Meneghetti (2011), um ensaio teórico caracteriza-se
por ser: “meio de análise e elucubrações em relação ao objeto,
independentemente de sua natureza ou característica. A forma
ensaística é a forma como são incubados novos conhecimentos,

32
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

até mesmo científicos ou pré-científicos. Não é instrumento da


identidade entre sujeito e objeto, mas é meio para apreender a
realidade, por renúncia ao princípio da identidade”.
Assim, serão utilizadas para construção das considerações
reflexivas do presente, literaturas nacionais e internacionais dis-
ponibilizadas por meio de livros, sites e artigos científicos que
envolvam a temática a ser discorrida, assim como teorias reco-
nhecidas da psicologia social, principalmente no que tange as
propostas de cognição e representação social.

2. DISCUSSÃO

2.1 Escravidão

A escravidão não é simplesmente um fato do passado.


A herança escravista continua mediando nossas relações sociais
quando estabelece distinções hierárquicas entre trabalho manu-
al e intelectual, quando determina habilidades especificas pa-
ra o negro (samba, alguns esportes, mulatas) e mesmo quando
alimenta o preconceito e a discriminação racial. Assinar a me-
mória escondendo o problema é uma forma de não resolvê-lo
(PINSKY, 2000).
Segundo Reis & Gomes (2005) o Brasil foi a última nação
das Américas a abolir a escravização, foi o maior país escravistas
dos tempos modernos, constituindo-se a cerca de seis milhões
de negros traficados da África para escravidão.

33
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Tanto no Brasil quanto em outros países colonizados, os


Africanos eram distanciados dos seus familiares, religião, cultu-
ra, linguagem, laços pessoais afetivos passando a ser tratados
como propriedades, como uma ferramenta a ser comprada para
utilização na mão de obra do trabalho pesado, além de violência
físicas sofriam também por violência psicológicas e assim eram
coagidos e dado como inferiores.
O pesar das chibatadas e do desrespeito, fizeram negros e
negras criar várias formas de resistência a escravidão e a busca
da liberdade. A luta pela liberdade faz parte da população negra
até os dias de hoje e com ela o temor de que o povo negro possa
dominar o terreno brasileiro.
Dentro do contexto da psicologia entendemos que escra-
vidão é um uma relação de poder e dominação sobre outro que
transforma aquele chamado diferente como seu, posse, escra-
vizado, falar de escravidão é entender que trata de um proces-
so não natural, não se nasce escravo torna-se por meio de uma
opressão social (CFP, 2017).

2.2 Racismo

A preservação da desigualdade política negra, existe a lon-


ga data no Brasil, no entanto só houve elaboração de teorias
acerca do racismo a partir do século XIX época em que escritores
pertencentes ao positivismo e evolucionismo social e darwinis-
mo social deram incentivos para construção das teorias acerca
do racismo (CFP, 017).

34
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Duas linhas de pensamentos europeus de cunho racistas


sobressaíram no Brasil e no mundo. A monogenista cria que ha-
via grupos humanos que evoluíram mais do que outros; para os
poligenistas, a espécie humana se dividiria em subespécies bio-
logicamente diferentes, em raças com origens distintas, sendo
que haveria aquelas exclusivamente superiores e outras invaria-
velmente inferiores (SCHWARCZ, 1993; 1996).
No livro sobre relações raciais e práticas técnicas para pro-
fissional de psicologia (2017), s autores enfatizam que o racismo
é uma ideologia essencialista que propõe a divisão da humanida-
de em grandes grupos, características(físicas,morais, intelectuais
e estéticas psicológicas)que se situa numa escala de valores de-
siguais.
Com base nesse pensamento podemos dizer que racismo
é uma crença de que existe uma hierarquia entre as raças e a
tendência de que as características intelectuais e morais de um
determinado grupo são consequências diretas de suas caracte-
rísticas físicas e biológicas.

2.3 O Branqueamento

Carone (2002) ressalta que apesar do branqueamento


ser entendido no início como o resultado da intensa mestiça-
gem ocorrido entre negro e branco desde o período colonial, o
branqueamento não poderia deixar de ser entendida como uma
pressão exercida pela soberania branca, após a abolição da es-
cravatura para que o negro negasse a si mesmo no seu corpo e

35
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

na sua mente como espécie de condição para ser aceito na nova


ordem social.
Com base nesse raciocínio entende-se que o branquea-
mento foi uma tentativa de diminuir os números de negros no
país e de torná-lo mais brancos classificando em pardos do mais
claro ao mais escuros entendidos como (moreno claro moreno
escuro).
O mestiço, portanto, representava a transformação: a pas-
sagem da negrura para brancura, mas também o degenerado
com a ideia de que a passagem da negritude para o branque-
amento é por sua vez um privilégio e a crença de que a infe-
rioridade biológica do povo negro seria suprida em função da
miscigenação.
Bento (2002) enfatiza que o branqueamento no Brasil é
considerado um problema do negro que insatisfeito e descon-
fortável com sua condição de negro, procura identificar-se como
branco, miscigenar-se com ele para diluir suas características ra-
ciais, no entanto quando estuda sobre branqueamento consta-
ta-se que foi um processo inventado e mantido pela elite branca
brasileira, onde a mesma aponta ser um problema do negro bra-
sileiro.
A ideia de que o negro não se sente confortável com sua
cor, nos traz de volta a escravidão um assunto que o país não
quer discutir, pois os brancos saíram da escravidão com uma he-
rança simbólica como: garantia de trabalho, privilégios sociais,
entre ouros benefícios simbólicos que de alguma forma faz esse
grupo orgulhar-se da sua raça, do outro lado deparamos com a

36
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

realidade do negro que saiu totalmente desprovido de qualquer


privilegio e direitos básicos, sem alguma referência positiva do
seu grupo e com dever de reajustar-se para encaixar no novo
modelo social.
Portanto é essencial que falamos de representação racial,
pois qualquer grupo precisa de referência positiva sobre se pró-
prio para manter sua autoestima e seu autoconceito, valorizando
suas características e dessa forma fortalecendo o grupo.

2.4 Psicologia Social, Racismo e Preconceito

É notável que os espaços de construção da imagem social


impactam grandemente nas reflexões, opiniões e atitudes das
pessoas no dia-dia, e neste sentido a construção histórica faz
parte do ideal coletivo do que é social aceito ou não por uma
sociedade. Ao longo do tempo, conforme vamos absorvendo es-
se “ideário” social, nossas percepções e julgamentos vão sendo
afetados pelo que absorvemos desde o nosso nascimento e por
meio da nossa convivência social, a partir de então começamos a
realizar juízos sobre o que consideramos certo e errado, mesmo
que esses julgamentos tenham um gigantesco impacto da cultu-
ra que vivemos, muitas vezes não conseguimos perceber, infe-
lizmente torna-se uma representação coletiva, experimentada e
compartilhada por vários de nós.
Para demonstrar o impacto desse imaginário inconsciente-
mente vivenciado pela sociedade em 1947 os psicólogos Allport
e Postman realizaram um estudo para analisar os esquemas so-

37
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

ciais em ação. De acordo com esses autores dispomos de uma


grande variedade de esquemas capazes de influir na maneira pe-
la qual processamos as informações que recebemos do ambien-
te social.
Quando estamos em uma situação de julgamento estes es-
quemas são ativados, isto é, são postos em prática a partir de
processos conhecidos como efeito priming (pensamentos recen-
tes influem no processamento da informação que lhes segue e
isto influem na maneira pela qual percebemos certos aconteci-
mentos).
Nos estudos realizados pelos autores, os mesmos filmaram
duas cenas de metrô, uma com um homem negro conversando
com um homem branco no qual o primeiro não tinha nada nas
mãos. E uma segunda cena na qual um homem branco estava se-
gurando uma faca.
Para realização do estudo, várias pessoas foram convida-
das a assistir a cena diversas vezes, quando os participantes fo-
ram solicitados a transmitir a outro o que viram nas filmagens,
embora o homem negro não tivesse nada em suas mãos e a pes-
soa branca estivesse com uma faca, na transmissão da cena a ou-
tra pessoa, pelos participantes, a faca trocou de mãos e passou
para o homemnegro (ARONSON, 2015).
Figura 1. Retrato do estudo realizado por Allport e Postman
(1947) retratando um homem negro em discussão com um ho-
mem branco, no qual o homem negro está apontando o dedo in-
dicador para a seguir.

38
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Figura 1. Experimento de Allport e Postman (1947)

Fonte: Aronson (2015)

Figura 2. Retrato do estudo realizado por Allport e Post-


man (1947) retratando um homem branco em discussão com
outro homem branco, no qual o primeiro está segurando uma
faca.

39
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Figura 2. Experimento de Allport e Postman (1947)

Fonte: Aronson (2015)

Infelizmente a influência de esquemas raciais tem sido re-


petidamente confirmada, são postulados a todo momento na
sociedade, representado em filmes, sérias, literatura etc., de-
monstrando a constante perpetuação de um imaginário coletivo
rígido e preconceituoso em relação a questões raciais.
Estudos realizados na década de 1950 e repetidos por vá-
rios pesquisadores, denominado “boneca branca e boneca ne-
gra” crianças foram convidadas a responder perguntas como

40
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

“qual dessas bonecas é mais bonita” “qual dessas bonecas é má”


“qual dessas bonecas é mais simpática” “qual dessas bonecas vo-
cê se parece”. Os resultados da pesquisa apontaram que 71% das
crianças, apontaram para perguntas associadas a bons sentimen-
tos, a boneca de cor branca, e para perguntas associadas a senti-
mentos negativos a boneca negra (FRANÇA E MONTEIRO, 2002).
Para compreender como estas imagens se repetem e são
impregnadas na cultura, é importante refletir sobre os estudos
de Moscovici (2011), em relação as representações sociais. Para o
pesquisador, existem um conjunto de explicações, pensamentos
e ideias que nos possibilita evocar um dado, um acontecimento,
uma pessoa ou mesmo um objeto. Estes configuram sistemas de
valores e práticas que têm vida própria. São prescritivas, pois sur-
gem no meio social, depois se esvaem, reaparecendo sob a for-
ma de novas representações, em um processo que não tem fim.
Essas representações resultam da própria interação social, sen-
do comuns a um grupo social, em determinado tempo e espaço,
ou seja, em determinado contexto (ALVARO E GARRIDO, 2003).
Representação surge associado a uma imagem mental, e
permite ao ser humano a capacidade de relembrar ou evocar um
dado acontecimento, objeto ou pessoa, na sua ausência. As re-
presentações sociais são indispensáveis nas relações sociais e fa-
zem parte de um processo de interação social, permitindo aos
membros de um grupo comunicarem e compreenderem-se.
Quando as representações são aceitas e partilhadas por
uma dada sociedade ou grupo de indivíduos estamos perante
as designadas Representações Sociais. As representações sociais

41
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

são características de uma determinada época e contexto histó-


rico, por isso, a sua alteração ocorre lentamente.
As representações sociais, fazem parte do pensamento so-
cial, são imprescindíveis nas relações humanas, uma vez que, dão
uma explicação, um sentido à realidade. Se manifestam como ele-
mentos cognitivo, determinando conceitos, comportamentos, ima-
gens, definindo identidades pessoais e coletivas (MENIN, 2006).
Assim, quando a imagem recebida pela pessoa não corres-
ponde ao que é postulado socialmente, gera-se um julgamento
baseado no que o indivíduo conhece de mundo e que forma suas
crenças, podendo gerar atitudes preconceituosas.
O preconceito neste sentido, pode ser concebido como uma
atitude hostil ou negativa direcionada a pessoas de determina-
do grupo, baseada apenas no pertencimento a esse grupo, envol-
vendo elementos cognitivos (esquemas/representações), afetivo
(emoções ligadas a crença) e comportamental (discriminação).
Apesar de pequenos avanços no que tange a política ra-
cial e com a ilegalidade da maior parte das discriminações ma-
nifestas, muitas pessoas se tornaram mais cuidadosas, agindo
exteriormente “sem” preconceitos embora internamente man-
tenham sentimentos preconceituosos.
Esse fenômeno é conhecido como racismo moderno, ou
preconceito implico. E inclui mais do que apenas preconceitos
raciais. As pessoas escondem suas crenças para evitar serem ro-
tuladas de racistas, sexistas ou homofobias (ARONSON, 2015).
Mas quando a situação é segura perdem suas inibições de-
vido ao álcool ou estresse o preconceito implícito e revelado.

42
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Figura 3. Charge demonstrando preconceito implícito, construído socialmente

Fonte: Leite (2018).

43
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

É inegável que em nossa sociedade o branco assuma um


lugar de privilégios, historicamente construído e repetidamente
postulado na cultura, na literatura e nas representações sociais
construídas, tornando-se indispensável o debate e a investiga-
ção sobre a maior amplitude das representações sociais para es-
te grupo, visando a construção progressiva de novas percepções
e representações cada vez mais positivas relacionadas a homens
e mulheres negras.

3. REPRESENTATIVIDADE

De acordo com dicionário da língua brasileira, representa-


tividade é um adjetivo feminino que significa qualidade de al-
guém de um partido de um grupo ou de um sindicado, cuja o
embasamento na população faz que ele possa exprimir-se verda-
deiramente em seu nome. Podemos dizer que falar de represen-
tatividade é falar de como um determinado grupo se vê diante
da sociedade e como a sociedade vê esse grupo, e como a cultu-
ra e o meio social contribui para visibilidade desse grupo.
Tratar de representatividade negra exige contextualizar so-
bre processos sócio- históricos e culturais que construíram a so-
ciedade brasileira e suas desigualdades raciais, neste trabalho
faremos uma breve contextualização em três aspectos: escravi-
dão, racismo e branqueamento.
Os negros integram a parcela que possui a mais baixa re-
presentatividade da população brasileira, nos meios de comuni-

44
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

cação, nas universidades e no mercado de trabalho. Os papeis


exercido pelos negros nos canais de comunicação em persona-
gens de filmes, novelas na maioria das vezes vem estereotipado,
sempre fazem o papel do escravo, empregada doméstica, mora-
dor de rua, chefe do tráfico, presidiário. O mesmo acontece com
os meios de comunicação impresso os livros trazem imagens de
negros sendo chicoteados, as capas de revista e telejornais des-
taca os marginais, nas universidades não é diferente, raramente
nota um professor negro, coordenador entre outros cargos que
na sua maioria é ocupado por pessoas brancas (GOLZIO, 2009).
Em uma pesquisa feita por Derval Golzi (2009) sobre a re-
presentatividade negra na revista veja os personagens negros
obtiveram 45 capas sendo nove sem protagonista, enquanto os
personagens brancos foram protagonistas em 1337 capas.
Tais resultados nus fazem refletir sobre (o que é ser ne-
gro no Brasil?) uma pergunta bastante complicada e difícil de
ser respondida se levarmos em consideração os dados do (IB-
GE) que diz que apenas 6,2% da população brasileira se consi-
dera negro, enquanto 53,8 se considera branca, 39,1% pardos,
0,5 amarelo e 0,4 indígena. Com esses dados podemos pensar
sobre o que é autoconhecimento racial e como isso impacta na
representação.
A representatividade estereotipada é uma das questões
que mais pesa no autoconhecimento dos afros descendestes,
diante de tanto estereotipo de o que é ser negro os seus papeis
definidos na sociedade é compreensível que a identificação com
os brancos esteja refletida ao se declarar.

45
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

“Narciso acha feio o que não é espelho”


(Caetano Veloso)

A falta de referência positiva do negro auxilia para que é


grande parcela da população não se veja e não se sinta repre-
sentada. Falar de representatividade negra é entender de um
processo que vem sendo estereotipado desde a “libertação” dos
escravos e que o branqueamento é um racismo que esconde a
identidade negra, fazendo com que o próprio indivíduo negue a
si mesmo.

4. A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA PSICOLOGIA NA


RELAÇÕES RACIAIS

O trabalho do psicólogo nas relações raciais é bem amplo,


que envolve desde entender que existe um sofrimento psíqui-
co quando um indivíduo sofre racismo em qualquer contexto
que seja, independente da sua intensidade, o empoderamento
desses indivíduo para que reconheçam sua existência, seu valor,
estratégia em ambientes como escola, instituições que abram
espaço para o diálogo. Vale ressaltar que é primordial atualiza-
ção do profissional sobre o assunto.
Uma pesquisa feita recentemente pelo conselho federal de
psicologia (2017) aponta que são pequenos os números de pes-
quisa relacionado ao trabalho do psicólogo nas relações raciais e
que poucas pesquisas sobre o tema dão enfoque no sofrimento

46
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

psíquico como efeito do racismo. Os autores levantaram algumas


hipótese que justifique a falta de estudo que abrange essa ques-
tão, uma delas é que grande parte dos profissionais e pesquisa-
dores são brancos e socializados e seguem com uma crença de
que quem tem raça é o outro e que aplicar-se estudo sobre ban-
quete é expor privilégios que os brancos que os obtém em uma
estrutura racista.
O CFP (2017) aponta que um dos trabalhos a ser feito pela
psicologia é de demonstrar a suposta neutralidade que faz com
que grande parcela da sociedade tenha estes privilégios e não
perceba.
A psicologia poderá contribuir para melhorar a compreen-
são, enfrentamento e superação de sentimentos envolvidos em
relações raciais racistas, além de colocar sua teoria e técnica a
serviço da compreensão sobre a construção subjetiva da negri-
tude Silva (2001).
A luta pela desigualdade racial é uma questão de políti-
ca pública (educação, saúde, emprego), o acesso à educação é
geralmente apresentado pelos estudiosos como um dos princi-
pais fatores associados ao alcance de melhores oportunidades
no mercado de trabalho e, consequentemente, um melhor ren-
dimento.
Para um grande contingente da população, o aumento da
escolaridade é visto como o principal caminho de mobilidade so-
cial ascendente dos indivíduos. Diante deste quadro, ganha ain-
da mais importância a análise das oportunidades educacionais
de brancos e negros no Brasil, e, principalmente, sobre a relação

47
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

entre este desempenho e a alocação dos dois grupos no merca-


do de trabalho (HERINGER, 2002).
Com tudo entendemos que as políticas públicas têm
grande importância no combate a violência racial: precon-
ceito, racismo, desigualdade, no entanto o estado em geral
tem desenvolvido poucas políticas para o combate desta de-
sigualdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escravidão e o racismo são questões relevantes a serem


discutidas no século XXI, tendo em vista que a “libertação” dos
escravos se deu de uma forma violenta e desigual, prevalecendo
até os dias atuais.
Os estereótipos com relação os papeis sociais do negro na
sociedade, o branqueamento, e os privilégios dos brancos, con-
tribuem para uma baixa expectativa de sucesso e o auto reco-
nhecimento do negro no Brasil.
O Preconceito por sua vez tem sido mantido pela repre-
sentação e a pouca visibilidade que tem o negro no Brasil, todos
esses fatores históricos e culturais contribuem para uma desi-
gualdade racial. Em virtude dos fatos mencionados entende-se
a necessidade de falar sobre representatividade negra no con-
texto da psicologia, uma vez que todos esses fatores geram um
sofrimento psíquico no individuo interferindo em suas relações
sociais.

48
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

A psicologia vem trabalhando para atualização e pre-


paração de profissionais para essa demanda, no entanto en-
contra uma pequena produção sobre o tema relacionado a
psicologia.
Entende-se que para um bom funcionamento ativação de
multiprofissionais é necessário que o Estado invista em políticas
públicas a fim de combater a desigualdade racial.

REFERÊNCIAS

ÁLVARO, José Luis; GARRIDO, Alicia. Psicologia social: perspecti-


vas psicológicas e sociológicas. Artmed Editora, 2003.

CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia social do


racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil.
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Relações raciais. Referen-


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bro de 2018. Disponível em: <www.cfp.org.br>, 2017.

FRANÇA, Dalila Xavier de; MONTEIRO, Maria Benedicta. Identi-


dade racial e preferência em crianças brasileiras de cinco a dez
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49
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

GOLZIO, Derval. Exclusão informativa: representação e represen-


tatividade dos negros e afrodescendentes nas capas da revista
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MENEGHETTI, Francis Kanashiro. O que é um ensaio-teóri-


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2011.

MENIN, Maria Suzana de Stefano. Representação social e estere-


ótipo: a zona muda das representações sociais. Psicologia: teoria
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MONTEIRO, Patrícia Fontes Cavalieri. Discussão acerca da eficá-


cia da Lei Áurea. Meritum, revista de Direito da Universidade FU-
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PINSKY, Jaime. Escravidão no Brasil. Editora Contexto, 1992.

50
Capítulo 3
OFICINAS EM DINÂMICA DE GRUPO
COMO ESPAÇO PARA PROMOÇÃO DE
AUTOCONHECIMENTO E RELACIONAMENTO
INTERPESSOAL COM ADOLESCENTES

Nayara Coelho Rosa


Paulo Henrique Félix Borges
Jackeliny Dias da Silva

A escola deve ser um espaço onde todas as singularidades


devem ser respeitadas e acolhidas, criando nos alunos um senti-
mento de coletividade e assim, de acolhimento a todos que par-
ticipam dela. Ela tem por responsabilidade criar cidadãos com
uma visão crítica de mundo, de ser um ambiente equânime, li-
vre de desigualdades e discriminação, como descrito na Lei nº
13.005 de 25 de junho de 2014, artigo 2º, III “superação das de-
sigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania

51
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

e na erradicação de todas as formas de discriminação” (BRASIL,


2014). E também aparece no Plano Nacional de Educação (PNE):

Elaborar um plano de educação no Brasil, hoje, implica as-


sumir compromissos com o esforço contínuo de elimina-
ção de desigualdades que são históricas no País. Portanto,
as metas são orientadas para enfrentar as barreiras para
o acesso e a permanência; as desigualdades educacionais
em cada território com foco nas especificidades de sua
população; a formação para o trabalho, identificando as
potencialidades das dinâmicas locais; e o exercício da ci-
dadania. A elaboração de um plano de educação não po-
de prescindir de incorporar os princípios do respeito aos
direitos humanos, à sustentabilidade socioambiental, à
valorização da diversidade e da inclusão e à valorização
dos profissionais que atuam na educação de milhares de
pessoas todos os dias. (BRASIL, 2014, p. 9)

Infelizmente o contexto que os alunos se deparam não é


assim, e a escola acaba sendo o primeiro local de contanto com
a discriminação, violências psicológicas e/ou físicas, exclusão e
entre outras coisas que afetam muito o desempenho tanto do
aluno quanto do professor. Essas violências que podem ser vela-
das ou não, são tão ligadas com os estereótipos que estão enrai-
zados na escola, que podem naturalizar tais situações. Segundo
Madureira:

Focalizar o preconceito e a discriminação – a partir de um


olhar atento em relação às questões de gênero, sexuali-
dade, classe e etnia – é uma das formas de explicitar a es-

52
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

trutura desigual e excludente de nossa sociedade e suas


instituições, bem como indicar a existência de outras pos-
sibilidades de lidar com a diversidade humana. (MADU-
REIRA, 2007, p. 43)

Por isso é importante estabelecer na escola um local de


diálogo, de trocas de conhecimentos, onde na relação ensino-
-aprendizagem se construam novos olhares de mundo, res-
significações da forma de entender e interagir com o outro,
compreendendo-o como um sujeito de deveres e direitos e que
deve ser tratado de forma digna e respeitosa. Tristemente a es-
cola ainda segue um modelo tradicional de ensino, onde o aluno
é tratado como um depósito de matérias e o professor um me-
ro depositário do que conhece, e “nesta distorcida visão de edu-
cação, não há criatividade, não há transformação, não há saber”
(FREIRE, 2016, p. 105).
Para que haja mudança no contexto escolar atual, é ne-
cessária uma profunda modificação na forma que o ensino-
-aprendizado é executado. O aluno deve ser participante ativo na
construção do seu conhecimento e criticidade, “a práxis, porém,
é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-
-lo” (FREIRE, 2016, p. 75). Sendo assim, fazer os alunos refletirem
sobre estigmas, singularidades, diversidades culturais, padrões
impostos e outras questões, pode ser uma ferramenta podero-
sa para intervir em situações de bullying e desenvolvimento de
uma cultura democrática no ambiente escolar, quebrando com
padrões rígidos. Segundo Madureira

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Quando tais fronteiras se tornam rígidas, não-permeáveis,


e passam a qualificar alguns grupos a partir de desqualificação,
constante e difusa, de outros grupos, percebemos o preconcei-
to em ação (discriminação). Quando estas fronteiras rígidas são
alvos de transgressão, percebemos a violência e a intolerân-
cia, subjacentes às práticas discriminatórias, em relação aos(às)
supostos(as) ‘transgressores(as)’. Para a manutenção de hierar-
quias e desigualdades sociais é fundamental que tais fronteiras
sejam ‘respeitadas’, não importando o ‘preço pago’ em termos
de sofrimento psíquico... Afinal, sentir-se inferiorizado(a) ou
desqualificado(a) por ‘defeitos pré-supostos’ não são, certamen-
te, experiências agradáveis (MADUREIRA, 2007, p. 46).
O bulliyng é uma violência que possui diversas classes,
maltratando sujeitos vistos como mais fracos ou indefesos e que
acarretam sofrimento físico, psíquico, percas materiais, desis-
tências da escola e em casos extremos, suicídios ou assassina-
tos. As violências se manifestam, segundo Alkimin e Nascimento
(2010) de várias formas: bullying físico: formas físicas de agres-
são, roubos, bloqueios físicos à liberdade; bullying verbal: xin-
gamentos, insultos, fofocas; bullying social: rejeições, exclusões,
isolamentos; bullying gestual: careta ou aceno que transmite o
maltrato; bullying mafioso: ameaças, extorsões, chantagens; e
por fim o cyberbullying: utiliza páginas ou aplicativos da web pa-
ra caluniar ou maltratar com imagens, mensagens, gravações e
entre outros.
A relação entre professor e aluno não colaboram para que
um espaço de diálogo seja estabelecido, desta forma, as situa-

54
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

ções de bullying instauram um clima de medo e impotência, tan-


to dos funcionários da escola, quanto das vítimas. Vale ressaltar
que o bullying acontece não só entre alunos, mas pode aconte-
cer do professor para o educando e vice versa.
Há uma cultura “adultocrata” na escola atual, caracteriza-
da pela ausência do diálogo entre professores e alunos, com a
predominância de atitudes conservadoras, incompatíveis com a
mentalidade do jovem atual. A ideia da hierarquização das re-
lações escolares propõe a imposição de regras rígidas, que ao
serem questionadas figuram muitas vezes como fatos geradores
de violência por parte dos alunos a elas subordinadas (ALKIMIN;
NASCIMENTO, 2010, p. 2811 aput ABRAMOVAY, 2009, s.p.).
Diante disso, o trabalho com a tolerância, o contato com
a diversidade e o estímulo ao respeito às mesmas, pode ser um
forte aliado para intervir em situações de bullying, que confi-
gura em sua essência uma atitude discriminatória, ou seja, cor-
responde ao preconceito colocado em ação. “É justamente
neste sentido que podemos afirmar que as práticas discrimina-
tórias são sustentadas por ideias preconcebidas.” (MADUREIRA,
2007, p. 45).
Desconstruindo ideias prontas e fomentando espaços on-
de o conhecimento crítico seja construído, é possível transfor-
mar o contexto escolar e diminuir situações de bullying. Não há
receitas prontas e possui-se um longo caminho para percorrer,
porém não impossível de alcançar.
Diante tantas situações de violência nas escolas, surgiu-se
a necessidade de desenvolver oficinas que abordassem temas

55
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

como tolerância, respeito, diversidades e singularidades. O con-


ceito de bullying é muito falado não só no âmbito escolar, mas
também através de meios midiáticos. Sabe-se muito sobre, mas
há sentimento de impotência por parte dos docentes ou respon-
sáveis quando se trata de intervir em situações de maltratos.
Os alunos, tão habituados com o termo bullying, muitas
vezes não possuem espaços para argumentar e refletir sobre es-
sas práticas, de perceber subjetividades, de desenvolver autoco-
nhecimento e conhecimento do outro. Sendo assim, o intuito das
oficinas é promover esse local de trocas de saberes, objetivando
construir um ambiente democrático e harmonioso, “combaten-
do um imobilismo subjetivista que transformasse o ter consciên-
cia da opressão numa espécie de espera paciente de que um dia
a opressão desapareceria por si mesma” (FREIRE, 2016, p. 73).
Assim os alunos poderão entrar em contato com reflexões
talvez antes não possibilitadas, e através disso mudar atitudes e
transformar seu meio, “as teorias podem potencializar, enquan-
to instrumentos de pensamento, as possibilidades humanas de
compreensão e ação, de forma intencional, sobre o mundo”
(MADUREIRA, 2007, p. 14), não esperando que as coisas um dia
simplesmente mudem sozinhas, mas sim, por meio de interven-
ções que proporcionem trocas e construções de saberes, cau-
sando mudanças individuais e coletivas no seu meio e em outros
ambientes.
“A educação como prática de liberdade, ao contrário da-
quela que é prática de dominação, implica a negação do ho-
mem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim como

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

também a negação do mundo como uma realidade ausente dos


homens. A reflexão que propõe por ser autêntica, não é sobre
este homem abstração nem sobre este mundo sem homens,
mas sobre os homens em suas relações com o mundo.” (FREIRE,
2016, p. 123).

1. METODOLOGIA

As oficinas foram realizadas em uma Escola Municipal, com


o objetivo de trabalhar com quarenta e dois alunos do sexto ano
do ensino fundamental, que possuem idades entre doze e treze
anos, temáticas como diversidade, respeito às singularidades e
as práticas do bullying que acontecem no contexto escolar.
Foram realizados ao todo cinco encontros com os partici-
pantes, sendo o primeiro para conhecê-los, e os demais para a
realização das oficinas. Em todas elas foram realizadas uma dinâ-
mica de aquecimento e uma dinâmica principal.
O primeiro encontro teve o intuito de trabalhar a empatia
com os participantes. Para tal foi feita a dinâmica “O feitiço virou
contra o feiticeiro”: em círculo, cada um escreveu em um pedaço
de papel o próprio nome e posteriormente uma prenda para o
vizinho do lado esquerdo executar. No fim, a regra mudou e cada
um faz a própria prenda que sugeriu. Para essa dinâmica utilizou-
-se um pedaço de papel e lápis.
O segundo encontro teve o objetivo de trabalhar a impor-
tância de cada um para o grupo e colaboração de todos para o

57
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

coletivo. Diante disso fizemos a dinâmica do barco. Foi solicitado


para que os participantes se dividissem em dois grupos. Foi en-
tregue para eles um papel sulfite e canetinhas e depois pedido
para que desenhassem um barco, mas todos os integrantes do
grupo deveriam participar do desenho. Posteriormente, foram
vendados os olhos de alguns, amarrados os braços de outros, e
pedimos para que novamente desenhassem o barco, todos de-
veriam mais uma vez participar do desenho, mas poderiam se
ajudar mutuamente. Os materiais usados foram papel sulfite, ca-
netinhas e lápis de colorir.
O terceiro encontro objetivou trabalhar com o respeito
às singularidades e diversidades, mostrando que é possível vi-
ver em harmonia em um mesmo espaço. Foi utilizada a dinâmi-
ca “Peixe no aquário”. Foi desenhado um aquário grande pelos
facilitadores, e então fixado na parede do refeitório. Um pedaço
de papel foi entregue ao participantes e pedido para que cada
um desenhasse o peixe que o representasse, e posteriormente
colasse no aquário. Para tal, foi utilizados lápis de colorir, caneti-
nhas, tesouras, papel e cola.
No último encontro de encerramento foi feita a dinâmica
da “batata quente”. Dentro de uma caixa foram colocadas várias
balinhas, e quando o facilitador queimasse o participante, ele
olhava o que tinha dentro da caixa. O objetivo era não ser quei-
mado. Também foi pedido para que os participantes fizessem
um cartaz com o que aprenderam durante as oficinas, poden-
do desenhar ou escrever. Foi levado cartolinas, lápis de colorir
e canetinhas.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

A instituição que aconteceu a intervenção se trata de uma


escola municipal que atende em torno de oitocentos alunos de
1º ao 8º anos. A demanda apresentada pela responsável foi tra-
balhar a autoestima e a confiança dos alunos, mas a demanda
apresentada pelo grupo alvo foi diferente, mudando a ideia ini-
cial, e preparando para trabalhar sobre bullying.
O primeiro encontro teve o intuito de trabalhar a empa-
tia com os participantes. Para tal foi feita a dinâmica “O feitiço
virou contra o feiticeiro”. Sentados em círculo, foi entregue um
pedaço de papel para cada um, e posteriormente, pedido para
que escrevessem os seus nomes. Em seguida, foi solicitado para
que eles escrevessem uma prenda para o vizinho da esquerda.
Mas a regra mudou e cada um fez o que tinham sugerido para
o colega. Depois da participação de todos, houve uma reflexão
de não desejar para o outro aquilo que não quer para si mesmo,
promovendo uma troca de experiências e inserção de uma no-
va palavra antes não conhecida por eles: empatia. Surgiram dos
alunos a necessidade de contar seus relatos pessoais e as vio-
lências sofridas no cotidiano, principalmente por parte dos pro-
fessores. Alguns trouxeram experiências de também praticarem
o bullying, principalmente com a intenção de se defenderem de
ataques de colegas.
O segundo encontro teve o objetivo de trabalhar a impor-
tância de cada um para o grupo e colaboração de todos para o
coletivo. Novamente sentados em roda, foi solicitado para que

59
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

os participantes se dividissem em dois grupos. Foi entregue para


eles um papel sulfite e canetinhas e depois pedido para que de-
senhassem um barco, mas todos os integrantes do grupo deve-
riam participar do desenho. Posteriormente, foram vendados os
olhos de alguns, amarrados os braços de outros, e pedimos pa-
ra que novamente desenhassem o barco, todos deveriam mais
uma vez participar do desenho, mas poderiam se ajudar mutua-
mente. A reflexão que se obteve foi que sem as limitações foi fá-
cil desenhar o barco, mas quando elas apareceram, dificultaram
muito a concluir a atividade, mas foi possível graças a ajuda de
todos da equipe. Um espaço para o diálogo foi fomentado, e os
participantes elucidaram sobre a importância de todos se ajuda-
rem quando surgirem as dificuldades, principalmente dentro de
sala de aula. Falou-se também da importância de tratar com o
devido respeito os portadores de necessidades especiais, reco-
nhecendo o esforço que os mesmos devem fazer para superar
seus limites.
O terceiro encontro objetivou trabalhar com o respeito às
singularidades e diversidades, mostrando que é possível viver
em harmonia em um mesmo espaço. Sentados mais uma vez em
roda, foi feita a dinâmica “Peixe no aquário”. Um aquário grande
de papel foi levado pelos facilitadores, e então fixado na parede
do refeitório. Um pedaço de papel foi entregue aos participan-
tes e pedido para que cada um desenhasse o peixe que o repre-
sentasse, e posteriormente colasse no aquário. Depois disso foi
perguntado por que cada um desenhou o peixe daquela forma, e
uma história em relação ao desenho foi contada por todos: por-

60
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

que gostava da cor ou daquele peixe, ou então até uma própria


narrativa sobre a história do peixe. Posteriormente, a reflexão
que se teve é que nenhum peixe do aquário era igual. Uma das
participantes disse que assim como os peixes, as pessoas tam-
bém eram únicas, e que era possível viver em harmonia com elas
da mesma forma que se encontravam os peixes no aquário.
O último encontro de encerramento teve o intuito de ve-
rificar os resultados obtidos através das intervenções e receber
um feedback dos participantes das oficinas. Foi feita a dinâmica
da “batata quente”. Dentro de uma caixa foram colocadas vá-
rias balinhas, e quando o facilitador queimasse o participante,
ele olhava o que tinha dentro da caixa. O objetivo era não ser
queimado. A intenção dessa dinâmica foi mostrar que mesmo
quando cremos que uma pessoa não seja legal, que não gosta-
mos dela mesmo sem motivos, é preciso dar uma oportunidade
de conhecer melhor tal pessoa, pois ela pode trazer coisas ma-
ravilhosas que nós nem imaginamos. Também foi pedido para
que os participantes fizessem um cartaz com o que aprenderam
durante as oficinas, podendo desenhar ou escrever. Através de-
les foi possível analisar se os resultados almejados tinham sido
alcançados. Enquanto eles os confeccionava, foi perguntando a
eles o que tinham achado das oficinas e se tinham notado dife-
renças dentro de sala aula. Foi relatado que os casos de bullying
diminuíram, que quando alguém pratica outro colega já inter-
vém falando que está errado. Uma das participantes trouxe so-
bre a aproximação que a intervenção permitiu fazer com alguns
colegas que ela acreditava que fossem chatos. Para encerrar, foi

61
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

feito um café da manhã para os participantes, cujo quais recla-


maram muito por ser o último encontro, pedindo para que a ofi-
cina acontecesse mais vezes, que tinham aprendido bastante, e
que o olhar em relação aos colegas tinham mudado. Crê-se que
os objetivos iniciais foram alcançados, gerando resultados me-
lhores do que esperados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como intuito abordar sobre a im-


portância de dialogar no espaço escolar, fomentando reflexões
sobre o respeito às diferenças e singularidades de cada sujei-
to. Acredita-se que esses espaços criativos possibilitam que os
alunos construam juntamente com seus pares, professores e fa-
miliares, uma opinião crítica, tolerante, que reconheça o outro
como um sujeito de direitos e deveres e que acima de tudo deve
ser respeitado.
Tais reflexões promovem atitudes positivas nos sujeitos,
sendo um grande aliado no combate aos episódios de bullying
que acontecem não só na escola, mas também em outros espa-
ços. A escola tem o papel, além de ensinar conteúdos, formar ci-
dadãos éticos, responsáveis de si e transformadores do meio em
que estão inseridos.
Diante disso, foi de suma relevância propiciar esses espa-
ços onde o diálogo pode acontecer de forma aberta, harmônica
e questionadora. O objetivo principal da intervenção foi promo-

62
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

ver mudanças em uma turma, e que esses participantes se tor-


nem multiplicadores em outros contextos do que foi aprendido
nas oficinas.
A construção dos saberes foi feita de forma conjunta e re-
cíproca, e aprendeu-se muito com os participantes. Sendo assim,
as oficinas foram extremamente positivas. Como alunos de Psi-
cologia e como sujeitos que fazem parte de um meio social, co-
nhecendo novas realidades e produzindo novos conhecimentos,
podendo exercer na prática o conteúdo que foi ministrado du-
rante as aulas de Psicologia Comunitária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Ter-


ra, 2016.

MADUREIRA, Ana F. A. Gênero, sexualidade e diversidade na es-


cola: a construção de uma cultura democrática, 2007. 428 f. Tese
(Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universida-
de de Brasília, Brasília, 2007.

NASCIMENTO, Grasiele A. F.; ALKIMIN, Maria A. Violência na es-


cola: o bullying na relação aluno-professor e a responsabilidade
jurídica. In: Encontro Nacional do CONPEDI, XIX, Fortaleza: 2010,
p. 2811-2819.

63
Capítulo 4
CUIDANDO DE QUEM CUIDA:
UMA OFICINA PSICOSSOCIAL COM
GRUPO DE VOLUNTÁRIOS

Adriana Vieira Gomes


Daniella Dantas Calixto
Susi Pereira da Luz
Jackeliny Dias da Silva

A psicologia social surgiu com a finalidade de desetilizar a


profissão, a qual se encontrava em um formato muito individua-
lista e clínico (CAMPOS, 2017).
Após o período da Ditadura Militar, onde havia uma re-
pressão muito grande e era impossível se reunir em grupos, os
psicólogos perceberam a necessidade de intervir nos problemas
sociais e se aproximar da comunidade, buscando uma forma de

64
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

empoderar o indivíduo, transformando-o em sujeito da própria


história (CAMPOS, 2017).
Uma das formas de atuação em psicologia social que
aproxima o profissional dos grupos comunitários é a interven-
ção psicossocial. Segundo Pagès (1976) uma intervenção tanto
é uma metodologia prática de mudança como uma metodo-
logia de pesquisa. Ou seja, o psicólogo unifica suas pesquisas
as práticas, utilizando se da pesquisa ação, método criado por
Kurt Lewin.
Essa modalidade de pesquisa permite que o pesquisador
esteja em contato direto com o seu objeto de estudo, modifican-
do-o e podendo ser modificado por ele. Sendo assim, o pesqui-
sador observa, planeja uma ação e trabalha, comprovando suas
hipóteses na prática.
O profissional também deve atuar como um analista facili-
tador, levando em consideração a capacidade do sujeito em so-
lucionar seus próprios problemas. “O indivíduo tem dentro de
si amplos recursos para autocomprensão, para alterar seu auto-
conceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido.” (RO-
GERS, 1989: 16).
Com base nessas teorias, a finalidade desse trabalho foi
realizar um projeto de intervenção com um grupo de voluntá-
rios, visando promover uma melhora nas relações interpessoais
promovendo mais união, respeito e companheirismo. O método
utilizado nas intervenções foram oficinas de dinâmica de grupo.
Oficina é um trabalho estruturado com grupos, indepen-
dente do numero de encontros, sendo focalizado em torno de

65
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

uma questão central que o grupo se propõe a elaborar um con-


texto social (AFONSO, 2010, p. 9).
Esse grupo de voluntariado atua na área da saúde, uma
vez que realiza visitas em hospitais, lidando com doenças. Afon-
so (2006, p. 63) aponta como aspecto importante a necessidade
de uma reformulação da aprendizagem. Nesses tipos de grupos,
ela deve ser não apenas ligada ao aspecto cognitivo, mas apren-
der deve abranger a elaboração de certas questões como os sen-
timentos e relações.
Sendo assim, essa intervenção psicossocial  visa propor-
cionar aos voluntários um maior conhecimento de si e do ou-
tro, para que possam melhorar suas relações e desenvolver uma
aprendizagem que os auxiliem a lidar melhor com seus senti-
mentos durante as visitas.

1. JUSTIFICATIVA

No grupo de voluntários é essencial compreender o quan-


to é necessário a elaboração dos sentimentos, uma vez que as
visitas aos hospitais são sempre imprevisíveis e podem conter
aspectos que afetam afetivamente os participantes.
Por ser um grupo muito diversificado, contendo integran-
tes de diferentes vivências, ideologias e crenças, é necessário o
respeito e apoio mútuo entre os integrantes.
A intervenção psicossocial é uma forma eficaz de reconhe-
cer o que está afetando diretamente o grupo e impedindo o seu

66
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

desenvolvimento pleno, pois promove discussões e reflexões so-


bre os relacionamentos interpessoais.
As oficinas também podem demonstrar que em todos os
grupos existem conflitos, o importante é mediar de forma cor-
reta a fim de garantir bons resultados. Assim como afirma (BLE-
GER, 1984, p. 50): “uma instituição não deve ser considerada
sadia ou normal quando nela não existem conflitos, e sim quan-
do a instituição pode estar em condição de explicitar seus con-
flitos e possuir os meios ou a possibilidade de arbitrar medidas
para sua resolução”.
Nesse sentido, essa proposta de intervenção procura esta-
belecer um espaço onde os integrantes do grupo de voluntários
possam repensar as relações, dentro do grupo, para que as mes-
mas não afetem negativamente seus projetos, além de possibili-
tar reflexões acerca da saúde mental dos participantes.

2. METODOLOGIA

A instituição onde foi realizada a intervenção psicossocial


foi um grupo de voluntariado no interior de Goiás. É um grupo
neutro e apolítico. Fundado inicialmente na cidade de Goiânia,
sendo que hoje possui extensões em cinco cidades.
Como se trata de um grupo com mais de 200 integrantes,
foi divulgado na página do facebook do grupo de voluntários um
texto escrito pelas Facilitadoras, a fim de convidar alguns partici-
pantes. Quinze voluntários manifestaram interesse, porém com-

67
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

pareceram aos encontros em média de sete participantes, de


gêneros e idades diferentes.
Para a realização desse trabalho foram realizados seis
encontros, sendo um com dois coordenadores e cinco com o
grupo, além de uma visita ao hospital acompanhando os vo-
luntários.
Os primeiros encontros tiveram o objetivo de conhecer
as demandas, primeiramente dos coordenadores e depois dos
membros do grupo. Após esse conhecimento, cada encontro foi
estruturado de acordo com cada problemática encontrada.
Para a realização das oficinas as Facilitadoras leram ar-
tigos e livros referentes a oficinas psicossociais, além de bus-
carem dinâmicas para cada demanda proposta. O segundo
encontro abordou comprometimento e relações interpessoais,
através da dinâmica “o mestre mandou” e a técnica das pergun-
tas no balão.
No terceiro encontro, foram discutidos os temas empatia e
união. As Facilitadoras utilizaram a dinâmica “o feitiço virou con-
tra o feiticeiro” e a técnica “próximo distante”.
Já o quarto encontro o tema foi lidar com os sentimentos,
onde as Facilitadoras iniciaram com uma dinâmica quebra gelo
para analisar as percepções do outro sobre si e também realiza-
ram a dinâmica dos sentimentos, para abordar o assunto.
O objetivo do quinto encontro foi realizar um teatro para
ilustrar o assunto proposto na reunião anterior e promover o fe-
edback dos participantes, através de uma confraternização.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1 Reunião com coordenadores

O primeiro contato com a instituição se deu por meio de


um encontro com dois coordenadores do grupo. O objetivo des-
sa reunião foi debater quais demandas seriam viáveis de serem
trabalhadas, quais as necessidades e maiores urgências do gru-
po. Também foi traçado uma estratégia para conseguir partici-
pantes, as Facilitadoras ficaram encarregadas de escrever um
texto convidando os integrantes a participarem das oficinas, e os
coordenadores o postariam em uma página no facebook.
As facilitadoras fizeram algumas perguntas para os coor-
denadores, como quais seriam os fatores que afetavam negati-
vamente o desempenho do mesmo, se haviam muitos conflitos
nas relações, como os membros reagiam as diferentes opiniões
e crenças, entre outros.
Uma das coordenadoras relatou que muitas pessoas pro-
curavam participar do voluntariado para resolver seus proble-
mas pessoais, com o intuito de ocupar o seu tempo, e ao iniciar
as visitas percebiam que não iam suprir suas expectativas.
Relataram também que dentro do grupo havia muitos ca-
sos de depressão que afetavam no trabalho voluntário, pois o
contato com o hospital pode ser muito marcante, pois é impre-
visível, e há casos que o indivíduo se identifica com o pacien-
te, seja por ter passado por algo parecido, ou ter um familiar na
mesma situação.

69
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Os coordenadores explicaram ainda que percebiam que


muitas pessoas procuram participar do grupo sem saber real-
mente do que se trata, encontram nele uma oportunidade de fa-
zer amigos e suprir afetividades.
Ao ouvir as demandas trazidas por eles, as Facilitadoras su-
geriram que o tema das oficinas fosse bem-estar, cuidar de si an-
tes de se doar ao próximo. Os coordenadores concordaram que
seria um ótimo tema para o grupo, pois realmente era necessá-
rio esse cuidado consigo mesmo.
Após definir a demanda inicial, as facilitadoras escreveram
o texto convidando, o qual foi postado na página do Facebook,
após manifestação dos interessados foi montado um grupo no
Whatsapp com os mesmos para definir datas e horários.

3.2 Primeiro Encontro

O primeiro encontro foi realizado com sete pessoas sete


pessoas do grupo de voluntários. Teve o objetivo de conhecer
os participantes e ouvir suas demandas. Para a apresentação foi
usada a dinâmica da teia, que consistia em cada um amarrar um
pedaço de barbante no dedo e se apresentar, dizendo o nome,
profissão e uma característica sua.
O objetivo da dinâmica escolhida, além da apresentação,
foi o de demonstrar que cada um é importante no grupo e mos-
trar que sua presença faz a diferença. Todos participaram da
primeira etapa, e alguns relataram o que sentiram ao realizar a
dinâmica.

70
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Um participante alegou que foi muito forte, pois visual-


mente quando alguém solta o barbante, a teia fica frágil e in-
completa, e quando todos soltam não existe mais nada, assim
como acontece em um grupo, se todos não estiverem dispostos
a colaborar.
Outra integrante relatou que se sentiu abalada com a di-
nâmica, pois no fim também foi discutido como é importante
estar bem consigo mesmo antes de fazer um trabalho volun-
tário.
Após as apresentações e discussões, foi entregue para ca-
da um uma folha de papel e uma caneta, para que eles pudes-
sem responder de forma anônima a seguinte questão: ”O que
vocês gostariam que fosse melhorado no grupo?”.
As respostas foram parecidas, a maioria abordou questões
como companheirismo, respeito com os colegas, diálogo, melho-
ria do relacionamento interpessoal, mais união e igualdade, evo-
lução, respeito às crenças religiosas do próximo, se colocar no
lugar do outro, entre outras.
Após essa atividade as Facilitadoras esclareceram que
iriam montar o projeto do trabalho baseado nessas deman-
das. Foi passado um vídeo chamado “Inspire-se versão par-
ceiros voluntariados” que demonstrava os benefícios de ser
voluntário.
Para finalizar, houve uma roda de conversa para falar um
pouco sobre o trabalho voluntariado e obter um feedback dos
participantes. Todos disseram que estavam animados para os
próximos encontros, e se comprometeram a participar.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

3.3 Segundo Encontro

O segundo encontro teve o objetivo de abordar demandas


como comprometimento e melhora das relações interpessoais.
Contou com a presença de seis participantes. Para começar fo-
ram retomados aspectos importantes do encontro anterior, pois
havia uma nova participante no grupo. Foi utilizada a dinâmica
“o mestre mandou” para dar inicio a reunião.
Essa dinâmica consistiu em fazer uma fila e imitar tudo
o que o primeiro integrante fazia. Após essa atividade as Fa-
cilitadoras organizaram uma roda de conversa e começaram
a discutir a importância de estar comprometido em todos os
setores da vida, até mesmo em uma brincadeira, onde eles ti-
veram que se comprometer a imitar o outro da melhor forma
possível.
Durante a discussão os integrantes do grupo se mostra-
ram participativos, falando sobre o comprometimento e citando
exemplos de vivencias dentro do Grupo. Os relatos foram surgin-
do de forma espontânea, o que deixou claro que a confiança e o
vínculo estão se estabelecendo.
Após discutir e ouvir a opinião de todos, as Facilitadoras
iniciaram a atividade do balão. Para estimular todos a falarem
e iniciar o assunto de relações interpessoais de forma mais di-
vertida, foi colocado perguntas dentro de balões que foram en-
tregues aos membros do grupo. Cada um deveria estourar sua
bexiga, responder a questão e escolher outra pessoa para fazer
o mesmo.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Algumas perguntas feitas foram: Por que saber se comu-


nicar adequadamente, ouvir e se expressar é importante no
seu grupo? Como a empatia pode melhorar as relações? Co-
nhecer melhor a si mesmo melhora o relacionamento com o
outro? Você concorda que para trabalhar em equipe é essen-
cial o respeito mútuo e a valorização das diferenças individu-
ais? Não existem grupos sem conflitos. Você concorda com
essa afirmação? Como desenvolver um bom relacionamento
interpessoal dentro do grupo? Como você lida com pessoas de
opiniões muito diferentes da sua? Como você resolveria um
conflito dentro do grupo? “Quanto mais lados diferentes de um
mesmo assunto, mais possibilidades de encontrar novos cami-
nhos.” Você concorda?
As Facilitadoras deixaram claro que não existia resposta
certa ou errada, cada um deveria responder de acordo com seu
ponto de vista. Foi uma atividade muito rica, pois a partir dessas
questões surgiram muitos exemplos de situações vividas pelos
participantes e novas discussões.
As respostas foram variadas. Alguns falaram da importân-
cia de saber ouvir o próximo e reconhecer que suas concepções
não são únicas, e em um grupo grande como esse é essencial re-
conhecer esse aspecto. Concordaram que ao resolver um confli-
to é preciso pensar no que vai falar, para que uma palavra não
seja mal interpretada.
Após as respostas de cada um as Facilitadoras de psicologia
discutiram junto com eles, instigando novas discussões para le-
var a reflexão de como um bom relacionamento interpessoal é a

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

chave do sucesso de um grupo. Frisaram a importância de saber


ouvir o outro, de reconhecer que cada um vem de um ambiente,
criação e vivências diferentes, portanto cada ser é único no gru-
po, com suas perspectivas e expectativas.
Falaram da importância de conhecer a si mesmo, para ter
suas próprias opiniões e saber respeitar a do outro, mantendo o
seu ponto de vista, mas não impondo sobre o próximo a sua ma-
neira de ver o mundo.
Ao abordar esse assunto, uma participante deu o seu de-
poimento, Relatou que quando contou para amigos próximos e
ex-participantes que iria participar do Grupo de voluntários, mui-
tos a desanimaram, deram sua opinião negativa sobre o grupo.
Mesmo assim ela resolveu ingressar e hoje diz que foi uma das
melhores escolhas que fez.
Histórias como essa tornou o encontro muito divertido e
envolvente, a conversa e os temas surgiram de forma leve e des-
contraída, diferente do primeiro encontro, onde os participan-
tes se mostraram tensos e mais retraídos. Os integrantes que
estavam na primeira reunião demonstraram interesse no traba-
lho e já confirmaram presença no próximo, o que motivou as Fa-
cilitadoras.
Para finalizar as Facilitadoras pediram que os participan-
tes definissem o encontro do dia em uma palavra, as palavras
usadas foram: aprendizado, experiência, respeito, lição e di-
versão.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

3.4 Terceiro encontro

O terceiro encontro contou com a presença de cinco parti-


cipantes, sendo um deles novato. Iniciou-se com a dinâmica “O
feitiço virou contra o feiticeiro”, onde os integrantes deveriam
escolher algo para o colega ao lado fazer, seja uma prenda, can-
tar uma música, entre outros.
As escolhas foram dançar imitando um gato, imitar uma
galinha, dar um abraço em todos, cantar uma música e fazer uma
paródia. Após as escolhas as Facilitadoras disseram que o que
eles desejaram ao próximo eles mesmos iriam executar.
Todos participaram, após as imitações iniciou se a discus-
são sobre se colocar no lugar do outro e não fazer com o próximo
o que você não deseja para si mesmo. Com base nessa discussão,
surgiu o tema bullying.
Um dos participantes deu um relato emocionante de
um caso que presenciou em sua infância e começou a chorar.
Foi um momento importante no grupo, pois ainda não ha-
viam surgido emoções desse tipo. Após se recompor, voltou
à discussão.
As Facilitadoras explicaram que apesar de ser muito co-
mum nas escolas, o bullying também ocorre em outros grupos
e um dos motivos para que ocorra é a falta de respeito às dife-
renças. Foi discutida a intolerância dentro do Grupo, como por
exemplo, a falta de respeito a outras religiões.
Após essas discussões foi iniciada a técnica “Próximo/Dis-
tante”. Cada participante recebeu um cartão onde deveria com-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

pletar as frases “Me sinto próximo de você porque...” e “Me sinto


distante de você porque...” e entregar a algum integrante.
As respostas sobre a proximidade foram: “porque me iden-
tifico com você e me sinto bem com sua presença”, “porque nos
conhecemos antes do grupo”, “porque o Grupo me proporcio-
nou conhecer um pouco você e o que me chamou mais atenção
foi o carisma”, “por empatia, uma sintonia que não se sabe de
onde veio”, e “pela sua alegria”.
Já as respostas justificando a distancia foram: “pela falta de
tempo e correria do dia a dia”, “não sei muito bem me aproximar
por causa da minha timidez”, “pelo pouco convívio”, “pela falta
de oportunidade e liberdade de aproximação” e “não sei o moti-
vo, mas podemos crescer na convivência, o que acha?”
Após ler as respostas, cada um comentou e fez as pergun-
tas necessárias. Essa atividade foi muito enriquecedora, pois
permitiu olhar para as relações e criar metas para a melhoria da
convivência.
As Facilitadoras disseram que muitas vezes, na correria
cotidiana, as relações próximas acabam ficando superficiais, os
laços de amizade mais fracos. E com a tecnologia as pessoas
tendem a ficar mais desunidas, unidas somente pela tela de um
celular.
Baseado nessa fala, os integrantes do grupo começaram a
dar exemplos de suas convivências, e de como poderiam melho-
ra-las. Uma participante disse que muitas vezes nas visitas aos
hospitais todos estão com a mesma intenção, que é levar a ale-
gria, mas às vezes um integrante do grupo pode estar necessi-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

tando de atenção tanto quanto o paciente, por isso é necessário


olhar com mais atenção para os colegas.
As Facilitadoras disseram que foi interessante essa coloca-
ção, pois o grupo é muito animado e está sempre centrado em
dar o seu melhor para os pacientes em hospitais, e às vezes os
participantes acabam não percebendo as necessidades do cole-
ga voluntário.
Também foi discutida a importância de elogiar alguém de
forma sincera, pois um elogio pode fazer diferença no dia do in-
divíduo, como por exemplo, dentro do Grupo, pois elogiar um
voluntário faz com que ele queira dar sempre o seu melhor.
O grupo estava muito interativo, todos os assuntos que
foram abordados os participantes deram exemplos de suas vi-
vências, e eles mesmos foram trazendo novos temas para serem
discutidos. Os integrantes mais tímidos também estavam mais
participativos, demonstrando que a confiança no grupo está
fluindo bem.
Um integrante do grupo desde o inicio se mostrou muito
interessado e empenhado em trazer novos participantes, e foi
por meio dele que o novo voluntário compareceu. Apesar de ser
introvertido, demonstrou ter gostado do encontro e confirmou
presença nos próximos.
O final do encontro foi muito interessante e gratificante,
pois uma voluntaria disse que no início sentiu medo de partici-
par do grupo, pois tinha preconceito com psicólogos. Ela pensava
que seria uma análise do seu comportamento, mas ao compare-
cer aos encontros percebeu que não era o que achava, e sim uma

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

troca de experiências e reflexão. Relatou que mudou de opinião


a respeito da profissão e hoje está amando participar.
A partir dessa fala, outros integrantes também disseram
que tinham preconceitos com a psicologia. As Facilitadoras apro-
veitaram para falar a importância de fazer terapia para se conhe-
cer melhor, também comentaram que os índices de suicídio e
depressão estão muito altos, justamente pela saúde mental ain-
da ser banalizada. Iniciou- se uma conversa sobre esse assunto.
A princípio os temas propostos eram união e se colocar no
lugar do outro, mas o encontro fluiu muito bem, os participantes
estavam interessados e mais comunicativos, sendo assim mui-
tas questões foram surgindo. Para finalizar as Facilitadoras pe-
diram para que todos definissem a reunião em uma palavra. As
palavras escolhidas foram: sensacional, extrovertido, desperta-
dor, reflexão e ansioso.

3.5 Quarto encontro

Lidar com os sentimentos foi o tema de discussão do quar-


to encontro. Compareceram seis participantes. Para iniciar foi
feita uma dinâmica quebra gelo, onde cada integrante do grupo
pegou um nome de outro participante, por meio de sorteio. De-
pois de pegar o nome, cada um recebeu uma folha onde dese-
nharam um objeto que lembrava a pessoa. Cada participante do
grupo tentou adivinhar quem era antes de ser revelado. Foi uma
brincadeira divertida e proporcionou conhecer um pouco da per-
cepção que os outros têm de si.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Após a realização dessa dinâmica, as Facilitadoras deram


inicio a próxima atividade para abordar o tema. Foram colo-
cados vários cartazes feitos com papel A4 no chão, todos eles
contendo recortes de rostos com expressões faciais marcantes.
Ao lado das figuras estavam escritos alguns sentimentos e sen-
sações, tais como: timidez, introversão, raiva, esperança, felici-
dade, realização, ansiedade, medo, surpresa, exausto, tristeza,
preocupação.
As Facilitadoras explicaram que cada participante deveria
pensar em quais sentimentos mais estavam aflorando em suas
vidas no momento, seja no trabalho, no Grupo, na família, en-
tre outros. Depois de pensarem, cada um deveria pegar um ou
mais cartazes e explicar porque aquela sensação estava presente
e qual a melhor forma de lidar com ela.
Os depoimentos foram variados e muito emocionantes.
Um participante que escolheu timidez/introspecção relatou que
escolheu esses sentimentos porque hoje é uma pessoa muito
tímida, já que no passado era muito aberto e confiava bastan-
te nas pessoas, porém se decepcionou muito e em decorrência
dessas decepções, hoje se fechou.
Outro escolheu o cartaz do medo e da felicidade, pois tra-
balhava há muito tempo em um emprego onde não era feliz, mas
tinha estabilidade. Anos depois, com a ajuda da namorada, mes-
mo sentindo muito medo resolveu mudar de emprego, e hoje se
sente feliz.
Uma voluntaria pegou o desenho da ansiedade e raiva.
Emocionou-se muito na hora do seu desabafo, pois disse que é

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

uma pessoa muito explosiva, não consegue se controlar antes


de falar algo e por isso acabou magoando uma pessoa querida.
Também relatou ter dificuldade para pedir desculpa e que está
muito ansiosa com o período final da sua faculdade. Chorou e foi
amparada pelo seu colega ao lado.
Sua amiga voluntária pegou sentimentos parecidos, pois
está vivenciando a mesma situação: o fim da faculdade. Explicou
que escolheu o cartaz do feliz/realizada porque não acreditava
que conseguiria passar para o curso que queria, mas ao verificar
a lista do vestibular seu nome estava lá, o que foi uma grande
realização. Mas escolheu também a ansiedade, por estar muito
nervosa com o final da graduação, disse que todo o curso foi leve
e descontraído, mas por conta da pressão final não está conse-
guindo controlar seu nervosismo e brigando muito com os cole-
gas. Também se emocionou durante a fala.
A participante que escolheu os cartazes da preocupação e
esperança explicou que está passando por problemas de família
muito difíceis, e que se sente muito triste, pois está sempre que-
rendo ajudar, solucionar problemas que muitas vezes fogem do
seu controle. Por esse motivo vive preocupada e frustrada, mas
mesmo assim não perde a esperança. Ao falar, também se emo-
cionou e não conteve as lágrimas. Disse que encontrou apoio e
amizade no Grupo.
O último participante escolheu o sentimento de exaustão.
Relatou que apesar de trabalhar para si mesmo, às vezes se sente
exausto por nunca achar que o seu serviço está bom. Cobra mui-
to de si e está sempre em busca da perfeição, o que faz com que

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

ele se sinta cansado. Foi dizendo fatos do seu passado e acabou


dando um depoimento muito imprevisível.
Confessou que já passou situações muito difíceis e pensou
em suicídio, mas ao procurar um atendimento psicológico gratui-
to e participar de terapias em grupo, percebeu que têm pesso-
as passando por problemas muito maiores, então se sentiu mais
forte para continuar. Hoje, faz terapia individual e relata que os
momentos em que pensou em tirar a própria vida parecem não
fazer parte de sua história.
Todos os depoimentos tiveram uma carga emocional mui-
to forte. No fim de cada um, as Facilitadoras interviram com falas
que acharam necessárias na hora. Elogiaram, deram dicas e fize-
ram perguntas para que as pessoas pudessem refletir melhor e
ter outras visões sobre o que foi dito. Quando sentiram vontade,
os demais participantes também opinaram.
Ao final da atividade, as estagiarias explicaram que opta-
ram por aquela dinâmica para demonstrar que os sentimentos
negativos são intrínsecos ao ser humano e precisam ser vividos
para serem extravasados. Disseram que muitas vezes se vive em
uma eterna competição de quem é mais feliz, e se esquece de
que todos têm sentimentos negativos e positivos. Como hoje to-
dos vivem sempre em contato com as redes sociais, cria se uma
ilusão de que a vida do outro é perfeita, o que não é verdade, to-
dos tem seus problemas.
Todos participaram dessa discussão, e disseram que essa
técnica é uma boa maneira de conhecer novas visões de seus
problemas e outras formas de lidar. Também chegaram à conclu-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

são que é preciso ter empatia com os colegas dentro do grupo e


ter uma postura acolhedora com o próximo.
Esse encontro foi muito marcante. Através dele as Facilita-
doras perceberam que muitas vezes as pessoas estão precisan-
do apenas de uma escuta com atenção, pois o pouco tempo que
dura os encontros já está sendo o suficiente para que os par-
ticipantes saiam aliviados. O vínculo estava muito forte nesse
penúltimo encontro. Perceberam também que a resistência de
procurar um profissional já está diminuindo, pois muitos já ma-
nifestaram o desejo de buscar.
Os depoimentos e as atividades desta reunião foram mui-
to gratificantes para as Facilitadoras, uma participante disse que
o que desabafou nesse dia não conseguiu relatar nem para sua
família e amigos, o que motivou bastante as Facilitadoras, pois
estão apenas no sexto período da faculdade de Psicologia e mes-
mo sem muitas técnicas estão conseguindo conduzir o grupo e
estabelecer uma relação de confiança. As palavras escolhidas pa-
ra o feedback foram: profundo, reciprocidade,emoção, desabafo
e autoconhecimento.

3.6 Visita ao hospital

No dia seguinte ao encontro, as facilitadoras participaram


da visita ao hospital com o Grupo de voluntários para conhecer
a sua realidade, entender como se dão as relações dentro do
grupo e identificar quais sentimentos mais afloram no momen-
to da visita.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Perceberam que as demandas escolhidas pelos participantes


do grupo realmente precisam de discussão, pois é preciso união,
lidar com sentimentos, companheirismo, respeito, entre outros.
É fundamental saber respeitar quando alguém pede silên-
cio no ambiente hospitalar, e é preciso respeitar quando os co-
ordenadores escolhem quantos voluntários poderão entrar em
alguns quartos.
Muitas vezes essas ordens parecem banais e muitos deso-
bedecem, porém o coordenador do grupo tem uma noção maior
da realidade dos pacientes, percebe quais casos são mais sérios
e mais necessitados de cautela.
É preciso respeitar a religião do próximo, pois são feitas
orações para os pacientes e é um momento em que todos se
unem para participar, independente da religião ou da falta dela.
Lidar com os sentimentos é extremamente necessário,
pois não se sabe o que encontrará nos quartos, e às vezes alguns
casos pode se misturar com histórias pessoais, o que pode cau-
sar dor e sofrimento, levando a falta de controle.
Na visita em que as Facilitadoras estavam presentes, por
exemplo, uma coordenadora foi chamada para fazer oração em
um quarto onde estava uma recém-nascida lutando pela vida.
Ela teve que se controlar bastante para conseguir, pois havia per-
dido um filho. Ou seja, é preciso um controle emocional muito
forte para não desmoronar.
O companheirismo e a união também precisam ser dis-
cutidos para que haja um maior acolhimento dentro do grupo.
O olhar para o colega voluntário é muito importante. Um volun-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

tário revelou aos demais que não quer parar de ir às visitas, mes-
mo estando com câncer. Muitos não sabiam desse fato e agora
podem dar o apoio necessário ao colega.
É um grupo muito grande, com várias histórias. É preciso
estabelecer uma empatia entre os membros para que cada um
dê o suporte necessário ao próximo, motivando uns aos outros
para que possam levar o sucesso do grupo adiante.
Foi interessante o fato de que após toda visita, o grupo se
reúne na praça para fazer o feedback e comentar o que precisa
ou não ser mudado, e muitos assuntos coincidiram com as de-
mandas do trabalho de estágio.
A visita foi de extrema importância para as Facilitadoras
perceberem que o que está sendo abordado nos encontros real-
mente precisa ser comentado.

3.7 Quinto encontro

A finalidade do quinto encontro foi promover um feedba-


ck geral da intervenção e realizar uma confraternização para a
despedida do grupo. Compareceram oito participantes e contou
com a presença da professora Jackeliny, responsável pelo está-
gio. Iniciou-se com um teatro para retomar aspectos ligados aos
sentimentos abordados no encontro anterior.
Após o teatro, iniciou-se uma dinâmica de apresentação,
porém uma apresentação mais profunda, não convencional. As
Facilitadoras explicaram que escolheram essa atividade para ca-
da um levar uma lembrança do outro que ainda não sabiam.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Cada um deveria se apresentar usando algo que o represen-


tasse, como um objeto, uma parte do corpo ou um sentimento.
Foi uma dinâmica emocionante, pois os integrantes apresenta-
ram características ainda não conhecidas pelo próximo.
O intuito dessa atividade também foi demonstrar que
muitas vezes, em um grupo, os membros se sentem próximos
uns dos outros, mas mesmo assim não se conhecem completa-
mente.
O autoconhecimento e consequentemente o conhecimen-
to do colega voluntário melhora as relações, pois quando o in-
divíduo percebe que o próximo também tem seus problemas e
dificuldades, é capaz de desenvolver a empatia.
Além dos motivos citados anteriormente, as Facilitadoras
escolheram essa atividade também para que cada um pudesse
levar uma lembrança emotiva do outro, do grupo, das discussões
ali feitas, e novos olhares para novas perspectivas, para que tudo
o que foi passado no grupo não fosse esquecido.
Depois de realizar as apresentações, as Facilitadoras agra-
deceram a todos, dizendo o quanto foi importante o comprome-
timento de todos os membros, pois todos participaram de todas
as atividades propostas, conseguiram expor seus sentimentos e
se mostraram dispostos a ouvir em todos os encontros, além de
sempre elogiarem o estágio, o que contribuiu muito para a rea-
lização do mesmo.
Após o agradecimento, as Facilitadoras pediram para que
cada participante dissesse se o trabalho foi positivo, negativo, o
que mais gostaram e o que mudariam.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

O feedback foi muito positivo, os participantes demonstra-


ram agradecimento, disseram que foi um espaço onde consegui-
ram extravasar, desabafar, ter um conhecimento maior do que
precisam mudar para manter o bom funcionamento do grupo e
de suas relações.
Demonstraram o interesse de participar de mais encon-
tros como esse e relataram que o trabalho foi muito importan-
te para repensar as relações e o modo de ver os conflitos. Foi
muito gratificante para as Facilitadoras, pois conseguiram rea-
lizar o que haviam planejado, e alguns participantes que rela-
taram ter preconceito com a psicologia, decidiram iniciar uma
terapia, após reconhecerem no grupo a importância de olhar
para si, para cuidar de sua saúde mental, que é a base de todas
as relações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As oficinas permitiram associar a teoria à pratica, possibi-


litou autonomia as Facilitadoras, o que contribuiu para uma me-
lhor aprendizagem dos conteúdos relacionados à disciplina de
Psicologia Comunitária, construindo assim um conhecimento
maior sobre intervenções psicossociais e oficinas.
Através da intervenção realizada no Grupo de voluntários,
foi possível ampliar a compreensão dos participantes sobre a im-
portância das relações interpessoais, união, respeito e compa-
nheirismo em um grupo de voluntariado.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

O objetivo de promover discussões que possam fomentar


uma mudança foi alcançado, uma vez que todos os membros dis-
cutiram, repensaram e passaram a considerar a opinião do outro
não como uma ofensa, mais sim como uma particularidade do
mesmo.
As oficinas conseguiram auxiliar para ampliar o conheci-
mento dos colegas sobre o próximo, possibilitando um maior
entendimento sobre o comportamento do outro, processo im-
portante para evitar desentendimentos provenientes de um
pré-julgamento.
As demandas levantadas pelo grupo incialmente foram
confirmadas, uma vez que as Facilitadoras participaram de uma
visita ao hospital, reconhecendo que o grupo realmente precisa-
va repensar as temáticas apresentadas por eles mesmos.
As Facilitadoras puderam vivenciar a pesquisa ação, reco-
nhecendo a importância dessa modalidade de pesquisa para um
real conhecimento do grupo e suas problemáticas, para assim
poder observar, repensar e buscar melhores formas de intervir.
Todas as dinâmicas escolhidas foram satisfatórias e conse-
guiram atingir o objetivo, pois através delas as Facilitadoras de
psicologia conseguiram abordar os assuntos de maneira mais le-
ve e descontraída, além de conseguirem que os membros conse-
guissem desabafar de maneira natural.
A prática da intervenção também proporcionou as Facili-
tadoras o conhecimento do quanto é importante ser flexível en-
quanto analistas facilitadoras, pois nas oficinas podem surgir
novos assuntos, novas demandas, ou até mesmo manifestações

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

de emoções muito fortes, o que demanda cautela para que não


aja como detentoras do conhecimento, mas sim como parceiras
em busca de uma mudança.
A atividade com este grupo foi de extrema importância pa-
ra as Facilitadoras, uma vez que a prática as proporcionou uma
experiência e conhecimento mais profundo das oficinas e de co-
mo elas podem modificar um ambiente, dessa forma preparou
as Facilitadoras para trabalhos para possíveis trabalhos futuros.

REFERÊNCIAS

AFONSO, Maria Lúcia Miranda. Oficinas Em Dinâmica de Grupo:


um Método de Intervenção Psicossocial. Casa do Psicólogo, 2007.

AFONSO, Maria Lúcia Miranda. Oficinas em dinâmica de grupo


na área da saúde. Casa do Psicólogo, 2006. 

BLEGER, José. Psico-higiene e psicologia institucional. In: Psico-


-higiene e psicologia institucional. Artes Médicas, 1996. 

CAMPOS, Regina de Freitas Helena. Psicologia Social Comunitá-


ria: da solidariedade à autonomia. Editora Vozes Limitada, 2017.

CÂMARA, Marcus Vinicius de A. Reich, grupos e sociedade. An-


nablume, 2009.

88
Capítulo 5
DO PASSÁRO E DO PASSARINHO: OFICINAS
PSICOSSOCIAIS PARA PROMOÇÃO DE
RELAÇÕES POSITIVAS ENTRE PAIS & FILHOS

Dayane Aparecida Rodrigues Chagas


Geziel Alves da França
Mariana Dayse Paulina Buck
Jackeliny Dias da Silva

O presente trabalho tem como foco principal apresen-


tar as atividades executadas no Programa de Intervenção de
grupo de pais e crianças. O propósito do Programa era auxi-
liar a relação entre pais e filhos, com mudanças nos padrões
familiares e exposição de estratégias para serem utilizadas e
desenvolvidas, indo além da inserção dos pais no tratamento
infantil, guiando diretamente para mudança deles no contex-
to domiciliar.

89
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Dentro desta perspectiva de tratamento, Caballo (2014)


afirma que os pais se reúnem com um terapeuta ou treinador
que lhes instrui a usar uma série de procedimentos específicos
para modificar sua interação com os filhos, para auxiliar o com-
portamento pró-social e diminuir o comportamento desviado
(CABALLO, 2014, p. 399).
É primordial que sejam desenvolvidos programas que auxi-
liem os pais na melhoria das relações interpessoais e familiares.
Autores como Neufeld (2014), Caminha (2011) e Weber (2012)
apontam que essas vivências grupais apresentam grandes resul-
tados obtidos ao decorrer dos grupos de pais e filhos, que ti-
veram como base as técnicas disciplinares e teóricas da terapia
cognitiva comportamental, destacando a importância da intera-
ção e ambiente familiar no desenvolvimento e aspectos compor-
tamentais das crianças.
A abordagem da TCC (Teoria Cognitiva Comportamental)
tem como pressuposto teórico que o indivíduo por meio de suas
cognições, ou distorções cognitivas, pode sofrer a influência do
meio no seu modo de pensar e se comportar. Dentro dos progra-
mas de treinamentos para pais e filhos, o seu objetivo é capacitar
e treinar os pais para observarem e serem agentes ativos na mo-
dificarem dos comportamentos disruptivos e seus filhos, sempre
atentos e analisando as relações entre os pensamentos, emo-
ções e comportamento de ambos (CAMINHA, 2011).
Nesta perspectiva pode-se salientar que a pesquisa e aten-
ção do Treinamento de Pais – assim como seu método de instru-
ção – é sistemática, sua abordagem não é unidimensional. Isso

90
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

porque ela contempla táticas de intervenção intricadas, multi-


modais e multifacetadas, que são determinadas não só pelas in-
digências da criança como pela afinidade única de pai-filho, pelas
obrigações idiossincráticas e intrínsecas ao arcabouço familiar e
pelo caráter do problema (CAMINHA, 2011).
Essa capacitação é importante, pois, as famílias são agen-
tes socializadores e norteadores para as questões éticas e morais
dos seus filhos através de habilidades de manejo familiar, inde-
pendente dos vários modelos, dinâmicas e estruturas familiares
existentes, sendo os responsáveis por cuidar dos aspectos físi-
cos, emocionais, psicológicos e do seu aprendizado moral, ético
e social da criança, assim, “é preciso estar presente e participar
se você quiser educar seu filho e esse comportamento dos pais
chama-se investimento parental” (WEBER, 2012).
Coelho e Murta (2007) destacam a importância de os pais
imporem limites aos filhos, do diálogo e do ensino de responsa-
bilidade e da expressão de afeto para a promoção da autoestima,
autonomia, habilidades sociais nos filhos.
Sanders (2005) relata que ao se tornarem pais os indivídu-
os possuem pouca experiência sobre esse papel, exercendo ge-
ralmente de forma reprodutiva dos seus padrões familiares de
origem, da sua interação com os demais e dos meios de comu-
nicação, não sendo as vezes suficiente um conhecimento sobre
educar seus filhos de uma forma benéfica. Neste sentido, nota-
-se a importância de que esses indivíduos busquem intervenções
destinadas a pais e filhos, visto que esta auxiliará na melhoria da
relação entre pais e filhos.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

Lobo (2011) aponta que há uma complexidade na interação


entre pais e filhos, sendo que a relação familiar pode contribuir
para ocorrência de comportamentos disfuncionais da criança, e
neste sentido o treinamento de pais torna-se uma possibilidade
eficaz para problemas de relacionamento.
Verificando a importância em trabalhos voltados ao desen-
volvimento de repertórios comportamentais no que tange a “ser
pais”, este trabalho levantou questões a respeito desta temática
que vêm sendo muito discutida e benéfica ao abordar as causas
e impactos dessas intervenções nas interações familiares escla-
recendo as técnicas adotadas e comentando sobre os resultados
obtidos que proporcionaram a partilha e o fortalecimento de vín-
culos positivos no grupo.

1. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste programa, foi utilizado co-


mo base principal o livro Eduque com Carinho e o Programa de
Qualidade na Interação Familiar da doutora em Psicologia Lidia
Weber (WEBER, 2009), onde, o objetivo da obra é conscientizar
os pais do seu papel de educadores e agentes de transformação,
considerando o amor, disciplina e respeito, que são pilares es-
senciais para uma educação plena. Esses livros foram de grande
apoio para a estruturação e desenvolvimento dos encontros co-
mo forma de aprendizagem e reflexão para os pais e automatica-
mente seus filhos

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

1.1 Grupo Alvo

O grupo de pais foi composto inicialmente por 8 indivíduos


com faixa etária entre 19 e 42 anos, procedentes de uma classe
econômica média
As crianças participantes tinham idades entre 10 e 12 anos,
sendo 6 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Estas eram fi-
lhas dos adultos que compunham o grupo de pais, já que os dois
grupos aconteciam concomitantemente, uma sala com grupo de
pais e outra sala com grupo de crianças.
Os participantes chegaram para o atendimento no grupo
de pais e filhos por indicação do conselho tutelar da região. Para
participarem das intervenções assinaram termo que lhes garan-
tia a possibilidade de desistirem em qualquer momento e não
serem identificados, nem seus filhos, em nenhuma publicação
que pudesse resultar do trabalho psicossocial.

1.2 Instrumentos

Ao decorrer das intervenções, além do suporte teórico


mencionado, foram desenvolvidos pelos Facilitadores jogos, di-
nâmicas de grupo e discussões de vários temas de acordo com
a demanda apresentada na sessão, seja no grupo de pais ou de
filhos. Todos os materiais utilizados estavam de acordo com os
objetivos da atividade proposta de cada encontro, foram utiliza-
das folhas de papel A4 para desenho, livros de histórias infan-
tis, giz de cera, lápis de cor, cartolinas, brinquedos educativos,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

brinquedos infantis, falso tecido, pote de plástico, fotografias,


chocolates.

1.3 Procedimentos

O processo de intervenção foi desenvolvido no segundo


semestre de 2017, com total de oito encontros com o grupo, ca-
da encontro tinha em média a duração de 01 hora e 30 minutos
cada, ocorrendo semanalmente às quintas-feiras. As sessões fo-
ram dirigidas por Facilitadores, autores do presente, que esta-
vam no penúltimo ano do curso de psicologia e acompanhadas
semanalmente pela supervisora Jackeliny Dias.
Inicialmente foram realizadas reuniões entre os Facilita-
dores e a supervisora para compreensão da temática, estrutu-
ração dos grupos e das sessões com a elaboração do programa
dos pais e filhos, estabelecendo os objetivos e as atividades
que seriam realizadas em cada encontro. As dinâmicas propos-
tas foram “foco no erro”, “teia de relações”, “labirinto”, tam-
bém alguns textos foram lidos e utilizados para fixar o conteúdo
teórico.

2. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA

Cada encontro era composto por quatro momentos bási-


cos, o momento inicial com um quebra-gelo inicial para aquecer
o grupo após esta atividade o grupo era direcionado para o com-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

partilhamento da semana, tarefas de casa e questões que o gru-


po gostaria de apresentar inicialmente.
O momento intermediário, no qual eram discutidas as te-
máticas do encontro, exposição de ideias e troca de informações
e o momento final no qual os Facilitadores faziam uma finali-
zação da temática, colhia-se o feedback dos participantes, por
meio de perguntas norteadoras ou relatos espontâneos e propu-
nha-se atividades para serem realizadas em casa.
Os grupos eram conduzidos em salas separadas, contudo
em algumas sessões, dependendo da atividade preparada pelos
Facilitadores, pais e filhos eram agrupados em uma única sala
para o desenvolvimento da sessão.

2.1 Realização dos Encontros com os Grupos

O Primeiro encontro com os pais e os filhos teve como ob-


jetivo a apresentação dos coordenadores e dos participantes,
com atividades de aproximação, fortalecimento de confiança
com estabelecimento de regras em relação a comprometimen-
to com as sessões, horários, dinâmicas e tarefas de casa. Foram
realizadas dinâmicas sobre a dificuldade de mudar os comporta-
mentos, tanto dos pais, quanto dos filhos.
Ao final do encontro foi proposto as tarefas de casa, esta
atividade consistia nos participantes anotarem três regras que
seus filhos normalmente desobedecerem durante a semana.
No Segundo encontro ambos os grupos forneceram feed-
back do último encontro, relatos de como passaram a semana,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

análise das tarefas de casa e discussões sobre descumprimentos


das regras já discutidas.
Com o grupo de pais foram apresentados os modelos de
pais existentes na sociedade e quais eles se identificaram. Já
com o dos filhos, foi pedido para fazerem um desenho das suas
famílias e falarem o significado de cada membro composto ne-
la. Foram realizadas dinâmicas sobre os temas propostos, com
objetivo de fixar o objetivo do encontro, falar sobre regras cla-
ras, consistentes e coerentes, nesse caso à atividade foi “Quem
vai para lua”, sempre ao final dos encontros uma tarefas de ca-
sa para os pais, mostrando que fazem parte do processo de
aprendizado e mudança e os resultados do programa depen-
dem deles.
O Terceiro encontro iniciou com o feedback dos grupos so-
bre a última sessão, relatos de como passaram a semana e análi-
se das tarefas de casa propostas.
Logo após, no grupo de pais houve uma dinâmica de
quebra gelo, exercício para relaxamento, aquecimento e ou-
tra dinâmica sobre o ato de dar e receber elogios entre pais e
filhos, no final, a leitura do texto “reflexão de uma mãe”. Com
os filhos, foi realizado atividades sobre regras impostas em ca-
da residência com objetivo de uma maior interação entre eles
e no final a junção com os pais para momento de interação,
afeto e atenção, com amostra dos desenhos feitos no último
encontro.
O Quarto encontro em ambos os grupos foi realizado feed-
back sobre a última sessão e sobre o desenvolvimento do grupo

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

até o respectivo momento com relatos de como passaram a se-


mana. No grupo de pais houve um quebra-gelo com uma ginásti-
ca de relaxamento, explicação teórica sobre consequências para
comportamentos inadequados e os tipos de punições com os fi-
lhos, destacando sobre as desvantagens das práticas de punições
agressivas, com trocas de algumas práticas realizadas entre os
pais e acolhimento no grupo.
Para finalizar, foi passado um vídeo para reflexão da rotina
de uma mãe dona de casa mostrando que ser mãe não é um pa-
pel fácil, porém, esse programa foi desenvolvido tendo em vista
os diversos papeis desempenhado pelos pais, sendo um deles, o
cuidado com seus filhos.
O grupo infantil estava resistente à intervenção, sendo as-
sim as Facilitadoras utilizaram estratégias de reforço positivo
com ganho de recompensas, para quem participasse da ativida-
de proposta. Esta referia-se a um teatro proposto para eles com
a inversão dos papéis (os pais tinham a postura dos filhos e eles
a dos pais), na qual, foi trabalhado sobre empatia, obediência,
desobediência e o que eles teriam aprendido com encontro de-
senvolvido.
O Quinto encontro teve início com o feedback dos grupos
sobre a última sessão, relatos de como passaram a semana e
análise das tarefas de casa propostas com reforço sobre o cum-
primento e importância de realiza-las. Em ambos os grupos o te-
ma discutido foi afeto, envolvimento e empatia.
O início da sessão com o pais foi de relaxamento, houve o
desenvolvimento da dinâmica com perguntas relacionadas aos

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

filhos, com uma reflexão sobre: “você conhece seu filho?” com
objetivo de promover a empatia. Foi apresentado de forma teóri-
ca sobre o treino de atividades sobre afetividade e envolvimento
com um texto sobre “paternidade responsável” com discussões
e analises sobre o que eles consideravam como falhas na relação
com seus filhos.
No grupo infantil, houve um parecer sobre o que o acha-
ram da última sessão, da mudança dos comportamentos deles e
dos pais em relação a atenção, afeto e carinho desde o início do
programa até o aquele momento.
Nos últimos 30 minutos de sessão foi realizada uma di-
nâmica entre pais e filhos com o objetivo de promover afeto e
aproximação, o objetivo da dinâmica era que vendado os pais
reconhecesse os filhos, por meio do toque e estabelecimento
de afeto.
Esta atividade proporcionou um retorno positivo, e um
compromisso final, para tarefa de casa foi proposto a melhoria
das relações afetivas, conhecimento e aproximação familiar, já
que muitas vezes em casa pais e filhos não tem tempo para de-
monstrar afeto e carinho.
O Sexto encontro: em ambos os grupos tiveram feedback
do último encontro, relatos de como passaram a semana, analise
da agenda de afeto proposta com relatos positivos.
No grupo de pais inicialmente houve uma reflexão sobre
a educação que cada participante teve na sua infância com uma
volta ao tempo com o propósito de que eles entendessem a
transmissão intergeracional das práticas parentais, foi realizada

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

uma tarefa de auto reflexão onde todos tiverem oportunidades


de falar sobre os objetivos do grupo, a leitura dos 12 mandamen-
tos dos filhos foi trabalhada.
Foi solicitado aos pais para que haja sempre no cotidiano
uma releitura do texto, finalizando com a devolutiva dos coor-
denadores sobre a importância da presença, disponibilidade e
comprometimento do grupo para atingir o objetivo comum. Já
no grupo dos filhos, foi trabalhado o perdão através do livro in-
fantil João e Maria e finalizado o encontro com as brincadeiras:
“vivo- morto” e “ovo choco”.
O Sétimo encontro: teve início com o feedback dos gru-
pos sobre a última sessão, relatos de como passaram a semana
e análise das tarefas de casa propostas, em ambos houve uma
revisão dos encontros anteriores, abordando os principais te-
mas que foram discutidos, sobre a aproximação dos pais e fi-
lhos com vínculos positivos, e a realização do último encontro
com a ressalva dos coordenadores a respeito do apoio da clíni-
ca para aqueles que se interessassem com a terapia individual
gratuitamente.
Com os pais foi realizada uma dinâmica do chapéu com o
espelho para proporciona uma autorreflexão com as perguntas:
“você tira o chapéu para essa pessoa?”, “você acha que essa pes-
soa é um bom modelo de pai (mãe)?” e a leitura “carta de um
adulto para os pais” para reflexão sobre o modelo moral de um
pai ou mãe com seu filho. No grupo das crianças foi solicitado pa-
ra que eles fizessem outro desenho das suas famílias com seu sig-
nificado podendo relatar sobre as mudanças comportamentais

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

dos pais com uma palavra (sentimento), na qual, no decorrer da


sessão eles foram relatando as melhorias nos comportamentos
como: “ Meu pai agora brinca comigo quando chega em casa”,
“Lá em casa agora fazemos a tarefa juntos”, “ Estamos começan-
do a nos abraçar lá em casa”, “ Minha mãe agora tenta conversar
comigo sem bater”.
O Oitavo encontro houve a junção dos grupos desde o iní-
cio da sessão, primeiramente com o feedback dos participantes
em relação as expectativas iniciais e os resultados obtidos com
o programa.
Foi desenvolvida a dinâmica do labirinto que visava a em-
patia dos participantes. Um relato marcante nesse momento, foi
que uma mãe relatou que “ao iniciar estava tendo muitas dificul-
dades com a criação dos filhos, mas que após os encontros rea-
lizados, consegue perceber, que existe uma saída para resolução
dos problemas”, “Em nome do grupo, agradeço por tudo que fi-
zeram por nós e pelos nossos filhos, lá em casa está muito me-
lhor a convivência. ”
Foi entregue aos participantes um material desenvolvido
pelos Facilitadores e supervisor denominado pote da afetivida-
de, no qual os pais juntamente com os filhos preencheram 15 ati-
vidades que gostariam de fazer com o outro, como por exemplo
“hoje vamos assistir um filme juntos”, ou “dar um abraço”.
A proposta é que após a finalização do grupo, pais e filhos
continuassem a aproximação e assim pudessem dar prossegui-
mento na terapia com a criação de hábitos de convivência agra-
dável, afetiva, carinhosa e com atenção familiar.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

No decorrer da sessão os coordenadores foram dando fee-


dbacks sobre os aspectos que visaram mudanças de acordo com
todo desenvolvimento do grupo para uma criação de vínculos
positivos entre eles.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao decorrer dos encontros os pais relataram diversas di-


ficuldades em relação aos seus filhos, mas de acordo com as
atividades propostas evidenciou-se, que muitos pais estavam
reproduzindo exatamente os modelos de pais que haviam re-
cebido a partir das experiências passadas, onde foi proposta
com os pais a fazerem uma reflexão para lembrar de sua pró-
pria infância, discutindo sobre como isso pode influenciar sua
maneira de se relacionar com seus filhos na atualidade, levan-
do em consideração a diferença de contexto e época, sendo
que muitas praticas parentais são mantidas na transmissão in-
tergeracional.
Os participantes traziam suas dificuldades em relação aos
filhos, pois apesar dos Facilitadores terem estruturado os encon-
tros, por meio do feedback realizado ao fim de cada encontro pe-
los participantes, as atividades seguintes eram flexibilizadas e os
assuntos desenvolvidos eram manejados nas sessões.
Inicialmente muitos pais tentavam se esquivar de cer-
tos assuntos propostos, sendo que no decorrer das atividades
muitos relataram que foi muito proveitoso cada encontro e a

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

troca de experiência relatada por cada participante do grupo,


foi muito importante no aspecto da relação com seus próprios
filhos.
As atividades propostas para casa com os pais durante o
processo da intervenção, permitiu que pais e filhos pudessem se
aproximar mais, de forma prática, onde o propósito era dar con-
tinuidade ao processo terapêutico, mesmo com o encerramento
do projeto.
De acordo com o desenvolvimento dos encontros, foi pos-
sível perceber uma interação melhor entre o grupo, onde muitos
pais tiveram a liberdade para expressar seus sentimentos e tam-
bém dar sugestões uns para os outros em relação as suas experi-
ências com seus filhos.
Outro aspecto importante para ser relatado, foi que
dentro do sétimo encontro, no qual foi realizada a dinâmica
do chapéu, onde o propósito era fazer que os pais refletissem
sobre que modelo de comportamento estão reforçando em
seus filhos.
Isto permitiu que os pais ficassem mais atentos a seus
comportamento e atitudes. Levando-os a tomar consciência so-
bre suas emoções e comportamentos, que muitas vezes, estão
reforçando nos filhos seus próprios comportamentos inadequa-
dos, já que os mesmos aprendem muito por imitação.
Os coordenadores tiveram um papel importante nesse
processo, como do conhecimento, para que cada responsável,
pudesse refletir o máximo sobre seu papel, fazendo que os mes-
mos viessem a ter insights, os quais ocorriam após realização de

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

dinâmicas, discussões, aplicação de técnicas e práticas, na busca


do empoderamento.
Logo no último encontro foi realizado um levantamento
através de um feedback, no qual foi solicitado aos pais que rela-
tassem sobre a vivencia no grupo, no feedback ficou constatado
na fala dos membros do grupo, que após o treinamento de pais,
os mesmos estão melhores instruídos para conviverem de forma
mais harmoniosa e afetuosa com seus filhos.
Alguns participantes foram orientandos sobre a iniciarem
psicoterapia individual, de acordo com suas necessidades singu-
lares, percebidas durante a intervenção.
Por fim, pode-se constatar que de uma maneira geral, e
após uma avaliação feita em cada encontro, as expectativas fo-
ram atendidas, e a intervenção alcançou o objetivo proposto,
que era auxiliar a relação entre pais e filhos, fortalecendo o vín-
culo familiar.
Sendo assim, há uma expectativa dos Facilitadores na con-
tinuidade dessas modificações comportamentais por parte dos
participantes, na aplicação de todo o conteúdo desenvolvido,
como um meio de prevenção do rompimento e desgaste des-
ses vínculos estabelecidos, pois de acordo com o aprendizado do
grupo, percebeu-se que cada participante evoluiu, e reconheceu
que possuem habilidades afetivas para aplicar nas suas relações
parentais.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer dos encontros foi possível perceber nos pais


e filhos uma expectativa de mudança, de ambas as partes hou-
ve uma maior aproximação, principalmente nas atividades de-
senvolvidas que eram desenvolvidas com os dois grupos, mesmo
que no início houve resistências as mudanças.
Segundo Carreteiro (1994), “Ninguém muda sem ter cons-
ciência e desejo de mudar. Além disso, a resistência à mudança
é comum no ser humano, e são muitos os fatores que dificultam
as mudanças.”.
O projeto como um todo foi desenvolvido para que ambos
os grupos ampliassem suas percepções em relação aos diversos
temas abordados em cada um dos encontros. É importante res-
saltar que a utilização de protocolos de atendimento, foram de
grande importância e auxílio para orientação dos Facilitadores,
que são neófitos no processo terapêutico.
Os facilitadores/coordenadores do grupo, assim como os
pais participantes, responderam de forma unânime relataram
que o mesmo atingiu os objetivos propostos, sobre a importân-
cia de estabelecer vínculos afetivos nas famílias, para harmoni-
zar suas relações parentais.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

REFERÊNCIAS

BRIEEMEISTER & SCHAEFER. Treinamento de pais: fundamentos


teóricos. In: CAMINHA. Intervenções e treinamento de pais na
clínica infantil. Porto Alegre: Sinopys, 2011, p. 14.

COSTA-NEIVA, K. M. Aspectos teóricos e metodológicos da inter-


venção psicossocial. In: COSTA-NEIVA, K. M. Intervenção Psicos-
social: aspectos teóricos, metodológicos e experiências práticas.
São Paulo: Vetor, 2010. p. 17.

CAMINHA-GUSMÃO, M., ALMEIDA-FERRAZ, F., SCHERER-PACHE-


CO, L. Treinamento de pais: fundamentos teóricos. In: CAMINHA-
GUSMÃO, M., CAMINHA, R. M. Intervenções e treinamentos de
pais na clínica infantil. Porto Alegre: Sinopys, 2011. p. 13-30.

FONSECA-FELIPE-XAVIER, Y., FEITOZA-DIAS-CRISTINA, E., LIMA-


FERREIRA, M. Fortalecimento do vínculo entre pais e filhos. In:
COSTA-NEIVA, K. M. Intervenção Psicossocial: aspectos teóricos,
metodológicos e experiências práticas. São Paulo: Vetor, 2010.
p. 149-174.

FRIEDBERG, R. D., MCCLURE, J. M. A prática clínica de terapia


cognitiva com crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed,
2004. p. 235- 236.

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NEUFLED, C. B., GODOI, K. PROPAIS I - Tópicos Cognitivo - Com-


portamentais de orientação de pais em contexto de atendimen-
to clínico. In: NEUFLED, C. B. Intervenções e pesquisas em terapia
cognitiva- comportamental com indivíduos e grupos. Novo Ham-
burgo: Sinopys. 2014. p. 116-147.

ROBERT, J. M. Treinamento de pais. In: CABALLO, V. E. Manual de


técnicas de terapia e modificação do comportamento. São Paulo:
Santos, 2014. p. 329-422.

WEBER, L. Eduque com Carinho Equilíbrio entre amor e limites.


Curitiba: Juruá, 2009.

106
AUTORES

JACKELINY DIAS DA SILVA (Org.)


Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Goiás, Espe-
cialista em Gestão de Pessoas pelo Instituto de Graduação e Pós-
-graduação (IPOG), Mestranda no PPGGO da pela Universidade
Federal de Goiás, na linha de pesquisa Indivíduo, Organização,
Trabalho e Sociedade. Professora orientadora no curso de Espe-
cialização em Ensino Interdisciplinar em Infância e Direitos Hu-
manos da Universidade Federal de Goiás. Revisora de artigos
científicos da revista de administração da Universidade Estadual
de Goiás - UEG. E-mail: jackelinydias@hotmail.com

ADRIANA VIEIRA GOMES


Graduanda de psicologia, pela faculdade UNA/Catalão.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

DANIELLA DANTAS CALIXTO


Graduanda de psicologia, pela faculdade UNA/Catalão. E-mail:
danyella_dantas@hotmail.com

DAYANE APARECIDA RODRIGUES CHAGAS


Psicóloga, graduada pela Faculdade UNA/Catalão. Empresária e
com atuações em psicologia clínica.

GRAZIELA CRISTINA DE MIRANDA VIEIRA


Graduanda de psicologia, pela faculdade UNA/Catalão.

GEZIEL ALVES DE FRANÇA


Psicólogo, graduado pela Faculdade UNA/Catalão, Bacharel em
Teologia e Pós-graduando em terapia cognitivo comportamental.
Atuações em Psicologia Clínica.

MARIANA DAYSE PAULINA BUCK


Psicóloga, graduada pela Faculdade UNA/Catalão, Pós-graduan-
da em Terapia Cognitivo Comportamental, com atuações e psi-
cologia clínica e social - comunitária. Psicóloga no Centro de
referencial de assistência social (CRAS).

NAYARA COELHO ROSA


Graduanda de psicologia, pela faculdade UNA/Catalão. E-mail:
nauyaracoelhorosa@hotmail.com

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. II

PAULO HENRIQUE FÉLIX BORGES


Graduando de psicologia, pela faculdade UNA/Catalão. E-mail:
pauloh_psico@hotmail.com

SUSI PEREIRA DA LUZ


Graduanda em Psicologia, Faculdade Una/Catalão, Técnica em
controle ambiental, pelo SENAC/Catalão. Estagiária em psicolo-
gia clínica e Hospitalar.

THIAGO FERREIRA
Pós-Graduado em Finanças e Planejamento Empresarial pela
União Catalana da Gestão do Conhecimento - UNICAT. Gradua-
ção em Ciências Contábeis e Graduando em Psicologia na facul-
dade UNA/Catalão. Possui experiência profissional no setor de
contabilidade, controladoria, fiscal e financeiro. E-mail: thiago-
tk2008@hotmail.com

VANESSA SANTOS PASSOS MIRANDA


Graduanda em Psicologia pela Faculdade UNA/Catalão. Possui
experiência como aplicadora de terapia ABA para crianças autis-
tas. E como Acompanhante Terapêutico de crianças autistas no
contexto escolar. E-mail: van.muzamba@gmail.com

ROSANA RODRIGUES CHAVES


Graduanda em Psicologia pela Faculdade UNA/Catalão. E-mail:
rosanarodrigueschaves526@gmail.com

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