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'10.37885/220709390
RESUMO
MÉTODOS
A pesquisa realizada foi qualitativa e buscou investigar por meio do método psicanalí-
tico a perspectiva acerca do exercício da parentalidade em contextos atuais. Tal método é
desafiador diante das ciências modernas que buscam pragmatismo e o empirismo racional
e “puro”. Herrmann (2004, p. 55) faz importantes reflexões sobre o desafio do psicanalista
para ganhar espaço no campo científico, para o autor “a conotação positivista provoca reação
de hipersensibilidade alérgica na pele epistemológica do psicanalista”.
Ao considerar as pesquisas na área de ciências humanas, a aproximação da literatura,
da estética, da linguística e da antropologia é relevante: “Os recursos da ciência positivista
quase nada renderam no esclarecimento da psique. Arranharam o problema sem o penetrar
e foi sempre como se quisessem tirar leite de pedra” (HERRMANN, 2004, p. 54).
A escolha do método ocorreu por meio da identificação do pesquisador com a teoria
psicanalítica e seu campo de atuação, e pelo crédito na importância desse método como
forma de resistência a partir da escrita. A psicanálise tem suas raízes na clínica, com o
modelo clássico de se fazer psicanálise, o divã, a sessão de 50 minutos, o setting, com
poucas considerações acerca da criatividade de Freud na construção teórica e prática de
seu método (HERRMANN, 2004).
Uma das coisas que sempre admirei em Freud foi seu talento para enxergaro
mundo cotidiano em forma de investigação. Sem rituais acadêmicos, uma con-
versa, uma piada, um ato falho seu ou do próximo, uma sugestão de passagem
eram o suficiente para desencadear psicanálise. Quisera ter sua simplicidade
no olhar e graça do relato. Quem não o desejaria? (HERRMANN, 2004, p. 72).
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O próprio Freud, durante a construção do método psicanalítico, foi um pesquisador,
mas não preso à racionalidade tradicional, e sim disponível para ouvir, pensar, analisar e
criar. Antes da existência do Freud clínico existiu um Freud pesquisador.
Posto esse formato desafiador de pesquisa Tozoni-Reis (2004, p. 416) afirma que:
Para alcançar os objetivos, foi realizada revisão bibliográfica de literatura, que forneceu
o embasamento teórico sobre as relações intersubjetivas entre pais/mães e filhos e sobre
o lugar da criança nas famílias contemporâneas. Segundo Severino (1985) o levantamento
bibliográfico possibilita ao pesquisador encontrar materiais e teorias já trabalhadas, e favo-
rece a leitura analítica para a construção da linha de raciocínio do autor.
Para viabilizar a pesquisa o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em pesquisa da
UNESP através da Plataforma Brasil e aprovado com CAAE 10785519.3.0000.5401. O mate-
rial coletado para a pesquisa foi realizado através de questionário on-line pelo Google Forms:
O questionário foi composto por 12 perguntas, sendo 5 perguntas de múltipla escolha e
7 perguntas escritas com respostas livres. Foi realizado com 101 participantes, constituídos
por pais e mães com idades a partir de 29 anos até 60 anos. Dentre as perguntas do ques-
tionário, buscou compreender as visões dos pais e mães a respeito da relação da parentali-
dade com vínculos, o que possibilitou núcleos temáticos que serão discutidos nesse artigo.
RESULTADOS
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Segundo Santos, Miranda e Belo (2020) sabemos dos amplos sentimentos positivos
e momentos prazerosos existentes nos cuidados das crianças. Os autores nos alertam
sobre as teorias que tendem a retratar a experiência da maternidade e paternidade (grifo
meu) como baseada apenas em sentimentos positivos e ausência de conflitos podem estar
relacionadas em fantasias de amor incondicional e desejos infantis fantasiosos, que ficou
evidente nas respostas dos participantes como se segue:
“É a conexão entre mãe e filho, é o amor compartilhado, é o carinho, o cuidado cons-
tante, o respeito mútuo”. (sic)
“Confiança, respeito, amor”. (sic)
“É um vínculo inexplicável de muito amor”. (sic)
“É ter o maior cuidado para com eles”. (sic)
Diante dessas falas, destaca-se que:
Nesse contexto, o vínculo entre pais e filhos se choca com a necessidade constante
de informações e objetividade presentes na sociedade da informação, pois pode ser des-
crito como um processo gradativo, em constante processo de evolução de acordo com a
realidade subjetiva de cada grupo familiar. O vínculo assume, portanto, um papel variável no
qual são consideradas as particularidades da família: aspectos históricos, culturais, sociais e
econômicos, responsáveis por influenciar a percepção subjetiva de como a ideia de vínculo
pode ser traduzida nas relações familiares. Diante os atravessamentos que os participantes
apresentaram em suas respostas, foi dividido em duas categorias para discussão da temática
“Amor”, que foram: Amor, constituição do outro e modernidade e amor e os imperativos para
ser pai e mãe que serão discutidos na sequência.
DISCUSSÃO
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cuida do bebê, quem cuida da criança precisa se ver naquele outro, precisa reconhecer como
meu filho, alguém que você tem que dedicar algo que é profundamente narcísica. Freud
vai dizer que o comovedor amor dos pais por seus filhos nada mais é que uma reedição do
narcisismo nesses adultos.
O amor é necessário para o desenvolvimento dos filhos, pois segundo Iaconelli (2021,
não paginado) “quem recebe o amor se sente representado, se sente amado, se identifica
com o objeto amoroso considerando parte de si”, devemos entender também que o amor
é contingente, ele pode acontecer ou não, não é inato de nossa espécie. Volta-se aqui a
repensar os discursos que buscam favorecer o imperativo idealizado do amor aos filhos,
gerando assim culpabilizações e sofrimentos diante as ambiguidades também presentes e
necessárias no exercício da parentalidade.
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Ao abordar a nossa cultura em nossa época, hoje as pessoas têm o direito tendo nas-
cido com útero ou não, se entender de um gênero masculino, feminino, não binária sendo
uma perspectiva de amor, solidariedade e de respeitos as diferenças e o entendimento de
cada um em seu lugar no mundo, o que pode ser pensado na pergunta “quem pode ser pai?
Quem pode ser mãe? ”, diante configurações tão possíveis e diversas. Sabemos o que uma
criança precisa estruturalmente para seu desenvolvimento ter o outro lado uma convenção
marcada com atravessamentos culturais de nossa época (IACONELLI, 2021).
O amor é então necessário, porém construído, algumas falas, destacada a seguir,
representam essa construção e se afastam das visões idealizadas:
“É um vínculo de muito amor, insegurança, medo, responsabilidade, pressão e de-
dicação. Relação de amor, respeito, cuidado e até mesmo exortação ou correção quando
necessário”. (sic)
“Um amor jamais experimentado por mim. Sempre cantei, conversei com minha bebê
ainda no meu ventre e percebia que ela respondia com chutinhos e mexidinhas. Fui enten-
dendo na prática que o vínculo é realmente construção, é estar junto é se fazer presente, é
cuidado. E falando de amor de mãe e filho, é instinto, intimidade, colo, abraço, cheiro”. (sic)
“A educação dos filhos não se compra, não se terceiriza. Se constrói, dá trabalho,
demora anos e não tem receita mágica”. (sic)
“É o sentimento criado, a relação, carinho, proteção, educação, respeito. É o filho
sentir que ele (a) tem alguém que está ali para amar, cuidar, educar a qualquer momento,
tentar suprir as faltas ou ensinar a conviver com elas”. (sic)
Qual exigência se tem sobre o amor na atualidade? O que estamos chamando de amor?
Que amor é esse que os pais relatam ter no desenvolvimento da parentalidade? A tese
aqui desenvolvida é atravessada em suas discussões pelas características do que cha-
mamos atualidade.
Segundo (RIOS, 2008 apud COSTA, 1983) “A cultura contemporânea, também cha-
mada de Cultura Narcísica, Somática ou do Espetáculo, reproduz conceitos e práticas que
não sustentam a alteridade, e constantemente devolvem o sujeito para o miolo de si mesmo
quando este procura referências fora de si, na experiência coletiva”.
“[...] a condição pós-moderna, ou hipermoderna, é fruto do desenvolvimento do capi-
talismo multinacional e dos fenômenos da globalização. Sua base material é a globalização
econômica, a lógica do mercado e o neoliberalismo que solaparam os ideais utópicos, po-
líticos, éticos e estéticos da Modernidade” (RIOS, 2008).
Os resultados evidenciaram falas que sempre demonstraram e reforçaram o exercício
da parentalidade enquanto lugar de uma experiência individual e nuclear na família contem-
porânea intensificada pela chegada da pandemia do COVID-19. A parentalidade é também
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um fenômeno social, porém observamos nas falas, nas pesquisas e nas observações a
culpabilização dos pais e mães dos males da sociedade. As redes de apoio estão agora
terceirizadas: escolas, babás e creches compõem a nova rede da família moderna, que
precisa ser pensada enquanto lugar, ou não, de fortalecimentos de vínculos entendendo os
desdobramentos na constituição de sujeitos.
Bauman (2017), quando escreve sobre o modelo de sociedade atual, afirma que os
laços da cultura moderna se tornaram frágeis e provisórios e podem levar à situação de
desamparo social, reforçado pela lógica liberal baseada na competitividade em detrimento
da colaboração. Essa visão fica evidente quando se observa as famílias atuais cada vez
mais desconhecendo seu território, buscando cada vez mais a sua individualidade e seus
muros, conhecendo menos seus vizinhos, entendendo o espaço público enquanto lugar de
risco. Outro reflexo de tal perspectiva é o número crescente de famílias reduzidas, distantes
da família de origem.
A comunidade, o território, a troca tão importantes para os laços sociais e o exercício da
parentalidade se enfraquecem diante o individualismo reforçado pelos discursos neoliberais
de sucesso e felicidade e culpabilização. Se acertou foi por você, se errou também foi por
você, ou seja, sujeitos empreendedores de si e de sua parentalidade.
Há grande crescimentos de “coachs” no contexto da experiência parental, como os de
amamentação e organização, que atribuem a “profissionais” de um suposto saber técnico a
função de ensinamento, distanciando pais e mães do contato íntimo com essa experiência,
portanto há sempre um saber que pode falar por você e te ensinar, pois tentativa e erro não
é mais uma opção, apenas o acerto idealizado.
Diante deste contexto do universo de promessas para o não sofrer que gera um mercado
de autoajuda, de “coachização da vida” emerge também uma parentalidade sempre orientada
e sendo atravessada por saberes, inclusive os “psis”. Quando é definida uma forma de ser
pai ou mãe, existe o risco de entender por meio da psicologização que os profissionais de
psicologia estão em lugar privilegiado para dizer, analisar e supor formas corretas que irão
corroborar o dispositivo da parentalidade como um objeto de estudo da ciência. É necessá-
rio pensar na atuação dos psicólogos fora desse dispositivo, e que a atuação nesse campo
possa servir como a possibilidade de um lugar de construção subjetiva e não do imperativo
moral e conceitual das boas práticas para o bem viver.
Toda essa cientifização e instrumentalização comportamental cria no imaginário dos
pais a ideia de uma parentalidade ideal e perfeita, capaz de ser treinada e manuseada com
o uso de guias do ato de ser pai e mãe. Importante refletir acerca do distanciamento que
pode emergir de forma única na relação dos pais com seus filhos. A partir do momento em
que existe um modelo ideal, a parentalidade se distancia da criatividade, do encontro, da
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dúvida, da imperfeição e da criação. Em suma, a parentalidade se distancia dos aspectos
subjetivos que a compõem.
“Se os valores da nossa cultura atual estão na base dessa contínua construção/ re-
construção de sujeitos superficiais e enfraquecidos, sem a verve necessária para esse
experimento humano essencial e profundo, como plantar em si “o amor, a alegria, o calor
e o prazer” e experimentar a arte de amar? Será que, diante do que temos, precisaremos
nos contentar com o final “enfim só”, depois do shopping, da pizza com coca-cola na frente
do computador ou do plasma da TV, e um comprimido de antidepressivo, duas vezes ao
dia?” (RIOS, 2008)
Porém, o amor idealizado e narcísico também esteve presente e será discutido no
próximo tópico.
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“Meus filhos ficavam mais com a mãe, que trabalhava em casa e assumia quase toda a
responsabilidade. A minha se limita a prover e decidir questões mais sérias. Mas atualmente
vejo uma relação complicada, quando nossos filhos ficam com terceiros e com acesso a
internet, informações que muitas vezes sem filtros, podem prejudicar a educação”. (sic).
Surge nas respostas o mito do “instinto materno” definido por Badinter (1980). A figura
materna ainda é muito associada com delicadeza, cuidados e acolhimento, enquanto a figura
paterna está compreendida dentro da proteção, segurança e racionalidade. Nas falas, foi
evidenciado que as mulheres se colocaram como arrependidas em não estarem em suas
casas com seus filhos ou filhas. Essa realidade corrobora a existência do imperativo da ma-
ternidade, colocando as mulheres dentro de ideais que são construídos desde o nascimento.
Falar dessa construção, é entender que a valorização da maternidade em nossa cultura
é um resultado político e social. Já foi aqui debatido a necessidade de romper com os dis-
cursos românticos e naturalizados sobre as questões parentais, porém torna-se necessário
retornar ao século XVIII para compreender que a maternidade sempre esteve atrevessa-
do por seu tempo.
Segundo (Badinter 1985 apud Fernandes 2021, p.89):
Badinter (1980) relata o caso de 31 crianças cuidadas por uma ama de leite, que ao
longo de 14 meses vieram a falecer (p. 87). Precisamos então fazer nosso recorte histórico.
Estamos na pós-modernidade capturados pelos discursos individualista e consumistas assim
como de perfeição. A mulher vem ganhando espaço no mercado de trabalho e considerando
a maternidade cada vez mais uma escolha, e não um imperativo. Porém, para aquelas que
são mães evidencia-se ainda a força do discurso da mulher/mãe e do lar, resultando assim
na cobrança contemporânea em dar conta de tudo e de forma perfeita e equilibrada.
Segundo Fernandes (2021) as mudanças em nosso tempo, com melhores e maiores
condições de inserção da mulher, não se converteu nas transformações de ideias, mas sim
no acúmulo deles. O corpo da mulher da mulher é exigido a exercer um truque contempo-
râneo que impõe ideais múltiplos.
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Podemos então pensar que o mito do amor materno se constituiu a partir de uma
perspectiva histórica, porém devemos entender que o conflito sempre esteve existente, e
o que se percebe na atualidade é a existência da ambiguidade porém a necessidade de
corresponder aos ideais, o que gera angústia pois se antes as crianças podiam ser aban-
donadas sem prejuízos hoje, felizmente, temos leis que protegem as crianças como o ECA,
mas o conflito entre o pai e a mãe que posso ser e o que devo ser fica evidenciado. Portanto,
culpa, frustração, sentimento de imperfeição de não completude marca a vivência maternal
observada nas seguintes falas:
“Na verdade me sinto um pouco triste por não poder estar dia-a-dia com eles”. (sic)
“Sempre trabalhei com filha por perto mesmo com babá (tinha que ficar das duas)...
Mas se pudesse teria só cuidado dela [...]” (sic)
“[...]quando eles eram crianças eu não gostava de trabalhar e ter que ficar distante
deles, ficava frustrado por não ter mais tempo disponível com eles”. (sic)
“Por ser médica tive muitas vezes que abrir mão de algumas coisas dos meus filhos
que hoje tenho consciência de que fizeram falta, como o primeiro passo, a primeira palavra,
algumas reuniões de pais”. (sic)
“[...]abre uma lacuna na vida dos nossos filhos porque acabamos que quase não tendo
um relacionamento com os mesmos”. (sic)
“Muitas vezes estava sem muita paciência em supervisionar as atividades, mas fazia,
mas deixava muito a desejar, já que muitas vezes me estressada e estressava meus filhos.
Hoje optaria por não trabalhar fora, não compensa”. (sic)
“[...] sempre uma relação muito ambígua dentro de mim, pois trabalho com a profissão
que eu amo, mas também amo ser mãe”. (sic)
“[...]Admiro as mães, que talvez por falta de opções, deixam suas crias ainda muito
bebês em creches ou com alguém para poderem trabalhar, eu não consegui. Tenho comigo
que essa culpa de não ter cuidado, de não ter participado, de não ter visto andar ou falar
as primeiras palavras, não vou carregar. Pelo menos essa”. (sic)
“[...] pois o que vejo hoje em dia são pais que dada à ausência deles devido ao trabalho
tentam compensar os filhos de forma inadequada dando uma educação mais permissiva
e menos instrutiva [...]” (sic)
Novamente os resultados evidenciam questões no exercício da parentalidade com base
nas faltas de garantias e incompletudes que geram sentimentos de culpa sobre os filhos
de que não está bom, gerando assim mal estar, ou seja, algo falta. Porém, não é possível
pensar a parentalidade enquanto falta de falta.
Nesse sentido Iaconelli contribui ao afirmar que:
Primeiríssima questão: não há, nunca houve e jamais haverá garantia. Qual-
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quer tratamento ou objeto que for usado para fomentar a falsa ideia de que
haveria o tão sonhado controle e prevenção no que tange a parentalidade im-
plica má-fé. A culpa catastrófica que os pais/mães têm carregado por tudo que
acontece com os filhos é, parodoxalmente, um dos grande males da criação
deles hoje em dia. (IACONELLI, 2021 p. 32).
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Algumas falas representam esse pensamento, articulando com a necessidade de deixar
claro que não há saídas:
“[...] uma necessidade que temos trabalhar, porém abre uma lacuna na vida dos nossos
filhos porque acabamos que quase não tendo um relacionamento com os mesmos.” (sic)
“Preciso sustentar meus filhos, então é necessária a saída de casa, porém me preo-
cupo, pois gostaria de estar mais com eles”. (sic)
“É difícil administrar o tempo e o cansaço, nem sempre é uma opção”. (sic)
Presente então os atravessamentos contemporâneos de satisfação, perfeição e garan-
tias entende-se que a parentalidade então, deve estar relacionada com busca de satisfações
diferentes das fantasiadas.
Segundo Iaconelli (2021 p. 25):
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Porém, falas que buscam romper com os discursos centralizados na figura de pai/
homem provedor e mãe/mulher cuidadora se apresentaram. Segundo os participantes, afir-
maram não reconhecer diferenças para além das biológicas nas funções materna e paterna
como representados nas seguintes falas:
“Função mais importante da vida entre os seres humanos, as duas tem de se com-
pletar e nunca se conflitar, as duas funções, paterna e materna, tem exatamente a mesma
importância com diferenças de ordem natural”. (sic)
“Não existe uma função definida por paternidade ou maternidade. Mas sim uma posição
de parentalidade que cabe ambos exercerem nos cuidados de sua prole”. (sic)
“Ambos têm que estar presente, participar da vida do filho, cuidar e se responsabilizar
por eles igualmente”. (sic)
Isso representa grande avanço em relação ao desprendimento do patriarcalismo, apesar
de alguns pais reconhecerem que existem muitas melhorias a serem feitas para desvincular
a parentalidade de conceitos pré-estabelecidos. Desafio esse que já vem sendo sinalizado
por psicanalistas atuais. Birman (1999, p. 20) por exemplo nos diz que Freud ao designar
como única saída para a feminilidade a maternidade, reproduz o estatuto das mulheres esta-
belecido no século XVIII que seriam elas mães por natureza e, por consequência, deveriam
funcionar no espaço familiar e não público. Fernandes (2021, p. 79) nos diz: “Ao restringir a
sexualidade ao casamento, a sociedade da época de Freud organizava-se para manter a mu-
lher ao espaço privado, longe da “tentação” do espaço público, fonte de saber e autonomia”.
Ainda para Fernandes (2021, p. 80):
O intuito aqui não é desvalorizar a teoria psicanalítica que atravessa essa tese e sim
olhar para o imaginário social vigente que se difere do início do século XX.
Com a entrada no mercado de trabalho, a luta feminista por direitos, a pílula anticon-
cepcional e as mudanças dos contratos matrimoniais a mulher foi no século XX conquistando
seu espaço público antes reservado para o masculino, o que produziu mudanças no modo
de relação das mulheres com a maternidade (FERNANDES, 2021 p. 80). Na atualidade,
novas configurações se evidenciam proporcionado as mulheres escolhas em relação a serem
mães. Porém, os participantes da pesquisa eram necessariamente mães e pais por buscar
entender as questões relacionadas a parentalidade. As falas dos participantes deixam de-
marcadas essas mudanças atuais, como se apresenta:
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“Nos dias de hoje, onde a mulher procura sua independência, não vejo mais diferença
entre as funções”. (sic)
“Na minha visão, a função é a mesma, a de suprir as necessidades de nossos filhos,
amar, respeitar e proteger”. (sic)
“Para mim, deveria ser a mesma. Mas não se aplica na realidade”. (sic)
Porém, em relação a experiência de exercer os cuidados com os filhos, se apresentou
com mais dificuldades para as mulheres. Apesar do avanço relatado, ainda o peso sobre
a mulher se faz presente no discurso neoliberal do equilíbrio que de fato não se mostrou
evidente nas falas. Importante pensar nas dificuldades que o discurso maternalista pode
significar também aos pais, pois durante a história o homem foi colocado distante do lugar
de cuidado, podemos pensar em desdobramentos significativos de despotencialização, e
até exclusão, da figura do pai na parentalidade.
Belo, Guimarães e Fidelis (2015, p. 9) no artigo “pode um pai ser cuidadoso” nos faz
um importante convite:
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não é um mal a ser combatido, mas sim um sofrimento a ser escutado”.
CONCLUSÃO
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“Não se ignora que este sentimento sempre existiu em todos os tempos, se não todo
tempo e em toda parte. Mas o que é novo, em relação aos dois séculos precedentes, é a
exaltação do amor materno como um valor ao mesmo tempo natural e social, favorável à
espécie e à sociedade. Alguns, mais cínicos verão nele, a longo prazo, um valor mercantil.
Igualmente nova é associação de duas palavras, “amor” e “materno”, que significa não só a
promoção do sentimento, como também a da mulher enquanto mãe. Deslocando-se insen-
sivelmente da autoridade para o amor, o foco ideológico ilumina cada vez mais a mãe, em
detrimento do pai, que entrará progressivamente na obscuridade.”
A mulher na atualidade continua carregando muitos imperativos conservadores. A pes-
quisa mostrou que parece ser valorizado socialmente são as mulheres que conseguem
acumular ao mesmo tempo todos esses ideais: serem mães, profissionais competentes e
autônomas” gerando um cotidiano exaustivo com culpa frente à constatação da impossibi-
lidade de ser tudo isso que exige dela.
Torna-se importante pensar nas necessidades e funções de cuidado que o bebê e a
criança demandam em seu desenvolvimento a partir de seus pais, porém manter o discurso
misógino ainda tão presente em nossa realidade além de sobrecarregar a mulher, contribui
também para o afastamento do homem desse lugar que pode ser tão importante para o
desenvolvimento não só da criança, mas também do próprio pai em sua subjetividade.
Importante destacar que o individualismo marca o contemporâneo e também ocupa a
vivência dos pais. A sociedade atual está fortemente marcada pela parentalidade em subs-
tituição a família como discutido anteriormente, isso significa que ocorreu um deslocamento
de uma perspectiva social para mais individualista.
Evidencia-se então o quanto a família ocupa o lugar centralizador dos males e sucessos
de nossa sociedade. É comum presenciar no cotidiano a existência de diálogos a respeito
da necessidade de “investir” na família, o que permite observar que são falas atravessadas
por perspectivas morais, religiosas e atualmente políticas. Observa-se como exemplo no
Brasil o discurso político moral que elegeu o atual presidente a partir da perspectiva de in-
vestimento na “família brasileira”.
Essa proposta moderna que coloca a família de forma responsável pelos males que
possam ocorrer aos seus filhos, pode ser considerada injusta a partir do momento em que
se compreende que nunca a parentalidade foi possível sem a conexão com as dimensões
culturais e sociais. Individualizar essa prática. É reforçar o discurso institucionalizador ca-
pitalista. As buscas pelas instituições e pessoas de apoio evidenciam a necessidade de
pensar a parentalidade como um fenômeno também coletivo, marcado evidentemente pelos
atravessamentos intersubjetivos.
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REFERÊNCIAS
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10. RIOS, Izabel Cristina. O amor nos tempos de Narciso. Interface - Comunicação,
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13. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cor-
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