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OS INSETOS DO NOSSO JARDIM: A PARTICIPAÇÃO DAS

FAMÍLIAS EM UM PROJETO DESAFIADOR NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Magali Kramer dos Santos 1 - PMB
Maristela Pitz dos Santos2 - PMB

Eixo – Educação da Infância


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este texto objetiva partilhar uma experiência em um Centro de Educação Infantil (CEI)
público do município de Blumenau/SC. A experiência a que nos referimos aconteceu na
turma do Vai e Vem, composta por vinte crianças de três e quatro anos. O mote central desta
experiência foi a participação das famílias no processo de pesquisa das crianças. Esta turma
decidiu, a partir do perfil da turma, realizar pesquisa sobre os insetos que habitam os jardins
do CEI. A partir disso as famílias foram convidadas a pesquisar junto com as crianças e a vir
até o CEI para apresentar os resultados das pesquisas. Esta ação de trazer as famílias para
dentro da instituição fundamenta-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(BRASIL, 1996) que em seu art. 12º assinala que é papel do professor: “VI – articular-se com
as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”. E
também na perspectiva de educação infantil italiana, na qual a educação infantil é formada por
três atores sociais fundamentais: as crianças, os professores e as famílias, o que eles
denominam de tripé. A Sociologia da Infância é o referencial teórico no qual ancoramos
nossas concepções de criança e infância. Assim, nestas partilhas de resultados foi perceptível
o envolvimento das famílias e a busca em trazer metodologias de apresentação que tivessem
foco na ludicidade, que buscassem dotar de sentido e significado para as crianças os
conhecimentos científicos. Após cada apresentação as professoras realizavam um movimento
com a turma chamado síntese da memória inspirada na metodologia Higth Scope, na qual elas
eram provocadas a falar sobre o que ficou da apresentação, ou seja, o que foi significativo
com a visita das famílias e em relação ao conhecimento científico ao qual foram colocadas em
interação.

Palavras-chave: Família. Educação Infantil. Pesquisa

1
Formada em Normal Superior, especialista em Gestão, Orientação e Supervisão Pedagógica e especialista em
Gestão do Ensino a Distância. Professora do Centro de Educação Infantil Emília Piske da cidade de Blumenau,
SC. Email: santosmagali@yahoo.com.br
2
Mestre em Educação pelo PPGE/FURB, com pesquisa na área da Sociologia da Infância, Professora de
Educação Infantil no município de Blumenau/SC, coordenadora do PIBID/FURB subprojeto educação infantil,
pesquisadora no Núcleo de Estudos Interdisciplinar da Criança e do Adolescente – NEICA/FURB e do Grupo de
Pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade – PPEC/FURB. Email: prazerdeler@hotmail.com

ISSN 2176-1396
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Iniciando a conversa

Este texto objetiva partilhar uma experiência em um Centro de Educação Infantil


(CEI) público do município de Blumenau/SC. A experiência a que nos referimos aconteceu na
turma do Vai e Vem, composta por vinte crianças de três e quatro anos. O nome de turma foi
escolhido a partir do perfil da turma quando estes eram ainda bebês e este nome acompanha
as crianças desde então. Todos os anos as professoras verificam se as crianças continuam a se
(re)conhecer com este nome de turma e caso isso não aconteça um novo nome é decidido pelo
grupo.
O mote central dessa experiência é a participação das famílias no projeto de pesquisa
da turma e no processo de construção do conhecimento das crianças. Esta turma decidiu, junto
com suas professoras e a partir do perfil do grupo, realizar pesquisa sobre os insetos que
habitam os jardins do CEI. A partir disso as famílias foram convidadas a pesquisar junto com
as crianças e a vir até o CEI para apresentar os resultados das pesquisas. Esta ação de trazer as
famílias para dentro da instituição fundamenta-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1996) que em seu art. 12º assinala que é papel do professor: “VI –
articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade
com a escola”. E também na perspectiva de educação infantil italiana, na qual a educação
infantil é formada por três atores sociais fundamentais: as crianças, os professores e as
famílias, o que eles denominam de tripé. Nesta proposta a imagem de criança é muito forte,
no sentido de acreditar nas capacidades das crianças de construir seu conhecimento em
parceria com o outro. Assim,
Este enfoque pede que os adultos – tanto os professores quanto os pais – ofereçam-
se como pessoas que sirvam de referenciais aos quais as crianças podem (e desejam)
voltar-se. A tarefa destas pessoas não é simplesmente satisfazer ou responder
perguntas, mas, em vez disso, ajudar as crianças a descobrir respostas e, mais
importante ainda, ajudá-las a indagar a si mesmas situações relevantes (RINALDI,
1999, p. 114)

Nestas partilhas de resultados foi perceptível o envolvimento das famílias e a busca


em trazer metodologias de apresentação que tivessem foco na ludicidade, que buscassem
dotar de sentido e significado para as crianças os conhecimentos científicos. Após cada
apresentação as professoras realizavam um movimento com a turma chamado síntese da
memória inspirada na metodologia High Scope:
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Rever – o quê e porquê – resumo: o que é e porque é importante? Lembrar e refletir


sobre acções e experiências. Associar planos, acções e resultados. Falar com o outro
sobre experiências significativas do ponto de vista pessoal. Formar imagens mentais
e depois expressá-las verbalmente. Expandir a consciência para além do tempo
presente (HOHMANN; WEIKART, 1997, P. 343).

Neste processo as crianças são provocadas a falar sobre o que ficou da apresentação,
ou seja, o que aprenderam com a visita das famílias e sobre o conhecimento científico ao qual
foram colocadas em interação.

Diálogo com a Sociologia da Infância


Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorre uma mudança na forma de
educação das crianças pequenas que, anteriormente restrita à família, torna-se então uma
prática coletiva e institucionalizada. Ao sair de casa para o trabalho as mulheres levam
consigo seus filhos pequenos, que tem agora suas vidas organizadas pelos horários de trabalho
dos adultos, por vezes fazendo o mesmo percurso de seus pais, pois as instituições educativas
nas quais passam o dia ficam, em muitas situações, próximas ao local de trabalho da mãe ou
do pai e longe da residência da família. Crianças tão pequenas que precisam acordar cedo para
acompanhar um ritmo mercantil que não é seu. Como afirma Mollo-Bouvier (2005, p. 396)
“[...] exigências sociais que ajeitam a vida das crianças em função da dos adultos e das
necessidades de trabalho”.
Hoje não vemos mais as crianças brincando livremente nas ruas, nas “trocinhas” como
assinalou a pesquisa de Florestan Fernandes ([1961], 2004), pioneiro, no Brasil, nos estudos
sobre as “culturas infantis”. Sua pesquisa, nos anos 40, aponta a rua como um local também
de socialização das crianças, além da família e da escola. Mas, a sociedade na qual estamos
imersos, compreende que a rua é hoje um local não seguro para as crianças e não permite
mais esta forma de socialização livre dos olhos adultos.
Assim, a infância hoje está cada vez mais vigiada e confinada às instituições
responsáveis por ela: a família, a escola e as instituições de educação infantil, sendo esta
última um local no qual as crianças pequenas passam, em muitas situações, de sete a doze
horas por dia. Isso nos aponta este tempo como determinante na educação e socialização das
crianças pequenas e as instituições de educação infantil como espaços coletivos importantes
para o encontro da cultura de pares infantis e para a vivência da infância moderna, no sentido
de nestas instituições as crianças terem a possibilidade de estar com outras crianças.
As instituições de educação infantil possuem uma lógica própria definida por meios
oficiais que determinam as formas como os adultos irão gerir a vida das crianças. Nesta
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direção manter um diálogo aberto com as famílias é fundamental para entender como as
crianças interagem neste espaço e o que levam deste lugar no qual passam bastante tempo de
sua infância. A partir desse olhar poderemos viabilizar a “construção de um espaço educativo
mais democrático e mais potencializador de uma igualdade de oportunidades para os grupos
com menos poder na sociedade” (FERREIRA, 2009, p.160).
Com o marco teórico da Sociologia da Infância a infância é considerada uma
construção histórica, cultural e social e que as crianças são atores sociais. Nesta direção as
instituições de educação infantil contribuem para esta construção social da infância e para a
definição das crianças como atores sociais potentes.
O CEI, no qual a turma do Vai e Vem frequenta, foi inaugurado no ano de 2005, está
situado na região norte do município e é conhecido por proporcionar às crianças um amplo
espaço externo e uma proposta pedagógica centrada nas linguagens, nas interações e nas
brincadeiras e na ampliação do repertório cultural das crianças, das famílias, dos profissionais
de educação que ali trabalham e da comunidade.

“Porque ele morde a gente?” - Como surge o projeto

Ao iniciar o ano o desafio de pensar um projeto desafiador e que seja centrado nos
interesses das crianças, se coloca diante das professoras de educação infantil. Para dar conta
deste desafio a primeira ação das professoras é elaborar o perfil da turma, centrado na
observação atenta e cuidadosa das crianças em movimentos de brincadeiras, interações, nas
vivências das propostas elaboradas pelas professoras, das narrativas das crianças individuais e
coletivas, em rodas de conversa, na escuta de histórias, durante a alimentação e a higiene. Pois
pode ser que numa destas ações surja um interesse que é comum.
Lembrando que o espaço, suas organizações, os materiais diversos disponibilizados, os
movimentos propostos contribuem e muito para uma boa escolha de projeto. Deixar a criança
se sentir inteira vivendo intensamente o espaço, deixar o corpo experimentar, explorar se
contaminar com o novo. Esta forma de ter na criança a centralidade das propostas está
alicerçada nas DCNEI (BRASIL, 2009, p. 6) na qual,

O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que


buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos
que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Tais
práticas são efetivadas por meio de relações sociais que as crianças desde bem
pequenas estabelecem com os professores e as outras crianças, e afetam a construção
de suas identidades.
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Os primeiros registros dos relatos das crianças vêm cheios de ações, conversações,
conhecimentos, experimentações, interações, fantasias, momentos vivenciados e explorados
em cada espaço e com cada objeto pelas crianças da turma. O desafio das professoras é dar
visibilidade aos conhecimentos das crianças e desafiá-las a ampliar seus repertórios.
A turma Vai e Vem, é composta por vinte crianças de três e quatro anos. É um grupo
bastante participativo, questionador, que aprecia uma boa novidade, que quer saber mais
sobre os elementos da natureza, sobre as dúvidas que trazemos e ampliar seus conhecimentos
de mundo. E esses conhecimentos vividos dentro do espaço de educação infantil chegam às
famílias que passam a conhecer o nosso dia-a-dia através dos relatos dos filhos, do que veem
publicado nas paredes do CEI e do livro da vida. O livro da vida é a documentação
pedagógica que cada turma tem e é compartilhada com as famílias que levam para casa para
ler e acompanhar alguns recortes do dia-a-dia com registro escrito e fotográfico. A família
também escreve no livro da vida, deixa seu registro de como vê a participação da criança nos
projetos da instituição.
Na construção do perfil de turma observamos que as crianças mostravam um grande
interesse em saber mais sobre os insetos que estavam frequentes em nossos espaços de sala, e
nos espaços externos da instituição, nos parques, no bosque, na areia e no barranco.
Revisitando os registros no livro da vida nos deparamos com as seguintes falas:

- Pro o mosquito me mordeu, está coçando. Porque ele morde a gente? Eu não
gosto desses insetos mosquito no bosque. Tem muita mosca agora. Essa é uma
formiga, ela morde. Que inseto é esse, Prof? Tem uma aranha, a aranha é um
inseto? O inseto voa, eu vi ele voar. A minhoca, este inseto é uma minhoca.

Com os registros das narrativas das crianças as professoras percebem que há um mote
para um projeto de pesquisa, que seja do interesse delas e que abarque muitos conhecimentos
científicos. Além das falas também observamos o interesse pelos insetos nas rodas de leitura,
sempre que eles apareciam em alguma literatura infantil, principalmente nas
ilustrações/imagens ou como personagens principais da história as crianças logo apontavam e
os (re)conheciam como insetos.
Assim, nos momentos de planejamentos coletivos, alimentadas por estas informações
buscamos dar início ao projeto da turma. Então levamos às crianças, em roda de conversa, a
possibilidade de iniciarmos um projeto de pesquisa e construção sobre os insetos envolvendo
a comunidade escolar principalmente as famílias, que terão uma participação bastante efetiva
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neste projeto. Decidimos coletivamente denominar o projeto de “Os Insetos do Nosso


Jardim”.

Os insetos do nosso jardim

Um projeto científico surge a partir de questionamentos, dúvidas e também algumas


certezas. As certezas são advindas das observações. Para que as crianças pudessem observar
cotidianamente os insetos construímos o espaço da pesquisa, nele colocamos livros nos quais
realizamos pesquisa e leitura para o grupo, lupas, insetos recolhidos no espaço do CEI - um
espaço entomológico – que é uma coleção de insetos. Esta coleção foi criada com a
participação e envolvimento de muitos: algumas famílias contribuíram, professores e
funcionários do CEI, até as crianças de outras turmas conhecendo o projeto contribuíram com
insetos e objetos relacionados aos insetos. Destacamos que orientamos as crianças e demais
colaboradores do projeto a não matar nenhum inseto, somente coletar os que já estavam
mortos.
Além das questões levantadas anteriormente as crianças trouxeram mais alguns
questionamentos: como os insetos se reproduzem, como eles vivem, como são construídas
suas casas, qual sua contribuição para a vida do homem e da natureza. Com esses elementos,
em uma das reuniões de planejamento, surge a preocupação de como acontecerão as pesquisas
e como trazer essas informações científicas para as crianças em idade de três e quatro anos de
forma simples e significativa. Também descobrimos, enquanto professoras pesquisadoras, que
as diversidades de insetos são numerosas e se apresentam na natureza com muitos elementos e
contribuições diversas. É neste momento que surge então a possibilidade da participação das
famílias e das crianças fazerem este papel de pesquisadores e contribuírem de forma ativa
dentro do projeto e no espaço da instituição tornando-se atores deste processo de
aprendizagem. Pois, acreditamos que:

A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que se


desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por
ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos
culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água ou
terra, faz-de-conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, questiona,
constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo
cultura (BRASIL, 2009, p.5 e 6).

Kramer (2006, p.803) também faz esta discussão acerca da criança como ator social
potente:
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O questionamento e a busca de alternativas críticas têm significado, de um lado, o


fortalecimento de uma visão das crianças como criadoras de cultura e produzidas na
cultura; e de outro, tem subsidiado a concretização de tendências para a educação
infantil que procuram valorizar o saber que as crianças trazem do seu meio
sociocultural de origem.

A partir deste conceito de criança potente, realizamos diálogo com as famílias para
que estas estivessem conosco, com o objetivo de dar respostas às questões levantadas pelas
crianças acerca dos insetos que habitam o jardim do CEI.
Quando levamos a proposta ao conhecimento das famílias, em reunião de pais,
obtivemos um retorno muito positivo, lembrando que a apresentação da pesquisa deveria ser
dentro do horário normal de atendimento às crianças, de preferência às dez horas da manhã
para que não interferisse na organização do CEI e possibilitando assim a presença de todas as
crianças da turma, pois o horário de chegada das crianças varia até este horário. Para este
movimento acontecer com a participação da família não somente na pesquisa, mas também na
apresentação dos seus resultados os familiares sentiram também a necessidade de
organizarem-se nos horários de trabalho e nos afazeres do dia-a-dia.
Consciente de como seria este movimento dentro do projeto, cada família escolheu o
inseto a ser pesquisado, dentre uma lista de vinte insetos sugeridos pelas professoras. A
escolha pelo inseto a ser pesquisado possibilitou às famílias trazerem elementos de alguns
insetos que já faziam parte do seu dia-a-dia do seu cotidiano, ou uma relação com algum
acontecimento familiar, ou que tragam alguma curiosidade, como foi o caso de uma menina
cuja família escolheu pesquisar a abelha, pois em sua casa haviam colmeias.
As organizações das apresentações foram feitas pelas professoras, acordamos com as
famílias que seriam em dois dias da semana, sempre nas segundas e nas quartas-feiras, os pais
foram informados da data da apresentação que iniciou em maio e vai até a segunda semana de
junho. É importante destacar que esta organização das datas e dias da semana é flexível e
sempre que as famílias solicitaram as professoras organizaram outros horários e dias
diferentes dos que acordados inicialmente, visando favorecer a organização que a família
obteve no seu local de trabalho.
A primeira família apresentou a pesquisa da cigarra, e foi informada da sua data
quarenta e cinco dias antes, tempo para se organizarem tanto com a pesquisa quanto com a
apresentação; também foi exposto na entrada da sala o calendário informando todas as datas.
Neste calendário constam o nome do inseto, o nome da criança que o está pesquisando e a
data da apresentação. Mesmo com toda essa organização, uma semana antes da data, as
professoras lembram as famílias e a criança que está próximo da sua apresentação, também
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neste momento oferecem ajuda, caso a família tenha alguma dúvida ou necessite de algum
recurso tecnológico.
O dia da primeira apresentação vem com muitas expectativas, a criança Aline dá
algumas dicas de como vai ser a sua apresentação: “tem que escutar bastante, eu vou ser uma
cigarra com roupa de cigarra”. A sala é organizada em forma de meia lua que sugere uma
plateia, com espaço suficiente para a família organizar a sua apresentação. Nesta
apresentação, fomos surpreendidos com um teatro de fantoche, o pai, a mãe e a filha,
apresentam sua pesquisa sobre a cigarra, cada um sendo um personagem do teatro; as crianças
na plateia ficam encantadas, e participam também quando provocadas.
Este início já nos mostrou que as apresentações serão carregadas de surpresas e a
expectativa com as próximas aumenta, com o empenho, interesse e criatividade das famílias.
Nas apresentações seguintes as famílias utilizaram outros recursos, tais como, projetor,
cartazes, imagens, culinárias, objetos que representavam o inseto pesquisado, músicas,
procurando sempre utilizarem-se de linguagens apropriadas às crianças, sem no entanto
infantilizar ou apequenar as crianças, ou seja, acreditando nelas como seres potentes e capazes
de compreender os conhecimentos científicos.
Em todas as apresentações, ficou clara a preocupação em levar as informações às
crianças de três e quatro anos de forma que facilite o entendimento, sendo simples e muitas
das vezes comparativas com as vivências das crianças. A ludicidade esteve presente em quase
todas as apresentações vividas até o momento pelas crianças da turma do Vai e vem.

Finalizando

A participação das famílias vem acrescentar muito sentido neste processo não
somente como contribuição da pesquisa, mas como um agente ativo que possibilita a
proximidade da instituição de educação infantil com a família.
Algumas famílias, um número bem reduzido, se mostraram um pouco retraídos em
participar deste movimento, acreditamos que isso seu deu pelo fato da pesquisa não fazer
parte do seu cotidiano, e também a preocupação de serem avaliados, ou seja, a preocupação
de fazer o certo. Este tipo de avaliação não acontece, nesta instituição de educação infantil.
Pois consideramos que todo movimento vem de forma a ampliar culturalmente,
cientificamente e na socialização.
Como a criança é o centro das ações pedagógicas, se a família não conseguiu
contribuir a pesquisa era realizada pela professora junto com a criança e as duas realizavam a
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apresentação para o grupo. Tivemos ainda famílias que fizeram a pesquisa, organizaram
cartazes, mas não conseguiram vir até o CEI para apresentar junto com a criança, nestas
situações as crianças apresentavam junto com a professora.
Este projeto está em andamento, ainda faltam algumas crianças apresentaram os
insetos pesquisados. Para finalizar o projeto planejamos mais dois movimentos. O primeiro é
construir uma escultura de um inseto gigante que tenha elementos de todos os insetos
pesquisados. O segundo será visitar o Museu Fritz Muller, no qual há uma coleção de insetos
que o pesquisador Fritz Muller constituiu ao longo de sua vida na cidade de Blumenau.
O trabalho com projetos de pesquisa, na educação infantil, tem como objetivo
possibilitar a criança o encontro com o ato da pesquisa, ou seja, fazer com que ela saiba que
sua curiosidade tem resposta e que esta resposta vem através da pesquisa. Nesta direção a
pedagogia italiana também nos inspira:

Sob o nosso ponto de vista, o trabalho em projetos visa a ajudar crianças pequenas a
extrair um sentido mais profundo e completo de eventos e fenômenos de seu próprio
ambiente e de experiências que mereçam sua atenção. Os projetos são a parte de
currículo na qual as crianças são encorajadas a tomarem suas próprias decisões e a
fazerem suas próprias escolhas, geralmente em cooperação com seus colegas, sobre
o trabalho a ser realizado. Presumimos que este tipo de trabalho aumenta a confiança
das crianças em seus próprios poderes intelectuais e reforça sua disposição em
continuar aprendendo (KATZ, 1999, p. 38).

Para as professoras é sempre uma possibilidade de ampliar seus conhecimentos, pois


nunca pesquisamos o que já sabemos, trilhamos sempre caminhos desconhecidos que nos
levam ao encantamento da descoberta.

REFERÊNCIAS

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1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília : MEC, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional da Educação. Diretrizes


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DF 2009.

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