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Agnès Aflalo
O inconsciente interpreta
Pontuar
Cortar
Na era pós-interpretativa, a interpretação analítica funciona pelo avesso do
inconsciente. Ela se instaura a partir da primeira interpretação que ele produz. A
interpretação não se apoia mais tanto na pontuação quanto no corte[8]. O
matema do discurso permite apreender que o corte passa entre S1 e S2.
O corte determina a lógica da sessão. E há duas possibilidades: ou a
interpretação corta a ligação entre S1 e S2, e a sessão é uma unidade
assemântica que reconduz o sujeito à opacidade do gozo do sinthome. Ele deve
então ser cortado antes de ser arrematado para enxugar o sentido. Ou a sessão
é uma unidade semântica e a interpretação produz um segundo significante que
faz pontuação e alimenta o sentido a serviço do Nome-do-pai. Esses dois
caminhos se opõem.
O dever de interpretar
O analista depende de seu ato para fazer existir o discurso analítico porque
a transferência e a interpretação estão diretamente ligadas. O analista faz surgir
o inconsciente real, e deve fazê-lo passar ao inconsciente transferencial e
retorno. Porque para reduzir o sentido do sintoma à contingência de um
acontecimento de corpo do sinthome, é preciso também saciar a sede do
sentido. Única chance para que o analisante faça retorno ao inconsciente real,
no espaço onde um lapso não terá mais nenhum sentido ou interpretação[9]. A
interpretação, seja na forma de uma pontuação, de uma escansão ou de um
corte varia conforme o inconsciente seja real ou transferencial. Mas em todos os
casos, ela não é uma técnica, mas uma ética. É por isso que Lacan nos lembrou:
o analista tem o dever de interpretar[10]. Trata-se da finitude da análise e, para
além disso, da existência do discurso analítico.
Notas: