Você está na página 1de 8

A oralidade na psicose: considerações clínicas de M.

Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

A oralidade na psicose:
considerações clínicas de M.
Home (https://escolalacanianabsb.com.br) / A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak

Czermak

A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak[1]


André V. L. Niffinegger

Psicanalista e membro da ELP-Brasília

RESUMO: Para abordar a oralidade na psicose em sua dimensão psicopatológica, a clínica do divã cede o
passo à clínica em instituição psiquiátrica, local por excelência para a escuta do paciente psicótico. Para
isso, será indispensável galgar aos ombros de gigantes. Marcel Czermak, contemporâneo de Lacan e seu
colega no serviço psiquiátrico do hospital Sainte-Anne, é um desses gigantes que não se desencorajou
frente ao desafio de descrever as estruturas psicóticas por meio da articulação das máximas e conceitos
lacanianos com a realidade do tratamento clínico. Em artigos do seu livro Patronymies, considérations
cliniques sur les psychoses, M. Czermak estuda a oralidade e sua estruturação nas categorias
nosográficas da mania e da melancolia – em especial a síndrome de Cotard. Nesse contexto, questiona se
há justificativas para teorizar a pulsão na psicose nos mesmos termos em que se estrutura na neurose. A
partir da leitura dos artigos recolhidos em Patronymies, proponho apresentar o modo como o autor
problematiza o registro da oralidade e a indistinção (despécification) da pulsão oral na psicose a partir de
casos clínicos.

Excertos clínicos

“(…) fui hospitalizada em urgência porque tive a impressão de que eu comia meu corpo. Foi muito
doloroso.” É o que diz Cary, diagnosticada com psicose alucinatória crônica. Sua impressão é imaginária;
porém, de que ordem é a percepção da mastigação do corpo? A frase “comia meu corpo” remete à

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 1 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

eucaristia: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. No caso de Cary, a expressão simbólica da presença divina
cede lugar à automastigação, percebida como real.

Doly está em menopausa e sofre de dores lombares. Um tratamento via oral por células embrionárias
desencadeia um delírio de fecundação: um embrião passeia por seu corpo e produz distúrbios de que ela
se queixa. Apesar da confusão de orifícios e da errância do embrião, ela não duvida de sua experiência de
um objeto realmente presente.

Sofrendo da síndrome de Cotard, Aki nega as funções orais: “Não tenho uso da fala, às vezes não consigo
falar. Quando alguém fala do meu caso, eu respondo outra coisa, fico de bico calado (bouche cousue)”.
Para se esquivar de uma transexualização que o ameaça, ele se identifica ilusoriamente a um homem ao
acaso por meio da seguinte estratégia: “Antes eu incorporava os homens, seus espíritos (…) eu me coloco
no interior dos homens, incorporo sua alma… então eu o deixo para incorporar outro”. Trata-se da
oralidade do olhar: comandado por um olhar, ele abocanha e solta, como uma boca que absorve realmente
os objetos.

Milou, perturbado pelo “mistério da linguagem”, ilustra a confusão das funções. Tal como Cary, a boca
migra para dentro do corpo, onde se multiplica nas infinitas bocas das “mosaraignes”[2]. Há palavras,
neologismos, que comem o alimento ingerido e às quais ele atribui caráter real. Ele afirma que tudo que
passa pelo cavum[3] é contaminado pelos neologismos e diz: “Cada respiração provoca um ‘sonuit’
maléfico, um perigo para o corpo”. Suas frases ilustram que a função vocal da oralidade, sem lastro
simbólico, precipita-se em uma catástrofe real.

À luz desses fragmentos clínicos[4], o que pensar da oralidade psicótica? Diferenciam-se da oralidade dos
neuróticos, para os quais a boca tem funções e objetos próprios? Como o psicótico considera seus orifícios
cuja presença real coexiste, na sua fala, com a negação do funcionamento? No cavum coexistem as
funções alimentar, respiratória e vocal da oralidade. Essa coexistência é normalmente óbvia, mas se daria
o mesmo na psicose? A observação dos pacientes causa perplexidade e levanta questões.

Neste estudo a respeito da oralidade psicótica, a clínica do divã cede o passo a clínica em instituição
psiquiátrica. Recorro ao pensamento de M. Czermak registrado em seus escritos e em transcrições do
ensino oral em seminários. Em capítulo de seu livro Patronymies, considérations cliniques sur les
psychoses, Czermak estuda a oralidade nas categorias nosográficas clássicas da mania e da melancolia –
em especial a síndrome de Cotard. Veremos como o autor problematiza o registro da oralidade e a
indistinção dos furos (despécification des trous) na psicose.

Organismo e discurso

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 2 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

Parece óbvio que nossos orifícios anatômicos coincidem com os furos topológicos. Nas melhores
hipóteses, bem ou mal, eles se superpõem. Contudo, a experiência clínica demonstra que há sujeitos para
os quais não há essa coincidência. Hipótese que implica a questão de saber o que é um furo para o
parlêtre[5]. Para tentar respondê-la, Czermak avança uma fórmula que ele atribui a Lacan: « les pulsions ne
se raccordent à nos orifices que par faveur anatomique »[6]. De fato, a coincidência entre os efeitos da
linguagem e a anatomia não é da ordem do necessário. Um favor não equivale a uma obrigação e,
efetivamente, o que nós consideramos ser orifícios naturais não os são senão em relação às nossas
certezas neuróticas. Ora, há sujeitos preenchidos, plenos, que não possuem mais do que um orifício ou até
mesmo nenhum, como veremos adiante.

Admitindo que a linguagem subverte o organismo biológico, Czermak, apoia-se em uma passagem[7] do
L’étourdit, em que Lacan trata da pulsão, e afirma que um psicótico é alguém cujo funcionamento dos
órgãos não está ordenado por um discurso. Ou seja, sem o discurso apropriado, nossos órgãos
apresentam disfunções, fato que explica que há psicóticos com desordens biológicas gravíssimas ao ponto
de se registrar casos de mortes súbitas sem razão aparente.[8]

Mania, objeto a e desaparecimento da pulsão

Czermak relata dois casos de mania em que os pacientes engoliam caoticamente a comida sem mesmo
mastigá-la, ao ponto de acarretar asfixia por alimentos aspirados pela traqueia. O sistema orodigestivo não
tinha seu funcionamento garantido por um discurso. Nas manifestações de dispraxia, rotas alteradas[9],
oclusões, mortes súbitas, notam-se os efeitos da destruição do discurso que assegura a funcionalidade dos
órgãos. Nesses casos, segundo Czermak, o discurso é descontinuado pela reintegração do objeto a na
cadeia falada.

Ao passo que os objetos a lastreiam – por sua subtração – as funções vitais, nos casos considerados se dá
o inverso e revela-se a ausência de toda naturalidade de uma funcionalidade pulsional, não mais lastreada
pela subtração do objeto a que a colocaria em tensão. Para Czermak, nesse ponto, a pulsão não é a
ferramenta conceitual adequada para compreender os imperativos psicóticos e o modo não fálico de gozo
do corpo.

A mania é a psicose por excelência quando se trata de oralidade, de avidez, de gulodice, de “refeição
totêmica”[10]. Há autores que levantam a hipótese, nesse caso, de uma “liberação pulsional”. Quanto à
psicose, Czermak não se convence pela doxa freudiana e defende que, em vez de desintricação pulsional,
trata-se de um desaparecimento ou deserção (défection) pulsional.[11]

A que assistimos em uma mania? Àquilo que a tradição alemã chama de “fuga das ideias”. A cadeia de
significantes desorienta-se e discorre por homofonias e assonâncias, sem metáforas. Na lição de 3 de julho
de 1963 do seminário L’Angoisse, Lacan fala da metonímia pura, infinita e lúdica da cadeia significante. O

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 3 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

sujeito não mais apresenta ritmo, pulsação ou escanção apropriada. Nada fecha ou define a significação.
Estamos diante de um descosturamento (décapitonnage): S (Ⱥ) é expelido.

Faltando a incorporação simbólica, é o real do objeto que ocupa o maníaco, haja vista a ausência do objeto
não mais lhe servir como lastro. Nas palavras de Czermak:

En fait, faute justement d’incorporation symbolique, d’incorporation du père, c’est le réel de l’objet, qui ne le
leste plus par son absence, qui vient l’occuper. Il est envahi par le torrent du “langage”, devenu objet réel, et
du coup sans articulation, sans coordination, sans sériation, sans comptage.[12]

Czermak nos convida a não atribuir ao maníaco aquilo cuja autoria não lhe pertence, pois é ele que é o
objeto devorado vivo pelo Outro. Em vez de dizermos que o maníaco come, exige, tiraniza, etc., seria mais
apropriado dizer: isso (ça) o come, isso lhe exige, isso o tiraniza. O que seria então esse “isso”? O
imperativo da demanda de a, porque não há para ele mais do que o a real que lhe comanda. Seu mundo é
contingente e sem hierarquia funcional. Apelando aos matemas lacanianos, diremos que, não havendo
mais S (Ⱥ), não há mais $ ◊ a (isto é, não há fantasia), e também $ ◊ D (não há mais demanda nem
pulsão). O sujeito equivale ao objeto, que equivale a uma “demanda” imperativa e sem um além à
demanda (sans au-delà). Sem S1 e S2, se todos os significantes são mestres, não há mais significante-
mestre.[13]

Síndrome de Cotard e esfericidade

Por fim, Czermak ensina que os exemplos mais extremos da indistinção dos orifícios corporais ocorrem na
síndrome de Cotard, uma melancolia gravíssima em que há a negação dos orifícios e dos órgãos ou até a
negação da existência do sujeito que dirá: “Eu estou morto, eu não existo mais”, ou ainda que se acreditam
imortais como um morto-vivo. Esse delírio de “negações” é a afirmação absoluta de um corpo que sofre de
uma compacidade extrema: pleno, sem furo, que demonstra que a maior das dores é a de ser sem falta.
Fenômenos habitualmente qualificados de hipocondríacos, Czermak refere-se a eles como “fenômenos de
preenchimento”[14] dos orifícios (que o objeto reintegra).

Ainda nos casos de Cotard, há psicóticos cujos orifícios ditos naturais tendem a uma unicidade
funcional[15], i.e., todas as funções são atribuídas a um só orifício. Em exemplos extremos há sujeitos que,
em sua esfericidade negativa[16], acreditam ser plenos tendo as orelhas, os olhos, a boca, todos
preenchidos, atingindo uma compacidade que o leva inevitavelmente a se perfurar, p. ex., com
automutilações, ou como Czermak diria, a pedir que o sacrifiquem para com isso produzir um furo no
universo.[17]

Em síntese, a síndrome de Cotard ilustra que não há nada óbvio a respeito do que seja um corpo, pois sua
anatomia – no caso, de modo mais extraordinário do que a anatomia histérica imaginária – revela-se sob a
dependência da queda do objeto que Lacan chamou objeto “a”, queda, cuja ausência gera um corpo sem

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 4 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

orifícios e de uma densidade intolerável. Na hipótese de este objeto não ter sido subtraído pelo recorte
fálico induzido pela operação do Nome-do-Pai, o corpo se erige em uma esfera. Em resumo, a síndrome
de Cotard assinala a mais depurada estrutura do corpo psicótico. Nos termos utilizados por Czermak, não
um corpo tórico, euclidiano, o corpo “em ereção” (trique) do neurótico, mas um corpo não euclidiano
manifestando que em nada falta ao real, fora a falta ela mesma.[18]

Decorre claramente dos exemplos clínicos a especificidade da oralidade psicótica e a fortiori, a radical
diferença da estruturação do corpo na psicose em relação à neurose. Sua particularidade, a confusão dos
orifícios e dos objetos corresponde ao que é específico da psicose: os efeitos da preclusão[19] (forclusion)
do Nome-do-Pai. A confusão dos objetos a, dos orifícios, dos registros da oralidade são epifenômenos da
impossibilidade da metáfora paterna.

Bibliografia:

BELZEAUX Patrice, « La personnalité et la psychose maniacodépressive dans les Etudes psychiatriques


d’Henri Ey », L’information psychiatrique, 2008/3 (Volume 84), p. 253-258. URL :
https://www.cairn.info/revue-l-information-psychiatrique-2008-3-page-253.htm (https://www.cairn.info/revue-
l-information-psychiatrique-2008-3-page-253.htm)

CZERMAK Marcel, « Oralité et psychose » in: Patronymies. Considérations cliniques sur les psychoses,
sous la direction de Czermak Marcel. Toulouse, ERES, « Psychanalyse », 2012, p. 151-202.

________________, « Remarques impertinentes sur l’objet a », La revue lacanienne, vol. 15, no. 1, 2014,
pp. 127-135.

________________, « Pourquoi m’as-tu si mal foutu ? », Journal français de psychiatrie, 2002/3 (no17), p.
31-32. URL : https://www.cairn.info/revue-journal-francais-de-psychiatrie-2002-3-page-31.htm
(https://www.cairn.info/revue-journal-francais-de-psychiatrie-2002-3-page-31.htm)

________________, « Remarques cliniques sur la question de la vie et de la mort », Journal français de


psychiatrie, 2010/4 (n° 39), p. 3-7. URL : https://www.cairn.info/revue-journal-francais-de-psychiatrie-2010-
4-page-3.htm (https://www.cairn.info/revue-journal-francais-de-psychiatrie-2010-4-page-3.htm)

________________, « Déspécification des trous du corps », Figures de la psychanalyse, 2004/2 (no10), p.


87-91. URL : https://www.cairn.info/revue-figures-de-la-psy-2004-2-page-87.htm
(https://www.cairn.info/revue-figures-de-la-psy-2004-2-page-87.htm)

FRIGNET, Henri. “Traitement psychanalytique des psychoses”, Ecole Psychanalytique du Nord, Pas-de-
Calais et de la Somme, le 26 novembre 2004. URL : http://ecole-psy-nord.asso.fr/texte/ (http://ecole-psy-
nord.asso.fr/texte/)

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 5 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

LACAN, Jacques. “L’Angoisse”. URL: http://www.valas.fr/IMG/pdf/s10_l_angoisse.pdf


(http://www.valas.fr/IMG/pdf/s10_l_angoisse.pdf)

_____________. « Subversion du sujet et dialectique du désir dans l’inconscient freudien » URL:


http://ecole-lacanienne.net/wp-content/uploads/2019/06/5-1960-66.-Lacan.-Subversion-du-sujet-et-
dialectique-du-d%C3%A9sir-2019.pdf

[1] Marcel Czermak é “psychiatre des hôpitaux honoraire” no hospital Sainte-Anne de Paris, psicanalista,
membro da Association Lacanienne Internationale-ALI e fundador da École psychanalytique de Sainte-
Anne. É co-redator do Journal français de psychiatrie. Foi aluno e colaborador direto de J. Lacan,
especialmente na teorização e tratamento da psicose.

[2] Musaranho é a designação comum a pequenos mamíferos insetívoros de pelagem densa, olhos
pequenos, patas curtas e focinho longo e móvel. No francês, musaraigne.

[3] O cavum ou nasofaringe é a porção nasal da faringe, situada acima do palato mole e que se abre na
cavidade nasal.

[4] Os excertos foram resumidos e traduzidos livremente a partir do capítulo “Oralité et psychose” do livro de
Marcel Czermak, Patronymies. Considérations cliniques sur les psychoses, listado na bibliografia.

[5] Neologismo de J. Lacan em que se unificam as palavras francesas parler e être, cujo propósito, dentre
outros, é de indicar que o ser humano é organizado pela linguagem e a fala.

[6] Czermak Marcel, « Déspécification des trous du corps », Figures de la psychanalyse, 2004/2 (n.10)

[7] “Il n’y a pas rapport sexuel, ceci du fait qu’un animal a stabitat qu’est le langage, que d’habiter, c’est
aussi bien ce qui, pour son corps, fait organe, organe qui pour ainsi lui ek-sister, le détermine de sa fonction
ce, dès avant qu’il la trouve. C’est même de là qu’il est réduit à trouver que son corps n’est pas sans autres
organes et que leur fonction, à chacun, lui fait problème, ce dont le schizophrène se spécifie d’être pris
sans le secours d’aucun discours établi.”(Texto citado por Marcel Czermak em seu artigo « Remarques
cliniques sur la question de la vie et de la mort », Journal français de psychiatrie, 2010/4 (n° 39), p. 3-7).

[8] Idem.

[9] Czermak refere-se a fausses-routes tão frequentes em pacientes melancólicos, em que, sem existir
lesão nervosa, o objeto oral destinado ao trato digestivo passa pelos brônquios e aquele destinado aos
brônquios passa pelo esôfago: indistinção do cavum que testemunha a unicidade do objeto na sua

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 6 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

polivalência, apto a desorganizar a reflexologia.

[10] Citando o psiquiatra Henri Ey, Belzeaux esclarece a noção do repas totémique: « les profondes études
de Binswanger nous renvoient nécessairement à la gloutonnerie, à la ‘grande gueule’, à cette insatiable soif
de ‘tout avaler’ qui est (…) la base existentielle de la crise de manie. Le ‘repas totémique’, le ‘festin
cannibalique’, l’incorporation de l’objet aimé sont bien les types mêmes de cet appétit libidinal primitif qui se
rue sur son objet et le dévore pour en jouir de telle sorte que la conquête du monde maniaque des objets se
fait ici ‘tout de go’, dans l’élan d’un immense besoin de se rendre maître de tout, de tous et de soi-même. »
(Belzeaux Patrice, « La personnalité et la psychose maniacodépressive dans les Etudes psychiatriques
d’Henri Ey », L’information psychiatrique, 2008/3 (Volume 84), p. 253-258.)

[11] Marcel Czermak ensina que, desaparecendo o primado fálico, as pulsões não se desintricam, elas pura
e simplesmente desaparecem.

[12] CZERMAK Marcel, « Oralité et psychose » in: Patronymies. Considérations cliniques sur les psychoses,
sous la direction de Czermak Marcel. Toulouse, ERES, « Psychanalyse », 2012, p. 165.

[13] Idem, p. 169.

[14] Idem, p. 200.

[15] Czermak relata:”J’ai connu le cas d’un transsexuel très particulier. Il s’agissait d’une transsexualisation
imaginative limitée à l’hémicorps inférieur qui l’amenait à bénéficier d’une espèce de rotondité pleine munie
d’un seul orifice, une espèce de cloaque anatomique et qui accomplissait pour lui-même toutes les
fonctions de fécondation, d’ingestion, d’excrétion”. (Czermak Marcel, « Déspécification des trous du
corps », Figures de la psychanalyse, 2004/2 (no10).

[16] Czermak Marcel, « Déspécification des trous du corps », Figures de la psychanalyse, 2004/2 (no10).

[17] Idem.

[18] “Non pas le corps torique, euclidien, le corps “trique” du névrosé, mais un corps non euclidien
manifestant qu’il ne manque rien au réel, fors le manque lui-même.” In CZERMAK Marcel, « Oralité et
psychose » in: Patronymies. Considérations cliniques sur les psychoses, sous la direction de Czermak
Marcel. Toulouse, ERES, « Psychanalyse », 2012, p. 173.

[19] Embora o termo “foraclusão” ter sido consagrado nos textos psicanalíticos brasileiros, proponho a
palavra preclusão para traduzir forclusion. Como Lacan utilizou o termo jurídico francês forclusion, utilizo o
equivalente português. Compare o significado de ambos nos respectivos vernáculos. Forclusion : forme
particulière de déchéance faisant perdre à une personne la faculté d’exercer un droit par suite de

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 7 de 8
A oralidade na psicose: considerações clínicas de M. Czermak – Escola Lacaniana de Psicanálise 13/04/2021 14:09

l’expiration d’un délai (CNRTL). Preclusão: impedimento de se usar determinada faculdade processual civil,
seja pela não-utilização dela na ordem legal, seja por ter-se realizado uma atividade que lhe é
incompatível, seja por ela já ter sido exercida. (Houaiss).

© Copyright 2021. Todos os Direitos Reservados. Desenvolvido por Inovabr



(https://www.inovabr.com)

https://escolalacanianabsb.com.br/a-oralidade-na-psicose-consideracoes-clinicas-de-m-czermak/ Página 8 de 8

Você também pode gostar