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Fichamento 1 – Texto 1

UNIP – Curso de Psicologia – CPA

Estágio: Prof.ª Deolinda Rita Geralde

1. Identificação do estagiário:

-Nome: Vinicius Borin

-R.A:F343294

-Turma: PS6P12

2. Referência bibliográfica: Citar conforme ABNT

3. Objetivo do texto: Compreender as diferenças entre o Psicodiagnóstico


Tradicional e o Interventivo, e como esse é utilizado hoje, qual seu objetivo e
processo de aplicação e o papel da narrativa nesse processo.

4. Resumo:

Psicodiagnóstico Interventivo Fenomenológico-existencial

O Psicodiagnóstico Interventivo difere do Psicodiagnóstico Tradicional, à


medida que esse trata do cliente sob uma lente puramente investigativa e
unilateral.
Como um médico, compara os sintomas relatados pelo cliente e os encaixa em
um quadro de doenças de acordo com a nosologia de cada psicopatologia, e
retorna isso para o cliente ou para o profissional que requisitou o
psicodiagnóstico.
Já o Psicodiagnóstico Interventivo, visa estabelecer uma relação cooperativa
com o cliente, no qual todos os aspectos da queixa (ambiente escolar, família,
dentre outros) são levados em consideração, bem como, e especialmente, a
percepção do sujeito frente a esses aspectos; a relação da sua subjetividade
com elas e o significado que ela dá a elas.
Pois, o pensamento que estrutura essa ferramenta psicológica é a
fenomenologia existencial, que olha para o sujeito enquanto capaz de assumir
responsabilidades frente às situações e sua posição deve ser levada em
consideração.
Inclui também a participação da família, uma vez que a queixa se origina
dessa, muitas vezes, ou essa está presente no processo, através de suporte
financeiro, por exemplo. Assim, a família é trazida para o processo de
entendimento da queixa e da subjetividade do sujeito.
Mesmo com essa base teórica, a prática psicodiagnóstica lida com a história de
vida das experiências vividas e acumuladas por aquele sujeito que não são
possíveis de serem compreendidas por pré-concepções teóricas.
Dessa forma as experiências do sujeito, seus fenômenos de existência, são
considerados à medida que surgem e vistos pela lente do próprio sujeito, do
significado que ele atribui à essas experiências e isso ajuda a investigar a
queixa, porquanto o Psicodiagnóstico Interventivo vê a queixa como uma porta
de acesso ao mundo interior do sujeito.
Ao passo que o psicólogo engaja no mundo do cliente, para compreendê-lo
enquanto sujeito e sua visão de mundo, precisa também se manter distante o
suficiente para analisar o que é exposto. Isso é feito por reconhecer no outro o
eu, o outro é um outro eu que constitui-se no mundo e constrói significados de
interpretação do mundo a partir de suas experiências.
Enquanto o Psicodiagnóstico Tradicional busca a classificação patológica do
sujeito e do seu nível mental, o Psicodiagnóstico Interventivo foge da
classificação, busca compreender e descrever o modo de estar no mundo de
acordo com os significados e experiências do próprio sujeito.
No que tange ao papel do psicólogo nesse processo, ele deve solicitar e
valorizar as posições trazidas pelo sujeito engajando-se, com a família - no
caso de uma criança-, no processo de construção de significado, no qual o
sujeito tem papel ativo.

Etapas do Psicodiagnóstico Interventivo

Entrevista inicial: Nesta etapa, o psicólogo realiza uma entrevista com os pais
para coletar informações sobre sua história de vida, sintomas atuais, queixas e
demandas. É importante estabelecer uma relação de confiança e empatia com
o paciente. É informado o termo de sigilo, o trabalho que será feito, por
exemplo, como serão os encontros posteriores e seus respectivos objetivos,
bem como esclarecido que a dificuldade da criança não envolve somente ela,
mas os pais estão também envolvidos.
É importante ouvir os pais também, para saber se entenderam o que dito e o
que esperam do processo. Caso possuam dúvidas, elas devem ser
esclarecidas pelo psicólogo.

História de vida da Criança: Aqui o atendimento permanece com os pais e será


tratado sobre a história de vida da criança. Realizado entregando o
questionário de anamnese para os pais responderem em casa e retornando
para conversar sobre,durante o atendimento presencial. Pois isso permite
observar tanto as respostas verbais quanto as não verbais dos pais, para
compreender melhor a dinâmica familiar e as emoções envolvidas, inicia a
investigação desde o período em que os pais se conheceram, buscando
compreender sua visão de mundo. São utilizadas para permitir uma exploração
mais profunda e colaborativa, formulando hipóteses que incentivam os pais a
contribuírem com informações adicionais. Esclarecido no final, como serão os
próximos encontros e a continuidade do processo.
Caso concluído em um único encontro, o próximo segue com a entrevista com
a criança.

Contato inicial com a criança: O psicólogo deve explicar seu papel e o motivo
da criança estar ali, para compreender compreender as percepções e
sentimentos dela em relação à queixa. Caso a criança esteja desconfortável
para falar sobre o motivo da consulta, o psicólogo deve respeitar sua posição e
oferecer apoio.
É importante pontuar os procedimentos dos encontros, como horários, o sigilo
do psicólogo para com a criança e para com os pais, para auxiliar, é muito
importante adicionar algum objeto ou situação lúdica para criança relaxar e
para expressar sua personalidade e ideias, dando abertura para o psicólogo
engajar nesse processo e conhecê-la, compreendendo-a.
No final de cada encontro com a criança, deve-se conversar sobre as
observações feitas e fazer analogias - com metáforas - das situações vividas ali
no ambiente clínico com as situações vividas na vida cotidiana da criança.

Sessões devolutivas com os pais: Pode ser realizada alternadamente entre


encontros com os pais e as crianças, nas quais são compartilhadas as
percepções do psicólogo da situação.
É explicada a metodologia, como tem sido trabalhada a queixa, respeitando o
sigilo da criança e considerando a opinião dos pais sobre.
Ouvir as percepções dos pais sobre o comportamento da criança.
Não especificar as atividades e acontecimentos.

Encontros com a criança - Uso de Testes Psicológicos: As ferramentas


utilizadas para facilitar a compreensão do mundo da criança e o engajamento
dela no processo devem estar de acordo com a peculiaridade de cada criança,
podendo ser: Testes psicológicos, brincadeiras lúdicas, dentre outras.
Caso seja usado Testes psicológicos, seus resultados devem ser interpretados
de acordo com a subjetividade de cada criança, não impondo seus resultados
sobre a criança de forma classificatória.
Assim, as hipóteses surgidas a partir do teste, devem ser checadas com a
criança, para verificar seu sentido e ter uma compreensão integral.

Visita Escolar e Familiar: É o meio de entender as crianças em um contexto


mais amplo, para checar o sentido das percepções apresentadas tanto pelos
pais, quanto pela criança, desses ambientes, tendo contato direto com os
fenômenos e não somente com sua descrição. Permite também entender
melhor a dinâmica de vida cotidiana da criança para formulação de
intervenções coerentes com a sua realidade de vida.

Últimas Sessões com os Pais: Alinhar as percepções que nasceram do


processo e quais objetivos em comum foram alcançados e como levá-los à
frente no decorrer do desenvolvimento da criança, bem como trabalhar o
desligamento do processo, uma vez que fortes ligações são formadas.
Relatório Final: Deve conter o que foi trabalho, como foi trabalhado e os
resultados obtidos, sendo um relatório descritivo.
Os pais podem sugerir modificações nesse documento, após ele ser lido para
eles.
Devolutiva final para a criança: De acordo com Fischer(1998), deve-se fazer
um fechamento que se pareça com um livro no qual a história é a história da
criança e ela é o personagem principal. Com metáforas, uso de fantasia, dentre
outras ferramentas linguísticas que permitem à criança entender e elaborar o
que antes não conseguia.

Psicodiagnóstico Interativo sob o enfoque da Narrativa

Bilbao enxerga que o processo é composto por discurso, ou seja, que nada é
dado pronto ou pura explanação de fatos. Pelo contrário, na interação
intersubjetiva do psicólogo com a criança, histórias vão se formando, as quais
revelam sentimentos da criança que nem ela mesma possuía ciência sobre.
Benjamin (1936) estabelece, em uma analogia, como tratando-se de
um”processo artesanal”. Portanto, quando existe pobreza na comunicação, não
pela falta de sofisticação na mesma, mas por ruídos ou desconsideração do
seu valor, isso empobrece a própria existência humana, pois impede que o
mundo interior do sujeito seja articulado em uma narrativa que o permita
entender e organizar o sentido que dá para suas experiências.
Nas interações nas entrevistas do processo de psicodiagnósticos, bem como
em outros relacionamentos sociais, os sujeitos modelam-se mutuamente, não
há unilateralidade. E essa modelagem é realizada num processo de narrativa.
Dessa forma, o processo não é de caráter puramente investigativo, mas a
investigação deve levar a um mergulho, um engajamento, no mundo interior
dos sujeitos, crianças e pais, para ajudá-los a compreender as suas
experiências e os sentidos que dão à elas.
A fala permite o encontro do ser com a realidade de si mesmo, e nessa fala, os
sentidos do sujeito encontram-se, muitas vezes, ocultos, assim, junto com o
psicólogo, ele deve desbravar esse mundo, essa narrativa sobre si, para
desvendar e elaborar esses sentidos.
Essa criação de histórias para os encontros com a criança permite justamente
isso, tratando questões profundas de um modo - na narrativa - que a estrutura
egóica da criança compreenda. Lembrando que não determinamos o papel da
criança na história, como qual personagem ela é, apenas expomos a história e
a criança dá o seu sentido para ela.

Movimentos transferenciais no Psicodiagnóstico Interventivo

É importante estar ciente desse fenômeno, do que é projetado, pela criança, e


como se recebe isso, enquanto psicólogo.
Ao detectar as necessidades do cliente na sua busca por ajuda, essa não deve
ser postergada para uma terapia futura, mas intervir no momento presente,
para isso, alunos e supervisor trabalham juntos, e os alunos agem como co-
terapeutas. Dessa forma também, a transferência recebida é diluída.
Permitindo também lidar com os fenômenos de transferência de maneira
favorável ao processo psicodiagnóstico.
A busca por ajuda, por parte dos pais e, às vezes, por parte da criança
também, já contém em si uma expectativa, que pode, como Winnicott (1984)
pontua, se mostrar benéfica para o processo, por possibilitar uma abertura e
vulnerabilidade nos encontros.
Em vez de serem consideradas apenas distorções ou resistências, as
expressões de transferência são vistas como uma oportunidade valiosa para
compreender as necessidades emocionais e psicológicas subjacentes do
paciente. Por isso, existe valor no psicólogo atuar como esse objetivo da
subjetividade do cliente.
Claro que existem transferências negativas, e por isso o psicólogo deve manter
a posição de intervenção, detectando-as para elaborá-las, juntamente com o
sujeito.

5. Principais conceitos e definições:


Psicodiagnóstico Tradicional: É um processo limitado no tempo que utiliza
métodos e técnicas psicológicas para compreender problemas, avaliar,
classificar e prever o curso de um caso.
Psicodiagnóstico Interventivo: Visa estabelecer uma relação cooperativa
com o cliente, no qual todos os aspectos da queixa (ambiente escolar, família,
dentre outros) são levados em consideração, bem como, e especialmente, a
percepção do sujeito frente a esses aspectos.
Transferência: Padrões de relacionamento passados em sua relação com o
terapeuta, oferecendo assim a oportunidade de explorar e resolver esses
padrões. Em vez de serem consideradas apenas distorções ou resistências, as
expressões de transferência são vistas como uma oportunidade valiosa para
compreender as necessidades emocionais e psicológicas subjacentes do
paciente.

6. Dúvidas/ comentários:
Achei muito interessante a analogia metafórica que Donatelli pontua como
sendo muito útil para a criança associar situações do ambiente clínico com
experiências vividas na vida cotidiana dela.
Bem como o aspecto de oferecer segurança para criança com a explicação do
por quê ela está ali e como todo o processo irá funcionar.
No exemplo de Bilbao sobre o garoto que morava com avós e estava acima do
peso, no final do processo eles mesmos admitem que não tinham regras e
como poderiam mudar.
Muitas vezes, quando alguém pelo qual somos responsáveis não obedece ou
segue regras, é porque nós não temos regras nem para nós mesmos. Um
exemplo claro de projeção de responsabilidade no outro, por não querer
enxergar em si o defeito, a falha.

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