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Esperança e hospitalidade: a entrevista devolutiva em grupo no contexto da

clínica-escola

A problemática da dissertação é a concepção de que existem relações


necessárias entre adoecimento infantil e dinâmica familiar. Filhos de pais
farmacodependentes mostram que:

precisam tratar das questões de sua origem, do sentido de si, precisam superar o enigma
enlouquecedor de um lugar que lhes permita iniciar-se. Portanto, o sintoma dos pais, nesses
casos, não afeta as crianças via mecanismos de identificação projetiva, formadores de
sintomas que ocultam uma dinâmica familiar, mas no sentido de suas existências. (Fantini,
2006, p.178)

A dependência química como é vivida na atualidade fala do mal-estar do


nosso tempo, das novas formas de subjetivação e de sofrimento. Durante a
produção dessa tese, Fantini (2006) pode encontrar muitas soluções diante a
problemática abordada, e se muitas vidas puderam continuar seu percurso com
menos obstáculos, muitas questões, inquietações e necessidades nasceram, e se
aprofundaram dentro de si.
Gomes (1998) sinaliza para o quanto as entrevistas devolutivas de processos
de psicodiagnóstico podem ser intensas e trabalhosas, dependendo da forma como
são conduzidas gerando uma postura de muita resistência nos pais, uma vez que a
localização da doença sobre a criança serve como uma defesa para que os pais não
precisem se relacionar, se aproximando do próprio adoecimento. E. Bick
(1962/1990) compreende que se deva encontrar um lugar “neutro” no momento da
devolutiva, pois o analista deve ser muito cauteloso para não se identificar com os
pais contra a criança e nem com a criança contra os pais, para não levar o terapeuta
a uma form de contato persecutório e culposo. Devemos nos atentar a necessidade
de ajudar os pais a recuperarem a confiança em si, para que sintam segurança em
exercer suas funções parentais, superando sentimentos como o de fracasso. Esses
processo junto aos pais em relação às dificuldades do filho, muitas vezes se torna
inevitável tocar no sofrimento de cada um deles.
Desde os primeiros modelos de diagnóstico psicológico até hoje, já foram
realizadas mudanças extremamente significativas e importantes, para que chegasse
ao modelo atual de psicodiagnóstico interventivo.
Com a psicanálise, ampliou-se o valor das entrevistas, dos procedimentos e
testes projetivos, também como a maneira do psicólogo registrar o fenômeno da
transferência que seria o centro da compreensão diagnóstica. Já na abordagem da
psicologia fenomenológica-existencial, o psicodiagnóstico é construído juntamente
com o cliente, o que leva a uma aproximação terapêutica diferenciada da visão
clássica de coleta de dados. Os resultados objetivos com testes projetivos
colaboram para o autoconhecimento do cliente. Esses dois modelos de
psicodiagnóstico conseguiram validar e defender a importância dele, visto que não
se estabelecem pela convencionalidade mas sim pela lógica clínica.
As práticas em psicodiagnóstico têm variado ao longo do tempo, contendo
alterações na forma de apreciação da prática se relacionando às necessidades de
seu tempo e revelando um mal-estar característico de cada ciclo histórico. Ocampo e
Arzeno (1994) definem o processo de base do psicodiagnóstico como:

[...] uma pessoa ( o paciente) pede que a ajudem, e outra (o psicólogo) aceita o pedido… É
uma situação bi-pessoal (psicólogo-paciente ou psicólogo-grupo familiar), de duração
limitada, cujo objetivo é conseguir a descrição e compreensão, o mais profunda e completa
possível, da pe
ntes (diagnóstico) e futuros (prognóstico) desta personalidade, utilizando para alcançar tais
objetivos certas técnicas (entrevista semidirigida, técnicas projetivas, entrevista de
devolução)... Uma vez alcançado um panorama preciso e completo do caso, incluindo os
aspectos patológicos e os adaptativos, tratamos de formular recomendações terapêuticas
adequadas. (p. 17)

Uma relevância especial deve ser dada a ideia de que se trata e um pedido
de ajuda que se efetiva no encaminhamento: recomendações terapêuticas
adequadas que estão distribuídas por todo o processo, onde o espaço entre a
entrevista inicial e final e preenchido com uma sequência de devolutivas parciais
objetivando intensificar os resultados terapêuticos deste procedimento.
Entre os anos 70 e 80, a proposta terapêutica da clínicas-escola de Psicologia
estava propiciada no modelo de atendimento do consultório particular, estando
completamente inadequado para as necessidades da população que necessitava e
utilizava o serviço, e foi necessário realizar uma intensa revisão de conceitos
teóricos e de práticas clínicas, de modo a encontrar alternativas que de fato
atendesse a comunidade, visando aproximar a Psicologia clínica da realidade social,
confirmando que o atendimento em instituições e diferente do praticado no
atendimento particular. Como resultado de um longo processo de negociações
institucionais, firmando-se no debate teórico instaurado entre as teorias psicológicas
e buscando pela especificidade do atendimento clínico em instituições, constitui-se
o psicodiagnóstico interventivo rupal como método de avaliação psicológica das
crianças que iniciam seu atendimento na Clínica-escola. A Universidade Paulista,
oferece este modelo de atendimento grupal em seu CPA (Centro de Psicologia
Aplicada). Neste formato de condução da avaliação psicológica, o dispositivo do
grupo foi introduzido para potencializar os efeitos interventivo, uma vez que:

Os projetos, sentimentos, ansiedades e conflitos expressos no grupo produzem movimentos


de identificação e diferenciação, através dos quais, se delineiam as individualidades dos
adultos e das crianças… Reconhecer a experiência do outro significa entrar em contato com
uma possibilidade pessoal até agora desconhecida, o que facilita o conhecimento de si e a
ampliação do campo vivencial (Ancona-Lopez, M., 1995a, p. 97)

Argumentos e vivência clínica que demonstram que a opção por realizar os


atendimentos em grupo não acontece somente como uma estratégia de se adequar
ao ambiente institucional, clínica-escola, mas por ser o lugar autêntico de construção
pessoal, e, no processo de psicodiagnóstico interventivo, abriu-se espaço para esse
aperfeiçoamento, sendo a entrevista devolutiva em grupo, de pais ou responsáveis,
o momento de apogeu para essa vivência. Os estágios clínicos que são elaborados
nas clínicas-escola (CPA), organizam-se para oferecer diversas modalidades de
atendimento articuladas com as necessidades específicas dos clientes e orientada
para que o processo de formação não se sobreponha ao atendimento clínico.
Após a implementação desse modelo, observou-se que os índices que
indicavam má qualidade nos serviços oferecidos, uma maior consonância entre a
estruturação do atendimento para com as demandas da comunidade, que
anteriormente por muitas vezes não necessitavam de encaminhamento posterior, o
que atualmente ocorre com muito menos frequência, dado as angústias e
sofrimentos da nossa época e da realidade brasileira. Abriu-se espaço também para
supervisores de formação psicanalítica e não somente os
fenomenológico-existenciais, pretendendo-se uma visão global sobre o paciente e
uma compreensão sobre suas multideterminações.
Ao longo dos quatorze anos dessa prática docente, Fantini (2006)
testemunhou os efeitos clínicos extremamente positivos das evolutivas em grupo,
constatando que com o desenrolar da série de devolutivas parciais em grupo era
possível tratar a dimensão intersubjetiva, alinhavando a situação da criança doente a
problemática psicológica dos pais e membros da família, identificando que através
desses encontros davam oportunidade aos pais recuperar seus lugares maternos e
paternos e as família darem continuidade ao seu percurso. Ao perceber que
algumas famílias tinham mais dificuldade para se expressar no atendimento, passou
a trabalhar as devolutivas a partir da produção com materiais plásticos: desenhos ou
colagens, que de acordo com o Professor Dr. Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, o
registo gráfico "além de revelar ao outro aspetos internos de quem desenha, ele
apresenta ao próprio autor muitas respostas e potenciais em desenvolvimento”
(Antunez, 2012, p. 42), configurando-se como um momento de autorreflexão,
oferecendo a possibilidade para se !transformar uma folha de papel em brnaco em
uma folha habitada pelo traço, pela imagem que revela singularidade” (Antunes,
2012, p. 45).
Fantini (2006) em durante seu processo de amadurecimento da formação
clínica docente foi solicitada abrir mão dos recursos teórico e tecnicos que havia
acumu,ado no complexo processo de formação como psicoterapeuta, e em conjunto
com sua colega Gisele Guimarães, estabeleceram diversas articulações, sendo que
uma das primeiras deu-se entre o jogo da Espátula (Winnicott, 1941/1993a) e a
temporalidade do psicodiagnóstico. Passaram a observar o processo a partir dos
três momentos propostos por Winnicott (1941/1993a) ao analisar os bebês
brincando com a espátula de seu consultório pediátrico: hesitação, brincar com a
espátula e jogá-la. Conseguiram identificar correlações entre o jogo da Espátula e a
experiência que possuíam com o desenrolar do psicodiagnósticos e assim tomaram:

como referência a experiência do jogo da espátula… como modelo norteador para todo o
processo psicodiagnóstico, procurando ajudar o paciente e suas famílias a terem uma
experiência completa e integrada, podendo se despedir do psicólogo que conduziu o
psicodiagnóstico e ansiando por um novo encontro… quando for o caso de um
encaminhamento. Ou seja, lemos o processo como tendo um momento inicial de hesitação,
no qual o paciente explora o território terapêutico e busca estruturar um campo de
comunicação. No segundo momento, que corresponde ao brincar com a espátula, o paciente
realiza a comunicação que precisa enunciar e, neste momento, as intervenções do terapeuta
seriam mais produtivas e o paciente viveria a experiência de ser compreendido. No terceiro
momento, que corresponde ao jogar a espátula e desinteressar-se pelo jogo, o paciente pode
“ir embora” e deixar o terapeuta por ter tido uma experiência completa que resulta na
possibilidade de colocar a sua questão em devir. Neste momento, é importante que o
terapeuta não se coloque como uma presença necessária e excessiva. (Fantini & Guimarães,
2013, pp. 84-85)

Relacionando esta ideia com o procedimentos utilizados durante o


psicodiagnóstico, a devolutiva final seria o momento de jogar a espátula e, como
postulado por Winnicott (1941/1993a) um momento para se evitar novas
intervenções ou interpretações, pois novas condutas poderiam demandar um novo
ciclo de trabalho e presença do terapeuta. Em outras palavras, encontraram mais
uma motivo para a introdução das devolutivas parciais, de modo que ao final,
tivessem um campo favorável à integração e a despedida e com esse propósito,
desenvolveram com as crianças “uma estratégia clínica que marcasse o período de
encerramento do processo, uma técnica projetiva que chamaram de ‘linha do
tempo’, onde construíram um trajeto temporal que retomava todas as etapas do
psicodiagnóstico" (Fantini & Guimarães, 2013, p. 85). Estabeleceram uma passo a
passo a ser seguido logo após a conclusão dos procedimentos e técnicas e antes da
devolutiva final para criança, como uma atividade que estaria entre o brincar com a
espátula e conseguir jogá-la, oferecendo um campo de experiência onde a criança
consegue respostas para seu sofrimento.
Com esse vínculo inicial entre o psicodiagnóstico interventivo e o pensamento
de Winnicott, continuaram examinando o relacionamento terapêutico desde o seu
início, podendo constatar que os pais procuram a clínica por indicação de teceitoros,
instituicoes de saude, da escola ou amigos, mas também há aqueles que procuram
espontaneamente, sendo que a grande maioria deles já tentaram resolver as
dificuldades apresentadas como queixa em relação à criança e não obtiveram as
mudanças esperadas, sentindo-se sem recursos e incapazes de ajudar o filho que
está em sofrimento, ou se comportando de forma a perturbar a família.
Tanto os pais quanto os filhos têm expectativas em relação ao atendimento,
com a esperança de que alguém possa compreender sua situação e assim
auxiliá-los, devendo ser considerado de extrema importância, o momento de
chegada para o atendimento. Em sua obra Consultas terapêuticas em psiquiatria
infantil (winnicott 1984), fundamenta essa prática na relação subjetiva de objeto que
a criança estabelece com o terapeuta, capaz de favorecer a emergência de uma
comunicação, e neste mesmo trabalho, criou o Jogo do Rabisco, que consiste no
uso de lápis e papel, onde um vai completando o traço do outro transformando-o em
um desenho, como sendo um processo para auxiliar a criança a realizar essa
comunicação, normalmente utilizado no primeiro encontro. O desenho que surge é a
expressão do estado do self e, como adverte Winnicott (1984, p. 18), está “longe de
ser um objeto parcial, uma cobra…pode ser um primeiro objeto integral”, sendo o
foco comunicacional-relacional.
Sequenciando com a fundamentação teórica desenvolvida por Winnicott
(1984) em suas consultas terapêuticas, um aspecto fundamental é a adaptação ativa
do terapeuta às necessidades e expectativas do paciente e, consequentemente, se
necessária, a comunicação verbal desse entendimento no momento adequado.
Assim dizendo, “as consultas terapêuticas visam a construção de setting especial,
marcado pela afetividade e o desejo de comunicação entre terapeuta e paciente”
(Salles & Tardivo, 2017, p. 291), fundamentos compatíveis com a proposta do
psicodiagnóstico interventivo. O setting caracterizado por Winnicott (1984) para as
Consultas Terapêuticas tem potencial para contribuir com o resgate da possibilidade
do ser humano de "pensar o porvir, por estar excessivamente focado na vivência do
imediato” (Arruda, 2014, p. 39). Em outras palavras, atinge as formas de
adoecimento do nosso tempo que encarcera a pessoa no presente.
A entrevista devolutiva deve propiciar para o paciente “uma experiência
transformadora por meio do vínculo com o psicólogo, que coloque em marcha os
seus processos de desenvolvimento” (Barbieri, 2010, p. 511). Conduta metodológica
que se sustenta no paradigma qualitativo de ciência e, como ressalta Barbieri, faz
com que o psicodiagnóstico interventivo proporcione “a compreensão e a
transformação do sujeito / objeto com a finalidade ética de reduzir o sofrimento
humano” (2010, p. 512).
A literatura sobre o trabalho com grupos multifamiliares revela que essa forma
de atendimento clínico vem sendo utilizado com pacientes portadores de algum
transtorno psiquiátrico, dependência química, esquizofrenia, transtornos alimentares,
e nos trabalhos da língua inglesa, pudemos encontrar uma variedade ainda maior,
como depressões profundas, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo e
personalidade borderline (Couchman, 2006) e também intervenções com famílias
de crianças com transtorno opositivo desafiante (Gopalan et al., 2015). Ponciano,
Cavalcanti e Féres-Carneiro (2010) explicam que para estes quadros o trabalho com
as famílias é fundamental por prepará-las para lidar com o paciente, evitar o efeito
da sobrecarga ao reduzir o impacto do transtorno mental e fortalecer a parceria
família-instituição. Em outro nucleo de pesquisa e de pratica psicologica associa o
dispositivo as situaçoes de abuso sexual e com adolescentes ofensores sexuais, a
autora Liana Fortunato Costa, observa que o grupo “favorece a aproximaçao aetiva,
ameniza o contexto de puniçao ao adolescente, a vergonha e o isolamento da
familia e do adolescente em relaçao à cominudade e a familia extensa” (Costa, 2011,
p. 185). Enfatizando essa questão, o grupo multifamiliar, de acordo com Costa
(2011), permite às famílias conhecerem suas concepções de cuidado e de muitas
vezes mantenedoras do abuso.
No Brasil, encontramos a proposta de Ferrarini (1999) cm crianças com
problemas de aprendizagem ou de conduta, muito similar de trabalho a praticada
pelo psicodiagnóstico interventivo realizado pela Universidade Paulista, onde “as
questões trazidas pelos clientes são ao mesmo tempo investigadas e trabalhadas, a
fim de contribuir, em conjunto, possíveis modos de compreendê-la" Donatelli, 2013,
p. 46). Trata-se de uma construção social do tratamento psicológico, passando do
multifamiliar ao unifamiliar, onde ambas as propostas valem-se do dispositivo de
grupo tanto para as crianças quanto para seus pais.
Foram encontrados alguns trabalhos também na Argentina, onde Jorge
Garcia Badaracco, desenvolveu uma metapsicologia para sustentar este tipo de
intervenção psicológica, que recebeu a denominação específica de grupo
multifamiliar psicanalítico, com o propósito de proporcionar a experiência de se
pensar na companhia de outros o que não se pode pensar sozinho, funcionando
como uma mente ampliada, um continente “potente” capaz de abarcar identificações
projetivas maciças e vivências intoleráveis, dinâmico que facilita abrir portas para
aspectos sadios da personalidade (Badaracco, 1994). Enfatiza que a transferência
no grupo multifamiliar, assume sua configuração original múltipla, dirigindo-se a
todos os participantes e, ao mesmo tempo, dispersando-se porque se reparte entre
os seus integrantes , diminuindo assim a carga emocional, tradicionalmente
depositada em uma única pessoa.
O trabalho de Eva Rotenberg (2010), também encontrado na Argentina,
estabeleceu a Escuela de Padres, como uma modalidade de atendimento que busca
ajudar as famílias a elaborar as dificuldade intrínsecas da maternidade, paternidade
e parentalidade, trabalhando no viés preventivo e no enfrentamento de conflitos dos
sintomas já existentes. Entende que as reações de reconhecimento mútuo,
permitem a experiência da intersubjetividade, que são o substrato para o
enriquecimento das relações familiares e especialmente do relacionamento entre
pais e filhos.
O trabalho com famílias em grupo é o favorecimento de criação de redes ,
sendo a recomposição de um tecido social fator primordial para a recuperação de
alguma saúde mental. As entrevistas devolutivas realizadas em grupo, no contexto
Clinica-escola, são um dispositivo eficaz na prática clínica e formativa, sendo capaz
de promover o desenvolvimento dos pais, a saúde psicológica da relação pais e
filhos e a superação de ruptura éticas por configurarem um espaço de esperança,
solidariedade e de hospitalidade justamente por desenvolver-se em grupo,
favorecendo também, a transformação do aluno de psicologia em estagiario
colaborando para a construção de maior autonomia frente ao fazer clínico.
De acordo com Fantini (2006) não existe incompatibilidade entre o trabalho
clínico apresentado em sua pesquisa de doutorado e a proposição de que a clínica
não deve ser tecnicista, mas sim ao contrário, se conciliam. As devolutivas em grupo
são uma forma cuidadosa em Psicologia que não parcializa a pessoa, favorecendo
as bases para o desenrolar do processo maturacional. A estrutura técnica
apresentada surgiu do encontro com as dores e sofrimentos dos pais/ responsáveis
que buscam a clínica-escola e participaram do psicodiagnóstico interventivo e das
inseguranças, incertezas e anseios dos alunos-estagiários que se iniciam na prática
psicológica. A regulamentação da entrevista devolutiva teve como foco principal a
criação de condições para um cuidado suficientemente bom e profissional, levando
em consideração a condição social dos pacientes, normalmente pessoas
desassistidas e carentes de recursos, sejam materiais, sociais, ou ainda de domínio
de repertórios culturalmente diferenciados, como é o caso da prática clínica em
Psicologia, facultando a que esses pacientes se tornem pessoas, adquirem
legitimidade e reconhecimento.
Interpretando Winnicott (1955/2001a): assim como a sustentação do filho é
ofertada do “mundo representado pela mae”, a sustentação do holding, necessitado
pelos pais ou responsáveis, é oferta do “mundo representado pelo grupo”. O
atendimento psicológico em grupo de pais, promove o sentimento de pertencimento,
reduzindo a solidão e estabelecendo redes. No contexto do setting grupal, o
supervisor, estagiários e demais integrantes do grupo, resgatam gradualmente,
quem é a criança, quem sao os pais, qual é a historia da familia, criando um campo
reflexivo e de crítica sobre o diagnóstico em construção, abrigado e hospedado na
interioridade e na memória do grupo, colaborando para o desenvolvimento das
práticas educativas fundadas nas característica s e nas experiências pessoais.

REFERÊNCIA

FANTINI, Mariana do Nascimento Arruda. Esperança e hospitalidade: a entrevista


devolutiva em grupo no contexto da clínica-escola. 2002. Tese (Doutorado) - Curso
de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-20072022-134736/publico/f
antini_corrigida.pdf. Acesso em: 14 set. 2022.

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