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PSICANÁLISE INFANTIL - DESENHOS

A Psicoterapia Infantil como uma modalidade de atendimento que visa a


atender crianças com dificuldades emocionais que interfiram em seu
cotidiano. Os autores ressaltam que o processo psicoterapêutico da
criança envolve múltiplos fatores, como a participação da família e da
escola, as relações estabelecidas pela criança, bem como a sua
experiência vivida.

]Mantovani, Marturano e Silvares (2010) salientam ainda que é


fundamental na psicoterapia infantil conhecer e caracterizar as famílias
que buscam o serviço para suas crianças. Esse conhecimento viabiliza
o planejamento de ações visando à prevenção de possíveis abandonos,
formando um engajamento das famílias durante o processo de
atendimento. Com isso, adequa-se o atendimento, tornando-o mais
efetivo para atender à demanda, contribuindo para aumentar a adesão
ao tratamento.
O BRINCAR
Na evolução da humanidade é possível perceber que o brincar
representa um processo de aprendizagem e descoberta do ser humano,
que contribui de forma direta na construção das relações sociais e
expressões individuais (Post, Ceballos & Penn, 2012; Höfig & Zanetti,
2016).
Para Armstrong e Kimonis (2013), é por meio da brincadeira que as
crianças aprendem regras e limites, de forma voluntária e prazerosa. O
brincar, além de ser um passatempo para a criança, expressa
processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades.
Na brincadeira a criança afirma seu ser, possibilita e proclama sua
autonomia e explora o mundo em sua linguagem, a partir de meios
lúdicos. No brincar a criança faz ensaios, compreende e assimila
gradualmente regras e padrões, absorve o mundo em pequenas doses,
toleráveis a ela.
No esteio desse entendimento sobre o brincar e suas potencialidades
expressivas, o processo lúdico aparece como um dos principais eixos
da psicoterapia infantil, através do qual a criança, brincando, projeta seu
modo de ser no atendimento. O objetivo é ajuda-la, através da
brincadeira, a expressar com maior facilidade a si, seus conflitos e
dificuldades.
Um dos principais componentes do brincar é o aprender a manipular
símbolos e a pensar abstratamente, o que abre possibilidades para a
comunicação. A partir da brincadeira como linguagem e do uso do
brinquedo, a criança se conscientiza de si mesma como agente ativo e
criativo nos atendimentos. Isso promove a ela um desenvolvimento
gradativo em sua comunicação, já que esta atividade produz e reproduz
emoções, possibilitando nomear e organizar melhor seu mundo.
Nijnatten e Doorn (2013) e Botha e Dunn, (2015) discutem que a
verbalização, modo de acesso ao vivido infantil, pode ser introduzida via
brincadeiras e do brinquedo. Ou seja, trazendo a esse brinquedo o valor
de ferramenta de mediação terapêutica e, por meio deste, inicia-se a
criação de um contato e a construção e fortalecimento da relação
psicoterapêutica.
No ato de brincar há inúmeros aspectos que caracterizam o ser e o
estado de cada criança, das suas emoções, dificuldades, vivências,
formas de relacionar-se com o mundo e do seu desenvolvimento físico,
mental e emocional. A utilização de recursos lúdicos tem o intuito de
facilitar o processo de desenvolvimento da criança, partindo do
entendimento de desenvolvimento em seu caráter de
multidimensionalidade e como processo que se dá na relação.
. A psicoterapia infantil tem sua origem na psicanálise de adultos, com
as descobertas de Freud sobre a importância de eventos acontecidos
na infância para a vida adulta. Com base em suas descobertas, Anna
Freud e Melanie Klein procuram adaptar a técnica psicanalítica de modo
que esta seja aplicada à crianças.
Neste processo, Melanie Klein inclui o uso de brinquedos como modo
de atingir o inconsciente infantil, utilizando-o de modo similar à
associação livre, utilizada na psicanálise de adultos. Desde então, as
técnicas de psicoterapia infantis têm-se ampliado, e diversas
abordagens voltam-se para o entendimento da infância.
Muitas crianças experimentam um sentimento de perplexidade e medo
diante do processo psicoterápico (COPPOLILLO, 1990), assim, é muito
importante que a criança esteja ciente das razões que impeliram os pais
a procurarem a ajuda de um psicoterapeuta, e do propósito de iniciar
uma psicoterapia. Estas informações podem ser dadas inicialmente pelo
pais, antes da primeira entrevista com a criança, e posteriormente pelo
próprio terapeuta, que buscará fazer com que a criança sinta-se em um
ambiente seguro onde poderá expressar-se sem medo de ser
rechaçada .
Tendo em vista a importância da compreensão, por parte da criança,
sobre o processo psicoterapêutico em que está ou será envolvida, e
frente a escassez de material que atenda a necessidade desta no
entendimento sobre o assunto, surge a idéia de produzir uma cartilha
explicativa, que de modo simples, com figuras e pequenos textos,
poderá auxiliar crianças no entendimento deste processo. O público-
alvo abrange crianças em psicoterapia, ou não, bem como seus pais
e/ou cuidadores, na medida em que clarifica a imagem da psicoterapia.
As cartilhas estão entre os materiais que podem ser utilizados por
psicólogos para o fornecimento de informações, em linguagem
adequada para a compreensão, esclarecendo aspectos técnicos dos
procedimentos adotados, minimizando angústias, fantasias e medo,
podendo servir como de interação e comunicação entre o psicólogo,
seus pacientes e responsáveis (CREPALDI; RABUSKE e GABARRA,
2006).
A presente cartilha (Apêndice 01) será indicada a crianças de 7 a 12
anos, que segundo os estágios do desenvolvimento cognitivo humano
formulados por Piaget estão no período de operações concretas, pois
acredita-se que neste período já serão capazes de compreender o
material proposto. Para Piaget, uma operação é “um tipo especial de
rotina mental cuja característica predominante é a reversibilidade”
(MUSSEN et al., 1977, p. 31).
Acredita-se que as crianças desta faixa etária iniciam a utilizar a lógica,
são capazes de compreender e lembrar-se de fator históricos e
geográficos, de autoanálise, de compreensão dos próprios erros, de
planejamento das ações, compreensão do ponto-de-vista e necessidade
dos outros, entre outras habilidades (TERRA, 2005). É também nesta
idade (dos 7 aos 12 anos) que inicia a lógica na criança e os
sentimentos morais e sociais de cooperação, época que coincide com o
começo da escolaridade; surge a noção de tempo, causalidade e
conservação (PIAGET, 1998).
Outra característica deste estágio é a “capacidade de engajamento em
operações mentais que são flexíveis e completamente reversíveis”
A partir da análise de adultos, Freud encontrou muitos acontecimentos
significantes na sua infância e na de seus pacientes, instigando-o a
pensar que as causas de transtornos mentais teriam suas bases nas
primeiras fases do desenvolvimento. A primeira vez em que os
princípios técnicos da psicanálise foram aplicados em uma criança foi
em 1909, com início a análise do Pequeno Hans2, que sofria de uma
fobia de cavalos. A análise foi conduzida pelo pai de Hans, sob a
supervisão de
Freud (CASTRO, 2004 apud STÜRMER, 2009; GLENN, 1996;
KERNBERG, 1999; FICHTNER, 1997). Neste caso foram dados os
primeiros passos em relação à psicanálise com crianças, que antes era
tida como inviável, uma vez que a idéia vigente era a de que crianças
eram impossibilitadas de fazer associações livres; então, não poderiam
ter insights nem traduzir ações em palavras, sendo portanto incapazes
de serem submetidas aos métodos psicanalíticos (ABERASTURY,
1992).
Segundo Vidal (1991), com o caso do Pequeno Hans, Freud não
pensou na possibilidade do surgimento de uma nova técnica
psicanalítica especializada,tampouco na adaptação de seu método com
novas técnicas; sua preocupação era comprovar as teorias sexuais
infantis que tinham surgido a partir das análises de pacientes adultos.
Assim, a maior contribuição de Freud para a análise de crianças foi
indireta, uma vez que permitiu o reconhecimento e a importância dos
dinamismos psíquicos da crianças; porém, foi contrário à possibilidade
de o método psicanalítico ser aplicável em crianças (ZIMERMAN, 2004).
Depois de Freud, sua filha, Anna Freud, deu continuidade aos estudos
com crianças; compartilhava a idéia vigente na época de que não era
possível haver neurose de transferência de uma criança para com seu
analista, pois suas transferências estavam ligadas aos pais reais e um
trabalho interpretativo mais profundo seria ineficaz. . Defendia, portanto,
o ponto de vista de que a psicanálise de crianças deveria ser
desenvolvida como “uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia”
(STÜRMER, 2009, p. 31), visando reeducar crianças para adaptá-las a
realidade, objetivando um melhor convívio desta com pais e irmãos
(ZIMERMAN, 2004). Seu método incluía uma fase preparatória, onde o
analista “conquistava a criança para análise (...), [em seguida], era
tratado através da interpretação cuidadosa das defesas e, depois, à
medida que o reprimido se tornava consciente, das pulsões”
Melanie Klein deu grande contribuição à técnica de psicoterapia infantil
ao perceber que “o brincar da criança poderia representar
simbolicamente suas ansiedades e fantasias” (SEGAL, 1975, p. 12);
introduziu então, de modo sistemático e consistente, a brincadeira como
nova ferramenta na análise de crianças, fazendo uso dos jogos,
desenhos e utilização de brinquedos como uma forma equivalente a da
associação livre de idéias do adulto, preconizada por Freud, utilizando-a
como forma mediadora para acessar o inconsciente, considerando o
significado emocional da brincadeira como análogo ao sonho do adulto
(ZIMERMAN,2004; BARROS e BARROS, 2006).
A partir de então, o brincar passou a ser visto como um elemento
fundamental na análise de crianças, pois é a atividade lúdica, que vai
permitir o acesso ao inconsciente infantil, constituindo expressão do
desejo e da fantasia inconsciente; Melanie Klein “utiliza a interpretação
do jogo mesmo na ausência da palavra”
SAÚDE MENTAL INFANTIL
Adotou-se, no presente trabalho, a compreensão sobre o conceito de
saúde mental como “grau de desenvolvimento de maturidade esperada
para determinada etapa do desenvolvimento” (MOTTA, 2006, p. 24). A
partir deste conceito, a saúde não é vista como sinônimo de ausência
de sintomas, e sim como um caminho em direção ao desenvolvimento,
o qual poderá comportar dificuldades, obstáculos e crises
Problemas relacionados à saúde mental na infância podem prejudicar o
desenvolvimento da criança, além de estarem associados ao risco de
transtornos psicossociais na vida adulta (FERRIOLLI;
MATURANOPUNTEL, 2007), porém a identificação destes problemas
na infância passa por outras dificuldades além daquelas encontradas na
identificação de transtornos em adultos.
Por encontrar-se em um período de desenvolvimento, a criança possui
uma capacidade limitada de atribuir um desconforto à uma fonte interna,
tendendo a expressar seus problemas emocionais através de
comportamentos desadaptados.
Problemas ligados à saúde mental em crianças geralmente são
identificados pelos adultos responsáveis, sendo que a capacidade que
estes adultos têm, para identificar problemas, está ligada à informação
que possuem sobre o tema e aos recursos para tratamento que tem
acesso. Por isto, um processo diagnóstico infantil deve incluir fontes de
informações diversas, como professores, pediatras, pais, registros
escolares e outros (BIRD e DUARTE, 2002).
Outra questão importante é o preconceito e estigmatização que o
encaminhamento para um serviço de saúde mental traz em si, seja por
parte de quem faz o encaminhamento, pais, professores; seja por quem
atende, preocupando-se ou não em confirmar a suspeita de diagnóstico,
podendo surgir aqui novos problemas, de ordem preconceituosa. Assim,
o atendimento que deveria proporcionar uma ajuda ou solução,
transforma-se em mais um problema a ser enfrentado pela criança

De acordo com a APA (American Psychiatric Association) transtorno


mental constitui uma síndrome ou padrão comportamental ou
psicológico, clinicamente importante, que ocorre em um indivíduo e que
se mostra associado com sofrimento ou incapacitação, ou com um risco
significativamente aumentado de sofrimento atual, morte, dor,
deficiência ou perda importante da liberdade (APA, 2002).
Três grupos diagnósticos se destacam na psiquiatria infantil:
1) desordens emocionais, como: ansiedade, depressão, desordens
obsessivo compulsivas e somatização; 2) desordens do comportamento
disruptivo: transtornos de conduta e agressividade a pessoas e animais,
comportamento transgressor em que as condutas sejam dirigidas para o
outro; e 3) transtornos do desenvolvimento: problemas de
aprendizagem, desordens autistas, enurese, encoprese .
Crianças e adolescentes constituem uma parte significativa da clientela
que busca os serviços de saúde mental, a maioria do sexo masculino;
apresentando mau desempenho acadêmico, comportamento agressivo
e desobediência em casa e na escola. A prevalência de crianças do
sexo masculino apontada pode ter uma possível explicação no fato de
que meninos costumam ser mais agitados que meninas (VITOLO et al,
2001), o que acarretaria um maior número de encaminhamentos aos
serviços de saúde mental. Outras corroboram estes resultados .
Estas queixas não justificam um atendimento psiquiátrico, nem a
inserção do paciente em um CAPSi, porém indicam necessidade de
uma avaliação mais profunda e de psicoterapia ou aconselhamento
psicológico (SANTOS, 2006).
A saúde mental infantil tem sido negligenciada, segundo esta autora,
tanto pelas políticas públicas quanto por estudiosos e profissionais da
área. O Ministério da Saúde, no Brasil, possui proposta de saúde mental
somente para transtornos mentais graves, através dos CAPSi – Centro
de Atendimento Psicossocial para a Infância e Adolescência, deixando
de considerar a importância de ações de Psicologia na atenção básica.
O termo saúde mental, por vezes, permanece restrito ao atendimento
psiquiátrico, deixando de considerar a abrangência e as contribuições
de diversas disciplinas para com o atendimento de crianças e
adolescentes com problemas emocionais e comportamentais (SANTOS,
2006).
Os serviços especializados em saúde mental para crianças e
adolescentes geralmente são escassos, de difícil acesso, e com longas
filas de espera. Na maioria das vezes, crianças com dificuldades
emocionais são atendidas por profissionais de saúde não
especializados, por profissionais da área da educação ou de outras
áreas sociais, que nem sempre estão capacitados para este tipo de
atenção e acabam por minimizar o problema ou encaminhá-lo de forma
inadequada, postergando intervenções necessárias que, por vezes,
tornar-se-ão mais difíceis e custosas no futuro
A técnica indicada para crianças é determinada, geralmente, pelo
referencial teórico adotado pelo terapeuta, no caso da psicoterapia de
orientação analítica apoiada no referencial teórico kleiniano, o brinquedo
é um análogo da associação livre (FICHTNER, 1997).
A análise de crianças e a análise de adultos possuem as mesmas
normas e alcançam os mesmos resultados, diferenciando-se apenas em
nível técnico pois o psiquismo infantil requer um método específico,
adaptado, e este foi encontrado na técnica lúdica (MELLO, 2006).
Apesar de os princípios básicos serem os mesmos, as crianças tem
umtratamento diferenciado, por possuírem estruturas de personalidade
e grau de desenvolvimento diversos dos adultos. O analista3busca
auxiliar “o paciente a entender-se mediante a interpretação das
comunicações do paciente, permitindo assim mudanças na estrutura da
personalidade e uma dissolução dos sintomas e do comportamento mal
adaptado” (GLENN, 1996, p. 23).
Freqüentemente as expectativas com o encaminhamento da criança à
psicoterapia são de que esta irá ajustar-se ou comportar-se de acordo
com osdesejos da família e/ou escola; porém, a finalidade real da
psicoterapia (psicanalítica) é proporcionar um espaço para seu
autoconhecimento, explorando seus potenciais, sendo conceituada
como(...) um instrumento psicológico capaz de, além de buscar a
remissão dos sintomas, ajudar a criança a expressar melhor suas
emoções e a compreendê-las, ocasionando modificações no mundo
intrapsíquico e interrelacional (CASTRO, CAMPEZATTO e SARAIVA,
2009, p. 99).Os objetivos voltam-se para a diminuição das tendências
regressivas e para a superação das inibições e paradas
desenvolvimentais (GLENN, 1996, p. 09). A meta é que a criança,
através do brincar e de suas interpretações, consiga dominar a angústia
que lhe aflige e lhe causa sofrimento. Para tanto, o terapeuta deve ir ao
encontro desta angústia, com o escopo de “formulá-la para a criança,
decodificando em palavras o que ela demonstra, abrindo assim espaço
para a simbolização e o pensamento” (MELLO, 2006, p. 36).
Ao brincar, a criança procura superar experiências desagradáveis,
buscando deslocar, através da projeção, perigos e medos internos para
o mundo exterior na tentativa de dominar a angústia. As atividades
lúdicas criam, desta forma, uma “ponte” entre fantasia e realidade,
ajudando a dominar o medo dos perigos internos e externos (MELLO,
2006).

ABORDAGENS TERAPÊUTICAS EM PSICOTERAPIA INFANTIL


O processo terapêutico infantil pode acontecer de modo individual, ou
em pequenos grupos de 3 a 5 crianças. A ludoterapia em grupo é
indicada apenas em casos específicos e as crianças devem ser
cuidadosamente selecionadas e agrupadas, sendo que a eficiência do
processo depende diretamente de uma combinação harmoniosa de
pacientes (GINOTT, 1979). Axline (1972) aponta oito princípios básicos
que guiam o terapeuta nos contatos com seus pacientes infantis:
1. O terapeuta deve desenvolver um amistoso e cálido relacionamento
com a criança, de forma que logo se estabeleça o “rapport”.
2. O terapeuta aceita a criança como ela é.
3. O terapeuta estabelece uma sensação de permissividade no
relacionamento,de tal modo que a criança se sinta completamente livre
para expressar seus sentimentos.
4. O terapeuta está sempre alerta para identificar os sentimentos que a
criança está expressando e para refleti-los para ela, de tal forma que ela
adquira conhecimento sobre seu comportamento.
5. O terapeuta mantém profundo respeito pela capacidade da criança
emresolver seus próprios problemas, dando-lhe oportunidade para isso.
A responsabilidade de escolher e de fazer mudanças é deixada à
criança.
6. O terapeuta não tenta dirigir as ações ou conversas da criança de
forma alguma. Ela indica o caminho e o terapeuta o segue.
7. O terapeuta não tenta abreviar a duração da terapia. O processo é
gradativo e assim deve ser reconhecido por ele.
8. O terapeuta estabelece somente as limitações necessárias para
fundamentar a terapia no mundo da realidade e fazer a criança
consciente de sua responsabilidade no relacionamento (AXLINE, 1972,
p. 69).
Atualmente diversas abordagens trabalham com a psicoterapia infantil,
dentre elas: Psicoterapia de Orientação Analítica, Psicoterapia Breve,
Cognitiva, CognitivoComportamental.
As psicoterapias breves, têm tempo e objetivos terapêuticos
determinados, sendo apresentadas como modelos em expansão de
diversas técnicas (KNOBEL,1997). As indicações são variadas, e
Aberastury (1971, apud KNOBEL, 1997) aponta algumas situações
onde comumente são utilizadas formas de breves de psicoterapia com
crianças: ao serem induzidas a cirurgias, casos agudos de um sintoma
que possa ser focalizado e isolado, diante de doença mortal própria ou
de alguém próximo, situações familiares perturbadoras como adoção,
divórcio, mudanças, novo casamento dos pais; dentre outras.
As psicoterapias de apoio são comumente indicadas, por exemplo, em
casos de transtornos mentais leves, transtornos de aprendizagem,
transtornos globais do desenvolvimento e psicoses (KERNBERG, 1999),
porém, de acordo com Coppolillo (1990), pode acompanhar a
psicoterapia de insight quando esta volta-se para aspectos dolorosos
e/ou difíceis de serem trabalhados.
Para a Psicologia Cognitiva, os comportamentos e afetos disfuncionais,
originados de transtornos psicológicos, são caracterizados pela
presença de equívocos e distorções do pensamento; assim, através de
um conjunto de técnicas de tratamento, a Psicologia Cognitiva busca
avaliar e corrigir estes pensamentos envolvidos no transtorno,
modificando consequentemente as respostas emocionais.
A psicoterapia comporta uma etapa de avaliação, onde o terapeuta
encontra a criança e sua família, tendo a oportunidade de conhecer
aspectos gerais do paciente como elementos do funcionamento e
organização da família bem comoelementos do funcionamento psíquico
da criança; e três outras fases: inicial,
intermediária e final (CASTRO; CAMPEZARRO e SARAIVA, 2009). É
importante ressaltar que estas fases não são estipuladas com base no
tempo, e sim nos processos e modificações que vão acontecendo no
decorrer da terapia.
Início
O processo de avaliação inicia com encontros com os pais, nos quais
buscas e colher informações a respeito história do paciente, em seguida
ocorrem encontros com a criança, onde é realizada a hora do jogo
diagnóstica, que geralmente ocorre no primeiro encontro com a criança,
onde o terapeuta procura observá-la, partindo da concepção de que,
através do brincar, a criança fala simbolicamente, e que sua maneira de
atuar durante esta atividade pode ser reveladora quanto ao sentido dos
sintomas que apresenta (EFRON et al., 1981, apud CALDERARO e
CARVALHO,2005).
Este período de avaliação varia de caso para caso, sendo constituído,
geralmente, de cerca de 5 encontros, no total. Em seguida, volta-se a
conversar com os pais para dar-lhes uma devolutiva, para que possam
ter um entendimento psicodinâmico da criança e dos sintomas que
foram motivo da procura de auxílio (BERNHOLDT, 1989). A partir da
avaliação, se constatada uma real necessidade, o paciente inicia então
a psicoterapia.
Apesar de a criança ser “trazida” ao consultório, deve estar ciente sobre
a finalidade de sua avaliação e, posteriormente, de seu tratamento; se
não foi explicado previamente à criança motivo de sua ida ao terapeuta,
ou se esta possui alguma incerteza quanto ao processo psicoterápico, o
terapeuta deve esclarecer-lhe, de modo que possa compreender, o(s)
motivo(s) e objetivo(s) de estar sendo avaliada ou iniciando uma terapia,
bem como do porque os pais terem procurado o terapeuta.
Os objetivos terapêuticos devem ser entendidos tanto pela criança,
quando pelos pais desta. Com estes, por sua vez, será discutido o
panorama psicológico do paciente, mas preservando o sigilo sobre as
revelações feitas, pela criança, ao terapeuta (BERNHOLDT, 1989).
Na fase inicial constrói-se um vinculo e uma aliança de trabalho, é nesta
fase a criança vai iniciando a revelar algo de si mesma no decorrer das
sessões, por exemplo, através dos materiais lúdicos que escolhe
destaca cinco importantes conquistas nesta primeira fase:
1) A criança atinge um grau de bem estar que a permite ser produtiva
nas sessões, passando a compreender que as informações trazidas por
ela serão analisadas e não resultarão em punições, repreensões e/ou
castigos.
2) A criança se comunica normalmente. Após alguns momentos de
timidez, a maioria das crianças mostra-se disposta a uma conversa,
talvez empregando o brinquedo para quebrar o silêncio.
3) A criança e o terapeuta atingem uma aliança terapêutica. Esta inicia a
partir do reconhecimento, por parte da criança, que algum aspecto de
sua vida não está indo bem e que juntamente com o terapeuta pode
buscar meios de melhorar.
4) A criança torna-se consciente de que algumas atividades mentais são
geradas internamente, passando a reconhecer o mundo interno.
Geralmente crianças até 11 anos não tem consciência de que um
comportamento ou um sentimento consciente podem ser ocasionados
por um motivo gerado internamente, assim através da sua própria
observação, o terapeuta procura ajudá-la a ter consciência da
necessidade de uma mudança interna.
5) A criança e o terapeuta começam a dividir modos de representar
seus estados internos com palavras, imagens e símbolos;
desenvolvendo uma linguagem particular.
Esta fase pode ter uma duração variada e a aquisição destes objetivos
não garante que terão continuidade durante todo o tratamento. O
importante é que ao fim desta, o paciente esteja mais familiarizado com
o processo terapêutico, aliando-se ao terapeuta na tarefa de identificar e
elaborar conflitos .
Fase intermediária
A fase geralmente mais longa do processo terapêutico, a fase
intermediária, visa explorar, interpretar e elaborar os conflitos que
originaram a busca do tratamento. Neste período podem surgir outras
questões, além das iniciais, que poderão ser foco do trabalho
terapêutico (CASTRO, CAMPEZATTO e SARAIVA, 2009).
Procura-se reconhecer e analisar temas e tendências inconscientes e
persistentes que reprimem o paciente, dificultando seu
desenvolvimento; elaborar a natureza dos sintomas e dificuldades
apresentados, e compreender o modo como a criança experiencia seus
problemas. É importante que a comunicação, nesta e em todas as
fases, seja familiar e evocativa ao paciente.
A medida em que estas questões são investigadas, paciente e
terapeuta encontram razões compreensíveis para sua repetição; estas
são resumidas pelo terapeuta, de forma compreensível, para o paciente
(COPPOLILLO, 1990).
A participação dos pais ou cuidadores também é significativa, na
medida em que estes poderão fornecer informações gerais sobre a
criança, pode-se também pensar na possibilidade de aconselhá-los,
fornecendo informações e sugestões práticas, conforme necessário.
Esta prática mantém como foco as dificuldades da criança e as reações
dos pais (KERNBERG, 1999).
Término
No momento em que começa a ser discutido seriamente o término do
processo terapêutico entre terapeuta e paciente, inicia a fase final da
terapia.
É um estágio crucial, pois ecoará em outros términos futuros na vida da
criança (KERNBERG, 1999), por isto o ideal é auxiliar a criança a
examinar suas condições reais para um término, trabalhar o luto pelo
fim do relacionamento com o terapeuta e “identificar os ganhos
conquistados e as situações que ainda merecem alguma atenção
psicoterápica”
Para Anna Freud, uma vez que o objetivo seja promover o
desenvolvimento normal para sua idade, então a terapia alcançou seu
objetivo quando o prévio desenvolvimento interrompido prossegue
novamente (SANDLER, 1982), sendo a criança capaz de tomar conta
de seu próprio desenvolvimento. Para Sandler (1982) este critério está
relacionado com metas globais, propondo além destes, critérios
relacionados com metas intermediárias, que surgem durante o
processo, relacionadas com a resolução da transferência e adaptação
do paciente à vida externa.
Segundo Castro (1989), as normas para conclusão de psicoterapias
infantis, tal coma nas análises,vão sendo construídas, modificadas e
fixadas considerando-se a avaliação inicial, os objetivos e metas
propostas, o prognóstico e o tipo de técnica utilizada e a profundidade
alcançada (p. 54).
Poucos estudos falam sobre um tempo médio de duração para
psicoterapia infantil, uma pesquisa realizada por Duarte (1985 apud
CASTRO, 1989) aponta uma duração média de dois a três anos, para
psicoterapia de orientação analítica. O ideal é que a idéia de término
seja discutida entre o terapeuta, a criança e seus pais, e que estes
estejam de acordo com o término. Porém, nem todo término é realizado
de forma planejada, sendo grande o número de términos prematuros
(COPPOLILLO, 1990).
Estes podem ser provocados por iniciativa do terapeuta (como a
interrupção de tratamentos realizados em clínicas-escola, quando o
terapeuta acaba o curso e um outro assume o seu posto junto à
criança), por condições na criança (como problemas de saúde,
constatação de que o tratamento não é apropriado àquele paciente –
havendo interrupção no tratamento ou na modalidade deste), e/ou
devido a circunstâncias ambientais (mudança de residência, resistência
por parte dos pais), sendo que uma série de fatores podem contribuir e
interligar-se para um término prematuro. Mesmo nestas situações de
interrupção do tratamento, o terapeuta pode tomar algumas medidas
para “minimizar os possíveis efeitos adversos do término, e solidificar os
benefícios que a criança possa já ter conseguido” . O papel dos pais na
psicoterapia infantil
A dependência da criança em relação a seus cuidadores, leva o
psicoterapeuta a considerar o acompanhamento e orientação a estes.
Portanto, torna-se importante a realização de entrevistas sistemáticas
com os cuidadores a fim de que sejam auxiliados a compreender e
aceitar as dificuldades da criança, e a receber as melhorias que irão
exigir uma reestruturação da dinâmica familiar(FURTADO e MARQUES,
2009).
Caso o problema encontre-se em uma esfera ambiental, não tendo sido
internalizado na mente infantil nem se estruturado, o manejo das
dificuldades com os pais pode ser suficiente. Já quando os sintomas
adquirem autonomia em relação ao ambiente, a intervenção com os
pais/cuidadores torna-se acessória, não decisiva(SIMON apud MOTTA,
2006).
A psicoterapia pode prosseguir mais rapidamente se os cuidadores
receberem algum tipo de ajuda terapêutica ou aconselhamento, embora
freqüentemente os cuidadores sejam um fator agravante no problema
enfrentado criança. Porém, não é necessário que isto aconteça para
assegurar o sucesso do tratamento (AXLINE, 1972).
Os pais/cuidadores, ao participarem da psicoterapia infantil, podem
fornecer o apoio necessário para a criança continuar seu tratamento.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Através da pesquisa bibliográfica realizada, encontrou-se grande
carência de material que auxiliasse crianças e cuidadores a
compreenderem o processo psicoterapêutico infantil, sendo que a
compreensão sobre este parece estar diretamente ligada às explicações
fornecidas verbalmente pelo psicólogo.
Foram encontrados materiais informativos sobre diversas temáticas,
como: a entrada da criança em uma ambiente hospitalar, a ida ao
consultório médico,respostas para dúvidas freqüentes, apresentação do
corpo humano, modos lidar com problemas de sono, irritação,
preocupações, manias (BENNETT, 2010;
Porém, o único material do gênero encontrado foi o livro intitulado “O
primeiro livro da criança sobre psicoterapia” dos autores Marc A.
Nemiroff e Jane Annunziata (1994). Este livro, porém, não é tão
acessível ao público-alvo do presente trabalho, por ser de ser um livro
americano traduzido para o português, sem adaptação à realidade
brasileira e por ter elevado custo.
Diante desta problemática levantou-se os itens necessários para a
compreensão do processo psicoterápico, à crianças, em terapia ou não,
bem como a seus cuidadores, professores e demais interessado. Após
este levantamento, criouse uma cartilha de X páginas, com conteúdo
lúdico e informativo sobre a temática, para que de forma interativa a
criança possa compreender melhor os objetivos e componentes da
psicoterapia infantil.
As cartilhas fornecem informações em linguagem adequada para a
compreensão, esclarecendo aspectos técnicos dos procedimentos
adotados, minimizando angústias, fantasias e medo, sendo uma forma
de interação e comunicação entre o psicólogo, seus pacientes e
responsáveis (CREPALDI; RABUSKE e GABARRA, 2006).
Estas são direcionadas a temas específicos, com conteúdo educativo
elaborado conforme as características específicas de tais temas e a
faixa etária de desenvolvimento a quem é destinado. As informações
favorecem o desenvolvimento da autonomia da criança e de seus
cuidadores
A escolha da realização de uma cartilha partiu da idéia de que se as
crianças e seus pais levarem as informações para casa, poderão
consultar estas quando desejarem, evitando parte de incompreensões
resultadas de uma explicação exclusivamente oral.
Os problemas de saúde mental infantil têm mobilizado o aumento da
demanda para atendimento psicológico nesta faixa etária. Estudos de
Fleitlich-Bilyk (2002) e Heiervang et al. (2007), citados por Silva (2008),
apontam que 5 a 15% de crianças apresentam sintomas psiquiátricos
com impacto nas suas vidas, em países desenvolvidos, sendo que a
prevalência de transtornos mentais em préadolescentes é de
aproximadamente 12%, aumentando para 15% na adolescência,
havendo prevalência de transtornos mentais disruptivos e de ansiedade.
Geralmente a criança é trazida à terapia por seus cuidadores, sem
nenhuma explicação prévia, chegando ao psicólogo sem saber o que
está acontecendo, a utilização da presente cartilha visa evitar esta
situação de desconhecimento, uma vez que é a criança o principal
elemento da psicoterapia.
As pesquisas encontradas mostram uma taxa de prevalência
considerável para problemas de saúde mental em crianças, o que
reforça a importância de se possuir um material que explique a este
público o funcionamento de uma psicoterapia, de modo que não vá para
esta pensando no psicoterapeuta como um médico ou uma professora,
mas que saiba os motivos que estão levando-a ali, bem como o que
acontecerá no setting terapêutico.

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