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O BRINCAR COMO ATO TERAPÊUTICO NO DESENVOLVIMENTO

INFANTIL

TEMA

O presente projeto tem como objetivo a aplicação da ludoterapia em


crianças de 5 a 7 anos de idade numa Unidade Básica de Saúde localizada
numa cidade no interior do Estado de São Paulo, como alternativa para a
demanda da lista de espera para psicoterapia individual. O foco é trabalhar, por
meio do brincar, as questões da hiperatividade, sentimentos ansiosos e a
construção da imagem corporal nas crianças participantes.

METODOLOGIA

A construção do projeto se dá pela aplicação de técnicas psicanalíticas


como a ludoterapia e o brincar terapêutico, além da análise de referências
bibliográficas como dissertações, teses e artigos científicos, todos publicados
entre os anos de 2006 à 2020, perpassando pela teoria de desenvolvimento de
Winnicott e suas contribuições para a análise clínica com a ludoterapia infantil.

MÉTODOS

A aplicação das dinâmicas ocorrerá a partir do dia 8 de abril de 2022 até


o dia 17 de junho de 2022, sendo ao todo 10 encontros dentro da Unidade
Básica de Saúde selecionada, tendo em vista a quantidade necessária de
horas para elaboração, aplicação e execução das atividades.

A primeira atividade será realizada com os pais e/ou responsáveis das


crianças participantes, tendo como objetivo o acolhimento e escuta das
queixas, além de explicar e informar como ocorrerão as dinâmicas e qual o
principal trabalho da aluna-estagiária dentro da instituição; a segunda atividade
será realizada apenas com as crianças e tem como objetivo o acolhimento e a
formação inicial do vínculo, onde os participantes terão a possibilidade de
desenvolver a criatividade e expressão artística por meio de pinturas com tinta,
lápis de cor e outros materiais necessários; numa terceira atividade, o objetivo
é a análise do vínculo familiar dos participantes, as brincadeiras selecionadas
para esse momento serão escolhidas a partir de uma análise social do que
seria a casa/ambiente familiar adequado, os materiais necessários serão:
panelas de brinquedo, comidas de plástico, bonecas e carrinhos, para assim a
criança elaborar, através do brincar, sua relação com a família.

Num quarto encontro, o foco do projeto será analisar o vínculo escolar,


como as crianças se sentem fazendo as atividades escolares, como vão para a
escola, qual a relação com os professores e colegas de turma. Para essa
dinâmica, serão utilizados cartões coloridos com os nomes das matérias
escolares mais comuns: matemática, português, geografia etc., os participantes
ficarão livres para escolherem os cartões que quiserem e deverão construir um
desenho com base nos comandos dados pela aluna-estagiária.

No quinto encontro, com o objetivo do reconhecimento corporal, as


crianças farão a dinâmica no espaço aberto da Unidade Básica de Saúde, com
a aluna-estagiária tomando todas as precauções e cuidados, irão fortalecer o
vínculo com brincadeiras que envolvam o corpo como: pique-esconde, pega-
pega etc.

Durante o sexto encontro, a dinâmica envolverá a musicoterapia, com o


objetivo do fortalecimento de vínculos, reconhecimento e desenvolvimento
corporal e expressão de conteúdos internos por meio da dança.

No sétimo encontro, será realizado com os pais e/ou responsáveis dos


participantes, com o objetivo da participação ativa de familiares no brincar
terapêutico da criança e a possibilidade da aluna-estagiária colher feedbacks
positivos e negativos sobre a ocorrência das dinâmicas e o comportamento das
crianças.

No oitavo e nono encontro, as atividades envolverão a análise livre e


observável da aluna-estagiária, onde, no ambiente das dinâmicas, serão
dispostos diversos brinquedos diferentes e as crianças participantes terão a
disponibilidade de escolher com o que querem brincar, possibilitando a
desenvoltura social e a comunicação interpessoal.

No décimo encontro, entendível como o último encontro do programa de


estágio, as crianças deverão fazer um desenho que represente o que as
atividades significaram para elas, como estão se sentindo por ser o último dia e
o que mais gostaram ou menos gostaram de todo o projeto. As atividades
serão encerradas com um pequeno café-da-manhã para os participantes.

Os materiais utilizados para a aplicação das dinâmicas foram


selecionados de acordo com os objetivos de cada encontro, sendo eles:

 Folhas de sulfite
 Lápis-de-cor
 Tinta guache
 Cartões coloridos
 Canetinhas
 Bonecas
 Carrinhos
 Panelas de brinquedo
 Comidas de plástico
 Aparelho celular para a musicoterapia

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Winnicott (1988/1990; apud Belo; Scodeler, 2013), entende que todos os


indivíduos possuem uma tendência inata para o desenvolvimento e para o
amadurecimento, dessa forma “é necessária a adaptação do meio ambiente ao
bebê e suas necessidades” (OUTEIRAL, 2005; apud BELO; SCODELER, 2013.
p.99). Ou seja, a adaptação do bebê com seu meio é o grande impulsionador
do seu desenvolvimento, num ambiente suficientemente bom, que atende as
necessidades e angústias de forma eficiente, é previsível o desenvolvimento
satisfatório do indivíduo:

“O ambiente fornece sustentação adequada, manuseio


adequado e apresentação do mundo externo ao bebê de maneira
adequada, ou seja, apresentado a este apenas o que ele está pronto
para descobrir em seu tempo, sem invasões nem precipitações”
(BELO; SCODELER, 2013. p.101).

Winnicott frisa muito em seus estudos, a importância do


amadurecimento e como ele está diretamente ligado à saúde do indivíduo,
considerando a notoriedade do brincar dentro do setting terapêutico. Belo e
Scodeler (2013), ressaltam sobre a criatividade primária, termo referente à
criatividade potencial, e sobre o espaço em que o brincar torna-se possível,
apresentando a ideia de Winnicott de que o brincar está entre a realidade
interna do indivíduo e a externa, flutuando e alternando entre ambas:

“O brincar então se desenvolve dentro de um espaço potencial,


numa zona intermediária, nem dentro, nem fora, nem realidade
interna, nem realidade objetivamente percebida, nem no Eu, nem no
Não-Eu, mas entre ambos, de modo que, ao mesmo tempo que não
está contido neles, os preserva e harmoniza” (BELO; SCODELER,
2013. p.104).

Ou seja, é no brincar que o indivíduo se percebe, percebe sua realidade


objetiva e a fusão entre as duas, demonstrando conteúdos internos e externos
para o terapeuta e é nessa demonstração, na aplicação da criatividade ao
brincar, que o profissional de psicologia deve focar, analisando as demandas e
questões apresentadas pela criança.

Os efeitos terapêuticos do brincar se apresentam na possibilidade da


criança em usufruir “da espontaneidade e da capacidade criativa” (BELO;
SCODELER, 2013. p.105), fortalecendo o seu verdadeiro eu.

Como salientam Ortolan, Lima, Maireno e Sei (2018), é necessário que o


aplicador, seja ele terapeuta profissional ou estudante de Psicologia,
reconheça: “a importância do brincar no acolhimento psicológico de crianças,
seja nos settings tradicionais da psicanálise clínica infantil, seja numa
ampliação desse setting” (LIMA; MAIRENO; ORTOLAN; SEI, 2018. p.24),
pensando na clínica ampliada, que é o conceito e proposta dos grupos do
presente trabalho.

Dessa forma, os autores supracitados entendem como efeitos


terapêuticos do brincar:

“(...) promove um vir à tona dos impulsos, pulsões e desejos,


assim como possibilita uma reedição de experiências marcantes já
vividas pela criança. Considera-se, então, o brincar como meio para
uma elaboração livre e espontânea de conteúdos psíquicos, no qual a
criança realiza seus desejos e domina a realidade. O brincar, além de
sua função elaborativa, é fundamental para auxiliar a criança na
organização do mundo interno e apropriação do mundo externo.
Deste modo, entende-se que o brincar (...) facilita a comunicação
consigo e com os outros, propiciando experiências inéditas” (LIMA;
MAIRENO; ORTOLAN; SEI, 2018. p.27).

Com a análise das referências selecionadas, é possível concluir que a


utilização da técnica do brincar dentro do setting terapêutico possui diversas
vantagens para o desenvolvimento infantil, seja ele a elaboração de recursos
internos, como autonomia, criatividade e plasticidade, como o desenvolvimento
de recursos externos como comunicação interpessoal e a criação de
identificação com o grupo.
REFERÊNCIAS:
LIMA; A. L. de. MAIRENO; D. P. ORTOLAN; M. L. M. SEI; M. B. Grupos
de dinâmica infantil e os efeitos terapêuticos do brincar. Ribeirão Preto. Rev.
SPAGESP, 2018, Vol. 19, nº2, 23-33. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
29702018000200003. Acesso em: 29 mar. 2022.

BELO; F. SCODELER; K. A importância do brincar em Winnicott e


Schiller. Rio de Janeiro: Rev. Tempo Psicanalítico., 2013, Vol. 45, nº1, 91-
109. ISSN 0101-4838. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0101-48382013000100007. Acesso em: 29 mar. 2022.

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