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FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

LUDOPEDAGOGIA

JESSICA GIAMPAOLO

A LUDICIDADE NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O DESENVOLVIMENTO


INFANTIL

SÃO CARLOS
2022
A LUDICIDADE NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O DESENVOLVIMENTO
INFANTIL

Jessica Giampaolo1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- Esse trabalho consiste em uma revisão bibliográfica que tem como objetivo realizar uma
reflexão sobre a ludicidade nas práticas pedagógicas relacionadas ao desenvolvimento infantil. O
trabalho também traz uma reflexão sobre o processo de ensino/aprendizagem, a importância do brincar,
o envolvimento de objetos em jogos e brincadeiras e a importância de o adulto motivar a criança como
sujeito de sua aprendizagem. Através dessas considerações, a reflexão considera o que autores
contemporâneos discutem sobre o assunto, levando em conta os benefícios da ludicidade nas práticas
pedagógicas, e em investir em uma ludopedagogia que auxilie a criança no caminho da aprendizagem,
considerando suas necessidades e especificidades.

PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia. Desenvolvimento. Criança. Lúdico. Aprendizagem. Infantil.

1
jessicagiam@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO

Quando pensamos na educação de crianças, pensamos em ludicidade. Mas, o


que seria a ludicidade?
Luckesi (2000) refletiu sobre a ludicidade como uma experiência interna do
sujeito que vivencia o momento. Já Brougère (2003) discorre sobre a ludicidade como
atividades lúdicas que trazem um sistema de regras bem definidas e um objeto que os
indivíduos usam para “jogar”, que pode ser um instrumento, um brinquedo etc. A
palavra “jogo”, quando relacionada ao lúdico, possui origem latina que significa
“gracejo”.
Ao refletir sobre isso, compreendemos que a ludicidade possui características
que favorecem o desenvolvimento no processo de aprendizagem através de jogos que
proporcionam prazer e diversão, promovendo a imaginação, ajudando a construir e
transformar o sujeito.
Quando pensamos no desenvolvimento do ser humano, compreendemos que a
conduta humana se organiza em esquemas de ações ou de representações que o
sujeito adquire, elaborando a partir de sua experiência individual. Esses esquemas
podem se coordenar através de uma meta intencional e formar estruturas de
conhecimento de diferentes níveis, sendo a inteligência a função que integra essas
estruturas e sua mudança.
Dessa forma, o desenvolvimento pode e deve ser estimulado pela ludicidade.
Nos anos iniciais, o estímulo pela brincadeira e pelo jogo trazem benefícios ao
desenvolvimento da criança, e são essenciais. Assim, o objetivo desse trabalho é
refletir sobre a ludicidade nas práticas pedagógicas e o desenvolvimento infantil, sob a
luz de autores que discorrem sobre o conteúdo.

2 DESENVOLVIMENTO

Quando pensamos em ludicidade, pensamos no brincar. Para Radespiel (2009),


“brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da
autonomia”. Assim, temos a noção de que a ludicidade é fundamental no processo de
ensino e aprendizagem de crianças em qualquer contexto.
Froebel (apud KUHLMANN, 2001) considerava a brincadeira um elemento
fundamental no que se referia ao crescimento da criança da segunda infância (após os
três anos). Da mesma forma como o imaginário infantil está em constante correlação
com a realidade que busca imitar para a afirmação da aquisição de capacidades e
assimilação de símbolos, as vivências pelas quais a criança passa influenciam
diretamente na maneira como ela vai se comportar em jogos papéis que vai
desempenhar nos mesmos.
Quando pensamos nas especificidades das crianças, é de valor lembrar que a
ludicidade pode ser uma aliada no ensino. Winnicott (2015, p.5) afirma: “o lúdico é
estimado como sendo algo prazeroso, por conta da sua capacidade de absorver o
indivíduo de modo total e intenso, proporcionando um clima de entusiasmo”. Em
concordância, Vale (2008) discorre sobre a ludicidade se remeter ao envolvimento em
uma atividade fazendo uso objetos (como brinquedos) que promovem prazer à criança.
Assim, cabe ao educador auxiliar o aluno no aprendizado de novos conteúdos usando
estratégias e atividades prazerosas. O brincar é uma ação que se faz presente em
todas as fases do desenvolvimento, sendo os objetos incitantes do interesse lúdico,
pois tendem a mudar dependendo da etapa em que o indivíduo se encontra.
O lúdico promove o prazer e a alegria. Compreendemos que, partindo desse ponto
de vista, a ludicidade é, então, algo que gera alegria, se estabelecendo entre as
pessoas em certas situações. No que se refere a essas situações, podemos
exemplificar através da relação entre uma pessoa e um animal, uma criança e um
brinquedo, ou seja, o lúdico está ligado a várias circunstâncias que podem proporcionar
felicidade e bem-estar (GASPAR, 2011). Assim, a ludicidade presente no cotidiano
infantil traz bem-estar às crianças, e podem proporcionar um ambiente onde elas se
sintam mais à vontade para se expressar.
Atualmente, o setor educacional tem a função de possibilitar e de proporcionar
alternativas para que os indivíduos que se encontram fora do sistema possam ter
maiores oportunidades de se reintegrar socialmente. Esse fato levou a revisão de
diversos sistemas educacionais, que, por causa disso, passaram a estabelecer ações
harmônicas, ocasionando que a educação chegue a todos os alunos em circunstâncias
regulares e não segregados. Quando refletimos sobre isso, voltamos nosso olhar para
as dificuldades de aprendizagem e para as necessidades especiais, que se tornaram
uma grande demanda educacional.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/96) Art. 58.,
observa-se que as escolas devem oferecer aos que necessitam a educação especial,
modalidade de educação escolar que é disponibilizada de preferência na rede regular
de ensino, para alunos PNE (pessoa com necessidade especial). No § 1º, cita que
haverá, sempre que preciso, serviços de apoio especializado, no ambiente escolar, de
modo que possa atender as particularidades dos alunos. Já no § 2º do LDB 9.394/96, o
atendimento educacional tende a ser feito em salas de aula, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições características de cada aluno,
não for admissível a sua integração em classes comuns de ensino regular. Já no § 3º,
aborda que a oferta de educação especial é obrigação constitucional do Estado, tendo
seu início na faixa etária de zero a seis anos, no decorrer de todo processo de
educação infantil. Assim, percebemos a necessidade de o educador aprimorar seu
método pedagógico para atingir crianças de acordo com as suas especificidades, sejam
dificuldades de aprendizagem ou necessidades especiais. E a ludicidade é uma
excelente aliada nessa busca.
Essa noção da necessidade de adaptação da prática pedagógica, incluindo a
ludicidade, fica ainda mais clara quando refletimos no que Kishimoto discorreu:
A brincadeira possui grande relevância na aprendizagem, por conta
disso, deve ser valorizada e incentivada, com a brincadeira as crianças
podem conferir novos significados aos elementos da realidade
vivenciados em seu cotidiano, podendo expor o seu modo compreendê-
lo. Sendo assim, a escola deveria procurar explorar ainda mais o
contexto do brincar, buscando formas de fazer com que esse seja
traduzido em conhecimento, ofertando materiais, espaços e recursos
que façam com que a brincadeira seja ainda mais enriquecedora,
servindo como um elemento da atividade lúdica onde o aluno cria e
recria suas emoções, sentimento e conhecimentos, gerando um
ambiente compatível com os anseios e necessidades de cada criança
(KISHIMOTO, 1994, p. 19).
Assim, a adaptação de aulas e de materiais abrangidos na prática pedagógica
levando em conta a ludicidade e a busca em alcanças as especificidades dos
educandos se faz fundamentada em lei e tem sua eficácia baseada em diversos
estudos de autores contemporâneos.
É possível explorar diversos aspectos de nossos educandos utilizando o brincar.
Pensando em brincar relacionado a brinquedos, é importante que o educador saiba
quais os brinquedos adequados para cada idade, garantindo segurança de cada
criança, principalmente quando se trata da educação infantil, que abrange bebês, que
levam objetos até a boca e batem nas mãos ou em outras partes do corpo quando
estão em processo de exploração. Embora os brinquedos venham com indicação de
faixa etária na embalagem, muitas vezes não fica claro o objetivo do mesmo,
necessitando da avaliação do adulto para atribuir o objeto à criança ou não. Abaixo,
estão listados brinquedos por idade e seus objetivos adequados, além dos cuidados
que se deve ter ao utilizá-los:
 0 a 5 meses - Chocalhos, brinquedos musicais, mordedores, brinquedos de
berço, móbiles, livrinhos de pano ou plástico, bolas com texturas diferentes para
serem agarradas com as duas mãos.
 6 meses a 1 ano - Brinquedos flutuantes (patinhos de borracha que boiam na
água), cubos que tenham guizos embutidos ou ilustrações, caixas ou brinquedos
que se encaixam uns dentro dos outros, argolas empilháveis, brinquedos para
martelar, empilhar e desmontar, brinquedos eletrônicos de aprendizado, mesa
pequena com cadeirinhas na altura em que a criança possa alcançar os pés
corretamente no chão, telefone de brinquedo, espelhos, brinquedos que emitem
sons por meio de botões de apertar, girar ou empurrar.
 1 a 2 anos - Brinquedos de variadas texturas (estimulam os sentidos da visão, da
audição e do tato), bonecas de tecido e bichos de pelúcia feitos de materiais
atóxicos, livros e álbuns de fotografia com ilustrações dos familiares e objetos
conhecidos, brinquedos de empurrar ou puxar, brinquedos de montar e
desmontar. Os brinquedos devem ter cores vivas e não podem ser tóxicos.
 2 a 3 anos - Bola, blocos de brinquedos para serem empilhados e colocados
dentro de caixas, brinquedos de encaixar e desmontar, brinquedos musicais,
carrinhos, bonecas, cavalinho de balanço, brinquedos para praia ou piscina,
brinquedos de equilibrar um em cima do outro. Nessa idade, deve-se ensinar a
criança a organizar e recolher os brinquedos.
 3 a 4 anos - Triciclo, carrinho grande de puxar, aviões, trenzinhos, brinquedos
infláveis, bolhas de sabão, caixas de areia com pás e cubos, cabaninhas, casas
de bonecas, ferramentas de brinquedos, massinha de modelar, objetos
domésticos, fantasias, máscaras, fantoches, instrumentos musicais de brinquedo
(como pandeiros, pianinhos, trombetas e tambores), brinquedos de montar e
desmontar mais complicados, blocos de formas e tamanhos variados, jogos e
quebra-cabeças simples, lápis de cor e papel para desenhar (círculos, bonecos,
enumerar os elementos de uma ilustração, colorir), livros com diferentes
ilustrações e histórias alegres.
 4 a 6 anos - Fase do mundo imaginário, criatividade das crianças em
desenvolvimento. Os brinquedos nessa fase devem auxiliar a criança a entrar no
mundo da fantasia, por exemplo: dinheirinho de brinquedo, caixa registradora,
casas de boneca com móveis, telefone, cidadezinhas, circos, fazendas com
animais, materiais de papelaria, postos de gasolina, meios de transporte
(caminhões, automóveis e pistas, motos, aviões, trens elétricos, barcos e
tratores), instrumentos musicais e eletrônicos, jogos. Nessa idade, a criança
começa a sentir o que chamamos de medos infantis, como o medo do escuro,
das bruxas, do bicho-papão e de outras coisas feias que impedem que a criança
durma bem. Dessa forma, para que a criança consiga superar essa fase,
recomenda-se que ela tenha uma boneca ou um ursinho de pelúcia. Acima de 6
anos - Jogos de tabuleiro, bolinhas de gude, pipas, carros de corrida, trens
elétricos, argila para modelar, pincel, brinquedos de mágica, artigos esportivos,
bicicletas, patins, skate, jogos eletrônicos, de memória, videogames, patinetes,
futebol de botão, laptops, brinquedos colecionáveis, chaveiros, brinquedos
eletrônicos, jogos de cartas, kits, pistas de carrinhos, quebra-cabeças.
O modo como o educador vai tratar as questões infantis e direcionar seu
trabalho em nível pedagógico para atender às necessidades de adaptação a cada
nova etapa que os educandos se encontram constitui um desafio educativo. Como
citou Negrine (1995), tão importante como a trajetória que o educando realiza ao
brincar e jogar, também está a preparação do educador ou o adulto que acompanha
a criança para entender, compreender e realizar intervenções como formas de
ajudar o indivíduo a evoluir.
3 CONCLUSÃO

Através do considerado anteriormente, conseguimos refletir sobre a importância


da ludicidade. Isso nos remete a Vygotsky, que considera que cada indivíduo interage
no processo educacional desempenhando um papel de importância igual e não atuando
apenas como sujeito ativo ou sujeito passivo. O brincar, então, ganha espaço nessa
dimensão, servindo como ferramenta para promover a interação entre os sujeitos e
entre o objeto de saber. Discorrendo sobre isso, focado no desenvolvimento da criança,
Vygotsky (1989, p. 109) afirma que “é no brinquedo que a criança aprende a agir numa
esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos”.
O brincar pode ser considerado principal fator de desenvolvimento cognitivo
infantil. A ação de brincar potencializa os aspectos físico, moral, motor, emocional,
intelectual e psicossocial da criança. Através do brincar a criança expressa seus
interesses, reflete e experimenta situações do seu cotidiano que contribuem para trocas
de experiências. O estímulo da ludicidade infantil deve ser iniciado no seio familiar, pois
essas ações contribuem no aspecto de desenvolvimento intelectual e motor antes
mesmo da criança ser inserida em atividades escolares (SILVA 2021).
A ludopedagogia auxilia na visualização e no alinhamento da prática pedagógica
com a ludicidade na aprendizagem das crianças. Ela torna estratégias de ensino mais
potentes, o que possibilita ao professor trabalhar o processo de ensino/aprendizagem
superando os desafios dos anos iniciais. O desenvolvimento de atividades
ludopedagógicas levam em conta a criança em sua totalidade, explorando as
potencialidades do lúdico no desenvolvimento dela. A aprendizagem demanda um
ambiente e práticas pedagógicas que sejam atraentes aos educandos, os
reconhecendo como sujeitos do seu aprendizado (SILVA et al 2021). Dessa forma,
compreendemos como a ludicidade é importante no desenvolvimento da criança, em
todas as suas fases, adequadas ao momento em que se encontra, e adaptadas às suas
necessidades e especificidades.
4 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.


Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Subchefia para Assuntos
Jurídicos, Brasília, dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/L

BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre: Artmed, 2003.

GASPAR, A. S. O lúdico na Educação Física Infantil. 2011.Trabalho de Conclusão de


Curso (Graduação em Educação Física) – Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2011.

KISHIMOTO, T. M. O Jogo, a Criança e a Educação. São Paulo: Editora Pioneira, 1994.

KUHLMANN JUNIOR, M. O jardim de infância e a educação das crianças pobres: final


do século XIX, início do século XX. In: MONARCHA, Carlos (Org.). Educação da
infância brasileira: 1875-1983. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. p. 3-30.
(Coleção educação contemporânea).

LUCKESI, C.C. Educação, ludicidade e prevenção das neuroses futuras: uma


proposta pedagógica a partir da Biossíntese. In: LUCKESI, C.C. (Org.)
Ludopedagogia. Salvador: Gepel, 2000. (Ensaios: Educação e Ludicidade, 1).

NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: psicomotricidade:


alternativas pedagógicas. Porto alegre: Prodil, 1995.

RADESPIEL, E. No meu jardim. Ed. 2009.

SILVA C. W. M. B.; et al 2021. Contribuições da ludopedagogia: o lúdico nas séries


Iniciais.

SILVA, G. K. S. Ludopedagogia: contribuições na educação infantil. 2021.

VALE, T. Práticas educativas: criatividade, ludicidade e jogos. Bauru: MEC/FC/SEE,v.


12, 2008.

VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

WINNICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 2015.

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