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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE IBITINGA –

FAIBI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

Laura Bovolim Cinegaglia

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL

IBITINGA/SP
2022
Laura Bovolim Cinegaglia

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Faculdade de


Filosofia, Ciências e Letras de Ibitinga, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Licenciatura em Pedagogia.

Orientador(a):
Profª Ms Daniela Gonçalves Campos

IBITINGA/SP
2022
SUMÁRIO

1. HISTÓRIA DA INSERÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO 4


1.2- AS CONTRIBUIÇÕES DE FRIEDRICH FROEBEL PARA A EDUCAÇÃO
LÚDICA..........................................................................................................................6
1.3- O BRINCAR COMO DIREITO DA CRIANÇA......................................................8
1.4 -JOGOS, BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E ATIVIDADES LÚDICAS...............10
2. O PAPEL DO EDUCADOR NO ENSINO LÚDICO DE CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS
13
2.1 CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY......................................................................18
2.2 O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA.......................................20
2.3 AS BRINCADEIRAS NA PROPOSTA CURRICULAR..........................................21
3. O BRINCAR E SE MOVIMENTAR NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
24
3.1 INTRODUZINDO O BRINCAR HEURÍSTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL..........27
3.2 O BRINCAR HEURÍSTICO NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: CESTO DOS
TESOUROS.................................................................................................................28
REFERÊNCIAS 29
Introdução

A relevância do aprofundamento dessa temática origina-se de minha experiência


em estágios realizados durante o curso de Pedagogia e justifica-se no fato de que
professores se deparam frequentemente com problemas de aprendizagem em sala de
aula e que mesmo buscando novas abordagens não conseguem reparar essas
dificuldades em ambiente escolar. Além disso, cabe ressaltar que através de atividades
que utilizam jogos educativos o profissional consegue acessar áreas que a criança via
fala não consegue demonstrar.
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1. HISTÓRIA DA INSERÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO

Este capítulo tem como intuito conceituar e subsidiar o trabalho do pedagogo na


utilização de Jogos Educativos na Educação Infantil, afim de oportunizar avanços ou
superação das dificuldades dos educandos.
A partir desse ponto de vista, se faz relevante buscar embasamento por meio
dos teóricos, propondo uma reflexão acerca do tema com o intuito de poder utilizá-los
em conjunto com a prática pedagógica dos professores e também subsidiando a minha
formação profissional enquanto estudante de Pedagogia e futura docente.

1.1 - O lúdico na educação: contextualização

Segundo o Dicionário On-line Significados (2020), o significado da palavra lúdico


tem origem do latim ludus que se refere à brincadeira e divertimento. O lúdico é alegre
e criativo, além de poder ser considerado inerente à infância, contribuindo para a
socialização.
Ao longo da história da humanidade nota-se feitos de grande importância que
estão relacionados ao ato de brincar. E estes feitos perduram até hoje com diversas
inovações. O lúdico enquanto prática sempre foi algo a ocorrer sem grandes
pretensões e com naturalidade, no entanto, também era utilizado para fins educativos.
De acordo com Sant’Anna e Nascimento (2012, p. 02), em meados de 367 a.C.
Platão já afirmava que desde a mais tenra idade meninos e meninas deviam praticar
juntos as atividades lúdicas, brincar e jogar, trazendo o conceito de que a educação
deveria ser a mesma para homens e mulheres. Também afirmava que as atividades
lúdicas educativas poderiam ser eficazes para a formação do caráter e da
personalidade das crianças.
Jogos educativos sempre foram utilizados para desenvolver atividades em sala
de aula, pois são ferramentas que contribuem de forma mais eficiente para
desenvolver a aprendizagem, concentração e destreza.
Sabe-se que as abordagens ditas tradicionais na área da Pedagogia estão
sendo questionadas e a busca por novas abordagens com a utilização de atividades
lúdicas tem sido valorizadas. Além disso, cabe ressaltar que através de jogos o
profissional da educação consegue acessar áreas, sejam de cunho pedagógico
5

educacional ou de natureza emocional, que as crianças por diversos motivos não


conseguem verbalizar (KISHIMOTO, 2003).
Kishimoto (2003), afirma que não é tarefa fácil tentar definir o jogo, isso porque
quando nos deparamos como a palavra jogo podemos dar a ela vários significados.

Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou


amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estórias, ‘brincar de mamãe e filhinha’,
futebol, dominó, quebra-cabeça, construir barquinho, brincar de areia e uma
infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma denominação, têm
suas especificidades (KISHIMOTO, 2003, p. 13).

Visto que o jogo é uma das formas de apropriação da cultura, de incentivo e de


manifestação de pensamento mais complexo. Nos deparamos com as regras impostas
pela escola, ou seja, de uma certa forma impomos à criança a forma como ela deveria
pensar, retirando dela a liberdade e impactando sua criatividade e imaginação.
Em concordância com Piaget (1996), a assimilação da realidade não é uma
cópia da informação, para que a aprendizagem ocorra, o sujeito precisa passar por um
processo de construção.
Para Vygotsky (1995), o homem é um ser simbólico, ou seja, constrói a
capacidade de pensar. Logo, cabe à escola oferecer para as crianças experiências
para que ela possa pensar, desenvolver sua capacidade criativa e não oferecer
situação pré-estabelecidas simplesmente para que a criança reproduza, pois isso não
condiz com o desenvolvimento da natureza humana.
Conforme explicitado anteriormente, a criança hoje é vista como cidadã de
direito ao brinquedo e à brincadeira, a importância disso é que criança passa a ser
protagonista das suas escolhas, desde que os brinquedos estejam disponíveis e
acessíveis e não o que normalmente as escolas fazem que é colocar os brinquedos em
lugares altos.
Segundo Vygotsky (1995), a brincadeira é considerada como um espaço de
aprendizagem, onde a criança ultrapassa o comportamento cotidiano habitual de sua
idade, onde ela age como se fosse maior do que é, representando simbolicamente o
que mais tarde realizará.
Cabe ressaltar também que os brinquedos permitem que a criança adentre no
mundo do faz-de-conta, por esse motivo é importante oferecer o que pertence ao dia a
dia da criança, pois são através desses momentos que a criança assume personagens
que gostaria de ser.
6

O faz-de-conta permite não só a entrada no imaginário, mas a expressão de


regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras. É importante
registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores
adquiridas pelas crianças, em diferentes contextos. Ideias e ações adquiridas
pelas crianças provêm do mundo social, incluindo a família e o seu círculo de
relacionamento, o currículo apresentado pela escola, as ideias discutidas em
classe, os materiais e os pares (KISHIMOTO, 2003, p. 39).

O brincar é algo que deve ser resgatado tanto na família como na escola,
aprender tem que ser lúdico, e ao assumir a função lúdica e educativa, de acordo com
Kishimoto (2003, p. 37) o brinquedo educativo merece algumas considerações:
Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, quando
escolhido voluntariamente; e
Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo
em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.

A ludicidade dá aos professores a oportunidade de oferecer aos alunos


atividades significativas que desafiam os alunos a participar e resolver problemas.
Além disso, desenvolve a aprendizagem, imaginação, concentração, socialização,
criatividade, enfim desenvolve habilidades diversas. (PEREIRA, 1999).
Segundo Pereira (1999, p.276), o lúdico “está ligado às dimensões do prazer, da
intencionalidade e da criatividade, do sonho, da magia, da sensibilidade, do
imaginário”.
Ao contrário do que o senso comum pensa, o brincar é não é uma atividade
aleatória, desimportante, acessória e secundária, vimos que brincar é fundamental no
processo de desenvolvimento psíquico da criança, ele é a principal linguagem desse
indivíduo em formação:
Os brinquedos orientam a brincadeira, trazem-lhe a matéria. Algumas pessoas
são tentadas a dizer que eles a condicionam, mas, então, toda brincadeira está
condicionada pelo meio ambiente. Só se pode brincar com o que se tem, e a
criatividade, tal como a evocamos, permite, justamente, ultrapassar esse
ambiente, sempre particular e limitado (BROUGERÉ, 1997).

1.2- AS CONTRIBUIÇÕES DE FRIEDRICH FROEBEL PARA A EDUCAÇÃO


LÚDICA

Segundo Arce (2004), Friedrich Wilhelm August Froebel foi um educador e


filósofo alemão. Suas teorias foram muito importantes para a construção da
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educação infantil e ainda nos dias de hoje perduram práticas pedagógicas sob sua
influência. Froebel não foi o precursor a analisar o jogo como objeto da educação,
mas deu início à prática dos jogos e brincadeiras com a criação do primeiro jardim
de infância, defendendo que o conhecimento e desenvolvimento da criança é fruto
do seu papel ativo no aprendizado, e que este deve ser desenvolvido de acordo com
seus interesses, por meio dos jogos e brincadeiras, ou seja, o papel lúdico da
educação.
Para a realização do autoconhecimento com liberdade, Froebel elege o jogo
como seu grande instrumento, juntamente com os brinquedos. O jogo seria um
mediador nesse processo de autoconhecimento, por meio do exercício de
exteriorização e interiorização da essência divina presente em cada criança,
levando-a assim a reconhecer e aceitar a “unidade vital”. Froebel foi pioneiro
ao reconhecer no jogo a atividade pela qual a criança expressa sua visão do
mundo. Segundo Froebel o jogo seria também a principal fonte do
desenvolvimento na primeira infância, que para ele é o período mais importante
da vida humana, um período que constitui a fonte de tudo o que caracteriza o
indivíduo, toda a sua personalidade. Por isso Froebel considera a brincadeira
uma atividade séria e importante para quem deseja realmente conhecer a
criança (ARCE, 2004, p. 5).

Os jogos, as brincadeiras e o brinquedo, para Froebel além de produzir o


autoconhecimento nas crianças também é capaz de fazer com que ela possa
desenvolver sua visão de mundo da maneira mais espontânea possível, associando o
aprendizado à brincadeira, aprendendo a trabalhar com a cooperação e seguimento de
regras. Froebel caracteriza a infância como a principal fase em que o indivíduo forma
sua personalidade, e as brincadeiras também podem ajudar a formar essa
personalidade (ARCE, 2004).
Arce (2004, p. 5) explica que Froebel defendia que a educação deveria se dar
sem obrigações e imposições, a criança aprenderia por si mesma, pois cada criança
tem suas necessidades individuais e seu tempo de assimilar o aprendizado,
detectando três estágios: primeira infância, infância e idade escolar. "[...]Froebel
explica que, se o adulto observar, por exemplo, o jogo e a fala de uma criança,
poderá compreender o nível de desenvolvimento no qual ela se encontra."
Em outras palavras, observar a criança e suas atitudes no modo de brincar e
de aprender é fundamental para que se possa identificar o seu grau de aprendizado,
detectando possíveis dificuldades para que se possa utilizar os métodos específicos
e adequados para solucionar tais dificuldades.
8

De acordo com Arce (2004), Froebel tinha uma visão romântica e muito ligada
à natureza da educação. Ele acreditava que o ser humano está em constante
aprendizado, ele constrói sua história e por ela é construído. Diante dessa
concepção, a criança construirá o seu saber através do ambiente em que vive e
suas experiências construirão a sua história.

1.3- O BRINCAR COMO DIREITO DA CRIANÇA

A competência 3 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) presente na área


de "Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação infantil" descreve e
detalhe o brincar como direito da criança da seguinte forma:

• Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos,


utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o
respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
• Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos,
com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu
acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua
criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas,
cognitivas, sociais e relacionais.
• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento
da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da
realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das
brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes
linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras,
emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da
natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em
suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades,
emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões,
questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo
uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas
experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na
instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. (BNCC, 2018 p.
38)

Nessa competência, é valorizado o brincar como uma atividade essencial para o


desenvolvimento integral da criança, permitindo que ela explore o mundo ao seu redor,
desenvolva sua criatividade e expressão, e interaja com os outros de forma lúdica e
prazerosa. Além disso, essa competência também destaca a importância de se
trabalhar valores éticos e estéticos durante as atividades lúdicas, promovendo uma
formação mais completa e cidadã para as crianças.
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Os jogos, sejam de exercício, simbólico, de regra ou de construção são capazes


de desprender no sujeito suas emoções, medos, angústias e queixas, sendo possível
utilizá-la para a resolução de conflitos, problemas de comunicação e expressão, além
de favorecer para o processo de ensino/aprendizagem escolar, contribuindo assim
para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Zapparoli (2012) afirma que devido às dificuldades de abstração e compreensão
das atividades ofertadas, julga-se necessário um cuidado maior com as instruções dos
jogos ou brincadeiras. Para isso ela lança algumas dicas que valem a pena serem
expostas:
 Priorize instruções curtas e objetivas;
 Dê demonstrações da sequência da atividade e certifique-se de que todos
compreenderam as instruções;
 Não enfatize suas dificuldades, mas valorize seus acertos ou tentativas;
 Estimule seu pensamento propondo que pense nas situações que serão
vivenciadas: De quem é a vez? O que deve ser feito agora?
 No final da atividade, convém uma retomada do que foi feito. Isto é
excelente para sua memória, mas também para transportar o vivido para
um nível mais simbólico, o nível do pensamento (ZAPPAROLI, 2012,
p.27).
A prática dos jogos proporciona quesitos importantes, a exemplo podemos
expor: como essa criança trabalha com as regras, se segue normas, se contraria as
leis, como se dá o momento do ganhar e perder, se coloca sua opinião, se toma
iniciativa, tempo de concentração, questões de linguagem, raciocínio lógico, se há
respeito na relação como o adversário, se utiliza estratégias, ou seja, no momento do
jogo o pedagogo tem um campo vasto de possibilidade e ferramentas de análise para
trabalhar a aprendizagem, além das questões emocionais elucidadas nesse processo.
Cabe evidenciar que essa análise ocorre de forma muito natural, nesse contexto a
criança não se dá conta que está sendo observada e muitas vezes questões familiares,
escolares e até mesmo como as crianças elaboram suas angústias e dúvidas são
esclarecidas de forma mais significativa e proveitosa (ZAPPAROLI, 2012, p.27).
Macedo (1997 apud Oliveira, 2010) fala que os jogos contribuem para inserção
da criança no mundo do trabalho pois este mundo não deve ser considerado um
sacrifício, mas algo satisfatório, uma espécie de criatividade. O autor ainda comenta
10

que o jogo simbólico no ponto de vista da cognição, pode auxiliar na representação de


papéis, dramatizações e outras situações que levam em consideração o processo
criativo. Claro que sempre se estabelecendo regras a fim de que o compartilhar de
ideias e imaginação se revelem mas não deixem de estabelecer possibilidades no
decorrer do processo de aprendizagem.
Pode-se verificar quea representação através dos jogos oportuniza ao aluno que
traga à superfície o inconsciente, revelando seus sentimentos e também suas questões
emocionais, dando ao pedagogo encaminhamento para a escuta atenta e possibilidade
de libertá-lo, resgatando nesse aluno aspiração e vontade de aprender.

1.4 -JOGOS, BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E ATIVIDADES LÚDICAS

Kishimoto (2003) afirma que não é tarefa fácil tentar definir o jogo, isso porque
quando nos deparamos como a palavra jogo podemos dar a ela vários significados. De
acordo com a autora:
Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou
amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estórias, ‘brincar de mamãe e filhinha’,
futebol, dominó, quebra-cabeça, construir barquinho, brincar de areia e uma
infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma denominação, têm
suas especificidades (KISHIMOTO, 2003, p. 13).

O jogo é uma das formas de apropriação da cultura, de incentivo e de


manifestação de pensamento mais complexo. Nos deparamos com as regras impostas
pela escola, ou seja, de uma certa forma impomos à criança a forma como ela deveria
pensar, retirando dela a liberdade e impactando sua criatividade e imaginação.
Em concordância com Piaget (1996) a assimilação da realidade não é uma
cópia da informação, para que a aprendizagem ocorra, o sujeito precisa passar por um
processo de construção.
Conforme Pereira (2009), observar as crianças brincando nos ajuda a
compreender os processos cognitivos, sociais e afetivos na atividade de brincar que
permitem que as crianças experimentem uma nova existência não planejada em sua
função original.
Segundo Kishimoto (2003, p. 54) as escolas estão muito preocupadas com os
jogos de regras, os quais de uma certa forma acabam eliminando a capacidade
criadora da criança, e acabam deixando um pouco de lado os jogos simbólicos.
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As relações nas escolas estão congeladas e os conhecimentos ritualizados.


Existe um abismo entre o jogo metafórico e a aprendizagem mecanicista. A
força da manipulação autoritária faz sombra à força da vida instintiva da
criança e à possibilidade de construção do conhecimento significativo. No
entanto, o jogo está presente na escola, quer o professor permita quer não.
Mas é um jogo de regras marcadas, predeterminadas, em que a única ação à
criança é a obediência, ou melhor, a submissão. (KISHIMOTO, 2003, p. 54).

Vygotsky (apud Rego 1995) afirma que a brincadeira é considerada como m


espaço de aprendizagem, onde a criança ultrapassa o comportamento cotidiano
habitual de sua idade, onde ela age como se fosse maior do que é, representando
simbolicamente o que mais tarde realizará.
Cabe ressaltar também que os brinquedos permitem que a criança adentre no
mundo do faz-de-conta, por esse motivo é importante oferecer o que pertence ao dia a
dia da criança, pois são através desses momentos que a criança assume personagens
que gostaria de ser. Segundo Kishimoto (2003):
O faz-de-conta permite não só a entrada no imaginário, mas a expressão de
regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras. É importante
registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores
adquiridas pelas crianças, em diferentes contextos. Ideias e ações adquiridas
pelas crianças provêm do mundo social, incluindo a família e o seu círculo de
relacionamento, o currículo apresentado pela escola, as ideias discutidas em
classe, os materiais e os pares. (KISHIMOTO, 2003, p. 39).

O brincar é algo que deve ser resgatado tanto na família como na escola,
aprender tem que ser lúdico, e ao assumir a função lúdica e educativa, de acordo com
Kishimoto (2003) o brinquedo educativo merece algumas considerações:
Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, quando
escolhido voluntariamente; e
Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo
em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo. (KISHIMOTO
(2003, p. 37).

Wallon (1975) preocupou-se em pesquisar a relação do lúdico com as origens


dos pensamentos, ou seja, como se origina o processo do pensar. Sabemos que a
mediação da aprendizagem passa pelo processo do pensamento, quanto mais a
criança estiver como o pensamento solidificado, não só a favorecer a interação com o
mundo, mais apreensão dos conhecimentos escolares e leitura do mundo terão em seu
contexto.
12

A ludicidade dá aos professores a oportunidade de oferecer aos alunos


atividades significativas que desafiam os alunos a participar e resolver problemas.
Além disso, desenvolve a aprendizagem, imaginação, concentração, socialização,
criatividade, enfim desenvolve habilidades diversas:
Na maioria das situações, o brinquedo é elemento balizador da brincadeira,
sendo de extrema importância para o desenvolvimento infantil. A ação de
brincar tem um grande impacto no desenvolvimento comportamental,
psicossocial, educativo e recreativo das crianças. Nesse entendimento,
podemos reconhecer os brinquedos como objetos de forte valor simbólico, uma
vez que transmitem e difundem um conjunto de significados que extrapolam as
questões locais e sociais ao abranger também aspectos cognitivos (LIRA et al,
2019).

As autoras enfatizam, no entanto, que a representação social dos brinquedos


precisa de uma análise mais aprofundada acerca de seu papel no mundo infantil já que
muitas estão associadas a valores e formas de conduta que não levam em
consideração o âmbito do desenvolvimento infantil e estão mais preocupados com a
venda e sua repercussão no mercado do que a associação com o lúdico e os
ensinamentos que eles oferecem.
A escola deve oferecer experiências que desenvolvam a capacidade criativa e
simbólica das crianças, e não simplesmente impor situações pré-estabelecidas para
que elas reproduzam. É importante também que os brinquedos (convencionais e não
convencionais) estejam disponíveis e acessíveis às crianças para que elas possam ser
protagonistas de suas escolhas.
Os jogos e brincadeiras têm relevância como forma de apropriação da cultura e
de incentivo à manifestação do pensamento mais complexo. Nessa concepção, a
busca por novas abordagens pedagógicas que valorizem atividades lúdicas está
sempre presente no trabalho do professor que tem a consciência dos benefícios
dessas práticas no ensino, planejando e orientando as atividades, de modo que
estejam alinhadas aos objetivos educacionais e às necessidades individuais de cada
criança, oferecendo materiais e recursos alternativos que estimulem a criatividade e a
imaginação das crianças, observando e apoiando seu desenvolvimento durante as
brincadeiras.
13

2. O PAPEL DO EDUCADOR NO ENSINO LÚDICO DE CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS

Neste capítulo, buscou-se trazer uma maior compreensão do que de como o


educador deverá desempenhar seu trabalho através do ensino lúdico, com o destaque
para a educação infantil (de 0 a 5 anos).
As competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para crianças de
0 a 5 anos estão agrupadas em cinco áreas de desenvolvimento, que abrangem
diferentes aspectos do desenvolvimento infantil. São elas:
1. O eu, o outro e o nós
 Reconhecer e expressar emoções, sentimentos, desejos e necessidades
 Interagir com outras crianças e adultos
 Construir e ampliar as relações sociais
2. Corpo, gestos e movimentos
 Explorar e ampliar as possibilidades de movimento
 Conhecer o próprio corpo e suas potencialidades
 Desenvolver hábitos de autocuidado e cuidado com o outro
3. Traços, sons, cores e formas
 Explorar e experimentar diferentes materiais e suportes para produzir
desenhos, pinturas e outros registros gráficos
 Explorar e identificar sons, ritmos e melodias
 Desenvolver a percepção visual e tátil, reconhecendo formas, cores e
texturas
4. Escuta, fala, pensamento e imaginação
 Desenvolver a comunicação oral, expressando ideias e sentimentos
 Participar de situações de escuta de diferentes gêneros textuais
 Ampliar a imaginação e a criatividade
5. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
 Explorar e compreender as relações espaciais e temporais
 Conhecer e utilizar diferentes objetos e materiais em suas brincadeiras e
experimentações
 Desenvolver noções matemáticas, como as relações de quantidade e as
transformações.
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Cada uma dessas áreas está associada a uma ou mais competências que
devem ser desenvolvidas pelas crianças durante a Educação Infantil. Essas
competências incluem habilidades, conhecimentos, valores e atitudes que se espera
que as crianças desenvolvam para se tornarem cidadãos críticos, criativos e
responsáveis.
É papel de todo professor, mas principalmente do que deseja trabalhar o lúdico
com seus alunos levar em consideração que as crianças já possuem uma bagagem
cultural desenvolvida em seu meio social e que se dão principalmente através das
brincadeiras, que é algo inerente às crianças.
O interesse em despertar nas crianças o desejo pela aprendizagem é um fator
imprescindível na carreira de um professor. Mas para tornar possível o anseio dos
alunos pelo conhecimento é necessário refletir sobre diversos fatores, como quais são
os interesses dos alunos e de que maneira os trabalhar em prol do aprendizado. A
partir deste ponto de vista é que podemos relacionar os jogos e brincadeiras ao ensino
e aprendizagem.
Freire (1997) diz no livro Professora sim, Tia que “...é necessário que evitemos
outros medos que o cientificismo nos inoculou. O medo, por exemplo, de nossos
sentimentos, de nossas emoções, de nossos desejos, o medo de que ponham a perder
nossa cientificidade”. Este pensamento destaca a importância da afetividade e da
construção de relações significativas entre professores e alunos no processo de
aprendizagem. Ele enfatiza que o aprendizado lúdico não deve ser apenas sobre a
transmissão de informações, mas também sobre a construção de experiências
emocionais e afetivas que permitam aos alunos se envolverem com o conteúdo de
forma significativa.
Para Freire, o medo do cientificismo pode levar os educadores a negligenciarem
a dimensão afetiva do processo educativo e a se concentrarem apenas na transmissão
de informações e conhecimentos, sem considerar a importância das emoções e dos
desejos dos alunos. Ele acredita que a aprendizagem deve ser um processo ativo e
participativo, no qual os alunos possam explorar e construir o conhecimento a partir de
suas próprias experiências e perspectivas.
Portanto, o aprendizado lúdico não se trata apenas de jogos e brincadeiras, mas
sim de um processo de aprendizagem que valoriza as relações afetivas e emocionais
entre professores e alunos, e que busca construir experiências significativas e
envolventes para os alunos.
15

Freire (1997) faz uma provocação acerca do papel do professor:


O processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a “paixão
de conhecer” que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. Por
isso é que uma das razões da necessidade da ousadia de quem se quer fazer
professora, educadora, é a disposição pela briga justa, lúcida, em defesa de
seus direitos (…). Recusar a identificação da figura da professora com a da tia
não significa, de modo algum, menosprezar a figura da tia (…). Significa, pelo
contrário, retirar algo fundamental à professora: sua responsabilidade
profissional de que faz parte a exigência política por sua formação permanente.
(…) Identificar professora como tia, (…), é quase como proclamar que
professoras, como boas tias, não devem brigar, não devem rebelar-se, não
devem fazer greve. Quem já viu mil tias fazendo greve, sacrificando seus
sobrinhos, prejudicando-os no seu aprendizado?

A partir dessa provocação possível afirmar que a adoção de metodologias


lúdicas no ensino pode ser uma forma de despertar a "paixão de conhecer" nos alunos,
tornando o processo de aprendizagem mais prazeroso e significativo. Ao utilizar jogos,
atividades lúdicas e outras estratégias que envolvam o aluno de forma ativa e
participativa, o professor pode estimular a curiosidade, a criatividade e a capacidade de
reflexão dos alunos.
Além disso, a disposição pela "briga justa" em defesa dos direitos dos
professores e pela sua formação permanente pode ser vista como uma postura crítica
e engajada em relação ao processo educativo como um todo. Ao utilizar metodologias
lúdicas, o professor pode estar desafiando a visão tradicional e autoritária do ensino,
que muitas vezes não valoriza a participação ativa dos alunos. Dessa forma, o ensino
lúdico pode ser uma forma de resistência e de luta por uma educação mais
democrática e participativa.
Também é importante destacar que a recusa em identificar a figura da
professora com a da tia, defendida por Freire, pode ser entendida como uma forma de
valorizar a figura do professor como um profissional comprometido com a sua
formação e com a luta por seus direitos. Ao utilizar metodologias lúdicas, o professor
pode estar reforçando essa postura crítica e comprometida, contribuindo para a
construção de uma educação mais democrática, participativa e significativa.
Freire (1997) diz no livro Professora sim, Tia que “...é necessário que evitemos
outros medos que o cientificismo nos inoculou. O medo, por exemplo, de nossos
sentimentos, de nossas emoções, de nossos desejos, o medo de que ponham a perder
nossa cientificidade”. Este pensamento destaca a importância da afetividade e da
construção de relações significativas entre professores e alunos no processo de
16

aprendizagem. Ele enfatiza que o aprendizado lúdico não deve ser apenas sobre a
transmissão de informações, mas também sobre a construção de experiências
emocionais e afetivas que permitam aos alunos se envolverem com o conteúdo de
forma significativa.
Para Freire, o medo do cientificismo pode levar os educadores a negligenciarem
a dimensão afetiva do processo educativo e a se concentrarem apenas na transmissão
de informações e conhecimentos, sem considerar a importância das emoções e dos
desejos dos alunos. Ele acredita que a aprendizagem deve ser um processo ativo e
participativo, no qual os alunos possam explorar e construir o conhecimento a partir de
suas próprias experiências e perspectivas.
Portanto, o aprendizado lúdico não se trata apenas de jogos e brincadeiras, mas
sim de um processo de aprendizagem que valoriza as relações afetivas e emocionais
entre professores e alunos, e que busca construir experiências significativas e
envolventes para os alunos.
Freire (1997) faz uma provocação acerca do papel do professor:
O processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a “paixão
de conhecer” que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. Por
isso é que uma das razões da necessidade da ousadia de quem se quer fazer
professora, educadora, é a disposição pela briga justa, lúcida, em defesa de
seus direitos (…). Recusar a identificação da figura da professora com a da tia
não significa, de modo algum, menosprezar a figura da tia (…). Significa, pelo
contrário, retirar algo fundamental à professora: sua responsabilidade
profissional de que faz parte a exigência política por sua formação permanente.
(…) Identificar professora como tia, (…), é quase como proclamar que
professoras, como boas tias, não devem brigar, não devem rebelar-se, não
devem fazer greve. Quem já viu mil tias fazendo greve, sacrificando seus
sobrinhos, prejudicando-os no seu aprendizado?

A partir dessa provocação possível afirmar que a adoção de metodologias


lúdicas no ensino pode ser uma forma de despertar a "paixão de conhecer" nos alunos,
tornando o processo de aprendizagem mais prazeroso e significativo. Ao utilizar jogos,
atividades lúdicas e outras estratégias que envolvam o aluno de forma ativa e
participativa, o professor pode estimular a curiosidade, a criatividade e a capacidade de
reflexão dos alunos.
Além disso, a disposição pela "briga justa" em defesa dos direitos dos
professores e pela sua formação permanente pode ser vista como uma postura crítica
e engajada em relação ao processo educativo como um todo. Ao utilizar metodologias
lúdicas, o professor pode estar desafiando a visão tradicional e autoritária do ensino,
17

que muitas vezes não valoriza a participação ativa dos alunos. Dessa forma, o ensino
lúdico pode ser uma forma de resistência e de luta por uma educação mais
democrática e participativa.
Também é importante destacar que a recusa em identificar a figura da
professora com a da tia, defendida por Freire, pode ser entendida como uma forma de
valorizar a figura do professor como um profissional comprometido com a sua
formação e com a luta por seus direitos. Ao utilizar metodologias lúdicas, o professor
pode estar reforçando essa postura crítica e comprometida, contribuindo para a
construção de uma educação mais democrática, participativa e significativa.
A sociedade em que vivemos atualmente está em constante processo de
mudanças e avanços no âmbito tecnológico e das habilidades, e com isso é levada a
um direcionamento que motiva as crianças a adquirem cada vez mais novas
competências.
As crianças são seres sociais, têm uma história, pertencem a uma classe
social, estabelecem relações segundo seu contexto de origem, têm uma
linguagem, ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de acordo com os
padrões do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse contexto.
Elas são pessoas, enraizadas num todo social que as envolve e que nelas
imprime padrões de autoridade, linguagem, costumes. Essa visão de quem são
as crianças - cidadãos de pouca idade, sujeitos sociais e históricos, criadores
de cultura - é condição para que se atue no sentido de favorecer seu
crescimento e constituição, buscando alternativas para a educação infantil que
reconhecem o saber das crianças (adquirido no seu meio sócio-cultural de
origem) e oferecem atividades significativas, onde adultos e crianças têm
experiências culturais diversas, em diferentes espaços de socialização.
(KRAMER, 1999, p. 2).

Nesta citação, Kramer apresenta uma visão importante e fundamental sobre a


infância e a educação infantil, que reconhece as crianças como seres sociais,
históricos e culturais, que possuem saberes adquiridos em seus meios socioculturais
de origem. Essa abordagem valoriza a diversidade cultural e o protagonismo das
crianças em seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, o que é fundamental
para a promoção de uma educação infantil de qualidade.

Ao reconhecer as crianças como cidadãos de pouca idade e sujeitos sociais e


históricos, Kramer aponta para a necessidade de se considerar suas especificidades e
singularidades em todos os aspectos da educação, incluindo a elaboração de práticas
pedagógicas e currículos que levem em conta as diferentes realidades e contextos
culturais em que as crianças estão inseridas. Além disso, essa visão destaca a
18

importância de se promover atividades significativas e experiências culturais diversas,


que possibilitem o desenvolvimento integral das crianças e sua formação como
cidadãos críticos e participativos na sociedade.

2.1 CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY

Escolheu-se a perspectiva de Vygotsky e sua concepção histórico-cultural ou


sócio-interacionista, como alguns a chamam, por ser a que melhor explica questões
pertinentes a esse trabalho, que servirá de base para compreendermos mais a fundo
como se dá a relação entre desenvolvimento e aprendizagem e a importância do meio
sociocultural no desenvolver da criança.
A teoria de Vygotsky costuma ser nomeada como sócio-interacionista por trazer
a importância e a influência que as interações sociais têm na constituição do ser
humano (REGO, 1995).
Nas palavras do próprio autor, “a alteração provocada pelo homem sobre a
natureza, altera a própria natureza do homem”. O objetivo principal de Vygotsky era
compreender as características exclusivamente humanas do comportamento,
entendendo como essas características se constituíram ao longo da história humana e
da história individual do desenvolvimento de um indivíduo (VYGOTSKY,1998).
Rego (1995) explica que Vygotsky nomeou-as de funções psicológicas
superiores. Funções que nenhum outro animal consegue ter como memória voluntária,
imaginação, capacidade de planejar ações, sendo exclusivas do ser humano. São
processos mentais “superiores” e de cunho mais sofisticado, porque são voluntários,
intencionais, conscientes e controlados pelo indivíduo. Eles se formam através das
relações sociais e seu desenvolvimento se dá por processo de internalização da
cultura em que o indivíduo está inserido, tendo causa sociocultural.
Entretanto, o ser humano apresenta outro tipo de processo mental, diferente do
anterior: processos psicológicos elementares, que nascemos com eles, como reações
automáticas e ações reflexas. Esses processos são de origem biológica (REGO,1995).
Ainda segundo o autor supracitado, uma das principais ideias de Vygotsky diz
respeito à mediação, que se apresenta em toda a atividade humana, fazendo-se
relevante para a relação do indivíduo com o mundo e com outras pessoas,
possibilitando o desenvolvimento das psicologias superiores.
19

Vygotsky entendia que as interações do homem não eram feitas de forma direta,
essas relações tinham como auxílio ferramentas próprias da espécie humana, os
instrumentos e signos, fornecidos pela cultura. O instrumento auxilia provocar
mudanças nos objetos externos, facilitando a intervenção na natureza (como o uso de
uma faca para cortar algo), os homens criam, produzem, manipulam, preservam,
aperfeiçoam e seus instrumentos, além de transmitir conhecimentos sobre eles para
outras gerações. Já os signos são como instrumentos, só que de ordem interna,
psicológicos, ajudam nas representações mentais e a lembrar, comparar, escolher
coisas. Com o auxílio dos signos, o indivíduo pode voluntariamente controlar sua
atividade mental e ampliar suas potencialidades. Um dos mais importantes é a
linguagem (REGO,1995).
De acordo com Rego (1995), os instrumentos e signos são elementos
mediadores que possibilitam a comunicação e interação do sujeito com o ambiente e
com as pessoas, facilitam o estabelecimento de significados e conceitos
compartilhados por aquela cultura, além da percepção e interpretação da realidade.
Essas ferramentas se dão graças à inserção e apropriação da cultura.
A cultura, por sua vez, está em constante transformação, não é algo estático e
imóvel, ao contrário, por seus membros estarem em constante movimentação,
recriação e reinterpretação, esta também se movimenta, e se torna uma “via de mão
dupla”, em que a cultura afeta o homem e o homem afeta a cultura (REGO,1995).
Autora salienta ainda que o homem tem papel ativo sobre a cultura e sobre seu
próprio desenvolvimento, não sendo um recipiente vazio que as pressões do ambiente
vão despejando informações, reagindo de forma passiva, ao contrário, ao mesmo
tempo em que internaliza e aprende as formas culturais, ele modifica e transforma seu
ambiente, sendo uma relação dialética. (REGO,1995).
Bulgraen (2010) reflete que o professor quando ensina a criança a “pensar” por
conta própria, favorece o questionamento e problematização, ao invés de depositar
nela informações que ela só vai memorizar e repetir. Esse processo mostra o educador
com uma responsabilidade de atuar não só entre as paredes da escola, mas no meio
social, oferecendo a chance de as crianças serem protagonistas de sua história, de seu
contexto e da sua comunidade.
Claro que não é uma tarefa fácil, por isso ainda se está em luta para garantir
uma sociedade crítica, ativa e pensante. Como primeiro passo para ajudar a construir
cidadãos mais participantes e engajados, o professor, além de necessitar de uma boa
20

formação, ele aceita a responsabilidade e compreende o processo de aprender a como


ensinar. E nesse processo de ensinar, vai se aprendendo com os alunos, e vai sendo
desenvolvido e trabalhado em conjunto o processo para educar. E para isso, é
necessário renovar e reinventar a forma como se ensina, para melhor atender os seus
alunos (BULGRAEN, 2010).

2.2 O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

A criança recebe seus primeiros aprendizados no convívio familiar. Desde que sai
da barriga da mãe ela vai recebendo ensinamentos, que vão acompanhá-la por toda a
vida. Ao mesmo tempo, ela vai recebendo também os ensinamentos repassados e
aprendidos dentro da escola, que é um ambiente de aprendizagem e socialização que
complementa o trabalho desenvolvido pela família. Siqueira (2004, p.43) esclarece
que:

A pessoa se educada se constrói em diversos ambientes – a escola é mais um


ambiente que se soma a estes outros – e a partir de diversas experiências.
Tanto a convivência familiar quanto a escolar, vão proporcionar a criança
diferentes experiências e aprendizados.

A escola é o segundo ambiente mais importante na vida social da criança e lhe


transmite mais do que conhecimento sobre matérias e conteúdo específicos. Siqueira
(2004) afirma que a escola também tem como objetivo a formação do caráter, de
valores e princípios morais, que ajudará o aluno a utilizar os conhecimentos aprendidos
de maneira eficaz.
A escola tem o papel de socializar o conhecimento e as relações, promovendo um
espaço educativo propício a erros e acertos, ao levantamento de hipóteses e ao
discorrer do pensamento. Para isso, são fundamentais o grupo, as trocas e as
diferenças (WALLON,1975).
Silva, Kraeski e Trichês (2013) descrevem a escola como “um espaço de
formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente,
favorecer a inserção do aluno no dia a dia das questões sociais marcantes e em um
universo cultural maior”.
21

A escola exerce um importante papel na educação e formação da criança e do


adolescente, o que pode ser verificado medindo o tempo que eles passam dentro de
sala de aula, pelo menos 12 anos de sua vida.
Por isso o interesse, incentivo e apoio da família quanto a vida escolar de seus
filhos é indispensável. É preciso que os pais enxerguem a escola como parceira (não
responsável) na educação das crianças, acompanhando o trabalho realizado dentro e
fora da sala de aula e o desempenho apresentando por seus filhos, ajudando-os no
processo de ensino aprendizagem.
Conforme Schendeider, 2004, há a necessidade de se considerar que o brincar
no âmbito escolar deve ser reconsiderado, dada sua seriedade e importância, a prática
deve ser revistada a fim de que a atividade seja oportunizada não meramente como
atividade didática mas como um passo para o desenvolvimento humano que
determinam o aprendizado e oportunizam o ensino de uma cultura.

2.3 AS BRINCADEIRAS NA PROPOSTA CURRICULAR

Com base no que foi apresentado ao longo da referida pesquisa, o brincar é


uma das principais atividades das crianças e o papel da escola é proporcionar
experiências lúdicas que contribuam para o seu desenvolvimento integral. Além disso,
é importante considerar as características e necessidades de cada faixa etária,
respeitando o ritmo de aprendizagem e o interesse das crianças.
Dessa forma, o currículo deve ser adaptado para garantir a educação adequada
para cada faixa etária, estando sempre relacionado ao lúdico. Nesta pesquisa enfoca-
se diretrizes e orientações que contemplem o desenvolvimento das crianças de 0 a 5
anos.
De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2009), o currículo para
crianças de 0 a 5 anos deve incluir atividades lúdicas e brincadeiras que estimulem o
desenvolvimento integral das crianças, levando em consideração suas necessidades,
interesses e potencialidades. Além disso, é importante promover a diversidade cultural
e a participação das famílias no processo educativo.
Ainda conforme o Ministério da Educação (BRASIL, 2009), o currículo deve
contemplar atividades que estimulem a imaginação, a criatividade, a curiosidade e a
experimentação, e que favoreçam o desenvolvimento integral das crianças.
22

Algumas sugestões de atividades lúdicas e brincadeiras que podem ser


incluídas no currículo para crianças de 0 a 5 anos, de acordo com o Ministério da
Educação (BRASIL, 2009), são:
 Brincadeiras livres, em que as crianças podem explorar livremente o ambiente e
os objetos disponíveis, sem intervenção direta dos adultos;

 Jogos simbólicos, em que as crianças podem representar situações do cotidiano


ou do imaginário, por meio de brincadeiras de faz de conta;

 Brincadeiras com construções, que envolvem a construção de objetos com


materiais simples, como blocos de madeira, papelão, sucatas etc.;

 Jogos de imitação, que consistem em imitar movimentos, gestos ou sons;

 Brincadeiras com água, areia e terra, que estimulam a percepção sensorial e a


descoberta de novas texturas;

 Atividades artísticas, como pintura, desenho, modelagem e colagem, que


favorecem a expressão criativa e a apreciação estética;

 Brincadeiras de movimento, como danças, jogos de corrida, saltos e equilíbrio,


que favorecem o desenvolvimento físico e motor.

Além disso, o Ministério da Educação (BRASIL, 2009) o também destaca a


importância de respeitar a diversidade cultural e social das crianças, valorizando as
diferentes formas de ser, pensar e agir.

O brinquedo e a brincadeira são expressões culturais que possibilitam o


exercício da imaginação, da criatividade, do raciocínio, da afetividade e da
sociabilidade. Para que sejam significativos e possam contribuir para o
desenvolvimento integral das crianças, é fundamental que estejam
relacionados com as experiências, os saberes e as vivências das crianças,
levando em consideração suas diferentes origens, histórias, culturas e
identidades. (BRASIL, 2009, p. 17).
23

É possível perceber a ênfase na importância de valorizar a diversidade cultural e


social das crianças como um aspecto fundamental para o desenvolvimento integral
delas, o que pode contribuir para uma educação mais inclusiva e equitativa.
Também é importante destacarmos, dentro de todo esse contexto de educação
lúdica, a participação da família na educação das crianças em conjunto com o trabalho
curricular desenvolvido na escola.
De acordo com Ministério da Educação (BRASIL, 2009):

A participação da família é um importante aspecto na construção de uma


educação infantil de qualidade. A parceria entre a família e a escola pode
contribuir para o desenvolvimento das crianças, fortalecendo os vínculos
familiares e comunitários e promovendo uma educação mais contextualizada e
significativa (BRASIL, 2009, p. 20).

A parceria entre a família e a escola é fundamental para promover uma


educação mais contextualizada e significativa, que considere as especificidades e
particularidades das crianças e valorize suas culturas e identidades.
Tal parceria pode se dar de diversas formas, como por exemplo, na elaboração
do projeto político-pedagógico da escola, na organização de atividades lúdicas e
culturais, na participação em reuniões de pais e mestres, entre outras. Quando a
família se envolve na educação das crianças, ela fortalece os vínculos familiares e
comunitários, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças e para uma
educação mais democrática e participativa.
Além disso, é importante destacar que a participação da família na educação
das crianças é um direito assegurado pela Constituição Federal e pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), que em seu artigo 4º estabelece que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária" (BRASIL, 1990).

Portanto, é fundamental que as escolas incentivem e valorizem a participação


das famílias na educação infantil, promovendo um ambiente de diálogo, respeito e
colaboração entre as famílias e a equipe pedagógica.
24
25

3. O BRINCAR E SE MOVIMENTAR NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS

A psicomotricidade é um campo de estudo que tem recebido cada vez mais


atenção no âmbito da educação infantil. Nesse sentido, este capítulo irá aprofundar a
compreensão sobre a importância da psicomotricidade através das brincadeiras e
jogos na educação infantil e sua relação com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
motor das crianças.
O desenvolvimento psicomotor é essencial para o processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças, pois permite que elas possam explorar e interagir com o
mundo ao seu redor. Através da psicomotricidade a criança pode desenvolver suas
habilidades motoras, cognitivas e sociais, além de trabalhar valores como respeito,
cooperação e responsabilidade. Dessa forma, é importante que os professores estejam
atentos ao desenvolvimento psicomotor de seus alunos, a fim de promover um ensino
mais completo e efetivo.
O desenvolvimento psicomotor é fundamental para o processo de
aprendizagem e desenvolvimento das crianças, pois permite que elas possam
explorar e interagir com o mundo ao seu redor. Através da Educação Física, a
criança pode desenvolver suas habilidades motoras, cognitivas e sociais, além
de trabalhar valores como respeito, cooperação e responsabilidade" (Santos et
al., 2020, p. 2).

De acordo com Santos et al. (2020), o desenvolvimento psicomotor é


fundamental para o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, uma
vez que permite que elas possam explorar e interagir com o mundo ao seu redor.
Através da psicomotricidade, a criança pode desenvolver suas habilidades motoras,
cognitivas e sociais, além de trabalhar valores como respeito, cooperação e
responsabilidade. Sendo assim, o desenvolvimento psicomotor deve ser encarado
como um aspecto essencial na educação escolar, para promover um desenvolvimento
saudável e das crianças.
Segundo Araújo, Silva e Soares (2019), "o corpo é a primeira ferramenta do ser
humano, sua principal fonte de informação e conhecimento sobre o mundo" (p. 5).
Os autores consideram o corpo como ferramenta primária de aprendizado e
desenvolvimento humano, ressaltando a importância da exploração do ambiente por
meio do corpo para a compreensão do mundo e o desenvolvimento cognitivo da
criança. Desde o nascimento, a criança começa a explorar o mundo por meio do seu
26

próprio corpo, e esse processo de descoberta e aprendizado continua ao longo de toda


a vida. O corpo é a ferramenta que possibilita a interação com o mundo e a
compreensão das relações espaciais e temporais.
Além disso, os autores ressaltam a importância do corpo como fonte de
informação para o desenvolvimento cognitivo da criança. Por meio da exploração do
ambiente, a criança aprende sobre as características físicas dos objetos, das pessoas
e do mundo que a cerca. Essa aprendizagem é facilitada pelo uso do corpo como
ferramenta de interação com o ambiente, permitindo que a criança experimente
diferentes sensações táteis, visuais e auditivas.
Segundo Cláudia Corres, autora do projeto “corpo e movimento de acordo com a
BNCC para Educação Infantil”, “a atividade física possibilita a construção do
conhecimento, do aprendizado e do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social,
auxiliando na formação de um indivíduo ativo, consciente e crítico.
Borges e Duran (2014) trazem uma reflexão acerca do papel do professor e
suas práticas, deixando claro que deve-se trabalhar a psicomotricidade “Não podemos
cristalizar esse corpo que Se-movimenta, pula, corre, se arrasta, se expressa de
formas múltiplas, interage, se comunica.” As escolas devem oferecer um ambiente
lúdico e acolhedor para as crianças e os professores e educadores têm o papel de
reconhecerem a importância do movimento e da ludicidade para o desenvolvimento
integral das crianças e buscarem formas de incorporar essas práticas em suas
atividades pedagógicas.
Podemos considerar os competências que compreendem o corpo, gestos e
movimentos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil,
que têm como foco o desenvolvimento integral da criança, contemplando suas
necessidades físicas, cognitivas e emocionais. São elas:
“(EI01CG01) Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente
emoções, necessidades e desejos.” Tal habilidade enfatiza a importância da expressão
corporal como meio de comunicação e interação social, incentivando a criança a se
comunicar não só verbalmente, mas também por meio de gestos e movimentos
corporais.
“(EI02CG01) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no cuidado de
si e nos jogos e brincadeiras.” Destacando a importância da apropriação dos gestos e
movimentos culturais na vida cotidiana da criança, desde os cuidados com o próprio
27

corpo até as brincadeiras e jogos, proporcionando a compreensão e valorização da sua


identidade cultural.
“(EI01CG02) Experimentar as possibilidades corporais nas brincadeiras e
interações em ambientes acolhedores e desafiantes.” Compreende a importância do
ambiente acolhedor e desafiador para a exploração das possibilidades corporais da
criança, encorajando-a a experimentar diferentes movimentos e sensações corporais.
“(EI02CG02) Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em
frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e
atividades de diferentes naturezas.” Ressaltando a importância da orientação espacial
para o desenvolvimento da criança, incentivando-a a compreender noções básicas de
espaço, direção e posição por meio de jogos e atividades lúdicas.
“(EI02CG03) Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar),
combinando movimentos e seguindo orientações.” Destaca a importância da
exploração corporal para o desenvolvimento físico e cognitivo da criança, incentivando-
a a experimentar diferentes formas de deslocamento no espaço por meio de atividades
físicas e dança.00
“(EI01CG05) Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento,
ampliando suas possibilidades de manuseio de diferentes materiais e objetos.” Realça
a importância do desenvolvimento das habilidades motoras finas, incentivando a
criança a manusear diferentes materiais e objetos de forma segura e eficaz.0
“(EI02CG05) Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo
controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros.” Enfatiza a importância do
desenvolvimento das habilidades manuais para o desenvolvimento da criança,
incentivando-a a adquirir controle e precisão em atividades como desenho, pintura e
outros movimentos que exigem maior habilidade motora fina.
Em suma, todas essas habilidades têm como objetivo contribuir para o
desenvolvimento integral da criança, proporcionando um ambiente seguro e desafiador
para a exploração de seu corpo e movimentos.
Ainda de acordo com Borges e Duran (2014 p. 20) é necessário direcionar a
atenção aos problemas enfrentandos pela educação infantil no Brasil, como falta de
investimentos adequados e políticas públicas efetivas. "O brincar, como forma de
aprendizagem, implica em uma ação que se realiza no contexto de uma relação social
entre as crianças, e dessas com os adultos, interagindo com materiais, objetos, ideias,
emoções, vivências e com a cultura, e assim elaborando novos conhecimentos".
28

Mesmo havendo uma preocupação crescente com a formação integral das crianças,
muitas vezes a infraestrutura das escolas, a formação dos profissionais e os recursos
disponíveis não são suficientes para garantir uma educação de qualidade para as
crianças. É importante que a sociedade continue a demandar e a pressionar por
melhorias na educação infantil, visando garantir que as crianças tenham acesso a um
ambiente educativo adequado e acolhedor.

3.1 INTRODUZINDO O BRINCAR HEURÍSTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

De acordo com Sousa, as brincadeiras heurísticas surgiram a partir dos estudos


realizados pela pedagoga inglesa Elinor Goldschmied, na década de 1980. A autora
observou que as crianças demonstravam maior interesse e engajamento em atividades
que envolviam a exploração de objetos simples e do cotidiano, em comparação com
brinquedos estruturados e pré-definidos.
Nesse sentido, Goldschmied desenvolveu a abordagem heurística, que consiste
em proporcionar às crianças a oportunidade de explorar objetos variados e de
diferentes texturas, tamanhos, cores e formas, estimulando a curiosidade, a
criatividade e a autonomia. Conforme afirma Sousa (2017), essa abordagem
pedagógica tem como objetivo "despertar a curiosidade das crianças, estimulando a
investigação, a experimentação e a descoberta, valorizando o processo em detrimento
do produto final" (p. 17).
Assim, as brincadeiras heurísticas surgiram como uma alternativa às atividades
estruturadas e padronizadas, oferecendo um ambiente mais desafiador e criativo para
as crianças, que são incentivadas a explorar e descobrir o mundo por meio da
brincadeira e da experimentação.
O brincar heurístico, [...] se baseia no uso de materiais simples e cotidianos,
como caixas, pedras, panos e utensílios de cozinha, para estimular a
curiosidade, a criatividade e a autonomia das crianças, com o objetivo de
proporcionar a elas a possibilidade de explorar e descobrir o mundo de forma
autônoma, construindo seu próprio conhecimento. (SOUSA, 2017, p. 10)

Sousa compreende o brincar heurístico na educação infantil como uma


abordagem pedagógica que valoriza a experimentação, a descoberta e a autonomia
das crianças. Por meio da exploração de materiais simples e cotidianos, a criança é
29

incentivada a pensar de forma criativa, a resolver problemas e a construir seu próprio


conhecimento, sem a necessidade de uma orientação constante do adulto.
Dessa forma, o brincar heurístico se apresenta como uma prática educativa que
privilegia o processo, em detrimento do produto final, proporcionando às crianças uma
experiência rica e significativa de aprendizagem, que contribui para o seu
desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional.

3.2 O BRINCAR HEURÍSTICO NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: CESTO DOS


TESOUROS

Ao sétimo semestre do curso de Pedagogia, tivemos uma disciplina denominada


Conteúdos e Metodologias de Educação Física, ministrada pela Profª Ms. Daniela
Gonçalves Dos Santos Campos, também orientadora desta monografia, que trouxe
muitas reflexões e inspirações acerca do tema tratado.
30

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