Você está na página 1de 17

1

FCE- FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O


DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Ana Carla Tôrres da Costa 1

RESUMO

É de grande interesse o presente tema, a literatura sobre o mesmo vem


crescendo na atualidade, pois, às discussões e opiniões baseadas em
reflexões e hipóteses junta-se a pesquisa empírica, que, de um lado, elimina
algumas dúvidas e, de outro, coloca novos problemas. Destaca-se a
descoberta do valor do jogo no processo educacional enfatizando o brincar no
cotidiano escolar. Nesse processo passa a existir uma importante
possibilidade, onde o brincar perpassa pela utilização de jogos e brincadeiras.
Uma outra questão envolve o respeito pelas iniciativas infantis, na tentativa de
perceber sua relação com os níveis de desenvolvimento do ser humano, e o
entendimento de que a criança deve ser o juiz de suas criações ou opções, e
que estas serão educativas na medida em que exercerem influência positiva na
evolução de sua inteligência, aprendizagem e raciocínio lógico.

Palavras-chaves: Lúdico. Aprendizagem. Brincar. Educação. Jogo

INTRODUÇÃO
1
Professora de Ensino Fundamental Anos Iniciais na Rede Estadual de Ensino de Minas
Gerais. Artigo apresentado como requisito parcial para aprovação do Trabalho de
Conclusão do Curso de Segunda Licenciatura em Pedagogia.
2

Na educação infantil a criança tem um convívio social onde são


estabelecidas regras e valores é por meio do lúdico que esse aprendizado
acontece de forma prazerosa. O lúdico aliado ao ensino/aprendizagem
contribui para a construção de ideias e convicções próprias tornando parte
integrante da personalidade de cada criança.

Segundo Friedmann, (1996):

Aprendizagem depende em grande parte de motivação: as


necessidades e os interesses da criança são mais importante que
qualquer outra razão para que ela se ligue a uma atividade e da
confiança na sua capacidade de construir uma ideia própria sobre as
coisas, assim como exprimir seu pensamento com convicção são
características que fazem parte da personalidade integral da criança.”
(FRIEDMANN, 1996, p.42)

Sendo assim, as brincadeiras e os jogos assumem um papel


fundamental, onde a criança avalia se organiza constrói regras para si e para o
outro, cria e recria o mundo que o cerca. Com isso a criança compreende e
interage com o mundo, e o lúdico contribui para diversos aspectos importantes
no desenvolvimento integral do educando inclusive no ensino da matemática.
Para reconhecer a real importância da brincadeira e do jogo no
ensino/aprendizagem se faz necessário conhecer concepções históricas das
brincadeiras e jogos e várias contribuições que teóricos escreveram sobre o
tema mostrando possibilidades de seu uso como um instrumento metodológico
no ensino/aprendizagem.
Será utilizado em sala de aula brincadeiras e jogos como partes lúdicas
que contribuem na formação de atitudes sociais como cooperação e respeito
gerando a interação entre alunos e professor, auxiliando na construção de
conhecimento onde o brincar obterá uma grande evolução, as singularidades
são respeitadas entre as crianças de diferentes hábitos, valores, crenças e
etnias ampliando suas experiências de socialização.
O embasamento teórico que norteia este trabalho de pesquisa é feito
através das contribuições de teóricos como Piaget e Vygostsky, (1998) e outros
3

que discorrem sobre a importância do lúdico para o processo de


ensino/aprendizagem e sua contribuição para o aprendizado.

O JOGO POR EXCELÊNCIA

Com relação ao jogo, Piaget citado por Ferreiro (2008), em seu artigo “
A Importância de Brincar na Educação Infantil”. Acredita que o jogo é essencial
na vida da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a
criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado
seus efeitos. Em torno dos 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos
simbólicos, que satisfazem à necessidade da criança de não somente
relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.
De acordo com Ferreiro (2008), as brincadeiras devem acompanhar a
criança da educação infantil, pois nesse período da vida da criança, são
relevantes todos os aspectos de sua formação, pois como ser bio-psico-social-
cultural dá os passos definitivos para uma futura escolarização e sociabilidade
adequadas como membro do grupo social que pertence.
Vygotsky, (1998) pensa diferente de Piaget, sendo que para ele “o
desenvolvimento ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas
superiores são construídas ao longo dela e que não há fases para justificar o
desenvolvimento” (Vygotsky, 1998, p.164).
Para Vygotsky (1998) a pessoa não é ativa nem passiva é interativa.
Assim, a criança usa as interações sociais, através de relação com os outros,
como formas privilegiadas para obter as informações sendo capazes de
aprender as regras do jogo, não apenas como resultados de um empenho
individual na resolução de problemas. Desta forma, aprende a encaminhar seu
comportamento pelas reações.
Vygotsky, (1998) fala do jogo faz de conta, Piaget, (1973) fala do jogo
simbólico, segundo Oliveira (1997) que “o jogo de faz de conta e o jogo
simbólico, são correspondentes (OLIVEIRA, 1997, p.67).
Na teoria de Vygotsky, (1998) o jogo é social por sua origem e sua
natureza, constituindo num modo de assimilar e recriar a experiência social e
cultural dos adultos. Sendo assim, o jogo de faz de conta constitui-se em uma
atividade na qual a criança procura compreender o mundo e as ações humanas
4

nas quais estão inseridas no cotidiano. Ele também aprofundou seus estudos
no papel das experiências sociais e culturais a partir da análise do jogo infantil,
mostrando que:
[...] no jogo a criança transforma, pela imaginação, os objetos
produzidos socialmente. Ele ainda ressalta a importância dos signos
para criança internalizar os meios sociais. A certa altura de seu
desenvolvimento, a criança amplia os limites de sua compreensão,
integrando os símbolos socialmente elaborados (valores, crenças
sociais, conhecimento acumulado da cultura e dos conceitos
científicos) ao seu próprio conhecimento” (FREIDMANN, 1996, p65).

Vygotsky, (1998) salienta que a aquisição do conhecimento se dá


através das zonas de desenvolvimento real e proximal. “as maiores aquisições
de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-
se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”. (VYGOTSKY,1998, p.131)
A zona de desenvolvimento real é a do conhecimento já adquirido, é a
que a criança traz consigo. A zona de desenvolvimento proximal é obtida com o
auxílio de adultos ou membros da coletividade que possuam mais
competências, ou seja, que já tenham adquirido esse conhecimento.
A zona de desenvolvimento proximal é:

[...] a distância entre o nível real de desenvolvimento determinado


pela resolução de problemas independentemente e o nível de
desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas
sob orientação de adultos ou em colaboração com companheiros
mais capacitados”.( VYGOTSKY,1998, p. 175).

Sendo assim, as brincadeiras apresentadas às crianças deverão ser de


acordo com a zona de desenvolvimento proximal em que elas se encontram,
destacando assim a importância do educador.
O professor na educação infantil é quem transforma o espaço em um
ambiente significativo para a criança, disponibilizando materiais, realizando
brincadeiras e jogos, fazendo a mediação da construção do conhecimento.
Através das brincadeiras e jogos as crianças podem desenvolver a
linguagem, e o pensamento e através deste constrói o raciocínio lógico. O brincar é
fundamental para o desenvolvimento da criança e poderá levá-la a conciliar o mundo
objetivo com o imaginário.
5

Tendo conhecimento da extrema importância do brincar no


desenvolvimento da criança sendo assim, o lúdico permeia toda prática
pedagógica em busca de resultados positivos através do faz-de-conta,
brincadeiras e jogos.
É de suma importância as brincadeiras e jogos no cotidiano escolar
porque é através dessa prática lúdica que a criança desenvolve suas
potencialidades, habilidades e pensamento, por isso devem ser parte
integrante da prática educativa.
A ludicidade é uma necessidade de ser humano em qualquer idade,
então não poderá ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento pessoal,
social e cultural. Devido a estas singularidades a importância de desenvolver
as ações pedagógicas através de brincadeiras.
Oliveira, (1997, p.48) afirma que, a forma de empregar e compartilhar
recursos que interagem com os aprendizes com o professor, facilita o
desenvolvimento cognitivo, físico, emocional e social. Agindo assim durante o
cotidiano escolar propicia o desenvolvimento integral do educando. Acreditando
ser fundamental esta prática, essa troca de experiência no processo de
aprendizagem o professor atuando como mediador das atividades de forma a
auxiliar os que necessitam de maior apoio, atendendo a necessidades
individuais, os diferentes ritmos e fazendo intervenções necessárias,
aproveitando para haja interação um com os outros. Por isso, o emprego e a
compartilha deve acontecer entre professor/aluno (OLIVEIRA, 1997, p.58).
De acordo com Oliveira, (1997, p.64) a diferença entre o jogo e o jogo
como instrumento pedagógico, o jogo por si só é simplesmente um
divertimento, um lazer não tem objetivo definido dificilmente contribui para o
desenvolvimento do aprendiz, sendo uma atividade física, um passa tempo,
mas o jogo com instrumento pedagógico constrói grande parte do
conhecimento caracterizado pelo aspecto lúdico e prazeroso e a interação com
o outro é espontânea. A ideia do jogo está associada a um objeto (brinquedo)
uma brincadeira que caracteriza por uma estrutura e pela utilização de regras e
a criança aprender a competir, a compartilhar e a respeitar limites e regras.
Portanto, quanto utilizamos o jogo de maneira adequada alcançamos objetivos
almejados e é de grande valia para um trabalho eficaz e com prazer,
oferecendo a criança a oportunidade de utilizar a sua criatividade, o domínio de
6

si, o desenvolvimento físico e intelectual e o social possibilitando assim vários


tipos de conhecimentos, habilidades no processo da linguagem estabelecendo
uma relação, combinando a imaginação com a prática e a consciência na
observação de regras (OLIVEIRA, 1997)
Assim sendo, é necessário que o professor conheça a grande valor
desta ferramenta pedagógica que é a brincadeira e dedicar maior atenção ao
lúdico, pois funciona como um laboratório, onde ocorrem experiências
inteligentes, reflexivas que levam a prática do pensamento e do raciocínio
lógico, da emoção, do prazer e da seriedade, fazendo com que através da
brincadeira ocorra a descoberta de si mesma, do outro e pertinentes
conhecimentos matemáticos.
Ferreira, (2008, p.68) retrata que o brincar é importante, o jogo é uma
necessidade do ser humano, é um momento de divertimento, a criança se
expressa através do jogo; descarrega energias e agressividade; interage com
outras crianças; se desenvolve e aprende.

A LUDICIDADE NO PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM

É fundamental tomar consciência de que a atividade lúdica infantil


fornece informações elementares a respeito da criança: suas emoções, a forma
com interage com seus colegas, seu desempenho físico-motor, seu estágio de
desenvolvimento, seu nível linguístico, sua formação moral.
Segundo Piaget, (1973, p.25) o jogo implica para a criança muito mais
do que o simples ato de brincar. Através do jogo, ela está se comunicando com
o mundo e também está se expressando. Para o adulto o jogo constitui um
“espelho”, uma fonte de dados para compreender melhor como se dá o
desenvolvimento infantil. Daí sua importância.
Antunes, (2003, p.34) afirma que quando pensamos na atividade lúdica
devemos levar em consideração: o tempo e o espaço de brincar; a relação
entre meio e fins; os objetos do jogo; as ações do sujeito, físicas e/ou mentais.
O jogo acontece em determinados momentos no cotidiano infantil.
Partindo da ideia de que o jogo é uma necessidade para a criança,
constatamos que o tempo para ela brincar tem se tornado cada vez mais
escasso, tanto dentro como fora da escola (ANTUNES, 2003).
7

Ferreira, (2008) na escola “não dá tempo para brincar”, justificam


alguns educadores. Há evidentemente um programa de ensino a ser cumprido
e objetivo a serem atingidos, para cada faixa etária. Com isso o jogo fica
relegado ao pátio ou destinado a “preencher” intervalos de tempo entre aulas,
entretanto o jogo pode e deve fazer parte das atividades curriculares,
sobretudo em sala de aula, onde o pensamento e o raciocínio dependem de
interesse e motivação. Desta forma, nós educadores precisamos de rever
conceitos preestabelecidos durante o planejamento, na sala de aula. Devendo
aproveitar e explorar ao máximo a ludicidade de forma consciente,
(FERREIRA, 2008).
Oliveira (1997, p.34) o desenvolvimento e o aprendizado do aprendiz
se dão também em outras instâncias de seu dia-a-dia, fora da escola, em
contato com outras crianças e outros adultos e, sobretudo, de forma direta com
os meios de comunicação. A televisão, a publicidade, a propaganda e toda a
mídia eletrônica têm influência profunda na mente humana (OLIVEIRA, 1997).
Ferreira, (2008) afirma que, em relação ao espaço do brincar, que
tradicionalmente se dava na rua, houve um recuo: brincar na rua é um risco;
dentro de casa, o espaço é muito limitado. Na escola é possível planejar os
espaços de jogo. Na sala de aula, o espaço de trabalho pode ser transformado
em espaço de jogo, podem ser desenvolvidas atividades aproveitando mesas,
cadeiras, divisórias etc. como recursos. Fora da sala, sobretudo no pátio, a
brincadeira “corre Solta” e a atividade física predominam (FERREIRA,2008,
p.44).
Santos, (1997), retrata que como alternativa, ainda, de espaços
lúdicos, além dos parques e praças, surgiram as chamadas brinquedotecas.
São espaços públicos e/ou privados que funcionam como bibliotecas de
brinquedos, organizados de forma que as crianças possam desenvolver
criativamente suas atividades lúdicas. Em creches, escolas e universidades há
brinquedotecas com fins especificamente educacionais, (SANTOS,1997, p.56).
Santos, (1997) a partir da ideia de que brincar é bom e importante,
coloca-se a seguinte questão: o jogo é um meio para atingir determinados
objetivos ou tem um fim em si mesmo. Enfim brinca-se pelo simples prazer de
brincar. Existem momentos em que a criança brinca por puro divertimento
estabelecendo trocas com outras crianças ou com adultos. Nesse caso, o jogo
8

acontece com o fim em si mesmo. Esse é o “brincar por brincar” (SANTOS,


1997).
Infelizmente no cotidiano escolar, o jogo se faz cada vez menos
presente, e é essa questão que os estudiosos da área querem resgatar. Pensar
na atividade lúdica como um meio educacional significa pensar no jogo como
instrumento de trabalho, como meio para atingir objetivos preestabelecidos.
Através do jogo a criança fornece informações, e o jogo pode ser útil para
estimular o desenvolvimento integral da criança e trabalhar conteúdos
curriculares.
A escolha da linha sócio interacionista para a fundamentação deste
trabalho vem responder a muitas das questões que prática e teoricamente.
Numa perspectiva mais ampla, a teoria piagetiana dá conta da forma como a
criança aprende o mundo, como ela se apropria dos conhecimentos e como ela
interage com eles e com diferentes objetos e indivíduos. Piaget, (1973) partiu
do estudo do indivíduo para compreender como ele constrói os conhecimentos,
e essa foi a sua maior preocupação.
Estudos posteriores realizados por seus discípulos comprovam as
teorias piagetianas em diferentes contextos e com diferentes indivíduos. Esses
estudos mostraram que os estágios de desenvolvimento propostos por Piaget,
(1973) seguem sempre uma ordem de sucesso fixa, embora as idades possam
variar de um contexto para o outro.
O enfoque dos soviéticos Vygotsky, (1998) parte da análise do social
para se compreender como o aprendiz adquire o conhecimento.
Embora Piaget e Vygotsky, (1998) apresentem algumas diferenças de
enfoque, ao se fazer a crítica a uma ou a outra teoria deve-se pensar até que
ponto as perspectivas propostas são, na prática, tão diversas.
A questão é ampla e controvertida. Não podemos nos fechar a
nenhuma das duas teorias; elas caminham de forma paralela. A dimensão
interacionista é enfatizada por Vygotsky, (1998) sendo destacado o papel do
meio e havendo uma preocupação básica com as interações sociais. Vygotsky,
(1996) refere-se, sobretudo, ao papel do meio social e cultural na formação das
funções psicológicas.
Já Piaget, (1973) dá mais ênfase ao interacionismo, ao papel ativo do
sujeito (educador/educando), e não analisa de forma tão específica, o papel do
9

meio na estruturação das condutas do sujeito. O objetivo primordial de Piaget


foi de estabelecer uma epistemologia genética, estudando, por meio da
psicogênese, as formas de conhecimento.
No que se refere ao construtivismo, já vimos que ele é bem
caracterizado e estudado por Piaget. Vygotsky, (1998) destaca a importância
da internalização enquanto processo que permite que uma função Inter
psicológica (uma atividade social externa) se torne intrapsicológica (uma
atividade interna). Há, porém, nos estudos do teórico soviético, algumas
lacunas em relação ao papel do sujeito, assim como no que se refere aos que
nos atuam diferentes níveis e na passagem entre os dois planos.
Especificamente na área do jogo, Piaget, (1973) permitiu uma melhor
compreensão de suas regras, que é o mais característico nos jogos
tradicionais. Piaget analisa a forma minuciosa o processo de desenvolvimento
do indivíduo detalhando e explicando a função do jogo no desenvolvimento
intelectual da criança e sua evolução nos diferentes estágios.
O que os soviéticos vieram a acrescentar refere-se, sobretudo, à
questão cultural e ao contexto social que determinam a atividade lúdica e à
questão interações social. As ideias de Vygotsky, (1998) e seus discípulos a
respeito do jogo ampliam a visão piagetiana.
Vygotsky, (1998) reage ao que considera ser a “terrível
intelectualização do jogo” , em que a criança é vista como um algebrista sem
sucesso e que ainda não pode escrever as palavras no papel, mas as
respostas pelas ações. Contrariamente a essa visão, Vygotsky, (1998) defende
que necessidades, incentivos e motivos da criança devem ser levados em
conta pelos teóricos do jogo. Para ele, o jogo “é essencialmente desejo
satisfeito” originado dos “desejos insatisfeitos” da criança que se tornam afetos
generalizados. O jogo deve também se distinguir das outras formas de
atividade da criança. Vygotsky sugere, como característica que define o jogo, o
fato de que nele, uma situação imaginária é criada. O brincar da criança é
imaginação em ação.
Outra característica acentuada de Vygotsky, (1998) é a natureza das
regras da brincadeira: ele afirma que não existe atividade lúdica sem regras. A
situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de
comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais
10

estabelecidas. Essas regras não precisam ser explicitadas, como é o caso dos
jogos, (VYGOTSKY, 1998).
Santos, (1997) o jogo é muito importante no desenvolvimento da
criança porque a liberta de situações difíceis. No jogo, as coisas e ações não
são o que aparentam ser e, em situações imaginárias, a criança começa a agir
independentemente do que ela vê e começa a ser orientada pelo significado da
situação. O jogo da criança pré-escolar, porém, permite-lhe descobrir que “as
ações originam das ideias mais do que das coisas”. Quando isso acontece, a
estrutura psicológica da criança com a realidade altera-se radicalmente.
Vygotsky, (1998) representou essa nova estrutura como uma fração:
“significado” / “objeto”. Aqui o aspecto semântico, o significado da palavra, da
coisa, domina e determina o comportamento da criança.
Vygotsky, (1996) afirma que, o jogo também liberta a criança de ações
que devem ser completadas, não pela ação em si mesma, mas pelo significado
que ela carrega. Quando a criança faz de conta que está andando a cavalo, o
significado domina a “ação”. Esse processo dá à criança uma “nova forma de
desejos”. O jogo é o nível mais alto do desenvolvimento na educação infantil e
é através dele que a criança se move cedo, além do nível do comportamento
diário, habitual na sua idade, (VYGOTSKY, 1998).
A Zona de Desenvolvimento Potencial ou Proximal é um conceito
formulado por Vygotsky, (1998) para explicar o que uma criança é capaz de
fazer com o auxílio de pessoas mais experientes. Com esse método podemos
avaliar o processo de desenvolvimento até o presente momento e os processos
de maturação já produzidos, assim como os processos que estão
amadurecimentos e se desenvolvendo.
Assim sendo, Vygotsky, (1996) acreditava ser o jogo crucial para o
desenvolvimento cognitivo, pois o processo de criar situações imaginárias leva
ao desenvolvimento do pensamento abstrato. Isso acontece porque novos
relacionamentos são criados no jogo entre significados e objetos e ações.
Os estudos provenientes da psicologia têm dado contribuições
bastante relevantes que nos permitem conhecer o desenvolvimento humano
nas diferentes áreas (sensório-motora, socioafetiva, simbólica e cognitiva) e
nos permitem, também, compreender de que forma as crianças constroem o
seu conhecimento. Essas informações são especialmente importantes, pois
11

delas derivam subsídios fundamentais para a prática pedagógica nos diferentes


níveis da escolaridade, na medida em que podem orientar os professores sobre
o que as crianças são capazes de descobrir e aprender a cada momento, e
sobre como aprendem, (VYGOTSKY,1996).
Assim é que da mesma forma que o mundo social atua sobre as
crianças (e sobre todos nós) de maneira dinâmica, contraditória e ativa,
também o organismo tem um dinamismo próprio que vai favorecendo sua
interação ativa com o meio exterior. Isso quer dizer que as crianças participam
da construção de seu conhecimento como sujeitos ativos, fazendo uso dos
esquemas mentais próprios a cada etapa de seu desenvolvimento, (SANTOS,
1997).
Ferreira, (2008), nesse sentido, e a fim de favorecer o pleno
desenvolvimento psicológico humano alguns aspectos merecem destaques por
serem cruciais. Do ponto de vista socioafetivo, enfatiza-se a importância de que
a criança tenha uma autoimagem positiva, percebendo-se, cada qual, na sua
identidade própria e sendo valorizada nas suas possibilidades de ação e
crescimento à medida que desenvolve seu processo de socialização e interage
com o grupo. Além disso, é necessário trabalhar junto às crianças para que
aceitem e convivam construtivamente com as diferenças existentes no grupo,
seja em relação à etnia, classe social ou sexo. Do ponto de vista cognitivo
destaca-se a necessidade de levar sempre em consideração o fato d e que a
criança conhece e constrói as nações e os conceitos à medida que age,
observa e relaciona os objetos do mundo físico. É no decorrer das atividades
que realizam que as crianças incorporam dados e relações, e é enfrentando
desafios e trocando informações umas com as outras e com os adultos que
elas desenvolvem seu pensamento. Do ponto de vista linguístico, coloca-se
como essencial o desenvolvimento das diferentes formas de representação
verbal. Reconhecemos das diferentes formas de representação verbal.
Reconhecemos aqui a linguagem como forma básica, não apenas no que diz
respeito à expressão individual, mas ainda como sendo fundamental no
processo de socialização (FERREIRA, 2008).
A expressão e a comunicação infantis manifestadas através de
conversas, histórias, desenhos, música, livros, álbuns etc., são, fundamentais
para ampliar sua capacidade de representação, fornecendo uma base sólida,
12

significativa e contextualizada para o seu processo de construção da linguagem


escrita (FERREIRA, 2008).
Do ponto de vista da psicomotricidade, Ferreira, (2008) entende-se que
as crianças precisam expandir seus movimentos, explorando seu corpo seu
espaço físico, de forma a terem um crescimento sadio. Sendo assim
necessário ressaltar que não valorizamos a execução mecânica do exercício
motor pelo simples exercício: é através da realização das atividades cotidianas,
em função de objetivos determinados (como por exemplo, construir um boneco,
realizar um jogo, desenhar uma história, fazer bolos de areia e água etc.), que
a motricidade é desenvolvida (FERREIRA, 2008).
Todos esses aspectos estão presentes simultaneamente na atividade
infantil, que é global e indivisível. Por isso, no interior da proposta pedagógica
precisa está a preocupação de oferecer às crianças um ambiente que propicie
a cada uma e ao grupo toda a manifestação e ampliação de seus interesses e
conhecimentos. As atividades e situações propostas têm o objetivo a
exploração, a descoberta e a construção das noções, ou seja, o
desenvolvimento e o maior conhecimento do mundo físico e social (da língua,
da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais) eixos básicos da
educação. Para propiciar o desenvolvimento do aprendiz, considerando os
conhecimentos e valores culturais que as crianças já têm e, progressivamente,
garantindo a ampliação dos conhecimentos, de forma a possibilitar a
construção de autonomia, cooperação, criticidade, criatividade,
responsabilidade, e a formação do autoconceito positivo, contribuindo, para a
formação da cidadania (FERREIRA, 2008).
Inicialmente é necessário que o currículo da educação infantil leve em
consideração a realidade social e cultural das crianças (conhecimentos que
adquiriram, a linguagem, os valores, o saber, enfim do meio em que vivem); o
desenvolvimento e as características próprias do momento que estão vivendo
(cognitivo-linguísticas, sócioafetivas e psicomotoras; os conhecimentos
socialmente disponíveis em relação ao mundo físico e social (SANTOS1997).
No que diz respeito à prática cotidiana, este currículo está centrado na
realização de atividades significativas, que têm tempo, atendem aos interesses
e necessidades dos aprendizes, sendo prazerosas (lúdicas) e,
simultaneamente, geradoras de produtos reais (SANTOS,1997).
13

Este é um currículo que privilegia e atende os interesses dos


educandos e os aspectos de ordem cultural e social. Assim sendo significa
exatamente a possibilidade de articular, no trabalho pedagógico, a realidade
sociocultural das crianças, o desenvolvimento infantil e os interesses
específicos que as crianças manifestam, bem como os conhecimentos
acumulados historicamente pela humanidade a que todos têm direito de
acesso. Trabalhar com temas que imprimem um clima de conjunto de
cooperação na medida em que os conhecimentos vão sendo adquiridos
progressivamente de forma coletiva, ao mesmo tempo em que são respeitados
os interesses individuais e os ritmos diversificados dos aprendizes (SILVA,
2000).
Desta forma acredita-se que o professor/educador vai além da
aplicação de técnicas e manejo pedagógico, pois envolve um sujeito que deve
estar no processo de si próprio e do outro, ciente de que a identidade é
realmente algo formado ao longo do tempo e que permanece incompleta,
estando sempre em processo de formação (SILVA, 2000, p.87).
Nesta ótica o intuito do perfil do professor /educador deve ser de
investigador na contemporaneidade a partir da imagem que esse profissional
tem de si mesmo levando em consideração sua percepção em relação a
influência em sua própria formação e em sua atuação pedagógica.
As identidades são construídas por meio da marcação da diferença.

Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo


transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as
fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A diferença e
a identidade são criações sociais e culturais (SILVA, 2000, p.76)

A identidade e a diferença não podem ser compreendidas fora dos


sistemas de significação nos quais adquirem sentidos. Essa marcação da
diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação
quanto por meio de forma de exclusão social. Elas são resultado de um
processo de produção simbólica e discursiva e estão sujeitas a vetores de
força, a relações de poder. “Elas não são simplesmente definidas, elas são
impostas. Elas não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo
sem hierarquias disputadas” (SILVA, 2000, p.81).
14

Desta forma a escolha profissional remete a uma referência social na


qual o indivíduo participa de um grupo onde ele se reconhece e é reconhecido.
Expressa uma forma particular de ser, de sentir e de autorrepresentar nas
relações sociais da qual sua ocupação profissional faz parte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, quando uma criança inicia a fase de “engatinhar”, ela está


experimentando, jogando com a relação entre seu corpo e o ambiente em que
está situada. Jogando-se no espaço, interagindo com esse ambiente, a criança
passa por todos os riscos do movimento. Levantar, girar, correr, andar são atos
que promovem a descoberta do benefício da expressão pessoal. Ao jogar a
criança explora o mundo e se descobre: olhando, cheirando, tocando, ouvindo
ou degustando, a criança mantém contato com o mundo através dos sentidos.
O aprendiz em suas brincadeiras de faz-de-conta, alcança pleno domínio da
situação, vivendo e convivendo com a realidade e fantasia, sendo capaz de
passar para outra. Elaborando seus anseios e fantasias ao brincar, a
brincadeira vai evoluindo, deixando de ser espontânea para tornar-se um jogo
com regras definidas, ou seja, o jogar e o brincar sofrem influência da cultura e
do controle social.
Característica essencial do jogo refere-se ao jogar como experiências e
sempre com uma experiência criativa e construtiva. É no jogar que a criança
alcança a liberdade de criação, ou seja, a criança utiliza sua personalidade
integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu. O jogo
também revela uma característica transformadora intrínseca, pois quanto
melhor a capacidade do indivíduo para jogar, mais próximo está ele de sua
saúde mental. Brincando e jogando, a criança expressa toda sua
espontaneidade.
O brinquedo é o objeto real ou imaginário que antecipa os dados da
realidade. O brinquedo possibilita algo além de divertimento, entretenimento ou
descarga de energia. Representa fonte de conhecimento, de satisfação e um
acesso ao imaginário. O jogo é uma resposta ativa de impressões passivas que
o aprendiz tem diante da realidade cotidiana. Quando o educando tem medo de
15

algo, pode enfrentar o problema criando situações de controle. O estudante


procura adquirir o controle da realidade pela imitação e pela repetição. Dessa
maneira, a realidade é assimilada e reconhecida. A criança que brinca
experimenta, constrói com o brinquedo. Ela aprende a dominar sentimentos de
angústia, a conhecer seu corpo, a fazer representações do exterior e
progressivamente a agir sobre ele, controlando os próprios limites. O brinquedo
envolve um trabalho de construção e criação. Fazendo uso da imitação, a
criança constrói a base para a integração da realidade em si mesma.
Par compreender o significado de tudo que acontece ao redor, é
preciso montar um quebra-cabeça, montando e remontando cenas. O jogo e a
brincadeira são as formas mais indicadas para lidar com a realidade, pois
permitem ensaiar papéis, realizar infinitas simulações que partem da
observação. Jogando, o aprendiz diminui sua ansiedade por não poder
controlar as situações da vida real. O prazer e a segurança crescem quando
criança se sente cada vez mais segura para enfrentar as dificuldades que estão
por vir.
Jogando bola, simulando ser super-herói, pintando, recortando,
colando papéis, a criança sente-se à vontade, desfruta de uma linguagem
própria, que lhe é familiar, e desenvolve a espontaneidade e a criatividade. O
prazer desperta a motivação, que por sua vez promove novos relacionamentos,
mexendo internamente em tudo que estava adormecido. Isso só acontece se a
disposição interna estiver integrada às dinâmicas das forças do meio ambiente
e do meio social. O jogo é uma atividade integradora, de aspectos internos e
externos que irão complementar as vivências de cada um. As experiências
confirmam que jogando, vivenciando diferentes situações, como o movimento
de andar, correr, pesquisar adquiri a segurança que os experientes nos
passam aprender de uma forma tranquila e sem preocupação.
O jogo ocorre em espaços determinados. A atividade lúdica remete-nos
diretamente à imitação espontânea que parece natural ao aprendiz pequeno.
Brincar é uma expressão de contato imediato e espontâneo com o mundo real
e imaginário. O jogo entre esses dois níveis permanece como possibilidade
para toda a vida. Mas há diferenças entre as possibilidades do jogo,
principalmente quando pensamos em educação.
16

Assim sendo é inegável que a “brincadeira” é a atividade primordial na


educação do ser humano. A situação lúdica que se instaura ganha caráter de
“orientação”, ou seja, de facilitação de tarefas objetivadas pelo professor, sem
que se questione sobre a forma singular do jogo e sobre qual é realmente o
objetivo deste.
A brincadeira é uma forma de a criança constituir-se como indivíduo,
formulando e compartilhando significados. Na perspectiva sociocultural, brincar
traduz a forma como as crianças interpretam e assimilam o mundo, os objetos,
a cultura, as relações e os afetos das pessoas. É uma maneira de conhecer o
mundo adulto sem adentrá-lo realmente.
Brincar é uma forma de atividade social infantil, cujo aspecto
imaginativo e diversos do significativo cotidiano da vida fornece oportunidade
educativa para as crianças. À medida que o aprendiz utiliza-se da brincadeira,
do lúdico, ela interage com o outro, com o objeto e consigo mesma,
desenvolvendo a linguagem, função esta que organiza todos os processos
mentais da criança dando forma ao pensamento.
Desta forma quando educador faz o uso do jogo com regras, este é
formalizado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar; estimular a
cooperação, melhorar desempenho, enfrentar a timidez, aprender algo definido
etc. Quando propomos um jogo, estamos penetrando em uma zona
desconhecida, pois ao jogar produzimos inevitavelmente algo novo, criamos
regras, adaptamos as já existentes de acordo com a realidade, com os
objetivos, com os sentimentos. Jogar é um desafio e a incerteza diante do
novo, e do desconhecido.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. O jogo e a educação Infantil – falar e dizer /olhar e


ver/escutar e ouvir. Petrópolis – RJ. Editora Vozes, 2003.

FERREIRA, R. G. A Importância de Brincar na Educação Infantil. [on-line]


2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com>. Acesso em: 10 de
fevereiro de 2021.
17

FRIEDMAMM, Adriana. Brincar: crescer e aprender- regaste do jogo


infantil. Editora Moderna, 1996.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento Um


processo Sócio-Histórico. São Paulo, Scipione, 1997.

PIAGET, Jean. A Psicologia da Criança. 2. ed. São Paulo: Difusão Européia


do Livro, 1973.

______________Revista Nova Escola, Jogos e brincadeiras. Edição


Especial.

SANTOS, Santa Marly Pires dos. (org). Brinquedoteca o lúdico em


diferentes contextos. 6ª edição, Petrópolis RJ. Vozes, 1997.

SILVA, Ana Célia Bahia. Projeto Pedagógico: instrumento de gestão e


mudança. Belém. UNAMA, 2000.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. São Paulo:


Martins, Fontes, 1996.

________________. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins


Fontes, 1998.

Você também pode gostar