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1.

JOGOS E BRINCADEIRAS NO ENSINO DA MATEMÁTICA:


CONCEITO DE NÚMEROS

A Matemática está presente em todos os aspectos e atividades humanas e


oportuniza à criança o desenvolvimento do raciocínio lógico, da criatividade e
capacidade de resolver problemas no seu cotidiano. Os jogos e brincadeiras,
portanto, proporciona à criança a potencialização de suas capacidades de
compreensão e construção de conceitos matemáticos formais. Além de ser
dinâmicas, as atividades lúdicas promovem a interação social, a aprendizagem
significativa e a participação mais ativa nas aulas.

Para Freire (2004), o brincar este presente em todas as fases da vida do ser
humano, é um ato inerente à infância e sendo assim,

No começo de nossa vida o jogo nos guiava como uma divindade:


absoluto, mas pouco percebido. Nem sabíamos que jogávamos. Por
pouco não nos esquecíamos de voltar ao mundo real e ficávamos a
mercê do Senhor jogo para sempre. Nem sei como lhe escapamos.
Depois, veio o amadurecimento e o acalmou-se, ficou um pouco morno,
meio esquecido, porém, sempre à espreita. E agora nessa última fase
da vida, volta a ser arrebatador, como se não houvesse mais motivos
disponíveis para se esquivar de jogar ou de ser jogado. (FREIRE, 2004,
p.10)

Portanto, na escola esse trabalho deve ser continuado, facilitando a


aprendizagem de conteúdos, levando em conta que brincar é natural na
criança. Silva (2004)concorda com essa afirmativa quando define a brincadeira
como sendo:

Uma construção cultural transmitida e/ou permitida em qualquer


contexto social; experimentada autonomamente ou construída na
relação com seus pares, influenciados pela estrutura de rede social
(família, igreja, associações, escolas...), processos educativos e acesso
a bens materiais e culturais. (SILVA, 2004, p. 164)
As brincadeiras de acordo com esse autor são construídas culturalmente e
transmitidas de geração a geração influenciadas pelas relações sociais da
criança e nos processos educativos e sendo a escola, um deles.

Para Vygotsky (1998, p. 82) “a criança brinca pela necessidade de agir em


relação ao mundo mais amplo do adulto, buscando desempenhar este papel
num nível superior ao que se encontra”. Portanto, segundo este autor, é
através do jogo que a criança estimula sua inteligência, ao mesmo tempo em
que enriquece sua linguagem pela aquisição de novas formas de expressão ao
experimentar e manipular as coisas do ambiente.

Segundo Piaget (1977) “Os jogos são admiráveis instituições sociais” porque
ao jogar a criança desenvolve habilidades sociais e cria um relacionamento
grupal. Esse relacionamento social desenvolve-se na vivencia de situações
estratégias de liderança e cooperação. Assim, brincadeiras e jogos no
processo de aprendizagem, estimula a criança a criar estratégias de resolução
de problemas propostos, além da cooperação com os outros.

O que se observa é que muitos professores consideram que trabalhar com o


lúdico é “trabalhoso e faz muita bagunça” e deixam de buscar alternativas
pedagógicas que oportunizam às crianças o trabalho com o material concreto e
jogos, o que favorece a aprendizagem dos alunos , desenvolvendo suas
habilidades e competências.

Para Kishimoto (2000), o jogo favorece o desenvolvimento físico, cognitivo,


afetivo, social e moral, assim, não pode ser visto apenas como divertimento ou
brincadeira para gastar energia, Ainda nesse sentido, Kishimoto (2000), afirma
que,

Nesta perspectiva, o jogo torna-se conteúdo assumido, com a


finalidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas,
possibilitando ao aluno a oportunidade de estabelecer planos de ação
para atingir determinados objetivos [...] (KISHIMOTO, 2000, pp. 80 - 81)

Portanto, jogos e brincadeiras no ensino de conteúdos matemáticos devem ser


definidos e planejados com objetivos de desenvolver habilidades e
competências da criança na construção de conceitos e conhecimentos e não
apenas como atividades para preencher o tempo e diversão.

A importância dos jogos e brincadeiras no ensino da Matemática é enfatizada


por Borin, (1996),
 
“Outro motivo para a introdução de jogos nas aulas de matemática é a
possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos
alunos que temem a matemática e sentem-se incapacitados para
aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude
passiva, e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em
que esses alunos falam matemática, apresentam também um melhor
desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de
aprendizagem”.(BORIN, 1996)

Nessa perspectiva, o jogo permite à criança participar de forma ativa nas


atividades propostas, sem medo de errar e aprende com os erros por fazer
novas tentativas de resolução. Assim, a Matemática se torna um ensino atrativo
para a criança que estimula as atividades mentais e reações afetivas,
linguísticas, cognitivas e sociais.

De acordo com o RCNEI- Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil


(1998), jogos e brincadeiras no ensino de conteúdos incentivam as crianças a
buscarem soluções para as situações propostas, usando a lógica, capacidade
de estratégias e tomada de decisões. Assim,

O jogo pode tronar-se uma estratégia didática quando as


situações são planejadas e orientadas pelo adulto visando
a uma finalidade de aprendizagem, isto é, proporcionar à
criança algum tipo de conhecimento, alguma relação ou
atitude. Para que isso ocorra, é necessário haver uma
intencionalidade educativa, o que implica planejamento e
previsão de etapas pelo professor, para alcançar objetivos
predeterminados e extrair do jogo atividades que lhe serão
decorrentes. (RCNEI, 1998, p.212)
Ainda nesse documento RCNEI (1998), as brincadeiras e jogos na Matemática
devem ser bem selecionados, levando em conta os conhecimentos pré-
existentes da criança e aprofundando-os cada vez mais.

Portanto, as brincadeiras e jogos são indispensáveis no processo de ensino e


aprendizagem quando têm uma intencionalidade educativa, sendo planejados e
selecionados para o desenvolvimento intelectual da criança. Nas atividades
lúdicas é imprescindível a mediação do professor com intervenções e
estimulando o raciocínio lógico e a interação entre as crianças.

1.1 Conceito de números com jogos e brincadeiras

Trabalhar com jogos no ensino de conceitos matemáticos facilitam a aprendizagem,


tornando-significativa para a criança. Entende-se por aprendizagem significativa, de
acordo com Smole (2012),
Os pressupostos da aprendizagem significativa são:
• o aluno é o verdadeiro agente e responsável último por
seu próprio processo de aprendizagem;
• a aprendizagem dá-se por descobrimento ou reinvenção;
• a atividade exploratória é um poderoso instrumento para
a aquisição de novos conhecimentos porque a motivação
para explorar, descobrir e aprender está presente em todas
as pessoas de modo natural. (SMOLE, 2012, p.11)
Para Piaget os fontes de conhecimento são externas e internas, sendo o
conhecimento físico a fonte externa e o conhecimento lógico-matemático, a
fonte interna. Segundo a teoria piagetiana, são necessários os dois
conhecimentos para que a criança possa construir mentalmente o conceito do
número. Para Kamii (1990),
 O conhecimento físico é o conhecimento dos objetos da
realidade externa, ele está no âmbito da observação. Esse
é o conhecimento físico das propriedades do objeto.
 O conhecimento lógico-matemático requer a construção de
relação entre os objetos. Essas relações podem ser de
igualdade, diferença e quantidade a mais.
 O conhecimento social é de natureza arbitrária, e, portanto,
precisa ser informado. (KAMII, 1990, p. 14)

Portanto, não basta a criança observar as propriedades do objeto, precisa


também, estabelecer relações quantitativas, que são as relações criadas
mentalmente. Relações estas que Piaget chama de compreensão de abstração
empírica, onde “tudo que a criança faz é focalizar certa propriedade do objeto
e ignorar outra. (Kamii, 1990, p.17) Quando ela consegue fazer comparações
entre os objetos e estabelecer relações de igualdade, diferença, e quantidade,
que são as relações lógicos-matemática, ela está fazendo uma abstração
reflexiva sobre o objeto.
No campo numérico, a criança passa a fazer contagens e cada vez mais vai se
aprofundando nas suas reflexões abstratas, que exigirá construir relações de
critérios de representação e construção do sistema de numeração decimal.

Um dos recursos didáticos utilizados na construção de conceitos de números com


jogos estão os materiais manipulativos ou concretos, propostos por Smole (2012),
jogos de trilha, bingos e outros.

1.1.1 Materiais manipulativos ou concretos

O trabalho com materiais manipulativos ou concretos é uma ideia antiga iniciando


com Comenius(1592-1670)que recomendava o usos de recursos didáticos com
forma de “desenvolver uma melhor e maior aprendizagem”, na sua obra ‘Didáctica
Magna”. Nos séculos seguintes, Pestalozzi (1746- -1827) e Froëbel (1782-1852)
propõem uma “educação ativa” em que os conceitos deveriam nascer da
“experiência direta ou das operações que o aprendiz realizava sobre as coisas que
observasse ou manipulasse”. (SMOLE, 2012)
No século XX, Claparède, Montessori, Decroly, Dewey e Freinet que, com o
movimento da Escola Nova, uma corrente pedagógica, inovadora que questionava o
trabalho pedagógico da escola tradicional, criam inúmeros materiais e jogos para
melhorar o ensino da Matemática. Assim, atualmente é quase impossível trabalhar
conceitos matemáticos sem o usos desses recursos didáticos.(SMOLE, 2012)

Nessa proposta, os materiais manipulativos ou concretos facilitam essa


aprendizagem, por “estarem mais próximos da realidade da criança” e os
significados que a criança constrói são resultantes do seu trabalho e da ação
do professor. Esses materiais devem estar “atrelados, com objetivos bem
claros “. (SMOLE, 2012) Quando se fala de materiais manipulativos ou
concretos se referem àqueles que podem ser manipulados pelo aluno ou
palpáveis. Nesse sentido Machado (1990) faz a seguinte observação:

Em seu uso mais frequente, ele se refere a algo material


manipulável, visível ou palpável. Quando, por exemplo,
recomenda-se a utilização do material concreto nas aulas
de matemática, é quase sempre este o sentido atribuído ao
termo concreto. Sem dúvida, a dimensão material é uma
importante componente da noção de concreto, embora não
esgote o seu sentido. Há uma outra dimensão do concreto
igualmente importante, apesar de bem menos ressaltada:
trata-se de seu conteúdo de significações.(MACHADO,
1990, p. 46)

Assim, o material se torna concreto quando, ao ser manipulado, são


construídos significados mediante a participação da criança nos jogos
propostos, vinculadas com a realidade da criança e de sua relação com o
mundo. Smole (2012) afirma ainda que,

Nas situações de ensino com materiais, a simulação


permite que o aluno formule hipóteses, inferências, observe
regularidades, ou seja, participe e atue em um processo de
investigação que o auxilia a desenvolver noções
significativamente, ou seja, de maneira refletida. Um fato
importante a destacar é que o caráter dinâmico e refletido
esperado com o uso do material pelo aluno não vem de
uma única vez, mas é construído e modificado no decorrer
das atividades de aprendizagem. Além disso, toda a
complexa rede comunicativa que se estabelece entre os
participantes, alunos e professor, intervém no sentido que
os alunos conseguem atribuir à tarefa proposta com um
material didático.(SMOLE, 2012, p, 12)

Portanto para essa autora, a importância de trabalhar com materiais


manipulativos está na criança construir os conceitos a partir de sua
participação nos jogos e sua reflexão sobre os erros e acertos e no seu caráter
dinâmico. Ainda de acordo com Smole (1996, p. 172):

Dadas as considerações feitas até aqui, acreditamos que


os materiais didáticos podem ser úteis se provocarem a
reflexão por parte das crianças de modo que elas possam
criar significados para ações que realizam com eles. Como
afirma Carraher (1988), não é o uso específico do material
com os alunos o mais importante para a construção do
conhecimento matemático, mas a conjunção entre o
significado que a situação na qual ele aparece tem para a
criança, as suas ações sobre o material e as reflexões que
faz sobre tais ações. (SMOLE, 2012, p. 13)

Entre os recursos didáticos, a autora sugere jogos com ábacos, cartas especiais,
fichas sobrepostas, calculadora, etc. Um dos jogos é o “Memória de 15” em que se
trabalha contagem, estimativa, reconhecimento dos números de 1 a 10 e operação
de adição.(ANEXO 1)
2.1.2 Jogos de Trilha e Bingos

O Jogo de trilha ensina a sequência numérica, ordem crescente e decrescente,


contagem e quantificação. (ANEXO 2)
O Bingo, nas cartelas tradicionais, o aluno aprende a ler os números. Durante o
sorteio anunciar os números de forma diferenciada, falando sobre dezenas e
unidades, antecessores e sucessores, ou exigir algum tipo de operação para
descoberta do numero sorteado. (ANEXO 3)

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