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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO BRAZ

CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

JUVELINA DO ROCCIO

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NA


APRENDIZAGEM

CURITIBA/PR
2018
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO BRAZ

CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NA


APRENDIZAGEM

Trabalho entregue à Faculdade de Educação São Braz, como


requisito legal para convalidação de competências, para
obtenção de certificado de Especialização Lato Sensu do curso
de Educação Especial conforme Norma Regimental Interna e
Art. 47, Inciso 2 da LDB 9394/96.

Professor(a) Orientador:

CURITIBA/PR
2018
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO NA
APRENDIZAGEM

RESUMO

Todos têm direito a educação e a inclusão de alunos com deficiência intelectual já é uma
realidade nas escolas de ensino regular. É fundamental que o professor neste caso, tenha
conhecimentos a respeito do desenvolvimento humano para que tenha êxito na
aprendizagem desses alunos. A interação entre eles será crucial, pois é esta, é o motivador
para o desenvolvimento de habilidades e, consequentemente, de sua aprendizagem. O
presente trabalho se trata de uma pesquisa bibliográfica com embasamento de estudiosos
teóricos sobre o tema em questão apresentando os desafios enfrentados pelo professor do
ensino regular para efetivar a aprendizagem de todos, sem exclusão. O primeiro tópico,
apresenta a definição sobre a deficiência intelectual. No tópico seguinte, será considerado
a relação do professor com os alunos com deficiência intelectual, com sugestões para lidar
de forma positiva na aprendizagem desses alunos. Por fim, conclui-se que o professor deve
conhecer bem o seu aluno com deficiência intelectual, de suas limitações e capacidades,
promovendo a interação em sala de aula, fazendo uso de diferentes metodologias visando
a efetivação da aprendizagem. Utilizou-se a revisão de teorias de estudiosos como, Silva e
Aranha, Mazzotta, Mantoan, Vigotsky e documentos legais da educação inclusiva que
fundamentam esse assunto.

Palavras-chave: Deficiência intelectual; Relação, Professor e aluno;

1. INTRODUÇÃO

A necessidade de pesquisas a respeito da relação professor e aluno com deficiência


mental é de máxima importância tendo em vista o processo da inclusão social, que é
uma questão de direito e respeito à diversidade. A inclusão de alunos com deficiência no
ensino regular já é uma realidade e exige dos gestores e educadores um
comprometimento e conhecimento a cerca do desenvolvimento humano, principalmente
desses alunos que apresentam deficiência no campo cognitivo.

Como se sabe, a aprendizagem depende em grande parte da interação do aluno com


o professor, pois o ato de aprender envolve um envolvimento emocional da parte de quem
ensina e de quem aprende. Exige motivação para querer aprender e é nessa relação entre
professor e aluno que se dá esse processo que aos poucos vai se desenvolvendo numa
cumplicidade da troca. Para a melhor compreensão do tema abordado será feito uma
conceituação de deficiência mental e uma análise sob a luz dos estudiosos Como Silva e
Aranha, Mazzotta, Mantoan, Vigotsky e documentos legais da educação inclusiva que
fundamentam esse assunto.

Sabe-se que a inclusão social é um fruto de uma construção sócio-histórica gerado


de movimentos da sociedade que luta pelo direito de todos sem exceção, à educação e mais,
uma educação de qualidade que respeite os direitos dos cidadãos e as diversidades
existentes na sociedade.
Historicamente, sabe-se que a escola atendia inicialmente os alunos das classes
mais ricas e influentes, ou seja, um número reduzido da população. A maior parte da
população de poder aquisitivo mais baixo não tinha o direito de freqüentar uma escola e muito
menos uma criança que apresentasse uma deficiência mental. Estas eram apartadas da
sociedade: escondidas por vergonha dos pais e pelo preconceito da sociedade e dos dogmas
da igreja. Segundo Mazzotta (2005), p.16), “Havia [...] uma completa omissão da sociedade
em relação à organização de serviços para atender as necessidades individuais específicas
dessa população”. (MAZZOTTA, 2005, p.16).Sendo assim, educação atendia somente
àqueles que atendiam aos padrões estabelecidos estereotipados educacionalmente: sociais,
cognitivos, financeiros, culturais, entre outros.
A exclusão era regra e não a exceção na educação das populações e
principalmente das pessoas que apresentassem qualquer tipo de deficiência mental. Essas
eram consideradas como subumanas e afastadas de qualquer convívio social.

Mas novos paradigmas que vêm responder às necessidades sociais surgiram com a
ruptura dos modelos tradicionais, pelos movimentos por uma educação mais justa e igualitária
para todos, sem exceção. O Brasil, por exemplo, aderiu à educação inclusiva na Conferência
Mundial de Educação para todos na Tailândia em 1990 e na Conferência Mundial sobre
necessidades especiais realizada em Salamanca, Espanha em 1994. Segundo o que
Ministério da Educação salienta a respeito de uma educação de qualidade no ensino regular,

Tal política abrange: o âmbito social, do reconhecimento das crianças, jovens e


adultos especiais como cidadãos e de seu direito de estarem integrados na sociedade
o mais plenamente possível; e no âmbito educacional, tanto os aspectos
administrativos (adequação do espaço escolar, de seus equipamentos e materiais
pedagógicos), quanto na qualificação dos professores e demais profissionais
envolvidos. Propõe-se uma escola inclusiva, aberta à diversidade dos alunos, no que
a participação da comunidade é fator essencial. (BRASIL, 2004, p. 20)

Assim, a educação inclusiva é garantida pela lei e se torna cada vez mais umas
realidades nas escolas brasileiras exigindo do Estado maiores recursos financeiros na
reestruturação física e pedagógica dessas escolas para atender essa demanda educacional,
pois as mesmas não têm essa infra-estrutura. Além disso, mais formação profissional por
parte dos professores e gestores é fundamental para a quebra do preconceito e paradigmas
tradicionais que ainda pairam sobre a sociedade e a educação. Com se sabe, não é somente
na escola que se acontecem situações preconceituosas, mas muitas vezes são dos próprios
pais que não aceitam que seus filhos tenham uma deficiência mental. Esses entraves são
desafios que a escola tem enfrentado na busca de uma educação de qualidade com a
inclusão de alunos com deficiência mental no ensino regular.

Segundo Silva e Aranha (2003), “[...] no processo de construção de uma classe inclusiva,
as relações entre professor e aluno surgem como elemento de fundamental importância, já que é no
contexto das relações que o respeito e a atenção pedagógica flexível e individualizada vão se efetivar”.
(SILVA e ARANHA, 2003, p. 377). Mas o que é deficiência mental e como deve ser a relação
entre professor e alunos que apresentam problemas cognitivos para garantir uma
aprendizagem significativa de qualidade? Essas questões serão consideradas a seguir para a
melhor compreensão do assunto.

2. DEFINIÇÃO DE DEFICIÊNCIA MENTAL

Segundo Krynski (2002), “A deficiência mental não corresponde a uma moléstia única,
mas a um complexo de síndromes que têm como única característica comum a insuficiência
intelectual”. (1969 apud ASSUMPÇÃO; SPROVIERI, 2002, p. 22),). Sendo assim, a
deficiência mental se trata de um conjunto de características ou sintomas de aspectos
motores, cognitivos e sociais. É importante salientar que quanto mais cedo o diagnóstico,
melhor será no prognóstico e intervenções pedagógicas para desenvolvimento intelectual da
pessoa.
Outro conceito de deficiência mental pode–se notar no Documento Subsidiário à
Política de Inclusão Brasil (2005) que considera que deficiência intelectual, está estritamente
associada a déficits nas funções cognitivas.

A deficiência mental é um quadro psicopatológico que diz respeito, especificamente,


às funções cognitivas. Todavia, tanto os outros aspectos estruturais quanto os
aspectos instrumentais também podem estar alterados. Porém, o que caracteriza a
deficiência mental são defasagens e alterações nas estruturas mentais para o
conhecimento. (BRASIL, 2005, p. 12)

Assim, a deficiência mental está ligada à defasagem e limitações no processo de


aprendizagem do indivíduo e este não consegue reconhecê-las e por isso não conseguem
aprender como os outros aprendem, no mesmo tempo e com a mesma facilidade. É
importante ressaltar também que a deficiência pode se apresentar num grau mais elevado
em alguns indivíduos e menos em outros, ou seja, cada diagnóstico é um caso diferente.
O Código Internacional de Doenças- CID 10- desenvolvido pela Organização Mundial
de Saúde (OMS, 1995) classifica a deficiência mental ou retardo mental em leve,
moderado, severo e profundo.
Segundo a AAMR - Associação Americana de Retardo Mental - órgão criado em
1876, sendo o mais antigo do mundo no campo intelectual, define a deficiência mental
como sendo a “incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no
funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades
conceituais, sociais e práticas” (BRASIL, 2005a, p.13). O mesmo conceito adotado pela
Política Nacional de Educação Especial baseia-se nessa concepção,

Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual significativamente


abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com
limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da
capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da
sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais,
habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na
locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho.
(BRASIL, 1994, p. 15)

Nota-se que não há uma conceituação comum de deficiência mental, pois há


variações psicológicas, sociais, intelectuais e emocionais em cada caso. Mas voltando a
ressaltar que qualquer que seja o caso, o diagnóstico precoce é importante para o
processo do desenvolvimento cognitivo, social e lingüístico do indivíduo que apresenta
essas limitações intelectuais.

3. A INTERAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL

Como visto o melhor prognóstico para a deficiência mental depende muito da


interação entre professor e aluno, pois normalmente a aprendizagem ocorre com a
motivação do aluno para o ato de aprender, ou seja, o aspecto emocional influencia de
forma positiva na motivação da criança e consequentemente na sua aprendizagem, Mais
ainda nos alunos que apresentam limitações cognitivas que dificulta a sua aprendizagem
de conteúdos no mesmo tempo e ritmo dos outros no ensino regular.

O sentimento de fracasso é comum em alunos com deficiência mental e estes


tendem a desistir dos estudos com o tempo, pois se sentem frustrados e adversos à
aprendizagem. A consciência desse fato por parte do professor é importante na sua relação
com este aluno, no sentido de motivar este aluno mostrando-lhe que ele pode e vai
conseguir aprender dentro das suas limitações. Quando a afetividade é considerada na
aprendizagem desse aluno, este se sentirá motivado a aprender. (MONTOAN, 2004)

Para o professor é desafio trabalhar em sala de aula com alunos com deficiência
intelectual, pois não se sentem preparados para atender esse público. A inclusão desses
alunos no ensino regular deixou de ser uma limitação exclusiva da pessoa, mas de toda a
sociedade que deve superar essa barreira. Nesse sentido, Montoan (2006) esclarece que ,

Grande parte dos professores das escolas comuns acredita que o ensino escolar
individualizado e adaptado é o mais adequado para atender em suas necessidades
escolares, aos que têm dificuldades de aprender e aos alunos com deficiência,
principalmente quando se trata de educandos com deficiência mental. Adaptar o
ensino para alguns alunos de uma turma de escola comum não conduz e não condiz
com a transformação pedagógica dessas escolas, exigida pela inclusão. A inclusão
implica em uma mudança de paradigma educacional, que gera uma reorganização
das práticas escolares: planejamentos, formação de turmas, currículo, avaliação,
gestão do processo educativo. (MONTOAN , 2006, p. 15)

Apesar dessas dificuldades encontradas pelos professores, percebe-se que o este


cenário está mudando aos poucos. Gestores e professores precisam estar abertos às
diversidades pois, os alunos com deficiência intelectual são sujeitos que, embora tenham
um ritmo mais lento na aprendizagem, são capazes de aprender.

É nesse contexto que a relação do professor com esses alunos são de grande
importância no desenvolvimento da aprendizagem, pois a inclusão não implica apenas a
presença e permanência desses alunos em salas de ensino regular mas de acordo com as
diretrizes do Programa Educar na Diversidade - material de formação docente (BRASIL,
2006), a escola deve adotar certos parâmetros como,

a) Um projeto educacional para a diversidade, o qual deverá abranger os seguintes


aspectos:

- atitudes de aceitação e valorização da diversidade por parte da comunidade


educacional; -

liderança e comprometimento da direção da escola, com a aprendizagem e a


participação de todos os alunos e alunas; -

adequação do nível de formação dos docentes, em termos de necessidades


educacionais especiais e estratégias de atendimento à diversidade;

- desenvolvimento de um currículo o mais amplo, equilibrado e diversificado possível


e passível de ser adequado às necessidades individuais e sócio-culturais dos alunos.

b) Um projeto de aprendizagem mais significativo que diz respeito a estilos de ensino


abertos e flexíveis, baseados em metodologias ativas e variadas que possibilitem
personalizar os conteúdos da aprendizagem e promovam o maior grau possível de
interação e participação de todos os alunos. (BRASIL, 2006)

É importante que esses parâmetros estejam explicitados no Projeto Político


Pedagógico da escola, que orienta as ações educativas para promover a interação e
aprendizagem de todos. Para tanto, o planejamento, a avaliação formativa, o uso de
metodologias diferentes devem ser priorizadas nos ambientes de aprendizagem para o
êxito educacional. A valorização da diversidade e das diferenças, a igualdade de direitos e
o respeito à individualidade devem ser ensinados e respeitados para que a inclusão se
efetive em sala de aula.

É fundamental que o professor acompanhe o desenvolvimento dos alunos com


deficiência mental e identifique o grau evolutivo em que se encontram na compreensão e
resolução das atividades apresentadas para que possa criar condições desses criarem
suas próprias hipóteses de resolução e por fim, suas respostas às questões dos conteúdos.
Segundo Priost, Raiça e Machado (2006) as pessoas com deficiência mental são muito
sensíveis ao ambiente e percebem como são tratadas, se são excluídas desconsideradas,
por isso a importância de não subestimá-las. A afetividade poderá ajudá-las não somente
na aprendizagem de conteúdos escolares, mas também na sua vida social, na interação
com os outros, refletindo em outros campos de saberes.

Neste caso, o professor deve criar um ambiente de aprendizagem agradável,


confortante, criativo e propiciando a construção do conhecimento por parte do aluno dentro
de suas limitações intelectuais. Para Vygotisky (1997) “[...] uma criança com deficiência
mental não é simplesmente menos desenvolvida que outra da sua idade, mas é uma
criança que se desenvolve de outro modo”. Segundo esse autor, não existe uma única
forma de aprender e de ensinar, mas uma boa aprendizagem envolve a interação do aluno
com outros, pois na sua concepção os aspectos cognitivos da criança são influenciados
grandemente pelo social e cultural. A sua interação com o meio, no caso, com os outros,
professor e colegas contribui de forma significativa na aprendizagem.

4. CONCLUSÕES FINAIS

Como visto, a inclusão não é um processo apenas de colocar os alunos com


deficiência intelectual em sala de aula junto com os outros, mas implica uma quebra de
paradigmas construídos culturalmente ao longo do tempo. Mas percebe-se que a mudança
na forma de ver esses alunos é importante na valorização à diversidade e respeito à
individualidade existentes no ambiente escolar.
A escola assim como o professor, deve lembrar que a criança com deficiência
intelectual, apesar de levar mais tempo, ela tem capacidade de aprender como os outros.
Sendo assim, a escola tem um papel importante no desenvolvimento dos alunos com
deficiência mental na sua aprendizagem, levando em conta o seu papel de oferecer uma
educação de qualidade para todos. A educação inclusiva deve de fato, promover uma
aprendizagem significativa, não focando no défict da criança, mas na elaboração de
estratégias pedagógicas que propiciem condições reais de aprendizagem dentro das
limitações do aluno com deficiência mental, na interação deste com todos, inclusive
considerando que a afetividade influencia no desenvolvimento cognitivo e
consequentemente, na aprendizagem.

REFERENCIAS

BRASIL. Educação Inclusiva: documento subsidiário à política de inclusão. Brasília: MEC/SEESP,


2005a.
______. Direito à Educação: subsídios para a gestão dos sistemas educacionais: Orientações e
marcos legais, organizado e coordenado por Marlene de Oliveira Gotti... et. al. Brasília:
MEC/SEESP,2004.
_______,.Educar na Diversidade: material de formação docente. Brasília: MEC/SEESP,
2006b.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: História e políticas públicas. São Paulo:
Cortez, 2005.
MANTOAN, M. T. E. Ser ou estar, eis a questão: explicitando o déficit intelectual. Rio de Janeiro:
WVA, 2004.
________________ Inclusão Escolar-caminhos e descaminhos, desafios e perspectiva.
Ensaios Pedagógicos. Brasília: MEC/SEESP, 2006.

PRIOSTE, C.; RAIÇA, D.; MACHADO, M. L. G. Questões sobre a educação inclusiva da


pessoa com deficiência mental. São Paulo: Avercamp, 2006.
SILVA, S. C.; ARANHA, M. S. F. Interação entre professora e alunos em salas de aula com
proposta pedagógica de educação inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília,
v.11, n.3, p. 373-394, 2005.
SPROVIERI, M. H.; JR ASSUMPÇÃO, F. B. Introdução ao estudo da deficiência mental.
São Paulo: Memnon, 2000.

VYGOTSKY. Psicologia Pedagógica. Obras escogidas: fundamentos da defectologia. Madrid:


Visor, 1997.

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