Você está na página 1de 33

DISPONÍVEL 24H

MELHOR CUSTO BENEFÍFIO


100% LEGALIZADO

1
SUMÁRIO

CONCEITOS DE LUDOTERAPIA .......................................................................................... 3

LUDOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE TRATAMENTO ............................................ 5

A CRIANÇA E O BRINCAR .................................................................................................... 6

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC ........................................................ 8

CONHECENDO A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC ........................ 8

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL –TCC NA CLÍNICA INFANTIL ............ 10

A LUDOTERAPIA SEGUNDO A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL -


TCC .......................................................................................................................................... 11

PRÁTICAS DA LUDOTERAPIA COMPORTAMENTAL NA CLÍNICA INFANTIL ........ 13

VANTAGENS COGNITIVAS DO USO DA LUDOTERAPIA COMPORTAMENTAL ..... 17

UTILIZANDO O BRINCAR NA TERAPIA COMPORTAMENTAL .................................. 19

O BRINCAR COMO TERAPIA .............................................................................................. 19

A VISÃO COMPORTAMENTAL .......................................................................................... 20

UM ESTUDO ........................................................................................................................... 21

Estratégias lúdicas .................................................................................................................... 22

Favorecer a formação do vínculo com a criança ...................................................................... 26

Verificar a relação da criança com pessoas dos ambientes em que está inserida ..................... 27

Identificar sentimentos da criança em relação a si mesma, a determinadas pessoas e


situações.................................................................................................................................... 28

Treinar a solução de problemas cotidianos por meio de situações simuladas .......................... 28

Desenvolver habilidades ........................................................................................................... 28

Trabalhar a autoconfiança da criança ....................................................................................... 28

Favorecer o relaxamento .......................................................................................................... 29

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 31
CONCEITOS DE LUDOTERAPIA

Pensar em atendimento clínico infantil nos remete imediatamente a ludoterapia,


uma vez que esta prática permite que a criança expresse seus anseios, frustrações,
dificuldades através do brincar. Também definida como “terapia pelo brincar” se
caracteriza por ser (…) uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um
terapeuta treinado em ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de
brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma que possa expressar e explorar
plenamente o seu self (sentimentos, pensamentos, experiências, comportamentos) (...).
(LANDRETH, 2002, p. 16 apud HOMEM, 2009, p. 21).
Em outras palavras, o brincar proporciona um ambiente natural e confortador
que possibilita a expressão das situações conflitantes de sua vida. Entretanto, este
brincar não se assemelha ao qual comumente observamos no cotidiano dos pequenos, a
ludoterapia por sua vez recorre à brincadeira como fonte de externalizar ocasiões do
dia-a-dia, estresse e novas aprendizagens.
Brito e Paiva (2012) salientam que o método da Ludoterapia pode ser diretivo e
não diretivo. Em outras palavras, referem-se à aplicabilidade do brincar como
pressuposto de análise e intervenção. No método não diretivo, trabalhada pela
psicanálise, a criança assume a condução das brincadeiras, propiciando dessa forma o
aparecimento dos conflitos intrapsíquicos. Porém, o método diretivo, defendida pela
abordagem comportamental, todo o brincar é direcionado e estruturado para um alvo
delimitado.
Dessa forma, ao resgatarmos a origem da ludoterapia podemos observar que esta
se iniciou na Psicanálise a partir das descobertas de Freud (1909) com o caso do
Pequeno Hans. Foi possível com esse episódio esclarecer a existência e manifestação
dos conteúdos internos infantis confirmados pela análise dos desenhos encaminhados à
Freud pelo pai de Hans.
Tais revelações abriram caminho anos mais tarde para as postulações de Anna
Freud (1926) e Melanie Klein (1920). Ambas referências no trabalho com crianças,
introduziram técnicas e instrumentos que possiblitaram e ampliaram os recursos
utilizados na terapia clínica infantil. Porém, cada uma seguiu caminhos diferentes, Anna
Freud inseriu o uso de desenhos nas interpretações dos sonhos com as crianças e Klein
passou a analisar crianças introduzindo “a técnica do brincar” (GUERRELHAS et. al.,
2000).

3
Neste ambiente, foi possível segundo as observações de Klein (1970) perceber
que o brincar se faz semelhante à Associação Livre de Ideias, isto é, a brincadeira
remonta simbolicamente fantasias, desejos e anseios sendo permitido o acesso as
manifestações dos conteúdos internos, que estimula o aparecimento das desordens
intrapsíquicas.
Diante disso, Winnicott (1975 apud FERNÁNDEZ, 1991, p. 166) ressalta que “a
criança joga (brinca), para expressar agressão, adquirir experiência, controlar
ansiedades, estabelecer contatos sociais como integração da personalidade e por prazer”.
Em suma, o brincar é o espaço em que se constituem experiências culturais, sociais,
emocionais; bem como, o momento de exposição, reflexão e resolução dos problemas e
situações vividas no cotidiano.
Mas, este método não se restringe apenas a psicanálise, o brincar como processo
de intervenção infantil pode ser vislumbrado também nas obras de Piaget (1950),
quando este na construção de sua teoria realizou a observação sistemática da função dos
jogos nas fases de desenvolvimento infantil, o lançando como fonte de ciência da
criança.
Cardoso (2010) salienta que este é o “motivo pelo qual Piaget acredita que a
atividade lúdica é essencial na vida da criança, pois, se constitui, em expressão e
condição para o desenvolvimento infantil, já que quando as crianças jogam, assimilam e
transformam a realidade” (CARDOSO, 2010, p. 12). Assim, o jogo não deve ser
considerado somente sob a perspectiva do entretenimento, este se refere inegavelmente
ao fator indispensável para o desenvolvimento biopsicossocial da criança.
Fortuna (2007) ressalta ainda que as brincadeiras e os brinquedos operam como
intermediadores da relação homem-mundo alteram a percepção e a apreensão que se
tem dele, estabelecendo-se em ferramentas de vivência em sociedade. O brincar também
é uma atividade social que tem a característica especial de possibilitar a reconstrução
das relações sociais, ao mesmo tempo em que instrui a habitar em um mundo
culturalmente simbólico.
Ante o exposto, fica claro a relevância do lúdico como instrumento eficaz no
atendimento a criança. Porém, a maneira de aplicação prática derivará da linha teórica
do profissional.
Partindo desse pressuposto, o uso de bonecos, jogos, pinturas, colagens, argila,
massa de modelar, dentre outros, proporcionam um ambiente livre de recriminação e
habitual para que a criança construa seu mundo de fantasia (GADELHA e MENEZES,

4
2004). E justamente por meio da fantasia é que se podem penetrar os recantos mais
íntimos das crianças, a partir das próprias perspectivas delas (OAKLANDER, 1980).
Assim sendo, a ludoterapia representa um instrumento indispensável para prática
terapêutica infantil, pois possibilita entrar em contato com o mundo intrapsíquico da
criança, bem como oferecer suporte teórico-metodológico para o tratamento e o
desenvolvimento de habilidades e competências favoráveis.

LUDOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE TRATAMENTO

A ludoterapia refere-se à prática terapêutica subsidiada pelos brinquedos e


brincadeiras como mecanismo evocador dos conteúdos internos provocadores de
desordens e traumas psíquicos.
Desse modo, o brincar surge no ambiente da psicoterapia como instrumento de
observação e atendimento infantil, como afirma Ribeiro (2013, p. 29) "o brincar envolve
um conjunto muito amplo de atividades, desde o brincar com o próprio corpo, brincar
com brinquedos de forma livre até ao brincar estruturado, o jogo”. Ou seja, esta técnica
permite a compreensão da realidade psíquica e funcionamento do cliente, como forma
extensa de sua realidade amparando, portanto, a resolução de conflitos.
Podemos dessa maneira, conceber que no âmbito do setting terapêutico o brincar
conduz a criança penetrar e criar seu espaço imaginário, vivendo, revivendo e
transportando para este momento situações de medo, angústia, prazer e ameaça.
Schmidt e Nunes ainda salientam que (...) através do brincar, é possível que a
criança evidencie sua imaginação e seu mundo “faz de conta”, e nesse processo elabore
aspectos frustrantes da realidade, transforme algo passivo em ativo, aprenda a
compartilhar e a experimentar um contato social, além de exercer a sua criatividade e o
treinamento da plasticidade psíquica que lhe será útil por toda a vida (SCHMIDT;
NUNES, 2014, p. 18).
Fica evidente a importância de que a criança viva o mundo infantil de uma
forma ampla, empregando parte do seu tempo e energia naquilo que lhe traz prazer e
satisfação: o brincar, pois é neste momento que são reforçados e amadurecidos seu
psiquismo, conhecimento e capacidade motora.
Segundo Aberastury (1992, p. 15) (...) a criança (...) repete no brinquedo todas as
situações excessivas para seu ego fraco e isto lhe permite, devido ao domínio sobre os
objetos externos a seu alcance, tornar ativo aquilo que sofreu passivamente, modificar

5
um final que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida real
tanto interna como externamente e também repetir à vontade situações prazerosas
(ABERASTURY, 1992, p. 15).
Na brincadeira, a relação estabelecida com o objeto não se caracteriza como a
parte principal, na verdade ele se configura mediador entre a realidade e a imaginação.
Compreendemos que o real papel do objeto principal é recriar através do “como se”;
isto é, livrar a criança para experimentar o que quiser, ela pode ser tudo e nesse faz de
conta, ela imita a vida, as alegrias e tristezas.
Winnicott acrescenta que além das significações e sentidos, os brinquedos são
também objetos transicionais, isto é, eles se encontram no meio do caminho entre a
chamada realidade concreta e a realidade psíquica da criança (MRECH, 1999, p. 166).
Oaklander (1980) instrui o terapeuta receber a criança despido de preconceitos,
julgamentos e/ou resistências, uma vez que reconhecer e respeitar as especificidades
desta criança implicará na revelação de seus sentimentos e angústias.
O imaginário também contribui para elucidar tais emoções, já que por meio dele:
Geralmente o seu processo de fantasia (a forma como faz as coisas e se move em seu
mundo fantasioso) é o mesmo que acontece no seu processo de vida. Podemos penetrar
nos recantos mais íntimos do ser da criança por meio da fantasia. (OAKLANDER,
1980, p. 25).
Desse modo, todas estas ferramentas possibilitam que o processo ludoterápico se
revele não apenas como solucionador de conflitos, mas sim um recurso para
instrumentalizar o indivíduo em seu crescimento emocional, afim de que possa elaborar
o atual problema, bem como os que surgirem, de forma coesa e sem dano para o ego.
Contudo, para abranger o melhor desenvolvimento nesse processo é
imprescindível maior atenção às atitudes do terapeuta, a adesão e participação dos pais e
o emprego de técnicas e habilidades ludoterápicas visando maior efetividade no trabalho
e consequentemente a explicação de pensamentos, fantasias, emoções evocadas através
do brincar.

A CRIANÇA E O BRINCAR

O período da infância ao longo da história foi desconsiderado pela sociedade,


percebendo as crianças apenas como “mini adultos”. Porém, com o início da
Modernidade a infância foi tomando a forma que conhecemos atualmente, isto é, a

6
criança passou a ser entendido como ser que necessita de cuidados, afeto, e
principalmente, como um sujeito em desenvolvimento.
Diante disso, Ghiraldelli reforça a concepção da infância como etapa natural da
vida do indivíduo “como algo que vai sendo montado, criado a partir de novas formas
de falar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as crianças" (2000, p. 49),
sendo dessa maneira uma construção social, nascido das práticas culturais de uma
sociedade.
Neste universo, destacamos a importância de “ser criança” com a garantia de
respeito aos direitos inerentes independente da etnia, religião, nacionalidade visando
apenas à congruência que esta fase requer. Em outras palavras,
(...) crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas
contradições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume a ser
alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança).
Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a
criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs,
pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo
de ver as crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto de
vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma história humana
porque o homem tem infância (KRAMER, 2007, p. 15 – grifo nosso).
Desta maneira, podemos compreender que a infância está atrelada ao brincar e
fantasiar, pois o brincar vai além de ser meramente uma atividade recreativa, esta se
configura um espaço de construção e apreensão das regras sociais, negociação, divisão,
resolução de conflitos, entre outros.
Vygotsky (2007) inclui o brincar como atividade humana permeada por fantasia,
realidade e imaginação na qual a sua interação permite a interpretação e expressão das
situações vivenciadas a fim de construir relações. Tal pensamento se assemelha as
concepções de Borba (2006 apud CARVALHO, 2009, p. 18) que frisam a “visão (...) da
brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais,
cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança (...)”
integrando-a na sociedade.
Além disso, a criança traduz com o brincar a percepção da realidade que o
envolve, de modo a solidificar suas funções psíquicas necessárias para o enfrentamento
dos problemas cotidianos. Ressaltamos ainda, a complexidade dos processos que
envolvem as brincadeiras, já que é o pilar da construção e assimilação do novo, ou seja,

7
a criança passa a aprender o diferente mediante o conhecimento já existente,
constituindo dessa forma espaços de aprendizagem.
Portanto, os momentos proporcionados pelo brincar propiciam o
desenvolvimento dos processos cognitivos como memória, linguagem, atenção,
consciência corporal e espacial, planejamento e execução de tarefas dentre outras, que
serão indispensáveis ao longo da vida, uma vez que tais experiências influenciam de
modo significativo na sua percepção e ação sobre o mundo.

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

CONHECENDO A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL –


TCC

Considerado fundador da Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, Aaron


Beck juntamente com outros pesquisadores de sua época iniciaram na década de 1960 a
denominada “revolução cognitiva”, a qual propunha reformulações nos modelos
conhecidos da teoria comportamental enfatizando a união dos pressupostos da Terapia
Cognitiva e Comportamental.
Sob a concepção de um novo modelo de interpretação e atuação dos transtornos
emocionais a psicoterapia cognitivo-comportamental se apresenta como de acordo com
as considerações de Rangé (2001, p. 35),
(...) uma prática de ajuda psicológica que se baseia em uma ciência e uma
filosofia do comportamento caracterizada por uma concepção naturalista e determinista
do comportamento humano, pela adesão a um empirismo e a uma metodologia
experimental como suporte do conhecimento e por uma atitude pragmática quanto aos
problemas psicológicos (RANGÉ, 2001, p. 35)
Com esse novo formato, alicerçado pela postura construtivista, os modos de
compreensão das fragilidades emocionais passaram a ser concebidas como reações a
eventos internos e externos refletidos de forma idiossincráticos que dão origem aos
transtornos de processamento de informação.
Serra traduz essa afirmação ao dizer que (...) nossas representações de eventos
internos e externos, e não um evento em si, determinam nossas respostas emocionais e

8
comportamentais. Nossas cognições ou interpretações, as quais refletem formas
individuais de processar informação e representar o real, constituiriam a base dos
transtornos emocionais, os quais seriam definidos, em TCC, mais propriamente como
transtornos de processamento de informação (2016, p.1).
Para Pureza et. al. (2014), a TCC se propõe alcançar a flexibilidade e a
ressignificação dos modos patológicos no processamento da informação, pois acredita-
se que os indivíduos não sofrem pelos problemas e fatos em si, mas sim pelas suas
interpretações a respeito dos mesmos. Autores como Knapp (2008), Bunge (2011),
Friedberg (2004) dentre outros, demonstram extensas evidências científicas que
confirmam que o tratamento com TCC é eficaz em um considerável número de
patologias psiquiátricas e demandas psicológicas.
A TCC busca a reestruturação das alterações cognitivas que emergem do
paciente atuando com intervenções que visem a promoção de mudanças nos
comportamentos e emoções através da atuação pontual nos sistemas de esquemas e
crenças conjuntamente com a abordagem de resolução de problemas.
Em virtude do exposto, Knapp e Beck (2008) dividem a TCC em três modelos
de atuação, são eles:
1) Terapias de habilidades de enfrentamento, que enfatizam o desenvolvimento
de um repertório de habilidades que objetivam fornecer ao paciente instrumentos para
lidar com uma série de situações problemáticas;
2) terapia de solução de problemas, que enfatiza o desenvolvimento de
estratégias gerais para lidar com uma ampla variedade de dificuldades pessoais; e
3) terapias de reestruturação, que enfatizam a pressuposição de que problemas
emocionais são uma consequência de pensamentos mal adaptativos, sendo a meta do
tratamento reformular pensamentos distorcidos e promover pensamentos adaptativos
(KNAPP; BECK, 2008, p. 55).
Todas essas formas de atuação e intervenção procuram oferecer recursos,
técnicas e estratégias cognitivas aos pacientes para que possam lidar com os dilemas do
mundo que o cerca. Além do mais, nessa teoria tanto o paciente quanto o terapeuta
desempenham funções ativas no processo terapêutico, isto é, a TCC tem na relação
colaborativa o pilar de suas ações.
Contudo, as mudanças advindas da Terapia Cognitivo Comportamental
trouxeram reformulações na compreensão e tratamento dos transtornos emocionais,
sendo uma das principais características que diferem a TCC das outras abordagens

9
psicoterápicas o tempo de duração nos atendimentos, sua eficiência e eficácia
ratificados mediante estudos empíricos.

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL –TCC NA CLÍNICA


INFANTIL

No atendimento com crianças a terapia cognitivo comportamental se utiliza de


muitos aspectos abordados nos atendimentos com adultos, entretanto há diferenças
bastante significativas, como por exemplo a ocorrência do tratamento em seu ambiente
cotidiano, a intervenção empregada diretamente com a criança e a usada com os pais
e/ou família.
Ronen demonstra essa perspectiva ao afirmar que (...) o foco da TCC está no
tratamento de crianças no interior de seu ambiente, família, escola e grupo de iguais,
pois elas agem dentro destes sistemas. Para que haja efetividade no tratamento, o
terapeuta deve trabalhar junto com os pais para que os mesmos auxiliem a criança em
casa na mudança de seus comportamentos e do mesmo modo com a escola. O terapeuta
deve avaliar as questões sistêmicas complexas que circundam os problemas das
crianças, pois os mesmos podem reforçar ou extinguir habilidades (1998 apud
FRIEDBERG; McCLURE, 2004, p. 37).
Neste enfoque, nos é permitido ponderar que considerar e incluir os ambientes
sociais nos quais a criança está inserida significa a obtenção de sucesso no processo
terapêutico. Assim sendo, o papel dos pais como reforçadores centrais garante
reconhecimento da história que permeiam o comportamento infantil.
Há ainda um conjunto que orienta o tratamento infantil que é constituído pelos
envolvidos; terapeuta, paciente e mediador, o qual será dirigido pelo clínico para
exercer a função de estruturar as mudanças comportamentais, ou seja, terá a
incumbência de realizar as intervenções ambientais.
De acordo com Souza (2001), a terapia cognitiva comportamental infantil, tem o
propósito de ensinar à criança comportamentos específicos que promoverão
competências e habilidades, não somente para o desaparecimento de sintomas, mas para
a retomada de vida mais saudável por meio de elementos de aprendizagem e
condicionamento operante.
Os pais ou professores no atendimento comportamental coordenam as "(...)
manipulações ambientais, promotoras das mudanças comportamentais, devem ser

10
operadas por quem disponha dos reforçadores (os mediadores)" (SILVARES, 1995, p.
235), assim a postura, dos pais com relação aos seus filhos e professores com seu aluno,
encontra-se não apenas como variáveis do comportamento patológico, mas também
como impulsionadoras de comportamentos saudáveis, já que é por meio deles que o
terapeuta observará se o tratamento está havendo resultados.
Nesse contexto os mediadores (pais e professores) tem o papel de desenvolver,
manter e instalar o conjunto de ações necessárias para o aprendizado comportamental
adequado da criança. Além disso, a participação da família ao longo da terapia promove
a aparição de contingências que medirão a construção de modelos e regras, e assim
proporcionarão a supressão de sintomas e comportamentos negativos (EMÍDIO et. al.,
2009).
Outro aspecto indispensável para essa prática se refere a linguagem, em sua
maioria a não verbal, pois proporciona ao terapeuta o acesso ao funcionamento
cognitivo da criança. E é através dela, da linguagem, que se percebem os
comportamentos positivos ou negativos.
Nesta perspectiva, com ramificações oriundas da abordagem operante, trazida
pela teoria comportamental, compreendemos que o comportamento é produto da
interação entre as variáveis históricas e ambientais que os sujeitos mantem durante sua
vida e a produção de desordens emocionais surgem a partir de como ocorre a elaboração
das situações frustrantes (SILVARES, 2000).
Para tanto, o atendimento clínico infantil baseado nos estudos do
comportamento, apresentam como proposta de intervenção à solução de problemas
específicos com ênfase no papel do mediador como componente imprescindível para o
desenvolvimento da reestruturação cognitiva.

A LUDOTERAPIA SEGUNDO A TERAPIA COGNITIVO


COMPORTAMENTAL - TCC

A ludoterapia, quando se pensa em atendimento clínico infantil, é a ferramenta


mais comumente usada, por se tratar de um instrumento que possibilita a comunicação,
expressão e acesso aos sentimentos e emoções que constituem a vida da criança.
Trabalhada por várias correntes psicológicas, como Psicanálise, Gestalt,
psicodrama, dentre outras; a ludoterapia, teve início segundo as interpretações de
Freud (1909) das brincadeiras do “Pequeno Hans”. O brincar na psicanálise

11
surge com o modelo de brincadeira não diretiva, em outras palavras Guerrelhas et. al.,
sugere que
(...) a brincadeira no contexto clínico psicanalítico, caracterizada como
ludoterapia, tem sido utilizada como acesso ou expressão de conteúdos inconscientes.
(...) essas brincadeiras são utilizadas para estimular o aparecimento de conflitos
intrapsíquicos (2000, p. 2).
Dessa maneira, o terapeuta deixa a criança livre para brincar e expor seus
conflitos internos de acordo com a manifestação que ocorre no momento da sessão.
Entretanto, nos anos de 1940 este método passou a ser questionado, possibilitando
assim o surgimento de uma nova categoria de terapia com o enfoque em brincadeiras
estruturadas (GUERRELHAS et. al. 2000).
Com o intuito de solucionar problemas específicos, esta terapia se propõe levar a
criança a desempenhar comportamentos mais saudáveis incluindo neste processo a
família e a escola como parte indispensável para o tratamento. Nesta perspectiva, as
atividades lúdicas desempenhadas nas sessões visam identificar, expressar e levar a
criança ao autoconhecimento.
Mediante a isto, Ribeiro indica que: Este tipo de intervenção procura o
desenvolvimento de um padrão saudável. O brincar para além de ajudar na identificação
do problema pode, então, ser visto como um instrumento do processo de aprendizagem
na medida em que permite aprender maneiras alternativas de comportamento, pois
através da brincadeira a criança pode avaliar o seu próprio comportamento (2012, p.
39).
Pintar, colar, contar histórias, imaginar entre outras atividades, significam para
criança um ambiente conhecido e livre de censura. Dessa forma, tais instrumentos
permitem trazer a superfície, além de seus sentimentos, a abertura para a constituição de
competências, habilidades, bem como o desenvolvimento social e intelectual, descrição
de eventos significativos, opções a condutas disfuncionais, e reflexão de seus próprios
comportamentos.
Em sua maioria, “a introdução do brincar em terapia comportamental é um tipo
de intervenção que procura estabelecer contingências necessárias para a construção de
repertório básico que possibilite o desenvolvimento de um padrão de vida saudável (...)”
(GUERRELHAS et. al., 2000, p. 6). Além do mais, é através dela, do brincar, que a
criança aprenderá “(...) maneiras alternativas de se comportar frente a determinados
estímulos do ambiente” (GUERRELHAS et. al., 2000, p. 6).

12
Assim, o que se pode identificar da ludoterapia mediante a perspectiva da TCC é
o papel ativo da criança em seu processo terapêutico, porém seguindo uma estrutura
traçada pelo terapeuta a partir da queixa trazida pela família. As sessões, assim como
nas outras abordagens, tem a duração média de cinquenta minutos e devem
proporcionar a criança um ambiente livre de quaisquer repressões e julgamentos. Tudo
deve ser trabalhado, escolhas, liberdade, morte e angústia de modo que o vínculo e a
confiança sejam construídos e como consequência haja livre expressão dos sentimentos,
emoções e comportamentos da criança.
Portanto, as bases da ludoterapia comportamental seguem padrões da TCC,
como a modelação, supressão e reforçamento de comportamentos, na qual a criança é
estimulada a alterar condutas incoerentes de modo que em meio a esse procedimento ela
possa aprender com a experiência vivenciada.

PRÁTICAS DA LUDOTERAPIA COMPORTAMENTAL NA CLÍNICA


INFANTIL

Quando se trata das técnicas empregadas para o atendimento ludoterápico


comportamental alguns recursos são usados para garantir maior eficácia no tratamento,
a saber: entrevista com os pais, observação da criança na sessão, na escola e/ou em casa,
utilização de desenhos, bem como atividades lúdicas, leituras, inventários de atividades
diárias e, monitoração de comportamentos mal adaptativos.
Essas técnicas cognitivas visam “(...) identificar, testar na realidade, e corrigir
crenças e pensamentos automáticos negativos” (RANGÉ, 2001 apud TAVARES, 2005,
p. 30). Visto sob outra perspectiva, todos esses artifícios objetivam estreitar a relação
terapeuta/paciente e, clarificar os fatos que envolvem o dia-a-dia da criança.
O trabalho com crianças dentro do ambiente clínico requer desenvoltura e
agilidade para aproveitar e criar oportunidades que suscitem diálogos. Dessa forma,
busca-se desenvolver uma conversação sobre interesses, habilidades e particularidades
visando levar a criança a se compreender como sujeito de direitos e digno de respeito,
mesmo durante a brincadeira. Partindo desse pressuposto, Costa e Dias salientam que
(...) a espontaneidade da criança na sua comunicação verbal e não verbal
normalmente favorece o vínculo entre profissional e cliente e, consequentemente, a
evolução da criança no processo terapêutico tende a ser naturalmente mais rápida, salvo
quando a colaboração da sua rede social é imprescindível, mas inexistente (2005, p. 45).

13
Dessa forma, a construção de um vínculo pautado na confiança mútua aumenta a
probabilidade de eficácia no processo terapêutico. Além disso, a posição ativa da
criança na terapia colabora para a adesão e interpretação das situações que ocorrem com
ela.
De acordo com Patterson (1991), o foco das intervenções da terapia cognitivo
comportamental com crianças e adolescentes centram-se em termos de pensamentos
adaptativos e não adaptativos. Assim é de extrema importância que os terapeutas
busquem alcançar uma apreensão global do funcionamento da criança nos seus variados
contextos; família, escola e etc., para que consigam relacionar os elementos ou sintomas
que impedem sua adaptação em uma rotina, e principalmente o papel que os aspectos
cognitivos possuem na origem dos problemas e transtornos.
O caráter focal e diretivo da TCC inclui a demanda de uma avaliação diagnóstica
bem direcionada considerando:
a) Identificação e compreensão das queixas da criança e/ou do adolescente e b)
processo de conceitualização cognitiva. Normalmente, os porta-vozes das queixas e
sintomas são os pais e/ou cuidadores. Torna-se importante a realização de uma completa
entrevista de anamnese, pois é através desse processo que se obtém uma melhor
compreensão de aspectos emocionais (vínculos estabelecidos, humor prevalente, como
reage às diversas situações vivenciadas), psicossociais (relacionamento familiar,
interpessoal, acadêmico) e que são planejadas e direcionadas futuras condutas
(PUREZA et. al., 2014, p. 89).
Sob este ponto de vista é indispensável para a prática clínica na TCC um
aprofundamento na aplicação da anamnese, pois quanto mais abrangente for, maior será
o planejamento e a condução do caso.
As técnicas comportamentais e cognitivas são extensas e têm sido adaptadas e
desenvolvidas para o tratamento de crianças e adolescentes, porque de acordo com a
idade, estes podem demonstrar dificuldades em concentrar atenção em suas cognições e
monitorá-las. Entre as técnicas comportamentais, as técnicas de relaxamento se
destacam, pois, é útil a pacientes com demandas variadas, com evidencias de sucesso
em pacientes ansiosos.
Pureza et. al. (2014), apresentam outras técnicas cognitivas que são usadas como
facilitadoras do processo terapêutico, são elas: tarefa de casa, registro dos pensamentos
disfuncionais, método socrático, planejamento das atividades diárias, prescrição de
tarefas graduadas, prevenção de recaídas, treinamento em habilidades sociais, role-

14
playing, feedback e reforçamento, procedimento de dessensibilização sistemática,
resolução e solução de problemas, balança das vantagens e desvantagens, dentre outros.
A técnica “tarefa de casa” refere-se ao recurso usado pelo terapeuta para dar
continuidade a psicoterapia no momento em que o paciente não esteja nas sessões. Para
Rangé (2001) esse tempo consiste na correção de crenças disfuncionais e aprendizado
de novas experiências. São algumas tarefas: Registro diário de pensamentos
disfuncionais, plano semanal de atividades diárias, dentre outras.
O “registro diário dos pensamentos disfuncionais” consiste na anotação de todos
aqueles pensamentos que se apresentam em virtude de sua patologia. Sua função é
permitir que o terapeuta possa analisar tais pensamentos posteriormente e ainda auxiliar
o cliente em sua reestruturação cognitiva (TAVARES, 2005).
Já o “planejamento de atividades diárias” permite ao cliente reforçamento de
comportamentos positivos, supressão de crenças negativas e ampliação no campo de
intervenção e atuação do terapeuta. Essa técnica se dá por meio da construção de um
programa diário de atividades desenvolvido em conjunto pelo terapeuta e cliente
(RANGÉ, 2001).
O “método socrático” se dá através de indagações que visam identificar e
conhecer os pensamentos automáticos disfuncionais do paciente, de modo que o
terapeuta possa modificá-los. Visto de outra maneira, Cardioli demonstra que ao falar
do questionamento socrático, (...) este deve focalizar os pensamentos, onde depois de
reconhecê-los, o paciente deve-se perguntar (ou o terapeuta deve perguntar ao paciente):
“Que evidências tenho de que aquilo que passou pela minha cabeça naquele momento é
verdadeiro?”;
“Que evidências são contrárias ao que pensei?”; “Existem explicações
alternativas?”; “Que provas tenho de que de fato o que imaginei na ocasião vai
acontecer?”; “O que outras pessoas pensariam na mesma ocasião?”, etc (2004 apud
TAVARES, 2005, p.31).
Dessa forma, podemos compreender que este método objetiva levar o cliente a
refletir sobre seus pensamentos, emoções e conflitos de modo que possa reestruturar
seus comportamentos saudáveis.
A “prescrição de tarefas graduadas” refere-se a um recurso terapêutico usado
para que o cliente retome as suas atividades normais; ou seja, essa técnica permite que
aos poucos o cliente volte a sua vida normal. Deve-se, entretanto, iniciar o tratamento
por atividades que causem menor nível de ansiedade ao sujeito (RANGÉ, 2001).

15
A “prevenção de recaídas” é uma técnica habitual em tratamentos de vícios em
drogas, porém na TCC ela surge como instrumento de autovigilância e atenção a
comportamentos que darão origem as recaídas. Para evitá-la, Tavares (2005) sugere
“procedimentos de manipulação do stress, treinamento em relaxamento (...) e
reestruturação cognitiva” (2005, p. 33).
O “treinamento em habilidades sociais” é uma busca em desenvolver no cliente
habilidades e competências que o permitam se relacionar e agir em situações do
cotidiano. Basicamente, consiste na “aprendizagem de um novo repertório de respostas”
(TAVARES, 2005, p. 33) a partir do emprego de técnicas como resolução e solução de
problemas, reforçamento, modelação, entre outros.
Rangé (2001) descreve a técnica “role-playing” como instrumento para
treinamento do cliente em ocasiões que acontecem no dia-a-dia. Isto é, terapeuta e
cliente representam situações cotidianas com o intuito de ambientar o sujeito nas
dificuldades e problemas por ele enfrentados.
O “feedback” serve para oferecer uma devolutiva sobre informações específicas
que levem ao cliente a melhora de seu quadro clínico. Já o “reforçamento” se dá por
meio da recompensa ao cliente, quando este adquire comportamentos adaptativos
(TAVARES, 2005).
O “procedimento de dessensibilização sistemática” de acordo com Caballo “(...)
é uma intervenção terapêutica desenvolvida para, dentre outras coisas, eliminar as
síndromes de evitação” (1996 apud TAVARES, 2005, p. 34). Essa técnica ocorre
mediante a quatro intervenções, são elas: treinamento de relaxamento, análise
comportamental e hierarquização de medos, combinação entre o causador do medo e a
técnica de relaxamento, e treinamento na Escala de Unidades Subjetivas de Ansiedade
(TAVARES, 2005).
Quanto a “resolução e solução de problemas” Caballo (1996) diz que se dão por
meio de processos, tais como: Orientação para o problema; definição e formulação do
problema; levantamento de alternativas; tomada de decisões; prática da solução e
verificação. Cada um desses elementos permitirá ao cliente maior clareza, avaliação e
solução dos problemas enfrentados.
Por fim, a “balança das vantagens e desvantagens” que consiste na confecção,
feita pelo terapeuta, de uma balança de papel com os braços móveis para a pesagem.
Cada um dos lados é preenchido pelo paciente com vantagens ou desvantagens. A cada
argumento escrito o item faz com que a balança penda para baixo, estando a balança no

16
final voltada para o lada que possui mais argumentos, o que auxilia na concepção da
decisão a ser tomada pela criança.
Stallard (2004) reforça que por mais que a terapia cognitivo-comportamental
tenha sofrido várias influências no seu desenvolvimento, permanece o foco dos
elementos cognitivos e comportamentais que visam em sua maioria problemas
específicos e necessidades particulares da criança.
Este mesmo autor pontua ainda os elementos produzidos por esta técnica. São
eles: formulação e psicoeducação; monitoramento do pensamento, identificação de
distorções e déficits cognitivos, avaliação do pensamento e desenvolvimento de
processos cognitivos alternativos, aprender habilidades cognitivas novas, educação
afetiva, monitoramento afetivo, controle afetivo, treinamento de relaxamento,
estabelecimento de alvos e reagendamento de atividades, experimentos
comportamentais, exposição, reforço e recompensa.
Contudo, infelizmente o que percebemos é que são escassos os profissionais que
realizam atendimentos com crianças, dada a complexidade que esta possui, além do
mais a falta de compreensão técnica, da abordagem cognitivo comportamental, dificulta
a discussão dos casos e o encaminhamento destes.

VANTAGENS COGNITIVAS DO USO DA LUDOTERAPIA


COMPORTAMENTAL

Para se determinar quais problemas de ordem psicológica requererem atenção de


um psicólogo, este consiste basicamente na observação da intensidade, duração e
frequência do comportamento-queixa. Porém, Guerrelhas (2000) ressalta que nem
sempre as crianças são trazidas ao psicólogo com uma queixa específicas, em sua
maioria são trazidas por comportamentos inapropriados ou ausência de habilidades
complexas.
A ludoterapia comportamental é utilizada desde o primeiro contato entre
terapeuta e cliente, isto é, usa-se o lúdico como ferramenta para identificação, avaliação
e reconhecimento das varáveis que envolvem a situação-problema. Regra
(1997, p. 110) afirma que seu uso desde o início do tratamento permite
“estabelecer contingências necessárias para a construção de repertório básico que
possibilite o desenvolvimento de um padrão de vida saudável”.
Para tanto, brincadeiras como: jogos de fantasia, regras, simbólicos, exercícios,

17
entre outros mostram-se de indiscutível importância na modelação, supressão e
reforçamento de comportamentos, pois cada um deles propiciará a criança observar e
modificar as situações que se assemelham com a vivenciada em seu dia-a-dia.
Guerrelhas (2000, p. 6) exemplifica esse contexto ao demonstrar que (...) o
trabalho terapêutico infantil tem basicamente os mesmos objetivos de qualquer terapia
comportamental e, portanto, segue as mesmas etapas:
a) avaliação inicial,
b) estudo do problema do cliente,
c) delimitação de metas,
d) escolha de técnicas e procedimentos,
e) implementação,
f) avaliação do processo,
g) avaliação final e
h) seguimento,

Esta última etapa avalia se, após o processo de resolução de problemas, o


cliente, inclusive a criança, obteve autonomia suficiente para manter o novo padrão de
comportamento aprendido.
Cada um dos pontos destacados nos leva a considerar que as vantagens
provenientes deste processo se referem a postura ativa da criança no processo
terapêutico, a incorporação dos pais no processo de cura, treinamento das competências
e habilidades necessárias para o convívio social, ensino de estratégias para o
enfrentamento de situações-problemas, melhora e desenvolvimento da linguagem
corporal, verbal e motora, melhor compreensão dos sentimentos de medo, culpa, raiva,
alegria, felicidade, e etc. Além disso, cabe ressaltar que no momento em que o terapeuta
planeja as atividades a serem desenvolvida pela criança, deve-se considerar o seu nível
de desenvolvimento (RANGÉ, 2001).
Para tanto, todas as atividades propostas nos atendimentos de ludoterapia
comportamental visa estimular a criança expressar e conhecer todos os sentimentos que
o envolvem. Como consequência a este contato, a criança desenvolve maturação em seu
desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social; além de unir esses significados
numa sedimentação, elaboração e construção de sua identidade.

18
Objetivos e Orientação

Um adulto quando tem algum problema emocional, procura a ajuda de um


profissional para sessões de terapia, e ele expõe em palavras todos os seus sentimentos,
emoções e tudo que o aflige. Porém a criança não tem a mesma facilidade e maturidade
para se expressar que um adulto, por isso é que foi criado a Ludoterapia, como forma de
fazer a criança através da brincadeira, expresse o que está sentindo.
A terapia não tem uma classificação de idade, podendo ser feita por crianças de
todas as idades. E a brincadeira, ou os brinquedos, são escolhidos pela própria criança
durante as sessões.
Através da brincadeira, a criança irá expressar de forma mais espontânea os seus
sentimentos. Enquanto ela brinca, um profissional da área de psicologia acompanha a
brincadeira e vai conversando com a criança para que ela se abra e fale abertamente
sobre os seus sentimentos. Apesar de facilitar o diálogo e o modo como os pequenos se
expressam, não quer dizer que com uma única sessão os problemas serão expostos para
que sejam resolvidos. Assim como acontece com a terapia com os adultos, na
Ludoterapia os problemas, sentimentos e emoções também são expostos aos poucos, de
forma gradual. Por isso é necessário um acompanhamento psicológico e que os pais
ajudem o filho a passar pelas sessões, que precisam ser frequentes.
As sessões acontecem em espaços físicos, com vários tipos de brinquedos para
criança ter acesso e acompanhamento de um psicólogo. Geralmente a duração das
sessões é de 50 minutos e o intervalo entre uma sessão e outra, é determinada pelo
profissional.

UTILIZANDO O BRINCAR NA TERAPIA COMPORTAMENTAL

Independente do pressuposto teórico, o brincar é um instrumento necessário para


o atendimento psicológico infantil, uma ferramenta de intervenção e de comunicação
indispensável. O brincar pode significar instrumento de exploração do mundo,
expressão de sentimento ou meio de comunicação.

O BRINCAR COMO TERAPIA

19
O brinquedo passou a ser investigado com mais seriedade a partir do final do
século XIX. Analisando por uma perspectiva histórica, Freud deve ser considerado o
primeiro a reconhecer a utilidade da brincadeira num processo terapêutico, com seu
relato do caso do “Pequeno Hans”, entretanto ele não gostava da ideia de uma
psicanálise infantil. Os trabalhos de Melanie Klein (a desenvolvedora da técnica do
brincar como conhecemos atualmente), Ana Freud (que discordava de Klein em vários
pontos) e Winnicott (que via o brincar como algo terapêutico em si mesmo), desde a
década de 1920, são modelos de utilização da brincadeira como instrumento de
entendimento da criança. Na década de 1950, Piaget observou de forma sistemática o
papel do jogo nas fases do desenvolvimento infantil.

A VISÃO COMPORTAMENTAL

Terapeutas comportamentais, atualmente, têm utilizado cada vez


mais comportamentos lúdicos em sessões de terapia como uma maneira de trabalhar a
solução de problemas ou prevenção de dificuldades futuras.
As pessoas desenvolvem, ao longo da vida, um rol de habilidades sociais, de
linguagem, físicas e motoras necessárias a um padrão de interação com o ambiente. O
repertório de uma criança ainda não está tão desenvolvido a ponto de ela obter
benefícios apenas através de uma terapia estritamente verbal. Assim, a situação lúdica é
utilizada na aplicação direta de procedimentos de manejo de contingências.
A utilização sistemática de procedimentos comportamentais com crianças se
iniciou na década de 20, a partir dos trabalhos de Watson sobre eliminação de fobias
infantis. Entre 1930 e 1950, a Terapia Comportamental com crianças entrou em estado
de latência. Apenas com os trabalhos de Lazarus e Wolpe, em 1950, é que a terapia
comportamental infantil passou a se desenvolver. Em seu início, essa terapia visava
ensinar à criança comportamentos específicos mais saudáveis, através de aprendizagem
e de condicionamento operante. Nesse período surgiu a Modificação de Comportamento
infantil, utilizando conceitos de aprendizagem e achados das práticas experimentais para
a alteração de comportamentos-problema. Somente a partir de meados de 1960 é que o
comportamento da criança passou a ser analisado funcionalmente em relação à sua
interação com o ambiente e não somente como uma resposta específica. Passou-se a
investigar o ambiente educacional, os eventos privados infantis e a relevância da relação

20
terapêutica. E somente na década de 1980 as comunicações sobre o brincar com a
criança na terapia comportamental passou a ter maior impacto.

UM ESTUDO

Um estudo foi realizado pelos autores do artigo citado abaixo, com dois grupos
de crianças. Os Grupos de Espera Recreativos (GERs). Nesses as crianças brincavam
sem finalidades terapêuticas e era composto por crianças inscritas em uma clínica-
escola e que estavam na lista de espera pelo atendimento. O outro projeto era o dos
Grupos Ludoterapêuticos Comportamentais Infantis (GLCs). Nesses grupos
as brincadeiras desenvolvidas com as crianças possuíam o objetivo de fazê-las
discriminar as contingências controladoras de seu comportamento agressivo, tanto nas
sessões de terapia, quanto fora dela.
Brincar com a crianças enquanto ela aguardava o atendimento era uma
alternativa para evitar a evasão do atendimento devido à longa espera. Esses grupos de
espera possuem os objetivos de: atender a demanda, evitando longas listas; diminuir
desistências; identificar desmotivados, auxiliando o diagnóstico; trabalhar as
expectativas dos clientes; refletir a respeito da necessidade do atendimento; e esclarecer
o que é o serviço. Além de contornar a questão da espera, os grupos recreativos
possibilitaram a coleta de material útil para atendimento e pesquisas futuras.
O líder dos GERs deve possuir certas habilidades para exercer a função de
recreacionista ou o de terapeuta. O recreacionista deve ter o conhecimento suficiente de
brincadeiras lúdicas e relacioná-las à faixa etária atendida. Para estagiar como terapeuta,
é preciso que o aluno se encontre em um nível avançado no curso de Psicologia.
Nos encontros para brincar, as crianças se comportam como de hábito,
mostrando como se relacionam com seus pares. A situação lúdica registrada possibilita
a observação e análise do comportamento e suas relações funcionais com o ambiente.
A frequência, duração e intensidade do comportamento-alvo da queixa trazida
são os critérios utilizados para julgar se um problema infantil merece a atenção de
um psicólogo. Os GLCs, em última instância, visam promover alterações
comportamentais infantis de modo a ajustar socialmente a criança encaminhada para
atendimento psicológico. Uma das atividades desses grupos são os jogos de fantasia,
que se mostram úteis na identificação de variáveis das quais um comportamento

21
indesejado pode ser função. Dessa forma, é possível identificar variáveis de controle e
escolher procedimentos mais apropriados para o manejo de contingências.

Estratégias lúdicas

A maneira como adultos lidam com crianças nos dias de hoje parece ser bastante
diferente do que ocorria nos tempos de nossos avós e bisavós. Dados históricos
mostram que era comum que os adultos considerassem as crianças como adultos em
miniatura e estabelecessem com elas relações nas quais cabiam às crianças decisões e
comportamentos de adultos (Oliveira, 2003). Os novos modos de interação entre adultos
e crianças geram modificações também na relação que se estabelece entre os terapeutas
infantis e seus clientes. Hoje, sabemos mais sobre as necessidades da criança, sobre a
importância das brincadeiras para seu desenvolvimento sensorial, motor, emocional e
comportamental e sobre como seu ambiente exerce influência na aquisição e
manutenção de comportamentos. A Ludoterapia Comportamental Infantil faz uso de
jogos e brincadeiras na relação que se estabelece com as crianças, e se tem mostrado
uma área de atividade clínica que beneficia crianças e suas famílias, pois favorece a
aquisição de comportamentos sociais importantes e a melhora nas interações sociais.
A utilização de jogos e brinquedos na ludoterapia comportamental infantil é algo
que pode ser considerado bastante novo. A relação da criança com o brinquedo na
psicoterapia passou por uma evolução desde a modificação do comportamento infantil
até a ludoterapia comportamental infantil. Na modificação do comportamento, a criança
não participava diretamente do processo terapêutico, e o trabalho do terapeuta com a
criança era praticamente ausente. Na modificação do comportamento, a utilização da
entrevista com crianças não era prática comum. As crianças chegavam para a terapia
com a queixa dos pais sobre seus comportamentos, e não eram perguntadas sobre como
se sentiam ou sobre o que observavam de seu próprio comportamento ou do
comportamento dos pais. As entrevistas geralmente eram feitas com os adultos e as
dificuldades da criança eram acessadas, utilizando-se inventários e check-lists que
abrangiam uma variedade de comportamentos-problema presentes nos quadros de
ansiedade, depressão, timidez e agressividade (watson & gresham, 1998). Assim, o
problema da criança referia-se à preocupação dos pais e, frequentemente, o terapeuta
trabalhava com eles para identificar os comportamentos-problema da criança.

22
Raramente os eventos privados da criança faziam parte da análise da queixa. Além
disto, utilizavam-se práticas experimentais realizadas em laboratórios para alterar os
comportamentos inadequados da criança (conte & regra, 2000).
Silvares e gongora (1998) reconheceram uma tendência ao aumento da estrutura
e da especialização da entrevista com crianças, que passaram a ser vistas como
informantes de seus próprios sentimentos, comportamentos e relacionamento social.
Assim, muita informação, que por tradição dependia do relato dos adultos, passou a ser
fornecida também pela criança. Além de fornecer oportunidade de estabelecer o vínculo
afetivo com a criança e de avaliar sua habilidade verbal, a entrevista é fonte importante
de informação adicional sobre as interações da criança. Por exemplo, a criança pode
relatar que seu pai grita e briga quando ela está assobiando, enquanto o pai relata como
consequência o time-out.
A passagem da modificação do comportamento infantil para a ludoterapia
comportamental infantil apresenta outra contribuição: os comportamentos do terapeuta
no decorrer da sessão também são considerados importantes e são analisados
funcionalmente em relação a sua interação com o ambiente. Vale ressaltar que essa
mudança ocorreu gradualmente, conforme se desenvolveram os estudos na área de
comportamento verbal, comportamento governado por regras e equivalência de
estímulos, dentre outros (conte & regra, 2000).
Em 1960, a ludoterapia comportamental infantil firmou-se como modelo
psicoterápico. a partir desse momento, o comportamento da criança passou a ser
analisado funcionalmente em relação a seu ambiente (por exemplo, os ambientes
familiar e escolar). Assim, a criança deixou de ser coadjuvante e passou a ter muita
importância no processo terapêutico; seu mundo privado passou a ser analisado e,
portanto, considerado relevante.
Com a participação mais ativa da criança no processo terapêutico, os terapeutas
precisaram apoiar-se mais em estratégias lúdicas. Foi a partir da década de 1960, com o
desenvolvimento de estudos na área infantil e com estudos realizados sobre a
importância do jogar, que os jogos e os brinquedos passaram a serem considerados
importantes na ludoterapia comportamental infantil. Silvares (2001) ressalta que apenas
nos meados da década de 1980 é que as comunicações científicas sobre o brincar com a
criança em terapia comportamental tiveram maior impacto no cenário científico.
Inclusive o termo ludoterapia comportamental infantil, importado da psicanálise, foi
utilizado pela primeira vez por Gomes, em 1998, e significa “a inserção de atividades

23
lúdicas nos procedimentos terapêuticos comportamentais com crianças” (Silvares, 2001,
p. 54).
A principal diferença entre a terapia de adulto e a infantil talvez esteja na busca
constante do terapeuta comportamental infantil por procedimentos alternativos ao relato
verbal, para obter informações sobre as variáveis que controlam o comportamento da
criança. Enquanto na terapia de adultos os clientes podem descrever seus
comportamentos e relatar seus sentimentos, na terapia infantil o repertório verbal da
criança para descrever seus sentimentos e falar de suas lembranças pode ser restrito e
dificultar o caminho do terapeuta no estabelecimento do contato da criança com as
variáveis que interferem em seus comportamentos e sentimentos (Kohlenberg & Tsai,
2001). Portanto, as crianças dificilmente relatam seus sentimentos e comportamentos da
forma como o fazem os adultos. Por essa razão, a observação da criança é crítica para a
avaliação e o planejamento da terapia. Sem observação, o tratamento recai sobre o
relato dos pais (Silvares, 2000).
As crianças frequentemente precisam de outras formas para expressar seus
sentimentos que não a verbal, para obter os ganhos que essa expressão significa para o
desenvolvimento da terapia. Essas outras formas de expressão incluem desenhar ou
contar histórias, fantasiar, imaginar e interpretar situações, usar bonecos e jogos,
pinturas, colagens, argila, massa plástica de modelagem, música, entre outros
instrumentos que caracterizam uma situação natural para a criança e um ambiente livre
de censura para a exposição de seus sentimentos. O uso desses instrumentos depende de
um esforço do terapeuta infantil em identificar quais deles são úteis para proporcionar a
identificação de importantes variáveis de controle sobre o comportamento da criança
(Regra, 2000).
Consideramos que estratégia lúdica se refere à utilização de jogos, brinquedos,
desenhos e livros de histórias, com algum objetivo específico na ludoterapia
comportamental infantil. Qualquer atividade pode ser considerada lúdica, uma vez que
qualquer objeto pode ser utilizado como brinquedo pela criança. Um pedaço de madeira
pode virar um boneco, assim como um pedaço de folha, um barquinho. Uma classe de
estímulos pode ser denominada brinquedo, desde que na presença desses estímulos a
criança emita uma única resposta: brincar. “Para exemplificar, suponhamos que o pai de
uma criança traga para casa um brinquedo novo, um frisbee. Nada na aparência deste
objeto permite à criança incluí-lo na classe dos brinquedos..., a criança poderia
encontrar o frisbee no meio de um conjunto de objetos de sucata, interessar-se por ele, e

24
aprender a usá-lo para brincar” (de Rose, 1993, p.287-288). Nesse caso, a resposta de
brincar foi estabelecida na presença do novo objeto e a criança passou a incluí-lo na
classe de estímulos denominada brinquedo.
Mas, por que trabalhar com estratégias lúdicas na ludoterapia comportamental
infantil? Primeiro, porque a utilização de jogos e brinquedos é bastante reforçadora para
a criança. Inclusive em pesquisas sobre autocontrole com crianças, pode-se observar
que muitas das tarefas propostas às crianças envolvem situações lúdicas (forzano &
logue, 1995; logue, forzano & ckerman, 1996; logue & chavarro, 1992; schweitzer &
sulzerazaroff, 1988, citado em nogueira, 2001) em que o experimentador chama a
criança para uma brincadeira ou jogo. Isso facilita a participação da criança no estudo,
tornando a tarefa reforçadora.
Outro ponto a ser considerado quanto à utilização de brinquedos e jogos na
ludoterapia comportamental infantil é o fato de o brinquedo fornecer à criança um
ambiente planejado no qual é possível a aprendizagem de habilidades (Bomtempo,
1987, citado em Soares, Moura & Prebianchi, 2003). Além disso, o brinquedo pode ser
considerado uma condição para o desenvolvimento social, emocional e intelectual da
criança (Bomtempo, 1992).
Além de permitir que as crianças informem sobre seus sentimentos e descrevam
comportamentos e eventos importantes, as brincadeiras dirigidas permitem que elas
aprendam respostas alternativas a seus comportamentos disfuncionais ou indesejáveis
como bater, gritar, xingar, chorar e tremer. O brinquedo é um instrumento do processo
de aprendizagem e brincar é uma possibilidade de aprender a se comportar
adequadamente frente a determinados estímulos. Por meio da brincadeira, a criança
analisa seu próprio comportamento, ficando ciente das contingências que o determinam
e, a partir daí, pode alterar sua relação com o ambiente. O uso da fantasia e da
brincadeira leva a criança a encontrar alternativas de comportamentos, inicialmente para
os personagens de suas brincadeiras e depois para as situações de sua vida (Guerrelhas,
Bueno & Silvares, 2000).
Falar dos personagens de uma história é um instrumento útil na ludoterapia
comportamental infantil, pois falar primeiro dos personagens é uma aproximação
gradual para depois falar de si mesmo (Regra, 2000). Ao analisar o comportamento dos
personagens, ensina-se a criança a fazer análise funcional do comportamento e a etapa
posterior é a transposição desse tipo de análise funcional para seu próprio
comportamento. Ao fazer a ponte da fantasia com a realidade, quando a criança é levada

25
a identificar os padrões de comportamento dos personagens da história que têm relação
com seus padrões de comportamento e de seus familiares, a criança está sendo
conduzida a falar de si e de suas relações, diante da audiência não punitiva do terapeuta
(Regra, 2000). O uso de metáforas na terapia ajuda a evocar comportamentos e
sentimentos relevantes. Um exemplo é pedir à criança que imagine ser um barco
pequeno numa imensa tempestade (Oaklander, 1980). Falar sobre as ondas, o vento e a
luta para vencer a tempestade pode trazer à tona sentimentos da criança em relação ao
seu ambiente familiar ou escolar, especialmente se este tem alguma similaridade
funcional com a metáfora do barco. Por meio de dinâmicas como essa é possível
modelar descrições apropriadas dos sentimentos e também respostas adequadas a
situações extraterapêuticas similares. O desenho é uma outra maneira de lidar com os
sentimentos das crianças na terapia. Um exercício que se tem mostrado efetivo é pedir
às crianças que desenhem suas famílias como símbolos ou animais. A informação sobre
sentimentos e comportamentos pode ser obtida dessa forma, e na relação com a criança
no decorrer da atividade podem ficar claras as variáveis das quais seu comportamento é
função.
Assim, os jogos de fantasia são úteis para identificação de variáveis das quais
um certo comportamento é função e as estratégias lúdicas são instrumentos importantes
para o sucesso da relação terapêutica com as crianças. Por meio de uma atividade
lúdica, a sessão terapêutica com a criança se constitui um ambiente rico de aplicação de
procedimentos comportamentais, como reforçamento de comportamentos adequados,
extinção de inadequados e modelação (Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000).
Algumas estratégias lúdicas têm sido usadas por nós na prática clínica com os
objetivos de favorecer a formação do vínculo com a criança, identificar os conceitos e
as regras que governam seu comportamento, verificar sua relação com pessoas dos
ambientes em que está inserida, identificar seus sentimentos em relação a si mesma, a
determinadas pessoas e situações, treinar a solução de problemas cotidianos,
desenvolver habilidades, trabalhar a autoconfiança e favorecer a concentração e o
relaxamento.

Favorecer a formação do vínculo com a criança

É importante para a adaptação da criança ao ambiente do consultório e ao


próprio terapeuta. Nenhum trabalho terapêutico ou qualquer procedimento específico

26
pode ter efeito sem que antes ocorra a formação de vínculo. Para favorecê-la, podem ser
utilizadas quaisquer estratégias lúdicas que sejam reforçadoras para a criança, o que
pode ser levantando previamente nas entrevistas com os pais. Ao primeiro contato entre
a criança e o terapeuta, é importante que este último deixe a criança bem à vontade,
permitindo que ela escolha a atividade. Existem alguns jogos úteis na formação do
vínculo, dentre eles: Cai-não-cai, Cara maluca, 60 Segundos, Gugu equilibrista e
Quebra-gelo.

Verificar a relação da criança com pessoas dos ambientes em que está


inserida

As atividades aqui utilizadas podem ser a dramatização, o brincar de casinha, de


escolinha, ou outra atividade escolhida pela criança e ou o terapeuta. A., uma menina de
5 anos, foi levada à terapia com a queixa de não querer ir mais à escola, sendo
observado um transtorno de ansiedade de separação na infância. Esse transtorno é assim
descrito no Código Internacional de Doenças - CID-10: “(...) ansiedade focada e
excessiva concernente à separação daqueles indivíduos aos quais a criança está
vinculada (usualmente pais ou outros membros da família), que não é meramente parte
de uma ansiedade generalizada em relação a múltiplas situações” (p.268).
Os pais também se mostravam ansiosos diante dessa condição da criança:
“Estamos desesperados. Sabe, nós achamos que A. tem alguma coisa ruim dentro dela”,
“Sabemos que é uma doença mesmo”. Foi observado durante a entrevista realizada com
os pais que, quando A. não queria ir à escola, eles diziam, “tudo bem, mas amanhã você
vai”. Bem, mas não queremos nos ater ao caso e sim apontar como o brincar de
escolinha foi importante para verificar a relação da criança com a professora, a escola e
alguns de seus amiguinhos de sala de aula. Em uma das nossas sessões, a criança propôs
a brincadeira de escolinha. Ela disse que seria a professora e que a terapeuta seria a
aluna. Nesse momento, a criança entrou totalmente no papel utilizando termos que
provavelmente sua professora utilizava: “Coração, cadê sua ´genda´ (agenda)? Ai
coração, não pode esquecer a ´genda´”(agenda), “Coração, agora tá na hora de fazer o
trabalhinho”. Com essa brincadeira, foi possível também colocar para a criança como
era gostoso estar na escola, como era legal fazer dever, encontrar os amiguinhos. A
partir dessa atividade lúdica e com uma readaptação da criança ao ambiente escolar, foi
observada a modificação de sua relação com o ambiente escolar. A criança começou a

27
trazer comentários de atividades prazerosas realizadas na escola, de coisas engraçadas
ocorridas e de passeios realizados com a turma.

Identificar sentimentos da criança em relação a si mesma, a determinadas


pessoas e situações

Podem ser utilizadas brincadeiras de dramatização, confecção de cartões com


mensagens em datas comemorativas ou uma ocasião qualquer. Essas atividades podem
fortalecer o comportamento verbal da criança referente ao relato de sentimentos e de
estados de privação de afeto (Silveira e Silvares, 2003) e pode estreitar relacionamentos.

Treinar a solução de problemas cotidianos por meio de situações simuladas

A utilização de jogos de tabuleiros pode ser indicada para observar e modelar o


comportamento da criança quanto ao cumprimento de regras (Silveira e Silvares, 2003).
Fazendo com que a criança aceite seu limite e o limite do outro, nesse caso, o terapeuta.
Podem ser utilizados não apenas o jogo Cara a Cara, como também outros jogos de
interesse da criança, inclusive jogos trazidos pelo mesmo, como o Supertrunfo, um jogo
de cartas com figuras de carros.

Desenvolver habilidades
Aqui podem ser utilizados jogos psicopedagógicos com objetivos bem
específicos. Um dos jogos mais utilizados é o Conta Certa. É um jogo divertido e que
pode dessensibilizar a criança em relação a certos estímulos aversivos.

Trabalhar a autoconfiança da criança

Produzir peças artesanais de argila ou outro material, dobraduras e ou preparar


algum alimento. De acordo com Guilhardi (2002), o ponto fundamental para
desenvolver autoconfiança é que a criança tenha a possibilidade de emitir um
comportamento e então produzir consequências em seu ambiente que possam fortalecer
esses comportamentos, ou seja, a autoconfiança é desenvolvida a partir de contingências
de reforçamento. Desse modo, é importante criar condições para que os
comportamentos emitidos pela criança sejam reforçados. Com a atividade de preparar

28
algum trabalho manual, o terapeuta pode planejar condições adequadas permitindo que
a criança explore o ambiente. O terapeuta pode modelar comportamentos-alvo da
criança em relação à atividade escolhida.

Favorecer a concentração
Pode ser utilizada a argila ou massa de modelar ou caseira. Esse tipo de
atividade proporciona uma maior concentração da criança na atividade e na conversa
durante a atividade. Se a massa for preparada no consultório pode desenvolver um
sentimento de autoconfiança na criança. Esse tipo de atividade também auxilia na
observação do comportamento da criança em relação à sujeira. É uma criança que se
esquiva desses tipos de atividades? Quando ela se suja, o que faz? É também possível
verificar a relação da criança com a organização. Ela tem dificuldade de limpar depois
da atividade? Como se sente quando suja, por exemplo, o chão? Qual a relação dela
com o errar?

Favorecer o relaxamento

Além de algumas estratégias proporcionarem o relaxamento da criança, como a


manipulação da massa de modelar, pode também ser utilizada a estratégia do contorno
do corpo da criança no papel para verificar como a criança se observa, pedindo que ela
detecte áreas de tensão. O terapeuta pede que a criança se deite no chão, faz o contorno
do corpo da criança e em seguida pergunta “tem alguma parte do seu corpo que está te
incomodando?” ou “tem alguma parte do seu corpo mais dura do que a outra?” É
importante que o terapeuta utilize palavras que possam ser compreendidas pela criança.
Em seguida, a criança é orientada a escolher uma cor para pintar a parte “mais dura”, ou
seja, a mais tensa. Posteriormente, o terapeuta pode dar a mesma instrução em relação
às partes menos tensas. O terapeuta pode trabalhar com o relaxamento e depois pedir
que a criança observe seu corpo. Desse modo, o terapeuta e a criança podem verificar se
o corpo está mais relaxado ou não, observando se o relaxamento produziu algum tipo de
efeito.
Assim, ao considerar a relação terapêutica com as crianças, o uso de estratégias
lúdicas e as possibilidades de intervenção que fornecem, podemos verificar que o
terapeuta comportamental infantil deve ser bastante criativo. Um mesmo jogo ou
brinquedo pode ser utilizado com diversas funções, mas com o objetivo principal de

29
criar um ambiente bastante reforçador para a criança. Afinal de contas, brincar é um
comportamento típico da infância e qual é o adulto que não gostaria de ser criança para
poder brincar, se soltar e relaxar?
A adoção de uma abordagem terapêutica infantil baseada no brincar está
relacionada a questões de desenvolvimento do repertório básico do comportamento. A
criança, geralmente, não tem um repertório verbal desenvolvido a ponto de se beneficiar
de uma terapia puramente verbal (Regra, 2000). Portanto, a situação lúdica é utilizada
na aplicação direta de procedimentos de manejo de contingências para estabelecer
novos comportamentos e fortalecer respostas adequadas ao repertório da criança.
Brincar em terapia comportamental é um tipo de intervenção que procura estabelecer
contingências necessárias para a construção de repertório básico que possibilite o
desenvolvimento de um padrão de vida saudável.

30
REFERÊNCIAS

BOMTEMPO, E. Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do


brinquedo. In: O direito de brincar: a brinquedoteca. A. FRIEDMANN ET AL. (org.). p.
241-251, 1992. SCRITTA, São Paulo.
CATANIA, A.C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição.
Tradução: Deisy das Graças de Souza. 4.ed. Porto Alegre: ARTMED, 1999.
CONTE, F. C. S. & REGRA, J.A.G. A psicoterapia comportamental infantil:
novos aspectos. In: Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil –
Vol. 1. E. F. M. SILVARES (org,)., p. 79-136, 2000. PAPIRUS, Campinas, SP.
DE ROSE, J. C. Classes de estímulos: implicações para uma análise
comportamental da cognição. Psicologia Teoria e Pesquisa, 9 (2): 283-303, 1993.
GUERRELHAS, F., BUENO, M. & SILVARES, E.F.M. Grupo de ludoterapia
comportamental x Grupo de espera recreativo-infantil. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 2: 157-169, 2000.
GUILHARDI, H. J. Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In:
Comportamento humano- Tudo (ou quase tudo) que você precisa saber para viver
melhor. IN M. Z. S. BRANDÃO, F. C. S. CONTE & S. M. B MEZZAROBA (org.) p.
63 – 98, 2002. ESETEC, Santo André.
KOHLENBERG R. J. & TSAI, M. Psicoterapia Analítica Funcional – Criando
relações terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETEC, 2001.
NOGUEIRA, I. S. Análise do comportamento de escolha entre tarefas de
montagem de quebra-cabeças com crianças pré-escolares. Brasília, DF: Universidade de
Brasília, 2001. Dissertação de mestrado não publicada.
OAKLANDER, V. Descobrindo crianças: abordagem gestáltica com crianças e
adolescentes. São Paulo: SUMMUS, 1980.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Classificação de transtornos mentais
e de comportamento da CID–10. Tradução: Dorgival Caetano. Artes Médicas, Porto
Alegre, 1993.
REGRA, J. Fantasia: instrumento de diagnóstico e tratamento. In: Sobre
comportamento e cognição : A prática da análise do comportamento e da terapia
cognitivocomportamental. M. DELITTI (org.), p. 107 - 114, 1997. ARBYTES, Santo
André.
REGRA, J. A fantasia e o desenho. In: Sobre comportamento e cognição.Santo:

31
Psicologia comportamental e cognitiva – da reflexão teórica à diversidade na aplicação.
R.R. KERBAUY & R.C. WIELENSKA (orgs.), p. 105- 115. 1998. ARBYTES, Santo
André.
REGRA, J. A fantasia infantil na prática clínica para diagnóstico e mudança
comportamental. In: Sobre comportamento e cognição : Questionando e ampliando a
teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. R. C. WIELENSKA (org.),
p.179 - 186.
2001. ESETEC, Santo André.
REGRA, J.A.G. Formas de trabalho na psicoterapia infantil: mudanças ocorridas
e novas direções. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2: 79-101,
2000.
SILVARES, E. F. M E GONGORA, M. A. N. Psicologia clínica
comportamental: a inserção da entrevista com adultos e crianças. São Paulo: EDICON,
1998.
SILVARES, E. F. M. Ludoterapia cognitivo-comportamental com crianças
agressivas. In: Sobre comportamento e cognição. Expondo a variabilidade. H. J.
GUILHARDI, M. B. B. P. MADI, P. P. QUEIROZ & M. C. SCOZ (orgs.), p.373-385,
2001. ESETEC, Santo André.
SILVEIRA, M. S. & SILVARES, E. F. M. Condução de atividades lúdicas no
contexto terapêutico: um programa de treino de terapeutas comportamentais infantis. In:
Sobre comportamento e cognição . A história e os avanços, a seleção por consequências
em ação. M. Z. BRANDÃO (org.), p. 272 - 284, 2003. ESETEC, Santo André.
SOARES, M. R .Z., MOURA, C. B.& PREBIANCHI, H. B. Estratégias lúdicas
para intervenção terapêutica com crianças em situação clínica e escolar. In: Sobre
comportamento e cognição. Clínica, pesquisa e aplicação. M. Z. BRANDÃO (org.), p.
312 - 326, 2003. ESETEC, Santo André.
WATSON, T.S. & GRESHAM, F. M. Handbook of child behavior therapy. New
York:
PLENUM PRESS, 1998.
GUERRELHAS, F.; BUENO, M.; SILVARES, E. F. de M.. Grupo de
ludoterapia comportamental X Grupo de espera recreativo infantil. Rev. bras. ter.
comport. cogn., 2-2, p. 157-169, dez. 2000.

32
OBRIGADO POR ESTUDAR CONOSCO!
REALIZE A AVALIAÇÃO NO SITE PARA OBTER O SEU CERTIFICADO.

WWW.VENES.COM.BR

Você também pode gostar