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SUMÁRIO
UM ESTUDO ........................................................................................................................... 21
Verificar a relação da criança com pessoas dos ambientes em que está inserida ..................... 27
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 31
CONCEITOS DE LUDOTERAPIA
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Neste ambiente, foi possível segundo as observações de Klein (1970) perceber
que o brincar se faz semelhante à Associação Livre de Ideias, isto é, a brincadeira
remonta simbolicamente fantasias, desejos e anseios sendo permitido o acesso as
manifestações dos conteúdos internos, que estimula o aparecimento das desordens
intrapsíquicas.
Diante disso, Winnicott (1975 apud FERNÁNDEZ, 1991, p. 166) ressalta que “a
criança joga (brinca), para expressar agressão, adquirir experiência, controlar
ansiedades, estabelecer contatos sociais como integração da personalidade e por prazer”.
Em suma, o brincar é o espaço em que se constituem experiências culturais, sociais,
emocionais; bem como, o momento de exposição, reflexão e resolução dos problemas e
situações vividas no cotidiano.
Mas, este método não se restringe apenas a psicanálise, o brincar como processo
de intervenção infantil pode ser vislumbrado também nas obras de Piaget (1950),
quando este na construção de sua teoria realizou a observação sistemática da função dos
jogos nas fases de desenvolvimento infantil, o lançando como fonte de ciência da
criança.
Cardoso (2010) salienta que este é o “motivo pelo qual Piaget acredita que a
atividade lúdica é essencial na vida da criança, pois, se constitui, em expressão e
condição para o desenvolvimento infantil, já que quando as crianças jogam, assimilam e
transformam a realidade” (CARDOSO, 2010, p. 12). Assim, o jogo não deve ser
considerado somente sob a perspectiva do entretenimento, este se refere inegavelmente
ao fator indispensável para o desenvolvimento biopsicossocial da criança.
Fortuna (2007) ressalta ainda que as brincadeiras e os brinquedos operam como
intermediadores da relação homem-mundo alteram a percepção e a apreensão que se
tem dele, estabelecendo-se em ferramentas de vivência em sociedade. O brincar também
é uma atividade social que tem a característica especial de possibilitar a reconstrução
das relações sociais, ao mesmo tempo em que instrui a habitar em um mundo
culturalmente simbólico.
Ante o exposto, fica claro a relevância do lúdico como instrumento eficaz no
atendimento a criança. Porém, a maneira de aplicação prática derivará da linha teórica
do profissional.
Partindo desse pressuposto, o uso de bonecos, jogos, pinturas, colagens, argila,
massa de modelar, dentre outros, proporcionam um ambiente livre de recriminação e
habitual para que a criança construa seu mundo de fantasia (GADELHA e MENEZES,
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2004). E justamente por meio da fantasia é que se podem penetrar os recantos mais
íntimos das crianças, a partir das próprias perspectivas delas (OAKLANDER, 1980).
Assim sendo, a ludoterapia representa um instrumento indispensável para prática
terapêutica infantil, pois possibilita entrar em contato com o mundo intrapsíquico da
criança, bem como oferecer suporte teórico-metodológico para o tratamento e o
desenvolvimento de habilidades e competências favoráveis.
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um final que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida real
tanto interna como externamente e também repetir à vontade situações prazerosas
(ABERASTURY, 1992, p. 15).
Na brincadeira, a relação estabelecida com o objeto não se caracteriza como a
parte principal, na verdade ele se configura mediador entre a realidade e a imaginação.
Compreendemos que o real papel do objeto principal é recriar através do “como se”;
isto é, livrar a criança para experimentar o que quiser, ela pode ser tudo e nesse faz de
conta, ela imita a vida, as alegrias e tristezas.
Winnicott acrescenta que além das significações e sentidos, os brinquedos são
também objetos transicionais, isto é, eles se encontram no meio do caminho entre a
chamada realidade concreta e a realidade psíquica da criança (MRECH, 1999, p. 166).
Oaklander (1980) instrui o terapeuta receber a criança despido de preconceitos,
julgamentos e/ou resistências, uma vez que reconhecer e respeitar as especificidades
desta criança implicará na revelação de seus sentimentos e angústias.
O imaginário também contribui para elucidar tais emoções, já que por meio dele:
Geralmente o seu processo de fantasia (a forma como faz as coisas e se move em seu
mundo fantasioso) é o mesmo que acontece no seu processo de vida. Podemos penetrar
nos recantos mais íntimos do ser da criança por meio da fantasia. (OAKLANDER,
1980, p. 25).
Desse modo, todas estas ferramentas possibilitam que o processo ludoterápico se
revele não apenas como solucionador de conflitos, mas sim um recurso para
instrumentalizar o indivíduo em seu crescimento emocional, afim de que possa elaborar
o atual problema, bem como os que surgirem, de forma coesa e sem dano para o ego.
Contudo, para abranger o melhor desenvolvimento nesse processo é
imprescindível maior atenção às atitudes do terapeuta, a adesão e participação dos pais e
o emprego de técnicas e habilidades ludoterápicas visando maior efetividade no trabalho
e consequentemente a explicação de pensamentos, fantasias, emoções evocadas através
do brincar.
A CRIANÇA E O BRINCAR
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criança passou a ser entendido como ser que necessita de cuidados, afeto, e
principalmente, como um sujeito em desenvolvimento.
Diante disso, Ghiraldelli reforça a concepção da infância como etapa natural da
vida do indivíduo “como algo que vai sendo montado, criado a partir de novas formas
de falar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as crianças" (2000, p. 49),
sendo dessa maneira uma construção social, nascido das práticas culturais de uma
sociedade.
Neste universo, destacamos a importância de “ser criança” com a garantia de
respeito aos direitos inerentes independente da etnia, religião, nacionalidade visando
apenas à congruência que esta fase requer. Em outras palavras,
(...) crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas
contradições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume a ser
alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança).
Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a
criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs,
pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo
de ver as crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto de
vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma história humana
porque o homem tem infância (KRAMER, 2007, p. 15 – grifo nosso).
Desta maneira, podemos compreender que a infância está atrelada ao brincar e
fantasiar, pois o brincar vai além de ser meramente uma atividade recreativa, esta se
configura um espaço de construção e apreensão das regras sociais, negociação, divisão,
resolução de conflitos, entre outros.
Vygotsky (2007) inclui o brincar como atividade humana permeada por fantasia,
realidade e imaginação na qual a sua interação permite a interpretação e expressão das
situações vivenciadas a fim de construir relações. Tal pensamento se assemelha as
concepções de Borba (2006 apud CARVALHO, 2009, p. 18) que frisam a “visão (...) da
brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais,
cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança (...)”
integrando-a na sociedade.
Além disso, a criança traduz com o brincar a percepção da realidade que o
envolve, de modo a solidificar suas funções psíquicas necessárias para o enfrentamento
dos problemas cotidianos. Ressaltamos ainda, a complexidade dos processos que
envolvem as brincadeiras, já que é o pilar da construção e assimilação do novo, ou seja,
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a criança passa a aprender o diferente mediante o conhecimento já existente,
constituindo dessa forma espaços de aprendizagem.
Portanto, os momentos proporcionados pelo brincar propiciam o
desenvolvimento dos processos cognitivos como memória, linguagem, atenção,
consciência corporal e espacial, planejamento e execução de tarefas dentre outras, que
serão indispensáveis ao longo da vida, uma vez que tais experiências influenciam de
modo significativo na sua percepção e ação sobre o mundo.
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comportamentais. Nossas cognições ou interpretações, as quais refletem formas
individuais de processar informação e representar o real, constituiriam a base dos
transtornos emocionais, os quais seriam definidos, em TCC, mais propriamente como
transtornos de processamento de informação (2016, p.1).
Para Pureza et. al. (2014), a TCC se propõe alcançar a flexibilidade e a
ressignificação dos modos patológicos no processamento da informação, pois acredita-
se que os indivíduos não sofrem pelos problemas e fatos em si, mas sim pelas suas
interpretações a respeito dos mesmos. Autores como Knapp (2008), Bunge (2011),
Friedberg (2004) dentre outros, demonstram extensas evidências científicas que
confirmam que o tratamento com TCC é eficaz em um considerável número de
patologias psiquiátricas e demandas psicológicas.
A TCC busca a reestruturação das alterações cognitivas que emergem do
paciente atuando com intervenções que visem a promoção de mudanças nos
comportamentos e emoções através da atuação pontual nos sistemas de esquemas e
crenças conjuntamente com a abordagem de resolução de problemas.
Em virtude do exposto, Knapp e Beck (2008) dividem a TCC em três modelos
de atuação, são eles:
1) Terapias de habilidades de enfrentamento, que enfatizam o desenvolvimento
de um repertório de habilidades que objetivam fornecer ao paciente instrumentos para
lidar com uma série de situações problemáticas;
2) terapia de solução de problemas, que enfatiza o desenvolvimento de
estratégias gerais para lidar com uma ampla variedade de dificuldades pessoais; e
3) terapias de reestruturação, que enfatizam a pressuposição de que problemas
emocionais são uma consequência de pensamentos mal adaptativos, sendo a meta do
tratamento reformular pensamentos distorcidos e promover pensamentos adaptativos
(KNAPP; BECK, 2008, p. 55).
Todas essas formas de atuação e intervenção procuram oferecer recursos,
técnicas e estratégias cognitivas aos pacientes para que possam lidar com os dilemas do
mundo que o cerca. Além do mais, nessa teoria tanto o paciente quanto o terapeuta
desempenham funções ativas no processo terapêutico, isto é, a TCC tem na relação
colaborativa o pilar de suas ações.
Contudo, as mudanças advindas da Terapia Cognitivo Comportamental
trouxeram reformulações na compreensão e tratamento dos transtornos emocionais,
sendo uma das principais características que diferem a TCC das outras abordagens
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psicoterápicas o tempo de duração nos atendimentos, sua eficiência e eficácia
ratificados mediante estudos empíricos.
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operadas por quem disponha dos reforçadores (os mediadores)" (SILVARES, 1995, p.
235), assim a postura, dos pais com relação aos seus filhos e professores com seu aluno,
encontra-se não apenas como variáveis do comportamento patológico, mas também
como impulsionadoras de comportamentos saudáveis, já que é por meio deles que o
terapeuta observará se o tratamento está havendo resultados.
Nesse contexto os mediadores (pais e professores) tem o papel de desenvolver,
manter e instalar o conjunto de ações necessárias para o aprendizado comportamental
adequado da criança. Além disso, a participação da família ao longo da terapia promove
a aparição de contingências que medirão a construção de modelos e regras, e assim
proporcionarão a supressão de sintomas e comportamentos negativos (EMÍDIO et. al.,
2009).
Outro aspecto indispensável para essa prática se refere a linguagem, em sua
maioria a não verbal, pois proporciona ao terapeuta o acesso ao funcionamento
cognitivo da criança. E é através dela, da linguagem, que se percebem os
comportamentos positivos ou negativos.
Nesta perspectiva, com ramificações oriundas da abordagem operante, trazida
pela teoria comportamental, compreendemos que o comportamento é produto da
interação entre as variáveis históricas e ambientais que os sujeitos mantem durante sua
vida e a produção de desordens emocionais surgem a partir de como ocorre a elaboração
das situações frustrantes (SILVARES, 2000).
Para tanto, o atendimento clínico infantil baseado nos estudos do
comportamento, apresentam como proposta de intervenção à solução de problemas
específicos com ênfase no papel do mediador como componente imprescindível para o
desenvolvimento da reestruturação cognitiva.
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surge com o modelo de brincadeira não diretiva, em outras palavras Guerrelhas et. al.,
sugere que
(...) a brincadeira no contexto clínico psicanalítico, caracterizada como
ludoterapia, tem sido utilizada como acesso ou expressão de conteúdos inconscientes.
(...) essas brincadeiras são utilizadas para estimular o aparecimento de conflitos
intrapsíquicos (2000, p. 2).
Dessa maneira, o terapeuta deixa a criança livre para brincar e expor seus
conflitos internos de acordo com a manifestação que ocorre no momento da sessão.
Entretanto, nos anos de 1940 este método passou a ser questionado, possibilitando
assim o surgimento de uma nova categoria de terapia com o enfoque em brincadeiras
estruturadas (GUERRELHAS et. al. 2000).
Com o intuito de solucionar problemas específicos, esta terapia se propõe levar a
criança a desempenhar comportamentos mais saudáveis incluindo neste processo a
família e a escola como parte indispensável para o tratamento. Nesta perspectiva, as
atividades lúdicas desempenhadas nas sessões visam identificar, expressar e levar a
criança ao autoconhecimento.
Mediante a isto, Ribeiro indica que: Este tipo de intervenção procura o
desenvolvimento de um padrão saudável. O brincar para além de ajudar na identificação
do problema pode, então, ser visto como um instrumento do processo de aprendizagem
na medida em que permite aprender maneiras alternativas de comportamento, pois
através da brincadeira a criança pode avaliar o seu próprio comportamento (2012, p.
39).
Pintar, colar, contar histórias, imaginar entre outras atividades, significam para
criança um ambiente conhecido e livre de censura. Dessa forma, tais instrumentos
permitem trazer a superfície, além de seus sentimentos, a abertura para a constituição de
competências, habilidades, bem como o desenvolvimento social e intelectual, descrição
de eventos significativos, opções a condutas disfuncionais, e reflexão de seus próprios
comportamentos.
Em sua maioria, “a introdução do brincar em terapia comportamental é um tipo
de intervenção que procura estabelecer contingências necessárias para a construção de
repertório básico que possibilite o desenvolvimento de um padrão de vida saudável (...)”
(GUERRELHAS et. al., 2000, p. 6). Além do mais, é através dela, do brincar, que a
criança aprenderá “(...) maneiras alternativas de se comportar frente a determinados
estímulos do ambiente” (GUERRELHAS et. al., 2000, p. 6).
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Assim, o que se pode identificar da ludoterapia mediante a perspectiva da TCC é
o papel ativo da criança em seu processo terapêutico, porém seguindo uma estrutura
traçada pelo terapeuta a partir da queixa trazida pela família. As sessões, assim como
nas outras abordagens, tem a duração média de cinquenta minutos e devem
proporcionar a criança um ambiente livre de quaisquer repressões e julgamentos. Tudo
deve ser trabalhado, escolhas, liberdade, morte e angústia de modo que o vínculo e a
confiança sejam construídos e como consequência haja livre expressão dos sentimentos,
emoções e comportamentos da criança.
Portanto, as bases da ludoterapia comportamental seguem padrões da TCC,
como a modelação, supressão e reforçamento de comportamentos, na qual a criança é
estimulada a alterar condutas incoerentes de modo que em meio a esse procedimento ela
possa aprender com a experiência vivenciada.
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Dessa forma, a construção de um vínculo pautado na confiança mútua aumenta a
probabilidade de eficácia no processo terapêutico. Além disso, a posição ativa da
criança na terapia colabora para a adesão e interpretação das situações que ocorrem com
ela.
De acordo com Patterson (1991), o foco das intervenções da terapia cognitivo
comportamental com crianças e adolescentes centram-se em termos de pensamentos
adaptativos e não adaptativos. Assim é de extrema importância que os terapeutas
busquem alcançar uma apreensão global do funcionamento da criança nos seus variados
contextos; família, escola e etc., para que consigam relacionar os elementos ou sintomas
que impedem sua adaptação em uma rotina, e principalmente o papel que os aspectos
cognitivos possuem na origem dos problemas e transtornos.
O caráter focal e diretivo da TCC inclui a demanda de uma avaliação diagnóstica
bem direcionada considerando:
a) Identificação e compreensão das queixas da criança e/ou do adolescente e b)
processo de conceitualização cognitiva. Normalmente, os porta-vozes das queixas e
sintomas são os pais e/ou cuidadores. Torna-se importante a realização de uma completa
entrevista de anamnese, pois é através desse processo que se obtém uma melhor
compreensão de aspectos emocionais (vínculos estabelecidos, humor prevalente, como
reage às diversas situações vivenciadas), psicossociais (relacionamento familiar,
interpessoal, acadêmico) e que são planejadas e direcionadas futuras condutas
(PUREZA et. al., 2014, p. 89).
Sob este ponto de vista é indispensável para a prática clínica na TCC um
aprofundamento na aplicação da anamnese, pois quanto mais abrangente for, maior será
o planejamento e a condução do caso.
As técnicas comportamentais e cognitivas são extensas e têm sido adaptadas e
desenvolvidas para o tratamento de crianças e adolescentes, porque de acordo com a
idade, estes podem demonstrar dificuldades em concentrar atenção em suas cognições e
monitorá-las. Entre as técnicas comportamentais, as técnicas de relaxamento se
destacam, pois, é útil a pacientes com demandas variadas, com evidencias de sucesso
em pacientes ansiosos.
Pureza et. al. (2014), apresentam outras técnicas cognitivas que são usadas como
facilitadoras do processo terapêutico, são elas: tarefa de casa, registro dos pensamentos
disfuncionais, método socrático, planejamento das atividades diárias, prescrição de
tarefas graduadas, prevenção de recaídas, treinamento em habilidades sociais, role-
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playing, feedback e reforçamento, procedimento de dessensibilização sistemática,
resolução e solução de problemas, balança das vantagens e desvantagens, dentre outros.
A técnica “tarefa de casa” refere-se ao recurso usado pelo terapeuta para dar
continuidade a psicoterapia no momento em que o paciente não esteja nas sessões. Para
Rangé (2001) esse tempo consiste na correção de crenças disfuncionais e aprendizado
de novas experiências. São algumas tarefas: Registro diário de pensamentos
disfuncionais, plano semanal de atividades diárias, dentre outras.
O “registro diário dos pensamentos disfuncionais” consiste na anotação de todos
aqueles pensamentos que se apresentam em virtude de sua patologia. Sua função é
permitir que o terapeuta possa analisar tais pensamentos posteriormente e ainda auxiliar
o cliente em sua reestruturação cognitiva (TAVARES, 2005).
Já o “planejamento de atividades diárias” permite ao cliente reforçamento de
comportamentos positivos, supressão de crenças negativas e ampliação no campo de
intervenção e atuação do terapeuta. Essa técnica se dá por meio da construção de um
programa diário de atividades desenvolvido em conjunto pelo terapeuta e cliente
(RANGÉ, 2001).
O “método socrático” se dá através de indagações que visam identificar e
conhecer os pensamentos automáticos disfuncionais do paciente, de modo que o
terapeuta possa modificá-los. Visto de outra maneira, Cardioli demonstra que ao falar
do questionamento socrático, (...) este deve focalizar os pensamentos, onde depois de
reconhecê-los, o paciente deve-se perguntar (ou o terapeuta deve perguntar ao paciente):
“Que evidências tenho de que aquilo que passou pela minha cabeça naquele momento é
verdadeiro?”;
“Que evidências são contrárias ao que pensei?”; “Existem explicações
alternativas?”; “Que provas tenho de que de fato o que imaginei na ocasião vai
acontecer?”; “O que outras pessoas pensariam na mesma ocasião?”, etc (2004 apud
TAVARES, 2005, p.31).
Dessa forma, podemos compreender que este método objetiva levar o cliente a
refletir sobre seus pensamentos, emoções e conflitos de modo que possa reestruturar
seus comportamentos saudáveis.
A “prescrição de tarefas graduadas” refere-se a um recurso terapêutico usado
para que o cliente retome as suas atividades normais; ou seja, essa técnica permite que
aos poucos o cliente volte a sua vida normal. Deve-se, entretanto, iniciar o tratamento
por atividades que causem menor nível de ansiedade ao sujeito (RANGÉ, 2001).
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A “prevenção de recaídas” é uma técnica habitual em tratamentos de vícios em
drogas, porém na TCC ela surge como instrumento de autovigilância e atenção a
comportamentos que darão origem as recaídas. Para evitá-la, Tavares (2005) sugere
“procedimentos de manipulação do stress, treinamento em relaxamento (...) e
reestruturação cognitiva” (2005, p. 33).
O “treinamento em habilidades sociais” é uma busca em desenvolver no cliente
habilidades e competências que o permitam se relacionar e agir em situações do
cotidiano. Basicamente, consiste na “aprendizagem de um novo repertório de respostas”
(TAVARES, 2005, p. 33) a partir do emprego de técnicas como resolução e solução de
problemas, reforçamento, modelação, entre outros.
Rangé (2001) descreve a técnica “role-playing” como instrumento para
treinamento do cliente em ocasiões que acontecem no dia-a-dia. Isto é, terapeuta e
cliente representam situações cotidianas com o intuito de ambientar o sujeito nas
dificuldades e problemas por ele enfrentados.
O “feedback” serve para oferecer uma devolutiva sobre informações específicas
que levem ao cliente a melhora de seu quadro clínico. Já o “reforçamento” se dá por
meio da recompensa ao cliente, quando este adquire comportamentos adaptativos
(TAVARES, 2005).
O “procedimento de dessensibilização sistemática” de acordo com Caballo “(...)
é uma intervenção terapêutica desenvolvida para, dentre outras coisas, eliminar as
síndromes de evitação” (1996 apud TAVARES, 2005, p. 34). Essa técnica ocorre
mediante a quatro intervenções, são elas: treinamento de relaxamento, análise
comportamental e hierarquização de medos, combinação entre o causador do medo e a
técnica de relaxamento, e treinamento na Escala de Unidades Subjetivas de Ansiedade
(TAVARES, 2005).
Quanto a “resolução e solução de problemas” Caballo (1996) diz que se dão por
meio de processos, tais como: Orientação para o problema; definição e formulação do
problema; levantamento de alternativas; tomada de decisões; prática da solução e
verificação. Cada um desses elementos permitirá ao cliente maior clareza, avaliação e
solução dos problemas enfrentados.
Por fim, a “balança das vantagens e desvantagens” que consiste na confecção,
feita pelo terapeuta, de uma balança de papel com os braços móveis para a pesagem.
Cada um dos lados é preenchido pelo paciente com vantagens ou desvantagens. A cada
argumento escrito o item faz com que a balança penda para baixo, estando a balança no
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final voltada para o lada que possui mais argumentos, o que auxilia na concepção da
decisão a ser tomada pela criança.
Stallard (2004) reforça que por mais que a terapia cognitivo-comportamental
tenha sofrido várias influências no seu desenvolvimento, permanece o foco dos
elementos cognitivos e comportamentais que visam em sua maioria problemas
específicos e necessidades particulares da criança.
Este mesmo autor pontua ainda os elementos produzidos por esta técnica. São
eles: formulação e psicoeducação; monitoramento do pensamento, identificação de
distorções e déficits cognitivos, avaliação do pensamento e desenvolvimento de
processos cognitivos alternativos, aprender habilidades cognitivas novas, educação
afetiva, monitoramento afetivo, controle afetivo, treinamento de relaxamento,
estabelecimento de alvos e reagendamento de atividades, experimentos
comportamentais, exposição, reforço e recompensa.
Contudo, infelizmente o que percebemos é que são escassos os profissionais que
realizam atendimentos com crianças, dada a complexidade que esta possui, além do
mais a falta de compreensão técnica, da abordagem cognitivo comportamental, dificulta
a discussão dos casos e o encaminhamento destes.
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entre outros mostram-se de indiscutível importância na modelação, supressão e
reforçamento de comportamentos, pois cada um deles propiciará a criança observar e
modificar as situações que se assemelham com a vivenciada em seu dia-a-dia.
Guerrelhas (2000, p. 6) exemplifica esse contexto ao demonstrar que (...) o
trabalho terapêutico infantil tem basicamente os mesmos objetivos de qualquer terapia
comportamental e, portanto, segue as mesmas etapas:
a) avaliação inicial,
b) estudo do problema do cliente,
c) delimitação de metas,
d) escolha de técnicas e procedimentos,
e) implementação,
f) avaliação do processo,
g) avaliação final e
h) seguimento,
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Objetivos e Orientação
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O brinquedo passou a ser investigado com mais seriedade a partir do final do
século XIX. Analisando por uma perspectiva histórica, Freud deve ser considerado o
primeiro a reconhecer a utilidade da brincadeira num processo terapêutico, com seu
relato do caso do “Pequeno Hans”, entretanto ele não gostava da ideia de uma
psicanálise infantil. Os trabalhos de Melanie Klein (a desenvolvedora da técnica do
brincar como conhecemos atualmente), Ana Freud (que discordava de Klein em vários
pontos) e Winnicott (que via o brincar como algo terapêutico em si mesmo), desde a
década de 1920, são modelos de utilização da brincadeira como instrumento de
entendimento da criança. Na década de 1950, Piaget observou de forma sistemática o
papel do jogo nas fases do desenvolvimento infantil.
A VISÃO COMPORTAMENTAL
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terapêutica. E somente na década de 1980 as comunicações sobre o brincar com a
criança na terapia comportamental passou a ter maior impacto.
UM ESTUDO
Um estudo foi realizado pelos autores do artigo citado abaixo, com dois grupos
de crianças. Os Grupos de Espera Recreativos (GERs). Nesses as crianças brincavam
sem finalidades terapêuticas e era composto por crianças inscritas em uma clínica-
escola e que estavam na lista de espera pelo atendimento. O outro projeto era o dos
Grupos Ludoterapêuticos Comportamentais Infantis (GLCs). Nesses grupos
as brincadeiras desenvolvidas com as crianças possuíam o objetivo de fazê-las
discriminar as contingências controladoras de seu comportamento agressivo, tanto nas
sessões de terapia, quanto fora dela.
Brincar com a crianças enquanto ela aguardava o atendimento era uma
alternativa para evitar a evasão do atendimento devido à longa espera. Esses grupos de
espera possuem os objetivos de: atender a demanda, evitando longas listas; diminuir
desistências; identificar desmotivados, auxiliando o diagnóstico; trabalhar as
expectativas dos clientes; refletir a respeito da necessidade do atendimento; e esclarecer
o que é o serviço. Além de contornar a questão da espera, os grupos recreativos
possibilitaram a coleta de material útil para atendimento e pesquisas futuras.
O líder dos GERs deve possuir certas habilidades para exercer a função de
recreacionista ou o de terapeuta. O recreacionista deve ter o conhecimento suficiente de
brincadeiras lúdicas e relacioná-las à faixa etária atendida. Para estagiar como terapeuta,
é preciso que o aluno se encontre em um nível avançado no curso de Psicologia.
Nos encontros para brincar, as crianças se comportam como de hábito,
mostrando como se relacionam com seus pares. A situação lúdica registrada possibilita
a observação e análise do comportamento e suas relações funcionais com o ambiente.
A frequência, duração e intensidade do comportamento-alvo da queixa trazida
são os critérios utilizados para julgar se um problema infantil merece a atenção de
um psicólogo. Os GLCs, em última instância, visam promover alterações
comportamentais infantis de modo a ajustar socialmente a criança encaminhada para
atendimento psicológico. Uma das atividades desses grupos são os jogos de fantasia,
que se mostram úteis na identificação de variáveis das quais um comportamento
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indesejado pode ser função. Dessa forma, é possível identificar variáveis de controle e
escolher procedimentos mais apropriados para o manejo de contingências.
Estratégias lúdicas
A maneira como adultos lidam com crianças nos dias de hoje parece ser bastante
diferente do que ocorria nos tempos de nossos avós e bisavós. Dados históricos
mostram que era comum que os adultos considerassem as crianças como adultos em
miniatura e estabelecessem com elas relações nas quais cabiam às crianças decisões e
comportamentos de adultos (Oliveira, 2003). Os novos modos de interação entre adultos
e crianças geram modificações também na relação que se estabelece entre os terapeutas
infantis e seus clientes. Hoje, sabemos mais sobre as necessidades da criança, sobre a
importância das brincadeiras para seu desenvolvimento sensorial, motor, emocional e
comportamental e sobre como seu ambiente exerce influência na aquisição e
manutenção de comportamentos. A Ludoterapia Comportamental Infantil faz uso de
jogos e brincadeiras na relação que se estabelece com as crianças, e se tem mostrado
uma área de atividade clínica que beneficia crianças e suas famílias, pois favorece a
aquisição de comportamentos sociais importantes e a melhora nas interações sociais.
A utilização de jogos e brinquedos na ludoterapia comportamental infantil é algo
que pode ser considerado bastante novo. A relação da criança com o brinquedo na
psicoterapia passou por uma evolução desde a modificação do comportamento infantil
até a ludoterapia comportamental infantil. Na modificação do comportamento, a criança
não participava diretamente do processo terapêutico, e o trabalho do terapeuta com a
criança era praticamente ausente. Na modificação do comportamento, a utilização da
entrevista com crianças não era prática comum. As crianças chegavam para a terapia
com a queixa dos pais sobre seus comportamentos, e não eram perguntadas sobre como
se sentiam ou sobre o que observavam de seu próprio comportamento ou do
comportamento dos pais. As entrevistas geralmente eram feitas com os adultos e as
dificuldades da criança eram acessadas, utilizando-se inventários e check-lists que
abrangiam uma variedade de comportamentos-problema presentes nos quadros de
ansiedade, depressão, timidez e agressividade (watson & gresham, 1998). Assim, o
problema da criança referia-se à preocupação dos pais e, frequentemente, o terapeuta
trabalhava com eles para identificar os comportamentos-problema da criança.
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Raramente os eventos privados da criança faziam parte da análise da queixa. Além
disto, utilizavam-se práticas experimentais realizadas em laboratórios para alterar os
comportamentos inadequados da criança (conte & regra, 2000).
Silvares e gongora (1998) reconheceram uma tendência ao aumento da estrutura
e da especialização da entrevista com crianças, que passaram a ser vistas como
informantes de seus próprios sentimentos, comportamentos e relacionamento social.
Assim, muita informação, que por tradição dependia do relato dos adultos, passou a ser
fornecida também pela criança. Além de fornecer oportunidade de estabelecer o vínculo
afetivo com a criança e de avaliar sua habilidade verbal, a entrevista é fonte importante
de informação adicional sobre as interações da criança. Por exemplo, a criança pode
relatar que seu pai grita e briga quando ela está assobiando, enquanto o pai relata como
consequência o time-out.
A passagem da modificação do comportamento infantil para a ludoterapia
comportamental infantil apresenta outra contribuição: os comportamentos do terapeuta
no decorrer da sessão também são considerados importantes e são analisados
funcionalmente em relação a sua interação com o ambiente. Vale ressaltar que essa
mudança ocorreu gradualmente, conforme se desenvolveram os estudos na área de
comportamento verbal, comportamento governado por regras e equivalência de
estímulos, dentre outros (conte & regra, 2000).
Em 1960, a ludoterapia comportamental infantil firmou-se como modelo
psicoterápico. a partir desse momento, o comportamento da criança passou a ser
analisado funcionalmente em relação a seu ambiente (por exemplo, os ambientes
familiar e escolar). Assim, a criança deixou de ser coadjuvante e passou a ter muita
importância no processo terapêutico; seu mundo privado passou a ser analisado e,
portanto, considerado relevante.
Com a participação mais ativa da criança no processo terapêutico, os terapeutas
precisaram apoiar-se mais em estratégias lúdicas. Foi a partir da década de 1960, com o
desenvolvimento de estudos na área infantil e com estudos realizados sobre a
importância do jogar, que os jogos e os brinquedos passaram a serem considerados
importantes na ludoterapia comportamental infantil. Silvares (2001) ressalta que apenas
nos meados da década de 1980 é que as comunicações científicas sobre o brincar com a
criança em terapia comportamental tiveram maior impacto no cenário científico.
Inclusive o termo ludoterapia comportamental infantil, importado da psicanálise, foi
utilizado pela primeira vez por Gomes, em 1998, e significa “a inserção de atividades
23
lúdicas nos procedimentos terapêuticos comportamentais com crianças” (Silvares, 2001,
p. 54).
A principal diferença entre a terapia de adulto e a infantil talvez esteja na busca
constante do terapeuta comportamental infantil por procedimentos alternativos ao relato
verbal, para obter informações sobre as variáveis que controlam o comportamento da
criança. Enquanto na terapia de adultos os clientes podem descrever seus
comportamentos e relatar seus sentimentos, na terapia infantil o repertório verbal da
criança para descrever seus sentimentos e falar de suas lembranças pode ser restrito e
dificultar o caminho do terapeuta no estabelecimento do contato da criança com as
variáveis que interferem em seus comportamentos e sentimentos (Kohlenberg & Tsai,
2001). Portanto, as crianças dificilmente relatam seus sentimentos e comportamentos da
forma como o fazem os adultos. Por essa razão, a observação da criança é crítica para a
avaliação e o planejamento da terapia. Sem observação, o tratamento recai sobre o
relato dos pais (Silvares, 2000).
As crianças frequentemente precisam de outras formas para expressar seus
sentimentos que não a verbal, para obter os ganhos que essa expressão significa para o
desenvolvimento da terapia. Essas outras formas de expressão incluem desenhar ou
contar histórias, fantasiar, imaginar e interpretar situações, usar bonecos e jogos,
pinturas, colagens, argila, massa plástica de modelagem, música, entre outros
instrumentos que caracterizam uma situação natural para a criança e um ambiente livre
de censura para a exposição de seus sentimentos. O uso desses instrumentos depende de
um esforço do terapeuta infantil em identificar quais deles são úteis para proporcionar a
identificação de importantes variáveis de controle sobre o comportamento da criança
(Regra, 2000).
Consideramos que estratégia lúdica se refere à utilização de jogos, brinquedos,
desenhos e livros de histórias, com algum objetivo específico na ludoterapia
comportamental infantil. Qualquer atividade pode ser considerada lúdica, uma vez que
qualquer objeto pode ser utilizado como brinquedo pela criança. Um pedaço de madeira
pode virar um boneco, assim como um pedaço de folha, um barquinho. Uma classe de
estímulos pode ser denominada brinquedo, desde que na presença desses estímulos a
criança emita uma única resposta: brincar. “Para exemplificar, suponhamos que o pai de
uma criança traga para casa um brinquedo novo, um frisbee. Nada na aparência deste
objeto permite à criança incluí-lo na classe dos brinquedos..., a criança poderia
encontrar o frisbee no meio de um conjunto de objetos de sucata, interessar-se por ele, e
24
aprender a usá-lo para brincar” (de Rose, 1993, p.287-288). Nesse caso, a resposta de
brincar foi estabelecida na presença do novo objeto e a criança passou a incluí-lo na
classe de estímulos denominada brinquedo.
Mas, por que trabalhar com estratégias lúdicas na ludoterapia comportamental
infantil? Primeiro, porque a utilização de jogos e brinquedos é bastante reforçadora para
a criança. Inclusive em pesquisas sobre autocontrole com crianças, pode-se observar
que muitas das tarefas propostas às crianças envolvem situações lúdicas (forzano &
logue, 1995; logue, forzano & ckerman, 1996; logue & chavarro, 1992; schweitzer &
sulzerazaroff, 1988, citado em nogueira, 2001) em que o experimentador chama a
criança para uma brincadeira ou jogo. Isso facilita a participação da criança no estudo,
tornando a tarefa reforçadora.
Outro ponto a ser considerado quanto à utilização de brinquedos e jogos na
ludoterapia comportamental infantil é o fato de o brinquedo fornecer à criança um
ambiente planejado no qual é possível a aprendizagem de habilidades (Bomtempo,
1987, citado em Soares, Moura & Prebianchi, 2003). Além disso, o brinquedo pode ser
considerado uma condição para o desenvolvimento social, emocional e intelectual da
criança (Bomtempo, 1992).
Além de permitir que as crianças informem sobre seus sentimentos e descrevam
comportamentos e eventos importantes, as brincadeiras dirigidas permitem que elas
aprendam respostas alternativas a seus comportamentos disfuncionais ou indesejáveis
como bater, gritar, xingar, chorar e tremer. O brinquedo é um instrumento do processo
de aprendizagem e brincar é uma possibilidade de aprender a se comportar
adequadamente frente a determinados estímulos. Por meio da brincadeira, a criança
analisa seu próprio comportamento, ficando ciente das contingências que o determinam
e, a partir daí, pode alterar sua relação com o ambiente. O uso da fantasia e da
brincadeira leva a criança a encontrar alternativas de comportamentos, inicialmente para
os personagens de suas brincadeiras e depois para as situações de sua vida (Guerrelhas,
Bueno & Silvares, 2000).
Falar dos personagens de uma história é um instrumento útil na ludoterapia
comportamental infantil, pois falar primeiro dos personagens é uma aproximação
gradual para depois falar de si mesmo (Regra, 2000). Ao analisar o comportamento dos
personagens, ensina-se a criança a fazer análise funcional do comportamento e a etapa
posterior é a transposição desse tipo de análise funcional para seu próprio
comportamento. Ao fazer a ponte da fantasia com a realidade, quando a criança é levada
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a identificar os padrões de comportamento dos personagens da história que têm relação
com seus padrões de comportamento e de seus familiares, a criança está sendo
conduzida a falar de si e de suas relações, diante da audiência não punitiva do terapeuta
(Regra, 2000). O uso de metáforas na terapia ajuda a evocar comportamentos e
sentimentos relevantes. Um exemplo é pedir à criança que imagine ser um barco
pequeno numa imensa tempestade (Oaklander, 1980). Falar sobre as ondas, o vento e a
luta para vencer a tempestade pode trazer à tona sentimentos da criança em relação ao
seu ambiente familiar ou escolar, especialmente se este tem alguma similaridade
funcional com a metáfora do barco. Por meio de dinâmicas como essa é possível
modelar descrições apropriadas dos sentimentos e também respostas adequadas a
situações extraterapêuticas similares. O desenho é uma outra maneira de lidar com os
sentimentos das crianças na terapia. Um exercício que se tem mostrado efetivo é pedir
às crianças que desenhem suas famílias como símbolos ou animais. A informação sobre
sentimentos e comportamentos pode ser obtida dessa forma, e na relação com a criança
no decorrer da atividade podem ficar claras as variáveis das quais seu comportamento é
função.
Assim, os jogos de fantasia são úteis para identificação de variáveis das quais
um certo comportamento é função e as estratégias lúdicas são instrumentos importantes
para o sucesso da relação terapêutica com as crianças. Por meio de uma atividade
lúdica, a sessão terapêutica com a criança se constitui um ambiente rico de aplicação de
procedimentos comportamentais, como reforçamento de comportamentos adequados,
extinção de inadequados e modelação (Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000).
Algumas estratégias lúdicas têm sido usadas por nós na prática clínica com os
objetivos de favorecer a formação do vínculo com a criança, identificar os conceitos e
as regras que governam seu comportamento, verificar sua relação com pessoas dos
ambientes em que está inserida, identificar seus sentimentos em relação a si mesma, a
determinadas pessoas e situações, treinar a solução de problemas cotidianos,
desenvolver habilidades, trabalhar a autoconfiança e favorecer a concentração e o
relaxamento.
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pode ter efeito sem que antes ocorra a formação de vínculo. Para favorecê-la, podem ser
utilizadas quaisquer estratégias lúdicas que sejam reforçadoras para a criança, o que
pode ser levantando previamente nas entrevistas com os pais. Ao primeiro contato entre
a criança e o terapeuta, é importante que este último deixe a criança bem à vontade,
permitindo que ela escolha a atividade. Existem alguns jogos úteis na formação do
vínculo, dentre eles: Cai-não-cai, Cara maluca, 60 Segundos, Gugu equilibrista e
Quebra-gelo.
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trazer comentários de atividades prazerosas realizadas na escola, de coisas engraçadas
ocorridas e de passeios realizados com a turma.
Desenvolver habilidades
Aqui podem ser utilizados jogos psicopedagógicos com objetivos bem
específicos. Um dos jogos mais utilizados é o Conta Certa. É um jogo divertido e que
pode dessensibilizar a criança em relação a certos estímulos aversivos.
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algum trabalho manual, o terapeuta pode planejar condições adequadas permitindo que
a criança explore o ambiente. O terapeuta pode modelar comportamentos-alvo da
criança em relação à atividade escolhida.
Favorecer a concentração
Pode ser utilizada a argila ou massa de modelar ou caseira. Esse tipo de
atividade proporciona uma maior concentração da criança na atividade e na conversa
durante a atividade. Se a massa for preparada no consultório pode desenvolver um
sentimento de autoconfiança na criança. Esse tipo de atividade também auxilia na
observação do comportamento da criança em relação à sujeira. É uma criança que se
esquiva desses tipos de atividades? Quando ela se suja, o que faz? É também possível
verificar a relação da criança com a organização. Ela tem dificuldade de limpar depois
da atividade? Como se sente quando suja, por exemplo, o chão? Qual a relação dela
com o errar?
Favorecer o relaxamento
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criar um ambiente bastante reforçador para a criança. Afinal de contas, brincar é um
comportamento típico da infância e qual é o adulto que não gostaria de ser criança para
poder brincar, se soltar e relaxar?
A adoção de uma abordagem terapêutica infantil baseada no brincar está
relacionada a questões de desenvolvimento do repertório básico do comportamento. A
criança, geralmente, não tem um repertório verbal desenvolvido a ponto de se beneficiar
de uma terapia puramente verbal (Regra, 2000). Portanto, a situação lúdica é utilizada
na aplicação direta de procedimentos de manejo de contingências para estabelecer
novos comportamentos e fortalecer respostas adequadas ao repertório da criança.
Brincar em terapia comportamental é um tipo de intervenção que procura estabelecer
contingências necessárias para a construção de repertório básico que possibilite o
desenvolvimento de um padrão de vida saudável.
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REFERÊNCIAS
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