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O PAPEL DA BRINCADEIRA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

KENZLER, Karin Maria 1


CAMPOS, Rayanne Pereira da Silva 2
Orientadora: Profª. Ms. Aline Ap. Perce Eugênio 3

RESUMO

Este trabalho fala da importância do brincar no desenvolvimento do ser


humano, em especial na infância, como meio de aprendizagem. Ressaltamos a
relevância do brincar como meio de expressão, comunicação e elaboração da
subjetividade, assim como meio de aprendizagem através da experimentação,
imaginação e ensaio de situações reais. Destacamos a influência do brincar no
desenvolvimento da psicomotricidade, das relações sócioafetivas e das
habilidades cognitivas, podendo ser de grande valia como instrumento na
avaliação psicopedagógica, em que o psicopedagogo pode identificar
dificuldades de aprendizagem relacionadas a conflitos intrapsíquicos, inter-
relacionais, assim como dificuldades psicomotoras ou cognitivas. Concluímos
que, independente da brincadeira e faixa etária, o brincar promove a
comunicação, o desenvolvimento pessoal e a aprendizagem de modo geral,
pois exercita o raciocínio, a memória, a atenção e imaginação, estimulando a
capacidade física, mental e psíquica. Realizamos pesquisa bibliográfica com
autores que fazem referência sobre o brincar e o desenvolvimento infantil.

1.Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica, pós-graduação em


Psicopedagogia pela Universidade Santo Amaro, 05/05/2016. E-mail:
karin.kenzler@gmail.com. Artigo apresentado como exigência parcial para obtenção
do título de especialista em Psicopedagogia; concluído em concluído em 12/2017.
Universidade Santo Amaro (UNISA).
2.Graduação em Psicologia pela Universidade UNIP, pós-graduação em
Psicopedagogia pela Universidade Santo Amaro, 05/05/2016. E-mail:
rayannecampos@hotmail.com. Artigo apresentado como exigência parcial para
obtenção do título de especialista em Psicopedagogia; concluído em 12/2017.
Universidade Santo Amaro (UNISA).
3. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP); coordenadora do curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional na
Universidade Santo Amaro (UNISA). apeugenio@prof.unisa.br
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca refletir sobre o papel da brincadeira no


processo de aprendizagem.

A importância do brincar é respaldada por expressivos referenciais


teóricos como Piaget (1951) e Vygotsky (1991), que afirmam que é a partir do
brincar que a criança faz suas descobertas, desenvolve e enriquece sua
personalidade. Para a criança o brincar significa extrair da vida a própria
vontade de viver. Por meio das brincadeiras a criança constrói novas formas de
atuar com o meio, com o outro e consigo. O ato de brincar permite à criança
entrar em um mundo onde tudo é possível, podendo elaborar, ensaiar e criar
sua própria realidade.

O brincar para a criança não é um mero passa tempo ou entretenimento,


mas fonte de conhecimento e exploração do mundo. Para Piaget (1951) as
brincadeiras não são apenas uma forma de gastar energia da criança, mas
que, ao brincar, ela aprende constantemente.

Também é através da brincadeira que a criança elabora e organiza seu


pensamento, seus sentimentos e desenvolve seus sentidos. De acordo com
Vygotsky (1995), a brincadeira cria na criança uma zona de desenvolvimento
proximal e a capacidade de resolver, de forma autônoma, um problema. Ele
também acentua o papel do ato de brincar na constituição do pensamento
infantil, pois é brincando que a criança revela seu estado cognitivo, visual,
auditivo, tátil, motor e seu modo de aprender interagindo com o mundo, as
pessoas e os símbolos.

Ainda segundo Vygotsky (1991), o ato de brincar possibilita o processo


de aprendizagem da criança, pois facilita a construção da reflexão, da
autonomia e da criatividade, estabelecendo, desta forma, uma relação estreita
entre o brincar e a aprendizagem.

A metodologia escolhida para desenvolver este trabalho é a pesquisa


qualitativa, baseada em estudos bibliográficos acerca da temática. A realização
deste artigo foi feita através de consultas a capítulos de livros, artigos
científicos e acessos à internet, procurando temas relacionados às
brincadeiras. Após o levantamento do material e feita a leitura e seleção de
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capítulos de livros e artigos científicos, foram excluídos aqueles artigos que não
apresentavam relevância e/ou não se relacionavam ao objetivo desta pesquisa,
embora citassem as brincadeiras.

Este trabalho tem como objetivo final guiar o psicopedagogo na sua


intervenção psicopedagógica, fazendo com que o profissional possa utilizar as
ferramentas lúdicas no processo de aprendizagem do indivíduo. Além disso,
este artigo irá abordar alguns temas relevantes sobre os benefícios que o
brincar pode proporcionar à criança, como: a criação de um espaço para
construção da subjetividade, o desenvolvimento da criatividade e as demais
habilidades necessárias ao processo de aprendizagem.

1. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO PROCESSO DE


APRENDIZAGEM

O brincar proporciona contribuições para o desenvolvimento humano


durante toda a via, principalmente na infância. A criança começa a brincar a
partir dos primeiros meses de vida, inicialmente com seu próprio corpo e depois
se utilizando de brinquedos na interação com outras crianças. Através da
brincadeira ela poderá explorar e estimular todas as suas potencialidades e
desenvolver seu lado social, motor e cognitivo.

De acordo com Vygotsky, a imaginação é um processo novo para a


criança, pois constitui uma característica típica da atividade humana
consciente. O brinquedo difere do trabalho e de outras formas de atividade,
porque cria uma situação imaginária. Assim, a brincadeira do “faz - de - conta”
pode ser vista como uma intercessão de dois amplos conceitos: brincar e
simular.

Ribeiro (2004), esclarece que para Vygotsky, o brincar traz uma Zona de
desenvolvimento proximal para esse momento lúdico em que a criança
comporta-se num nível que ultrapassa aquele a que já está habituada,
acarretando vantagens para os aspectos sociais, cognitivos e afetivos.

De fato, os brinquedos são considerados objetos socioculturais,


portadores de imagens, além de evocarem funções cognitivas e motoras.
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Diante disso, os brinquedos propõem uma forma singular de ver e representar


a realidade. O brinquedo não pode ser visto como a realidade em si, mas sim
como uma forma de representá-la.

Para Piaget (1976), as crianças não raciocinam como adultos, sendo


elas as próprias construtoras ativas do seu conhecimento, vivendo, criando e
testando constantemente suas teorias sobre o mundo.

Para Velasco (1996), o brinquedo é apropriado para estimular a criança


no desenvolvimento de suas capacidades psicomotoras e de sua formação
geral de uma forma natural, sem compromisso e obrigatoriedade. Sendo assim
consegue produzir seus significados através do brincar, adquirindo uma
aprendizagem através da utilização de sua imaginação nas varias formar de
brincar.

Portanto, os brinquedos, sejam industrializados ou artesanais,


constituem-se em objetos mediadores tanto das relações das crianças com os
adultos, como na interação entre elas mesmas. Por meio de sua utilização nas
brincadeiras, os brinquedos acabam por proporcionar a facilitação da
construção dos papéis sociais e representações, ou seja, as formas de ser e
pensar na sociedade.

De acordo com Maluf 2005, Winnicott faz colocações fundamentais


acerca do brincar. A autora cita: “As crianças têm prazer em todas as
experiências de brincadeiras física e emocional”. E traz alguns aspectos
relevantes do brincar defendidos por Winnicott, como a organização para
iniciação das relações emocionais, o desenvolvimento de contatos sociais, o
domínio das angústias, a evolução da personalidade infantil entre outros pontos
necessários para a maturação da criança.

O brincar também tem um importante papel no processo diagnóstico


ressaltado por Paín (2001): “no processo de diagnóstico e de tratamento
psicopedagógico são utilizados procedimentos e métodos nos quais estão
presentes o jogo e o brincar onde as crianças utilizam o imaginário e, com isso,
muito pode ser trabalhado.” (PAIN apud SISTO, 2001, p. 174). O
psicopedagogo, ao aplicar suas atividades a cada aprendente, considera o ato
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de brincar como um princípio de criar vínculos de amizade para que a criança


tenha confiança e desenvolva suas habilidade e competências.

Brincando a criança vai construindo sua identidade, assim como


desenvolvendo e aprendendo os instrumentos do brincar, ou seja, os
brinquedos criados a partir de imagens, significantes e significados próprios da
cultura e do grupo ao que pertence.

A brincadeira do “faz-de-conta” está ligada ao sentimento do “como se”,


que caracteriza o jogo simbólico e, de acordo com Piaget (1951), tem seu
apego aos quatro anos de idade. O brincar de “como se” é observado em
crianças que imitam barulhos de carros, apitos de trem ou tiros de caminhão
tendo como suporte apenas alguns pedaços de madeira e/ou soldados de
plástico.

Moyles (2002), mostra que ao brincar a criança elabora seus


pensamentos assim como também, desenvolve sua imaginação e criatividade.

No entanto, muitas vezes o brincar ainda é confundido com falta de


seriedade e sem importância, pois o brincar na nossa sociedade ainda é
carregado de preconceitos.

Por outro lado, a importância do brincar é ressaltada pela Lei Federal nº


8069/90, ECA, que defende que toda criança tem o direito de brincar, além de
enfatizar o direito à vida, à saúde, à liberdade, a dignidade, ao respeito, à
educação, à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à cultura e à proteção
ao trabalho.

O entendimento do estatuto, aliado a uma proposta educativa


contextualizada, poderá colaborar na organização do trabalho de
aprendizagem, tendo em vista o bem-estar da criança. As brincadeiras são
linguagens capazes de permitir à criança o compartilhamento de significados,
valores culturais, ideias, emoções, a apreender a tomar decisões, socializar,
cooperar e utilizar a motricidade promovendo um crescimento pessoal e
coletivo no processo da aprendizagem.
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2. A IMPORTÂNCIA DA BRICADEIRA COMO ESPAÇO DE


CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE

De acordo Regina Pedrosa (2005), em seu artigo sobre aprendizagem e


subjetividade, pode se dizer que a brincadeira exerce um papel fundamental na
constituição do sujeito ao possibilitar à criança a criação da sua personalidade,
seja pela busca de satisfazer seus desejos ou por exercitar sua capacidade
imaginativa, comunicativa, criativa e emocional.

Freud (1920/1981) e autores psicanalíticos como Winnicott


(1975) e Dolto (1999) contribuem para o entendimento da
importância da brincadeira no desenvolvimento da criança.
Winnicott, a partir dos seus estudos na clínica infantil, defende
a tese de que é necessário se estudar o brincar como um
fenômeno que ocorre tanto com a criança como com o adulto
nas suas formas diferenciadas. A brincadeira é universal e é
própria da saúde, facilita o crescimento, desenvolve o potencial
criativo e conduz aos relacionamentos grupais. Nesse sentido,
o autor entende o brincar como algo que, por si só, é uma
terapia com possibilidade autocurativa. Quando as crianças
sentem que os outros estão livres e também podem brincar,
elas se sentem confiantes para fazê-lo.

Winnicott (1975), também fala que quando a criança não é capaz de


brincar, há algo errado, fazendo-se necessário trazê-la para o seu estado
natural em que ela possa brincar.

Para a elaboração dos conflitos que atingem as crianças no decorrer de


seu crescimento, aquilo que a está incomodando e não consegue ser
verbalizado, precisa ser exteriorizado de outra maneira. O brincar é a forma
natural e saudável que a criança encontra para resolver essas questões. Ao
brincar, a criança coloca no objeto da brincadeira suas frustrações, medos e
tudo mais que a aflige.

De acordo com Lopes e Bernardino (2011), a criança que não brinca não
se aventura em algo novo, desconhecido. Se, ao contrário, é capaz de brincar,
de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceitado o desafio do crescimento, a
possibilidade de errar, de tentar e arriscar para progredir e evoluir.
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Desta forma Winnicott também diz que:

O brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode


ser uma forma de comunicação na terapia: finalmente, a
psicanálise foi desenvolvida como forma altamente
especializada do brincar, o serviço de comunicação consigo
mesmo e com os outros. (1975, p. 63).

O brincar no sentido clássico não é para a criança apenas uma


necessidade biológica, mas é também uma forma de descarregar suas
energias. Ao brincar a criança traz uma ação verdadeira, como suas
experiências emocionais, e torna reconhecíveis suas potencialidades.

Gonzalez Rey (1999) traz o lúdico como uma expressão da


subjetividade nas relações dos sujeitos e a possibilidade da reconfiguração
dessa subjetividade.

Segundo Amorim (2008), o brincar é tão importante quanto o comer,


dormir e falar. Quando o bebê está mamando vai interagindo com a mãe ao
brincar com seus dedinhos, expressando seu carinho através da brincadeira.

De acordo com o referencial curricular (1998) diz que;

Brincar é uma das atividades fundamentais para o


desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a
criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de
gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na
brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas
brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas
capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a
memória, a imaginação. Amadurecem também algumas
capacidades de socialização, por meio da interação e da
utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (1998.
p.22).

O brincar é uma realidade intermediária entre o mundo interno e o


mundo externo, onde segundo Winnicott (1975), o lúdico propõe vínculo,
interação, diálogo, confiança através do simbólico, servindo não só para a
reorganização interna da criança, mas também para ser observado pelo olhar
terapêutico. O brincar traz os esquemas que a criança usa para organizar as
brincadeiras e que são os mesmos que ela usa para lidar com o conhecimento.
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Para aprender brincando a criança precisa da afetividade dos adultos


que a rodeiam como estimulo. O ambiente em que a criança está inserida é
importante para que ela tenha condições de expressar seus sentimentos, assim
como ter estímulos para realizar as brincadeiras.

Segundo Vygotsky (1987), ao brincar a criança espelha suas atividades


nas atividades dos adultos e é através das relações com os adultos que as
crianças atribuem sentido aos brinquedos.

Os significados que emergem das situações imaginárias


sobrepõem-se aos significados atribuídos aos objetos e ações
na vida real, o que possibilita uma nova relação entre o campo
da percepção e o campo do significado. Na brincadeira, a
criança aprende a agir em função do que tem em mente, ou
seja, do que está pensando, mas não está visível, apoiando-se
nas tendências e nos motivos internos, e não nos impulsos e
motivos provenientes das coisas. (VYGOTSKY, 1933/2008,
p.29).

Os brinquedos de manuseio estimulam o relacionamento com o grupo,


diferentemente dos brinquedos tecnológicos, onde as crianças brincam
sozinhas. Winnicott (1975), diz que a brincadeira é uma maneira da criança se
comunicar e se relacionar com as outras crianças, tendo a oportunidade de
interagir com o mundo.

Lopes e Bernardino (2011) citam que segundo Freud (1908/1980), se o


brincar for caracterizado cada vez menos pela criatividade e fantasia infantil e
mais por produtos prontos, objetos ready-made, que pré-determinam a
finalidade, as crianças da atualidade acabam vivenciando frequentemente o
tédio, apesar do supérfluo de brinquedos ou justamente por causa dele.

De acordo com Oliveira (1993), o brincar não é somente uma diversão,


mas é uma forma complexa através da qual a criança se comunica consigo
mesma e com o outro e consegue melhorar suas habilidades e desenvolver
sua personalidade. Brincadeira é coisa seria, pois faz parte da cultura da
criança.

Segundo Vygotsky (1987), o brinquedo como atividade que dá prazer é


insuficiente, porque existem outras experiências que podem ser mais
agradáveis à criança.
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Sendo assim podemos afirmar que o brincar é uma forma de expressão


e comunicação das crianças, pois além do prazer que o ato proporciona para
elas, é a partir dele que a imaginação e a criatividade conseguem se expandir,
fazendo com que suas vivências sejam resinificadas promovendo o
desenvolvimento dos aspectos cognitivos e subjetivos. Brincar é uma
necessidade elementar das crianças; é o seu método de apropriar-se do
mundo e desenvolver suas competências.

3. O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E OUTRAS


HABILIDADES DA CRIANÇA ATRAVÉS DAS BRINCADEIRAS

Vygotsky (1987), atribuiu relevante papel ao ato de brincar na


constituição do pensamento infantil, mostrando que é no brincar, jogar que a
criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil e motor. A criança por
meio da brincadeira constrói seu próprio pensamento.

Freire (1997), considera que os brinquedos estimulam diversas


habilidades, tais como: o raciocínio lógico, a atenção, a concentração, a
compreensão, a percepção visual e a coordenação motora. A criança aprende
através dos brinquedos educativos, como o jogo da memória, quebra-cabeça e
jogos de encaixe, as cores, formas geométricas e noções sequências logicas.

Os jogos ajudam no desenvolvimento de várias habilidades e


capacidades nas crianças, pois é a maneira natural de interagirem entre si,
vivenciando situações, manifestando questionamentos, criando e obedecendo
a regras, formulando estratégias e verificando seus acertos e erros e
planejando novas ações.

Segundo Piaget (1976), os jogos são importantes instrumentos de


desenvolvimento para as crianças, pois proporcionam situações que podem ser
exploradas de diversas maneiras, tendo como objetivo o prazer de jogar.

Vygotsky (Id), afirma que através do brincar a criança aprende a agir


numa esfera cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações.
Segundo ele, o brinquedo estimula a curiosidade e a autoconfiança,
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proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da


concentração e da atenção.

A brincadeira, seja simbólica ou de regras, não tem apenas um


caráter de diversão ou de passatempo. Pela brincadeira a
criança, sem a intencionalidade, estimula uma série de
aspectos que contribuem tanto para o desenvolvimento
individual do ser quanto para o social. (CORDAZZO; VIEIRA,
2007, p.5)

Oliveira (2003), apresenta que as atividades lúdicas ajudam as crianças


na hora da adequação do tônus postural, da autonomia e da capacidade de
comunicação.

O jogo em seu sentido integral é o mais eficiente meio


estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a
criança (e até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja.
Quando entretido em um jogo, o indivíduo é quem quer ser,
ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a
ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande,
do anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle
dos impulsos, a aceitação das regras, mas sem que se aliene a
elas, posto que são as mesmas estabelecidas pelos que jogam
e não impostas por qualquer estrutura alienante. Brincando
com sua especialidade, a criança se envolve na fantasia e
constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde desejaria
viver, e o mundo real, onde precisa conviver. Para Huizing, o
jogo não é uma tarefa imposta, não se liga a interesses
materiais imediatos, mas absorve a criança, estabelece limites
próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo
com harmonia. (ANTUNES, 1999, p.17.)

Sendo assim os jogos e as brincadeiras são visto com fins


psicopedagógicos para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil.

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de


exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da
real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento
necessário e transformando o real em função das
necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de
educação das crianças exigem todos que se forneça às
crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas
cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso,
permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET, 1976,
p.160).
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Também para Santos (2000), o desenvolvimento do aspecto lúdico


facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora
para uma boa saúde mental, prepara um estado interior fértil, facilita os
processos de socialização, comunicação, expressão e construção do
conhecimento.

De acordo com Paín (1985), além de ensinar é importante desenvolver a


criança através do brincar em que ela vai elaborando sua criticas e autonomia
de pensamento.

Fernández (2001), relata que o pensamento não é autônomo, e


dependem das ligações, desejo e suas experiências entre ensinante e
aprendente, pois a autoria de pensamento fornece elementos a autonomia.

Em o Saber em Jogo, Fernández diz,

A autoria de pensamento se faz possível e necessária, para


que um ser humano conecte-se com a condição humana, mais
preciosa da liberdade, Torna-se cada vez mais necessário que
dirijamos nossa ação para produzir condições facilitadoras da
autoria de pensamento. (2001, p, 93).

Sendo assim, a criança ao descobrir sua capacidade de pensar e de se


reconhecer, torna-se autor da sua própria vida. A forma de desenvolver a
identidade e de adquirir sua própria autoria é brincando.

De acordo com Vieira (2014): “A não criatividade aparece na forma com


que lidamos com o mundo, no medo, na insegurança e na incapacidade de
sermos criativos diante dos problemas que nos são apresentados”. (p. 54).
Quando a criança não consegue usar sua criatividade ou tem dificuldade de
brincar, ela não está vivenciando o seu espaço potencial. Desta forma, ela vai
criando um espaço falido onde começam a se manifestar as dificuldades de
aprendizagem.
Por outro lado, o uso do brinquedo permite a realização de um trabalho
pedagógico que possibilita a construção do conhecimento, da aprendizagem e
do desenvolvimento das diversas habilidades e competências da criança.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo apresentamos a importância do brincar, ressaltando que


este ato não é somente uma forma de entretenimento sem importância, mas
um importante recurso na exploração e aquisição de conhecimentos.

O brincar que pode ser usado como lazer pelas crianças é o mesmo
instrumento que possibilita o acesso ao conhecimento. Aquilo que às vezes é
visto pelos pais, responsáveis ou professores como um passatempo, é na
verdade a grande possibilidade de crescimento individual do ser humano.

De acordo com a pesquisa bibliográfica, a literatura citada ressalta a


importância do brincar para o desenvolvimento do processo de aprendizagem,
podendo ser usado como instrumento de avaliação e desenvolvimento
psicopedagógico. Através do brincar é possível observar as manifestações do
mundo interno da criança e do meio externo em que esta inserida, suas
habilidades psicomotoras e cognitivas, sua imaginação e criatividade, assim
como suas dificuldades e conflitos. A brincadeira é um recurso interno da
criança que facilita a aprendizagem por proporcionar a possibilidade de
experimentação e elaboração do mundo, das relações sociais e das emoções
com autonomia e criatividade.

Segundo o autor Winnicott (1975): “A brincadeira que é universal e que é


própria da saúde. O brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde, o brincar
conduz aos relacionamentos grupais”. (p. 70)

Sendo assim, podemos afirmar que a brincadeira na infância é uma


forma de estimular a aprendizagem da criança e o seu desenvolvimento
saudável. Entendemos que, a criança ao brincar, estrutura através de sua
própria sua lógica e de acordo com seu conteúdo sociocultural e suas
necessidades, o seu desenvolvimento psicossocial.

O brincar pode ser um instrumento indispensável na aprendizagem, no


desenvolvimento e na vida das crianças, e sua utilização no processo
pedagógico auxilia as crianças a enfrentarem os desafios que lhe surgirem.

Enfim concluímos que brincar é uma coisa séria e deve ser estimulado
em crianças de todas as idades, nas escolas e em suas casas. O brincar é
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essencial à criança, pois auxilia a sua formação na esfera emocional, social e


física contribuindo para seu aprendizado e desenvolvimento global.

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