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ESPECIALIZAÇÃO EM
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
“CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO”
Além disso, nos estudos, mesmo tendo perspectivas positivas para sua futura
carreira profissional, Camila tende a buscar evitar possíveis resultados indesejados
(reprovações) por meio de tentativas de desistência do curso universitário, ao mesmo
tempo, apresenta uma autodisciplina insuficiente para cumprir a rotina de estudos.
Dentro desse contexto, ela apresenta comportamento de indisciplina, condicionando
suas ações, em relação as suas tarefas diárias, as suas motivações a nível emocional.
Por esse motivo, tem dificuldade para cumprir as atividades necessárias para alcançar
as notas das avaliações na universidade. Segundo Liahy (2021), esse comportamento
revela um certo nível de intolerância ao desconforto, visto a incapacidade da paciente
em guiar suas ações em prol de um objetivo, mesmo que não se sinta motivada
emocionalmente, tenha que tolerar emoções difíceis (desconforto construtivo) ou fazer
consistentemente algo que não quer para atingir esses objetivos, como, por exemplo,
estudar para que possa obter seu diploma.
Quanto ao manejo das emoções, Leahy; Tirch; Napolitano (2013) pontuam que
as pessoas vivenciam emoções de vários tipos e desenvolvem estratégias eficazes e
ineficazes para lidar com elas. A grande questão, por exemplo, não é sentir ansiedade,
mas o sujeito ter em si a capacidade de reconhecê-la, aceitá-la, usá-la quando
possível e continuar a funcionar de forma saudável apesar dela. Visto que, as
emoções desempenham um papel central na vida de todas as pessoas, pois sem elas
a vida não teria significado, textura, riqueza, contentamento e vínculo no contexto
social. Ao passo que, pela via das emoções identificam-se as necessidades, a
presença das frustrações e o desejo de fazer cumprir direitos. Sendo assim, as
emoções também conduzem ao caminho das mudanças, ajuda a identificar situações
críticas, assim como, reconhecer quando se está satisfeita. No entanto, Camila, assim
como muitas outras pessoas, sentem-se atravancada por suas emoções, pois,
intolerante e se sentindo impotente diante dos sentimentos, percebe-se inapta a lidar
com emoções difíceis, como, por exemplo, ansiedade e tristeza.
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No que diz respeito aos eventos privados, com base na teoria da Terapia de
Aceitação e Compromisso, a aceitação torna-se possível para o paciente a medida
que ele vai avançando no processo de desfusão: construir a perspectiva de que esses
eventos não são uma caracteristica estática de sua natureza, ele não é o que pensa
ou sente. Com a desfusão, os pensamentos e as emoções perdem sua dimenção de
importância e determinação nas ações dos pacientes, por não serem mais observados
pela pessoa como uma verdade absoluta ou uma caracterisca que determina sua
natureza (Saban, 2015).
Nessa perspectiva, Beck (2013) salienta que todo evento traz uma avaliação
cognitiva que influencia a emoção e o comportamento. Dentro desse contexto, a
Teoria Cognitiva Comportamental entende o ser humano pela lente da chamada
Tríade Cognitiva, que compreende a forma como o indivíduo pensa, sente e se
comporta diante dos estímulos, em relação a si, aos outros e ao futuro. Por exemplo,
se um indivíduo tem um pensamento distorcido diante de um determinado evento
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(pensamento promovido por uma avaliação cognitiva que tem como base avaliativa
as construções distorcidas de mundo constituídas pelo indivíduo) ele pode vir a se
sentir mal e, consequentemente, poderá se comportar de forma inadequada diante da
situação.
2- CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO
resistência para cumprir a rotina necessária para alcançar os resultados que deseja
nos estudos.
Posto isso, no caso de Camila, eu observo que pode haver risco de ideação,
dependendo de a intensidade da frustração diante de alguma experiência de vida
desafiadora, em decorrência da limitação em poder controlar resultados. Nesse caso,
desistir por completo seria uma forma de controle sobre os resultados de sua vida.
Essas experiências desafiadoras, que podem aumentar o risco de ideação em Camila,
incluem, principalmente, ela entrar, de fato, em um processo de desistência quanto
aos estudos e em caso de conflito ou abandono em suas relações.
Desde pequena, Camila se sente solitária, relata que o irmão foi “o filho
desejado” e que ela foi “a filha não desejada”, já que os pais teriam planejado a
gestação do irmão, e a dela não. Segundo Camila, os pais dela sempre tiveram
elevadas expectativas quanto a vida do irmão, mas que, desde muito cedo, ele já
demonstrava um comportamento difícil e resistente, contrariando as expectativas de
um comportamento ideal que esses pais tinham em mente.
Diante disso, como o irmão demandava muito de seus pais, Camila entendeu
que não havia espaço para ela, “a filha não desejada”, manifestar suas preferências,
necessidades e emoções, ela construiu a crença de que não era tão amada quanto
seu irmão e que, por não ter sido um bebê planejado como ele, não possuía os
mesmos direitos que ele dentro do sistema familiar, quanto a manifestar suas
preferencias, necessidades e emoções. Diante disso, Camila entendeu que deveria
inibir suas emoções e não comunicar necessidades e preferências como forma de
evitar sobrecarregar ainda mais o ambiente e causar mais problemas aos pais, visto
que os pais já estavam bastante sobrecarregados pelas demandas de seu irmão, “o
filho desejado”. Segundo Camila, ela sentia como se o irmão tivesse todo direito de
manifestar suas necessidades e emoções, apenas pelo fato de ser “alguém que fazia
parte do Plano familiar”. Na vida adulta, o irmão chegou a ter problemas com abuso
de álcool, fato que demandou ainda mais atenção da família.
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Pude observar que a forte ansiedade de Camila, no início das sessões, tinha
origem em uma profunda tristeza pela frustração de nunca conseguir sentir que os
pais a amavam incondicionalmente, como amavam seu irmão. Camila entendia a
relação que os pais ofereciam ao irmão como uma falta que existia nela: a qualidade
de não ser desejável. Por isso, acabava por se colocar em um lugar de privação e
submissão em relação com os pais e ao irmão, como tentativa de ser amada e
valorizada, sendo a “boa” filha, a filha sem demandas. Além disso, muitas vezes, a
paciente serve como ponte quando os pais desejam saber algo da vida do irmão, pois,
segundo ela, o irmão é fechado e, o pouco que se abre, é com ela. Diante disso, ao
longo das sessões, ficou claro que os pais acabavam por corresponder a relação que
Camila oferecia, ela não tinha consciência de que o problema era o lugar que ela
estava sempre se colocando. Em decorrência disso, Camila estabeleceu esse mesmo
padrão de funcionamento em outras relações, buscando controlar possíveis
abandonos por meio de pressupostos como “se eu me privar, fizer o que (eu penso
que) o outro quer que eu faça, inibir minhas emoções, então não serei abandonada.
Nesse sentido, Camila sente forte ansiedade quando passa por alguma
experiência, interna ou externa, que a leve refletir sobre um possível abandono,
principalmente se for um parceiro amoroso. Mas, também, sente forte ansiedade e
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Propensões Cognitivas
Como Explorar Como se Comporta?
Disfuncionais
Segundo a paciente, ela não recorda de nenhum evento que ela considere um
estressor em sua infância e adolescência. Apenas se recorda de uma circunstância
em que o irmão bateu nela com uma corda por ter interpretado mal um movimento
que ela fez com essa mesma corda.
As situações que essas questões ficam mais visíveis são as que ela precisa se
posicionar quanto as suas necessidades e preferências e/ou comunicar suas
emoções, pois sente que suas expressões podem sobrecarregar e/ou ferir as outras
pessoas, como, por exemplo, quando ela precisou comunicar ao namorado o quanto
ela se sentia mal por ele cancelar alguns compromissos entre eles em cima da hora
do evento ou por ele quebrar algum combinado, até mesmo quando ela precisa
conversar algo mais sério, como, por exemplo, o fato dela se sentir mal quando eles
saem e ele exagera na bebida alcoólica e acaba passando muito mal.
quando não consegue alcançar as notas necessárias, ela tem a tendência a entrar em
um “modo de desistência”, proferindo frases como “acho que isso não é para mim”,
“eu não consigo me motivar” ou “estou pensando em desistir do curso”.
Para ajudar no manejo das reações fisiológicas, foi proposto que, quando a
paciente percebesse os sintomas da ansiedade em seu corpo, ela realizasse a
respiração diafragmática respirando e contando até quatro, segurando o ar e contando
mais quatro, soltando o ar e contando até oito, repetindo até se sentir mais tranquila.
limites, emoções, mas que isso pudesse ser feito de uma forma mais assertiva,
utilizando, principalmente, a seguinte frase adaptada com base na proposta de
Rosenberg (2006): “quando você faz X, eu penso/sinto Y. Por exemplo, a paciente
utilizou em um diálogo com os pais: “quando eu venho passar alguns dias com vocês
e vocês insistentemente criticam minha cachorra, eu penso que estamos
incomodando e me sinto triste”.
busca por controle, a partir da perspectiva de que podemos encarar uma experiencia
com investimento, observação e curiosidade, ao invés de buscar controlar a resposta
ou o resultado.
Essa estratégia se mostrou muito eficaz. Visto que, a paciente relatou que
após as nossas sessões e aplicação dessa estratégia, a relação e comunicação
familiar mudou muito para melhor, a ponto de os pais da paciente relatarem a ela que
sua rápida mudança foi algo “inacreditável”, pois os embates sessaram à medida que
as explosões foram substituídas por uma comunicação assertiva.
Camila apresenta crença nuclear de desamor (“eu não sou desejada/amada”; “eu
não faço parte do plano”), em sua visão de mundo acredita que as pessoas são
imprevisíveis e, quanto ao futuro, teme ser abandonada.
Camila chegou para as primeiras sessões com uma postura crítica quanto ao
que estava sentindo nos últimos tempos, relatando que não gostava de se sentir
ansiosa e ter certos tipos de pensamentos, chegando a me perguntar se o processo
terapêutico iria curar ela de sentir ansiedade, relatando que não aguentava mais “ser
ansiosa”. As intervenções com o objetivo de ajudar no processo de regulação
emocional foram conduzidas por meio de diálogo socrático com base na técnica
“aceitação das emoções” proposta por Leahy (2019, p. 423) e psicoeducação segundo
Saban (2015) sobre a nossa tendência a entender o que sentimos, pensamos e
vivemos como uma característica do que somos.
Diante disso, para ajudar no manejo das reações fisiológicas, foi solicitado
que, quando a paciente percebesse os sintomas da ansiedade em seu corpo, ela
realizasse a respiração diafragmática respirando e contando até quatro, segurando o
ar e contando mais quatro, soltando o ar e contando até oito, repetindo até se sentir
mais tranquila (Broering, 2021).
sempre estavam acertando no que ofereciam, pois nós precisamos saber comunicar
ao outro as nossas necessidades, perspectivas, preferências e como nos sentimos
diante do que nos é oferecido em nossas relações, mas que, para isso, precisamos
conhecer e respeitar os nossos limites.
Com base nisso, levantamos os elementos que fazem parte do nosso círculo
das preocupações produtivas, que estão sob a influência do nosso controle, como,
por exemplo, nossos investimentos nas relações e nos estudos; e também o que está
no âmbito das preocupações improdutivas, como, por exemplo, com os resultados
precisos dos nossos investimentos e as ações e decisões das outras pessoas. Essa
intervenção abriu caminho para construção de uma perspectiva no sentido de Camila
direcionar seu foco de atenção em controle para os elementos de sua vida que
precisam de monitoramento para um resultado a médio e longo prazo, como, por
exemplo, sua rotina de estudos no âmbito acadêmico e os aprendizados adquiridos
dos investimentos feitos nas relações no contexto pessoal.
Diante desse quadro, ela relatou não saber que decisão tomar, que queria
desistir de tudo, mas, que, ao mesmo tempo, sentia-se confusa e insegura. Diante
disso, foi feita uma intervenção por meio da técnica proposta por Beck (2013, p. 279)
“tomando decisões”. Nesse caso, nós construímos possibilidades por meio do
levantamento das vantagens e desvantagens de cada opção a fim de que ela
chegasse a uma conclusão. Como resultado da intervenção, ela optou por retornar à
cidade universitária e continuar o curso.
4- DESFECHO / CONCLUSÃO
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7. Liahy, R. L. (2021). Não Acredite em Tudo que Você Sente: identifique seus
esquemas emocionais e liberte-se da ansiedade e da depressão. Porto Alegre:
Artmed.