Você está na página 1de 8

Introdução

Uma característica básica da vida humana é a sociabilidade. Por isso, podemos


considerar que a dificuldade em interagir socialmente constitui um problema
relevante, e quando esta passa a causar prejuízos significativos, caracteriza-se,
então, o transtorno.

O principal componen­te do transtorno de ansiedade social (TAS) é o medo de


ser avaliado negativamente em situações sociais. A pessoa com TAS tem
medo de agir ou mostrar sintomas de ansiedade, de maneira que lhe seja em­-
baraçoso ou humilhante, e procura evitar as situações sociais ou as su­ porta
com bastante desconforto (APA, 2014).

Se você foi diagnosticado com TAS ou se identifica com a descrição desse


transtorno, deve estar suportando as situações sociais com muito desconforto
ou evitando a todo custo enfrentá-las, o que pode estar prejudicando sua rotina,
mas saiba que você não está sozinho: a ansiedade social é o terceiro transtorno
psiquiátrico mais comum, atrás da depressão e alcoolismo, e pode ser tratado
com psicoterapia e/ou medicação. Sentir-se ansioso em situações sociais é
uma experiência universal e necessária. Talvez seja mais fácil imaginar isso em
outros tempos, quando tínhamos que sair em grupo para caçar e nos proteger.
Pertencer ao grupo, ser aceito, significava sobreviver. Por isso, algum grau de
ansie­dade em situações sociais é desejável e benéfico. O problema é quando a
ansiedade torna-se um impedimento para se relacionar, atrapalhando
significativamente a vida e trazendo intenso sofrimento.

Muitas pessoas com TAS consideram-se uma farsa e pensam que, ao deixar
outras pessoas se aproximarem, estas poderão criticá-las ou rejeitá-las. Isso
gera uma preocupação grande em disfarçar os sintomas de ansiedade.

No entanto, o objetivo do tratamento é entender, aceitar e manejar o problema.


Isso significa não precisar mais se preocupar com o que os outros vão perceber
a seu respeito, afinal, ter e demonstrar fragilidades faz parte da vida.

Os clientes com ansiedade desadaptativa terão grande


proveito em entender que o que sentem tem um valor
evolutivo e que, portanto, não há como se livrar da
ansiedade. Sendo assim, o ideal é aceitar e aprender
maneiras de lidar com ela sem que nos cause prejuízos.
Além disso, é desejável que o cliente entenda como
ocorrem e quais as consequências dos sintomas físicos, de
forma que possa se sentir mais confiante ao enfrentar as
situações e experimentar sensações desagradáveis,
sabendo que estas não oferecem perigo.
como os pensamentos
influenciam o
Transtonso de
ansiedade social

Sabe-se que a maneira como interpretamos os fatos


influencia o que pensamos e sentimos emocional e
fisicamente. Quando interpre­tamos e avaliamos as
situações, tendemos a encarar nossos pensamentos como
verdades absolutas. No entanto, em algumas ocasiões,
podemos.

ter pensamentos equivocados e distorcidos, que vão gerar


reações emocionais e físicas condizentes com tal
pensamento. Desta maneira, podemos nos sentir mal por
interpretações inadequadas, e até mesmo experimentar
um maior desconforto ao lidar com sentimentos e reações
desagradáveis.

Ao estar em uma situação social que causa ansiedade, o


fóbico social ativa sintomas cognitivos (pensamentos),
sintomas emocionais (sentimentos), sintomas fisiológicos
(reações no corpo) e sintomas comportamentais (o que
faz na situação) Essas reações aparecem descritas no
Quadro a seguir.

Menor concentração, não saber o que falar, pensamentos


Sintomas Conitivos
negativos

Sintomas Emocionais Medo, pânico, terror, angústia

Sintomas Biológicos Tremor, rubor, suor, voz embargada

Sintomas Comportamentais Evitação da situação, evitação sutil: desviar o olhar, falar pouco
como os pensamentos
influenciam o
Transtonso de
ansiedade social

No TAS, o modo como a pessoa interpreta as situações é


fundamental para entender o mecanismo da ansiedade. A
expectativa de uma situação social, ou estar nela de fato,
faz com que tenha pensarnentos negativos sobre si
mesmo e sobre o que as pessoas à sua volta acharão ao
seu respeito.

Isso tende a aumentar consideravelmente o seu nível de


ansiedade. Ao entrar ansioso nessas situações, provável
que a pessoa realmente não consiga causar uma
impressa positiva, confirmando seu pensamento de que é
inadequado.

Sabe-se que, por vezes, as pessoas que se encaixam nos


critéruio de TAS podem se beneficiar de treinamentos em
habilidade sociais conseguindo promover mudanças e ter
um desempenho satisfatório nos eventos sociais. Mas
também é possível que a pessoa não consiga perceber as
habilidades que já possui, e esteja tão preocupado com si
atuação que não consiga notar quando tem um
desempenho posito.

Exercícios (feito fora e dentro das sessões de terapia):


Ensinar o paciente a detectar os pensamentos
automáticos é essencial para avaliar quais dis­torções
cognitivas são mais frequentes e, posteriormente, realizar a
reestruturação cognitiva. 0 Registro Diário de
Pensamentos Disfuncionais (RDPD) (Beck, 2013, p.216)
pode ser uma ferramenta interessante para que o cliente
tenha insight.
Como o meu
problema pode
estar sendo
mantido?

Como você já sabe, a sua interpretação sobre as situações


pode, por vezes, estar distorcida em relação aos dados de
realidade/fatos. Os pensamen­tos negativistas e catastróficos
podem provocar as reações de ansiedade, fazendo com que
você passe a evitar ou enfrente com grande incômodo as
situações sociais.

Além disso, tais distorções podem se autoperpetuar,


direcionando as avaliações, o que dificulta a percepção de
eventos posi­tivos nos quais se teve um desempenho
satisfatório.

A evitação dos eventos sociais tem grande contribuição na


manu­tenção do TAS. Você se sentirá aliviado ao não se colocar
nas situações, o que, em curto prazo, é uma estratégia eficaz
para diminuir a ansie­dade. Porém, em longo prazo, tende a
manter a necessidade de evitar, fugir ou ter comportamentos
de segurança, impedindo a criação de novas experiências que
gerem novas interpretações, o que mantém a ideia de que os
eventos sociais oferecem algum risco.

Além disso, a evitação contribui para o isolamento, causan­do


grande sofrimento e fortalecendo crenças relacionadas a se
perce­ber como inadequado e desinteressante.
ro ble ma
o o m e u p
Com a r s en do
pod e es t
tid o ?
man

Outro aspecto importante é o que chamamos de processamento pré-


evento:
é caracterizado pela expectativa frente a algum evento social, sobre o
que vai ou pode acontecer. E durante o pré-evento que podem surgir
lembranças de situações anteriores entendidas como falhas,
pensamentos sobre incapacidade de lidar com a situação e de que
poderá ser rejeitado ou passar vergonha. Provavelmente, diante dessa
expectativa, você fará um rastreamento de todas as possibilidades
que esse evento tem de ser uma experiência desagradável, enquanto
terá dificuldade de pensar em possibilidades e aspectos positivos.
Neste contexto, é possível que você já tenha um nível de ansiedade
impor­tante, chamado de ansiedade antecipatória, podendo
apresentar as mesmas reações emocionais e fisiológicas que teria se
o que pensou de fato ocorresse.

A tendência de manter a atenção autofocada também é um aspecto


importante do TAS. Nas interações, os indivíduos tendem a dirigir a
atenção para si, sobre o que estão pensando, sobre suas reações
emocio­nais e físicas, e como será a percepção e avaliação das pessoas
a sua volta. Ao perceber reações de taquicardia, tremor e sudorese, por
exemplo, você pode ter pensamentos de autoavaliaçâo negativa. Além
disso, focando em si, você deixa de prestar atenção no ambiente, isso
preju­dica o desenvolvimento de habilidades sociais, e pode ser
interpretado como desinteresse, o que, por sua vez, acaba por tornar real
justamente os temores que provocaram a ansiedade.

Quando você está com a atenção autofocada, é provável que tam­bém


perceba o aumento da intensidade de suas reações. Ficar muito atento a
uma reação faz com que ela aumente, e a isso damos o nome de
autoprocessamento. E como se você enviasse uma mensagem para seu
cérebro confirmando que se trata de uma situação de risco. Dessa forma,
seu organismo age sob influência do falso perigo e trabalha para
aumentar as suas chances de sobrevivência, tornando os sintomas da
ansiedade mais intensos.

O processamento pós-evento também é um componente impor­tante na


manutenção do transtorno. Após o fim do evento, as pessoas com TAS
podem fazer uma retrospectiva, revendo mentalmente cada cena da
situação em busca de falhas. Isso tende a fortalecer a autopercepção
negativa, a percepção do evento como aversivo e a necessidade de
evitar futuros eventos. Esse processo é facilitado pelas interpretações
equivocadas do pré-evento e pela distorção que a atenção autofocada
causa, dificultando a apreciação de aspectos positivos.
Ciclo do
TAS

possível situação social: fazer uma apresentação em público no trabalho

→ ciclo antecipatório

Pensamentos:
"vai ser horrível, não vou conseguir",
"ficarei vermelho"
"Todos vão notar"

Sentimentos:
ansiedade, medo

Comportamentos: evitar preparar a apresentação

Reações Fisiológicas: taquicardia, suor

Na situação social: falar em públcio

Pensamentos:
"estou ansioso, ficando vermelho"
"vai me dar branco"
todos estão percebendo que estou ansioso"

Sentimentos:
ansiedade

Comportamentos: terminar a apresentação o mais rápido


possível

Reações Fisiológicas: taquicardia, suor, tremor, rosto vermelhor,


branco na mente

Pós-evento: ao sair da apresentação

Pensamentos:
"fui horrível"
"não sou capaz"
"passei muita vergonha"

Sentimentos:
tristeza

Comportamentos: faltar vários dias da faculdade

Reações Fisiológicas: dor de cabeça

Fonte: Penido (2009)


como lid ar
com o T AS ?
1. Questionar pensamentos: Durante a psicoterapia, você vai
aprender a relativizar a maneira como pensa sobre si e
sobre o que as pessoas podem achar a seu respeito. Para
isso, será exercitado o questionamento dos pensamentos
que mantêm sua ansiedade através da busca de
evidências que comprovem ou invalidem a realidade das
suas avaliações.
2. Manejo dos sintomas: Você aprenderá estratégias para
lidar com os seus sintomas, ou seja, irá treinar seu
organismo a diminuir a ativa­ção gerada pela ansiedade,
reduzindo a intensidade das sensações corpo­rais e, em
consequência, as interpretações sobre seu desempenho e
sobre a avaliação de outras pessoas.
3. Treinamento de habilidades sociais (THS): Você terá a
opor­tunidade de desenvolver e fortalecer um repertório de
habilidades que favoreça a construção de um bom
desempenho social. Através desse trei­namento, poderá
exercitar a expressão de sentimentos, atitudes, desejos,
opiniões ou direitos de acordo com o contexto em que está
inserido. Além de entender e lidar melhor com a expressão
de tais habilidades em outras pessoas.
4. Enfrentamento: Você vai descobrir que o enfrentamento é o
que realmente diminui o medo e a ansiedade, e não a
evitação. Irá apren­der estratégias que o ajudarão a
enfrentar as situações sociais de forma gradual, no seu
tempo. Aos poucos, as situações que são muito desa­-
gradáveis, deixarão de causar o mesmo incômodo e
sofrimento que você sente hoje. Enfrentar também é uma
forma de testar e levantar mais dados de realidade que lhe
ajudem a criar interpretações mais condizentes com a
realidade.

Durante o tratamento cognitivo-comportamental você irá apren­-



der diversas estratégias que ajudarão a lidar com o TAS
será que
eu posso
conseguir?
Muitas pessoas acreditam que as características do TAS são aspectos da
personalidade ou até mesmo aspectos do caráter que acompanharão a
pessoa por toda a sua vida, impossíveis de serem mudados.

Além disso, o incômodo e sofrimento causados pelo transtorno por si só já
tornam a busca por ajuda um passo extremamente desafiador. No entanto,
a Terapia Cognitivo-Comportamental oferece técnicas e ferramentas que
tornam a mudança possível, respeitando seus limites e fazendo com que se
sinta cada vez mais confiante e capaz de lidar com os eventos sociais.

É natural se sentir sem saída dentro dessa situação, mas através do


tratamento você perceberá que pode se sentir esperançoso para alcançar
seus objetivos e investir em aspectos da sua vida que estavam ficando de
lado e te impedindo de viver uma vida que valha a pena ser vivida.

o que você aprendeu com essa explicação? (isso


é importante para que você realmente aprenda
mais sobre e tenha esperança!

Você também pode gostar