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Depressão e Ansiedade

Nesta página, e a titulo meramente informativo, poderá encontrar uma breve


descrição de algumas perturbações psicológicas, como é o caso de estados de
depressão e de ansiedade e a respectiva sintomatologia.
É extremamente importante lembrar que, a utilização da informação disponibilizada,
não deve ser utilizada para qualquer outro fim que não o de simplesmente informar.
Esta informação não deve em caso algum ser utilizada para processos de auto-
avaliação. Devo também referir que toda a informação aqui mencionada está de
alguma forma inserida na abordagem cognitivo-comportamental, um modelo
teórico-prático suportado por uma grande fundamentação científica, e que
pessoalmente considero ser extremamente eficaz nos objectivos a que se propõe. De
forma geral, normalmente obedece a um plano objectivo, estruturado, detalhado e
geralmente breve (sendo contudo ajustado a cada individuo), visando sobretudo a
modificação dos factores de manutenção, de interpretação e dos comportamentos
assumidos.

Depressão

A depressão é uma perturbação extremamente prevalecente entre as pessoas que


vivem nas ditas sociedades tecnologicamente desenvolvidas e que, para além de
provocar grande sofrimento pessoal, produz um claro transtorno ao nível do
desempenho social e profissional. Por motivos ainda não totalmente claros, o índice
de depressão entre as mulheres é aproximadamente duas vezes maior do que nos
homens. A depressão pode matar. As pessoas que sofrem de episódios de depressão
major, apresentam taxas de suicídio na ordem dos 15%, e este perigo, aumenta em
cerca de quatro vezes mais nas pessoas com idade superior aos 55 anos.

Parece cada vez mais provável, que a depressão não se trata de uma doença, mas sim
de um estado emocional. A origem da depressão não está ligada a um factor isolado,
mas ao potencial resultado de uma interacção de vários factores diferentes de
natureza histórica, ambiental e psicológica. Estes, podem incluem um histórico
familiar de depressão e alcoolismo, perda ou negligência precoce dos pais, eventos
negativos e traumáticos, falta de apoio social, cônjuge critico e/ou hostil e falta de
auto-estima a longo prazo.

É exactamente neste contexto, que reside o desenvolvimento da vulnerabilidade aos


factores externos que podem precipitar o desencadear da depressão. As pessoas
deprimidas apresentam um padrão de pensamento negativista em relação a si
mesmos, em relação ao meio e em relação ao futuro. Acham-se inadequados, sem
valor e indesejáveis e o seu futuro está cheio de obstáculos insuperáveis, frustrações e
perdas. A este conjunto de padrões cognitivos foi chamado tríade negativista (Beck,
Aaron 1982).

O modelo cognitivo por exemplo, propõem que o relacionamento das pessoas com o
meio que as rodeia, efectua-se através dos órgãos dos sentidos; visão, audição, olfacto
etc., e como tal, as emoções e os comportamentos são determinados pela percepção e
interpretação dos eventos.

Ou seja, as experiências vividas conduzem à formação de suposições ou concepções


gerais sobre a própria pessoa e o mundo, as quais serão posteriormente utilizadas para
organizar a percepção e orientar e avaliar o comportamento. Esta capacidade de
prever e compreender as experiências é importante, senão mesmo fundamental,
contudo algumas suposições podem tornar-se rígidas, absolutistas, resistentes à
mudança e, consequentemente disfuncionais ou mal adaptativas.

Claro que estas suposições disfuncionais por si só não justificam o desenvolvimento


do humor depressivo. Mas por exemplo, quando por força do curso natural da vida
ocorre um incidente crítico, como a perda de um grande amor, e o mesmo conduz à
activação de uma suposição tal como “ ser amado é fundamental para se ser feliz”, o
medo de não se ser feliz por via de possíveis rejeições torna-se intolerável.

Uma vez esta suposição activada, podem ocorrer uma série de pensamentos negativos
automáticos, interpretativos da experiência actual, de factos passados e/ou previsões
do futuro, que provocam novos pensamentos negativos numa espiral que conduz ao
desenvolvimento da depressão. Quando esta situação ocorre, os pensamentos
negativos automáticos tornam-se cada vez mais intensos e frequentes ao ponto de
ocuparem literalmente toda a mente.

Deste modo, forma-se um círculo vicioso em que quanto mais deprimida a pessoa se
encontra, mais pensamentos negativos ocorrem e, quantos mais pensamentos
negativos ocorrem mais deprimida se sente. Infelizmente, as pessoas que sofrem de
depressão são muitas vezes confrontadas com a ausência de empatia por parte dos
seus familiares e/ou amigos mais próximos, o que tende a agravar os sintomas e
sobretudo o isolamento a que estas pessoas se submetem.

Diagnóstico

Existe alguma dificuldade por parte dos profissionais de saúde no correcto


diagnóstico da depressão, porque normalmente a queixa expressa-se por um mal-
estar indefinido, tonturas, aperto no peito, nervosismo, angustia, queixas somáticas,
cansaço, falta de energia etc. Por outro lado, só porque as pessoas se sentem tristes,
abatidas ou apáticas não significa que estejam deprimidas.

Para diagnosticar a depressão é fundamental investigar o humor depressivo: tristeza,


desânimo, angústia, emoção, choro com facilidade, sensação de vazio. É importante
aferir a capacidade de sentir prazer, o ânimo para fazer as coisas e se é necessário
esforço para as actividades do dia-a-dia.

Outros sintomas a considerar, são o caso de alteração do apetite, perda ou ganho


súbito de peso, alteração do padrão de sono, diminuição da vontade sexual,
sentimentos de desvalorização, inferioridade, incompetência, culpa, dificuldade em
tomar decisões, de se concentrar ou mesmo pensar.
Talvez valha a pena referir, que ao longo do tempo têm sido feitas distinções entre
perturbações bipolares e unipolares, e entre depressões endógenas e reactivas (ou
neuróticas) e, embora a distinção entre várias formas clínicas de depressão tenda a
provocar controvérsia e polémica, eis alguns exemplos de categorias de perturbações
depressivas.

Episódio Depressivo Major

Pelo menos, cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes durante o mesmo
período de duas semanas (os dois primeiros obrigatoriamente): humor depressivo,
diminuição clara do interesse ou do prazer, alteração do peso ou do apetite, insónias,
agitação ou inibição psicomotora, cansaço ou falta de energia, sentimentos de
desvalorização ou culpa excessiva e inapropriada, dificuldade para pensar ou
concentrar-se, pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida.

Perturbação Distímica – (Distímia)

Esta é uma forma de depressão, caracterizada por sintomas pouco acentuados mas
sentidos durante muito tempo. Para além do humor cronicamente depressivo
durante mais de metade dos dias de pelo menos dois anos, devem estar presentes
também, pelo menos dois dos seguintes sintomas: alteração do apetite, alteração do
sono, pouca energia ou fadiga, baixa auto-estima, dificuldade de concentração,
sentimentos de falta de esperança. É comum um estado de irritação.
(etimologicamente, distímia significa mau humor).

Perturbação Depressiva Breve Recorrente

A gravidade e o padrão de sintomas são muito semelhantes aos do episódio


depressivo major, excepto na duração dos sintomas e da sua remissão. Estes episódios
duram de entre dois dias a duas semanas e, manifestam-se pelo menos uma vez por
mês durante um ano. As pessoas que sofrem deste tipo de depressão descrevem o seu
aparecimento como súbito, rápido e sem aviso.

Estas pessoas normalmente apresentam sérias dificuldades de interacção social uma


vez que a alteração súbita de um estado aparentemente normal para um estado
depressivo que as torna tensas, hipersensíveis, irritáveis e ansiosas pode ser difícil de
tolerar pela família, amigos ou colegas e sobretudo quando estes episódios se tornam
notórios e eventualmente comentados negativamente.

Perturbação Bipolar

O episódio depressivo pode eventualmente ser parte de uma outra categoria de


perturbação, anteriormente conhecida como desordem maníaco-depressiva. Neste
caso, além de episódios de humor depressivo existem momentos de euforia intensa,
conhecidos como episódios maníacos.
Na fase de mania, a velocidade do pensamento aumenta, tal como o nível de
excitação na fala e nos comportamentos, existe menor necessidade de dormir ou de
repouso, propensão para atitudes inconvenientes e, a possibilidade de humor irritável
com baixa tolerância a qualquer tipo de frustração. Podem também ocorrer a fuga de
ideias, delírios de grandeza e de invencibilidade e alucinações.

De acordo com a sintomatologia, existem outras categorias da perturbação bipolar,


como será o caso de apenas estar presente hipomania, um episódio de mania mais
leve e ás vezes sem a presença de humor irritável, ou o caso de mudanças muito
rápidas entre fases, eventualmente o caso de um quadro misto de mania e depressão
e, um quadro crónico de uma destas fases.

Intervenção

O primeiro passo ao nível da intervenção terapêutica, visa formular os problemas da


pessoa, a identificação das suas dificuldades e os factores que ajudam a consolidar este
padrão disfuncional. È fundamental a criação de uma forte aliança terapêutica, dado
que todo o processo irá assentar num trabalho em equipa, no qual tanto o terapeuta
como o paciente participam e colaboram. O objectivo é o de promover um novo
hábito de pensar, o ampliar da consciência da pessoa, e ajudar a interpretar a
realidade mais correctamente.

Ansiedade

Durante muito tempo, a ansiedade e a depressão foram consideradas como


pertencentes ao mesmo tipo de perturbação, até porque um grande número de
pessoas que se queixa quer de uma, quer de outra, apresentam um quadro misto de
ansiedade e de depressão.

Mas afinal o que é ansiedade? Na verdade, os sintomas de ansiedade são


experiênciados todos os dias por praticamente toda a gente. Medo, palpitações,
tremores, suores etc.; são por exemplo alguns dos sintomas sentidos num exame, uma
entrevista para um emprego, a necessidade de terminar atempadamente um trabalho.
Nestes casos, a ansiedade pode mesmo ser benéfica, auxiliando numa resposta
adequada à situação especifica a enfrentar.

No fundo, podemos dizer que o limite entre a ansiedade considerada normal e a


patológica é determinado pelo funcionamento das pessoas ansiosas, como pode ser o
caso de preocupações excessivas com insignificâncias, medo persistente e tido como
irracional, alteração de rotinas e actividades pelo nervosismo provocado pelas
mesmas etc.

Todos os seres humanos enfrentam perigos no seu dia a dia e, de uma maneira geral,
a percepção do mesmo produz uma resposta adequada à ameaça. No entanto, no caso
de pessoas em estado de ansiedade, o perigo tende a ser sistematicamente super
estimado, resultando numa resposta mal adaptativa e num comportamento não
desejado.

Pelo facto de se sentirem genericamente ansiosas, mesmo quando na ausência de


qualquer perigo evidente, estas pessoas desenvolvem recorrentemente um estado de
grande cansaço físico e emocional e muito frequentemente sentimentos de baixa
auto-estima.

Ao serem entrevistadas, invariavelmente referem pensamentos e imagens que


sugerem a percepção de um perigo real e considerável e como tal, a ansiedade
aparenta ser uma resposta perfeitamente compreensível.

Esta observação, conduziu ao desenvolvimento de terapias que visam ajudar os


pacientes a identificar, analisar e modificar os seus julgamentos de perigos iminentes
e os comportamentos que os mantêm. Recorrendo ao conceito central do modelo
cognitivo para as perturbações emocionais, é proposto que: não são os
acontecimentos em si que provocam as emoções negativas, mas sim a expectativa e a
interpretação dos mesmos.

Assim, fica um pouco mais claro entender-mos a diferença entre depressão e


ansiedade. Ou seja, na depressão as interpretações relevantes estão associadas à
percepção de perda; relacionamentos, status, eficiência. Por outro lado, na ansiedade
as interpretações relevantes estão associadas à percepção de perigo, tanto físico como
psicológico; animais, voar, público.

Esta interpretação excessiva vai activar automaticamente e na forma de reflexo, o


“programa de ansiedade” (Beck, 1976) que é uma reminiscência do tempo em que o
perigo espreitava o homem constantemente e que, neste caso o auxiliava contra o
ataque imprevisto de possíveis predadores. Este programa é constituído por um
conjunto de respostas:

 Mudança na estimulação autonómica como preparação para viagens aéreas,


lutas e desmaios.

 Inibição do comportamento recorrente.

 Sondagem selectiva do ambiente à procura de possíveis fontes de perigo.

Assim, se por um lado o programa de ansiedade pode ser útil quando confrontados
com perigos reais, já no caso de percepções erradas, a resposta pode ser inadequada à
situação. É por exemplo o caso de sentir a mão a tremer e ser interpretado como
indício de perda de controlo iminente, o que vai provocar mais ansiedade e tremor.

Diagnóstico
No diagnóstico das perturbações da ansiedade, é importante considerar inicialmente
dois tipos de estado de ansiedade. No primeiro caso, os ataques de pânico, que
consistem de um sentimento intenso de apreensão e medo de descontrole. O início é
súbito e repentino, e vem geralmente acompanhado de uma variedade de sensações
físicas como taquicardia, falta de ar, tremores, vertigens, náusea etc.
Este tipo de experiência conduz à percepção de se estar a correr o perigo iminente de
algum desastre, ataque cardíaco, perda de controlo emocional ou de se enlouquecer.

O segundo caso, engloba todas as outras manifestações como por exemplo, sentir-se
ansiedade e preocupação excessiva de uma forma constante mas difusa, como é o caso
de ansiedade generalizada; o ter medo de uma forma persistente e também excessiva,
de um objecto ou situação que não representam um perigo de facto, como é o caso de
fobias; imagens e pensamentos que conduzem a impulsos indesejáveis e intrusivos,
que desencadeiam por sua vez a necessidade de serem neutralizados, como são as
perturbações obsessivo-compulsivas.

De seguida, e a titulo meramente informativo são apresentados alguns exemplos de


perturbações da ansiedade.

Ataques de Pânico

A perturbação de ataque de pânico é mais comum do que a maioria das pessoas


pensa. Estes ataques manifestam-se repentinamente e a experiência vivida deixa
marcas muito profundas e sobretudo uma inquietação sempre presente pela
expectativa de que volte a acontecer e nada se poder fazer.

De acordo com o relato de pacientes, o mais assustador nos ataques de pânico, é o


facto de se desenvolverem abruptamente, atingirem o ponto máximo num espaço
inferior a dez minutos e de serem frequentemente acompanhados de uma sensação
de perigo iminente e de um impulso para a fuga.

Durante estes episódios são sentidos quatro ou mais dos seguintes sintomas:

 Palpitações, batimentos cardíacos.


 Suores.
 Estremecimentos ou tremores.
 Dificuldade em respirar.
 Sensação de sufoco.
 Desconforto ou dor no peito.
 Náuseas ou mal-estar abdominal.
 Sensação de tonturas, de desequilíbrio ou de desmaio.
 Medo de perder o controle ou de enlouquecer.
 Medo de morrer.
 Parestesias (dormências ou formigueiro).
 Sensação de frio ou de calor.

Existem vários modelos que se propõem explicar a causa dos ataques de pânico. Neste
caso, é apresentado embora de forma muito reduzida e simples, o modelo cognitivo-
comportamental para os ataques de pânico.

Assim, é sugerido que estes pacientes apresentam características de funcionamento


psicológico em comum: tendem a perceber os pais como super protectores,
controladores, críticos, amedrontadores, rejeitadores e limitadores.

Apresentam também traços de personalidade como:

- Passivos, suaves, tímidos, dependentes.


- Baixa assertividade, ansiedade de separação.
- Ansiedade social elevada.
- Medo de avaliações negativas.
- Dificuldade em lidar com raiva e criticas e, de resolver problemas.
- Tendência a concordar com os outros, a representarem-se como fracos e a
sentirem-se dependentes dos outros para terem desempenho adequado.
- Inibição comportamental e reacções autonómicas em situações familiares
desde a infância.

Este modelo apresenta como factor mais relevante e central a todo o


desenvolvimento da perturbação de ataques de pânico a vulnerabilidade.
Esta, pode ser dividida em duas grandes áreas: a sociabilidade e a individualidade. No
primeiro caso, encontramos os objectivos que dependem necessariamente do
relacionamento com as outras pessoas, e no segundo os valores e objectivos
necessários ao sentido de identidade e de independência.

Podemos ainda dividir cada uma destas áreas em duas categorias: pública e privada.
Assim, podemos dizer que a sociabilidade no aspecto publico, lida com a relação do
indivíduo, com referência ao seu grupo social, em questões como pertinência, apoio,
aprovação, etc.; estando neste caso, os interesses individuais submetidos aos do
grupo. No aspecto privado, a sociabilidade expressa-se pelo desejo de
relacionamentos gratificantes que incluem ajuda, afeição, empatia, intimidade, etc.

Por sua vez, a individualidade no aspecto público, expressa-se através do domínio do


controle e da realização em relação aos outros, envolvendo questões de comparação e
competição social. Sendo que no aspecto privado, manifesta-se através do plano
físico; incapacidade, disfunção, doença, morte, etc.
Deste modo, e quando confrontados com determinados estímulos, quer internos quer
externos, e a percepção de ameaças, sobretudo as relacionadas com a sociabilidade no
aspecto público (rejeição, aprovação, perda de controle) e a individualidade no
aspecto privado (doença, loucura, morte) estas pessoas poderão provocar uma
situação de “falso alarme” que as condicionará futuramente ao nível de
interpretações catastróficas, rápidas e automáticas, sem que estejam conscientes do
processo de interpretação.

Acabam também por desenvolver uma hipersensibilidade a determinadas alterações


físicas, sobretudo aquelas que estão envolvidas na resposta normal à ansiedade
(batimento rápido do coração, tonturas, suores) o que provoca uma interpretação
catastrófica, de que estas sensações indicam um desastre físico ou mental, iminente e
inevitável, que conduz a uma espiral que se torna avassaladora.

Estimulo desencadeador
(interno ou externo)

Ameaça percebida

Interpretação
catastrófica apreensão
das sensações

Sensações
corporais

Intervenção

A abordagem cognitivo-comportamental relativamente aos ataques de pânico tem


evoluído significativamente, tendo inclusive algumas das suas intervenções nesta
área, recebido o endosso do National Institute of Health (1991, EUA) como sendo
efectivas. È importante referir que a grande maioria dos estudos efectuados, indicam
que qualquer que seja a técnica e o modelo seguido, se não incluírem exposição aos
estímulos temidos não serão eficazes ao nível dos sintomas agorafóbicos (Marks,
Gelder e Edwards,1968), (Gelder et al.,1967),(Emmelkamp, van der Hout e De
Vries,1983).

Os ataques de pânico podem ocorrer com ou sem agorafobia.

Agorafobia

A agorafobia corresponde a um estado de predisposição ansiosa que tende a ocorrer


quando existe a percepção de se estar num lugar ou situação em que a fuga possa ser
difícil ou embaraçosa ou de que a possibilidade de ajuda é inexistente. Esta situação
aumenta a possibilidade de um ataque de pânico, mas não o provoca.

Esta ansiedade antecipatória e o medo de novos ataques conduzem normalmente ao


desenvolvimento de atitudes de evitamento como por exemplo: deixar de utilizar
meios de transporte públicos, evitar fazer compras em grandes lojas ou centros
comerciais, deixar de ir ao cinema e a espectáculos, etc. Este comportamento
evitante, acaba por validar o medo e a ansiedade aos locais e actividades temidas.

Embora de alguma forma rara, existem pessoas que sofrem de agorafobia sem nunca
terem experiênciado ataques de pânico.

Ansiedade Generalizada

A ansiedade generalizada pode ser definida como uma perturbação crónica,


caracterizada por preocupações irreais ou excessivas, e que conta com a presença de
diversos sintomas somáticos.

Esta ansiedade patológica crónica, não é consequência directa de qualquer situação


ambiental ou de objectos específicos e, o sentimento de nervosismo é acompanhado
de queixas somáticas como por exemplo tremores, tensão muscular, tonturas, etc.
Muitas vezes estão também presentes alguns receios como o medo de adoecer, o não
conseguir desempenhar capazmente as obrigações profissionais, etc.

O modelo cognitivo da ansiedade generalizada (Beck, Emery e Greenberg, 1985) por


exemplo, sugere que as pessoas que vivenciam uma ansiedade difusa, o fazem porque
as suas crenças a respeito de si próprios e do mundo, os torna susceptíveis de
interpretar uma grande variedade de situações como ameaçadoras.

Embora as crenças e suposições disfuncionais envolvidas sejam naturalmente


variadas, a maioria relaciona-se com questões de aceitação, competência,
responsabilidade e controle.

Tal como noutras perturbações da ansiedade, também neste caso os principais


sintomas variam, sendo contudo comum o sentimento crónico de nervosismo, tensão
muscular, palpitações, mal-estar gastrointestinal. Deve ser prestada especial atenção
aos sintomas somáticos e ao descontrole provocado pelas preocupações.

Eis alguns dos critérios de diagnóstico normalmente utilizados, mais uma vez
apresentados a titulo meramente informativo, e para serem eventualmente utilizados
como simples referencia.

 Ansiedade e preocupação excessivas, sentidas na maioria dos dias dos últimos


6 meses.
 A própria pessoa reconhece que lhe é difícil controlar as preocupações.
 A ansiedade e a preocupação estão associadas a 3 ou mais dos seguintes
sintomas:

1. Agitação, impaciência, sensação de “estar no limite”.
2. Fadiga fácil.
3. Dificuldade de concentração, lapsos de memória.
4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbações do sono (insónia inicial ou intermédia, sono agitado
e/ou insuficiente).

É importante referir que os sintomas podem modificar-se durante a evolução da


perturbação de ansiedade generalizada.

Intervenção

As pessoas que sofrem desta perturbação, têm uma percepção exagerada de perigo e
ameaça, uma noção de serem menos capazes de lidar com estas situações do que os
outros e, geralmente fazem uma avaliação antecipatória de super valorização da
probabilidade de algo correr mal.

O primeiro passo na intervenção terapêutica, centra-se ao nível da identificação e


questionamento desta forma de interpretar o mundo como muito perigoso e, a si
mesmo como extremamente inábil. Apontar para o facto de que a intolerância face à
incerteza é um dos principais factores de vulnerabilidade e promover a utilização de
novas estratégias para lidar com os obstáculos e as incertezas.

Fobias especificas

As fobias específicas podem ser caracterizadas como um medo persistente,


desproporcionado e irracional em que a ansiedade é localizada e associada a um
objecto ou situação particular. Embora não exista consenso quanto à origem, as fobias
aparentam ser sobretudo medos aprendidos.
Existem vários modelos e teorias que tentam explicar esta aprendizagem. Mais uma
vez, gostaria de chamar a atenção para o facto de a seguinte informação ser
extremamente reduzida e apresentada de uma forma simples e superficial, pelo que a
mesma deve ser utilizada para fins meramente informativos.

Condicionamento clássico, de uma forma muito simples pode ser definido como a
aprendizagem durante a qual se desenvolve uma nova associação entre um
estímulo e a resposta a esse estímulo.

Condicionamento operante, de alguma forma estabelece que, quando a


ocorrência de um comportamento é seguida da apresentação de uma
consequência reforçadora, a força desse comportamento aumenta e, quando a
ocorrência de um comportamento anteriormente fortalecido por um processo de
condicionamento deixa de ser seguida de uma consequência reforçadora, a força
do comportamento diminui.

Neste contexto, uma resposta que elimine, adie ou atenue o efeito de um estímulo
aversivo, torna-se fortalecida por essa consequência e representa a chamada
resposta de fuga. A repetição da resposta de fuga tenderá a criar um processo de
antecipação que permitirá o evitamento do estímulo aversivo. Este mecanismo é
provavelmente responsável pela presença e manutenção de um comportamento
usual nas fobias; o evitamento fóbico.

Modulação, corresponde a uma aprendizagem numa perspectiva de interacção


entre aspectos comportamentais, cognitivos e ambientais. Este tipo de
aprendizagem, pode ocorrer tanto na presença de modelos reais como de
simbólicos (filmes ou livros). Quantas pessoas poderão ter desenvolvido medo a
tubarões depois de terem visto o filme?

Segundo A. Bandura (1979) “pode-se adquirir padrões de respostas, simplesmente


pela observação do desempenho de modelos apropriados; respostas emocionais
podem ser condicionadas por meio de observação de reacções afectivas de outros,
subjacentes a experiências dolorosas ou agradáveis.

Cognitivo, segundo este modelo a formação do comportamento fóbico é


controlado por variáveis de natureza cognitiva. Para A. Beck, o afecto e o
comportamento do indivíduo são determinados pela maneira como ele estrutura
o mundo à sua volta. As suas cognições (eventos) estão baseadas em actividades
ou suposições (esquemas) desenvolvidos a partir de experiências anteriores.
Assim, todo o indivíduo fóbico tem cognições que medeiam as respostas de
autonomia e de comportamento.

Deste modo, a partir do momento em que ocorre uma avaliação de perigo, não é
o perigo real que dispara o comportamento do indivíduo, mas sim a forma como
o mesmo é interpretado. O significado atribuído aos eventos é assim influenciado
pelas crenças desenvolvidas sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o meio.
Generalização, de acordo com este modelo, é produzida uma resposta
condicionada em relação aos estímulos que apresentem algum grau de
semelhança com o estímulo condicionado. Quanto maior for o grau de
semelhança percebido entre o novo estimulo e o estímulo condicionado, maior
será a probabilidade da generalização do estímulo. Esta situação permite explicar
de alguma forma a possibilidade de um indivíduo apresentar reacções a estímulos
com os quais nunca teve qualquer tipo de experiência traumática.

Intervenção

Para uma intervenção eficaz, é extremamente importante a compreensão de todas


as variáveis envolvidas no problema. Para tal, é necessário efectuar o
levantamento dos factores antecedentes, consequentes e a sua relação. Existem
várias técnicas utilizadas no tratamento das fobias específicas tais como:
dessensibilização sistemática, exposição ao vivo, reestruturação cognitiva,
modelação e hipnose entre muitas mais. Teoricamente, todas estas intervenções
visam ajudar o paciente a se confrontar com aquilo que é temido e via este
confronto ultrapassar não só a percepção de perigo como também os factores de
manutenção e de modulação.

Fobia Social

A fobia social é essencialmente caracterizada como um estado de ansiedade muito


intenso e persistente, que se verifica recorrentemente, quando a pessoa se
encontra em situações sociais ou de desempenho e nas quais a possibilidade de
embaraço ou de humilhação pode ocorrer. Naturalmente que várias pessoas
podem sentir algo de semelhante ocasionalmente e não sofrerem de fobia social.

As pessoas que sofrem de fobia social podem ser incluídas em dois grandes
subtipos: Generalizada, medo da maioria das situações de interacção social e de
desempenho público; Circunscrita, medo de uma situação de desempenho
público e de algumas situações de interacção social, mas não da maioria delas.
Geralmente, as situações mais temidas são o falar em público, comer e beber na
frente das outras pessoas, entrar em salas onde já estejam sentadas outras pessoas,
participar em reuniões sociais, falar com estranhos e manter contacto visual com
pessoas com que estejam pouco familiarizadas.

O despoletar da ansiedade é usualmente acompanhado de manifestações físicas


como corar, suores, palpitações, tremores nas mãos e/ou na fala, necessidade
urgente de evacuar etc. O medo pela perspectiva de serem confrontados com as
situações temidas, gera recorrentemente ansiedade antecipatória, que por sua vez
conduz a uma necessidade imperiosa de evitar estas mesmas situações (fuga;
evitamento fóbico) ou ao enfrentar das situações sob um considerável mal-estar e
tensão.
Vários factores podem contribuir para a formação de fobia social.

Factores hereditários e familiares, existem fortes indícios quanto à existência de


uma componente genética na fobia social. Vários estudos efectuados por equipas
de trabalho diferentes mas usando metodologias semelhantes, verificaram que
comparando familiares de pacientes com fobia social com familiares de
indivíduos sem perturbações psicológicas, o primeiro grupo apresentava em
média um risco de cerca de 10 vezes maior do que o segundo grupo de
desenvolverem fobia social.

Outros estudos, envolvendo a comparação de gémeos monozigóticos com


dizigóticos, apresentaram também resultados concordantes com a possibilidade
da importância de factores genéticos e familiares no desenvolvimento de fobia
social.

Mais recentemente, têm sido efectuados estudos ao nível dos factores biológicos
associados à fobia social, sem contudo existir grande co-relação nos resultados
finais destas pesquisas. Só ao nível do envolvimento de diferentes
neurotransmissores, tais como a dopamina, a serotonina, a noradrenalina e o
ácido gama-aminobutìrico (Gaba) parece existir alguma concordância.

Intervenção

A estratégia terapêutica que aparenta ser mais eficaz passa pela exposição
progressiva, tendo sempre em consideração cada caso individualmente,
socialização e utilização dos comportamentos de segurança e modificação do
auto-processamento combinado com uma reestruturação cognitiva. Existem
várias técnicas utilizadas no tratamento da fobia social que tanto podem ser
utilizadas isoladamente como em conjunto. Nalguns casos, pode ser importante
prestar apoio ao paciente ao nível do desenvolvimento das suas capacidades de
interacção social. O objectivo visa ajudar o paciente a confrontar-se com aquilo
que é temido e via este confronto ultrapassar não só a percepção de perigo como
também os factores de manutenção e de modulação.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Este tipo de perturbação é caracterizado pelo aparecimento de pensamentos, imagens


(quadros mentais) e impulsos que são recorrentes e persistentes, normalmente vistos
pelo próprio como inapropriados e inaceitáveis, difíceis de abandonar e que causam
ansiedade e mal-estar. Uma vez instalados passam a provocar uma grande
necessidade de neutralização. Esta neutralização frequentemente assume a forma de
um comportamento compulsivo que visa reduzir a ansiedade, ou pode também estar
relacionado com a expectativa de que se este comportamento não tivesse ocorrido a
ansiedade teria aumentado. Este tipo de comportamentos são normalmente
repetitivos, com um carácter ritualista, caracterizados por uma premência
irresistível, e normalmente consomem muito tempo. Existem quatro grandes
categorias: compulsões de limpeza, de verificação, obsessões puras (pensamentos
disruptivos, repetitivos, de conteúdo sexual agressivo) e lentidão obsessiva primária
(necessidade de prestar uma grande atenção a tudo o que é feito, o que naturalmente
toma um tempo considerável).

Eis alguns dos critérios de diagnóstico normalmente utilizados, relembrando mais


uma vez que os mesmos são apresentados a título meramente informativo.

Presença de obsessões e/ou compulsões

 Pensamentos, impulsos ou imagens, recorrentes e persistentes que são


experimentados, durante algum período da perturbação, como intrusivos e
inapropriados.
 Pensamentos, impulsos ou imagens que não são simplesmente preocupação
excessiva acerca de problemas reais de vida.
 A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou
neutralizá-los com algum outro pensamento ou acção.
 A pessoa reconhece que os pensamentos obsessivos, impulsos ou imagens são
produto da sua mente (não imposto de fora).

Compulsões

 Comportamentos repetitivos (ex: lavar as mãos, ordenar, verificar) ou actos


mentais (ex: rezar, contar, repetir palavras mentalmente) que as pessoas se
sentam compelidas a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com
regras que devem ser aplicadas de modo rígido.
 Os comportamentos ou actos mentais têm como objectivo evitar ou reduzir o
mal-estar ou prevenir algum acontecimento ou situação temida; contudo,
estes comportamentos ou actos mentais ou não estão ligados de um modo
realista com o que pretendem neutralizar ou evitar ou são claramente
excessivos.
 A pessoa reconhece que o seu comportamento é excessivo ou irracional.
 As obsessões ou compulsões provocam forte mal-estar, consomem tempo
(mais de uma hora por dia) ou interferem significativamente com as rotinas
normais da pessoa, funcionamento ocupacional (ou académico) ou com os
relacionamentos ou actividades sociais.

Intervenção

O processo de intervenção compreende modelos de avaliação, de procedimentos, de


exposição e de treino demasiado complexos e extensos para serem referidos neste
contexto, pelo que a informação aqui contida será sempre muito simplificada, e
deverá ser também encarada como meramente informativa. Para uma intervenção
eficaz, é extremamente importante a compreensão do comportamento obsessivo
como primário ou secundário a uma outra perturbação psicológica ou orgânica.
Durante a entrevista clínica é de extrema importância detectar indícios de situações
ou eventos que tendem a desencadear determinados pensamentos ou
comportamentos. Os protocolos inseridos na abordagem cognitivo-comportamental
têm apresentado resultados muito positivos e são actualmente tidos como
preferenciais neste âmbito.

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