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O ego

O eu e o ego

A palavra eu é como um espelho. Tanto pode reflectir a maior das ilusões como a
verdade mais profunda. Quando despertamos a nossa consciência, sabemos que existe
um “eu” para lá da confusão incessante dos nossos pensamentos. Algo de maravilhoso e
que transcende qualquer noção física. Na sua forma mais corrente e para a maioria das
pessoas, representa a identificação com a percepção ilusória de quem somos. Esta noção
ilusória de consciência chama-se ego.

O ego não é mais do que a identificação com a forma. O que significa objectivamente,
que se trata de uma identificação com formas de pensamento. Este é o estado no qual se
encontra uma grande parte da humanidade actualmente.

O ego induz-nos sempre a um estado de avaliação constante. Uma vez neste estado
começamos a funcionar com uma das estruturas mais importantes do ego: a
identificação. Deste modo, quando me identifico com algo converto-o no mesmo que
eu. Passo a atribuir-lhe a minha identidade. A minha casa, o meu carro, as minhas
coisas, as minhas necessidades etc.

Quando me identifico com as coisas fico convencido que elas me irão beneficiar.
Fazemos uma associação na nossa mente entre este algo e os possíveis benefícios para
nós e para a nossa imagem. È isto que acontece por exemplo com as marcas, a
associação a pessoas ricas e famosas, a nossa necessidade crescente de adquirirmos cada
vez mais objectos e coisas, de sermos diferentes e especiais em relação aos outros.

Neste estado de identificação sinto-me inferior se tenho menos coisas, se sou menos
bonito e menos perfeito fisicamente, se não tenho tanto dinheiro como devia etc. Para o
ego a lógica é muito simples: Tenho, logo existo e sou.

Assim quando tenho a percepção de que outro “eu” me vai impedir de conseguir o que
eu quero, não me dá o amor que eu mereço, o reconhecimento que me é devido, que não
me respeita como eu mereço e etc., evoluímos para uma outra construção mental: Eu
estou certo e o outro errado, logo tenho de reagir. E esta é uma das principais formas
de inconsciência que nos é induzida pelo nosso ego e que abre a porta para a dinâmica
da acção - reacção, ou seja: o ataque.

O ataque

Quando vivemos através da identidade criada pela nossa mente consideramo-nos únicos
e diferentes. Mas no fundo somos todos mais iguais do que imaginamos. Porque embora
à superfície a nossa personalidade pareça diferente, a estrutura e o modo de
funcionamento do ego é igual em todas as pessoas. Porque todas as pessoas utilizam a
identificação, a avaliação e a projecção para criarem a imagem de si e dos outros. E
assim criam um interminável processo de percepção de separação e necessidade de
defesa.
É nesta dinâmica que assenta a própria sobrevivência do ego. Para que o nosso ego se
afirme, se destaque, e se sinta vitima, é imperioso que os outros sejam vistos como
nossos agressores, senão mesmo como nossos inimigos.

A face mais visível e comum desta dinâmica é a critica e a lamúria, uma forma de
constantemente nos queixarmos dos outros e de sermos vítimas. A lamúria é uma das
formas mais utilizadas pelo ego para se fortalecer. Cada lamento é uma forma de nos
considerarmos bonzinhos e à mercê de vilões que nos rodeiam e atacam. Quer através
de palavras quer através de pensamentos o queixume induz sempre à angústia e ao
ressentimento. Assim estamos sempre ou a atacarmo-nos ou a atacar os outros. E este
padrão de funcionamento cria sempre medo, ressentimento, separação e desejo de
ataque.

Mas estes pensamentos de ataque também necessariamente acarretam consigo a crença


da vulnerabilidade, e os seus efeitos enfraquecem-nos aos nossos próprios olhos. E
assim, atacam a percepção de nós próprios. E porque passamos a acreditar nesta
vulnerabilidade, deixamos de acreditar em nós. Sem que tenhamos consciência deste
facto, uma falsa imagem de mim toma o lugar de quem eu realmente sou.

O Perdão

Como foi dito anteriormente, quando vivemos sobretudo num estado de ego sentimos
medo e a percepção da necessidade de defesa. Deste modo sentimo-nos separados dos
outros e num processo constante de sermos avaliados e em avaliação. Isto coloca-nos
num estado de conflito permanente. Porque só quem está em paz, não sente medo de ser
atacado nem necessidade de atacar. E este é o estado de verdadeiro poder.

E este estado só pode ser alcançado através do perdão. A nossa mente tem ao seu dispor
os meios para decidir se deve ficar do lado do Céu ou da terra. Escolher o amor em vez
do medo é uma decisão que só nós podemos tomar. Para que a graça divina funcione,
para que o sofrimento e a dor acabem na nossa vida, a nossa vida tem de mudar. E para
que a vida mude a consciência tem de mudar primeiro. A decisão é nossa

A nossa vida exterior é um reflexo do nosso interior, assim quando permitimos e


decidimos que a nossa mente se foque no amor, a nossa vida passa a expressar e a
reflectir essa mudança. Quando estamos num estado de amor percebemos que perdoar
não é uma decisão ou uma atitude que tomamos quando alguém é culpado. É
percebermos que ninguém é culpado. É sermos capazes de transcender a nossa própria
construção egoica e acedermos a um estado de consciência.

É percebermos que o nosso corpo físico é um meio para a aprendizagem e não o único
fim pelo qual estamos aqui. O nosso trabalho é ver através do medo e da culpa e
perceber que só o perdão restabelece a condição do amor incondicional, renova a
verdadeira natureza das pessoas, e faz-nos estar mais despertos em relação à divindade
que somos, e à nossa beleza física e espiritual.

Porquê perdoar
O perdão é um acto natural para uma mente desperta. É o acto que demonstra e
contraria a futilidade e a irracionalidade das necessidades do ego.
O perdão é algo que se desenvolve e floresce no momento do nosso despertar.
Porque o despertar é uma mudança na nossa consciência, é o momento em que
permitimos que o pensamento e a consciência se separem.

È o momento em que finalmente entendemos que até esse preciso instante, só


escutávamos a voz que existe dentro das nossas mentes. E por esse motivo as
nossas percepções e experiências são distorcidas por juízos de valor instantâneos.
E este é o estado do ego, da vitimização e da necessidade de ataque.

O ego adora o sofrimento e a dor. Por este motivo chama-nos constantemente


para a “realidade”. Que é para ele o mundo físico. Quando cedemos a este apelo
provocamos sofrimento em nós e nos outros sem sequer sabermos o que estamos
a fazer. Provocar sofrimento sem nos questionarmos sobre o que estamos a fazer
é viver para o ego.

Mas este não é o nosso verdadeiro estado. Temos sempre a possibilidade de


escolher entre o medo e o amor. Todos os dias fazemos escolhas, e estas escolhas
são determinadas pelas nossas crenças, valores e objectivos. A este propósito,
Um Curso em Milagres que é talvez a maior obra da espiritualidade
contemporânea, ensina-nos:

“Toda a aprendizagem é uma ajuda ou um obstáculo para se chegar ao Céu.


Não existem meios-termos. Existem simplesmente dois professores e que
apontam para caminhos distintos. De acordo com o professor escolhido assim
será o caminho que seguiremos. Não existem senão estas duas direcções. Apenas
escolhemos se queremos seguir na direcção do Céu ou para longe dele.”

De facto, não existem pensamentos neutros. Todos os pensamentos criam formas.


Assim, sermos responsáveis pelas nossas vidas significa assumirmos que somos
responsáveis pelos nossos pensamentos. São os nossos pensamentos que criam a nossa
realidade. Se continuarmos a comunicar só com o nosso ego nunca iremos escapar ao
medo, à dor e ao sofrimento

Só através do perdão podemos restaurar o nosso verdadeiro estado Só assim nos


libertamos do medo, da culpa, das interpretações e das projecções.

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