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Espiritualidade e Religião

Durante muito tempo espiritualidade e religião tiveram o mesmo significado. Ser-se


espiritual significava a aceitação filosófica de um estado de consciência que superava a
razão e a matéria, e que necessariamente conduzia à entrega a uma forma de culto, ou
religião.

Devido à rigidez do conjunto de preceitos, regras e códigos morais, e ás consequências


que recaíam sobre todos aqueles que não fossem bons praticantes, sobretudo no mundo
ocidental foi-se criando uma cada vez maior insatisfação que levou à procura de novas
formas de se tentar encontrar um estado de plenitude através da transcendência do que é
físico e material.

Para muitos, religião passou a ser sinónimo de dogmatismo e moralismo, enquanto para
outros, espiritualidade significa apreço por formas exóticas de explorar corpo e mente.

Quando abordamos este tema, o seu significado e a percepção do caminho proposto


somos naturalmente confrontados com questões potencialmente controversas, e todos
aqueles que procuram e gostam da controvérsia vão obviamente encontra-la. Contudo,
tanto a espiritualidade como qualquer religião visam sobretudo o esclarecimento e a
expansão da consciência.

O debate de considerações teológicas enquanto tais, são e serão sempre controversas


uma vez que dependem de crenças, e como tal podem ser aceites por uns e rejeitadas
por outros. Uma teologia universal é impossível, mas uma experiência universal não só
é possível como desejável. Para todos os outros, torna-se necessário o entendimento de
que a controvérsia não é mais do que uma defesa contra a verdade e que se assume na
forma de adiamento.

Um grande número de adeptos da espiritualidade contemporânea acredita que as


diferenças entre uma e outra, podem ser explicadas pela seguinte frase: “Porque não
somos seres humanos com uma experiência espiritual, mas seres espirituais vivendo
uma experiência humana.”

Esta afirmação encerra em si o conceito de que os praticantes de uma religião acreditam


na dualidade de sermos seres físicos que buscam a transcendência através da prática
religiosa, vista como um conjunto de crenças e pensamentos que assumem o carácter de
verdade absoluta, enquanto que a espiritualidade assenta no pressuposto de que a nossa
condição física é simplesmente uma forma de aprendermos a transcender o nosso ego.

Deste modo, no caso das religiões somos levados a adoptar as suas crenças, formas de
pensamento e regras até ao ponto da identificação dos nossos pensamentos com a
verdade transmitida de que este é o melhor caminho. Por este motivo somos induzidos a
rejeitar o que é diferente.

Na espiritualidade aceitamos que existem vários caminhos para chegarmos ao nosso


destino, e que o nosso desenvolvimento espiritual não tem exactamente a ver com o que
pensamos mas sim com o nosso estado de consciência.
Consciência é não nos identificarmos nem com a forma nem com o nosso corpo e
passarmos a identificarmo-nos com o nosso eu espiritual Esta mudança de percepção e
de identificação é fundamental para tomarmos consciência da verdadeira função do
nosso corpo, que terá de passar a ser visto sobretudo como um recurso necessário à
aprendizagem.

Muitos seres humanos pensam que a sua verdadeira identidade é o seu corpo e por esse
motivo passam a aceitar como válida a aprendizagem do mundo físico. Uma
aprendizagem baseada em experiências físicas, sendo muitas delas dolorosas e que
sobretudo nos induzem a sentir medo.

Deste modo acabamos por entregar ao nosso ego, a direcção do nosso caminho, e aquilo
a que o ego nos conduz é a um sentimento de que estamos todos separados uns dos
outros. Deste modo o nosso corpo passa a ser usado para atacar, para obter prazer e para
se ter orgulho. E isto induz à percepção de que somos frágeis, sós, pequenos e
vulneráveis.

Mas também passamos, através de suplicas e lamentos, a entregar a nossa salvação a


uma entidade superior, na esperança de sermos ouvidos. Num estado de consciência
sabemos que o nosso corpo é um meio, e não a finalidade porque estamos aqui. O nosso
eu espiritual é a ponte para a transferência da percepção ao conhecimento. Enquanto não
conseguirmos ultrapassar esta ilusão estaremos sempre sujeitos aos efeitos das leis do
mundo físico.

Escolher o amor em vez do medo é uma decisão nossa, que tem necessáriamente de
ocorrer ao nível da nossa mente. E uma vez esta decisão tomada, a nossa consciência
expande-se e os milagres, que não são mais do que a correcção da percepção, surgem e
reflectem essa mudança na nossa forma de pensar.

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