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OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE

São dois os métodos de exploração do inconsciente: o associativo e o simbólico. O associativo visa a um


duplo resultado: o desrecalcamento e a interpretação.
Solicita-se ao paciente que use o máximo de sua capacidade, que tente deixar as coisas surgirem em sua
mente e verbalizá-las sem se importar com a lógica e a ordem. Mesmo que lhe pareça não terem
importância ou até mesmo serem aparentemente vergonhosas ou indelicadas a serviço do ego e os
derivados, do ego inconsciente, do id e do superego tendem a vir à superfície.
Sabemos que o paciente deseja recuperar-se porque está sofrendo de uma neurose, mas, existem forças
dentro dele que são opostas à mudança pretendida, forças que defendem a mudança e o statu quo. Estas
forças que se opõem ao processo de tratamento são conhecidas por resistências, termo que quando
utilizado como termo técnico, é a oposição que se verifica existir durante o tratamento psicanalítico,
contra o processo de tornar conscientes os processos inconscientes. Diz-se que os pacientes se encontram
em estado de resistência caso se oponham às interpretações do analista, e que têm resistências fracas ou
fortes conforme achem fácil ou difícil permitir que seus analistas os compreendam. A resistência é uma
manifestação de defesa; uma possível exceção é a „resistência do inconsciente‟ à compulsão e à repetição
(Charles Ricroft. Dicionário Crítico de Psicanálise).
Portanto, uma das características da Psicanálise é que se pede ao paciente que inclua suas associações
quando narra seus sonhos ou outras experiências. A livre associação tem prioridade sobre todos os outros
meios de produção de material na situação analítica. É preciso estar atento para que a associação livre não
seja usada erradamente para ajudar a resistência. O analista tem por tarefa analisar tais resistências para
restabelecer o uso adequado da associação livre.
A associação livre é o método mais importante para a produção do material na Psicanálise. É utilizada
em momentos pré-estabelecidos naqueles tipos de psicoterapia que buscam certa dose de volta do
reprimido, as assim chamadas
„psicoterapias orientadas psicanaliticamente‟. Não é empregada nas terapias antianalíticas, de apoio ou de
encobrimento do reprimido.
O que acabamos de dizer sobre o método associativo, nos permitirá examinar brevemente o método
simbólico. Voltaremos à esse mesmo tema, posteriormente.
Nunca se deve perder de vista: Freud muitas vezes repetiu que o método simbólico desempenha em
Psicanálise um papel absolutamente secundário. É de admirar que apesar dos protestos reiterados do
mestre de Viena, o público, mesmo científico, vê na Psicanálise muitas vezes apenas uma chaves dos
sonhos.
Relembremos que a simbolização, no sentido estrito freudiano, não deve ser confundida com a
dramatização. Na dramatização, há passagem de uma ideia abstrata para uma imagem. Na simbolização,
há passagem de uma imagem para outra imagem, além disso, o símbolo tem um valor coletivo.
O exame da validez do método simbólico comporta duas fases. É preciso, em primeiro lugar, procurar
saber como se estabelece uma lista de símbolos. Em segundo lugar, é preciso fixar quais são os critérios
que justificam a interpretação simbólica num determinado caso.
Objetar-se-á talvez que invertemos a lógica dos problemas. É preciso, primeiro estabelecer a validez da
interpretação simbólica num certo número de casos concretos e só em seguida se poderá generalizar.
Esta objeção repousa numa grave confusão, que importa dissipar. Uma relação de causalidade pode ser
conseguida de duas maneiras muito diferentes. No primeiro caso, a reação de causalidade tem um valor
inteligível e impõe-se diretamente à razão. Basta comparar a marca deixada por um pé humano nu sobre a
areia úmida e a forma desse pé para apreender intuitivamente a relação de causalidade, mesmo se se
dispõe apenas de um único espécime de marca. Vimos que, em condições favoráveis, o método
associativo conduz a uma certeza desse gênero.
Num segundo caso, a relação de causalidade não é compreensível diretamente, sua existência só pode ser
demonstrada estatisticamente. Assim é que os médicos gregos reconheceram que a orquite podia ser uma
complicação da cachumba. Ela não acompanha sempre a cachumba, nem apenas a cachumba, mas sua
frequência nos homens em geral. O redator do Primeiro Livro das Epidemias, da coleção hipocrática, não
fala explicitamente no princípio lógico da comparação das frequências, não deixando esse princípio
porém de ser o fundamento de sua asserção. Aqui a causalidade é apreendida graças à lei dos grandes
números, mas poder-se-ia percebe-la com certeza com um único exemplo.

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