possibilidades para um manejo clínico das crises de uma forma emergencial. Os conceitos psicanalíticos corroboram com a prática e apesar de o processo de análise ser marcado por características vistas como regra fundamental, o próprio Freud reconheceu uma etapa que antecede a livre associação que ele chamava de análise de ensaio e nessas análises preliminares, existem uma série de manejos, avaliações e preparações que são realizadas, mas como já sabemos, a psicanálise com sua variedade de abordagens, terá uma visão diferente que varia de autor para autor sobre a finalidade dessa etapa pré- análise.
Articulação psíquica:
A psicanálise tem várias vertentes com
conceitos próprios, mas existe um ponto que converge entre elas. Estamos falando a associação significante que é algo comum em todos os modelos psicanalíticos. Isso se inicia lá em Freud quando ele fala sobre a cadeia de representação no texto “A Interpretação dos Sonhos”, essa cadeia trata-se de uma organização entre os elementos psíquicos, posteriormente, Lacan chama de cadeia significantes que são relações de identificação entre os significantes para formar as representações. O que Lacan chama de significantes, Winnicott vai chamar de objetos integrados com o auxílio da mãe suficientemente boa, já em Wilfred Bion, teremos os elementos alfa, que são elementos articulados entre si que formam representações. Essas formulações teóricas, estão todas relacionadas a estrutura das psicopatologias e todas elas concordam que existe articulação psíquica que chamamos de processos de identificação. O paciente em crise, vai estar com uma articulação psíquica que constrói a crise, ou seja, são processos de identificação, logo o analista vai de forma organizada, tentar desarticular esses elementos mesmo que de forma momentânea para gerar um efeito de redução.
Transferência:
O paciente em estado de desequilíbrio
emocional, tende a ver o analista como alguém que pode solucionar seu problema, isso é uma transferência, ele está posicionando o analista no lugar de mestre. Essa posição é algo que de modo geral os analistas buscam evitar, mas em um atendimento emergencial pode e deve ser utilizada como uma ferramenta a favor do paciente. Se usada de forma inconsciente, pode ser um problema, mas usada de forma policiada, pode trazer resultados interessantes para o atendimento de crise. O analista na posição de autoridade, daquele que tudo sabe, aumenta a influência dele em relação ao paciente, dessa forma aquilo que for dito pelo analista terá um peso significativo para o paciente, logo essa transferência deve ser explorada para essa finalidade.
Ego auxiliar:
Essa prática é severamente questionada
por outras vertentes teóricas da psicanálise, mas para a finalidade do atendimento de crise, ela vai ser muito funcional, pois as suas características proporcionam possibilidades incríveis. O ego auxiliar ajuda o paciente a representar aquilo que ele sente, auxiliar na nomeação de seus conflitos, cria um ambiente de acolhimento que favorece a catarse, que é a descarga emocional, isso é de suma importância para a redução da intensidade da crise de forma momentânea. Deslocamento:
O deslocamento é um mecanismo psíquico
que movimenta a libido de uma representação para outra, mas para que isso ocorra é necessário que exista identificação entre os representantes. Exemplo: arteira e carteira, são dois representantes que tem um distanciamento conceitual, mas tem uma proximidade fonética que tem capacidade de associá-los na cadeia significante e isso pode produzir respostas semelhantes ao mesmo estímulo. Por isso se torna viável a técnica de emergência, pois vamos utilizar termos semelhantes ao do sintoma para gerar deslocamento. Essa é uma intervenção usada na psicanálise de forma constante em um longo período, por isso é inviável pensar em resultados permanentes em apenas uma sessão de emergência, mas esse movimento da libido gera alívio momentâneo. Processo de identificação:
A identificação é um processo psíquico que
ocorre entre a base psíquica de referência e os estímulos externos, se o analista tiver um manejo adequado da crise, é provável que ele consiga produzir identificação utilizando-se como estímulo externo para estimular o paciente produzir subjetividade sobre o sintoma apresentado.
Inconsciente:
O inconsciente no modelo lacaniano
apresenta muitas características de associação entre termos. Podemos observar isso quando ele fala sobre metáfora e metonímia, análise diacronia e sincrônica, proximidade de representação entre os termos.
Como puderam observar, a própria base da
psicanálise corrobora para a legitimação da prática emergencial, mas ainda assim sofre grande resistência por parte de psicanalistas mais tradicionais, entretanto é uma grande necessidade de falarmos sobre o tema, pois a sociedade mudou e ficar preso a tradições quando se trata de práticas que podem influenciar tanto a vida das pessoas.
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)