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Estudo dirigido AV2 - TEORIAS E TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS: PSICANÁLISE I

1) Explique compulsão à repetição e suas relações com a transferência.

R.: a repetição é o motor da transferência. Através dela o paciente repete experiências afetivas anteriores,
produzindo um mesmo investimento libidinal – repetição de clichês estereotípicos.

Freud diz que o mecanismo de funcionamento psíquico tem a tendência de repetição, essa repetição não se dá em
palavras, mas sim em atos. Onde o sujeito vai repetir o recalcado sobre a forma de acting out. Na análise o sujeito vai
começar a olhar com estranheza para a compulsão a repetição e no mesmo momento em que o sujeito começa a
questionar-se em relação aquela “desordem” ele vai tentar incluir o analista nessa “desordem” o manipulando
(transferência), fazendo com que o sujeito continue recordando por meio da repetição, mas repetindo com o analista.
A transferência é repetição.

2) Em que consiste a transferência e qual sua importância no tratamento?

R: Freud indica que a neurose é transformada em neurose de transferência. Ela é a mola propulsora do tratamento.
Aparece como resistência. No entanto, ao repetir com o analista experiências libidinais anteriores, o paciente nos
indica elementos importantes do núcleo do sintoma e de que estamos “perto” do material recalcado.

A transferência não é um fenômeno exclusivo da analise, ela acontece em qualquer relação que o sujeito estabelece na
vida, mas a psicanalise maneja a transferência. A transferência surge como a resistência mais poderosa do tratamento,
pois ela aparece no sentido de bloquear o processo analítico para que o sujeito não chegue ao elemento que produziu o
sintoma, então ao invés do sujeito estar no processo analítico ele repete com o analista situações já experienciadas
com outras pessoas e ele espera que o analista responda nesse lugar e então vai o conduzindo e manipulando a
situação analítica justamente para interromper o processo associativo e elaborativo.

S: Dinâmica da transferência - 1) clichê estereotípico; 2) transferência e neurose; 3) transferência como resistência.

1) O “clichê estereotípico” - O sujeito cria estereótipos de relações a partir das primeiras experiências relacionais =
formas fixas de empreender o investimento objetal.

Condições para amar: ideias libidinais antecipadas – isso também ocorre em direção à figura do analista.

“Decorre de nossa hipótese primitiva que este investimento recorrerá a protótipos, ligar-se-a a um dos clichês
estereotípicos que se acham presentes no indivíduo; ou, para colocar a situação de outra maneira, o investimento
incluirá o médio numa das ‘séries’ psíquicas que o paciente já formou” (FREUD, 1996 [1912]: 112)

2) Transferência e neurose

Transferência não é um fenômeno DA psicanálise, mas é ela que MANEJA a transferência. Transferência na vida
ordinária e em instituições (servidão mental, indignidade, erotização). Transferência: mecanismo neurótico (ideias
conscientes e inconscientes)

3) Transferência como resistência

“... a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento” (FREUD, 1996 [1912]: 112)
“A primeira vista, parece ser uma intensa desvantagem, para a psicanálise como método, que aquilo que alhures
constitui o fator mais importante no sentido do sucesso nela se transforme no mais poderoso meio de resistência”
(FREUD, 1996 [1912]: 113)

Interrupção da associação / Resistência: conservação do recalque / Quando algo do sintoma serve para ser transferido
à figura do analista, a transferência é realizada e se apresenta como resistência. / Intensidade da transferência: efeito e
expressão da resistência

3) De que formas a transferência aparece no tratamento?

R: Resistência, atos falhos, acting outs, faltas, digressões, repetição.

Neurose - Não ocorre somente na análise;


Clichê - Captura no investimento libidinal como na infância;
Resistencia - Mantém o recalque;
Manejo - Trabalhada em análise.

4) Qual deve ser a posição do analista diante das reivindicações do paciente?

R: O analista não deve responder às demandas do paciente, mantendo-se neutro diante delas. Conduzir tais
demanda, através de sua elucidação e manejo em favor da transferência e do processo analítico.

No que diz respeito a transferência erótica o analista deve:

Respeitar e ter interesse: permitir que ela aconteça, para propiciar a análise; não suprimir, nem satisfazê-lo;

Não estimular – perda da espontaneidade. Ela nunca deve ser ignorada, porém não deve ser estimulada, a transferência
diz sobre conteúdos que o paciente quer “esconder”, diz como o paciente investe libidinalmente. Se o analista ficar
instigando vai perder o espontaneidade desse investimento e vai virar algo da ordem da racionalização, mecanização...
Deve trata-lo da forma mais respeitosa, permitindo que esse investimento aconteça, mas sem responder.

Ética: não retribuir (atentar-se à contratransferência e trabalhar na análise e supervisão); trata-lo como irreal, mas
indicar como parte do processo que leva ao inconsciente, conhecendo os investimentos objetais; acentuar o equívoco.

Lembrar que esse amor que o paciente sente é irreal, pois é forjada pela situação analítica.

S: Amor transferencial

Repetição de protótipos infantis; Falta consideração pela realidade; Amor transferencial: provocado pela situação
analítica e intensificado pela resistência; Deve ser manejado: desvendar a escolha objetal.

5) A transferência é, ao mesmo tempo, o motor da análise e a maior arma da resistência. Discuta a


afirmação.

A transferência é o que move a análise, ela traz um elemento importante que é um sinal de alerta, quando o paciente
tenta manipular o analista ele percebe que tocou em algum assunto muito importante para o paciente, por isso o sujeito
desviou por meio da transferência. E ao mesmo tempo é a maior arma da resistência, pois ela conserva o recalque,
aparecendo no sentido de bloquear o processo analítico (associação livre) para que o sujeito não chegue ao elemento
que produziu o sintoma.
6) Explique o que é acting out ou atuação e quais as implicações para o tratamento?

R: O paciente repete, reproduz através da ação aquilo que não é elaborado. Faz parte do mecanismo de repetição.
Para Freud, o paciente não se recorda, ele repete até que consiga elaborar.

O acting out é o ato de repetição, onde o sujeito vai repetir o recalcado, sintoma sobre a forma dos acting out. No
tratamento os acting out podem provocar inibição, trazendo prejuízo ao sujeito, como depressão, ansiedade, entre
outros.

7) Em que consiste a elaboração? Cite e explique 2 de suas características.

R: Elaboração é o processo de rutura com determinadas fixações que levam à repetição. É permitir uma construção
consciente de um material que outrora havia sido recalcado. Reconciliar-se com o material recalcado que leva aos
sintomas e responsabilizar-se por ele. A elaboração incide sobre as resistências. É a parte mais árdua do trabalho
analítico, mas que efetua as maiores mudanças no paciente. Permite passar da recusa ou aceitação meramente
intelectual para uma convicção fundada na experiência vivida. Sua importância reside na necessidade de vencer a
força da compulsão.

Duas características: 1) permitir a ruptura com a repetição – ao elaborar, é possível que o paciente “rememore” sem
que repita oferecendo significado. 2) Revelar resistências na análise e contribuir para a análise – ao elucidar as
resistências, o paciente elabora o material que a constitui, permitindo mais uma via associativa para a análise.

A elaboração é um processo de reorganização psíquica, onde o conteúdo recalcado, a marca guardada no inconsciente
é lembrada no processo terapêutico, na associação livre. Onde a queixa do paciente vira demanda, ele percebe o
mecanismo de repetição e assume o papel de mudança ou não, ele compreende que tem participação no seu
sofrimento, assim a partir de um processo de reflexão o paciente compreende e toma as decisões para mudança se
assim ele o quiser.

8) O que é repetição?

R: A repetição é o motor de funcionamento do aparelho psíquico. Freud a aborda em diferentes momentos seja para
explicar o mecanismo de satisfação ou ainda para nos falar sobre a transferência. A repetição é o movimento de
reproduzir tudo aquilo que foi recalcado, que pressiona por algum tipo de satisfação ou encadeamento no princípio
de prazer. É uma maneira de “lembrar”. É a transferência de um passado esquecido.

O sujeito cria estereótipos de relações a partir das primeiras experiências relacionais, durante o desenvolvimento do
bebe a mãe investe na criança afeto, amor, trabalho, assim a criança, a medida que lhe foi investido ela corresponde, e
nesta relação de afeto, que foi aprendida na infância, será reproduzida na relação com o outro na vida adulta. Assim
esse investimento de afeto se repete por toda a vida do indivíduo, formando o ciclo das repetições nas relações do
indivíduo, inclusive com seu psicanalista.

9) Por que Freud afirma que o paciente não recorda algo, ele repete?

R: Porque a recordação, para Freud é impossível. O esquecimento não é um “erro” ou aleatório, mas um movimento
de defesa psíquica, para impedir que o sujeito se depare com aquilo que é angustiante. Então se este material não for
elucidado, o sujeito o repete através de actings. Além disso, aquilo que não pode ser colocado em palavras se
apresenta nos atos.
Segundo Freud, as vivências na infância do sujeito deixam marcas a nível do inconsciente, são marcas guardadas no
nosso aparelho psíquico, e quando lembramos de um fato da infância, não nos lembramos da marca, principalmente
quando é algo angustiante na qual nosso aparelho psíquico não o consegue lidar com aquilo, traz sofrimento, assim
fica armazenado no inconsciente e é esta marca que o paciente repete, reproduzindo algo referente a esta
marca...refletindo inclusive na relação com o psicanalista, como por exemplo questões como abandono.

10) O que são construções em análise?

R: É uma tarefa do analista, que se sustenta em um trabalho de reconstrução da história, do material recalcado,
completar o que foi esquecido, através da Combinação e suplementação de restos. O analista completa um fragmento
e comunica ao paciente. O termo construção é mais apropriado que interpretação, pois essa se refere a um elemento
isolado do material e a construção é mais abrangente.

O analista coleta as informações que o paciente traz, sua demanda, todas as suas falas na associação livre, seus
sintomas, vivências, sonhos, atos, lembranças e reúne estas informações, organizando e construindo a partir dos
elementos trazidos a história deste paciente. Onde está junção de elementos/construção fará sentido, onde o terapeuta
terá subsídios para interpretação e então compreender o que está de fato acontecendo com este paciente para poder
ajudá-lo de forma mais efetiva, fator este que demanda tempo na terapia.

S: Material análise

Queixas >>>> demandas; Sintomas e inibições >>>> algo que foi experimentado e foi “esquecido”; O que o paciente
leva para análise? Sonhos, ideias, atos...; Trabalho de análise: recordar, repetir e elaborar.

Qual a tarefa do analista? “Completar aquilo que foi esquecido a partir de traços que deixou atrás de si ou, mais
corretamente construí-lo” (FREUD, 1996 [1937]: 276). Construção/reconstrução: organizar o material, construir um
sentido; reconstruir a história de um paciente a partir daquilo que ele traz

Psicanalista e o arqueólogo

Reconstrução = escavação: reconstruir, por meio da suplementação, os restos que sobreviveram.

Psicanalista em condições mais favoráveis: todos os elementos essenciais estão preservados. Nenhuma estrutura
psíquica é vitima de destruição.

“Mas assim como o arqueólogo ergue as paredes do prédio a partir dos alicerces que permaneceram de pé, determina o
número e a posição das colunas pelas depressões no chão e reconstrói as decorações e as pinturas murais a partir dos
restos encontrados nos escombros, assim também o analista procede quando extrai suas inferências a partir dos
fragmentos de lembranças, da associações e do comportamento do sujeito em análise” (FREUD, 1996 [1937]: 277)

Existem equívocos nas “construções”?

“Nenhum dano é causado se, ocasionalmente, cometemos um equívoco e oferecemos ao paciente uma construção
errada como sendo a verdade histórica provável. Acha-se envolvido, é natural, um desperdício de tempo, e todo aquele
que não faça mais do que apresentar ao paciente combinações falsas, não criará boa impressão nele, nem levará o
tratamento muito longe; entretanto um equívoco isolado desse tipo não pode causar prejuízo”. (FREUD, 1996 [1937]:
280). Nem sempre “sim” é “sim”; nem sempre “não” é “não”.

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