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Psicanálise da criança - Melanie Klein

Hanna Segal - pós-escrito pg 131

A técnica psicanalítica, pergunta-se: em que extensão essa técnica

pode influenciar a compreensão do material de um paciente?

A descoberta do complexo mundo interno na mente da criança

revelou a importância do papel desempenhado pela projeção e

introjeção na formação da estrutura mental interna e das relações

externas da criança. Essa técnica influenciou a teoria.

A neurose infantil é um modo de vincular e elaborar as ansiedades

primitivas de natureza psicótica. Quando a criança não difere a

experiência subjetiva da objetiva. Se o bebê não se comunica pela

fala, a função de intérprete neutro do analista fica prejudicada, Se

consideramos que o ego da criança pequena era muito imaturo e o


superego muito fraco para estabelecer um processo psicanalítico

(qual é o discurso a ser analisado na criança que?), e que, portanto, o

analista deveria também adotar o papel de uma figura que guia para

sustentar o ego e fortalecer o superego. -

nesse sentido a neutralidade é abandonada em detrimento de uma

diretividade (guia) que sustenta o ego (decide pela criança) e fortalece

o superego (aponta o certo e o errado) Se o analista decide pela

criança e aponta o moralmente correto, já não está mais na função de

analista e sim na de preceptor.

Ela descobriu que, em qualquer criança que pudesse falar, também

havia suficiente desenvolvimento do ego para estabelecer uma

relação psicanalítica.

Se o paciente tem de separar o que é externo e o que é interno, por

mais que sua visão do mundo esteja alterada pela fantasia


onipotente, ele só poderá fazer isso se o analista permanecer

inalterado em sua função básica diante das projeções do paciente.

Esse paciente estava frequentemente atrasado. pedia que eu

ultrapassasse a hora - o terapeuta não cede às pressões - não muda

o enquadre - “em meu mundo você é a única pessoa que sabe a hora.

Se você não soubesse que hora era, então tudo estaria perdido”.

Contudo, uma vez estabelecido o cenário (setting), este não deve

estar sujeito a controle pela doença do paciente.

Por exemplo, a compreensão de como a identificação projetiva

trabalha, torna mais evidente a razão por que é essencial para o

analista não sair de seu papel.

O analista interpreta mais aquilo que o paciente atribui a ele, e como

o paciente o internaliza.
O ponto de vista kleiniano é o de que a relação com o mundo externo,

e na verdade o interesse pelo mundo externo, emerge a partir da

externalização e da simbolização da fantasia inconsciente

Uma interpretação de transferência plena deveria incluir a relação

externa corrente na vida do paciente, a relação do paciente com o

analista, e a relação entre estas e as relações com os pais no

passado.

diferença entre interpretar uma projeção e interpretar uma

identificação projetiva?” Ao interpretar a projeção, indica-se ao

paciente que ele está atribuindo a uma outra pessoa, uma

característica que de fato é sua. Ao interpretar a identificação

projetiva, tenta-se interpretar o pormenor da fantasia.

Interpretações ad hoc (finalidade previamente definida) do tipo “você

coloca sua raiva em mim” ou “você desconfia de mim” sem

elaboração posterior são experimentadas pelo paciente como


perseguidoras que rechaçam o que foi projetado. Tem-se de

interpretar sempre no contexto da relação total, levando em conta as

ansiedades e motivos do paciente e o objetivo das projeções.

pg 197 dicionário kleiniano

projeção e identificação projetiva - não se pode projetar impulsos sem

projetar parte do ego - os impulsos não desaparecem depois de

projetados e sim penetram e distorcem o objeto

PROJEÇÃO - conceito de Freud fins de defesa - e pode estar

relacionado a paranóia -

não se trata do uso do analista para representar algo - figura parental

por ex - mas um uso para fugir à um vínculo engajado com o analista,

o que traria uma experiência desestabilizadora - contato com o outro

Exemplo de Klein:
sua projeção em mim de sentimentos penosos levava a uma

ansiedade de que eu rechaçaria a projeção para dentro dela, e o

silêncio, portanto, adquiria também um aspecto defensivo — não

falava a fim de não me deixar penetrar nela pelas interpretações,

coisa que, por sua vez, tinha de ser interpretada.

Na paciente que descrevi, eu costumava inicialmente interpretar uma

boa quantidade, na medida em que estava claro que ela não podia

falar até que eu estabelecesse contacto com ela pela compreensão

de sua identificação projetiva e a capacitasse a tolerar a reintegração

de suas próprias partes ativas, de modo que ela pudesse falar.

“Mas eu suponho então que você não tem escolha

Esse objetivo básico foi alterado pelas descobertas posteriores?

Basicamente o objetivo terapêutico permaneceu o mesmo — libertar o

ego e capacitá-lo a crescer, a amadurecer, e a estabelecer relações

de objeto satisfatórias.
Agora, contudo, sabemos mais sobre a complexa estrutura dos

objetos internos e sobre o crescimento do ego, não apenas como um

processo de maturação, mas também como promovido ou impedido

pela relação que tem com seus objetos internos.

Frequentemente, nos simpósios analíticos, é levantado o problema de

saber se os fatores mutativos na psicanálise estão mais relacionados

com a compreensão interna (insighí) ou com um a relação de objeto

corretiva. Parece que esses dois fatores são inseparáveis, já que,

apenas na segurança da relação analítica com o analista como um

parceiro que não projeta ou reage mas visa à compreensão, pode

desenvolver-se uma verdadeira compreensão interna (insight). Por

outro lado, apenas através da compreensão interna (insight) na

própria psique, uma melhor relação de objeto pode ser estabelecida

em relação tanto à realidade interna quanto à realidade externa.


os princípios essenciais do tratamento são os mesmos para todos os

pacientes, por um lado; por outro, o psiquismo dos pacientes muito

pequenos é diferente, e essa diferença se manifesta pelo brincar.

Melanie Klein circunscrevera essa contradição no que denominou de

técnica do brincar, o Play-Technique.

TRANSFERENCIA NEGATIVA - quando o que impera é a

agressividade e a hostilidade do paciente em relação ao analista

quando o que impera é a agressividade e a hostilidade do paciente

em relação ao analista

Devemos esclarecer que a chamada observação analítica da criança

pequena a cristalizaria numa relação de tipo voyeurista, caso essa

observação não fosse tomada numa escuta, num encadeamento


subjetivo e transferencial, no qual, sob essa condição, ele pode dar ao

analista um material precioso.

“Se os meios de expressão das crianças diferem dos dos adultos,

também a situação analítica é diferente com uns e com outros. Mas

ela se mantém, nos dois casos, essencialmente idêntica. As

interpretações consequentes, a redução progressiva das resistências

e o remontar da transferência a situações mais antigas constituem,

tanto nas crianças quanto nos adultos, a situação analítica tal como

deve ser”7.

afirmar, ao mesmo tempo, que há um psiquismo específico da criança

e que a condução do tratamento dos pacientes pequenos é idêntica à

dos pacientes adultos.

Não existe associação verbal: a criança não pode fazer associações

livres, como é a regra no tratamento de adultos.

Não existe associação verbal: a criança não pode fazer associações

livres, como é a regra no tratamento de adultos.


O brincar faz ofício de metáfora, é sua oficina

O brincar num tratamento adquire o estatuto de cristalização, de

compressão metafórica: tem a dignidade do sonho, tem sua

configuração, lugar de condensação por excelência: “No brincar, as

crianças representam simbolicamente fanta- sias, desejos e

experiências

É preciso guardar os detalhes mais ínfimos do brincar; assim, os

encadeamentos aparecerão e a interpretação será efetiva. É

necessário levar em conta o material que as crianças fornecem

durante a sessão: brinquedo, dramatização, água, recorte ou

desenho; a maneira como brincam; a razão por que passam de uma

brincadeira para outra; e os meios que escolhem para suas

representações. “Todo esse conjun- to de fatores, que muitas vezes

parece confuso e desprovido de significação, afigura-se-nos lógico e

repleto de sentido, e suas fontes e os pensamentos que lhe são

subjacentes revelam-se a nós, quando o interpretamos exatamente

como um sonho”12.
Antes de interpretar a seqüência do brincar que tem esse valor de

formação do inconsciente — ou seja, de configuração do gozo e,

portanto, de reabsorção da angústia —, Melanie Klein toma diversas

precauções, sem as quais as simples transposições abstratas de

símbolos não teriam nenhum efeito. Ela só interpreta quando a

criança exprime o mesmo material psíquico em versões diferentes;

quando essas atividades são acompanhadas por um sentimento de

culpa manifesto, ou então de angústia; e quando isso permite um

esclarecimento sobre certos encadeamentos, ou quando o material é

efeito de uma interpretação anterior.

O aparelho psíquico da criança pequena tem um alto nível de tensão:

a angústia muito presente, muito intensa, não pode ser administrada

pela aparelhagem do eu, o princípio de prazer; as representações só

avançam por essa opacida- de deslocando-se passo a passo, palavra

por palavra
Assim, constitui-se aos poucos o princípio de prazer, que terá o efeito

de levar o sujeito de representação em representação, de moção

pulsional em moção pulsional, de objeto internalizado em objeto

internalizado, instauran- do tantas representações quantas sejam

necessárias para manter o mais baixo

A posição de princípio que colocou o brincar no cerne da formação do

inconsciente permitiu a Melanie Klein fazer sua descobertas.

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