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A CONCEPÇÃO DO BRINCAR NAS TEORIAS DE ANNA FREUD E MELANIE

KLEIN

Anna Freud não considerava o brincar o principal ponto em sua teoria, em seu
método, o analista operava como um “educador”, colocando-se na posição de “Ego
ideal”, onde no momento em que a criança entra no trabalho de análise, seria
possível a interpretação dos sonhos, dos devaneios e dos desenhos. O importante
para Anna Freud é o fato de a criança desenvolver a transferência, já que, para ela,
a criança ainda possui um ego não suficientemente desenvolvido para realizar a
transferência de análise. No caso das crianças, seus conflitos envolvem pessoas
reais e que existem no mundo exterior e que ainda não se encontram estabelecidas
na memória, diferente dos adultos, onde seus conflitos dizem respeito a objetos
amorosos mais arcaicos. Para Anna Freud, o analista de crianças além da
habilitação para realizar o tratamento psicanalítico propriamente dito, deveria
também possuir um conhecimento pedagógico.
Anna Freud acreditava dentro da dinâmica da análise infantil que, com crianças
não era possível se realizar uma transferência de modo convencional, com isso era
necessário um tratamento prévio a análise, que tinha como função de conscientizar
a criança sobre sua enfermidade, assim a criança acabava confiando no analista e
se estabelecia uma transferência positiva, já a transferência negativa não deveria
ser interpretada, mas sim ser anulada por meios não analíticos. Anna Freud
enfatizava que somente através da transferência positiva se poderia realizar um
trabalho benéfico com crianças, pois ela visava mais que um trabalho analítico, mas
um trabalho pedagógico também com as crianças, desta maneira o resultado
dependia do laço afetivo com o educador, o analista tinha um papel de educador,
pois o superego da criança ainda não estava maduro, precisando de um auxilio
externo.
Anna Freud também afirmava que com crianças não ocorriam neuroses de
transferência, mesmo ocorrendo dentro de seu trabalho com as crianças algumas
“repetições” do que era vivido na relação pais e filhos, pois mesmo se transferissem
sintomas e defesas a neurose permaneceria no seu objeto original. Para ela o jogo
não se compara ao uso do método de associação livre (usada com adultos), isto se
dava como uma dificuldade. Porém, Anna Freud fala como o id se manifestava de
modo mais claro em crianças através dos “sonhos diurnos” e a “fantasia manifesta
no jogo, desenhos”, desta forma o jogo era utilizado como uma técnica
complementar, ficando visível o impulso do id, mas ainda deixando encoberto o ego.
Melanie Klein acreditava dentro da dinâmica da análise infantil que, as
transferências positivas e negativas; e a espontaneidade da criança deveria ser
interpretada, pois a transferência se dá como principal instrumento para distinguir o
que passa pela mente de uma criança, podendo com isso, descobrir suas histórias.
Também fala que através das transferências e da ligação entre as experiências
iniciais da vida da criança as suas situações presentes, podem ser um caminho a
cura. Melanie Klein diverge do método usado por Ana Freud, pois acredita que o
analista não deveria tomar o papel de educador para si.
Melanie Klein fala que está presente na mente das crianças imagens que
possuem características boas e más, estas imagens estão relacionadas a estados
do superego, quando aparecem nos jogos, de modo simbólico ou personificado, se
pode perceber como está ocorrendo à formação do superego e com isso,
diminuindo sua gravidade. Klein mostra que as ansiedades da criança tanto
depressiva como paranoide são vividas dentro da análise e quando expressadas
nos jogos podem ser reduzidas através da interpretação. Por conseguinte, é na
fantasia que a criança tem com o analista que ela retrocederá as suas primeiras
experiências, deste modo podendo ser analisado o que acontecia em sua mente,
mas somente no término da análise ela reviverá sentimentos do período do
desmame e elaborará o “luto transferêncial” por meio das ansiedades.
Enquanto Melanie Klein acreditava que os jogos realizados pelas crianças
poderiam ser equiparados à associação livre realizada pelos adultos em análise,
Anna Freud discordava veemente dessa visão de Klein, pois, para ela, o ego infantil
ainda não estava desenvolvido suficientemente para que elas pudessem realizar
estas associações livres, mas para Klein, o brincar se aproximava dessa prática,
posto que as crianças ainda estariam numa fase onde a verbalização ainda não
estaria muito bem estruturada e os jogos seriam uma forma de acessar essa
associação livre realizada pelas crianças, onde elas representam de maneira
simbólica as suas fantasias, experiências pessoas e desejos. Anna Freud entendia
o brincar como atividade expressiva e não simbólica, pois para ela, o
simbólico estava ligado ao recalque, já Melanie Klein via o brincar como uma
espécie de discurso e destinado ao analista, onde poderia haver diferentes níveis de
simbolização conforme idade, nível de funcionamento mental, quantidade e
qualidade das angústias da criança. É durante a brincadeira que a criança projeta
tanto no analista quanto nos brinquedos tanto as tendências amorosas quanto as
destrutivas.

REFERÊNCIA

ABERASTURY, Arminda. Duas correntes em psicanálise de crianças. In: ______.


Psicanálise da Criança: Teoria e Técnica. 8. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
pp. 60-69

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COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM


FERREIRA, A. C. C. & PEREIRA, J. K. A concepção do brincar nas teorias de Anna
Freud e Melanie Klein. Curitiba, 21 set. 2016. Disponível em:
<http://psiqueempalavras.blogspot.com.br/2016/09/a-concepcao-do-brincar-nas-
teorias-de.html>. Acesso em: (dia). (mês). (ano).

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