Profª Drª Claudia Rinhel Melaine Klein X Anna Freud Teoricamente, Anna Freud censurava as concepções do objeto, supego, Édipo e fantasmas originários; para ela, a inveja, a gratidão e as posições depressiva e esquizoparanóide não são psicanalíticas. Clinicamente, Ana Freud censura-a por afirmar que é possível uma transferência no tratamento da criança. Para AnnaFreud as crianças não desenvolvem uma neurose transferencial. M.Klein recusa tais críticas, acusando sua rival de não ser freudiana. Melaine Klein Uma teoria do desenvolvimento precoce • O conceito de posição, em Klein, substitui a idéia de fase do desenvolvimento libidinal • A angústia continua a ser o elemento principal para entender o conflito psíquico • A idéia de pulsões de vida e de morte está sempre presente no pensamento Kleiniano • A fantasia inconsciente é descrita como um acontecimento constante e permanente da mente, expressando-se tanto nos fenômenos inconscientes como nos conscientes. • A noção de corpo, na teoria Kleiniana perde seu conteúdo biológico, para se referir exclusivamente a um nível fantasmático. Klein trouxe uma nova ferramenta: a técnica do brincar (play technique). Klein viu que o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias. Visto que não se pode exigir de crianças pequenas que façam associação livre, ela tratou o BRINCAR como expressão simbólica de seus conflitos inconscientes. (SEGAL,1975) Klein entra assim no universo infantil inconsciente, suas relações de objeto e suas fantasias onipotentes. Uma das suas grandes descobertas é que o SUPEREGO já encontra-se presente em crianças muito pequenas e precede o complexo de Édipo sendo um dos agentes promotores do desenvolvimento. Técnica lúdica de Klein Para Klein o brincar tornou-se um campo de exame a ser investigado. Inicialmente a analista ia à casa da criança e analisava usando os próprios brinquedos disponíveis. Posteriormente Klein atendeu em seu consultório com material privativo à cada criança. Intuiu que o brincar possuía um mecanismo semelhante ao dos sonhos. Percebeu que os sintomas obedecem a processos inconscientes análogos aos da formação dos sonhos. Assim processos psíquicos que Freud desvendara ao interpretar os sonhos – deslocamento, condensação, representação verbal pela linguagem arcaica e, principalmente a simbolização, foram utilizados por Klein para descobrir o sentido oculto do brincar. Técnica lúdica de Klein Observar uma criança brincando exige paciência para esperar, pois presume que o brincar não é uma atividade sem sentido. É equivalente a associação livre do adulto e que o analista deve acompanhar o brincar com a mesma atenção flutuante, isto é, não faz críticas, não deixa os desejos nem as teorias influenciarem na observação dos acontecimentos. Quando o analista já tem uma hipótese interpretativa, às vezes é útil fazer uma intervenção preliminar para reforçar a hipótese, chamar atenção do analisando para a situação focalizada e obter informações adicionais pela sua resposta. Considera-se o brincar equivalente ao conteúdo manifesto do sonho, que, após interpretado, revela o significado oculto, o conteúdo latente do sonho. Estrutura da teoria Kleiniana Relações Objetais Esclarecimento a respeito das descrições sobre os mecanismos precoces das crianças “Em certo sentido, todas as descrições realizadas por nós são artificiais, porque temos que usar palavras para descrever experiências que têm lugar num nível primitivo, antes que a verbalização tenha sido adquirida, e porque o processo de verbalização a que nos vemos obrigados para poder transmiti-lo envolve, provavelmente, uma modificação dessas primeiras situações; os processos psíquicos estão ligados, e aquela experiência original cujo conteúdo queremos traduzir usando somente palavras deve ser, sem dúvida, vivenciado pelo bebe como sensações, podendo dizer-se que a criança só pode usar o corpo para expressar seus processos mentais”. Fantasia Para Klein, as fantasias podem ser consideradas como representantes psíquicos ou o correlato mental, a expressão mental dos instintos. A formação de fantasias é uma função do EGO. A fantasia não é simplesmente uma fuga da realidade, mas um constante e inevitável acompanhamento de experiências reais, com as quais está em constante interação com o meio. É também uma defesa contra a realidade interna – uma tentativa de satisfazer um desejo. O bebê capaz de sustentar uma fantasia não é impulsionado a descarregar e sim “como um meio de aliviar o aparelho mental de acréscimos de estímulos”. Segal sugere que a origem do pensamento reside no processo de testar a fantasia contra a realidade, ou seja, que o pensamento não apenas contrasta com a fantasia, mas nela se baseia e dela deriva. (SEGAL, 1975) Para Klein, o bebê ao nascer ainda não tem um ego, ou um self constituído, mas apresenta estruturas precursoras deste, tornando-o capaz de sentir ansiedade e de se defender dela por meio de projeções e introjeções. Essa hipótese amplia a teoria de Freud, por proporcionar através da interação dos processos projetivos e introjetivos, uma concepção de um teatro interno onde os significados das experiências emocionais são gerados, fornecendo o cenário das experiências emocionais. • Segundo Klein, existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isso os objetos, pessoas e situações adquirem um colorido todo especial. • Esse conceito é muito importante no estudo da formação de símbolos e desenvolvimento intelectual. • Os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. O conjunto de ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de “posição esquizoparanóide”. • Com o desenvolvimento o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). • Agora o bebê teme perder o seio bom. Esse temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de“ansiedade depressiva”. O conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas do ego são chamados por Klein de “posição depressiva”. • A teoria Kleniana consolida-se com a teoria das posições que representa a ansiedade, defesa, relações com o objeto e impulsos. O psiquismo funciona a partir destas posições, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. • Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressão são analisados a partir dessas duas posições. Por isso, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso “equacionar” as ansiedades depressivas e ansiedades persecutórias. • É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Em outras palavras, não adianta trabalhar o sintoma(neurose) se não trabalhar os processos que levaram seus surgimentos (ansiedades persecutória e ansiedade depressiva),posteriormente deve-se compreender modos de como superar essa ansiedade. Estrutura Mental Precoce segundo M.Klein Para Klein, estádio é posição, mistura de angústia e de defesa, que, iniciando de forma precoce, surgem e reaparecem durante os primeiros anos de infância e em determinadas circunstâncias da vida posterior. O que inicia a relação objetal na criança?
A primeira relação objetal que a criança realiza é
a alimentação e a presença da mãe, que fazem com que a criança se relacione objetalmente, mas com a característica de que é uma relação de objeto parcial.
Essa relação é objetal, tanto para os impulsos de
vida como para os de morte. Estrutura da teoria Kleiniana M. Klein sugere que o complexo de Édipo se inicia sob o domínio do sadismo e do ódio, quando a criança se volta para um segundo objeto – o pai – com sentimentos de amor e ódio. Ela vê nos sentimentos depressivos derivados do medo de perder a mãe – como objeto externo e interno – um impulso importante para os primeiros desejos edípicos. Estrutura Mental Precoce A raiz do Ego, só podem ser entendidos pelos mecanismos de introjeção e projeção. É evidente que o Ego não começa a existir subitamente como entidade bem estabelecida; ele se desenvolve gradualmente por repetições da experiência e de modo desigual em suas diferentes funções, a partir de processos gerais de todo organismo vivo, assim como a incorporação e a expulsão. Estrutura Mental Precoce O Ego está exposto à angústia provocada pela dualidade pulsional e quando a criança se vê frente à angústia causada pelos instintos de morte, o Ego desvia esta angústia e a transforma em agressão. O Ego tem, por outro lado, um papel de clivagem, de transformação e de projeção desta agressão sobre o seio materno, primeiro objeto exterior que ele encontra. Estrutura Mental Precoce A noção de objeto, para ela, é inteiramente determinada pelas necessidades físicas, pelas pulsões e fantasias. As fantasias servem de suporte à representação da necessidade e o objeto do bebê pode ser definido como aquilo que está no interior e no exterior do seu próprio corpo. Estrutura Mental Precoce Se segundo Freud, o Superego é o sucessor do complexo de Édipo, ele é para Klein, uma estrutura construída durante toda a infância e que começa pela introjeção da mãe nutridora (do seio). Este Superego precoce só pode ser compreendido quando admitimos uma rica atividade imaginária inconsciente, um objeto imaginário e uma pulsão primitiva de destruição que é identificada como pulsão de morte – Freud. Estrutura Mental Precoce Ao prazer de sucção, sucede o prazer de morder. Se o bebê não tiver satisfação no estádio de sucção terá de obter maior prazer (mais necessidade) no estádio oral de morder. Não é somente as causas externas de má alimentação que pode causar um desprazer na sucção. Segundo M. Klein, seria um desenvolvimento de um sadismo anormal. Estrutura Mental Precoce Existe assim um complexo edipiano precoce “na criança por volta de 1 ano de idade, assumindo a ansiedade causada pelo início do conflito edipiano a forma de um temor de ser devorado e destruído. A criança deseja destruir o objeto libidinal, mordendo-o, devorando-o e cortando-o, o que produz ansiedade, já que o despertar das tendências edipianas é seguido da introjeção do objeto, que se torna alguém de quem se espera punição. Desenvolvimento Psíquico Não influi no conceito de fases de Freud (oral, anal, fálica e genital), mas Klein fala em posições.
O bebê nasce e funciona primitivamente em uma
posição denominada ESQUIZO-PARANOIDE e através das trocas e das relações com os objetos passa para uma posição DEPRESSIVA. Relações de Objeto As crianças tendem a cindir (Split) seus objetos em bons e maus como uma forma primitiva de tentar lidar com esses sentimentos ruins tentando afastá- los e incorporar os bons. Os objetos vistos parcialmente são cindidos em bons e maus, assim o seio que amamenta pode ser visto como um seio bom quando nutri, mas também é um seio mau quando a criança está com fome ou sentindo algum desconforto e ele não aparece magicamente. Tudo isso se dá no mundo da fantasia infantil. Estrutura da teoria Kleiniana
De 3 a 8 meses de vida o bebê vive 2 fases principais :
Posição esquizo paranóide Posição depressiva Por que posição e não fase? Fase é uma coisa estática. Você vive e se voltar, é denominado regressão. Posição é mais dinâmica. Apresenta agrupamentos específicos de angústias e defesas que aparecem e reaparecem nos primeiros anos de vida. Posição Esquizo-paranoide Posição em que predominam os impulsos destrutivos e as angústias persecutórias. Estende desde o nascimento até 3, 4 ou 5 meses de idade. O ego imaturo do bebê é exposto, desde o nascimento, a ansiedade provocada pela polaridade inata dos instintos – o conflito imediato entre o instinto de vida e o instinto de morte. O ego, buscando se defender, se divide (splits) e projeta essa sua parte destrutiva, que contém o instinto de morte, para fora, no objeto externo original – o seio (identificação projetiva) e mantem dentro de si com o objeto ideal ou bom como algo protetor e que lhe da vida. A ANSIEDADE predominante é PARANOIDE/PERSECUTÓRIA e os objetos são vistos como OBJETOS PARCIAIS (que podem ser do EU e do OBJETO EXTERNO). Existe uma extrema IDEALIZAÇÃO e uma NEGAÇÃO mágica onipotente. (SEGAL, 1975) Resumo Posição Esquizo Paranoide Divisão do ego : Seio Bom-gratifica-idealização/introjeção Seio Mau-frustra-projeta Não percebe o objeto como uma unidade- desenvolve o amor e o ódio isoladamente Predomina a onipotência Não há reflexão Não reconheço o que é ruim como sendo meu (projeção) Cisão do objeto interno A ansiedade é paranóide/persecutória, pois o ego é frágil para lidar com o desconforto, com o ódio e com a frustração. O ego é fragmentado. Utilização de mecanismos de defesa primitivos: Splitting(cisão), projeção, introjeção, negação e identificação projetiva. M.Defesa: são fantasias usadas como forma de proteção e organização da mente feita pelo ego. Posição Depressiva Os sentimentos depressivos e de culpabilidade suscitam o anseio de preservar ou ressuscitar o objeto amado e fazer reparações pelas fantasias e impulsos destrutivos. Inicia-se o estádio primitivo do complexo de Édipo. Posição Depressiva
Está ligada a passos importantes do desenvolvimento do
Ego – 6º. Mês. As fantasias e impulsos sádicos, assim como a angústia persecutória diminuem de intensidade. O bebê introjeta o objeto total e torna capaz de sintetizar os vários aspectos do objeto e suas emoções. O amor e o ódio unem-se na sua mente. Esta união produz a angústia – temor que o objeto, tanto externo quanto interno seja danificado ou destruído. Quando esses processos integradores se tornam mais estáveis e contínuos se inicia uma nova fase da vida – a posição depressiva. O bebê olha a sua mãe por inteiro. Como um OBJETO TOTAL com características boas e ruins reunidas. As ansiedades brotam da ambivalência e a principal ansiedade da criança é a de que seus próprios impulsos destrutivos tenham destruído ou destruam o objeto que ela ama e do qual depende totalmente. Os processos introjetivo são intensificados em virtude do estágio oral. Existe um luto e um anseio pelo objeto bom e, a CULPA, vem como consequência do medo de sua destrutividade tenha danificado o objeto. A CULPA busca o processo de REPARAÇÃO. (SEGAL, 1975) Resumo – Posição Depressiva Reconhece a realidade interna e externa Mãe como objeto total (completa e real) Ambivalência-culpa-reparação Possibilita viver a subjetividade Tríade-Édipo Reconheçe a dependência Diminuição da onipotência Reconhecimento da própria hostilidade Dor ao perceber os sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto A ansiedade é depressiva Suporta a não exclusividade Elabora a culpa-responsabilidade Percebe que o objeto não está sob o seu controle Inicia-se a vida simbólica!!! O brincar! Klein afirma que através de processos de introjeção, projeção e identificação projetiva ou introjetiva fazemos trocas de investimentos com os objetos. IDENTIFICAÇÃO INTROJETIVA – é o resultado da introjeção do objeto no ego o qual se identifica com algumas ou com todas as suas características. IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA – é o resultado da projeção de partes do eu (self) no objeto. Pode ser como resultado não só o fato de que se perceba o objeto como tendo adquirido as características da parte projetada do eu (self), mas também o de que o eu (self) se torne identificado com o objeto de sua projeção. Definição de alguns conceitos Avidez – é uma emoção de tipo oral que consiste num desejo veemente, impetuoso e insaciável, que excede o que o sujeito necessita e que o objeto é capaz de dar. Por ex.: esvaziar totalmente o seio, chupando-o até secar e devorá-lo, quer dizer que é o seu propósito é uma introjeção destrutiva. Definição de alguns conceitos Inveja – não é apenas roubar como anteriormente, mas também colocar na mãe, e especialmente em seu seio, maldade,excrementos e partes más de si mesmo, com o fim de lhe causar dano, destruir e controlar. No sentido mais profundo significa destruir sua capacidade criadora; é uma identificação projetiva destrutiva. Também podemos defini-la como um sentimento de raiva contra outra pessoa que possui ou desfruta de algo desejável, sendo o impulso o de tirá-lo ou danificá-lo. Definição de alguns conceitos Ciúme – baseia-se na inveja mas compreende pelo menos 2 pessoas e refere-se principalmente ao amor que o indivíduo sente que lhe é devido e lhe foi tirado ou está em perigo de lhe ser tirado por um rival. PROJEÇÃO A projeção aparece, primeiramente, ligada à pulsão de morte, cuja ameaça de destruição interna é neutralizada, ao ser expulsa para fora do sujeito. Esta projeção de agressão e de libido permite que se constituam os objetos parciais seio bom e seio mau.
A projeção ocorre em todos os momentos da vida. Ela é
essencial no estágio precoce de desenvolvimento, contribuindo para a distinção entre Si-mesmo e não-Si- mesmo, onde tudo o que é prazeroso é experimentado como pertencente ao Si-mesmo; e tudo o que é penoso e doloroso se experimenta como sendo não-Si-mesmo. Esse é um processo normal que ajuda a fortificar o Si-mesmo e a estabelecer o esquema corporal. INTROJEÇÃO Nos estágios iniciais do desenvolvimento tudo o que agrada é introjetado. A introjeção é um mecanismo que repete, com objetivo defensivo e regressivo no adulto, esse movimento que consistia em fazer entrar no aparelho psíquico uma quantidade cada vez maior do mundo exterior. •A introjeção seria uma defesa contra a insatisfação causada pela ausência exterior do objeto. A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigem para um objeto. A identificação, realizada através da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os objetos. Na teoria de Melanie Klein a introjeção é essencial para o psiquismo, pois é através dela que se constroem os objetos internos, o que permite a formação do ego e do superego. IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA
É um processo psicológico pelo qual um sujeito
assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações. Incorporação e introjeção são protótipos da identificação ou, pelo menos, de algumas modalidades em que o processo mental é vivido e simbolizado como uma operação corporal (ingerir, devorar, guardar dentro de si, etc.). “ A psicanálise transforma tudo o que é doloroso em algo vivo e produtivo por meio da clínica de reabilitação dos objetos internos
Falar com os mortos internos é uma
maneira de trazê-los a vida !” Luiz Claudio Figueiredo ( Psicanalista) OBRIGADA!!!