Você está na página 1de 7

AULA 5: Tema de discussão: Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva

e luto.

Referências:
KLEIN (1935) Capítulo: Psicogênese dos estados maníaco-depressivos;
KLEIN (1940) Capítulo: O luto e suas relações com os estados maníaco-
depressivos.
In:KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997.
(Amor, culpa e reparação e outros trabalhos, Vol. I).
KLEIN (1959) Capítulo 12: Nosso mundo adulto e suas raízes na infância.
CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva.


Tendo como base seus trabalhos com análise de crianças, Klein afirma a
presença de sentimento de culpa muito antes dos três e dos quatro anos.
Essas observações analíticas levaram a hipótese de um superego precoce,
formado pela introjeção das figuras edipianas arcaicas, atacadas pelo sadismo
infantil e tornadas ameaçadoras mediante o retorno do sadismo sobre a própria
criança. Desse modo ela deixa explicito a noção de que a criança projeta sua
agressividade sobre figuras parentais e que a característica aterrorizante do
superego decorre de tal projeção. Klein discorre sobre as vantagens pessoais e
sociais decorrentes da transformação do superego aterrorizador em
consciência moral benigna, capaz de limitar a insaciabilidade destrutiva e
modificá-la, por meio de mecanismos sublimatórios.
O conceito de posição compreende uma colocação perante o objeto, na
posição paranoide, estar diante ao objeto indicava o seu consumo e,
inversamente o medo de perseguição, pois as partes maltratadas ou excluídas
vinham a se tornar fontes ameaçadoras. Na posição depressiva estar diante ao
objeto é antes de tudo reconhecê-lo como alguém que desejo preservar e que
posso perder.
Na posição esquizoparanoide o pós-natal despoja de um ego rudimentar,
arcaico e fragmentado. Para o bebê o seio é um objeto parcial, o próprio leite é
um objeto parcial, e ele tem o desejo de “devorar” atacar o seio. Nos primeiros
meses de vida, quando o bebê se encontra na posição esquizo-paranóide, o
seio/leite é um objeto a ser consumido.
Para Klein uma relação feliz com a mãe e seu seio nunca é livre de
perturbações, já que a ansiedade persecutória fatalmente surgirá. A ansiedade
persecutória está em seu auge durante os três primeiros meses de vida. Nessa
posição predomina a desconfiança na bondade dos objetos devido aos
impulsos destrutivos que surgem com muita força, a mãe e seu seio, devido a
projeção, são sentidos como persecutórios e, portanto, o bebê sente,
inevitavelmente, insegurança. Na posição paranoide o bebê experiência uma
ansiedade persecutória, ele teme sofrer com o ataque do objeto, nesta forma
de ansiedade, a preocupação é com a preservação do próprio eu (medo do
aniquilamento).
A posição esquizo-paranóide se refere a um estado psíquico, sua base
etimológica esquizo provém do grego com significante de cisão, dissociação,
divisão. Ela se caracteriza por defesas esquizoides, ou seja, fragmentações,
dissociações, idealizações, interligados a paranoide, perseguição. A ansiedade
persecutória ou paranoide é a forma mais primitiva da ansiedade advinda do
medo do aniquilamento. A cisão, idealização, a projeção, a negação da
realidade psíquica são defesas contra ansiedades persecutórias, defesas muito
arcaicas e são dirigidas contra os impulsos agressivos. Para Klein os impulsos
agressivos, são mais intensos nos primórdios da vida, quando a criança se
encontra na posição esquizo-paranóide, e ela se caracteriza pelos seguintes
aspectos, pulsões agressivas particularmente intensas, aspecto clivado,
dividido em dois, bom e mau (não há meio termo), a ansiedade é sempre de
natureza persecutória.
A gratificação pelo seio nutridor é a primeira forma de gratificação
experienciada pelo bebê (seio bom que alimenta e o mau que frustra). Nesse
sentido, ocorre uma cisão. O seio bom e o seio mau são “imagos” que se
formam na mente do bebê. Essas “imagos” do seio resultam em introjeção do
seio real (introjeção, internalizar, incorporar, trazer para dentro). Essa imagem
do objeto externo é sempre mais ou menos distorcida pelas suas próprias
fantasias.
Uma relação inicial satisfatória com a mãe implica um contato íntimo entre o
inconsciente da mãe e o da criança. Junto a necessidade de cindir, existe
desde o início da vida uma tendência a integração, que aumenta com o
crescimento do ego. (Klein - 1963)
Por volta do quarto, quinto mês ocorre uma mudança significativa nas relações
de afeto do bebê o objeto parcial passa a se tornar total, mais próximo ao real.
O bebê se identifica com a mãe e a reconhece como semelhante, se preocupa
com ela e tem medo de perdê-la. Neste mesmo período, quarto mês de vida, a
criança ingressa na posição depressiva e nessa posição o afeto é algo que
deve ser preservado e não devorado.
Na posição depressiva, a criança começa a ver o objeto como semelhante, o
bebê teme danificá-lo, teme que o objeto ao qual depende desapareça. Nesse
caso predomina uma relação de confiança na bondade dos objetos e o
processo de introjeção do seio bom converte-se na fonte de segurança e
bondade, durante a posição depressiva a ansiedade persecutória diminui.
“Quando surge a posição depressiva, comumente na metade do primeiro
semestre de vida, o ego já está mais integrado. Isso expressa um sentimento
de inteireza, que permite ao bebê ser mais capaz de se relacionar com a mãe,
e mais tarde com as pessoas, como uma pessoa completa” (Klein 1963).
“A integração se puder ser alcançada tem efeito de mitigar o ódio através do
amor e, dessa forma, tornar os impulsos destrutivos menos poderosos” (Klein
1963). Na posição depressiva o bebê experiencia uma ansiedade depressiva
(ansiedade com traços de culpa), sente culpa por ter atacado a mãe em sua
fantasia.
O bebê tende a idealizar o seio “bom”, o seio ideal, inexaurível, sempre
disponível, sempre gratificador. A introjeção do seio bom é fundamental para
integração do bebê. Para Klein a integração do ego resulta na diminuição da
ansiedade persecutória.
O bebê precisa conservar a crença de um seio bom, pois só assim poderá
sentir-se seguro e estabelecer uma relação de confiança com o objeto. Esses
sentimentos são fundamentais para a construção de um objeto interno bom. A
internalização do objeto bom proporciona para o bebê sentimentos de
segurança e confiança necessárias para suportar frustrações e privações.
A introjeção do objeto bom consiste na colocação para dentro do aparelho
psíquico de todas as experiências de prazer, formando um registro dinâmico
(constelação), isto é, de uma reserva interna de experiências de prazer e a
segurança, aumentando a capacidade de tolerar estados transitórios de
privação e frustração. Esse registro dinâmico de inúmeras situações de prazer
(de sentir desejado, amado, cuidado) funciona como uma garantia de acesso
ao prazer. Isso alimenta a esperança na criança e aumenta sua capacidade de
suportar frustração, privações e perdas.
Para autora, durante os primeiros cinco anos de desenvolvimento, ocorre uma
alternação muito característica entre as posições esquizoparanóide e
depressivas (embora, ao longo da vida, sempre haja uma alternância entre as
duas posições e isso faz parte da saúde mental).
Melanie Klein considera a elaboração da posição depressiva é o ponto mais
importante do desenvolvimento infantil: nos casos mais bem sucedidos, ocorre
uma predominância da posição depressiva sobre a posição paranoide, o que
significa ter havido uma firme introjeção do objeto bom, aspecto que será
decisivo para determinar a capacidade de amar e de reparar. Sem isso, as
defesas maníacas continuarão prevalecendo, e o retorno à posição paranoide
será inevitável. Se uma criança tiver serias dificuldades para elaborar a posição
depressiva, ela poderá apresentar distúrbios maníacos depressivos na vida
adulta.
Podemos também afirmar que a cisão entre “figuras excessivamente boas e
más” é o que caracteriza a posição paranoide, ao passa que o
desenvolvimento da posição depressiva envolve a unificação dessa bondade e
maldade, conduzindo a imagos mais moderadas.
A elaboração bem-sucedida da posição depressiva, envolve a capacidade de
superar a ambivalência, que nunca será eliminada. A saúde psíquica e a
capacidade de amar depende da habilidade de suportar a ambivalência.
“Quando o bebê alcança a posição depressiva e torna-se mais capaz de
enfrentar a sua realidade psíquica, sente também que a “maldade” do objeto é
devida em grande parte à sua própria agressividade e à projeção decorrente”.
(Inveja e Gratidão pag. 228)
Ao longo da vida sempre haverá uma alternância entre as duas posições, elas
coexistem a vida toda e essa interligação perpetua conflito pelo resto da vida.
“Minha experiência tem-me mostrado que nunca há uma integração completa,
mas que quanto mais o indivíduo se esforçar nessa direção, mais insight terá
sobre suas ansiedades e impulsos, mais forte será o seu caráter e maior seu
equilíbrio mental”. (Inveja e Gratidão- pág. 312)
Sobre o sentimento de culpa e defesas maníacas.
Por que a intenção é equiparada a execução?
Como preconizado por Freud, a criança teme a perda do amor dos pais, pois
ela depende deles para sobreviver. Para Freud o termo culpa se aplica as
manifestações de consciência resultantes do superego. Para ele, o termo não
se aplica as crianças com menos de 3 ou 4 anos de idade. Para ele a criança
não sente culpa, e sim medo de perder o amor dos pais.
Ao contrário de Freud, Klein sustenta que as crianças menores de 3 anos já
experienciam a culpa. Isso ocorre porque ela deriva a culpa dos impulsos
agressivos. Para ela a culpa provém da agressão, ou seja, quando o individuo
ataca o objeto amado, ele sente culpa pela agressão. Para Klein a culpa se
acha intimamente vinculada a ansiedade depressiva e a tendência de fazer
reparação. Entende que a essência da culpa reside no sentimento que o
indivíduo tem, de ter danificado o objeto amado bom.
A criança, no entanto, pode sentir que feriu sua mãe quando não feriu de fato,
esse dano pode não ser real. Nos primórdios da vida, a criança ainda não é
capaz de distinguir seus impulsos dos efeitos que eles realmente provocam. A
criança ainda não consegue discernir o que é imaginário e o que é real, o seu
mundo interno com seu mundo externo. Isso se deve a sua onipotência dos
pensamentos. Após sentir culpa dos ataques reais ou imaginários a seus
objetos de amor, a criança tem o ímpeto de repará-los. A necessidade de
reparar o objeto amado surge da culpa.
No entanto as operações de reparação nem sempre ocorrem na medida
necessária, podem tornar mais forte e frequente as chamadas defesas
maníacas. As defesas maníacas expressam o desejo de anular todos os
ataques sádicos realizados na posição paranoide, com a anulação mágica dos
efeitos dos ataques sádicos, são dissolvidos, igualmente, os perseguidores. As
defesas maníacas o libertam da culpa e do medo do aniquilamento.
A depressão surge do sentimento de perda. O temor de perder a mãe desperta
sentimentos depressivos na criança, dessa forma o ego mobiliza defesas
contra ansiedades de culpa e depressão, assim mobiliza defesas contra a
culpa e do medo de perder o objeto bom conhecidas como defesas maníacas,
as defesas maníacas se caracterizam pela tríade:
1- Triunfo.
2 – Desprezo.
3 – Controle onipotente.
O triunfo sobre o objeto é caracterizado pelo desejo de dominar, sobrepujar o
objeto. Por exemplo: A criança tem o sonho de crescer e ser grande igual os
pais, pode ter a seguinte fantasia: haverá um dia que eu serei rico, poderoso e
os pais se tornarão crianças indefesas, ou estarão velhos e pobres.
O desprezo também é uma defesa maníaca e está ligada no mecanismo de
negação. O sujeito despreza o objeto bom. Nega sua dependência dele, nega
que precisa do outro. Nega sua dependência perigosa e escravizante do
aspecto amado. Pode depreciar aquilo que não pode ter, para não ficar
desapontado consigo mesmo.
No controle onipotente do objeto, o sujeito nega a culpa decorrente de sua
própria hostilidade para com o objeto. Nega que danificou o objeto, por um
lado, nega o medo de ser atacado pelo objeto danificado e por outro, nega o
medo de perder o objeto bom.
O luto.
O luto nas perspectivas Kleinianas. Em um sentido mais estrito, o luto é um
sentimento de pesar pela perda de um ente querido. Num sentido amplo,
podemos entender que o luto é a perda de alguém que consideramos
importante, ou algo que consideramos valioso.
“O luto é a perda de uma pessoa amada ou a perda de abstrações colocadas
como pátria, liberdade, um ideal”.
Após um período o luto é superado, esse processo de superação do luto, na
psicanálise é chamado de trabalho de luto, o luto não é considerado um estado
patológico. O alheamento em relação ao mundo externo é um aspecto
característico do processo de luto. Com o tempo, o choro e a tristeza
diminuem, o sujeito se consola e aos poucos se reorganiza. Quanto maior o
apego ao objeto perdido, maior o sofrimento de luto.
A dor não deve ser negada deve ser vivenciada para suportar o luto. A duração
do luto varia de acordo com, as características pessoais do sujeito enlutado,
laço afetivo do sujeito com o objeto perdido e a forma como perdeu. Mortes
traumáticas e inesperadas geralmente demoram mais para serem digeridas.
“É impressionante que encaremos um incômodo tão penoso como algo tão
natural. Cada lembrança, situações de expectativa demonstra o apego para
com a pessoa perdida, juntamente quando se depara com a imposição da
realidade que esse não existe mais. Mesmo que por fora não pareça devido ao
alheamento do mundo, há uma grande luta por ser travada internamente”. O
anseio pela pessoa amada implica na dependência, apego em relação a ele.
Em alguns casos o luto pode ser patológico, o luto não é enfrentado de forma
adequada. Para atravessar com sucesso o primeiro luto a criança deve ter
introjetado um objeto bom.
Assim, quando o sofrimento é vivido ao máximo e o desespero atinge seu
auge, o indivíduo de luto vê brotar novamente seu amor pelo objeto. Ele sente
com mais força que a vida continuará por dentro e por fora, e que o objeto
amado perdido pode ser preservado em seu interior. Nesse estágio do luto, o
sofrimento pode se tornar produtivo. Sabemos que experiências dolorosas de
todos os tipos às vezes estimulam as sublimações, ou até despertam novas
habilidades nas pessoas, que começam a pintar, escrever ou iniciam outras
atividades produtivas sob a pressão das frustrações e\adversidades.
Se o indivíduo não tem um objeto bom interno suficientemente estabelecido,
sua capacidade de suportar perdas diminui. Consequentemente ele tende a
fracassar no luto.
O que o maníaco depressivo e o sujeito que fracassa no trabalho de luto tem
em comum?
A mania é caracterizada pela elação, elevação do eu e humor acompanhada
por uma aceleração do nível global de atividade psíquica. Já a depressão é
polo oposto, onde o sujeito deprimido não tem vontade de fazer suas vontades
cotidianas.
Para Klein ambos não desenvolveram o estabelecimento de objetos bons na
infância. Se um indivíduo não tem objetos bons internos, dentro de si, vivera
em uma perda com desesperança e ficará propenso a desenvolver uma
afecção psíquica, mania e depressão.

Você também pode gostar