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Introdução à psicanálise

semanas 6-7

Sumário: Do modelo desenvolvimental estrutural para o


modelo das relações de objeto

• Melanie Klein
Melanie Klein (1882- 1960)

o Psicoterapeuta austríaca pós-freudiana;

o 1916- primeiro contato com a Obra Clássica de Freud;

o 1920- dá início à sua análise com crianças;

o Baseia-se nos grandes construtos teóricos de Freud, mas


inova alguns desses conceitos e deixa em aberto novos
avanços científicos.
Hanna Segal (1918- 2011)

o Psicanalista britânica, seguidora de M. Klein;

o Orientar o estudo dos seus alunos Introdução à Obra de


Melanie Klein;

o Contribuiu ativamente para o estudo e divulgação da obra


de Klein.
Trabalhos teóricos de Melanie Klein
1ª fase 2ª fase 3ª fase
- Notes on some
- On the Development of - A Contribution to the Schizoid Mechanisms
the Child” Psycho-genesis of the
(1946)
- The Psycho-Analysis of Manic Depressive
- Envy and Gratitude
Children (1932) States” (1934)
(1957)
- Mourning and its
Relation to Manic
Depressive States”
(1940)
perspetiva de M. Klein

o Melanie baseou-se na Obra Clássica de S. Freud e de K.


Abraham descrevendo as suas descobertas em torno dos Sigmund Freud
estádios libidinais e da teoria estrutural do ego, superego e id.

o Em 1934, faz uma mudança significativa no seu ponto de


vista teórico, com o conceito de posições, dando maior
dinamismo aos estádios de desenvolvimento.

Karl Abraham
Klein, M. (1955). La técnica psicoanalítica del Juego: su historia y
significado.
P s i K o l i b r o p.2

”A minha investigação com crianças e adultos e o meu


contributo para a teoria psicanalítica como um todo, derivam
em última estância, da técnica do jogo que desenvolvi com
crianças pequenas.
(…) a compreensão que obtive acerca do desenvolvimento
precoce, dos processos inconscientes e da natureza das
interpretações através das quais se pode aceder ao
inconsciente, teve uma grande influência no meu trabalho com
crianças mais velhas e com adultos.”

ilemos, UAlg
Conceitos kleinianos
• A posição esquizoparanoíde(PEP) representa a
primeira relação que a criança teria com o mundo
externo e é dominada por representações internas
inatas;
• Na PEP a criança vive no mundo da confusão entre
o símbolo e o simbolizado, pois ainda não teve
acesso ao pensamento simbólico, que advém com
a triangulação (esta inaugura a função simbólica).

As duas posições básicas: A


posição esquizoparanoide e
a posição depressiva:
ilemos
a posição depressiva

Na posição depressiva a relação com o objecto


implica uma imago materna integrada (amor e
ódio, com ambas as valências libidinais integradas)
– logo o ego da criança está mais integrado.

o bebé processa internamente a separação face ao


objeto da mãe. Começa a existir uma diferenciação
clara e nesta altura, a criança pode expressar-se /
brincar de uma forma mais estruturada.

ilemos
A Posição depressiva e a culpa

A ambivalência do bebé face ao objeto materno surge à medida em que percebe


que esta é um só e o mesmo objeto total ;

A capacidade crescente para reconhecer a ausência e a perda potencial dos


objetos de apego predispõe à experiência da culpa face a um objecto amado -
posição/ansiedade depressiva.

As experiências da PD incrementam sentimentos reparadores. O sofrimento


psíquico associado com a integração leva a defesas características desta posição,
incluindo reparação maníaca ou obsessiva, negação total do dano ou resignação.

Esta nova posição Dep introduz as preocupações edipianas relacionadas com a


consciência do Terceiro.
Anna Segal (1975) - a propósito do modelo
kleiniano

• Com o movimento de reparação que é introduzido com a posição

depressiva, inaugura-se na criança as capacidades de simbolização e

de sublimação – o objeto materno passa a ser percebido como uma

entidade mentalmente separada/independente, passa assim a ser

visto como tendo desejos, vontade e vínculos próprios.


Aula teórica 7 • Papel da ansiedade e da fantasia inconsciente
Conceitos na relação da criança com o mundo e o papel da
essenciais
formação simbólica no desenvolvimento do
Kleinianos
psiquismo: Se a ansiedade é excessiva todo o
É contra a
agressividade processo de formação simbólica cessa / é
interna (pulsões interrompida. (aqui insinua-se a patologia)
agressivas) e
contra a ansiedade • Introjeção e projeção como mecanismos muito
face ao objeto
materno ativos em crianças. O superego neste modelo é
(primitivo) que as anterior ao do concetualizado por Freud para a
defesas do bebé fase do complexo de Édipo.
são erguidas.

• Defende um ego primitivo que remonta ao


período dos primeiros meses de vida.

ilemos
Na PEP - “Inveja primitiva”

A inveja primitiva seria uma forma maligna de agressão inata.

A inveja dirige-se ao bom objeto – a criança pode ressentir-se das


limitações dos cuidados maternos e preferir a sua destruição ao
invés de experienciar frustração.

Este sentimento interfere com a diferenciação primária entre bom


e mau.

a inveja excessiva impediria resolver a Posição Esquizoparanoide e


tornar-se-ia o precursor desenvolvimental de muitas formas de
estados confusionais (psicopatologia).

ilemos
no modelo kleiniano

❖A posição depressiva nunca é plenamente elaborada:


permanecem as ansiedades relativas a ambivalência e a
culpa e as situações de perda reativam as experiências
depressivas.

❖A capacidade de estabelecer um objeto interno bom


permite a reelaboração criativa (a crença no amor e na
criatividade do ego)

ilemos
Pressupostos das teorias das relações de objeto:

(i) a patologia grave tem origem pré-edipiana (i.e., nos


1ºs 3 anos de vida);

(ii) os padrões de relações com os objetos complexificam-


se com o desenvolvimento;

(iii) os estágios do desenvolvimento representam uma


sequência maturacional que é transcultural. No entanto,
esta pode ser distorcida por experiências pessoais;
ilemos
(v) determinadas modalidades de relação de objeto são consistentes
com a manifestação de psicopatologia.

(iv) os padrões de relação de objecto tendem a ser continuados e em


certo ponto, são mantidos e reproduzidos ao longo da vida;

(vi) as reações clínicas dos pacientes com o terapeuta fornecem


informações relevantes para examinar os aspetos saudáveis e
patológicos dos padrões relacionais precoces (aspetos transferenciais)

ilemos
A interação de mecanismos projetivos e introjetivos:

• Nos primeiros 2 anos de vida, a maior parte da comunicação entre a


criança e os outros é pré-verbal.

• O mundo interno estaria cheio de introjetos primitivos;

• A criança, pela projeção, desenvolve a capacidade de relacionar-se e


identificar-se com os objetos do seu meio-ambiente.

• A projeção constitui uma forma de distorção interpretativa da


realidade externa.
na terapia:

✓“perceber qual o progenitor interno ou outro objecto precoce importante


que está a ser ativado em cada momento, em vez de procurar relacionar-se
com o paciente como se existisse um Eu consistente com defesas maduras,
passiveis de abordagem.
✓o aparecimento da perspetiva das relações de objeto teve consequências
significativas no alcance e na variedade do tratamento.
✓Os terapeutas agora podiam prestar atenção às atitudes dos “introjetos” –
os outros interiorizados que tinham influenciado a criança e que se
mantinham vivos no adulto, e em relação aos quais o cliente não tinha ainda
alcançado urna separação psicológica satisfatória”.
McWilliams (2005, p.53)
Em suma: para a clínica

• Mudança de paradigma da psicologia do ego para o modelo das


relações de objeto:

• na psicologia do ego os problemas são explicados por um


funcionamento inflexível de determinadas defesas contra a
ansiedade, na teoria das relações de objeto a explicação recai na
ativação de objetos internos dos quais o paciente se diferenciara
inadequadamente – os padrões relacionais precoces.
Representações mentais (imagos parentais)

As representações de objeto são mantidas rigidamente


separadas/clivadas para manter a possibilidade de união simbiótica
com o objeto recompensador e para repelir a depressão de abandono
(causada pelo objeto abandónico, não gratificante).

As respostas dramáticas dos indivíduos borderline à separação são


explicadas pela sua separação psíquica incompleta dos seus Objetos, a
experiência psicológica da separação da figura de apego tornando-se
equivalente à perda de uma parte do self.

Exemplos de padrões relacionais com caraterísticas borderline ?


Casos extremos: ex. casais com relações pautadas por violência
psicológica e física
• Segal, H. (1975). Introdução à obra de Melanie Klein. Rio de janeiro:
Imago Editora.
• McWilliams, N. (2005). Diagnóstico Psicanalítico. Lisboa: Climepsi.
Cap 2

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