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Universidade de Uberaba

Anna Freud, Melanie Klein,


Donald Winnicott
Fundamentos da Psicoterapia– Prof. Rafael Silvério Borges
Anna Freud

“(...) Anna Freud, a polêmica e, em certa medida,


incompreendida e injustiçada herdeira dos ensinamentos
paternos para o campo da Psicanálise com crianças. Longe
de ser uma pensadora obtusa, como quiseram muitos de
seus detratores, essa pioneira foi uma fiel seguidora das
ideias paternas, com a diferença de que não retomou
algumas concepções que o próprio Freud ultrapassara.
Podemos afirmar que, tanto quanto os demais autores,
privilegiou alguns e desprezou ou subestimou outros
ensinamentos freudianos.”

Gueller e Souza (2008, p. 102)


Anna Freud

 Superego da criança  instala-se por volta dos cinco


anos de idade – não é independente do mundo
exterior.
 Independência  ao longo do tempo – superego
internalizado.
 Diretamente dependente de vínculos com os pais reais.

 Vínculos primários – não reeditáveis no processo


analítico – primeira edição ainda não esgotada.
Anna Freud

 Decidia cautelosamente a indicação da psicanálise,


caso a caso  não era para todas as crianças.
 Casos mais severos – neurose infantil.

 Etapa prévia  estratégias pedagógicas e pouco


analíticas – “adestramento para análise”.

 Superego independente – agir analiticamente


 Superego dependente – agir pedagogicamente
Anna Freud

 Finalidade da análise: adultos x crianças


 Adultos: suspensão do recalque pelo afrouxamento do
superego
 Crianças: fortalecimento do processo de constituição do
superego

 Clínica com crianças  informações colhidas na


família, sonhos noturnos, devaneios diurnos – contos
de fadas, mitos, histórias infantis e desenhos
 Sem equivalência à associação livre
Melanie Klein
 Análise com crianças e adultos  pouco difere

 Criança determinada pela quantidade de impulso de


vida e de morte  luta intrapsíquica – ansiedades e
neuroses

 Desde o nascimento – ego capaz de experimentar


angústia, utilizar mecanismos de defesa e estabelecer
relações de objeto primitivas
 Não significa um ego integrado – ego que reage sob o
impacto de uma angústia
Melanie Klein

 Mecanismos de projeção e introjeção  objeto


internalizado não é uma cópia do objeto externo
 Objetos internos significam as vivências emocionais

 Conceito de posição  modo de funcionamento do


psiquismo
 Esquizoparanóide e depressiva – alternância estrutura o
sujeito.
Melanie Klein

 Ego  relação com objeto primário (seio materno),


desde muito cedo
 Seio bom (ideal)  experiências gratificantes recebidas da
mãe real
 Seio mau (persecutório)  experiências reais de privação e
dor

 Incapacidade de perceber os objetos como uma unidade


 amor e ódio.
Melanie Klein

 Esquizoparanóide – divisão no ego entre bom e mau


 Depressiva – mãe enquanto objeto total
 Objetos parciais  objetos totais – diminui a angústia

 Posições retomadas permanentemente durante a vida


 ≠ fixação – Freud

 Relação com a mãe completa e distinta, que não se


satisfaz completamente  vazio onde se instala o
terceiro: o pai.
 Díade  tríade.
Melanie Klein
 Édipo precoce, superego precoce e cruel

 Anna Freud  superego dependente do mundo


externo e consequência de um processo psíquico –
herdeiro do Complexo de Édipo;

 Melanie Klein  superego como instância interna,


independente do mundo externo e causa das
patologias
 Completo aos 3 anos de idade – permite a transferência de
objetos primitivos.
Melanie Klein
 Dispensava acontecimentos na realidade

 Finalidade da análise  entrar em contato com as


fantasias
 Integração dos aspectos cindidos

 Brincar  possibilidade das crianças verem e


verbalizarem as fantasias

 Ego da criança – mais frágil que o do adulto 


permitia melhor acesso ao inconsciente.
Histórico e introdução às ideias de
Winnicott
 1924 (Berlim)  debate aberto em comunicação
sobre psicanálise em Viena – Melanie Klein e Anna
Freud confrontaram-se diretamente
 Psicanálise de crianças: forma nova e aperfeiçoada de
pedagogia (Anna Freud), ou oportunidade de uma
exploração psicanalítica do funcionamento psíquico desde o
nascimento (Melanie Klein)?

 Crescente discordância entre Klein e Anna Freud 


julho de 1942  grande tensão no seio da Sociedade
Britânica de Psicanálise
 Kleinianos, annafreudianos e independentes (middle
group).
Histórico e introdução às ideias de Winnicott
 Nesse campo de batalha  Donald Woods
Winnicott – também trouxe contribuições originais à
psicanálise infantil.

 Influência de Klein no pensamento de Winnicott 


sobretudo quanto à importância do mundo interno e o
poder da fantasia.
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Klein e Winnicott  tratam os aspectos pré-edípicos


da personalidade da criança

 Klein – papel da mãe internalizada, ponto de vista da inveja,


agressividade, voracidade e experiências psicóticas do bebê

 Winnicott – importância da relação da criança e sua mãe


real, os aspectos saudáveis e a necessidade de ser amado
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Só se pode pensar o ser humano quando relacionado


ao seu meio ambiente – inserido no contexto familiar
e social – ambiente que o precede e o acolherá.

 Estado de não integração – tendência inata para se


desenvolver e unificar – dependência absoluta –
unidade mãe-bebê
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Ambiente suficientemente bom  reconhecimento de


uma realidade “não eu”
 Em contato com o bebê, mãe lhe permite viver em
continuidade – senso de unidade – integração do self.

 Bebê no estágio inicial  não projeta, não introjeta,


não tem inveja – existe ou perde a continuidade da
existência
 Presença ou ausência de holding, continência e falhas
ambientais.
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Dependência relativa  bebê a mãe se diferenciam –


sentido de eu
 Espaço potencial entre mãe e filho – transicionalidade –
surgimento do indivíduo e início da capacidade de usar
símbolos

 Desenvolvimento na interdependência e
intersubjetividade
 ≠ Klein  intra-subjetividade
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Independência – nunca total  reconhecimento e


preocupação com o objeto

 Distúrbios psíquicos primitivos  decorrem dos graus e


das variedades das carências de adaptação materna e da
maneira como o bebê os processa

 Recém-nascido  precisa sentir que existe nos olhos da


mãe – reposta do ambiente às suas necessidades –
confiança para existir e se comunicar.
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 1º - Papel de espelho da mãe  bebê vê a si mesmo


no olhar da mãe – comunicação lhe dá um lugar;

 2º - Rosto da mãe não é espelho  apercepção 


percepção – existência do mundo “não eu”.

“Quando olho, sou visto, logo existo.


Posso agora me permitir olhar e ver...”
(Winnicott)
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Psicoterapia – espaço transicional – criança tem a


oportunidade de desenvolver sua criatividade.

 Transicionalidade  separação é uma forma de união –


bebê encontra o que cria, acredita que seu gesto estabelece
um sentido no mundo.
 Ausência  presença.

 Espaço potencial  situa-se entre mundo subjetivo e


objetivo – experiências do bebê.
 Preenchimento pelas experiências humanas, sociais,
artísticas, da área do brincar, da criatividade, religiosidade.
Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Escutava crianças, pais e outros profissionais – escuta


livre.

 Manejo do setting  varia de acordo com cada


situação específica  consultas terapêuticas e
atendimentos de acordo com a demanda.

 Psicanálise é para quem quer, necessita e pode tolerar.


Histórico e introdução às ideias de Winnicott

 Privilegiava o brincar:

“O trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então no


sentido de trazer o paciente de um estado que não é
capaz de brincar para um estado em que o é.”

 Brincar por brincar – terapêutico.


Referências

 CASTRO, M. G.; STÜRMER, A. e cols. Crianças e


adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica.
Porto Alegre: Artmed, 2009.

 GUELLER, A. S.; SOUZA, A. S. L. (orgs). Psicanálise com


crianças: perspectivas teórico-clínicas. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2008.

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