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RESUMO – TEORIA DE WINNICOTT

HISTÓRIA

- Contexto dos anos 20 (1° Guerra Mundial)


- Era médico pediatra e depois se tornou psicanalista
- Estava no meio do conflito que existia entre os apoiadores de Anna Freud e os
apoiadores da Melanie Klein
- Winnicott fez supervisão com a Klein, mas depois manteve sua originalidade ao
elaborar sua teoria
- Fazia parte do chamado “grupo dos independentes” que eram pessoas imparciais e
que não ficavam nem do lado da Anna Freud e nem da Klein, apesar de se
simpatizarem mais com as ideias da Melanie.

TEORIA

- Princípio Base: INTEGRAÇÃO


O autor propõe que a mente humana estrutura-se e organiza-se aos poucos, a partir
de um estado natural de difusão, não integração. Defende a ideia de uma
predisposição natural do organismo humano ao desenvolvimento, que, contudo, só
ocorre se as condições do meio ambiente em que o indivíduo nasce lhe permitirem.
Assim, para que surja um indivíduo humano normal, o fator ambiente tem uma função
primordial. A ação do meio deve ser mediada, pois pode impedir, interromper o
processo de integração.

Neste sentido, a mãe como representante dos cuidados maternos à criança, tem papel
da mãe central, como representante deste “ambiente”. A mãe devotada comum
funciona sem qualquer deliberação intelectual de sua parte, proporcionando ao bebê
o meio ambiente necessário para que a sua tendência à integração ocorra.

Se o ser humano tem uma tendência inata a se desenvolver e a se unificar/integrar,


alia-se a esta tendência o processo de maturação que permite que esta tendência se
atualize e se efetive por meio de uma mãe ambiente que permite ou impede o livre
desenvolvimento destes processos.
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL X AMBIENTE FACILITADOR

- O bebê não constitui uma unidade em si mesmo (ele é uma organização entre bebê
e meio ambiente, que seria a mãe)
- No início da vida, as necessidades do bebê são absolutas, sendo que o recém-
nascido depende 100% de um adulto e precisa que esse adulto esteja sempre disposto
para suprir essas necessidades.
- A saúde mental da criança depende dos acontecimentos que ocorrem entre a fase
de transformação da dependência total para a independência.

MÃE SUFICIENTEMENTE BOA

Winnicott fala da necessidade do bebê ter uma mãe (ambiente) que seja capaz de
suprir suas necessidades, proporcionando conforto e segurança a fim de diminuir o
processo ansiógeno.
- A mãe suficientemente boa soube apresentar-se ao seu bebê como um suporte para
seus esporádicos contatos com a realidade, como um ego auxiliar a mãe satisfaz as
necessidades iniciais do bebê e promove, quando da saída desta matriz, a experiência
fugaz de onipotência.
- Como o bebê ainda tem a percepção de que é uma coisa só com sua mãe, quando
ele tem contato com a realidade externa, ele sente sofrimento. Então, a mãe é a
responsável por diminuir essa ansiedade, tendo que estar totalmente devota à suprir
as necessidades do filho.
- A proteção que o ego auxiliar oferece - díade mãe-filho - concorre para o
estabelecimento de um self, uma personalidade única, em conformidade com sua
experiência existencial.

DO QUE A MÃE SUFICIENTE BOA PROTEGE O BEBÊ?

Das angústias impensáveis: são aquelas que ocorrem nos estágios mais precoces
do desenvolvimento, numa etapa em que o bebê não tem capacidade para
compreender ou discriminar sobre quaisquer mecanismos mentais, impulsos
instintuais, vivências proprioceptivas, pressões ambientais, independente de
ocorrerem em si mesmo ou no ambiente externo, o que amplifica sua intensidade em
vivências ansiógenas insuportáveis
Resumidamente, a criança ao nascer é indefesa, não integrada e
desorganizada enquanto a percepção dos estímulos do meio, desta forma
situa-se num estado de total dependência do meio, em sua mente criança e
meio são uma coisa só, cabendo à mãe oferecer um suporte adequado para
que as condições inatas alcancem um desenvolvimento ótimo.

PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA

Mãe e bebê estão em um estado temporário de FUSÃO.

Este é um estado de sensibilidade exacerbada que ocorre durante e principalmente


no final da gravidez e que dura até algumas semanas após o nascimento, neste
estado, a mãe preocupada com o bebê chega ao ponto de excluir qualquer outro
interesse, de maneira normal e temporária, para dedicar-se ao seu bebê
Para que isso ocorra, a mãe esteja sendo sustentada material e psicologicamente
pelo ambiente que a cerca, representado muitas vezes pelo seu parceiro.

FUNÇÕES MATERNAS

A adaptação da mãe às necessidades do bebê torna-se concreta e objetivada por meio


das três funções maternas:

• Apresentação do objeto – Refere-se à oferta do seio ou a mamadeira nos


momentos certos, dando ao bebê a ilusão de que é onipotente a ponto de criar
o objeto.

• Holding - Significa “sustentação”, ações em que a mãe protege o bebê dos


perigos físicos, pelos cuidados cotidianos e da rotina. A mãe sustenta o bebê
física e psicologicamente.

• Handling – Refere-se à manipulação do bebê enquanto ele é cuidado.


Depois que a criança está encaminhada para um processo de amadurecimento e
independência, a mãe retorna aos seus interesses pessoais.
Não se trata de um rompimento ou isolamento, mas da instauração de um contato,
“rumo à independência”, em que meio (mãe) e indivíduo tornam-se interdependentes

É, portanto, de suma importância que a tarefa materna responda pela:


continuidade do ambiente humano; da confiança que torna o comportamento
da mãe previsível; da adaptação gradativa às necessidades que impulsionam à
independência e da possibilidade de aprovisionar e concretizar o impulso
criativo da criança

PROCESSO DE AMADURECIMENTO

Dependência absoluta (0 – 6 MESES): quando o bebê depende da mãe para tudo


e precisa que ela esteja lá assim que ele sentir a necessidade

Aqui, o bebe passa por 4 estágios:


1 – Pré natal, 2 – Nascimento, 3 – Recém nascido (devoção, regressão e
desamparo) e 4 – mamada teórica (0 a 4 meses, onde o bebê não mama apenas
para se alimentar mas sim para ter a qualidade do contato com a mãe)

Dependência relativa (6m a 2 anos): o bebê é capaz de esperar, de aguardar pela


satisfação de necessidades e desejos

Na dependência absoluta, o bebê irá internalizar os cuidados e confiança prestados


pela mãe, aumentando sua capacidade de suportar possíveis falhas e ausências. A
partir disso, ele começa a caminhar para a dependência relativa.
AGRESSIVIDADE E TENDÊNCIA ANTISSOCIAL

- Para Winnicott (1939) a agressividade faz parte do ser humano, é inata, ou seja,
irremediavelmente inerente à natureza humana, se integra à condição do ser humano
de “estar vivo”

A agressividade expressa pelo individuo se dá pela falta de holding materno.


Quando a mãe não passa pela fusão com o bebê, ela não consegue identificar o que
a criança precisa e quais são as suas necessidades, deixando a criança sem o devido
suprimento. Com isso, o bebê não vive a ilusão de que a mãe estará ali disposta
sempre para suprir suas necessidades e acaba sentindo ansiedade, nervoso e
emoções agressivas. Essas emoções terão os seguintes destinos no futuro:
- ser escondida pela via da timidez e/ou autocontrole;
- ser cindida do próprio indivíduo;
- ser expressa como comportamento antissocial (expressos violência e compulsão à
destruição).

para este autor a timidez, o retraimento, a omissão são agressivos tanto quanto as
expressões abertas de agressividade.

Winnicott fala sobre 3 formas de manifestação da agressividade:

1) INICIAL OU PRÉ CONCERNIMENTO

Não é possível falar de agressividade nessa fase uma vez o bebê não tem noção de
emoções e nem do que é amor/ódio. A agressividade aqui é o simples impulso de
satisfazer suas necessidades (se movimentar e se alimentar)

2) INTERMEDIÁRIA OU CONCERNIMENTO

Aqui já aconteceu a integração do ego e o indivíduo se enxerga como EU (não mais


um ser único com o meio).
Aqui, a raiva deriva da frustação, que é impossível de ser evitada na relação mãe-
bebê pois nem sempre a mãe conseguirá suprir 100% das necessidades do filho.

3) PERSONALIDADE TOTAL OU CRESCIMENTO DO MUNDO INTERNO

Neste estágio o desenvolvimento do lactente torna-se mais complicado, pois por um


lado a criança preocupa-se com seus impulsos sobre a mãe, bem como vivenciar suas
experiências em seu próprio eu, já que por um lado a satisfação do impulso faz o bebê
sentir-se bem, sustentando sua confiança em si e esperança na vida, por outro lado
terá que reconhecer os seus ataques de cólera, que a faz sentir-se repleta de coisas
ruins, malignas ou persecutórias, que podem criar uma ameaça interna à si próprio.
Este momento dá início à tarefa de administrar o mundo interno, tarefa que perdurará
para toda vida.

Na saúde, a criança dirige seu interesse à realidade externa e ao mundo interno, mas
também constrói pontes entre um e outro mundo, pelos sonhos, brincadeiras, etc..., já
na doença, a criança realinha o que é bom no mundo interno e projeta no externo o
que ruim, passando a viver no mundo interno tornando-se patologicamente
introvertida. Quando restabelece-se da introversão patológica, sua relação com o
mundo externo permanece cheia de elementos persecutórios, o que a torna agressiva,
e a depender da forma inadequada de quem lhe cuida a criança passa a assumir uma
postura introvertida.

TENDÊNCIA ANTISSOCIAL

Winnicott (1956) afirma que a tendência antissocial não é um diagnóstico, pode ser
encontrada em indivíduos normais, neuróticos e psicóticos e em todas as idades.

Se dá quando a criança perde algum aspecto essencial da sua vida em família,


tornando-se deprivada.

O período de de-privação ocorre entre o final da primeira infância e a época em que a


criança começa a andar (entre 1 e 2 anos). A ocorrência da de-privação é proveniente
da perda de algo bom, de caráter positivo, da experiência da criança até um dado
momento de sua vida. Esta perda se dá num período maior do que a criança consegue
manter viva a memória da experiência.
Há duas vertentes da tendência antissocial – o roubo e a destrutividade.

No roubo, a criança procura algo em algum lugar e, diante do fracasso, busca em


outro lugar, movido pela esperança.
Na outra destrutividade, a criança busca a estabilidade ambiental que precisa para
suportar a demanda do comportamento impulsivo. O que a criança busca no objeto
roubado, não é o objeto em si, mas a mãe sobre a qual a criança sente que tem
direitos, isto em decorrência de que a criança, sob sua perspectiva, entende que a
mãe foi criada por ela.

A união das duas vertentes – roubar e destruir – representa uma tendência a autocura,
a cura da des-fusão dos instintos, pois na época da de-privação havia certo grau de
fusão da raiz agressiva (motilidade) com a raiz libidinal.

A tendência antissocial se manifesta pelo roubo, mentira, incontinência e desordem


generalizada, independente do sintoma, e denominador comum é o caráter
perturbador do sintoma, que nada tem de casual, parte da motivação é inconsciente,
mas não toda ela.

- O tratamento da tendência antissocial não é a psicanálise, mas o fornecimento de


um ambiente que cuida, no qual o tratamento necessita do seu manejo, no qual o
analista deve ir de encontro ao momento de esperança da criança de-privada,
correspondendo a esta esperança.

OBJETOS E FENÔMENOS TRANSICIONAIS

Quando a criança está saindo da fase da dependência para a independência.


A criança irá escolher um objeto para representar os cuidados da mãe, já que esta não
estará mais 100% do tempo disponível.
Essa fase de transição é de grande sofrimento para a criança, então ela precisa de
algo que a auxilie nesse processo.
Em outras palavras, o assim denominado objeto transicional é a representação da
primeira posse “não-eu” da criança, rumo a uma experiência de diluição de certa
onipotência característica dos primeiros estágios da vida.

FALSO E VERDADEIRO SELF

A criança precisa constituir sua visão de eu. A esse “eu”, denominamos “self’.
Uma mãe suficientemente boa cumpre as expressões de onipotência infantil e
possibilita a criação de um verdadeiro self .
Agora, a mãe que não cumpre esse papel instaura na criança uma sensação de que
ela precisa sobreviver de alguma outra forma. Nessa incapacidade de acolher da mãe,
a criança desenvolverá o falso self.

VERDADEIRO SELF:
- Self real, autêntico e original
- baseado na sensação de estar vivo
- Nos estágios primitivos, o bebê é por natureza associal, amoral e egoísta
- o bebê grita, morde e é agressivo quando precisa
- a criança segue as regras porque durante um tempo pode ignorá-la
- Surge antes do “eu” se instituir como separado.

FALSO SELF:
- Vulnerável, idealizado, superficial
- Fachada defensiva, sentir-se morto e vazio
- Falhas permanecem congeladas
- Defesa natural proteção necessário
- Quando é negada que as crianças sejam difíceis, agressivas, intolerantes
- Relação com o ambiente de ajuste a demanda quando a criança cumpre exigências
cedo demais, congelando a autenticidade.
- Mãe impõe, criança reage – defensivamente

“O REAGIR INTERROMPE O SER E O EXISTIR”


- se a mãe não satisfaz as necessidades, a criança reage e se submete
- é produto da socialização e educação

Winnicott postula vários níveis de falso self, desde uma atitude social (não patológica)
até o falso self que se implanta como real, em total submissão do verdadeiro self.

1. Situação de extremo - Falso self se implanta como real e o verdadeiro self


permanece oculto;

2. Menos extremo - Falso self defende o self verdadeiro, de modo que o self
verdadeiro é percebido como potencial e é permitido a ele ter uma vida secreta;

3. Mais para o lado da normalidade - O falso self tem como interesse principal a
procura de condições que tornem possível ao self verdadeiro emergir;

4. Ainda mais para o lado da normalidade - O falso self é construído sobre


identificações;

5. Na normalidade - O falso self é responsável pela organização integral da atitude


social polida e amável.

TEXTO EXPLICATIVO NO MATERIAL DE APOIO AO ALUNO:


“Se o papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que lhe permita integrar suas
sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades motoras
nascentes, quando ocorre uma falha nesta proteção, a criança perceberá esta falha
ambiental como uma ameaça à sua continuidade existencial. A mãe suficientemente
boa é a que responde à onipotência do bebê e pode lhe dar sentido. Assim, aquilo que
se denomina “self verdadeiro” pode começar a adquirir vida - o ego ainda incipiente
do bebê ganha força porque a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil,
lhe “empresta” esta força.

A mãe que não é capaz de fazer a sua parte nesta onipotência infantil, por exemplo,
quando não responde ao gesto da criança, mas ao contrário, coloca o seu próprio
gesto, suprimindo a possibilidade de ilusão, instaura uma situação cujo sentido será
vivido pela criança como o de ter que se submeter ou acatar algo imputado à criança
para que possa sobreviver. É, então, a incapacidade materna de acolher e interpretar
as necessidades da criança que gerará a primeira etapa do falso self. Neste sentido,
a vivência - subjetiva - da criança é a de que suas percepções e atividades motoras
são, tão somente, a resposta diante do perigo a que está exposta.

Num segundo momento, a proteção que é sentida como ausente vai sendo substituída
por uma “fabricada” pela própria criança, um envoltório que serve de base para o
desenvolvimento do self, agora e neste sentido, resultado ou consequência do
ambiente sentido como algo de que é preciso arduamente se defender. Esta espécie
de “casca” é o falso self que, nos melhores casos, tem tarefa ou função de proteger o
verdadeiro self, no entanto, sem substituí-lo. Nos casos em que há uma substituição
do self verdadeiro pelo falso, considerados casos com uma conotação patológica mais
evidente, o que ocorre é um constante estado de defesa, originado pela experiência
das intrusões maternas e que impossibilita um contato com processos primários.

Mas é prudente lembrar que não existe uma exclusão radical do falso self, ele estará
sempre presente, na medida em que a mãe suficientemente boa é, necessariamente,
aquela que falha e, inevitavelmente, as falhas são vividas de forma muito singular
pelos sujeitos, o que demandará recursos defensivos, mais ou menos arcaicos,
dependendo de onde as situações vividas tocam no seu mundo interno.

O núcleo do self verdadeiro emana da vida, já que é decorrente do corpo e da ação


das funções corporais. Podemos entender o falso self como uma defesa que oculta e
protege o verdadeiro self. Na medida em que o verdadeiro self é a fonte dos impulsos
pessoais, o indivíduo cuja existência ocorre pelo um falso self torna a vida esvaziada
de sentido e percebida como irreal. O gesto espontâneo é o self verdadeiro em ação,
só o verdadeiro self pode ser criador e só o verdadeiro self pode ser sentido como
real.”

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