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Winnicott Teoria e Clínica EAD

Desenvolvimento Emocional Primitivo

Winnicott se interessa primariamente em estudar os problemas emocionais da criança e


do bebê e, desta forma, decide estudar a questão da psicose em análise, pois para ele (e
alguns outros autores), a dinâmica do paciente psicótico e o tipo de cuidado necessário
para seu manejo, seria semelhante ao modelo do bebê em uma fase de dependência
absoluta, com a vantagem do paciente psicótico adulto ter condições de “falar" sobre
seu estado e experiências.

• Winnicott descreve alguns tipos de tratamento psicanalítico:


A. É possível fazer uma análise levando-se em consideração quase que exclusivamente
seus relacionamentos com outras pessoas, junto com as fantasias conscientes e
inconscientes que enriquecem e complicam esses relacionamentos entre pessoas
inteiras - Modelo Freudiano
B. Um tipo de abordagem em que as fantasias passaram a ter grande importância;
fantasias estas a respeito da organização interna que constitui o aspecto mais
vitalmente importante, fazendo com que a análise da depressão e das defesas contra
a depressão não possa ser realizada com base apenas nos relacionamentos dos
pacientes com pessoas reais e nas suas fantasias sobre estes relacionamentos -
Modelo Kleiniano

Aqui cabe uma importante diferenciação: o paciente que necessita de análise da


ambivalência de seus relacionamentos externos tem uma fantasia sobre seu analista e
sobre o trabalho deste que difere da fantasia de um paciente deprimido. No caso do
paciente deprimido o trabalho do analista é percebido como sendo realizado a partir do
amor pelo paciente, sendo o ódio desviado para coisas que merecem ser odiadas.
O paciente deprimido exige do seu analista a compreensão de que seu trabalho implica,
em certa medida, no esforço de dar conta de sua própria depressão (analista), ou melhor,
da culpa e da dor resultantes dos elementos destrutivos de seu amor (do analista)

• Quanto mais caminhamos “para trás” no processo de amadurecimento, o mais


importante para o bebê é o “modo” como está sendo cuidado do que em
determinadas pessoas que cuidam dele. Mas o “modo"será muito melhor
desempenhado por aquela pessoa que estiver identificada com o bebê, tarefa muito
mais possível para a mãe biológica (porém não exclusiva a ela).
• Um bebê que pega um objeto e traz até a boca e depois o joga fora já mostra que
caminhou muito em seu processo de amadurecimento: “nesse estágio o bebê já é
capaz de mostrar, através do brincar, que ele compreende que tem um interior e que as
coisas vem do exterior”.

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C. Agora sim, o terceiro tipo de análise, ou o terceiro tipo de paciente: aqueles que ainda
não reconhecem a si mesmo (e portanto os outros) como a pessoa inteira que ele é (e
que os outros são).

• Ou seja, Winnicott está dizendo que: existe a clínica freudiana, existe a clínica kleiniana
e ele propõe a sua clínica do: “Desenvolvimento Emocional Primitivo”.

• O desenvolvimento emocional primitivo é caracterizado por três processos cujo início


ocorre muito cedo: 1- Integração; 2- Personalização; 3- Realização.

Falar de ego é falar da pessoa do bebê

Nessa fase muito prematura, Winnicott equivale a pessoa do bebê ao ego do bebê, pois
sem o ego em funcionamento os cuidados não podem ser experienciados e as
experiências não podem ser registradas na personalidade, impossibilitando assim a
existência do bebê como pessoa. Por esse motivo, falar do bebê é falar do ego do bebê:

• O desenvolvimento do ego é caracterizado por várias tendências:


• A principal tendência do processo de maturação anda passo a passo com os diversos
significados da palavra integração. A integração temporal pode unir-se (ao que deveria
ser chamado) integração espacial.
• O ego é fundado a partir de um ego corporal, mas é apenas quando tudo corre bem
que a pessoa do bebê passa a estabelecer um vínculo entre o corpo e as funções
corporais, tendo a pele como uma membrana limitadora. Tenho empregado o termo
personalização a fim de descrever esse processo.
• O ego inaugura a relação de objeto. Com uma maternagem suficientemente boa inicial
o bebê não fica sujeito às gratificações pulsionais, exceto enquanto existir uma
participação do ego. Quanto a isso, coloca-se uma questão bastante pertinente:
devemos proporcionar satisfação ao bebê, deixando-o descobrir e chegar a um acordo
com o objeto (o seio, a mamadeira, o leite, etc).

Integração

• A palavra Integração acompanha toda a obra de Winnicott, aparecendo, inclusive, em


mais de um sentido. Porém, ao tomar a totalidade de sua obra, Winnicott utiliza a
palavra integração para se referir à constituição do ego.
• Inicialmente o ego do bebê estaria em um estado de não-integração, a mãe seria
responsável neste momento por juntar estas partes aglutinando em uma unidade,
funcionando assim como um ego auxiliar.

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O Ego

• O ego, de acordo com o autor, é aquela parte da personalidade que tende, em


condições favoráveis, a se integrar em uma unidade.
• A realização deste potencial é baseada em um cérebro intacto capaz de operar de
forma organizada, uma vez que “sem nenhum aparelho eletrônico não pode haver
qualquer experiência e, consequentemente, nenhum ego.
• PORÉM: “nos primeiros estágios do desenvolvimento da criança humana, o
funcionamento do ego precisa ser tomado como um conceito que é inseparável do
conceito de existência do bebê como pessoa. O que a vida pulsional separa do
funcionamento egóico pode ser ignorado, uma vez que o bebê ainda não é uma
entidade que vive experiências. Não existe um id antes do ego.” (Winnicott, 1962/1984
- A integração do ego no desenvolvimento da criança)
• Para Winnicott, o ego é responsável por recolher as informações (as experiências
internas e externas), organizando-as.
• O ego do bebê inicialmente está em um estado de não-integração, e é a mãe que junta
estas partes do ego aglutinando em uma unidade e possibilitando o funcionamento
egóico do bebê, desta forma ela figura como um “ego-auxiliar”. Esse cuidado inicial do
ambiente Winnicott chama de holding, sustentação no tempo-espaço.
• A temporalidade do bebê (passado, presente e futuro - continuidade de ser) é
possibilitada graças a este suporte egóico, os cuidados, baseados numa monotonia,
possibilitam a previsibilidade do cuidado, experiências de início, meio e fim. Além
disso, as experiências são integradas pelo funcionamento do ego, criando-se assim
uma história em que o bebê poderá se ancorar e habitar.
• Caso o cuidado seja deficitário, uma falha ambiental para além da capacidade do bebê
em manter sua existência, o ego não se aglutinará e não poderá integrar experiências,
criando assim o quadro descrito por Winnicott em “O medo do colapso” de pacientes
que não lembram por “não estarem lá.”
• Somada à temporalidade está a questão da espacialidade, este ego “temporalizado”
para a possuir uma integração própria, sobrevivendo por maiores períodos de tempo
ao empréstimo egóico materno. A integração do ego passa a ser do próprio bebê,
ainda que necessite de tempos em tempos do suporte egóico do ambiente, holding,
“(…) o bebê não se importa em ser uma porção de pedacinhos ou um único ser, nem se
ele vive no rosto da mãe ou em seu proseio corpo, desde que de tempos em tempos ele
se torne uno e sinta alguma coisa”. (O Desenvolvimento Emocional Primitivo, p.224)

Exemplo:
“Um menino de nove anos que gostava de brincar com Ann, de dois, estava muitíssimo
interessado no novo bebê esperado pela mãe. Ele perguntou: Quando o bebê nascer, ele
vai nascer antes da Ann?”
“Uma paciente, psicótica, não conseguia adaptar-se a nenhuma rotina, porque se ela o
fizesse jamais saberia, numa terça-feira, se estávamos na semana passada, nesta semana
ou na semana que vem.

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