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Curso: Winnicott -

Teoria e Clínica

O lugar no espelho na teoria e Clínica Winnicottiana

O desenvolvimento emocional primitivo é nome dado ao processo de


amadurecimento que ocorre muito precocemente no bebê humano e que é
compreendido por Winnicott como “tarefas”que precisam ser conquistadas pelo
bebê, suficientemente facilitadas pelo ambiente (cuidado materno), por parte do
bebê as tarefas são:

A) Integração
B) Personalização
C) Realização

E, do lado do ambiente, temos os diferentes tipos de cuidados a ser oferecidos,


correspondentes às necessidades descritas acima:

A) Holding
B) Handling
C) Apresentação de objeto (de forma transacional - o brincar)

Em meio a esses processos o bebê começa a “ver alguma coisa”, muito mais que
o seio, o bebê vê o rosto da mãe, mas o que isso que dizer e quais consequências
isso tem no processo de amadurecimento do bebê? É a esse momento que
Winnicott se refere ao falar do “papel do espelho da mãe e da família no
desenvolvimento infantil”. Winnicott inicia esse texto afirmando que o rosto da
mãe tem um papel anterior a importância do espelho, fazendo referencia
claramente ao texto de Lacan, “o estádio do espelho”. Aqui é um ponto
necessário em fazer um comparativo desses dois autores, e que se repetirá na aula
sobre o Jogo da Espátula e o tempo da sessão.

O estádio do espelho

Lacan escreve esse texto baseado em um experimento de psicologia comparada


de H. Wallon e que serve de ampliação de uma ideia deixada por Freud no texto
“introdução ao narcisismo”, na passagem em que anuncia que uma nova ação
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psíquica é necessária ocorrer para que ocorra a passagem do autoerotismo para o


narcisismo, e essa nova ação é o surgimento do ego. Assim, temos o estádio do
espelho como a explicação lacaniana para o surgimento do ego, de forma
resumida e esquemática temos o seguinte:
1- O estádio ocorre entre o 6 e 18 meses da criança.
2- Inicialmente ela não se interessa pelo espelho pois não consegue fechar uma
gestalt.
3- Com o tempo ela passa a se interessar pelo espelho, e quando vê a sua
imagem não tem condições de reconhecer a si mesma e toma a imagem como
sendo uma outra criança.
4- Na continuidade da passagem do tempo, e percebido a realidade duplicada no
espelho, ela chega ao primeiro insight, inaugural da tomada de consciência,
consciência de si.
5- Maravilhada com a própria imagem no espelho, ela ignora a própria insuficiente
do corpo, da motilidade, do acesso a fala, etc. Ou seja, ela toma consciência de
um corpo total, uma pessoa total, mas a equivalência disso no corpo real não
existe.
6- Assim, a imagem do espelho estes sempre para além da criança, sempre
insuficiente em relação a imagem…
7- Revelando assim, que o ego (e a consciência de si) é um engano, que ela
própria desconhece.

O espelho da mãe: quando tudo vai bem

Usando esse modelo lacaniano dentro da perspectiva winnicottiana, teríamos


problemas, afinal essa é uma sequencia que em Winnicott apontaria para um falso
self. Talvez por isso Winnicott não chega a discordar claramente de Lacan, mas
propõe algo anterior, que não necessariamente irá corroborar futuramente com a
proposta anterior, algo que Winnicott faz constantemente em relação a Freud e
Klein.
A proposta de Winnicott é algo anterior ao espelho de Lacan, e, retomando uma
pergunta feita no texto,”o que o vê ali?”
a) A mãe (saudável) vê o seu bebê
b) O bebê vê a si mesmo

Para Winnicott, a mãe saudável (que pôde entrar em preocupação materna


primária e que consegue oferecer cuidados suficientemente bons) olha para o
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bebê e sofre os efeitos do que o bebê transmite, ou seja, a forma criativa, a


motilidade, a busca de vida, é transmitida nos gestos, sons, feições do bebê e ela
confirma tudo isso. O gesto do bebê encontra correspondência do outro lado,
dando assim correspondência autoral criativa a viver criativo do bebê. Cada
confirmação por parte do rosto da mãe, são mais e mais experiencias verdadeiras
integradas ao self do bebê.

Quando nem tudo vai bem

Mas para Winnicott, nem todos os bebês recebem de volta o que estão dando, e
ao invés de verem a si mesmo, encontram o próprio humor depressivo da mãe, ou
variações desse tipo, o que traz algumas consequências como:
A) Capacidade criativa começa a atrofiar
B) A percepção entra no lugar da apercepção
C) Bebês passam viver em função de estudar o rosto da mãe e predizer o seu
humor (para a própria sobrevivência)
D) Retirada definitiva do olhar do bebê - olhar só em momento de defesa

Na normalidade

A criança, o adulto, poderá encontrar em seu próprio rosto os traços da validação


do rosto materno, confirmando quem é o bebê para o bebê, e confirmando seus
gestos criativos, possibilitando um “sentir-se real”, que é muito mais do que
existir.
Com isso temos a seguinte frase de Winnicott:
“Quando olho, sou visto; logo, existo.
Posso agora me permitir olhar e ver.
Olho agora criativamente e sofro a minha apercepção e também percebo.
Na verdade, protejo-me de não ver o que ali não esteja para ser visto (a menos
que esteja cansado)” (O brincar e a realidade, p. 157).

Consequências para a clínica

A tarefa da psicoterapia não é fazer interpretações complexas, mas sim devolver


ao paciente aquilo que o paciente traz, não é o espelho simétrico, mas sim o
espelho do que é transmitido para além da aparência, que ressoa no corpo vivo e
na percepção analista, que está num contexto de "preocupação com”.
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Muitas vezes o paciente nem sequer será curado, mas poderá ter de o seu eu,
através do analistas, “ficam-nos agradecidos porque pudemos vê-los tal como são
e isso nos concede uma profunda satisfação” (p. 161).

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