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Bases para constituição do si mesmo

Tornar-se si mesmo é um processo. E processo significa que existe começo,


meio e um fim. Assim como tornar-se uma pessoa total precisa de uma plataforma, 1
de uma base, as contribuições de Winnicott para a psicanálise também tem suas
bases nas ideias de Freud e Klein, principalmente.
A psicanálise antes de Winnicott compreendia que os sofrimentos humanos
tinham bases na angústia de castração; na concepção da sexualidade, da estrutura do
sujeito, sempre compreendidas a partir da situação edípica. Já Winnicott construiu
outra visão do ser humano. Sua compreensão é que, na saúde ou na doença, os
fenômenos humanos são sempre relacionados ao crescimento e amadurecimento
desde a concepção, e são movidos por dois fatores básicos: existe em todos os seres
humanos uma tendência inata ao amadurecimento, a integração em uma unidade; o
processo de amadurecimento precisa ser facilitado por outros seres humanos, uma
vez que o humano só se torna humano na presença do outro humano.

Como Winnicott trabalhou a vida toda como pediatra e logo depois como
psicanalista e psiquiatra, ele pode constatar que crianças muito pequenas e mesmo
bebês apresentavam distúrbios graves que não tinham nenhuma relação com a
angústia de castração decorrente da situação edípica. A partir dessas observações
foi que ele propôs que o problema básico do ser humano não poderia ser o da
sexualidade, mas o da necessidade de ser e continuar sendo. E que o bebê adoece
não em decorrência de frustrações, mas por não poder continuar existindo.
Foi através desse caminho que, mesmo admitindo e aceitando muito do legado
deixado por Freud, Klein que Winnicott formulou um novo sistema teórico e clinico
que culminou em sua Teoria do Amadurecimento Emocional. Winnicott propôs um
novo modelo da natureza humana diferente dos já propostos anteriormente,

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mudando os pressupostos anteriores. Ele redescreveu a teoria do desenvolvimento
emocional, não mais centrada no complexo de Édipo.
Winnicott entende que o amadurecimento humano pessoal está centrado 2
especialmente na questão de tornar-se si mesmo, na dependência e nos diversos
processos de integração do indivíduo. Ou seja, o fundamento e motor da existência
e do desenvolvimento do ser humano são decorrentes da sua necessidade de ser e
continuar sendo si mesmo, impulsionados por uma tendência inata à integração.
Muito embora exista a tendência inata, o processo de amadurecimento não é
automático, depende dos fatores hereditários e também das condições que o
ambiente oferece para o bebe. É necessário dizer que Winnicott não se refere apenas
ao amadurecimento físico, mas sim ao “eu” do bebe.
Winnicott usa o termo ego para nomear o aspecto da personalidade que tende
à integração. E o ego é quem conduz a tendência integrativa na direção de um si
mesmo, ou seja, o si mesmo é o resultado da tendência integrativa, mas é necessário
que a tendência integrativa esteja opere com o auxílio do ambiente.
E o que significa amadurecer? Significa que a pessoa vai criando recursos
internos, psíquicos, para ir se tornando ela mesma, utilizando os recursos que já
desenvolveu no processo. Como exemplo de quando isso não aconteceu podemos
mencionar um fenômeno que observamos tanto na clínica como da vida cotidiana:
existem pessoas que são biologicamente maduras, mas que emocionalmente são
muito imaturas. É provável que sejam pessoas não tiveram a oportunidade de criar
uma identidade própria e não se tornaram uma pessoa total, inteira.
Bem, hoje vamos falar do início dos processos de integração e de suas fases
que, para Winnicott, tem valor universal e constituem sua teoria da saúde. Essas
fases são:
A integração no espaço e no tempo;

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O alojamento da psique no corpo: personalização;
O início do contato com a realidade: as relações de objeto.
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Bem, vou procurar seguir uma sequência para que o enlaçamento das ideias
possa ficar mais claro.
No início da vida, o bebê vive a maior parte do tempo uma experiência de não
integração, vivendo estados tranquilos de não consciência, num estado de não
integração do espaço-tempo e da psique-soma. Com o suporte da função egoica da
mãe, a maior parte do tempo o bebê vive uma experiência de relaxamento, que
significa não ter necessidade de estar integrado.
Desde o início, o ser humano só amadurece na relação com a mãe ambiente
suficientemente boa. E neste aspecto não tem negociação, não tem outra saída. E
essa relação é a dois e não a três. Bem, quando Winnicott fala de que no início da
vida a relação é a dois e não a três, claramente ele está discordando do conceito de
Klein do Édipo primitivo. Para ele, nesse momento inicial da vida não cabe pensar
em relação a três, em relação edípica.

O amadurecimento emocional primitivo se faz através de muitas experiências


que já no começo da vida podem deixar marcas positivas ou negativas, que podem
ou não serem integradas e que se estendem no tempo. Além disso, o
amadurecimento não vem com certificado de garantia, é um acontecimento frágil
que carrega consigo a possibilidade de se esgarçar, de adoecimento, quando o
indivíduo sentir que não pode ser si mesmo.

O que então Winnicott está propondo? Está propondo que é próprio do ser
humano uma tendência inata à integração numa unidade, experiência que não existe
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no início da vida. E para que uma pessoa se torne ela mesma, inteira e separada do
outro, que tenha uma identidade própria, essa possibilidade tem sua origem na
tendência inata à integração, que é o motor básico do desenvolvimento emocional, e
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que só pode acontecer com a ajuda de um ambiente bom. É a semente de todo o
desenvolvimento futuro. Tendência essa que tem seu início no nascimento e se
estende pela vida afora até a hora da morte, porque o morrer faz parte do processo
de viver, é última tarefa a ser cumprida. Para Winnicott os seres humanos estão
sempre preocupados, ocupados e sempre em busca de ser e continuar sendo, e não
primordialmente em busca de obtenção de prazer e de evitação do desprazer, como
dizia Freud.

Em decorrência dessa compreensão da natureza humana Winnicott propõe


que a maior ameaça a que o indivíduo está exposto é estar desintegrado, dissociado.
Então o ponto a ser marcado aqui é que existir significa, necessariamente, ter que se
integrar.

E entre o “começo” e o final da vida, a tendência à integração desdobra-se em


uma sequência temporal de tarefas a serem cumpridas, até alcançarmos uma
identidade própria, um EU SOU.
Os indivíduos vão amadurecendo por estágios que são um conjunto de tarefas.
Todos os estágios humanos nos impõem tarefas sucessivas e especificas. A cada
tarefa cumprida de modo satisfatório novas tarefas vão se impondo, cada vez mais
complexas. E a solução de cada tarefa, depende do sucesso, da solução das tarefas
anteriores.
Grandes mentes pensantes já nos alertaram que viver não é uma tarefa
simples. Freud foi uma delas. Desde que nascemos e começamos nosso longo
percurso pela vida afora temos que, de um jeito ou de outro, enfrentar as tarefas
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fundamentais do desenvolvimento, que precisam ser atravessadas porque fazem
parte da condição de estar vivo e continuar vivendo uma vida que valha a pena. A
cada tarefa da vida que se coloca à nossa frente, nós precisamos nos posicionar
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frente a cada uma delas.
Cada resolução de um problema traz novas complexidades da existência. E
cada pessoa vai lidar com a situação de acordo com a sua história de vida, de acordo
com a sua experiência. E, para a psicanálise, a história de vida de cada pessoa,
começa no até antes mesmo antes do nascimento.
Winnicott propõe que o desenvolvimento emocional primitivo é nitidamente
separado do resto do desenvolvimento posterior e compreende aproximadamente os
seis primeiros meses de vida. Na sua primeira etapa é marcada pelo narcisismo
primário. Não há relação de objetos, nem há estrutura psíquica. O que há é uma
solidão essencial que só pode existir em condições de dependência máxima. Neste
início da vida, a continuidade do novo indivíduo é destituída de qualquer
conhecimento sobre a existência do outro. E de si mesmo. Assim sendo, não é
possível explicar o começo do desenvolvimento em termos de impulsos e fantasias.
A criança depende fundamentalmente do ambiente (mãe) para organizar-se. O
self não existe até que haja uma tomada de consciência, o que acentua o
“sentimento” da existência do self. Para que a consciência do self possa ser
estabelecida, existem três processos que precisam acontecer a partir do estado de
não integração primária. Esses processos não são consecutivos, mas sim
concomitantes e interpendentes. Repetindo, são eles:

A integração no espaço e no tempo;


O alojamento da psique no corpo: personalização;
O início do contato com a realidade: as relações de objeto.

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Winnicott diz que uma das primeiras tarefas do bebê humano é a de construir
uma relação de unidade com a mãe externa e que esta é a tarefa mais difícil de todas. 6

Bem, se a cada tarefa que, no devido tempo do amadurecimento, se apresenta


e precisa ser cumprida, precisa ser integrada, que consequências quando isso não
acontece?
Winnicott diz que quando um problema de integração não é resolvido da
maneira satisfatória, o crescimento do indivíduo estanca e a pessoa adoece. Então, o
adoecimento psíquico se dá em consequência da interrupção da tendência à
integração, porque uma experiência que deveria ter sido vivida, que deveria ter
acontecido, não aconteceu, em consequência das falhas ambientais que não ofereceu
o cuidado necessário, na etapa em que o bebe se encontrava. Podemos então
entender que para Winnicott a doença psíquica é um tipo de imaturidade devida às
falhas do ambiente que não sustentou a necessidade do bebê de ser e continuar
sendo.
Lembrando, essas primeiras fases se combinam e se integram, sem jamais
serem verdadeiramente abandonadas. “No início há a não-integração, não há vinculo
algum entre corpo e psique, e não há lugar para uma realidade não eu”. O bebê
nasce em um estado de não integração. O que possui são núcleos do ego, separados
e dispersos, que tendem a se integrar. “O bebê não existe”, diz Winnicott.

Nos estados iniciais a relação é dual, e o bebê está vivendo num estado de
dependência absoluta da mãe. Este estado de dependência absoluta, é um estado de
solidão absoluta, porque não existe ainda a percepção do outro. O bebê não existe
ainda como uma entidade separada, ele só existe na relação com a mãe. Assim, sua
primeira tarefa, e diz Winnicott é a mais difícil, consiste em construir uma base, um
chão próprio sobre o qual poderá existir. Mas o bebê não tem nenhum recurso para
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construir essa base sozinho. Ele precisa da ajuda da mãe através dos seus inúmeros
cuidados. Essa ajuda, esse chão, virá através da identificação da mãe com o seu
bebê, identificação essa que tem o seu início já antes do nascimento. Essas
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experiências iniciais ou diádicas são estruturantes do psiquismo, participam da
organização da personalidade e dos sintomas.
Quando uma mulher está gravida, à medida que os meses vão passando, ela
vai cada vez mais recuperando a memória subjetiva, a memória corporal do bebê
que ela foi. E ao mesmo tempo ela vai, cada vez mais, se identificando com seu filho
que vai nascer. É essa identificação intensa, que a leva a um tipo de regressão muito
peculiar, que vai dar a ela a possibilidade de estabelecer uma relação profunda e
temporária, (preocupação materna primária) com as necessidades de seu bebê, que
permite a ela vivenciar estas necessidades como se fossem dela mesma.
Esse é um tipo de compreensão intuitiva, empática, tão forte, que facilita à ela
responder de pronto às necessidades sutis do bebê. Essa identificação da mãe
saudável com seu bebê é fundamental, porque dá a ela condições de oferecer a ele o
suporte e a hospitalidade tão necessários para sua sobrevivência e a constituição de
um ser humano inteiro.
E o suporte não é somente um suporte biológico, mas também auxilia o bebê a
lidar com sua precariedade originária. O suporte nesta etapa são os braços, o colo,
que vai ajudando o bebê a lidar com a força da gravidade, porque a força da
gravidade é uma coisa muito séria. É o que chamamos de holding, ou função de
sustentação, essa rotina monótona e repetitiva de cuidados cotidianos e que vai dar
sustentação tanto ao corpo como à psique do bebê.
A mãe, através desses cuidados maternos vai apresentando a realidade externa
ao bebê, porém de um modo simplificado, minimizado em seus aspectos
desagradáveis para aplacar os estímulos desagradáveis de modo a que a criança
possa ir se aproximando muito devagarinho da realidade externa, criando pontos de
referência simples e estáveis, e assim facilitando sua integração no tempo e no
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espaço. De modo concomitante também acontece a identificação primária do bebê
com a mãe, que nesse momento é a mãe ambiente que vai sustentar a tendência a ser
e continuar sendo do seu filho.
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A construção da base é essencial porque cria a oportunidade de ser e continuar
sendo para o bebê. Para Winnicott existem pessoas que nunca alcançaram o estatuto
de SER porque não tiveram essa base. A primeira experiência de ser ele mesmo é a
condição necessária de todas as outras experiências que virão, e depende
essencialmente da confiável e monótona presença da mãe, lugar onde o infante pode
começar a ser ele mesmo. Somente quando o bebê conquistou o sentimento de ser, é
que ele pode começar a realizar outras tarefas. Primeiramente precisa ser.
Bem, então vamos voltar um pouco para falar da integração no espaço e
tempo. Essa é a mais básica de todas as tarefas, porque o bebê ainda não tem noção
de tempo, nem tem noção de lugar, não tem domínio da motricidade e nem o
mínimo conhecimento da realidade. É nesse sentido que Winnicott diz que o “bebê
não existe”, porque se ele não tem consciência do seu corpo, não tem noção de si
mesmo, não tem noção do mundo. E nada existe fora do espaço e do tempo. Sua
única expectativa é de continuar a ser. E ele tem que realizar essa tarefa de integrar
tempo e espaço, porém sem ter o menor recurso.
Mesmo assim, movido pela tendência à integração ele vai ter que aprender
sobre tudo isso para realizar suas tarefas necessárias. E para tanto, ele precisa do
holding, porque o holding sustenta o movimento da integração para a não integração
e vice-versa. E um dos elementos mais importantes do holding, a presença da mãe, o
segurar o bebê, é o olhar da mãe. Winnicott enfatiza a centralidade, a importância do
holding como um suporte confiável do ego para o bebê durante este período de
dependência absoluta.

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A personalização é a outra tarefa e significa alojamento da psique no corpo.
Aqui é importante lembrar que no início da vida psique e corpo não são uma
unidade. A unidade psique-soma só se formará se tudo correr bem no processo de
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amadurecimento. No momento inicial da vida o bebê é só corpo, mas mesmo assim
ele não tem noção nenhuma de seu próprio corpo, não sabe utilizá-lo minimamente.
Assim a tarefa desta etapa é a integração dos núcleos do ego que leva a adquirir a
sensação de que o corpo aloja a psique. O alojamento da psique na soma, depende
necessariamente do toque da mãe, a forma com que a mãe toca seu bebê nos
cuidados maternos do dia a dia, como o banho, as trocas de fraldas, o ninar etc. tem
a função de harmonizar a psique com o corpo. É através do toque amoroso da mãe,
que o bebê passa a sentir, como consequência, que seu corpo faz parte dele mesmo,
começando assim a atribuir um sentido ao que acontece no seu corpo.
Dar sentido as funções corporais Winnicott denomina de elaboração
imaginativa das funções corporais. E é só através dessa elaboração que a psique
pode passar a morar no corpo. Essa imaginação é algo criado a partir da memória,
portanto implicando uma certa noção incipiente da memória.
O cuidado materno que corresponde à tarefa do bebê de alojar a psique no
corpo é o manejo (handling). O manejo faz parte do segurar total, mas diz respeito
especificamente ao segurar físico. “Ao segurar firmemente o bebê em seus braços,
envolvendo-o repetida e continuamente, acariciando-o por toda a pele, a mãe reúne
o bebê no corpo de modo a torná-lo a sua residência”.
No momento do encontro corpo a corpo da criança e da mãe, as experiências
sensoriais vividas pelo bebê são as bases do que serão os objetos subjetivos, que
presentifica o corpo materno e o início do si-mesmo. “Se a mãe não foi capaz de
proporcionar um toque suficientemente bom na fase do holding, jamais será possível
ao bebê sentir-se integrado a seu próprio corpo. Consequentemente ocorre uma cisão
entre corpo e mente.

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Bem, com a tendência do desenvolvimento impulsionando o bebê, que ainda
não conhece a si mesmo como pessoa total, ele precisa da ajuda de dedicada e que
tenha saúde psíquica para poder realizar a terceira tarefa, para conquistar o
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sentimento de SER.
Ao conquistar a experiência ainda incipiente de morar no próprio corpo, o
bebê se vê diante de outra tarefa difícil e complexa que é a de se defrontar, de ter
que aprender a lidar com a realidade externa e com os objetos objetivamente
percebidos. Mas ele sequer adquiriu ainda o sentido de realidade subjetiva!
O bebê ainda não desenvolveu recursos para isso, não sabe exatamente o que
precisa, não sabe se comunicar com palavras, não desenvolveu a capacidade de
percepção, não sabe usar objetos, não sabe fantasiar. Essas capacidades tão
complexas ele também terá que adquirir, e depende das anteriores, e só se dará mais
tarde.
Então, nesse estágio o único sentido de realidade que lhe é possível nesse
ponto do processo de amadurecimento é o da realidade do mundo subjetivo. “Sem o
estabelecimento da realidade do mundo subjetivo não haverá como aceder aos
outros sentidos de realidade – o da transicionalidade e o da realidade externa,
compartilhada – que serão gradualmente conquistados, na crescente complexidade
do processo de amadurecimento”
Novamente, e como não poderia deixar de ser, a presença da ajuda da mãe
suficientemente boa é necessária. E vamos lembrar que nesse momento a mãe é um
objeto subjetivo para o bebê. E a característica principal dos objetos subjetivos é que
sejam confiáveis. A mãe devotada comum, absolutamente identificada com seu
filho, propicia ao bebê a experiência de criar aquilo que encontra. O encontro com
um objeto subjetivo significa que o bebê encontra e cria o que precisa, no momento
que precisa.

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O início dessa relação objetal – com objetos subjetivos – ocorre nos
momentos de excitação do bebê. E o cuidado materno específico para essa tarefa é a
apresentação de objetos. É a mãe atender a necessidade do bebê exatamente no
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momento que ele precisa. Esse encontro tem um sentido profundo, porque o que o
bebê encontra, quando a mãe lhe oferece o que precisa é um sentido de real. O
sentido de real da realidade subjetiva. Através desse tipo de encontro repetido o
bebê cria a ilusão de onipotência, a ilusão de que ele tem o controle total sobre os
objetos. E a mãe devotada alimenta a ilusão de onipotência do bebê.
Somente e após a ilusão de onipotência se estabelecer é que se torna possível
esperar que, aos poucos, o bebê seja capaz de aceitar a existência independente do
mundo externo e de assimilar as desilusões.
Bem, terminando quero assinalar que essas são as tarefas mais primitivas do
processo de amadurecimento. A realização dessas tarefas é que vai dar início aos
sentidos de realidade através do mundo subjetivo e do início das relações objetais
com objetos subjetivos.
Porém, como o título já diz, são tarefas em direção ao si mesmo. Para
Winnicott, neste momento do amadurecimento o bebê ainda não existe como
indivíduo. Outras tarefas ainda precisam ser realizadas.
Então, como já disse, são tarefas de base, são os alicerces imprescindíveis,
sem os quais o indivíduo não pode caminhar e alcançar a possibilidade de realizar as
tarefas posteriores necessárias para se constituir como uma pessoa inteira, de ter
uma identidade própria.

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