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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
AULA 6
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CONVERSA INICIAL
Olá! Anteriormente, falamos sobre algumas das definições de psicanálise, as regras fundamentais
emocional. A partir de então, podemos pensar no limite da psicanálise como método clássico e
entender algumas de suas interfaces com outros métodos terapêuticos e com as linhas assumidas por
psicanalistas pós-freudianos.
Na aula de hoje, vamos analisar alguns exemplos práticos, com situações da vida cotidiana e
relacionar com a teoria e o método psicanalítico com o objetivo de diferenciar e definir limites da
psicanálise, ou seja, saber o que caracteriza e o que descaracteriza o método psicanalítico e quais são
Costumamos perguntar aos outros: com o que você trabalha? Um psicanalista poderia responder,
entre outras coisas, que trabalha com a questão do desamparo das pessoas. São muitos os exemplos
que podemos utilizar aqui para ilustrar o mal-estar decorrente da vivência, sensação ou do medo do
desamparo.
Quando as pessoas se percebem vulneráveis, impotentes diante de uma situação que não
conseguem controlar, geralmente, se referem a esse mal-estar (sensação de desamparo) como
ansiedade ou angústia. Há um medo na pessoa de ser tão insignificante a ponto de ser descartada,
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as pessoas com quem convivo não são de confiança – na verdade, me sinto sozinho(a);
posso perder o emprego, pois sinto que não tenho valor nessa empresa;
não conseguirei ser aprovado(a) nesse exame;
minha vida acabou, não tenho (ou não sou) mais nada.
Para evitar essa sensação de mal-estar, o nosso aparelho psíquico reage de forma adaptativa,
para manter a sua integridade e recuperar a homeostase – dito de outra maneira, são reações
psíquicas saudáveis para a sobrevivência psíquica e serão mais bem estudadas em temas como
desenvolvimento, as reações psíquicas podem levar a uma estruturação mais saudável ou menos
Todos temos experiência de desamparo, por isso costumamos dizer que as personalidades
neuróticas são as mais típicas, ou seja, neurotípicas. São aquelas personalidades que sofrem a questão
do desamparo, se percebem vulneráveis, sabem de seus limites, inquietam-se pelas suas inseguranças
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Mas em que momento de vida o amparo foi percebido pelo ser humano como algo importante,
sobrevivem porque são amparados por alguém, mas também podemos observar que eles, os bebês,
Ou seja, eles não percebem nada no mundo além do seu próprio corpo e das suas próprias
sensações. Ainda que os bebês se alimentem no seio materno ou sejam segurados no colo por um
adulto, que tenham todas as suas necessidades atendidas por um outro ser humano, eles não são
gratos por isso. Pelo contrário, eles consideram que são autossuficientes e nem percebem que existe
Então, vamos recuperar aquela pergunta: em que momento de vida o amparo foi percebido pelo
ser humano como algo importante, necessário e desejado?
Com base na teoria psicanalítica, apenas quando o bebê começa a perceber que existe um
mundo externo (além do seu próprio mundo interno) é que essa sensação de desamparo se instala.
Há uma desilusão com relação à autossuficiência e com o outro, que não é capaz de lhe garantir a
condição de ausência de tensões. O princípio da realidade se impõe ao princípio do prazer.
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Crédito: anythings/Shutterstock.
Esse primeiro período, da ilusão de ser tudo, de ser autossuficiente, termina justamente quando o
bebê percebe que ele não é total, que existe um mundo externo, que ele depende do outro e que ele
Percebam que essa experiência é bem semelhante às queixas dos adultos nos exemplos dados:
sensação de ser vulnerável, impotente diante de uma situação que não consegue controlar.
As primeiras experiências infantis têm um efeito de trauma ao longo da vida, mas a experiência
com o desamparo não é vivida apenas uma vez durante o período infantil. O desamparo é
inicialmente percebido naquele período, mas acompanha o ser humano durante toda a vida.
Pode ser que você já tenha ouvido a expressão "trauma do nascimento". Mas que trauma é esse?
Podemos considerar o quanto de desprazer está envolvido no processo de sair do útero materno, ser
exposto à luz, ter oxigênio expandindo os pulmões e toda a estranheza da estimulação tátil-
cinestésica no corpinho do bebê recém-nascido.
nascimento até a constituição do psiquismo. Esse tema é extenso e requer dedicação exclusiva para
Na teoria sobre o Estádio do Espelho (Lacan, 1949; Lacan 1953-1954), podemos compreender a
despedaçamento ao nascer até a integração de sua imagem corporal. E em psicanálise não se está
dando ênfase à concepção cognitiva de se reconhecer diante de um espelho, e sim de saber quem se
é diante do outro.
São muitas as experiências de desamparo que se dão em meio a situações de amparo, de modo
que, ao longo da vida, a relação é de ambivalência, tanto em relação às emoções, amor e ódio,
quanto nas relações com o outro: autonomia e dependência.
tornam vulneráveis são comuns a todos, no entanto, quando há exposição permanente a riscos, em
relação aos quais a pessoa não pode se defender, ela passa a ser não apenas vulnerável, mas também
vulnerada.
Isso é o que acontece com alguns grupos afetados diretamente por circunstâncias desfavoráveis,
tais como: pobreza, falta de educação, dificuldades geográficas, doenças crônicas, violência e outros
infortúnios que os tornam ainda mais vulneráveis, sendo esse um tema atual de bastante relevância
para impedir que passem da condição de ser vulnerável para a situação de estar vulnerável, o que
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exige compreensão ampla sobre instâncias e fatores como Estado, comunidade, sistemas
desamparo, se são estruturantes do psiquismo do sujeito ou se são fatores de risco que não levam a
caracterizada pela função da pessoa que oferece oportunamente ao bebê o que ele precisa, mas
também falha e se corrige continuamente: "comunicação do amor, assentada pelo fato de haver ali
Não se trata de uma mãe boazinha ao bebê afastando-se de si, mas, sim, de se apresentar como
mãe sem deixar de ser mulher, na medida em que a mãe também é vulnerável, tem falhas, é filha, tem
desamparos, emoções ambivalentes de amor e ódio, mas que se preocupa e se volta ao bebê
tomando-o como parte do mundo dela e, desta forma, emprestando a esse pequeno ser um mundo
externo que ele ainda não tem, até que possa ter.
Por outro lado, falando da vulnerabilidade social como conceito estudado pela bioética (Sanches
et al., 2018), a díade mãe-bebê pode não ter a proteção social necessária para viver esse drama
normal da maternagem, que, por si só, já é um fator de estresse para o psiquismo do ser humano.
Estas são questões importantes a considerar quando pensamos nos limites e interfaces da psicanálise.
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repetidas ao longo da vida, podemos supor que entendam que a precariedade do cuidado é uma
condição existencial, ou seja, que é assim mesmo. É possível que uma pessoa repita no social aquele
padrão que viveu na sua experiência singular com as figuras parentais e, desta forma, não vai
estranhar a violência social quando já está identificada com o lugar de ser violentada. Muitas vezes,
naturalizando ou ainda romantizando essa condição: "meu pai me batia e eu não morri, isso só me
vital, processual na constituição do sujeito; e o desamparo social que é repetido em diversos âmbitos
ao longo da vida, muitas vezes como forma de elaboração do desamparo estrutural malsucedido.
que resulta como sintoma é a não capacidade de escuta, a massificação, negação da subjetividade e
O artigo "Branco sobre o branco: psicanálise, educação especial inclusão escolar" (Vasques, 2018)
possibilidades em que antes havia limites na ação pedagógica para inclusão e escolarização de
A psicanálise há muito tempo abandonou a busca pela cura, pois essa busca atendia muito mais
A essência da psicanálise é ouvir, dar voz, tratar o outro como um sujeito de direitos. Vamos a um
exemplo prático:
Um garoto de 8 anos estava em consulta médica ambulatorial no hospital pediátrico, com sua
mãe, pois iria ser internado nos próximos dias para submeter-se a uma cirurgia no aparelho digestivo.
sentou-se no consultório ao lado de sua mãe e participou passivamente da consulta onde foi tratado
sobre seu caso, mas apenas sua mãe e o médico falaram. A ele foram direcionadas poucas perguntas
em que a resposta era apenas sim ou não. Você está com frio, quer que desligue o ar-condicionado? E
mesmo quando lhe explicavam alguma coisa ao final o médico perguntava: ficou claro, você
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entendeu? E ele dizia que sim, pois de fato havia entendido, apesar de ter outras perguntas que não
psicoterapeuta que logo depois das apresentações pessoais e acolhimento na sala de atendimento,
lhe fez as seguintes perguntas:
Paciente: Não sei, o médico explicou agora, mas eu estava com a cabeça lotada e não consegui
guardar.
Percebam que a atenção hospitalar por muito tempo foi feita dessa maneira Iatrogênica, por ser
biomédico, ou seja, com foco no corpo biológico com comunicações racionais sobre as condutas.
Atualmente, a atenção à saúde mental tem sido cada vez mais considerada e indispensável e
tanto nos hospitais, nas escolas, em empresas e em outras instituições, a capacidade de escuta da
Quando pensamos que as pessoas querem saber de coisas, nós oferecemos um monte de
informações a elas. No exemplo anterior, fica claro que em momentos de medo, ansiedade e
apreensão, como no caso de um período pré-cirurgia, é importante dar vazão ao que a pessoa pensa
sobre as coisas, para então o médico validar o que está de acordo com o processo e/ou apresentar
fatos novos para preencher as lacunas que fossem demandas do sujeito desejante.
comunicação dos profissionais por meio da troca de saberes e práticas, e a psicanálise tem muito a
contribuir para melhorar a qualidade da prestação de serviços especialmente na área jurídica, da
saúde e educação.
Desta maneira, o psicanalista pode contribuir para induzir a formação de laços sociais, de ampliar
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A preocupação em resolver o problema é uma ansiedade perigosa que pode levar o terapeuta a
atuações racionais, diretivas e relacionadas com outros métodos que não os psicanalíticos.
Deixa de ser psicanálise quando não se respeita a associação livre, quando o "psicanalista"
assume o comando e faz orientações, direciona o diálogo, dá conselhos e julga condutas, quando dá
sentido e significado à experiência do paciente sem que tenha sido um processo de elaboração do
próprio paciente.
Mas por que o "psicanalista" faz isso? Sem dúvida, o faz por um processo insuficiente de análise
pessoal. Tem muitas coisas que na vida a gente sabe que não deve fazer, mas faz mesmo assim. Isso
mostra o quanto o saber teórico não é suficiente para determinar uma conduta.
Isso não quer dizer que as terapias diretivas estão erradas, pelo contrário. As terapias diretivas
são necessárias e relevantes, no entanto, não são psicanálise. Os efeitos da Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) têm sido publicados como evidências científicas e devemos reconhecer com
Quando o terapeuta se diz psicanalista, é preciso ser fiel ao método psicanalítico. Assim como
Freud, que era médico neurologista e psicanalista, sentiu necessidade de deixar de se apresentar
como médico neurologista para assumir sua identidade de psicanalista, pois o método de intervenção
da neurologia e da psicanálise são distintos, assim como o são os métodos da psicanálise e das
demais psicoterapias.
Inconsciente;
Repetição;
Transferência; e
Pulsão.
Formação do Analista:
Estudos teóricos;
Análise pessoal; e
Supervisão da prática clínica.
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O principal instrumento de trabalho do psicanalista é o seu próprio aparelho psíquico, por isso é
indispensável o processo de análise pessoal para que o analista não pratique uma psicanálise
selvagem.
Na tradução pela editora Imago no Brasil, a expressão ficou "Psicanálise Silvestre", no entanto,
não atende ao que se espera expressar no texto original de Freud, conforme pode ser compreendido
pela leitura do artigo na íntegra (Freud, 1910/1986, p. 205-213), em que Freud apresenta exemplos de
situações clínicas em que o psicanalista faz intervenções dizendo coisas à paciente com base em sua
Em um dos exemplos, Freud relata o caso de um jovem médico que disse à paciente que a causa
da ansiedade era a falta de satisfação sexual e lhe recomendou três maneiras de tratamento: "ela
devia ou voltar para o marido, ou ter um amante, ou obter satisfação consigo mesma". Freud
considera que, no caso citado, o doutor compreendeu mal as teorias psicanalíticas e ainda
demonstrou que o sentido que ele tem de "vida sexual" é popular, significa necessidade de coito e
Freud também adverte ao fato de alguns psicanalistas entenderem que é preciso explicar coisas
ao paciente:
É ideia há muito superada, e que se funda em aparências superficiais, a de que o paciente sofre de
uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue remover esta ignorância dando a ele a
informação (acerca da conexão causal de sua doença com sua vida, acerca de suas experiências de
meninice, e assim por diante) ele deve recuperar-se. (Freud, 1910/1986, p. 211)
atualmente e que comprometem o método psicanalítico. Alguns terapeutas se sentem tentados a dar
palestras ao paciente durante a sessão. Caracterizando o fato de situações em que mais o terapeuta
fala do que o paciente. E o fazem apresentando relações de causa e efeito: “isso acontece hoje por
causa daquela situação na infância”.
Situações de certezas, explicações racionais, curas por meio de uma ou outra devoção distanciam
a terapia do método psicanalítico, pois demonstram a intencionalidade de livrar o sujeito do mal-
estar, oferecendo algo que complete a sua falta, enquanto a intencionalidade da psicanálise é
justamente ser capaz de suportar a falta.
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A função adaptativa do ser humano leva a buscar algo que complete a falta, e essa tentativa de
cura pode levar o ser humano a idealizar, se identificar com o que considera ideal e entregar-se a uma
relação que seja complementar, protetiva e poderosa, para compensar a fragilidade do eu. Lacan
criou a expressão "Nome do Pai" para se referir ao significante ordenador de outros significantes em
O Nome do pai é um operador psíquico do qual o neurótico pôde se servir em sua constituição
(Lustoza, 2018, p. 332). Como função estruturante, faz parte da constituição do sujeito, no entanto,
quando patológico, como sintoma, impõe limites à vida do sujeito que se sente preso a uma relação
de dependência.
Idealizar algo, uma história ou alguém, e se identificar à imagem e semelhança deste, é muito
gostoso. Nos dá uma filiação, um aconchego, uma sensação de segurança por ser protegido por algo
ou alguém poderoso que não tem defeitos nem falhas e, por isso, nunca irá nos faltar.
do cuidado, é muito bom ter um protetor assim. A máxima dessa experiência é entregar teu destino à
Deus. É algo reconfortante, acolhedor, apaziguador, que nos abranda a dor de uma ferida aberta que
dói cada vez que nos percebemos incapazes, indefesos, pequenos. Deus é um pai que não abandona.
Outra situação a ser considerada é que nem todas as pessoas têm a mesma relação com Deus,
com as coisas e pessoas das quais dependem ou idealizam. É um erro técnico o psicanalista levar para
a sessão que Deus é amor, porque aquele paciente pode ter outra história com Deus. Não nos cabe
sair em defesa de Deus, ou dos pais, mas, sim, analisar o que levou àquelas representações na história
de vida do paciente. De modo que não faz nenhum sentido dar conselhos e nem aulas sobre o que
consideramos ser "o mais certo".
A psicanálise se ocupará de analisar a construção de significantes. O curso que você está fazendo,
para o qual se matriculou, é um significante. Que lugar tem a psicanálise (como significante) na sua
história de vida?
Nossa vida é sempre uma busca, não há mal nenhum em ser assim. Há risco! Podemos eleger
como cura algo ou alguém nocivo. Mas o que importa saber aqui, na condição de futuros
psicanalistas, é que tudo isso é apenas a parte de nadar contra a maré, ou seja, a luta por encontrar
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algum modo de vida que nos afaste da sensação de desamparo. São defesas, ou nosso modo de
sobreviver psiquicamente.
Sugerimos aqui a observação do discurso das pessoas ao relatarem sobre as suas motivações
para fortalecer a relação com Deus. Geralmente, são narcísicas: eu quero me sentir bem, eu quero
proteção, eu quero a graça de ... E em seguindo esse Ser Ideal, ele nos manda amar o próximo. Ou
seja, você pede que eu te ame, e eu digo que você vai alcançar essa sensação amando o próximo.
Isso nos remete ao que Freud escreveu no texto "Sobre o Narcisismo: Uma Introdução" (Freud,
1914/1986, p. 101): "Um egoísmo forte constitui uma proteção contra o adoecer, mas, num último
recurso, devemos começar a amar a fim de não adoecermos, e estamos destinados a cair doentes se,
Há de se fazer uma leitura crítica e não dogmática da relação entre psicanálise e religiões, pois
podemos cometer o erro de identificar apenas afinidades ou apenas diversidades quando o que há
Novo Testamento é muito mais acolhedor do que era no Antigo Testamento, e a psicanálise de 1900
se destinava apenas a pacientes neuróticos, ao passo que atualmente temos psicanalistas atuando
com acolhimento em processos de luto, em prevenção do suicídio e em atendimentos de casos de
perversão e psicoses.
O que não mudou na psicanálise foi a direção de cura. Tanto quanto possível, o sujeito será
confrontado com sua condição e deverá assumir sua autonomia e emancipação. Ainda que em
algumas situações sejam amparadas a sua desorganização: Função de holding, na clínica em
entregar minha vida a Deus e esperar, pois o meu destino pertence a ele e eu não posso nada.".
Ou pelo narcisismo do analista que poderia fazê-lo atuar no sentido de estimular ser idealizado e
elogiado pelo paciente, ou pela devoção a um Deus-Pai que tudo provê aos seus filhos, o psicanalista
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paciente, que sairia feliz do consultório. Mas isso também não é psicanálise! É um erro técnico do
A relação entre psicanálise e as religiões só é convergente até um ponto, pois se para a religião a
cura está na entrega e fidelidade, para a psicanálise a cura está em suportar o desamparo para então
A proposta da psicanálise é ir além. Não é possível curar a angústia, pois ela é a própria pulsão
que não nos permite a zona de conforto da proteção e nos impele ao movimento de busca. Um dito
A religião tem uma função social e cultural de dar sentido à existência e é necessária e saudável
para a saúde mental das pessoas. No seu sentido mais extenso, religião tem a função de religar, de
unir, de vincular.
Podemos compreender que todos estamos vinculados a uma história, fazemos parte de um
percurso, somos seres sociais, constituímos uma teia de acontecimentos e essa condição nos coloca
em uma relação de irmandade. Temos ancestrais e descendentes. Somos parte disso e por esse ponto
de vista podemos nos sentir pertencendo a algo maior, que nos deu origem, que nos determina e,
neste contexto, também somos determinantes do futuro. Essa reflexão é inclusiva porque faz sentido
para todas as religiões. Quando há segregação entre as religiões, o sentido de religar já fica
comprometido.
A todo momento, a ânsia pelo prazer busca voltar ao primordial, ao que é igual, comum, ao que
não tem conflito, mas tanto na vida cotidiana quanto nas religiões e na psicanálise o conflito existe,
pois ele constitui a existência humana.
A psicanálise como método não almeja a homeostase, mas, sim, a compreensão do que dói, do
que amarra, do que leva à compulsão pela repetição, do que compromete, vai analisar o significante,
monitorar os mecanismos de defesa, enfrentar o medo de encarar o desamparo, pois apostamos que
o medo impede a travessia e a emancipação se dá apenas pela travessia.
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NA PRÁTICA
romantizar as experiências difíceis. Ao final de um ano difícil, costumamos ver “memes” relacionando
Ao passar pela experiência de gestação, parto e puerpério, a mulher com o filho nos braços que
só lhe demanda sem nada reconhecer costuma orgulhar-se de ser mãe com a clássica frase: "ser mãe
é padecer no paraíso".
Essa romantização ajuda a simbolizar a dura realidade de ter que dar sem ter. Realidade esta que
pode ser assistida no filme "A Filha Perdida", protagonizado pela atriz Olivia Colman, no papel de
Leda, mãe de 2 filhas. O filme retrata os aspectos agressivos da maternidade habitualmente inibidos
por ação da repressão cultural, que, no lugar, enaltece a mãe e a maternidade a um lugar mágico,
romântico e sublime.
interpretação do filme sem os termos técnicos da área, apenas com a análise crítica do papel social e
Neste exemplo prático, podemos relacionar vários conteúdos desta aula, especialmente a
questão do desamparo, tanto vivida pelas crianças quanto pelas mães. Com isso, podemos
compreender que o impulso por sair e não se haver com a situação que leva à experiência do
desamparo é uma tensão que mobiliza a conduta e que só não a ativa por ação repressora do
FINALIZANDO
A psicanálise tem uma intencionalidade e um método. Para ser um psicanalista, este método, que
não se dissocia da teoria, precisa ser coerente e, portanto, é fundamental que se conheça os
fundamentos da técnica e os discuta criticamente, pois eles só podem ser compreendidos se forem
considerados em sua construção história.
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15/03/2024, 17:53 UNINTER
Nesta aula, foram apresentadas reflexões críticas sobre desamparo e idealizações, como reações
psíquicas ao desamparo, e o papel do analista que, se fiel ao método psicanalítico, faz com o paciente
uma travessia que passa pelo medo de enfrentar o desamparo até que, passada a zona do
desconhecido, alcance uma nova condição que o torne capaz de assumir-se mesmo com suas falhas.
para diminuir ansiedade e recuperar o bem-estar, mas, neste caso, não exercerá o método
psicanalítico.
E, ainda, algo iatrogênico, ou seja, que na tentativa de fazer o bem pode provocar o mal. É o
exercício do que Freud chamou de Psicanálise Selvagem, que acontece quando o analista não fez seu
o analista, em total erro técnico, é agressivo com o paciente por meio de intervenções
preconceituosas, irônicas ou sádicas, que podem causar extremo prejuízo à saúde mental das pessoas
apesar de não ter regulamentação legal no Brasil para o exercício da ocupação do analista, há uma
tradição ética em respeitar o tripé para o processo de formação do analista, sendo indispensável que
análise pessoa, pois o aparelho psíquico do analista é o seu principal instrumento de trabalho, e que,
ao iniciar a prática clínica, submeta seus atendimentos à supervisão com um psicanalista mais
experiente.
REFERÊNCIAS
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Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. v. 11. p. 205-213.
______. Sobre o Narcisismo: uma introdução. 1914. Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. v. 14.
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LACAN, J. 1901-1981 Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
_____. Seminário 1: os escritos técnicos de Freud. 1953-1954. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1985.
_____. Seminário 11: os quatro conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
SANCHES, M. A.; MANNES, M.; CUNHA, T. R. da. Vulnerabilidade moral: leitura das exclusões no
contexto da bioética. Revista Bioética, 2018, v. 26, n. 1. pp. 39-46. Disponível em:
VASQUES, C. K. Branco sobre o branco: psicanálise, educação especial e inclusão escolar. Revista
“Educação Especial”, v. 22, n. 33, p. 29-40, jan./abr. 2009, Santa Maria. Disponível em:
WINNICOTT, D.W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ZIMERMAN, D. E. Bion: da teoria à prática, uma leitura didática. Porto Alegre, Artes Médicas,
1995.
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