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NARCISISTA
TEORIAS E TÉCNICAS
PSICOTERÁPICAS I
Cristina Kern
PSICANÁLISE E
MITO
NARCISO
INTRODUÇÃO
https://www.youtube.com/watch?v=Y3XUo4bDgCg&t=321s
(Zimerman, 2008).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DO NARCISISMO
passa a manter-se mais alerta durante os períodos de vigília, o que o permite dirigir-se ao mundo externo.
Essa subfase se caracteriza pela diminuição, por parte do bebê, da dependência corporal da mãe, que até então era
total.
A firmeza de tronco possibilita a ele distanciar-se corporalmente da mãe e, assim, reconhecê-la tátil e visualmente
como uma parceira na simbiose, e não como parte de seu corpo.
Bebê, ao admirar-se com as características do rosto da mãe,
passa a compará-lo com a face de outros adultos.
Se caracteriza pelo envolvimento narcisista do bebê nas próprias habilidades, no seu corpo
e na investigação do ambiente.
Isso permite ser mais tolerante a batidas, a quedas e a outras frustrações que venha a
sofrer. (Mahler et al, 1975/1977).
Exploração (10 a 16 meses)
Devido a esse investimento narcisista, o bebê se arrisca a se afastar da mãe e fica longo período
concentrado em suas atividades.
De tempos em tempos, ele retorna para receber o reabastecimento emocional, adquirido através do
contato com a mãe.
A locomoção indica o final do rompimento da unidade simbiótica mãe-bebê dos primeiros meses de
vida, representando o nascimento psicológico da criança (capacidade do bebê de tornar-se uma pessoa
separada da mãe, ao adquirir o início da identidade do self)
(Mahler, 1979/1982).
Superadas estas etapas, ocorre o “nascimento psicológico” da criança, possibilitando as demais
maior será a sua crença ilusória e onipotente de que possui uma independência absoluta, quando, na
defesa
Onipotência
Onisciência
A negação é extensiva a um não-reconhecimento das verdades penosas:
• a impossibilidade de uma plena completude;
• a admissão de que existe a presença de um terceiro;
• o reconhecimento de que depende dos outros e, por isso, ele corre sérios riscos de sentir inveja, ciúme,
perdas e separações;
• a aceitação de que o outro tem uma vida autônoma, não é posse sua, não está sob seu controle total e
tem o direito de ser diferente dele, na forma de pensar, de sentir e de agir.
As principais regressões das pessoas fortemente fixadas na posição narcisista dizem respeito à negação e à
intolerância de suas diferenças em relação aos demais (de gerações, de capacidades e de atributos.)
Reproduz a original simbiose mãe-bebê (condição psíquica na qual persiste algum forte grau de fusão e
indiferenciação com o outro)
Elege uma pessoa e a mantém sob um controle onipotente, com características de apoderamento.
Lógica do tipo binário
Uma parte costuma representar o todo
se determinado atributo do sujeito não corresponder ao seu ideal, generaliza essa
"deficiência" para a totalidade de sua pessoa.
Exemplo: um nariz considerado feio determina a convicção de uma feiura total e, da mesma
maneira, o insucesso de uma tarefa é vivenciado na PN como sendo um fracasso na
totalidade de suas capacidades.
ou fora dele (em uma outra pessoa idealizada, instituição, ideologia, paixão, etc.).
Mera “imitação” (caso em que ele paga o alto preço de um quase total
esvaziamento do seu self).
Dificuldade em distinguir entre as frustrações necessárias e estruturantes, que são impostas por
um ato de cuidar, daquelas que realmente foram desnecessárias e inadequadas.
Após o sentimento de decepção vem o de indignação, e, repetindo o modelo
da época da sua infância, surge o sentimento de desânimo e de vazio, que
assume a forma clínica de um estado de “desistência”
precisa adquirir a condição de reconhecer que o analista, da mesma forma como as demais
pessoas com quem convive, também tem direito a possuir uma autonomia de valores,
pensamentos e atitudes, e que ele não é posse sua.
É parte essencial do setting o desenvolvimento de uma “aliança terapêutica”,
sem a qual a análise não se processará, mas com a qual a transferência negativa poderá ter livre
trânsito para se manifestar.
Aqui novamente nos deparamos com a importância da pessoa real do analista.
Isso vale especialmente com pacientes regressivos, porquanto, aliado à sua atividade interpretativa,
o analista também opera analiticamente, no sentido de propiciar um crescimento mental ao
analisando, pela razão de que ele está servindo como um novo modelo de identificação,
no que se refere à sua maneira de enfrentar as angústias, funcionar como um adequado continente,
sua forma de pensar e se relacionar com as verdades, uma atitude de reconhecimento e respeito às
diferenças e, muito particularmente, um modelo de alguém que pode ser valorizado e respeitado,
sem ter que apelar para recursos narcisísticos, pavimentados no princípio da ilusão.
De modo geral, as resistências manifestas pelos pacientes são bem-vindas na análise, pois
representam uma indicação de como funciona o self do paciente na vida real. Contudo, em
pacientes fortemente narcisistas (excessiva “pele grossa”), as resistências podem atingir um grau
que obstrui um acesso ao inconsciente, a ponto de tornar a análise estéril.
extensão sua e deve estar totalmente à sua disposição, nunca frustrá-lo, deve adivinhar seus
pensamentos e necessidades, atender às suas demandas, etc.)
- tipo “gemelar” (já existe algum grau de diferenciação, porém esse paciente narcisista crê que o
analista tem a obrigação de ser exatamente como ele é, sempre confirmar as suas teses, sob o
risco de desencadear a aludida fúria);
- “especular” (o paciente necessita que o analista, tal como a mãe no passado, reconheça,
confirme e espelhe o self grandioso que o paciente lhe exibe.)
O analista deve aceitar, temporariamente, as possíveis manifestações iniciais do paciente, de um
self grandioso de si mesmo, ou a de uma “imago parental idealizada”, a qual vai determinar uma
transferência com uma idealização excessiva do analista. Ambos os aspectos representam
recursos extremos de manter sua autoestima e seu pavor de desamparo.
Relação de “nós contra eles”
pacto de não agressão onde não há espaço para frustrações.
Isso mantêm a ilusão na construção de um oásis de perfeita compreensão recíproca (“nós”), já que
a vida lá fora, com os outros, permanece sendo vivida como sendo um inferno.
Elevado grau de desvirtuamento dos vínculos do amor, ódio e reconhecimento, sempre está
presente nos transtornos narcisistas.
Sua forma de amar e de ser amado repousa em
busca de algo ou alguém que preencha as suas falhas e faltas,
expectativa de que poderá resgatar o imaginário estado de completude original de “sua majestade,
o bebê” (que, no adulto, adquire a forma de “sua majestade, o ego), em uma fusão indiferenciada
com a mãe.
Diante da impossibilidade de alcançar a completude,
o narcisista não se conforma com a sua incompletude,
não tolera as diferenças e apela para distintas formas de amenizar o sofrimentotanto se recolhe em
um enclausuramento,
evitando qualquer tipo de ligação afetiva e erigindo uma autarquia de autosuficiência
compensadora, quanto também é muito comum que ele contraia sucessivos e malsucedidos
vínculos amorosos, dentro de uma eterna busca do impossível.
Em relação ao vínculo do ódio, é indispensável que o analista localize as antigas feridas
narcisísticas que estão sendo relatadas e revividas na situação analítica, como e contra quem elas
se formaram e que tipo de soluções a criança encontrou para enfrentar as precoces frustrações,
privações, perdas, abandonos e humilhações, com o respectivo sentimento acompanhante, o ódio.
Torna-se importante ajudar o paciente a estabelecer uma distinção entre uma “agressividade boa”,
construtiva, que lhe permita ter ambições e desejos de avançar na vida, e uma “agressão má”,
destrutiva, resultante de uma inveja excessiva, desejo de vingança eterna, uma imensurável volúpia
pelo poder, aspectos que incrementam as pulsões sádico-destrutivas e o levam a “atropelar” os
outros.
Aparentemente em uma atitude superior, desdenhosa e inacessível, demandam uma atividade mais
enérgica por parte do analista, com um contínuo e, às vezes, contundente assinalamento de
negação de certos aspectos da realidade, paradoxos, contradições, atos falhos e ambições
impossíveis, de modo a abrir um acesso a seus, aspectos frágeis que, bem no fundo, estão pedindo
socorro para serem descobertos pelo analista, compreendidos, respeitados e devidamente
interpretados.
Pele grossa
Assim, o terapeuta deve ser muito firme (sem perder o afeto)
estar preparado para não se deixar envolver em uma contratransferência muito difícil que esses
pacientes despertam,
além de assinalar de forma consistente que sua “pele grossa” encobre uma outra,
extremamente “fina”, a um mesmo tempo que deve enfatizar os aspectos destrutivos das
defesas exageradamente narcisistas que ele emprega.
Outro aspecto importante se refere ao fato de que não é tanto a ação interpretativa que
movimenta a análise dos pacientes com transtornos narcisistas, mas a “reversão dialética” das
teses do paciente.
Para tanto, se utiliza o recurso técnico, como o proposto por Bion, de fazer abertura de novos vértices de
percepção dos fatos que o paciente narra e sente à sua moda;
o uso de interpretações “binoculares”, nas quais, ao mesmo tempo, são enfocados os aspectos opostos que
concomitantemente interagem no psiquismo do mesmo analisando (a sua parte de adulto versus a criança
frágil, ou onipotente, etc.);
e, sobretudo, cabe ao analista a importante função de propiciar alguns modelos de pensamento que tal tipo de
paciente ainda não tem, por intermédio do recurso de promover indagações que estimulem o paciente a
desfazer negações e, no seu lugar, fazer reflexões, construir correlações de fatos e sentimentos, além de apurar
o seu senso crítico de como ele se vê e de como os outros o veem.
É dispensável acentuar que ajudar a pensar é totalmente diferente de intelectualizar, coisa essa que o
narcisista sabe fazer muito bem.
Entende-se que o narcisista deixa de ser o centro em torno do qual tudo e todos se movem,
pois ele gira em torno de suas carências básicas, mascaradas por uma pretensão de
autonomia,
ilusão de independência
e presunção de autossuficiência.
• Isso pode ter acontecido por uma simbiose excessivamente prolongada ou excessivamente
abreviada, dificultando as separações e frustrações em geral,
Idealização: O analista deve aceitar, durante um período transitório, que o paciente mantenha
uma idealização excessiva de si próprio, ou do terapeuta, porque devido à sua necessidade
vital de
reassegurar a coesão do self e de que não está desamparado, o analisando narcisista se
ampara,
respectivamente, no seu self grandioso e na sua “imago parental idealizada”, transferida para o
terapeuta; assim, durante algum tempo, o terapeuta necessita funcionar como uma espécie de
amparo que dê consistência e esperança.
Por outro lado, também ocorre que o paciente excessivamente narcisista inicie a análise
de uma forma altamente desdenhosa e denegridora da pessoa do analista,
Nesses casos, é indispensável que haja uma tolerância (não é o mesmo que passividade!)
transitória.
Sem se dar conta, o paciente testa a capacidade de continência do analista diante de sua
agressão, confusão, falsidade e depressão.
A meta analítica a ser alcançada consiste em propiciar que esse tipo de paciente que, no
fundo, é extremamente dependente obtenha uma gradual passagem na condição de
encarar o analista não como um objeto de necessidade (ou, a contrapartida, com desdém),
ocorrendo um trabalho analítico gradual em direção à autonomia.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA DSM-V
Critérios Diagnósticos