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TRANSTORNO

NARCISISTA
TEORIAS E TÉCNICAS
PSICOTERÁPICAS I

Cristina Kern
PSICANÁLISE E
MITO
NARCISO
INTRODUÇÃO

https://www.youtube.com/watch?v=Y3XUo4bDgCg&t=321s

O narcisismo vem ocupando um crescente espaço de


importância na literatura psicanalítica, na teoria, técnica e
prática clínicas.

Características narcísicas podem fazer parte da personalidade


e se manifestar no cotidiano clínico.

No entanto, é preciso diferenciar da patologia do narcisismo


(que acaba causando algum nível de sofrimento para o
indivíduo e para os que convivem com ele.)

(Zimerman, 2008).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DO NARCISISMO

Certo estado de indiferenciação:


Bebê sai da fase “simbiótica” e entra na etapa de “diferenciação” (composta de duas
subetapas): “separação” e “individuação”.

Processo de separação/individuação (1ª individuação) /Mahler et al. (1975/1977)


ocorre entre os 4 e 36 meses de vida da criança, e abrange
a separação (saída da criança da fusão simbiótica com a mãe)
a individuação (auisições psíquicas que permitem à criança assumir suas próprias
características)
.
(Zimerman, 2008).
Esse processo é descrito em subfases:
diferenciação (4 a 9 meses)
exploração (10 a 16 meses)
reaproximação (17 a 24 meses) e
consolidação da individuação (25 a 36 meses)

A diferenciação tem início por volta do 4 mês de vida do bebê

passa a manter-se mais alerta durante os períodos de vigília, o que o permite dirigir-se ao mundo externo.

Essa subfase se caracteriza pela diminuição, por parte do bebê, da dependência corporal da mãe, que até então era
total.

A firmeza de tronco possibilita a ele distanciar-se corporalmente da mãe e, assim, reconhecê-la tátil e visualmente
como uma parceira na simbiose, e não como parte de seu corpo.
Bebê, ao admirar-se com as características do rosto da mãe,
passa a compará-lo com a face de outros adultos.

Se a simbiose ocorrer adequadamente e a criança desenvolver


o sentimento de confiança básica, volta-se com maior
curiosidade para o exame dos estranhos.

Do contrário, o exame de outros adultos pode se transformar


em ansiedade aguda com relação a estranhos.
Exploração (10 a 16 meses)

A exploração tem início por volta dos 10 meses do bebê


Ocorre uma expansão das capacidades motoras do bebê e
aumenta a exploração do ambiente ao seu redor.

Se caracteriza pelo envolvimento narcisista do bebê nas próprias habilidades, no seu corpo
e na investigação do ambiente.

Isso permite ser mais tolerante a batidas, a quedas e a outras frustrações que venha a
sofrer. (Mahler et al, 1975/1977).
Exploração (10 a 16 meses)

Devido a esse investimento narcisista, o bebê se arrisca a se afastar da mãe e fica longo período
concentrado em suas atividades.

De tempos em tempos, ele retorna para receber o reabastecimento emocional, adquirido através do
contato com a mãe.

A locomoção indica o final do rompimento da unidade simbiótica mãe-bebê dos primeiros meses de
vida, representando o nascimento psicológico da criança (capacidade do bebê de tornar-se uma pessoa
separada da mãe, ao adquirir o início da identidade do self)
(Mahler, 1979/1982).
Superadas estas etapas, ocorre o “nascimento psicológico” da criança, possibilitando as demais

etapas até a construção

de uma confiança básica.

Não obtendo êxito na “diferenciação”, a criança:

“permanecerá fixada em uma “indiferenciação” entre o “eu” e o “não-eu”,

entre si mesma e os outros,

e quanto mais próxima estiver da etapa “simbiótica”,

maior será a sua crença ilusória e onipotente de que possui uma independência absoluta, quando, na

verdade, está em um estado de absoluta dependência”. (Zimerman, 2008, p.253).


Indiferenciada, a criança tem a ilusão mágica de que é uma majestade
rodeada de fiéis súditos, que pode atingir uma total completude,
posição de onde ele vê e se relaciona com o mundo exterior.

É fácil perceber como, guardando as devidas proporções, nossos


pacientes adultos portadores de algum transtorno narcisista da
personalidade manifestam peculiaridades análogas as deste bebê
naturalmente onipotente.
Mecanismos de
Negação

defesa
Onipotência

Onisciência
A negação é extensiva a um não-reconhecimento das verdades penosas:
• a impossibilidade de uma plena completude;
• a admissão de que existe a presença de um terceiro;
• o reconhecimento de que depende dos outros e, por isso, ele corre sérios riscos de sentir inveja, ciúme,
perdas e separações;
• a aceitação de que o outro tem uma vida autônoma, não é posse sua, não está sob seu controle total e
tem o direito de ser diferente dele, na forma de pensar, de sentir e de agir.

As principais regressões das pessoas fortemente fixadas na posição narcisista dizem respeito à negação e à
intolerância de suas diferenças em relação aos demais (de gerações, de capacidades e de atributos.)

Onipotência: “Tudo posso”.

Onisciência: “Tudo sei”.


Dificuldades em reconhecer os seus inevitáveis limites e limitações:

os problemas ligados às incapacidades e ao envelhecimento, à doença e à morte;


aceitar uma inevitável hierarquia na família, nas instituições, na situação analítica, etc. quanto à atribuição
de papeis, lugares, posições e funções
aceitação de normas e de leis

Núcleos de simbiose e ambiguidade

Reproduz a original simbiose mãe-bebê (condição psíquica na qual persiste algum forte grau de fusão e
indiferenciação com o outro)

Elege uma pessoa e a mantém sob um controle onipotente, com características de apoderamento.
Lógica do tipo binário
Uma parte costuma representar o todo
se determinado atributo do sujeito não corresponder ao seu ideal, generaliza essa
"deficiência" para a totalidade de sua pessoa.
Exemplo: um nariz considerado feio determina a convicção de uma feiura total e, da mesma
maneira, o insucesso de uma tarefa é vivenciado na PN como sendo um fracasso na
totalidade de suas capacidades.

Oscila entre dois pólos

ou ele imagina-se o melhor ou o pior;


um pleno sucesso ou um total fracasso;
se não for o mais belo é porque é feio, etc.
Esta forma de funcionar determina uma extrema vulnerabilidade da autoestima,
sentimentos de vergonha, fracasso e humilhação.

Na infância, foram crianças extremamente sensíveis a qualquer tipo de frustração


ou de insucesso.

Nos casos em que a autoestima do indivíduo fixado na PN gravita unicamente em


torno do cumprimento da obrigação de corresponder às expectativas de si próprio
ou às provindas de seus pais e representantes sociais (professores, autoridades...),
é muito comum que resulte a instalação do quadro clínico conhecido como
“depressão narcisista”, diante do fracasso na realização dos projetos ideais.
Intensa necessidade de reconhecimento
A ferida narcisista – uma das mais dolorosas entre todos os sofrimentos psíquicos –resulta
da distância que vai entre o plano ilusório e o plano da realidade.
Em contrapartida, o prazer narcisista tem tudo a ver com o constante reconhecimento e
admiração de um outro significativo.
Para fugir da ferida narcisista e garantir o prazer,
busca valores e atributos que preencham os vazios e assegurem-lhe o vital
reconhecimento dos outros.
Busca “parecer ser aquilo que, de fato, ele ainda não é”
os valores superestimados constituem-se como algo que ele vai buscar em si
próprio

(sob a forma de beleza, erudição, riqueza, conquistas amorosas, prestígio ou poder)

ou fora dele (em uma outra pessoa idealizada, instituição, ideologia, paixão, etc.).

Escolha de pessoas reforçadoras da ilusão narcisista

Busca de provas de que estão preservadas a autoestima e o sentimento de


identidade, tendo como meta principal de sua vida, a procura de pessoas, cuja
função é a de que elas endossem o seu ideal.

Passam buscando algo/ alguém que confirme o mundo ilusório, garantindo, a


preservação da autoestima e do sentimento de identidade, ambas ameaçadas na
posição narcisista, em virtude das demandas do mundo da realidade.
Identificações patógenas

Na PN, as identificações não se fazem por admiração pelos objetos


modeladores, como é o desejável

Mera “imitação” (caso em que ele paga o alto preço de um quase total
esvaziamento do seu self).

Nos casos mais graves de transtornos narcisistas, a presença, interiorizada, de


figuras parentais, sentidas como tanáticas e enlouquecedoras, impedem a
passagem da posição narcisista para a edípica, processo que é indispensável
para a constituição do sentimento de identidade e de uma coesão objetal.
Permanente estado psíquico de fazer comparações
Permanentemente em cheque com sua autoestima instável.
Lógica “tudo ou nada”- sofre muito com o êxito dos outros, porque, por comparação, isso
lhe representa um fracasso pessoal.

Narcisismo de pele fina e de pele grossa


Rosenfeld (1987) refere dois tipos de narcisistas;
“Pele fina” - supersensíveis, melindráveis e com extrema vulnerabilidade da autoestima
o papel de vítima lhes assegure a manutenção do poder por meio do recurso da fraqueza.
“Pele grossa” - arrogantes, constante atitude defensivo-agressiva,encobrindo uma pele
fina.
NARCISISMO NA PRÁTICA CLÍNICA

A história desses pacientes mostra que houve um precoce fracasso em relação às


necessidades de apego da criança, quer pela privação materna, quer por uma
realimentação patológica da mesma
Foram mães indiferentes ou intrusivas, com uma possessividade narcisista
História apresenta falha :
• na narcisisação (comprometendo a empatia e continência materna)
• a capacidade de frustrar adequadamente
reiteradas e indiscriminadas frustrações excessivas
necessárias frustrações foram escassas
frustrações impostas à criança foram incoerentes e injustas
Como consequência, mostram dificuldade para depender (evitar novas humilhações)
e uma angústia de desamparo diante de separações, pois estas lhes estão sempre ligadas a
uma ansiedade intensa, sentimento de abandono, com o risco de cair em uma depressão
relacionada a um primitivo desamparo e à falta da figura materna.

Na situação analítica, apresenta baixo limiar de tolerância às frustrações provindas do analista, às


quais sobrevêm o sentimento de desilusão e decepção,

Dificuldade em distinguir entre as frustrações necessárias e estruturantes, que são impostas por
um ato de cuidar, daquelas que realmente foram desnecessárias e inadequadas.
Após o sentimento de decepção vem o de indignação, e, repetindo o modelo
da época da sua infância, surge o sentimento de desânimo e de vazio, que
assume a forma clínica de um estado de “desistência”

a qual consiste tanto em uma literal desistência da análise ou em uma


continuidade da mesma, porém com uma descrença na recuperação, uma
abolição dos desejos (o único desejo passa a ser o de nada desejar) e um
acirrado “namoro com a morte”, física e/ou psíquica.
SETTING

O conceito de setting (enquadre) vai além de uma indispensável colocação de


regras e combinações que possibilitem um processo psicanalítico,

comporta-se como a conquista de um novo espaço, singular e especial,


em que o paciente vai poder reproduzir, em meio a sucessivas transformações, as
experiências emocionais mal resolvidas em etapas precoces do seu
desenvolvimento mental.

Pacientes muito regressivos exercem pressão para desvirtuar o Setting e levar o


terapeuta cometer transgressões técnicas.
Para tanto, eles podem usar uma série de táticas conscientes e inconscientes:
coerção, ameaças, sedução, chantagem, desafios, alegação de desamparo e ideação suicida,
provocações várias, além de um sutil convite para o analista exercer um determinado papel,
que pode ir ao extremo de retirá-lo do seu lugar(papel) na situação analítica.

Para prevalecer o seu anseio de indiferenciação, o paciente fixado na PN vai tentar


tornar simétrica a relação com o analista, simetria essa que, na realidade, só cabe
relativamente ao nivelamento como seres humanos que ambos são e que compartilham
as mesmas angústias do desconhecido.
A relação analista-paciente deve ser assimétrica
para preservar e propiciar ao paciente com transtorno narcisista uma indispensável colocação
de limites,
hierarquia funcional,
aceitação de leis e combinações,
reconhecimento dos alcances, limitações e, sobretudo, das diferenças entre ele e os outros.

precisa adquirir a condição de reconhecer que o analista, da mesma forma como as demais
pessoas com quem convive, também tem direito a possuir uma autonomia de valores,
pensamentos e atitudes, e que ele não é posse sua.
É parte essencial do setting o desenvolvimento de uma “aliança terapêutica”,
sem a qual a análise não se processará, mas com a qual a transferência negativa poderá ter livre
trânsito para se manifestar.
Aqui novamente nos deparamos com a importância da pessoa real do analista.
Isso vale especialmente com pacientes regressivos, porquanto, aliado à sua atividade interpretativa,
o analista também opera analiticamente, no sentido de propiciar um crescimento mental ao
analisando, pela razão de que ele está servindo como um novo modelo de identificação,
no que se refere à sua maneira de enfrentar as angústias, funcionar como um adequado continente,
sua forma de pensar e se relacionar com as verdades, uma atitude de reconhecimento e respeito às
diferenças e, muito particularmente, um modelo de alguém que pode ser valorizado e respeitado,
sem ter que apelar para recursos narcisísticos, pavimentados no princípio da ilusão.
De modo geral, as resistências manifestas pelos pacientes são bem-vindas na análise, pois
representam uma indicação de como funciona o self do paciente na vida real. Contudo, em
pacientes fortemente narcisistas (excessiva “pele grossa”), as resistências podem atingir um grau
que obstrui um acesso ao inconsciente, a ponto de tornar a análise estéril.

Em alguns casos, as resistências adquirem tanto a forma de


inversão dos papéis (que naturalmente são designados respectivamente ao analista e ao
paciente),
“reversão da perspectiva” (o analisando desvitaliza a ação analítica porque reverte para as suas
próprias premissas tudo aquilo que o analista interpreta)
“ataque aos elos” (o paciente desperta sentimentos contratransferenciais que podem deixar o
analista algo confuso, ou irritado, ou impotente, etc., o que vai reduzir sensivelmente a sua
capacidade de compreender e, portanto, de interpretar.)
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
A resistências podem funcionar como o padrão transferencial
de uma constante oposição inconsciente (às vezes, ela é consciente e de uso
deliberado) ao êxito da análise.

A pouca tolerância às frustrações promove o surgimento de uma transferência que Kohut


(1971) denomina “fúria narcisista”, que exige do analista uma boa capacidade de continência
para poder conter, tolerar e transformar os sentimentos negativos do paciente, e
contratransferencialmente, os dele próprio.
Modalidades de “transferências narcisísticas”:
-tipo “fusional” (o paciente imagina que o terapeuta não é mais do que uma, indiferenciada,

extensão sua e deve estar totalmente à sua disposição, nunca frustrá-lo, deve adivinhar seus
pensamentos e necessidades, atender às suas demandas, etc.)
- tipo “gemelar” (já existe algum grau de diferenciação, porém esse paciente narcisista crê que o
analista tem a obrigação de ser exatamente como ele é, sempre confirmar as suas teses, sob o
risco de desencadear a aludida fúria);
- “especular” (o paciente necessita que o analista, tal como a mãe no passado, reconheça,
confirme e espelhe o self grandioso que o paciente lhe exibe.)
O analista deve aceitar, temporariamente, as possíveis manifestações iniciais do paciente, de um
self grandioso de si mesmo, ou a de uma “imago parental idealizada”, a qual vai determinar uma
transferência com uma idealização excessiva do analista. Ambos os aspectos representam
recursos extremos de manter sua autoestima e seu pavor de desamparo.
Relação de “nós contra eles”
pacto de não agressão onde não há espaço para frustrações.
Isso mantêm a ilusão na construção de um oásis de perfeita compreensão recíproca (“nós”), já que
a vida lá fora, com os outros, permanece sendo vivida como sendo um inferno.
Elevado grau de desvirtuamento dos vínculos do amor, ódio e reconhecimento, sempre está
presente nos transtornos narcisistas.
Sua forma de amar e de ser amado repousa em
busca de algo ou alguém que preencha as suas falhas e faltas,
expectativa de que poderá resgatar o imaginário estado de completude original de “sua majestade,
o bebê” (que, no adulto, adquire a forma de “sua majestade, o ego), em uma fusão indiferenciada
com a mãe.
Diante da impossibilidade de alcançar a completude,
o narcisista não se conforma com a sua incompletude,
não tolera as diferenças e apela para distintas formas de amenizar o sofrimentotanto se recolhe em
um enclausuramento,
evitando qualquer tipo de ligação afetiva e erigindo uma autarquia de autosuficiência
compensadora, quanto também é muito comum que ele contraia sucessivos e malsucedidos
vínculos amorosos, dentro de uma eterna busca do impossível.
Em relação ao vínculo do ódio, é indispensável que o analista localize as antigas feridas
narcisísticas que estão sendo relatadas e revividas na situação analítica, como e contra quem elas
se formaram e que tipo de soluções a criança encontrou para enfrentar as precoces frustrações,
privações, perdas, abandonos e humilhações, com o respectivo sentimento acompanhante, o ódio.
Torna-se importante ajudar o paciente a estabelecer uma distinção entre uma “agressividade boa”,
construtiva, que lhe permita ter ambições e desejos de avançar na vida, e uma “agressão má”,
destrutiva, resultante de uma inveja excessiva, desejo de vingança eterna, uma imensurável volúpia
pelo poder, aspectos que incrementam as pulsões sádico-destrutivas e o levam a “atropelar” os
outros.

Quanto ao reconhecimento (Zimerman, 1999), o paciente narcisista uma necessidade de, -


contrariamente ao seu enorme temor de ser esquecido, abandonado e desprezado-,
receber constantes provisões de reconhecimento (de que é aceito, amado, desejado, valorizado). A
prática clínica confirma que, desde criança o paciente pode ter construído um falso self, como uma
maneira de adivinhar e assim preencher os desejos e expectativas dos pais e da sociedade, em
relação a ele, assim assegurando que não seria abandonado.
COMUNICAÇÃO
A comunicação não-verbal”(gestos, atitudes, silêncios, choro, actings) se bem-aproveitada pelo
analista, pode se constituir em uma vertente de compreensão daquilo que o paciente regressivo
não consegue dizer com palavras.

Os vazios existenciais comumente são preenchidos com


moralismo
(no lugar de uma boa capacidade para fazer julgamentos)
pensamento dogmático
(substitui a função de pensar baseada na condição de indagar e correlacionar),
fundamentalismo, quer este seja religioso, científico ou ideológico.
(ZIMERMAN, 2008, p.261).
ATIVIDADE INTERPRETATIVA
“Pele fina”:
São vulneráveis e sensíveis, reagem com muita dor a tudo aquilo que lhes parecer rejeição do
analista;
Assim, a importância da empatia e demonstração de que o analista é capaz de conter suas
necessidades, angústias e depressões, ao mesmo tempo em que sobreviva aos seus ataques sádicos
e que tenha uma boa capacidade de paciência para andar no ritmo e na velocidade compatíveis
com as possibilidades do paciente.
predomina sensação de baixa autoestima, de modo a sempre se sentirem inferiores aos outros;
exercem sobre os outros um “controle paralisante”,
às vezes por meio de ameaças suicidas;
assim, exercem o “papel de vítima”, que, por meio de sua “fraqueza” (corresponde à “pele fina”)
mantêm o poder sobre os outros de alguma forma (“pele grossa”).
Pele grossa
mostram-se insensíveis aos aspectos transferenciais, (especialmente os de dependência);
zombam das interpretações que se referem aos sentimentos ligados às suas partes frágeis;
aparentam uma superioridade, às vezes arrogante (rejeitam antes de serem rejeitados);
predomina neles um self destrutivo, manifesto por uma atitude de “controle, triunfo e desprezo”.

Aparentemente em uma atitude superior, desdenhosa e inacessível, demandam uma atividade mais
enérgica por parte do analista, com um contínuo e, às vezes, contundente assinalamento de
negação de certos aspectos da realidade, paradoxos, contradições, atos falhos e ambições
impossíveis, de modo a abrir um acesso a seus, aspectos frágeis que, bem no fundo, estão pedindo
socorro para serem descobertos pelo analista, compreendidos, respeitados e devidamente
interpretados.
Pele grossa
Assim, o terapeuta deve ser muito firme (sem perder o afeto)
estar preparado para não se deixar envolver em uma contratransferência muito difícil que esses
pacientes despertam,
além de assinalar de forma consistente que sua “pele grossa” encobre uma outra,
extremamente “fina”, a um mesmo tempo que deve enfatizar os aspectos destrutivos das
defesas exageradamente narcisistas que ele emprega.

Outro aspecto importante se refere ao fato de que não é tanto a ação interpretativa que
movimenta a análise dos pacientes com transtornos narcisistas, mas a “reversão dialética” das
teses do paciente.
Para tanto, se utiliza o recurso técnico, como o proposto por Bion, de fazer abertura de novos vértices de
percepção dos fatos que o paciente narra e sente à sua moda;
o uso de interpretações “binoculares”, nas quais, ao mesmo tempo, são enfocados os aspectos opostos que
concomitantemente interagem no psiquismo do mesmo analisando (a sua parte de adulto versus a criança
frágil, ou onipotente, etc.);
e, sobretudo, cabe ao analista a importante função de propiciar alguns modelos de pensamento que tal tipo de
paciente ainda não tem, por intermédio do recurso de promover indagações que estimulem o paciente a
desfazer negações e, no seu lugar, fazer reflexões, construir correlações de fatos e sentimentos, além de apurar
o seu senso crítico de como ele se vê e de como os outros o veem.

É dispensável acentuar que ajudar a pensar é totalmente diferente de intelectualizar, coisa essa que o
narcisista sabe fazer muito bem.
Entende-se que o narcisista deixa de ser o centro em torno do qual tudo e todos se movem,
pois ele gira em torno de suas carências básicas, mascaradas por uma pretensão de
autonomia,
ilusão de independência
e presunção de autossuficiência.

Assim, o problema do narcisista não é o de um “amor por si mesmo”;

é o de um espelho que não o reflete mais do que ele próprio


• Não se pode perder de vista que a fixação em uma estrutura narcisista, em certos casos,
deriva de um luto patológico, que a criança sofreu com as separações da mãe, com a
predominância do sentimento de ódio.

• Isso pode ter acontecido por uma simbiose excessivamente prolongada ou excessivamente
abreviada, dificultando as separações e frustrações em geral,

• assim, aumenta a necessidade de novas simbioses, acompanhadas das respectivas


fantasias de que não existirão privações, nem fronteiras, tampouco diferenças e
limitações.
Nessa direção, a dor da angústia de separação merece uma consideração especial do analista,
mais pelo significado que estão representados na mente do paciente, de abandono,
indiferença, humilhação, traição, etc.do que propriamente pela falta concreta do terapeuta.

Idealização: O analista deve aceitar, durante um período transitório, que o paciente mantenha
uma idealização excessiva de si próprio, ou do terapeuta, porque devido à sua necessidade
vital de
reassegurar a coesão do self e de que não está desamparado, o analisando narcisista se
ampara,
respectivamente, no seu self grandioso e na sua “imago parental idealizada”, transferida para o
terapeuta; assim, durante algum tempo, o terapeuta necessita funcionar como uma espécie de
amparo que dê consistência e esperança.
Por outro lado, também ocorre que o paciente excessivamente narcisista inicie a análise
de uma forma altamente desdenhosa e denegridora da pessoa do analista,
Nesses casos, é indispensável que haja uma tolerância (não é o mesmo que passividade!)
transitória.
Sem se dar conta, o paciente testa a capacidade de continência do analista diante de sua
agressão, confusão, falsidade e depressão.
A meta analítica a ser alcançada consiste em propiciar que esse tipo de paciente que, no
fundo, é extremamente dependente obtenha uma gradual passagem na condição de
encarar o analista não como um objeto de necessidade (ou, a contrapartida, com desdém),
ocorrendo um trabalho analítico gradual em direção à autonomia.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA DSM-V
Critérios Diagnósticos

Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração


e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos,
conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
• 1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (p. ex., exagera conquistas e talentos,
espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes).
• 2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal.
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Transtornos dá Personalidade
• 3. Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a,
outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada.
• 4. Demanda admiração excessiva.
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA DSM-V
Critérios Diagnósticos
5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (i.e., expectativas irracionais de tratamento
especialmente favorável ou que estejam automaticamente de acordo com as próprias
expectativas).
6. É explorador em relações interpessoais (i.e., tira vantagem de outros para atingir os próprios
fins).
7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as
necessidades dos outros
8. Tendência a ser invejoso ou de se imaginar alvo da inveja dos outros.
9. Arrogância, esnobismo.
CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS
Superestimam de forma rotineira suas capacidades e exageram suas conquistas. Estão frequentemente
preocupados com fantasias de sucesso ilimitado.
Creem ser superiores, especiais ou únicas e esperam que os outros as reconheçam como tal. Indivíduos
com esse transtorno geralmente exigem admiração excessiva.
Podem constantemente buscar elogios, em geral com muita sedução.
Esperam ser servidos e ficam atônitos ou furiosos quando isso não acontece. podem supor que não
precisam aguardar em filas e que suas prioridades são tão importantes que os outros farão uma deferência
a eles.
Podem esperar uma grande dedicação dos outros e podem explorá-los abusivamente sem dar importância
ao impacto que esse fato pode ter em suas vidas.
Tendem a formar relações de amizade ou romance somente se a outra pessoa parece possibilitar o avanço
de seus propósitos
REFERÊNCIAS
ZIMERMAN, David Epelbaum; ZIMERMAN, David E.. MANUAL DE TÉCNICA
PSICANALÍTICA uma re-visão: Transtornos Narcisistas. 9788536315317. ed. SÃo Paulo:
Artmed® Editora S.a., 2008. 253 p. ARTMED® EDITORA S.A..
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014. 992p.
MITO DE
NARCISO

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