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FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

MARIA EDUARDA MAGALHÃES C. A. MOTTA


NICOLE SALDANHA FELLICE

ESTUDO DIRIGIDO SOBRE

ALGUNS ASPECTOS DA ADOLESCÊNCIA

RECIFE/PE
2021
A necessidade do Outro em nossa vida é, desde muito cedo, colocada em questão,
não só quando falamos de identificações, mas também no sentido fisiológico e psíquico.
Quando nascemos, precisamos de alguém que nos ampare, nos limpe e nos alimente. É de
suma importância alguém que nos proporcione cuidado e segurança num ambiente
suficientemente bom, para que então ocorra um desenvolvimento saudável. É o ambiente
que dá possibilidades de ir adiante, ou não, com o processo maturacional (ambiente esse
que, além de físico, é também humano).
A identificação é uma organizadora da personalidade do indivíduo e de sua
constituição, sendo também um processo psicológico pelo qual o indivíduo, a partir do
objeto externo (um outro indivíduo), adquire novos aspectos e os reedita de acordo com seu
modo de ser. Freud coloca em cheque a importância do primeiro objeto externo como algo
essencial para as atividades simbólicas e para o aparelho psíquico humano. Durante a fase
primitiva da existência, fase oral, é de difícil associação a catexia dos objetos de
identificações.
Mais adiante, é a partir dos movimentos psíquicos que se dão os processos de
identificação nas relações entre pais e filhos, onde esses filhos irão incorporar, desenvolver
e modificar seus próprios modelos de identidade. Na adolescência, o desenvolvimento
identitário encontra-se em crise, o indivíduo possui um terreno fértil para sofrer induções e
sugestões; está altamente vulnerável e suscetível a incorporação de novos objetos, até
mesmo os objetos caóticos, podendo facilmente tornar-se marionetes das satisfações de
seus desejos. Nessa fase existem grandes riscos de deixar marcas e lesões permanentes
na personalidade desses jovens.
No período da latência não ocorre apenas uma simples repressão, é feito um
trabalho de reordenação dinâmica e estrutural de suas pulsões e realizado um esforço para
a organização, diferenciação, sofisticação e ampliação do aparelho psíquico. De acordo
com Sarnoff (1976,1987), o desenvolvimento cognitivo na fase de latência atravessa três
etapas: início da latência, a maturação durante o estado de latência e a transição final.
Neste trabalho cabe apenas a exposição do terceiro período (transição final), onde o latente
está em busca do conhecimento real do mundo e de suas percepções sobre o mesmo,
procurando maneiras de expressar seus impulsos através de objetos externos a ele.
Existe na gravidez uma simbiose entre mãe e filho que é rompida com o corte do
cordão umbilical, sendo esse realmente o primeiro nascimento. É a partir desse movimento
de separação que surgem profundas reorganizações psíquicas, sendo estas cisões
constantes e que irão acontecer em várias fases da vida, principalmente na adolescência. É
nela que acontece uma outra reorganização psíquica (segundo nascimento, simbólico).
Ao longo dos processos de identificação dos adolescentes, aflora no ego aspectos
atuais e primitivos de sua personalidade. As identidades mais primitivas do sujeito são
recalcadas, ou seja, o ganho de novas identidades não põe fim às outras anteriormente
vividas. O adolescente revive de maneira inconsciente as vivências da infância frente aos
conflitos de suas experiências passadas e atuais, são mobilizados pela força do
crescimento e a tendência ao amadurecimento, as quais estimulam as conquistas para a
fase adulta.
Contrário ao desenvolvimento dos adolescentes, existem as condutas regressivas
vinda dos pais que resultam numa demanda progressiva por parte dos filhos, progresso
esse que pode vir antes da hora necessária para o amadurecimento desses jovens. Sendo
assim, parece que estabelece-se aí um ciclo familiar onde os pais estão sofrendo carências
afetivas e/ou uma falta de definição das demarcações geracionais. Nesses casos, as
crianças irão então tentar ocupar o local de pai ou mãe para seus próprios pais.
É na adolescência que o indivíduo necessita reeditar sentimentos e vínculos
primários em relação às figuras parentais, revisando os seus objetos internos e a sua
identidade. O sujeito nessa fase será atravessado pela sua história familiar, pelo narcisismo
parental, por reordenamentos identificatórios, busca por seus próprios ideais, rompimentos
e dará novos sentidos às suas experiências. Tudo isso resulta em inseguranças, conflitos
internos e angústias; provoca os sentimentos de vazio, desamparo, despersonalização e
não pertencimento a seus grupos primários. Junto a todos esses sentimentos, as tentativas
de individuação, busca de auto-afirmação e uma consolidação de sua identidade (questões
transgeracionais).
Uma das formas que o adolescente encontra para se encaixar, geralmente, são seus
grupos homogeneizados, que possibilitam a ele fazer projeções, identificações, enquanto
busca sua originalidade e a conquista de um espaço próprio. O púbere experimenta as
mudanças e passa a lidar com um corpo que não está submisso a seus comandos. Sente
necessidades, desejos e emoções que não haveria sentido em sua fase anterior. Quando os
infantes se percebem adolescentes, almejam ter, eles mesmos, as rédeas de suas vidas,
passando por um processo vultoso de separação dos pais, de maneira a se afirmarem
como ser-no-mundo.
A perda que existe da dependência infantil é traduzida como uma ameaça ao
adolescente, onde este último perde/renuncia (sem ganhar em troca outras maneiras de
reconhecimento) a segurança do amor dos pais que lhe dava uma garantia. Por agora, este
adolescente não é mais nada, nem criança amada ou sequer um adulto reconhecido.
Os pais também passam pelo processo de luto, pela criança que se foi e juntamente
com ela seu corpo pequeno, seu cheiro infantil, seu investimento naquela relação que se
dava através de risadas, dos abraços espontâneos, da companhia frequente; perderam
também o posto de serem os principais objetos de amor, admiração e poder. Acontece
fatalmente desencantos e desidealizações mútuas. Freud coloca a evitação para com os
pais uma condição necessária para driblar o incesto, ainda que seja um divórcio simbólico,
ao passo que o cordão umbilical ainda faz as trocas subjetivas entre os inconscientes dos
pais e dos filhos.
Os adolescentes utilizam defesas onipotentes e maníacas para lidar com as
ansiedades depressivas, paranóides e/ou confusionais, criando assim um espaço mental
(refúgio narcísico) marcado por fantasias inconscientes, sendo dominado pela
destrutividade e pelo isolamento. Por outro lado, frente aos adolescentes, os pais passam
por um processo angustiante e confuso, com frustrações e surpresas frente ao crescimento
e as escolhas de seus filhos. Estes pais relembram sua própria história, criando-se a partir
disso a necessidade de uma ressignificação de suas próprias experiências de quando
jovens. Os filhos servem de espelho para que os pais se vejam e percebam-se não mais tão
jovens.
Para mais, os adultos veem a adolescência como uma patologia social, onde estes
são uma ameaça à paz e à ordem familiar. A transgressão adolescente não é facilmente
compreendida, mas se revela através do medo que o adulto tem em relação a maneira em
que o adolescente se colocará diante de algumas questões. Ou seja, os adultos sabem,
ainda que de maneira confusa, que existe no adolescente um movimento transgressor, que
desenrola-se a partir da realização dos desejos inconscientes dos adultos, os quais estes
pretendiam deixar reprimidos e/ou manter esquecidos.
A ambivalência se coloca em questão neste momento, quando a realização dos
desejos reprimidos dos pais vem por parte do jovem que é retraído por isso. Os pais
suportam mal as diferenças existentes entre eles mesmos e seus filhos adolescentes, essas
diferenças são supervalorizadas, deixando as semelhanças em segundo plano. Freud
refere-se a estes eventos como “Narcisismo das pequenas diferenças”. Essa
impossibilidade de entender a adolescência de seus filhos se dá pois a vivência adolescente
é de difícil rememoração, ou seja, esses pais não mais se lembram ou sabem de sua
própria adolescência e por isso não entendem a de seus filhos.
Existe uma relação que se inicia a partir de uma boa qualidade advinda de um
vínculo bem estabelecido entre pais e filhos. Há, portanto, uma notável relação de
mutualidade entre amor, ódio e conhecimento. As capacidades de continência e de uma
ideia devaneadora de poder controlar e filtrar as angústias que atingem os jovens
adolescentes, possibilita a eles, a partir de um investimento significativo por parte dos pais,
a incorporar esses últimos. A continência é um processo facilitador de relevante importância
à medida em que os pais orientam e auxiliam seus filhos, nessa relação de cuidado os pais
serão as bases da formação dos aparelhos psíquicos dos adolescentes.

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