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Apresentação Oral de Psicologia B – 23/02/2023

Carolina: Construir a nossa identidade é cada vez mais complexo num mundo sobrecarregado
de informações, onde os estímulos e as mensagens contraditórias são constantes. Não é um
processo rápido, a nossa identidade é construída ao longo da nossa vida, a partir das
experiências que vivenciamos, ou seja, através das nossas relações sociais.

1. Noção de Identidade
Mateus: A identidade pessoal é o conjunto das perceções, sentimentos e representações que
uma pessoa tem de si própria, que lhe permitem reconhecer e ser reconhecido socialmente.

O conceito de identidade é bastante complexo: afirma, por um lado, a semelhança e, por


outro, a diferença, ou seja, temos características comuns aos outros e características que nos
distinguem dos outros.

Alguns dos principais elementos da identidade são:

- A continuidade, pois reconheço-me o mesmo ao longo do tempo;

- A estabilidade, ou seja, eu tenho de mim uma representação estável, tal como os outros;

- A unicidade, pois tenho um comportamento com determinadas características que reflete a


ideia de unidade, de coerência e de mim próprio;

- A diversidade, pois somos várias personagens numa única pessoa, ou seja, desempenhamos
vários papéis;

- A realização, visto que nos construímos através da ação;

- E também a autoestima, pois a identidade está ligada a uma visão positiva de si próprio.

2. A importância das relações precoces na construção da identidade


Natacha: Como é do conhecimento de todos, os bebés nascem com uma vulnerabilidade que
torna indispensáveis os cuidados prestados pelos adultos. As relações precoces são as
primeiras interações entre a criança e quem cuida dela, e têm um papel fundamental no
desenvolvimento do bebé até à chegada da construção final do eu.

2.1. Da díade à tríade

A passagem de uma relação mãe-bebé, díade, para uma relação mãe-bebé-pai, tríade, é uma
questão de interesse para os investigadores.

Com o passar dos anos e após diversos estudos, foi-se percebendo a importância que esta
relação triangular tem e o modo como a perturbação destas relações afeta o modo como a
criança irá desenvolver-se e interagir com o mundo no futuro.

2.1.1. A figura de vinculação

Bowlby foi um psicólogo notável pelo seu interesse pelo desenvolvimento infantil. O seu
objeto de estudo foi a sociedade inglesa do pós-guerra, em que a mãe estava em casa e
cuidava das crianças. Desta forma, centrou as suas investigações no papel da mãe.
Estudos desenvolvidos por outros investigadores mostram que o bebé estabelece laços de
vinculação com a pessoa que responde de forma mais adequada às suas necessidades. Assim,
a mãe pode ser substituída por outros cuidadores como, por exemplo, o pai, outros familiares
ou outros elementos sociais.

2.1.2. Vinculação e equilíbrio psicológico

Ao estudar a relação mãe-bebé, percebe-se a importância dos primeiros vínculos no


desenvolvimento psicológico do bebé. A forma como a mãe responde aos estados emocionais
do filho, não só disponibiliza prazer e satisfação no presente, como influencia muitos aspetos
da constituição psicológica do seu filho.

A confiança que se pode estabelecer nestes primeiros vínculos permitirá gerir com mais
segurança os desafios que as interações com os outros implicam, trazendo à criança uma
maior capacidade para lidar com as contrariedades e adversidades que ocorrem ao longo da
vida.

2.1.3. Vinculação e individuação

Lara: A “base de segurança” fornecida pelas figuras de vinculação permite que o bebé explore
o mundo, mas que também possa regressar quando se sente ameaçado ou inseguro.

Na base do processo de individuação está a vinculação. O processo de individuação consiste na


necessidade primária de o ser humano criar a sua própria identidade e de se distinguir
daqueles com quem mantém fortes laços. Assim, a relação que o bebé estabelece com a
pessoa que cuida dele é de extrema importância para o seu desenvolvimento e individuação.

2.2. Consequências das perturbações nas relações precoces

Harry Harlow foi um psicólogo norte-americano que se deu a conhecer devido às suas
experiências sobre a privação maternal e social em macacos, ao demonstrar a importância dos
cuidados, do conforto e do amor nos primeiros tempos do desenvolvimento.

As suas experiências consistiram na construção de duas mães artificiais, uma de arame soldado
e outra de arame revestido por um tecido felpudo, que forneciam alimento através de um
biberão aos macacos recém-nascidos.

Harlow observou que os macacos bebés preferiam claramente as mães mais confortáveis e
esta preferência mantinha-se independentemente de qual a mãe que fornecia o alimento.
Outras observações mostraram que o que estava em causa não era só a procura de conforto,
mas também o contacto, que parecia ser essencial ao estabelecimento de uma relação que
transmitia segurança. Quando estavam perante um estímulo gerador de medo, os macacos
agarravam-se à mãe felpuda tal como o fariam a uma mãe real. Este comportamento nunca
era observado com as mães de arame, mesmo em macacos criados só com ela.

A partir destas experiências, Harlow concluiu que a mãe é um símbolo de proteção, conforto e
segurança. Este vínculo que se estabelece entre a cria e a mãe, também se verifica com seres
humanos, provando que os laços afetivos positivos servem de base ao desenvolvimento da
criança.
Por outro lado, a ausência da mãe, traduzir-se-ia em perturbações físicas e psicológicas
profundas, no entanto, no caso dos humanos, estes têm capacidades extraordinárias de
adaptação e de recuperação face a essas perturbações.

2.3. Hospitalismo

Matilde: Após a Segunda Guerra Mundial, o psicanalista René Spitz tornou-se pioneiro no
estudo de bebés, a partir de uma pesquisa com crianças abandonadas deixadas em orfanatos
ou hospitais, onde recebiam cuidados físicos, mas pouco afeto ou atenção. Por meio do
conceito de hospitalismo, Spitz descreve os efeitos terríveis da falta de atenção qualitativa nos
recém-nascidos.

O hospitalismo trata-se de um conjunto de perturbações físicas e psíquicas que as crianças


podem sofrer em consequência do internamento prolongado nos orfanatos, hospitais ou
asilos, onde estão privadas de afeto materno.

Na ausência da mãe, as reações da separação podem provocar uma depressão, devido à falta
da figura materna. Quando crianças de idades muito precoces são sujeitas a uma privação de
contacto com os seus entes mais próximos, sofrem de problemas físicos e psicológicos que
podem afetar o seu desenvolvimento normal, tais como o atraso no desenvolvimento corporal
e intelectual, insónias, anorexia e incapacidade de adaptação ao meio.

Com as suas investigações, Spitz constatou a importância das relações precoces para o
desenvolvimento infantil, pois na ausência de uma vinculação maternante, o desenvolvimento
das crianças ficou seguramente comprometido, uma vez que a alimentação e os cuidados
básicos não substituem eficazmente os cuidados maternos.

3. A adolescência e a construção da identidade


3.1. A construção da identidade

Carolina: Como pudemos perceber, é no processo de socialização que o indivíduo constrói a


sua identidade ao longo de toda a sua vida, atualizando-se permanentemente até à morte. É
na relação mãe-bebé que este vai desenvolvendo a perceção do próprio corpo e,
posteriormente, se vai autonomizando da mãe.

É a partir do oitavo mês de vida que o bebé começa a distinguir a mãe de pessoas estranhas,
conferindo-lhe uma identidade. Entre um e dois anos de idade, dá-se um passo muito
importante no processo de construção da identidade, que é a construção da imagem de si.
Nesta fase, a criança aprende a reconhecer-se num espelho, tornando-se visível para si própria
e iniciando o sentimento de identidade.

À medida que a criança cresce, as interações sociais alargam-se no contexto da creche e do


jardim-escola. É no contacto com outros adultos e com o grupo de crianças em que está
inserida, que o processo de identificação se amplia para grupos cada vez mais alargados.
Assim, para além de lhe serem fornecidos vários modelos de identificação, a criança passa a
reconhecer os outros e a colocar-se no seu lugar.

3.1.1. A adolescência: continuidade e ruturas


Mateus: A entrada da criança na puberdade vai provocar uma grande alteração na sua
identidade. As alterações corporais que ocorrem do funcionamento das glândulas sexuais, que
modificam bastante a aparência física do jovem, acabam por gerar ansiedade e insegurança.
Além disso, dá-se um progressivo distanciamento dos pais, e o modelo de identificação para o
adolescente passa a ser o grupo de pares.

Segundo a teoria de Erikson, a identidade pode ser criada como uma imagem mental
relativamente estável da relação entre o eu e o mundo social. Cada estádio reconfigura e
reelabora o estádio anterior a partir do qual se manifesta.

Para Erikson, as transições de estádios designam-se crises pois são fontes de conflito no
interior do indivíduo que as vive, e a sua identidade pessoal forma-se segundo o modo como
resolve os períodos de grande vulnerabilidade.

Carolina: No seu estudo existiam oito estádios do desenvolvimento psicossocial. O que vamos
abordar é o estádio de desenvolvimento psicossocial da 5ª Idade, que ocorre dos 12 aos 20
anos, o período da adolescência.

É nesta fase que o adolescente se questiona: Quem sou eu? O que irei ser?, começando a
tomar consciência da sua singularidade. A crise de identidade exprime a dificuldade em
encontrar uma identidade ocupacional e um lugar conveniente no seio da sociedade,
mostrando a problemática da transição da infância para a idade adulta. A sua resolução ocorre
quando o adolescente é apoiado e encorajado para procurar respostas aos seus problemas por
si mesmo, experimentando vários estilos de vida.

A virtude adquirida no final deste estádio é a fidelidade, em que o adolescente aceita de forma
responsável os seus compromissos. Sem um sentimento construtivo de fidelidade, o jovem
terá um ego fraco, sofrerá de confusão de valores e será em grande parte o que os outros
decidirem que ele seja.

Matilde: Piaget, tal como Freud, é partidário de uma teoria dos estádios, sendo cada estádio
marcado pela interação entre as influências socioculturais e a vontade do indivíduo de
expandir a sua compreensão de si, da realidade, de modo a enriquecer o seu "espaço vital”.

No seu estudo existiam quatro estádios do desenvolvimento cognitivo. Segundo a perspetiva


de Piaget, o estádio das operações abstratas ocorre dos 11/12 anos e sofre o primeiro grande
amadurecimento aos 16 anos, correspondendo também ao período da adolescência. Este
estádio é caracterizado pelo desenvolvimento do pensamento lógico, formal e abstrato,
raciocínio hipotético-dedutivo, definição de conceitos e valores e egocentrismo intelectual.

3.1.2. O processo continua

Mateus: Durante muito tempo considerou-se que o processo de construção da identidade


terminaria no fim da adolescência, havendo uma estabilização da consciência, ou seja, uma
identidade fixa.

Esta afirmação não contraria o facto de a mesma pessoa assumir várias identidades, que
correspondem a diferentes papéis sociais: pode ser-se ao mesmo tempo professora, mãe e
pertencer a um partido político, por exemplo. Esta diversidade pode gerar, em determinadas
situações, conflitos que os indivíduos têm de controlar e ultrapassar.
Para além disso, constata-se que os adultos passam por todo um conjunto de situações ao
longo da vida que afetam a identidade pessoal nas suas diferentes expressões: corporal, sexual
e de autoestima.

4. Identidade/identidades.
Natacha: A identidade é um conceito complexo que se manifesta em diferentes tipos de
identidades que compõem os indivíduos.

A identidade pessoal envolve a perceção subjetiva que o sujeito tem da sua individualidade.
Apesar dos múltiplos papéis desempenhados, a que correspondem identidades específicas, a
unicidade do sujeito não está em causa.

Quanto à identidade social, podemos defini-la como a consciência social que temos de nós
próprios, que resulta da interação que constantemente estabelecemos com o meio social em
que estamos inseridos.

O terceiro e último tipo de identidade é a identidade cultural, que permite que o sujeito se
reconheça através dos valores que partilha com a sua comunidade. Por exemplo, estudar em
Portugal, na China ou na Nigéria é diferente, tal como como é diferente estudar no século XXI
ou no século XV.

4.1. Inscrição mental das histórias de vida

Matilde: A forma como o ser humano se relaciona com o meio e com o outro transforma-o.
Estas marcas mentais ou histórias de vida podem desenrolar-se em três tipos de
temporalidade.

A primeira delas liga-se aos seres humanos enquanto membros de uma espécie. A história das
interações inscreve-se em cada um de nós, neste caso, através da evolução da espécie e das
características que partilhamos com os outros seres humanos.

A segunda temporalidade está ligada à história das interações sociais e transformações em


termos da organização social. O meio sociocultural é um meio criado pelas interações entre os
seres humanos. Nestes contextos, as histórias de vida inscrevem-se em cada um de nós
enquanto cultura.

Por fim, temos a temporalidade psicológica. Esta liga-se à dimensão da história das interações
experienciadas por cada ser humano e a forma como, a partir delas, cria um sentido de si,
construindo uma forma de ser própria.

Lara: Depois de abordarmos todos os aspetos acerca da construção da identidade,


conseguimos perceber que a identidade é um processo que se vai construindo e reconstruindo
através da socialização e das crises de identidade, ou seja, através de todas as experiências do
sujeito e de toda a sua história de vida.

Os diferentes contextos em que o individuo está inserido são, inquestionavelmente, geradores


de interações que contribuem para a construção da sua identidade, sendo, portanto, um
processo bastante dependente das relações sociais do indivíduo.

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