Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Carolina: Construir a nossa identidade é cada vez mais complexo num mundo sobrecarregado
de informações, onde os estímulos e as mensagens contraditórias são constantes. Não é um
processo rápido, a nossa identidade é construída ao longo da nossa vida, a partir das
experiências que vivenciamos, ou seja, através das nossas relações sociais.
1. Noção de Identidade
Mateus: A identidade pessoal é o conjunto das perceções, sentimentos e representações que
uma pessoa tem de si própria, que lhe permitem reconhecer e ser reconhecido socialmente.
- A estabilidade, ou seja, eu tenho de mim uma representação estável, tal como os outros;
- A diversidade, pois somos várias personagens numa única pessoa, ou seja, desempenhamos
vários papéis;
- E também a autoestima, pois a identidade está ligada a uma visão positiva de si próprio.
A passagem de uma relação mãe-bebé, díade, para uma relação mãe-bebé-pai, tríade, é uma
questão de interesse para os investigadores.
Com o passar dos anos e após diversos estudos, foi-se percebendo a importância que esta
relação triangular tem e o modo como a perturbação destas relações afeta o modo como a
criança irá desenvolver-se e interagir com o mundo no futuro.
Bowlby foi um psicólogo notável pelo seu interesse pelo desenvolvimento infantil. O seu
objeto de estudo foi a sociedade inglesa do pós-guerra, em que a mãe estava em casa e
cuidava das crianças. Desta forma, centrou as suas investigações no papel da mãe.
Estudos desenvolvidos por outros investigadores mostram que o bebé estabelece laços de
vinculação com a pessoa que responde de forma mais adequada às suas necessidades. Assim,
a mãe pode ser substituída por outros cuidadores como, por exemplo, o pai, outros familiares
ou outros elementos sociais.
A confiança que se pode estabelecer nestes primeiros vínculos permitirá gerir com mais
segurança os desafios que as interações com os outros implicam, trazendo à criança uma
maior capacidade para lidar com as contrariedades e adversidades que ocorrem ao longo da
vida.
Lara: A “base de segurança” fornecida pelas figuras de vinculação permite que o bebé explore
o mundo, mas que também possa regressar quando se sente ameaçado ou inseguro.
Harry Harlow foi um psicólogo norte-americano que se deu a conhecer devido às suas
experiências sobre a privação maternal e social em macacos, ao demonstrar a importância dos
cuidados, do conforto e do amor nos primeiros tempos do desenvolvimento.
As suas experiências consistiram na construção de duas mães artificiais, uma de arame soldado
e outra de arame revestido por um tecido felpudo, que forneciam alimento através de um
biberão aos macacos recém-nascidos.
Harlow observou que os macacos bebés preferiam claramente as mães mais confortáveis e
esta preferência mantinha-se independentemente de qual a mãe que fornecia o alimento.
Outras observações mostraram que o que estava em causa não era só a procura de conforto,
mas também o contacto, que parecia ser essencial ao estabelecimento de uma relação que
transmitia segurança. Quando estavam perante um estímulo gerador de medo, os macacos
agarravam-se à mãe felpuda tal como o fariam a uma mãe real. Este comportamento nunca
era observado com as mães de arame, mesmo em macacos criados só com ela.
A partir destas experiências, Harlow concluiu que a mãe é um símbolo de proteção, conforto e
segurança. Este vínculo que se estabelece entre a cria e a mãe, também se verifica com seres
humanos, provando que os laços afetivos positivos servem de base ao desenvolvimento da
criança.
Por outro lado, a ausência da mãe, traduzir-se-ia em perturbações físicas e psicológicas
profundas, no entanto, no caso dos humanos, estes têm capacidades extraordinárias de
adaptação e de recuperação face a essas perturbações.
2.3. Hospitalismo
Matilde: Após a Segunda Guerra Mundial, o psicanalista René Spitz tornou-se pioneiro no
estudo de bebés, a partir de uma pesquisa com crianças abandonadas deixadas em orfanatos
ou hospitais, onde recebiam cuidados físicos, mas pouco afeto ou atenção. Por meio do
conceito de hospitalismo, Spitz descreve os efeitos terríveis da falta de atenção qualitativa nos
recém-nascidos.
Na ausência da mãe, as reações da separação podem provocar uma depressão, devido à falta
da figura materna. Quando crianças de idades muito precoces são sujeitas a uma privação de
contacto com os seus entes mais próximos, sofrem de problemas físicos e psicológicos que
podem afetar o seu desenvolvimento normal, tais como o atraso no desenvolvimento corporal
e intelectual, insónias, anorexia e incapacidade de adaptação ao meio.
Com as suas investigações, Spitz constatou a importância das relações precoces para o
desenvolvimento infantil, pois na ausência de uma vinculação maternante, o desenvolvimento
das crianças ficou seguramente comprometido, uma vez que a alimentação e os cuidados
básicos não substituem eficazmente os cuidados maternos.
É a partir do oitavo mês de vida que o bebé começa a distinguir a mãe de pessoas estranhas,
conferindo-lhe uma identidade. Entre um e dois anos de idade, dá-se um passo muito
importante no processo de construção da identidade, que é a construção da imagem de si.
Nesta fase, a criança aprende a reconhecer-se num espelho, tornando-se visível para si própria
e iniciando o sentimento de identidade.
Segundo a teoria de Erikson, a identidade pode ser criada como uma imagem mental
relativamente estável da relação entre o eu e o mundo social. Cada estádio reconfigura e
reelabora o estádio anterior a partir do qual se manifesta.
Para Erikson, as transições de estádios designam-se crises pois são fontes de conflito no
interior do indivíduo que as vive, e a sua identidade pessoal forma-se segundo o modo como
resolve os períodos de grande vulnerabilidade.
Carolina: No seu estudo existiam oito estádios do desenvolvimento psicossocial. O que vamos
abordar é o estádio de desenvolvimento psicossocial da 5ª Idade, que ocorre dos 12 aos 20
anos, o período da adolescência.
É nesta fase que o adolescente se questiona: Quem sou eu? O que irei ser?, começando a
tomar consciência da sua singularidade. A crise de identidade exprime a dificuldade em
encontrar uma identidade ocupacional e um lugar conveniente no seio da sociedade,
mostrando a problemática da transição da infância para a idade adulta. A sua resolução ocorre
quando o adolescente é apoiado e encorajado para procurar respostas aos seus problemas por
si mesmo, experimentando vários estilos de vida.
A virtude adquirida no final deste estádio é a fidelidade, em que o adolescente aceita de forma
responsável os seus compromissos. Sem um sentimento construtivo de fidelidade, o jovem
terá um ego fraco, sofrerá de confusão de valores e será em grande parte o que os outros
decidirem que ele seja.
Matilde: Piaget, tal como Freud, é partidário de uma teoria dos estádios, sendo cada estádio
marcado pela interação entre as influências socioculturais e a vontade do indivíduo de
expandir a sua compreensão de si, da realidade, de modo a enriquecer o seu "espaço vital”.
Esta afirmação não contraria o facto de a mesma pessoa assumir várias identidades, que
correspondem a diferentes papéis sociais: pode ser-se ao mesmo tempo professora, mãe e
pertencer a um partido político, por exemplo. Esta diversidade pode gerar, em determinadas
situações, conflitos que os indivíduos têm de controlar e ultrapassar.
Para além disso, constata-se que os adultos passam por todo um conjunto de situações ao
longo da vida que afetam a identidade pessoal nas suas diferentes expressões: corporal, sexual
e de autoestima.
4. Identidade/identidades.
Natacha: A identidade é um conceito complexo que se manifesta em diferentes tipos de
identidades que compõem os indivíduos.
A identidade pessoal envolve a perceção subjetiva que o sujeito tem da sua individualidade.
Apesar dos múltiplos papéis desempenhados, a que correspondem identidades específicas, a
unicidade do sujeito não está em causa.
Quanto à identidade social, podemos defini-la como a consciência social que temos de nós
próprios, que resulta da interação que constantemente estabelecemos com o meio social em
que estamos inseridos.
O terceiro e último tipo de identidade é a identidade cultural, que permite que o sujeito se
reconheça através dos valores que partilha com a sua comunidade. Por exemplo, estudar em
Portugal, na China ou na Nigéria é diferente, tal como como é diferente estudar no século XXI
ou no século XV.
Matilde: A forma como o ser humano se relaciona com o meio e com o outro transforma-o.
Estas marcas mentais ou histórias de vida podem desenrolar-se em três tipos de
temporalidade.
A primeira delas liga-se aos seres humanos enquanto membros de uma espécie. A história das
interações inscreve-se em cada um de nós, neste caso, através da evolução da espécie e das
características que partilhamos com os outros seres humanos.
Por fim, temos a temporalidade psicológica. Esta liga-se à dimensão da história das interações
experienciadas por cada ser humano e a forma como, a partir delas, cria um sentido de si,
construindo uma forma de ser própria.