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ABORDAGEM

PSICODINÂMICA NA
ADOLESCÊNCIA
PROFA. FRANCIELE LONGHI
PSICOLOGIA CLÍNICA II
ADOLESCÊNCIA
• PERÍODO de desenvolvimento humano crucial e complexo, que tem passado por muitas
revisões ao longo da trajetória psicanalítica
• Uma das principais preocupações atuais é o desprestígio que os modelos reflexivos vêm
sofrendo, uma vez que a espera por gratificações, a intolerância à frustração, a descartabilidade
das coisas parecem ganhar maior ênfase.
• Existe uma mídia que veicula e reitera esses valores, banalizando a sexualidade e a
agressividade, oferecendo-se como modelos reais de estruturação de relações, o que é um perigo,
pois a capacidade de tolerância à frustração vem hipotrofiando, e a onipotência hipertrofiando.
• Apesar da emancipação da mulher ter sido um acréscimo social, percebe-se que com ela veio a
desagregação do núcleo familiar e o desprestígio da função paterna.
• Anna Freud, preconizava que era necessário inicialmente preparar a criança para a análise
• Melanie Klein dizia que a criança já apresentava a fantasia de doença e de cura na primeira sessão.
• Existem ansiedades persecutórias desde o início – interpretações claras, simples e verdadeiras.
• Quanto menor, mais deprimida ou regressiva a criança, mais ativo deverá ser o desempenho do
terapeuta no brinquedo. (regressão a serviço do ego)
• Existem controvérsias sobre a participação ativa do terapeuta no brinquedo.
• A medida que o tempo passa a criança passa a verbalizar mais.
• Manejo do contato físico direto – quanto menor a criança maior a busca por esse contato.
• Ao final da primeira fase Coppollilo diz que os seguintes objetivos devem ser alcançados:
• Apresentar certo bem-estar, sensação de produtividade
• Comunicar-se bem
• Aliança de trabalho
• Dar-se conta que algumas de suas atividades mentais são geradas internamente, ao invés de virem somente do
mundo externo
• Compartilha com o terapeuta um modo próprio de representar seus estados internos compalavras.
MUDANÇAS CORPORAIS, INAUGURAÇÃO DA
ADOLESCÊNCIA E REATUALIZAÇÃO EDÍPICA
• Nova etapa libidinal – alcance da identidade genital como um fenômeno psicológico e social
• A puberdade ocorre entre os 9 e 14 anos – relação física e psíquica mais eloquente, e com isso o
corpo fica apto para a realização de fantasias
• Isso promove mudança nas relações objetais, na intensidade dos impulsos e no equilíbrio narcísico
do self – ansiedades de estranheza ou fragmentação.
• Com as mudanças hormonais que promovem a primazia genital, reatualizam-se desejos pré-
edípicos e edípicos, aos quais os adolescentes tem de renunciar, voltando-se para a conquista de
objeto exogâmico e monogâmico , substituindo as fantasias incestuosas e de bissexualidade.
• Defronta-se com sua realidade limitada, o que afeta uma batalha narcísica que afeta todas as
instâncias psíquicas - assim a reestruturação do superego terá grande significado nesse momento,
já que o tabu do incesto deve ser reestabelecido, ao mesmo tempo que a sexualidade exogâmica
necessita ser permitida
• As alterações no nível do ego são, da mesma forma, significativas. quando Freud escrever
(1923) o ego sendo, como antes de tudo, corporal, não simplesmente uma entidade de superfície,
mas a projeção de uma superfície, definiu o corporal, não como um corpo anatômico, mas sim
como a imagem corporal configurada por uma permanente tarefa de construção.
• harmonizar uma imagem que integre a contradição entre um corpo biológico que subitamente
amadurece e uma mente ainda infantil, associada a incompatibilidade de novas imagens, é fonte
importante de angústia e de trabalho árduo de elaboração.
• O princípio de à posteriori pressupõe um tempo em contínua reelaboração, compreendendo uma
concepção psicanalítica em que a história de cada um não é vista como um destino imutável,
pré-fixado e linear, mas passível de ser reorganizada e ressignificada, considerando o indivíduo
como um agente ativo dessa transformação.
• ainda que as rupturas e perdas dessa fase sejam dramáticas, para muitos adolescentes configuram
uma oportunidade para ressignificar um corpo infantil vivido como desvalido ou capacidades
pessoais tidas como incertas.
A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE ADULTA
• A tarefa central de estabelecer uma identidade adulta, autônoma e independente dos pais constitui
um processo complexo e paradoxal para o adolescente.
• O objeto ao mesmo tempo que é necessitado, é também recusado, justamente porque existe uma
necessidade dele.
• Jeammet (1992) enfatiza a necessidade do adolescente, a partir do amadurecimento físico, de
conjugar a vida pulsional ligada aos pais com a autonomia, as quais, até então, podiam andar
separadas. Estabelecem-se dessa forma necessidades de tipo narcisista, que buscam assegurar a
completude do indivíduo, reforçar sua identidade e preencher suas faltas. Ou seja, as carências
afetivas, necessidade de aceitação, sexualização precoce são oriundas de uma má elaboração deste
período.
• Para que o processo de separação do objeto seja possível, não sendo sentida como perda excessiva
ou destruição, é necessário ter suficiente reserva objetal internalizada, portanto, senti-la como
constituinte de si mesmo.
• Se as aquisições interiorizadas não forem sólidas, tenderão a ser ameaçadas diante de novas
relações, dificultando um intercâmbio de introjeções e projeções frutíferas, bem como a
autorização de um espaço de liberdade para ambos lados.
• a tendência do adolescente será compensar o que falta em seu mundo interno por relações de
adesividade ou de indiferenciação com objetos do mundo exterior.
• o auto-erotismo, que manifesta-se através da leitura, música, masturbação, esportes..., ao
proporcionar o reencontro com o prazer, pode ter uma função de salvaguarda para o narcisismo, na
medida em que permite enfrentar um conflito objetal ou uma perda sem excesso de contato ou
ruptura desses laços. O risco ocorre quando existe uma precariedade nos objetos infantis, nesse
caso o objetivo é evitar sentimentos catastróficos de vazio ou desintegração, comum em
comportamentos violentos.
• A adolescência compreende a etapa evolutiva em que as antigas vertentes identificatórias vão se
plasmar, oportunizando uma derradeira chance para a sua ressignificação por meio do a posteriori.
• O processo de desidentificação, portanto, adquire um papel de grande significado no processo de
formação de identidade, a medida que o adolescente revisa padrões estabelecidos para formar suas
próprias opiniões, ideias e ideais, e renuncia àquilo, que até então, constituiu sua fonte de segurança:
suas identificações parentais e internalização de um ideal de ego, o qual ainda estava ligado ao
objeto incestuoso.
A FAMÍLIA E O GRUPO DE IGUAIS
• A desidealização do self e das figuras parentais e a busca de ideais novos em si mesmo e em
novas figuras pode ser a tarefa mais árdua na adolescência.
• ainda que seja fonte de dor psíquica e desequilíbrio, é também o que possibilita o confronto de
gerações, condição necessariamente presente no estabelecimento da identidade individualizada.
• os pais também sofrem, pois precisam aceitar o filho como ele é. contudo quando necessidades
narcísicas dos pais estão associadas a problema de identidade esses filhos passam a ocupar
lugares que não lhes pertencem, preenchendo lacunas (marido, irmão, amigo...) sendo difícil a
individuação desse filho.
• questões relacionadas a própria adolescência mal resolvida dos pais podem ser reeditadas e trazer
reações inadequadas dos pais com relação ao comportamento sexual do adolescente, de suas
escolhas profissionais, pois passam a competir, ter inveja, ciúme: anular limites, estimular
independência ou sexualidade cedo demais.
• esses pais podem não conseguir reconhecer as reais necessidades dos filhos.
• Kaplan acentua como o adolescente se distancia e define a si próprio em oposição aos pais, tende
a negar a contínua necessidade de limites e apoio da matriz familiar, podendo obscurecer o
reconhecimento do seu papel essencial.
• lembra que o crescimento psicológico é o resultado de crença inata no desenvolvimento
maturacional, interagindo com estruturas psíquicas menos desenvolvidas e integradas, em
contato com a psique mais desenvolvida dos adultos, sendo essencial essa integração para os
adolescentes.
• na atualidade, a ausência de figuras parentais de autoridade aumenta de modo especial e deletério
as ansiedades quanto ao controle dos impulsos.
• O grupo de iguais é importante, pois o sentimento de isolamento dos pais e rejeição, faz com que
estes o confortem, pois as sensações de desorganização e impetuosas são entendidas, e auxilia
com isso a busca de identidade
• ser aceito por eles, ser um dos pares, ser popular entre eles constituem expectativas de grande
significado. a opinião sobre as características sexuais tornam-se base para a reação do
adolescente, favorecendo a melhora na auto-estima, ou piora. (moda, gírias, siglas...)
• a identificação com o grupo de iguais constitui, ao mesmo tempo, a possibilidade de projetar
aspectos não tolerados em si - frustrações, insegurança, depressão, instabilidade - bem como um
substituto de vínculo libidinal objetal regressivo, propiciando a transferência, para o grupo, a
idealização e fidelidade aos objetos parentais, com suas características onipotentes, oniciesntes e
grandiosas
• LER CITAÇÃO DE LEVY - 1996, pág. 744
• Kaplan acentua o quanto adolescentes com psicopatologias mais graves, tendem a incapacidade
de buscar envolvimento com os iguais ou afastar-se dos mesmos rapidamente. por outro lado,
destaca que a medida que o adolescente sente-se melhor com seu corpo e impulsos, as relações
com os grupos tornam-se menos intensas, sendo substituídas por relações diádicas, com mais
intimidade.
SETTING, AVALIAÇÃO E CONTRATO
• Kancyper (1999) , sugere a ampliação do conceito de campo analítico no tratamento de crianças e
adolescentes, isso porque deve-se considerar o efeito que as fantasias inconscientes exercem sobre
a determinação na determinação da fantasia inconsciente básica do campo se cria na relação do
adolescente e de seu terapeuta.
• Assim também no contrato, conjunto de combinações que regem a relação terapêutica, os pais
estarão envolvidos e, portanto, inseridos no setting que se estabelecerá.
• Existem qualidades da relação terapêutica que precisam ser preservadas, senão o fracasso do
vínculo é eminente. É preciso estabelecer os critérios adequados quanto ao sigilo das informações
recebidas, resguardar a privacidade do adolescente, sem negligenciar sua dependência da família,
a qual em condições de risco deve compartilhar os cuidados necessários.
• O adolescente se torna ativo em relação a família, estimulando a autonomia, uma vez que ele
decide quando compartilhar determinadas informações. Temos que ter cuidado para não fazermos
um conluio com o adolescente ou com os pais
• O primeiro contato em geral é feito pelos pais, implicando a decisão de quem virá primeiro. A
partir dos 16 anos costumamos receber primeiro o adolescente sozinho, quando menores,
preferimos ver os pais.
• O aspecto específico do contrato nessa fase seja a responsabilidade compartilhada entre
paciente, pais e terapeuta, na infância, a responsabilidade pelas condições formais para a criação
do encontro terapêutico é dividida entre pais e terapeuta. Contudo, na adolescência o
comprometimento com as condições exigidas pelo contrato será inerentemente dividido entre os
pais e o paciente.
• Assim há aspectos a serem decididos em comum acordo/desacordo, tais como: decisão de iniciar
o tratamento, responsabilidade pelos honorários e seus reajustes, períodos de férias,
responsabilidade pelos horários e frequência das sessões, decisão pelo término ou interrupção.
• Sempre estaremos envolvidos em um movimento que incluirá a motivação do adolescente e dos
pais na relação terapêutica mantida conosco.
OS DESAFIOS DO PROCESSO PSICOTERÁPICO NA ADOLESCÊNCIA
• A tendência de acting out como característica do funcionamento do adolescente quando em tratamento
tem sido percebida desde os primórdios da psicanálise, uma vez que o processo psicoterápico privilegia a
atitude reflexiva na busca do desenvolvimento da capacidade simbólica, é oposta a questão do
adolescente que age duas vezes antes de pensar – impulsivo.
• O acting out é o veículo de acesso à vida mental do adolescente.
• O processo de desidentificação na adolescência protagoniza a mobilização de todo o psiquismo deste,
utilizando mecanismos tanto para impedir quanto para promover o seu desenvolvimento.
• A identificação projetiva, predominante nesta etapa, uma vez que as fantasias inconscientes de uma
pessoa são processadas por outra, sendo um modo pelo qual uma pessoa usa a outra para viver e conter
um aspecto de si própria.
• Caberá ao terapeuta por meio de sua negativa, continência e capacidade de rêverie, transformar a
experiência transmitida pela ação comunicativa em simbolização – tolerar suas incertezas, ambiguidades
e paradoxos, para compreender e tentar completar o que ainda falta no aparelho mental do adolescente
• O adolescente recorre à ação comunicativa quando percebe que pensar provoca dor e que, portanto, é
preciso trabalho psíquico que possibilite a criação de um continente em si próprio que possa contê-la
e tolerá-la
• TÉRMINO
• Comum decidirem unilateralmente pela interrupção – isso ressignifica a possibilidade de término /
separação com a sobrevivência de ambos,
• Deve-se ter cuidado para não esperar de uma psicoterapia com adolescentes aquilo que se almeja com
adultos: relações afetivas mais estáveis, definição profissional, relacionamento sem maiores
intercorrência dos pais
• É comum quando o adolescente estabelece relacionamentos amorosos queira proteger o mesmo e
interromper a análise – não quer interferências externas
• O principal critério para alta, é o desenvolvimento emocional do adolescente, sua capacidade de lidar
com suas ansiedades, com possibilidade de refletir mais sobre seus sentimentos, ideias e condutas, a
fim de obter uma melhor compreensão do que se passa consigo e nas suas relações com o mundo
externo. A sintomatologia deverá estar mais atenuada, sendo mais criativo para lidar com a mesma.

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