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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO
2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
2.1 HISTÓRICO DA NEUROPSICOLOGIA
2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE
2.3 OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

MÓDULO II
3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
3.1 BASES ANATÔMICO-FUNCIONAIS DAS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
3.2 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
3.3 ATENÇÃO
3.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS
3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
3.6 PERCEPÇÃO E FUNÇÕES VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVAS

MÓDULO III
4 BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS
4.1 TESTES PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO GLOBAL
4.1.1 Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUPSILIN)
4.1.2 Miniexame do Estado Mental (MEEM)
4.1.3 Clinical Dementia Rating (CDR)
4.2 TESTES DE INTELIGÊNCIA
4.2.1 Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III)
4.2.1.1 Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)
4.2.2 Escala de Inteligência Wechsler para Crianças Quarta Edição (WISC-IV)

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4.2.3 Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV)
4.3 TESTES DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
4.3.1 Teste de Aprendizagem Auditivo Verbal de Rey (RAVLT)
4.3.2 Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD
4.3.3 Teste de Memória de Figuras
4.3.4 Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR)
4.4 TESTES DE ATENÇÃO
4.4.1 Teste de Atenção por Cancelamento
4.4.2 D-2 Teste de Atenção Concentrada
4.4.3 Teste de Trilhas
4.5 TESTES DO FUNCIONAMENTO EXECUTIVO
4.5.1 Teste do Desenho do Relógio (TDR)
4.5.2 Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (WCST)
4.5.3 Torre de Hanói, Torre de Londres e Torre de Toronto
4.6 TESTES DE RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
4.6.1 Testes de Fluência Verbal
4.6.2 Teste de Nomeação de Boston (versão reduzida)
4.6.3 Teste de Provérbios
4.6.4 Testes de Leitura e Escrita
4.7 TESTES DE PERCEPÇÃO E DO FUNCIONAMENTO VISUOCONSTRUTIVO
4.7.1 Teste de Praxia Construtiva da bateria CERAD
4.7.2 Figuras Complexas de Rey
4.7.3 Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG)
4.7.4 Subteste Cubos do WAIS
4.7.5 Subteste Quebra-Cabeça do WISC
5 AVALIAÇÃO DO HUMOR, COMPORTAMENTO E FUNCIONAMENTO
ADAPTATIVO
5.1 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE DEPRESSÃO
5.1.1 Inventário de Depressão de Beck (BDI)
5.1.2 International Neuropsychyatric Interview (MINI)
5.1.3 Escala de Depressão Geriátrica (EDG)
5.2 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE ANSIEDADE
5.2.1 Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)

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5.2.2 Escala de Ansiedade de Hamilton
5.2.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD)
5.3 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL
5.3.1 Índice de Katz para Atividades Básicas da Vida Diária
5.3.2 Functional Activities Questionnaire (FAQ)
5.3.3 Inventário de Atividades Avançadas de Vida Diária
5.3.4 Informat Questionnaire of Cognitive Decline of the Elderly (IQCODE)

MODULO IV
6 DESORDENS COGNITIVAS
6.1 DISTÚRBIOS DA MEMÓRIA
6.1.1 Amnésia
6.1.2 Síndrome de Korsakoff
6.1.3 Comprometimento ou cognitivo leve (CCL)
6.1.4 Síndrome demencial
6.2 DISTÚRBIOS ATENCIONAIS

6.3 DISFUNÇÃO EXECUTIVA


6.3.1 Síndromes disexecutivas
6.3.2 Demências frontotemporais (DFTs)
6.4 DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM
6.4.1 Afasias
6.5 DESORDENS VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVA
7 INTRODUÇÃO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
7.1 OBJETIVO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
7.2 ORIENTAÇÕES À FAMÍLIA DO PACIENTE E O ENCAMINHAMENTO PARA
REABILITAÇÃO
8 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

1 INTRODUÇÃO

A neuropsicologia é o campo de estudo das relações entre o cérebro, a


cognição e o comportamento. Trata-se de um campo científico que engloba diversas
áreas da neurociência como a neuroanatomia, a neurofisiologia, a neuroquímica e
neurofarmacologia dentre outras. No âmbito da atuação profissional do psicólogo, a
neuropsicologia exige um vasto campo de conhecimento, pois engloba conceitos e
técnicas da psicometria, da psicologia clínica, da psicologia experimental, da
psicopatologia e da psicologia cognitiva. Na prática clínica, este profissional é
procurado, principalmente, para avaliar e/ou reabilitar alterações cognitivas e
comportamentais resultantes de lesões cerebrais.
A avaliação neuropsicológica é conduzida por meio da aplicação de testes
psicométricos que procuram descrever a habilidade cognitiva do indivíduo avaliado e
compará-la com padrões pré-estabelecidos de normalidade. De forma geral, o
propósito da avaliação neuropsicológica é estabelecer a relação entre atividades
comportamentais e o funcionamento cerebral. Nesta avaliação são testadas funções
cognitivas, tais como: memória, atenção, linguagem, funções executivas, raciocínio,
habilidades motoras e visuoespaciais, bem como as alterações emocionais e de
comportamento. Contudo, para que o neuropsicólogo possa alcançar o objetivo da
avaliação neuropsicológica não basta aplicar e pontuar os testes; é preciso conhecer
as regiões cerebrais envolvidas nos aspectos comportamentais e nas funções
cognitivas e também ter noções de neuropatologia para não incorrer em suspeitas
diagnósticas incorretas e sugestões de tratamentos desnecessários.
No Brasil, é recente o reconhecimento da neuropsicologia como área de
atuação profissional, mas a demanda pela sua atuação, seja para avaliação ou
reabilitação, vem se mostrando crescente. Uma das principais causas deste
crescimento é o envelhecimento populacional que vem ocorrendo no Brasil nas

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últimas décadas, o que gera aumento da incidência de patologias neurológicas
relacionadas ao aumento da idade. Por isto, nesta apostila será enfatizada a
avaliação de adultos e idosos com descrição das principais desordens que levam à
busca pela avaliação neuropsicológica nestas faixas etárias. A apresentação dos
objetivos e instrumentos de avaliação neuropsicológica é feita de forma a discriminar
o uso dos mesmos entre as diferentes fases do desenvolvimento.
O Módulo I apresenta uma breve descrição de como as funções mentais
foram explicadas ao longo do histórico da neuropsicologia, abordando suas
principais descobertas. Além disto, discute-se a prática clínica da neuropsicologia e
os vários objetivos da avaliação neuropsicológica na atualidade. O Módulo II traz
uma revisão geral sobre o sistema nervoso e a conceituação das principais funções
neuropsicológicas, como a memória, a atenção, as funções executivas, a linguagem,
a percepção e as funções visuoconstrutivas. O Módulo III aborda alguns dos testes
mais empregados em avaliação neuropsicológica. Os testes existentes não se
resumem aos apresentados aqui. A escolha dos testes descritos foi pautada na
facilidade de aplicação, priorizando-se aqueles que possuem normatização para uso
na população brasileira e, portanto, comercializados e divulgados para aquisição e
uso clínico dos profissionais da área. Finalmente, o Módulo IV apresenta uma
descrição das principais desordens cognitivas e uma introdução dos objetivos da
reabilitação neuropsicológica.

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2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

2.1 HISTÓRICO DA NEUROPSICOLOGIA

A neuropsicologia, enquanto uma área do conhecimento, surgiu a partir do


interesse em compreender a localização anatômica das funções mentais e suas
primeiras evidências enquanto ciência são oriundas de estudos conduzidos com
indivíduos acometidos por danos cerebrais. Contudo, desde a Antiguidade, busca-se
identificar que parte do corpo humano seria a sede de controle da mente, das
emoções e do comportamento. Há evidências de que técnicas de trepanação (Figura
1) eram praticadas desde a pré-história e umas das hipóteses, dentre as várias
existentes, para explicar esta prática é a de que, na Antiguidade, acreditava-se que
ao fazer orifícios no crânio criava-se uma saída para os maus espíritos e assim era
possível curar transtornos mentais e dores de cabeça (RODRIGUES; CIASCA,
2010). O papiro egípcio chamado de Papiros de Edwin Smith (1600 a.C.) é
considerado o documento mais antigo com relatos da localização das funções
mentais, nele constam a descrição de 48 indivíduos com lesões cerebrais (HAMDAN
et al., 2011).
O coração também já foi tido como o centro da mente ou da alma humana.
Essa ideia ficou conhecida como hipótese cardíaca. Ainda hoje, ouvimos
popularmente expressões coerentes com esta ideia, como, por exemplo, quando
z m “ z q m ”.
No período grego clássico, muitos filósofos buscaram explicar a relação
corpo e alma. Platão (428-348 a.C.) explicava que o corpo era a instância material,
perene e mutável do homem enquanto a alma era a imaterial, a eterna, imutável.
Aristóteles (384-322 a.C.) explicava a atividade mental dividindo-a em diversas
capacidades (pensar, julgar, imaginar, etc.), mas todas tinham o coração como sede
anatômica (HAMDAN et al., 2011).

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FIGURA 1 - ILUSTRAÇÃO DE CRÂNIO SUBMETIDO A TREPANAÇÃO

FONTE: López. et al.: Anthropological Science, 2011.

As ideias baseadas na hipótese cardíaca enfrentaram críticas dos adeptos


da chamada hipótese cerebral, que viam o cérebro como o responsável pela
atividade mental. O filósofo Alcmaeon de Crotona (500 a.C.) defendia que havia no
cérebro uma localização para cada sensação humana. Um dos mais influentes
defensores da hipótese cerebral foi o médico grego Hipócrates (460-377 C ,“
m ”, m õ l
cérebro (HAMDAN et al., 2011).
A hipótese cardíaca foi definitivamente abandonada a partir das
confirmações da hipótese cerebral. Entre essas confirmações encontram-se os
achados de Galeno (130-201 a.C.), obtidos a partir da dissecação do cérebro de
animais e cadáveres que contribuíram para a teoria ventricular. Segundo esta teoria,
os ventrículos cerebrais eram a sede da mente e os resultados de Galeno
descreviam com precisão estas estruturas anatômico-fisiológicas. Nesta época, os
ventrículos causavam grande interesse entre os anatomistas porque se destacam na
aparência gelatinosa que o cérebro não fixado apresentava. Segundo a teoria

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ventricular, haveria três ventrículos, o primeiro associado às sensações, o segundo
associado à razão e ao pensamento e o terceiro seria o responsável pela memória.
A Igreja reconhecia a explicação de Galeno de que os fluidos que circulavam nos
ventrículos seriam os espíritos e que estes determinavam os comportamentos
(COSENZA et al., 2008). Com apoio da Igreja, que tinha forte influência sobre as
ideias da época, a teoria ventricular perdurou até boa parte da Idade Média.
O filósofo francês René Descartes (1596-1650), baseado nos princípios do
dualismo cartesiano, defende, no final do século XVII, a ideia de que a mente e o
corpo seriam entidades separadas e elas interagiam a partir de uma estrutura
encontrada no corpo humano, a glândula pineal. Esta glândula era vista como a
sede do espírito no corpo e por meio dela eram controlados os comportamentos
(HAMDAN et al., 2011).
A hipótese cerebral tornou-se a ideia predominante e o debate passou a ser
quanto à organização e ao funcionamento do órgão de comando. Entre os
estudiosos que defenderam a hipótese cerebral estavam os holistas e os
localizacionistas, que apesar de concordarem sobre o cérebro como a sede do
funcionamento mental discordavam sobre a forma como esse controle era possível.
Para os holistas, o cérebro atuaria como um todo comandando as funções mentais e
o comportamento; enquanto os localizacionistas acreditavam em um funcionamento
fragmentado, de forma que cada uma de suas regiões cerebrais teria uma função
específica (COSENZA et al., 2008).
Entre os localizacionistas, teve grande influência a frenologia – teoria de
Franz Joseph Gall (1757-1828), difundida por seu aluno Johann Gaspar Spurzheim
(1776-1832). Estes estudiosos afirmavam que o cérebro estava organizado em
aproximadamente 35 funções específicas (ver Figura 2) e acreditavam ser possível,
por meio da análise do crânio, descrever a personalidade de uma pessoa. Esta
técnica foi chamada de personologia anatômica.
Segundo Consenza et al. (2008), os pressupostos básicos da frenologia
podem ser resumidos da seguinte forma:
1) cada região cerebral pode ser entendida m m “ó g ”q m
determinada atividade mental ou comportamental específica;
2) a superfície craniana poderia ser moldada a partir do desenvolvimento de
cada região cerebral;

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3) uma região cerebral bem desenvolvida pode crescer em volume e resultar
em um crescimento visível no crânio.
A frenologia foi criticada pela comunidade científica porque seus
pressupostos não foram comprovados. Um grande opositor de Gall foi Flourens
(1794-1867), um fisiologista que estudava o cérebro de animais e percebeu que
alguns comprometimentos em determinadas regiões cerebrais não resultavam em
danos permanentes. Em seu estudo com pássaros observou que, independente do
local lesionado, o animal poderia restabelecer o padrão de funcionamento, pois não
era a região lesionada e sim a extensão da lesão que dificultava a recuperação.
Suas conclusões o fizeram defender as ideias de que qualquer região cerebral
poderia assumir as funções de outra área em caso de lesão e que, portanto, o
cérebro funcionaria como um todo no qual todas as partes estariam envolvidas em
todos os comportamentos (GAZZANIGA et al., 2006). Outro opositor das ideias
localizacionistas e defensor das propostas de Flourens foi Karl Lashley (1890-1958),
q í “ m ” m ferência a ideia de que seria
a quantidade de material lesionado que determinaria os prejuízos funcionais e
m m í “ q l ” m ê l
de diferentes regiões cerebrais poderem exercer a mesma função. Lashey fez
experimentos com ratos em labirintos e mostrou que os animais conseguiam
executar a tarefa de encontrar a saída mesmo após lesão em determinadas áreas
cerebrais. Sua conclusão sobre estes resultados era que para aprender a se
locomover o animal utilizava funções visuais e proprioceptivas, então a lesão em
somente uma destas áreas era compensada com uso da área preservada.
Mesmo diante do fracasso das ideias de Gall e de descobertas como a de
Floures, o debate entre holistas e localizacionistas permanecia a favor do segundo
grupo uma vez que novas e importantes descobertas foram feitas no sentido de se
identificar áreas especializadas do cérebro. Assim, por longo período os
neurocientistas estudaram o cérebro no intuito de descobrir novas regiões do
cérebro responsáveis por uma função mental ou comportamentos específicos. Entre
as principais contribuições para as ideias localizacionistas estão as descobertas
sobre as regiões cerebrais relacionadas à linguagem. Paul Broca (1824-1880)
apresentou a descrição de pacientes acometidos por lesões nos lobos frontais do
hemisfério cerebral esquerdo, que apresentavam comprometimento na produção da

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fala e preservação da compreensão da linguagem. Essa síndrome foi chamada de
afasia de Broca e a área da lesão, conhecida atualmente como a área de Broca,
m “ l l g g m”

FIGURA 2 - ILUSTRAÇÃO DO MAPA FRENOLÓGICO DE GALL NA CAPA DA


REVISTA AMERICAN PHRENOLOGICAL JOURNAL

FONTE: Revista American Phrenological Journal (1848),


sob a licença da Creative Commons Attribution.

Posteriormente, o neurologista Carl Wernicke (1848-1904) descreveu


pacientes que também apresentavam comprometimento de suas habilidades
linguísticas, contudo apresentavam um tipo de lesão diferente daquela descrita por
Broca. Nos pacientes de Wernicke a lesão ocorria no córtex temporal do hemisfério
cerebral esquerdo e a principal dificuldade era na compreensão da linguagem. Esse
tipo de comprometimento ficou conhecido como afasia de Wernicke. Outra
contribuição de Wernicke é a ideia de que lesões nas conexões entre estas regiões
cerebrais também levaria ao comprometimento da linguagem. A chamada afasia de
condução foi outro distúrbio da linguagem explicado por este estudioso. Nesta
síndrome as lesões ocorrem no fascículo arqueado, região responsável pela
conexão entre as áreas de Broca e de Wernicke.

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A localização cerebral das áreas de Broca e de Wernicke podem ser vistas
na Figura 3.

FIGURA 3 - ÁREAS CEREBRAIS ASSOCIADAS À LINGUAGEM

FONTE: Imagem adaptada por James.mcd.nz (2007) de Surfacegyri.JPG de Reid Offringa e de


Ventral-dorsal streams.svg de Selket sob licença da Creative Commons Attribution.

Outras evidências contribuíram de forma significativa para a neuropsicologia


como a conhecemos na atualidade, como a divulgação do caso do funcionário
americano Phineas Gage (1823-1860) que, em decorrência de uma explosão, teve o
cérebro perfurado por uma barra de metal (ver Figura 4). A barra atingiu o olho
esquerdo e atravessou a parte frontal do cérebro. Apesar disto, Phineas sobreviveu,
aparentemente, sem sequelas motoras e cognitivas, mas com alteração significativa
em sua personalidade, comportando-se de forma oposta ao que costumava fazer
antes do acidente. Essa sequela tão específica em uma lesão tão grave gerou
interesse dos estudiosos em neurociências.

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FIGURA 4 - SIMULAÇÃO COMPUTADORIZADA DA ÁREA CEREBRAL
LESIONADA NO PACIENTE PHINEAS GAGE

FONTE: Imagem por Roy Baty (2004), sob licença Creative Commons Attribution.

No início do século XX, o interesse em explicar as funções mais complexas


foi crescente e a noção de que as diversas áreas cerebrais estavam interligas foi
ganhando espaço. Em 1940, Walter Hess defendeu a ideia de que o número de
estruturas cerebrais envolvidas para realização de uma atividade seria proporcional
à sua complexidade. James Pa z l m l m m
m lím , l ê m uras
cerebrais interconectadas para que fossem processados os conteúdos emocionais
(COSENZA et al., 2008). Neste mesmo período, o médico William Scoville
lí “ ”, que ficou amplamente conhecido na
literatura como uma das primeiras evidências de que os processos de memória e
aprendizagem dependiam de diversificadas áreas cerebrais e de suas conexões.
Trata-se de um paciente epiléptico que, após cirurgia para remover seu hipocampo e
amígdalas, tornou-se incapaz de aprender novas informações.

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A partir de estudos de casos como este e outros conduzidos – principalmente
durante a guerra – com indivíduos que sofreram lesões cerebrais, os processos
mentais passaram a ser explicados como dependentes da integridade de centros
nervosos e suas conexões e não, simplesmente, do funcionamento de áreas cerebrais
específicas.
Contribuíram também para os avanços sobre a compreensão do
funcionamento cerebral os estudos histológicos de Camilo Golgi e do histologista
Santiago Cajal. Golgi desenvolveu o famoso método de coloração por prata, técnica
que permitiu a identificação de toda estrutura da célula nervosa (corpo celular,
dendritos e axônios). Cajal, utilizando este método de coloração, mostrou que estava
errada a ideia de que o cérebro era uma massa contínua e demonstrou que o tecido
neural era composto de um emaranhado de células (RODRIGUES; CIASCA, 2010).
Outra importante contribuição para a forma como o funcionamento cerebral é
visto hoje foi dada pelo anatomista Korbinian Brodmann (1909). A partir de seu
estudo com tecido corado, o córtex cerebral foi dividido em 52 regiões diferentes
(Figura 5), conhecidas como áreas citoarquitetônicas, isto é, áreas em que se
diferenciam pela estrutura e disposição de suas células (neurônios). Esta divisão é
conhecida como mapa das áreas corticais do cérebro humano e é uma das mais
reconhecidas pelos neurocientista que ainda a estudam e buscam seu
aprimoramento.

FIGURA 5 - ILUSTRAÇÃO DO MAPA DAS ÁREAS CORTICAIS


SEGUNDO BRODMANN

FONTE: Bernal e Perdomo, 2008.

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As tendências localizacionistas ainda prevaleceram no início do século XX
com importantes descobertas que as validavam, como a diferenciação de funções
entre os dois hemisférios cerebrais. Contudo, as controvérsias apresentadas, nesta
época, sobre a localização de regiões específicas para a execução das chamadas
“ õ ”, m m mó m , m í am as certezas
sobre as hipóteses localizacionistas. Esse campo fértil de contradições contribuiu
para ideias como a de Monakow, que defendia a diásquise – dano em uma das
regiões encefálicas pode resultar em prejuízo em outras regiões – influenciasse
muitos estudos com tendência holista (GAZZANIGA et al., 2006).
A discussão entre localizacionistas e holistas toma novos rumos a partir das
descobertas de Lev Vygotsky (1896-1934). Vygotsky argumentou que a organização
cerebral ocorria a partir de uma inter-relação complexa entre suas partes e que
desta forma se daria o funcionamento do todo. Vygotsky desenvolveu seus estudos
mostrando que o funcionamento mental variava para os diferentes estágios do
desenvolvimento humano e, ainda hoje, suas ideias estão entre um dos importantes
expoentes da psicologia da aprendizagem. Influenciado por estas ideias, o psicólogo
soviético Alexander Luria (1902-1977), a partir do estudo com pacientes acometidos
por lesão cerebral, desenvolveu um novo conceito de função. Assim, as premissas
localizacionistas deram lugar à proposta de funcionamento interligado das áreas
cerebrais que predomina na neuropsicologia atual. Luria atuou junto com Vygotsky
focalizando, inicialmente, no estudo da afasia e na relação da linguagem com outros
processos mentais, sendo um de seus maiores interesses o desenvolvimento de
técnicas de reabilitação. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Luria
desenvolveu pesquisas no Hospital do Exército e focou na descoberta de métodos
de reabilitação de deficiências no pacientes com lesões cerebrais.
Luria atuou também na elaboração de baterias compl l
lóg , q m m l m lz m m l XX e
ainda influenciam a forma como os testes são elaborados e utilizados na testagem
neuropsicológica. A primeira versão dos testes de Luria deu origem a diversas
outras baterias neuropsicológicas, como a Luria-Nebraska e o teste de Barcelona,
que consistem em avaliações amplas dos diversos domínios cognitivos (HAMDAN et
al., 2011). Estes testes ainda são úteis, mas dividem espaço com uma infinidade de

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testes neuropsicológicos que vêm sendo elaborados com intuito de se tornarem
cada vez mais específicos.
Além disto, Luria trabalhou na elaboração do conceito de neuroplasticidade,
que pode ser entendida como a capacidade adaptativa do sistema nervoso frente às
agressões sofridas em sua estrutura, isto é, a possibilidade do cérebro se regenerar,
de modificar sua morfologia e reassumir suas funções. Este é um conceito central na
área da neurociência atual, sobre o qual muitos cientistas se debruçam na busca de
inovações. A grande contribuição de Luria para as técnicas utilizadas hoje na área
da neuropsicologia, tanto no âmbito da avaliação quanto da reabilitação, faz com
que ele seja considerado por alguns como o pai da neuropsicologia.
Luria argumentava que apenas funções mais simples poderiam ser
l lz q õ m l “ m
”, ,g m m m m q
atuam em conjunto, independente se áreas envolvidas estão localizadas em partes
diferentes ou mesmo distantes do cérebro. Baseando-se nesta proposta de Luria, é
possível distinguir no cérebro três grandes sistemas funcionais (ver Figura 6),
conforme descrito por Cosenza e Fuentes et al. (2008):

m g l gíl l m
formação reticular e áreas do sistema límbico. O segundo se encarrega de
receber, processar e armazenar as informaçõ q g m m
m ó l l lz
posteriormente ao sulco central. Ele organiza-se em áreas corticais
primárias, secundárias e terciárias. J m g l
estratégi m m ó m l, í l
ó l gõ g z - ,
m m q m , m m ,

Na abordagem neuropsicológica de Luria o funcionamento cerebral é


explicado com a coparticipação dos dois sistemas funcionais do cérebro e os
objetivos centrais da neuropsicologia seriam:
1) localizar as lesões cerebrais responsáveis pelos distúrbios do
comportamento para um diagnóstico preciso;
2) explicar o funcionamento das atividades psicológicas superiores
relacionadas com as partes do cérebro.

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FIGURA 6 - UNIDADES FUNCIONAIS DO CÉREBRO SEGUNDO LURIA

FONTE: Rodrigues e Ciasca, 2010.

Na atualidade, a neuropsicologia superou esta necessidade de estabelecer a


localização das funções mentais como sua prioridade. A discussão localizacionismo
versus holismo foi superada com o surgimento das modernas técnicas de
neuroimagem, que hoje são as principais ferramentas para fins de localização de
regiões lesionadas. Isso não quer dizer que uma avaliação neuropsicológica não
mantenha este objetivo, mas este propósito é prioritário, exclusivamente, em casos
de patologias cujos sintomas manifestam-se antes, ou independente, das alterações
cerebrais alcançarem um nível detectável pelos procedimentos de neuroimagem.
Assim, a neuropsicologia ganhou uma nova discussão, a do funcionalismo versus o
cognitivismo expressa por Hadman (2011) da seguinte forma:

As técnicas tradicionais de avaliação neuropsicológica advêm da tradição


funcionalista que considera que a predição do desempenho do indivíduo é o
objetivo primário da avaliação e o construto psicológico é secundário. Por
outro lado, os testes construídos na tradição cognitivista enfatizam
primariamente o construto psicológico e a predição clínica como alvo
secundário da avaliação.

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2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE

O conhecimento em neuropsicologia teve grande expansão durante as


Grandes Guerras Mundiais, em decorrência da necessidade de reabilitar soldados
com traumatismos cranioencefálicos. A partir desta demanda, surgem os programas
voltados para a reabilitação, não só das sequelas motoras, mas também cognitivas
e, como visto na sessão anterior deste módulo, a atuação de Luria foi o marco inicial
nesta área. Então, na primeira metade do século XX, a neuropsicologia começou a
ganhar o reconhecimento de uma especialidade, diferenciando-se de outras áreas
clínicas como a neurologia e a psiquiatria (HAMDAN et al., 2011).
No que se refere à neuropsicologia enquanto uma área da psicologia,
mesmo sendo reconhecido que a psicologia cognitiva e a neuropsicologia tinham
objetos de interesse em comum, até a década de 70, estas áreas caminhavam em
paralelo. Aos poucos, a neuropsicologia amplia seus estudos de casos clínicos e a
construção de testes neuropsicológicos de forma a ir se estabelecendo como uma
área de prática clínica embasada pelo arcabouço científico construído em conjunto
com a psicologia cognitiva (ANDRADE; SANTOS, 2004).
A profissão de neuropsicólogo ganhou o reconhecimento da American
Psychological Associacion (APA) como área de atuação do psicólogo em 1980 e
como especialidade da psicologia em 1996. Foram marcos importantes para este
reconhecimento e para o auxílio da prática dos neuropsicólogos: a fundação da
International Neuropsychological Society (INS), em 1967; e a fundação da National
Academy of Neuropsychology (NAN), em 1975 (HAMDAN et al., 2011).
No Brasil, somente em 2004 o Conselho Federal de Psicologia (CFP)
estabelece a especialidade da neuropsicologia e delimita o campo de formação
deste profissional no país. Para conceder o título de especialista, o CFP exige do
profissional psicólogo: registro profissional no conselho de no mínimo dois
em concurs í l m l ó l
lz lz

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Atualmente, a neuropsicologia está voltada não só para os temas clássicos
da psicologia cognitiva, como a aprendizagem; a percepção, a atenção, como
também se utiliza da psicologia experimental e da psicometria para atuar na
construção de testes. O neuropicólogo ganhou espaço em hospitais, fóruns, clínicas,
consultórios privados e em atendimentos domiciliares com diferentes propósitos.
Sua atuação é, em geral, multidisciplinar e voltada não só ao próprio paciente, mas
também à orientação de familiares. Além disto, pode atuar no meio acadêmico
conduzindo pesquisas e auxiliando na formação de futuros profissionais, por meio de
aulas e supervisões. O campo para novas descobertas sobre a forma de
funcionamento cerebral é amplo e continuamente promove inovações que obrigam
os clínicos a reverem suas práticas. A neuropsicologia consiste, portanto, em campo
de conhecimento científico e prático ainda em expansão, e seus desafios são ainda
maiores em países como o Brasil, onde a delimitação profissional ocorreu tão
recentemente.

2.3 OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Recentes avanços das técnicas de neuroimagem possibilitaram e


acrescentaram evidências sobre a correlação entre as funções cognitivas e o
funcionamento cerebral. O aprimoramento da neuroimagem permitiu uma minuciosa
identificação das áreas cerebrais causando uma ampliação dos objetivos da
avaliação neuropsicológica, antes focada, primordialmente, na localização de áreas
cerebrais acometidas por lesões. Assim, a avaliação neuropsicológica, hoje, busca
não só identificar o local de uma lesão, mas também a dimensão e o impacto
cognitivo e comportamental do prejuízo cerebral, possibilitando que futuras
intervenções promovam a adaptação emocional e social dos pacientes acometidos
por este tipo de adversidade (COSENZA et al., 2008).
Camargo et al. (2008) enumeraram diferentes objetivos para os quais uma
avaliação neuropsicológica pode ser solicitada, a saber:
1) auxílio diagnóstico;
2) prognóstico;

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20
3) orientação para o tratamento;
4) auxílio no planejamento de reabilitação;
5) seleção de pacientes para técnicas especiais como cirurgias de risco ou
medicações de alto custo;
6) perícia.
No auxílio diagnóstico uma avaliação neuropsicológica estabelece o
correlato neuroanatômico com o desempenho cognitivo e funcional observado a
partir das alterações e manutenções dos mesmos. O objetivo neste caso é
confirmar e/ou refutar as hipóteses diagnósticas que explicam os sinas e sintomas
apresentados pelo paciente. Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica é de
grande relevância para o processo de diagnóstico diferencial no qual relatos
subjetivos das alterações cognitivas não auxiliam para diferenciar entre as diversas
possibilidades diagnósticas. Por exemplo, em casos de pacientes idosos com
prejuízos cognitivos cujos resultados dos exames de neuroimagem e dos testes
laboratoriais são insatisfatórios para explicar as causas dos prejuízos que
poderiam ser decorrentes de um quadro depressivo ou de uma síndrome
demencial em fase inicial.
No que se refere à orientação ao tratamento, a partir dos resultados da
avaliação neuropsicológica, é possível orientar sobre a melhor intervenção a ser
oferecida em diferentes contextos, como no educacional, auxiliando no planejamento
vocacional e da aprendizagem, e na saúde, fornecendo dados que facilitam na
escolha e execução das intervenções cirúrgicas, medicamentosas e de reabilitação.
No processo terapêutico, contribui para avaliação da eficácia de tratamento
farmacológico e de técnicas de reabilitação direcionadas para pacientes
acometidos por agravos neurológicos. No caso de pacientes acometidos pela
doença de Alzheimer, por exemplo, a medicação parece eficaz somente até a fase
intermediária da doença, de forma que reavaliação do funcionamento cognitivo do
paciente é essencial para demonstrar de forma objetiva se a medicação auxilia no
sentido de retardar o avanço dos prejuízos ou se, em caso de progressão para
fase grave, o tratamento farmacológico tornou-se ineficaz (ABRISQUETA-GOMEZ
et al., 2004).
A avaliação neuropsicológica também pode ser aplicada e reaplicada ao
longo do tratamento e ajudar a descrever o impacto de um agravo na condição de

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21
indivíduos em acompanhamento longitudinal. Além dos prejuízos, a avaliação
neuropsicológica permite a identificação de domínios cognitivos preservados e/ou
recuperadas.
Um exemplo do uso da avaliação neuropsicológica como ferramenta útil no
prognóstico é em caso de sua aplicação com pacientes epilépticos no pré-
operatório. Segundo Camargo et al. (2008), q , “ êm
mostrando que quando a avaliação neuropsicológica dá indícios de que as
alterações cognitivas são bilaterais, ou quando a integridade funcional do
m l l , l g ”
Alguns procedimentos (cirurgias ou tratamentos com medicamentos, por
exemplo) implicam em algum tipo de risco para o paciente e nestes casos é
necessária uma forma objetiva de estimar os benefícios e os possíveis prejuízos
decorrentes de tais procedimentos. Nestes casos, uma avaliação neuropsicológica
pode auxiliar em um processo de triagem de quais pacientes seriam indicados para
o procedimento de risco (CAMARGO et al., 2008).
Os exames neuropsicológicos podem também ser utilizados por
especialistas da área jurídica para auxílio na tomada de decisão e elaboração de
documentos em questões legais, tais como: interdições; indenizações; absolvição ou
detenção em julgamentos; admissão e afastamentos de trabalhadores.
O planejamento de uma reabilitação neuropsicológica é indicado para os casos
em que um agravo leva a perda da capacidade do indivíduo para manejar, parcial ou
completa, sua própria vida e a intervenção sobre os aspectos cognitivos do paciente
pode levar à recuperação desta capacidade ou à adaptação de como viver com sua
nova condição. Neste caso, a intervenção é feita junto ao paciente e também à sua
família. Contudo, um programa de reabilitação deve ser elaborado a partir da
identificação dos prejuízos e das potencialidades do indivíduo de forma que a avaliação
do funcionamento cognitivo e funcional preliminar a esta intervenção é obrigatória.
Os profissionais da neuropsicologia podem atuar também no âmbito da
pesquisa e contribuir para ampliação dos modelos que visam explicar as
interações entre o cérebro e o comportamento. Além disso, somente por meio da
associação entre conhecimentos prático e científico é possível a elaboração de
materiais e instrumentos para uso clínico, como: testes adequados aos diferentes
contextos culturais e para diferentes patologias; jogos e programas

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22
computacionais para uso com crianças e em pacientes com variadas deficiências;
e os livros e artigos científicos.
Dentre os vários propósitos da avaliação neuropsicológica, o diagnóstico é o
de maior demanda. Entre os acometimentos do sistema nervoso central que levam à
demanda da avaliação neuropsicológica estão os traumatismos cranioencefálicos
(TCE), as epilepsias, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), as demências, as
desordens metabólicas, as deficiências de vitaminas e as desordens toxicológicas (a
descrição destes agravos está no Módulo IV deste curso).
Outra demanda, em geral, para avaliação neuropsicológica infantil está
associada ao diagnóstico de transtornos do desenvolvimento, em geral, associados
a déficits de aprendizagem. Este tipo de demanda aparece, com frequência, quando
a criança está em idade escolar, pois no contexto de aprendizagem são facilmente
observadas alterações da percepção, da atenção, da memória ou mesmo de
comportamento e motivação. Hamdan et al. (2011, p. 52) descreve da seguinte
forma os objetivos da avaliação neuropsicológica voltada para crianças:

Dentro dos objetivos específicos da avaliação neuropsicológica infantil está


a identificação precoce de transtornos cognitivos e desordens do
desenvolvimento e, como tal, alterações no processo de aquisição das
habilidades. O termo precoce deve se entendido como o mais cedo possível
na história de vida da criança, portanto, dependerá do tipo de
comprometimento cerebral, da idade e do próprio processo de formação da
função. [...] A avaliação neuropsicológica infantil deve ser sensível ao
conjunto dos sinais cognitivo-comportamentais demonstrados durante o
desenvolvimento da criança, reconhecendo-o como uma desordem do
processamento neuropsicológico ou não.

No Brasil, vem crescendo a demanda pela neuropsicologia tanto no âmbito


da avaliação quanto da reabilitação. Na população adulta jovem, principalmente a
masculina, este aumento é explicando pela incidência crescente de acidentes de
trânsito que resultam em traumatismo cranioencefálico e na população mais velha,
meia e terceira idades, a demanda vem do aumento do número de acidentes
vasculares cerebrais e quadros demenciais que são reflexos do aumento da
expectativa de vida observada no país. Em resposta a este cenário, instrumentos de
avaliação neuropsicológica específicos para diagnosticar os agravos comuns nas
faixas etárias mais velhas vêm sendo amplamente estudados e validados (nos
Módulos III e IV estão descritos instrumentos mais utilizados e as desordens
cognitivas mais comuns nesta população, respectivamente).

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23
No que se refere aos procedimentos práticos de uma avaliação
neuropsicológica, o profissional deve seguir um roteiro que, apesar das adaptações
necessárias para atender a faixa etária e a demanda de solicitação da avaliação,
deve contemplar:
 Entrevista clínica (anamnese) para investigar os seguintes aspectos:
o Histórico clínico e do surgimento da patologia ou queixas que
levaram a solicitação da avaliação;
o Medicações em uso;
o Funcionamento cognitivo prévio.
 Escolha e aplicação de testes e escalas:
o Testes para avaliação do desempenho cognitivo global;
o Testes para avaliação de cada domínio cognitivo;
o Escalas e testes para avaliação humor;
o Escalas para avaliação da capacidade funcional.
 Escolha e aplicação de outras ferramentas diagnósticas:
o Exames de neuroimagem (tomografia computadorizada,
ressonância magnética, spect);
o Observação do comportamento em ambiente real;
o Relatos de informantes que convivam com o paciente.

Para escolha dos testes a serem utilizados em uma avaliação


neuropsicológica, o avaliador deve considerar os seguintes aspectos:
 Objetivo da avaliação. Quando o objetivo é diagnóstico, por exemplo, o
examinador vai selecionando os testes para confirmar e/ou descartar as
hipóteses diagnósticas que são elaboradas ao longo das sessões de
avaliação;
 Testes adequados à idade e à escolaridade do indivíduo a ser avaliado;
 Testes validados e adaptados para a cultura da população a ser
avaliada;
 Normas para aplicação e pontuação. O examinador, principalmente se
inexperiente, deve preferir testes de fácil acesso e nos quais possua domínio
para aplicação;

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24
 Formação do examinador. Alguns testes são de uso exclusivo dos
profissionais de psicologia. Informações sobre teste podem ser obtidas no
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos do Conselho Federal de
Psicologia (SATEPSI, 2013).

Além da escolha dos testes, existem condições situacionais que podem


interferir na testagem e, portanto, precisam ser controladas. São exemplos:
 Instruções do examinador pouco objetivas ou com incentivo
desnecessário;
 Luminosidade, temperatura e conforto do ambiente de testagem;
 Interrupções e ruídos no momento da testagem;
 Condições do examinando no momento da testagem. Efeitos de
medicação, alterações do sono, estado emocional ansioso e mal estar físico
podem interferir na resposta e disposição do examinando, modificando o
desempenho em relação ao seria expresso na ausência destas condições.

Finalmente, é importante destacar que diversos fatores podem influenciar no


desenvolvimento e no aprimoramento das funções cognitivas que devem ser
considerados como influentes no desempenho pré-mórbido e também como fontes
de reserva cognitiva. Alguns destes fatores incluem:
 O contexto socioeconômico, histórico e cultural;
 As oportunidades educacionais e de trabalho;
 Interações e atuações sociais;
 Interesses pessoais;
 Ambiente reforçador ou inibidor da capacidade individual.

A investigação destes fatores pode ser incluída como parte do roteiro de


avaliação neuropsicológica. Trata-se de informações que podem ser facilmente
obtidas, por meio de entrevista semiestruturada, com o próprio paciente ou com um
informante quando houver prejuízos que incapacitem o próprio paciente de fornecê-
las. Estas informações adicionais podem complementar o relatório de avaliação,
principalmente, quando o objetivo é o de fornecer suporte para elaboração de um

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25
programa de reabilitação neuropsicológica que visa à recuperação do desempenho
cognitivo global ou específico.

FIM DO MÓDULO I

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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27
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO II

3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS

3.1 BASES ANATÔMICO-FUNCIONAIS DAS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS

O funcionamento cognitivo pode ser avaliado por meio da mensuração de


habilidades como a memória, a atenção, a linguagem, as habilidades
visuoconstrutivas, as funções executivas e demais capacidades associadas à
cognição, como a concentração, a compreensão, o raciocínio, a aprendizagem e a
velocidade de processamento de informação. Essas habilidades correspondem a
um sistema complexo que funciona a partir de redes de conexões das diversas
regiões cerebrais.
O sistema nervoso está dividido em sistema nervoso periférico e sistema
nervoso central. O sistema nervoso central é responsável pela recepção de
estímulos e comanda as respostas que deverão ser dadas a partir dos estímulos
recebidos. O sistema nervoso periférico é constituído por vias que conduzem os
estímulos ao sistema nervoso central e, ao contrário, vias que levam até os órgãos
os comandos vindos do sistema central.
O sistema nervoso periférico se divide em: nervos; gânglios e terminações
nervosas. O sistema nervoso central divide-se em encéfalo e medula espinhal. O
encéfalo, por sua vez, é formado por: telencéfalo (hemisférios cerebrais); diencéfalo
(tálamo e hipotálamo); cerebelo; e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). A
disposição desta estrutura com suas partes e seus respectivos componentes pode
ser vista na Figura 7.
No diencéfalo, o tálamo é responsável pela condução dos impulsos às
regiões apropriadas do cérebro e o hipotálamo é o principal integrador das
atividades dos órgãos viscerais, da homeostase corporal (sistema endócrino,

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29
controle de temperatura, apetite, hidratação, sono, emoção e comportamento
sexual). Além disto, é área central do sistema límbico (que será detalhado mais à
frente, ainda neste módulo).

FIGURA 7 - ILUSTRAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Cerebelo

Medula
Espinhal

FONTE: Centro Studi Disturbi Specifici dell'Apprendimento, 2013.

No encéfalo são processadas as diversas funções nervosas que vão desde


a interpretação dos estímulos e os movimentos musculares até complexos
processos de armazenamento de informações e aspectos da personalidade. A
região do cerebelo é a responsável pelos movimentos musculares e pelo equilíbrio
do corpo. Por ele também passa a memória de habilidades motoras (memória de
procedimento). O tronco encefálico corresponde à sede de funções associadas a
atividades involuntárias e é também a sede das emoções. A medula espinhal, com
seus pares de nervos espinhais, é por onde passam os impulsos nervosos que
levam os comandos do encéfalo para todo o corpo. O bulbo é responsável pelo
controle da vida vegetativa (batimentos cardíacos, respiração, pressão sanguínea,
salivação, tosse, espirros e o ato de engolir, etc.). A ponte transmite impulsos ao
cerebelo, além de participar de algumas atividades do bulbo. O mesencéfalo auxilia
em funções como a visão, audição, movimentos dos olhos e movimentos do corpo.

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30
O encéfalo é protegido pelo crânio e a medula espinal pela coluna vertebral.
Após esta proteção óssea, existe ainda uma proteção formada por tecido conjuntivo,
são as meninges, organizadas em três camadas: a dura-máter, a aracnoide e a pia-
máter. Entre a aracnoide e a pia-máter está o líquido cefalorraquidiano (líquor), que
é produzido dentro dos ventrículos cerebrais e, na ausência de patologia, flui de um
ventrículo ao outro, e então para fora do cérebro, por meio da medula espinhal. Se
houver alguma obstrução das vias de drenagem do líquor, o fluido se acumula no
cérebro, causando um inchaço conhecido como hidrocefalia. Em bebês, ocorre um
alargamento da cabeça; nas crianças mais velhas e em adultos, não ocorre esse
alargamento porque os ossos do crânio já estão unidos e impedem essa expansão
do fluido.
A maior parte do encéfalo é composta pelo telencéfalo, que se divide em
dois hemisférios: o hemisfério direito (HD) e o hemisfério esquerdo (HE). Estes
hemisférios estão unidos pelo corpo caloso, uma estrutura composta de fibras
nervosas separadas por uma lâmina de dura-máter, a foice cerebral.
Atualmente, sabe-se que existe uma lateralização do hemisfério cerebral,
isto é, ocorre uma dominância de um hemisfério sobre o outro. Algumas funções são
facilmente diferenciadas por hemisfério, como a linguagem, gnosia (capacidade de
interpretar estímulos sensoriais) e a praxia (realização de atos motores complexos).
Assim, no HE fica o controle de habilidades como: linguagem; raciocínio lógico; de
padrões gerais de comportamentos; destreza manual; e demais membros do lado
direito do corpo etc. O HD é responsável pela resposta a estímulos inesperados;
pelo processamento de informação visuoespacial e não verbal; e pela habilidade de
reconhecer faces.
As superfícies dos hemisférios cerebrais estão divididas em estruturas
chamadas de giros que são delimitadas por depressões chamadas de sulcos. Além
disto, os hemisférios estão dispostos em grandes regiões ou lobos (ver Figura 8).
Estes lobos são: o frontal, o parietal, o temporal, o occipital e a ínsula (localizada na
parte interna do cérebro). Os sulcos são: sulco central (entre o lobo frontal e o
parietal), sulco lateral ou de Sylvius (entre os lobos temporal, frontal e parietal) e
sulco parieto-occiptal (entre o parietal e o occiptal).

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FIGURA 8 - LOBOS CEREBRAIS

FONTE: Imagem por Bridgeman Art Library V. Corel Corp, 1918,


sob licença Creative Commons Attribution

As funções gerais dos lobos cerebrais foram descritas por Machado (1988),
conforme apresentado na Figura 9, e podem ser resumidas da seguinte maneira:
a. lobo frontal – funções de planejamento de ações estão associadas área
pré-frontal e controle de movimentos sob responsabilidade do córtex e da
área pré-motora localizada neste lobo;
b. lobo temporal – processamento das informações auditivas, pois nele
situa-se a área auditiva primária; funções da linguagem na área de
Wernicke; processamento da informação visual ocorrem em suas porções
inferiores e ainda funções associadas a aprendizagem e memória ocorrem
na parte mais medial deste lobo. Divide os lobos temporal e frontal, destaca-
se a fissura de Sylvius, esta área é conhecida como “zona da linguagem
perisylviana”;
2) lobo parietal – recebe as informações sensoriais vindas do meio externo
(por exemplo, dor e temperatura) e interpreta estas informações;
3) lobo occipital – associado à visão, nele estão situadas as áreas visual
primária e visual de associação;

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32
4) lobo da ínsula – está envolvido no processamento de estímulos
emocionais e respostas fisiológicas.

FIGURA 9 - FUNÇÕES MENTAIS DOS LOBOS CEREBRAIS

FONTE: Ângelo Machado: Neuroanatomia Funcional, 1988.

O sistema límbico é formado por diferentes estruturas cerebrais (Figura 10),


que em conjunto atuam no controle das emoções. Além disto, este sistema atua de
forma secundária no processo de aprendizado e no auxílio ao sistema endócrino.
Entre as principais funções do sistema límbico, de acordo com suas
estruturas, estão (MARTIN, 1998):
1) hipotálamo – atua na regulação do sono, na libido, controle do apetite e
na manutenção da temperatura do corpo. Esta estrutura, juntamente com a
hipófise, auxilia nas funções do sistema endócrino;
2) corpos mamilares – associa-se ao hipotálamo para regular os reflexos
alimentares, como a deglutição;
3) tálamo – as percepções táteis, visuais, auditivas e gustativas são
processadas nesta estrutura, por onde também passam as sensações de
dor, temperatura e a pressão do ambiente;

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33
4) giro cingulado – é a região de processamento de odores e também de
alguns estímulos visuais;
5) amígdala – é a região que percebe o perigo e, portanto, associadas as
sensações de medo e ansiedade. As amígdalas também estão associadas
ao processamento das memórias emocionais;
6) hipocampo – é a estrutura responsável pela memória recente.

FIGURA 10 - ESTRUTURAS PRINCIPAIS DO SISTEMA LÍMBICO

FONTE: John H Martin: Neuroanatomia. Texto e Atlas, 1998.

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O sistema nervoso é constituído pela substância branca e a substância
cinzenta (ver Figura 11). A substância branca é encontrada, principalmente, na parte
interna da região cerebral e nela estão localizados os axônios. A substância cinzenta
corresponde à camada mais externa do cérebro e nela estão os corpos celulares
dos neurônios.
Os neurônios são as células do tecido nervoso responsáveis por
transmissão de impulsos elétricos. São compostos de três partes (corpo celular,
dendritos e axônios), cada uma com uma função específica. A estrutura do neurônio
(Figura 12) é composta por: corpo celular, onde ocorre a síntese proteica; dendritos,
que são ramificações cuja principal função é receber estímulos; e axônios, que são
prolongamentos que se originam, em geral, do corpo celular e por meio deles são
transmitidos os impulsos (LEVADA, 1996). A porção terminal do axônio sofre várias
ramificações formando milhares de terminais onde ficam armazenados os
neurotransmissores. Ao redor do axônio são encontradas as “bainhas de mielina”,
responsáveis por acelerar o transporte de impulsos elétricos.

FIGURA 11 - VISTA LATERAL DO CÉREBRO HUMANO DISSECADO


POSSIBILITANDO VISUALIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS BRANCA E CINZENTA

FONTE: John A. Beal, 2005, sob licença Creative Commons Attribution.

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As áreas do córtex são divididas em áreas primárias, correspondem às
regiões, sensitiva primária e motora primária, e em áreas de associação secundária
e terciária. As áreas de associação secundária recebem informações das áreas
primárias e as repassam para outras áreas do córtex, enquanto as áreas de
associação terciária recebem e integram informações sensoriais que já passaram
por processamento nas áreas secundárias (MACHADO, 1988).
As áreas de associação primária do cérebro, segundo Seeley et al. (2006),
podem ser vistas na Figura 13, e suas principais funções estão resumidas na Tabela 1.

FIGURA 12 - ILUSTRAÇÃO DO NEURÔNIO E SUAS PARTES

FONTE: Adaptado de Levada et al., 1996.

FIGURA 13 - REGIÕES FUNCIONAIS DO HD DO CÓRTEX CEREBRAL

FONTE: Adaptado de Seeley et al, 2006, p. 210.

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TABELA 1 - ÁREAS CORTICAIS E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES
Área Cortical Função

Córtex Motor Primário Iniciar o comportamento motor

Córtex Somatosensorial Receber informação tátil (vibração, temperatura, dor,


Primário etc.)

Córtex Pré-frontal Planejamento, emoção, julgamento

Córtex de Associação
Coordenar movimento complexo
Motor

Centro da Fala (Área de


Produção e articulação da fala
Broca)

Córtex Aditivo Detectar a intensidade do som

Área de Associação
Processar informação auditiva
Auditiva

Área de Associação
Processar informação multissensoriais
Somestésica

Área de Associação Processar as informações visuais, percepção do


Visual movimento

Córtex Visual Recepção de estímulos visuais

Área de Wernicke Compreensão da linguagem falada e escrita

O declínio ou perda das habilidades cognitivas podem ocorrer em função de


determinantes genético-biológicos, ambientais ou situacionais que impliquem em
prejuízos neurológicos, sensoriais e/ou psicomotores que serão caracterizados de
acordo com a região cerebral afetada. Algumas vezes, as perdas cognitivas ocorrem
sem resultar na incapacidade do indivíduo para realizar atividades do dia a dia,
como ocorre, por exemplo, com as alterações decorrentes do processo normal de
envelhecimento cerebral onde a redução do número de células neuronais implica na
redução do processamento de informação e declínio da memória operacional sem

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que o indivíduo deixe de fazer qualquer atividade diária que já realizava (RAZ,
1999). Por outro lado, na presença de quadros patológicos (tema do Módulo IV
deste curso), as perdas cognitivas acontecem em intensidade maior, provocadas por
alterações significativas do sistema nervoso central, e resultam em graves prejuízos
funcionais (CANÇADO; HORTA, 2002).

3.2 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

A memória corresponde à função do sistema nervoso que permite a


retenção das informações/percepções para utilização posteriormente. O processo de
memorização pode ser entendido como o resultado da consolidação de um
conhecimento ou comportamento, que podem ser resgatados quando necessários
(IZQUIERDO, 2011). Contudo, nem toda informação precisa ser armazenada por
longo período de tempo. A memória de curto prazo corresponde à capacidade de
manter alguma informação consciente durante um pequeno intervalo de tempo e
memória de longo prazo implica no armazenamento ilimitado de informações que
são armazenadas por longo período de tempo.
O processo de memorização ocorre a partir de três estágios (IZQUIERDO,
2011):
1) codificação ou percepção – consiste em receber as informações por
meio dos órgãos sensoriais e criar padrões de assimilação das mesmas;
2) armazenamento ou retenção – implica na manutenção das informações,
isto é, registros que são produzidos a partir da modificação das redes
neurais;
3) recuperação ou evocação – corresponde à utilização do que foi
armazenado, ou seja, é o processo de lembrar aquilo que foi registrado.
A organização da memória se dá por diferentes subsistemas, cada um
envolvido em um tipo diferente de informação a ser armazenada. Estes subsistemas
estão descritos a seguir com exemplos que ajudam a entendê-los.
A memória operacional engloba, além do armazenamento, a manipulação de
informações. Trata-se de uma memória de curto prazo, isto é, a informação é retida

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por um curto período de tempo, e que envolve participação consciente no processo
de escolha e manipulação das informações a serem lembradas (BERTOLUCCI,
2000). Um exemplo desse tipo de operação é a realização de cálculos feitos
mentalmente (sem o uso de papel e lápis para visualizar os números). A memória
operacional também é chamada de memória de trabalho, mas este é um termo mais
recomendado pelos especialistas e foi empregado no português em função de uma
tradução literal do termo em inglês working memory.
O termo memória imediata é, em geral, utilizado para falar do
armazenamento de informações que dura apenas alguns segundos e não implica na
manipulação das informações como ocorre com a memória operacional. Contudo,
algumas vezes a memória imediata aparece na literatura citada como correlato da
memória operacional.
O tempo de armazenamento da memória operacional é apenas o suficiente
para que a informação seja utilizada para conclusão de uma tarefa. Depois de
concluído o procedimento que demandava a informação armazenada, ela é
descartada (BERTOLUCCI, 2000). O processo de repetição e atenção é o que
garante a manutenção deste tipo de memória e pode aumentar o tempo de
armazenamento da mesma, mas não a torna permanente. Quando a informação
precisa ser armazenada para além do cumprimento de uma tarefa ela passa a ser
uma memória de longo prazo.
A memória de longo prazo é dividida em memória explícita ou declarativa e
memória implícita ou não declarativa. A memória explícita corresponde ao
armazenamento e à recordação de eventos, de lembranças que podem ser
declaradas verbalmente ou com a lembrança de imagens do fato ocorrido (BUENO;
OLIVERIA, 2004).
A memória explícita está subdivida em memória semântica e memória
episódica. A semântica envolve o conhecimento de fatos que não estão
temporalmente delimitados, isto é, o indivíduo não é capaz de identificar em que
momento adquiriu determinada informação. Trata-se da memória de conceitos, de
conhecimentos gerais sobre o mundo adquiridos ao longo da vida. A memória
episódica é relacionada ao tempo, e a memória dos acontecimentos da vida
conhecida como a memória autobiográfica, embora não se restrinja aos eventos
pessoais (BUENO; OLIVERIA, 2004).

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A memória implícita envolve o armazenamento de habilidades motoras e
condicionadas que exigem a participação consciente para que sejam emitidas,
isto é, não é necessário pensar nelas ou declará-las verbalmente para emissão
do conhecimento aprendido. Fazem parte da memória implícita as memórias
obtidas por condicionamento, como: memórias de procedimento; memórias
associativa e não associativa; e memória de representação perceptual (BUENO;
OLIVERIA, 2004).
A memória de procedimento envolve toda habilidade e comportamentos
habituais como, por exemplo, escovar os dentes e andar de bicicleta. As memórias,
associativa e não associativa são àquelas obtidas por condicionamento clássico,
como aprendizados obtidos a partir da exposição a estímulo associados (BUENO;
OLIVERIA, 2004). Por exemplo, uma sirene pode ser um alerta para o qual nosso
reflexo seria ficar atento à fonte que causou o barulho, contudo, se a sirene ocorrer,
frequentemente, em seu ambiente e não exigir reação, sem que você se dê conta
conseguirá ouvi-la e ignorá-la de forma automática, pois um armazenado da
memória implícita indica que este barulho corresponde a algo a ser ignorado e não a
um alerta que demanda resposta. A memória de representação perceptual
corresponde àquelas memórias para as quais podemos não ter registros
padronizados, mas permitem algum tipo de reconhecimento evocado por “pistas”
(priming). Por exemplo, fragmentos de imagens, odores, sons, partes de um texto
podem ser armazenados mesmo sem que sejam estabelecidas conexões completas
sobre esta informação, ou seja, mesmo sem saber o que é ou para que serve algo é
possível armazená-lo em nossa memória de representação perceptual.
Os subsistemas da memória de longo prazo, bem como as diferentes
regiões cerebrais envolvidas em cada um deles, foram resumidos no esquema de
Helene e Xavier (2003), apresentado na Figura 14.

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40
FIGURA 14 - TAXONOMIA DOS SISTEMAS DE MEMÓRIA DE LONGO PRAZO

FONTE: Helene e Xavier: Com Ciência, 2004.

A estratégia mais utilizada para consolidação das novas informações é a


repetição. Outra técnica mnemônica bastante empregada em treinos de memória é a
associação de uma informação nova com outra informação já consolidada. Um
exemplo é o que ocorre em situações sociais, nas quais se é apresentado a alguém
e, para lembrar-se mais facilmente do nome desta pessoa, busca-se associá-la a
outra pessoa já bem conhecida que tenha o mesmo nome. Outro mecanismo que
vem sendo demonstrado como capaz de aumentar a consolidação de memórias é a
associação das emoções no momento de codificação das novas informações ou
novos acontecimentos.
Vem sendo descrito na literatura que um conteúdo carregado de emoções,
sejam elas positivas ou negativas, é mais facilmente evocado que os conteúdos sem
emoção. A explicação para memória emocional parece estar nos componentes
neuroanatômicos envolvidos no processo de memorização. A amígdala – estrutura

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41
do lobo temporal medial – parece ser a responsável por modular alguns conteúdos
da memória declarativa conferindo-lhes uma espécie de alerta, um destaque
(BUENO; OLIVERIA, 2004). As experiências de caráter afetivo seriam processadas
na fase de codificação via amígdala, que lhes confere uma facilitação na percepção.
Assim, no momento da evocação estas lembranças emocionalmente armazenadas
estariam mais vívidas que aquelas não processadas no sistema límbico.

3.3 ATENÇÃO

Sternberg e Osório (2000) definiram a atenção como “fenômeno pelo qual o


ser humano processa ativamente uma quantidade limitada de informações de
enorme montante de informações disponíveis através dos órgãos dos sentidos, de
memórias armazenadas e de outros processos cognitivos”.
A atenção pode ser entendida a partir de suas diversas funções:
 função seletiva – permite o processamento de uma fonte de informação
em detrimento de outras fontes das quais o indivíduo está exposto
simultaneamente;
 função de atenção dividida – permite o processamento simultâneo de
mais de uma fonte de informação. Utilizada quando mais de uma tarefa tem
que ser executada ao mesmo tempo;
 função interruptora da atenção – possibilita um processamento alternado
entre uma fonte e outra de estimulação;
 função sustentadora ou concentrada da atenção – envolve focar em uma
única fonte de informação por longo período de tempo.
Diversas teorias foram elaboradas para explicar como funcionam processos
atencionais e alguns efeitos foram demonstrados como interferentes, dos quais
podemos citar: o efeito coquetel, o efeito Stroop e o efeito de pistas.
O efeito coquetel explica o processo de atenuação no sistema atencional da
entrada de estímulos não relevantes para que estes não interfiram no
processamento dos estímulos relevantes, sem, contudo, bloquear completamente os
estímulos considerados não relevantes (NABAS; XAVIER, 2004). A relevância do

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42
estímulo é influenciada pelo significado que os estímulos têm para quem o processa.
Então, por exemplo, na situação onde uma pessoa focada em conversa escuta seu
nome em uma conversa paralela, da qual não está participando, imediatamente o
sistema atencional o filtra como informação relevante, à qual precisa responder. O
próprio nome é sempre tido como estímulo relevante pelo sistema atencional pelo
significado que a história de vida atribuiu a este estímulo.
O efeito Stroop evidencia que estímulos sobrepostos influenciam no
processo atencional resultando na redução da velocidade de processamento das
informações e, consequente aumento do tempo de resposta. No teste de Stroop
(1935) observa-se que ao solicitar ao respondente que diga em voz alta a cor com a
qual uma palavra está escrita (estímulo a ser focado), o tempo de resposta é maior
quando a palavra colorida (estímulo a ser ignorado) é o nome de uma cor diferente
daquela que deve ser mencionada (resposta esperada), por exemplo, a palavra
“verde” escrita na cor vermelha demanda a reposta vermelho, mas para emiti-la o
respondente tem que inibir o estímulo verde dado pela palavra escrita.
O efeito das pistas visuais é observado quando, diante de pistas visuais,
ocorre uma melhora do tempo de resposta atencional que pode ser explicada pelo
aumento do tempo de alerta diante de um estímulo visual (uma pista) (NABAS;
XAVIER, 2004). Um exemplo dos benefícios dos efeitos das pistas para melhora no
tempo de resposta é o uso de placa de advertência nas rodovias onde o motorista
ao visualizar a placa (pista) fica alerta e responderá mais prontamente ao estímulo
que virá adiante (curvas, desvios, etc.) do que responderia se não houvesse a placa
de advertência.
O funcionamento da atenção relaciona-se com o de outras funções
cognitivas. Desta forma, prejuízos atencionais podem resultar na alteração de outras
funções cognitivas e vice-versa. No caso da memória, por exemplo, a atenção é
imprescindível no momento da seleção da informação a ser armazenada e lembrada
posteriormente (NABAS; XAVIER, 2004).
Prejuízos nas funções executivas também podem estar associados a
alterações da atenção como distração, perseveração, suscetibilidade para intrusão,
lentidão das reações aos estímulos, dificuldade da manutenção em um único foco e
na inibição de estímulos irrelevantes (LEFEVRE; PORTO, 2006).

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43
Alterações da atenção relacionadas ao aumento da idade são citadas como
a base para diversas ineficiências cognitivas entre idosos e podem resultar em
dificuldades na realização das tarefas diárias (BERTOLUCCI, 2000). Além disto,
alguns mecanismos gerais que mostram declínio associado à idade e podem
interferir na atenção são:
 a diminuição da velocidade de processamento da informação;
 a piora na memória de trabalho;
 os déficits sensoriais como diminuição da acuidade visual e auditiva.

3.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas – também conhecidas como funções de supervisão,


funções frontais ou funções de controle e sistemas superiores – estão implicadas na
capacidade de regulação do processamento da informação e envolvem o controle
voluntário e consciente por parte do indivíduo, que pode escolher como quer agir
sobre o meio em que vive (SANTOS, 2005). São muitas as habilidades que fazem
parte do funcionamento executivo, entre elas podemos citar: iniciação, planejamento,
produção de hipóteses e elaboração de um objetivo; resolução de problemas;
flexibilidade cognitiva; regulação; julgamento; tomada de decisão; síntese, inibição e
autopercepção do que é adequado segundo normas de conduta social.
Os lobos frontais, especificamente as regiões pré-frontais, correspondem às
estruturas cerebrais associadas às funções executivas.
Santos (2005), em sua revisão sobre as funções executivas, apresentou um
resumo de diferentes desordens relacionadas aos lobos frontais e seus principais
prejuízos (ver Quadro 1).

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44
QUADRO 1 - FUNÇÕES E DESORDENS
RELACIONADAS AOS LOBOS FRONTAIS

Áreas cerebrais Córtex pré-central Córtex pré-motor Córtex pré-frontal

Funções Mediação de Integração de atos Planejamento e


movimentos; motores e análise das
movimentos sequências consequências de
voluntários aprendidas ações futuras

Síndromes Motora rolândica pré-motora Frontal

Prejuízos por 1) Redução da 1) Habilidades 1) Afeto, humor e


lesões força e dos motoras; funcionamento
movimentos; cognitivo;
2) movimentos
2) paralisia de descontínuos ou 2)
partes do corpo incoordenados; Comportamento
correspondente a social;
3) Interrupção da
parte lesionada; integração de 3) Alteração da
3) Redução da comportamentos personalidade e
habilidade de motores para atos da conduta;
contração complexos. 4) Movimentos.
muscular.

FONTE: Santos, 2005.

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45
3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM

A linguagem corresponde à função cognitiva que permite a compreensão e a


comunicação entre pessoas, é o que permite ao ser humano expressar ideias,
necessidades, lembranças. Dentre as funções cognitivas, a linguagem foi a que mais
despertou o interesse dos primeiros estudiosos em neurociências e a que mais
demarcou a história da neuropsicologia, como demonstraram os relatos de afasia de
Paul Broca e de Wernicke (descritos no Módulo I desta apostila).
Segundo Mansur (2010), no contexto da neuropsicologia, a avaliação da
linguagem deve ser feita a partir de seus componentes linguísticos, cognitivos e
sociais. O componente cognitivo refere-se à habilidade de transformar em
conhecimento as percepções obtidas do ambiente; o componente linguístico inclui
os aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos da língua; o
componente social está associado ao uso da linguagem nas interações
comunicativas e inclui as expressões faladas e percebidas.
A maioria dos instrumentos disponíveis para avaliação da linguagem busca
avaliar, principalmente, habilidades linguísticas, associadas ao processamento da
linguagem no hemisfério cerebral esquerdo (hemisfério dominante), pois prejuízos
de linguagem são em grande parte resultantes de lesões nesta área cerebral. A
avaliação diagnóstica é, frequentemente, solicitada para identificar o tipo de afasia.
Então, os testes de habilidades linguísticas, orais e escritas, precisam mensurar os
seguintes aspectos: fala espontânea; fluência; nomeação; repetição; escrita; e leitura
para verificar a compreensão de palavras, frases e textos. Por outro lado, para
avaliação das alterações resultantes de lesão do hemisfério direito (HD) serão
necessárias tarefas que identifiquem dificuldades relacionadas à interpretação das
informações gerais ou não literais de um texto. Em pacientes com lesão no HD
pode-se observar, por exemplo, dificuldades na compreensão da moral da história.
Para avaliação da linguagem, Pagliarin et al. (2012, p. 215) apontam a
combinação de três classes de instrumentos, a saber:

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46
1) instrumentos não padronizados, 2) instrumentos padronizados de
avaliação do desempenho comunicativo e 3) escalas de mensuração da
linguagem funcional. Essas três classes de instrumentos de avaliação
neuropsicológica da linguagem podem ser subdivididas em formais ou
funcionais, a partir do grau de aproximação com o dia a dia da
comunicação. Os instrumentos de avaliação formal da linguagem podem ser
considerados mais artificiais. Isso porque avaliam a linguagem com tarefas
distantes do dia a dia comunicativo dos pacientes. As avaliações funcionais
da linguagem complementam as formais. São constituídas por subtestes ou
itens que examinam a linguagem funcional, ou seja, consistem em
avaliações orientadas para a demanda comunicativa da vida diária dos
pacientes que sofreram lesões cerebrais.

Para mensuração de alguns dos aspectos da linguagem, o avaliador conta


com testes padronizados para uso no Brasil (descritos no Módulo III desta apostila)
para outros aspectos são necessárias avaliações qualitativas e informais dos
mesmos. Em alguns tipos de prejuízos de linguagem, como em comprometimento
grave decorrente de alguma afasia, a aplicação dos testes objetivos é inviável e a
observação das formas de comunicação empregadas pelo paciente em seu
cotidiano, bem como o relato de informantes/cuidadores, é essencial.

3.6 PERCEPÇÃO E FUNÇÕES VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVAS

A habilidade visuoconstrutiva – reconhecida também como praxia


construtiva – trata da capacidade de juntar/manipular estímulos físicos ou de
realizar certos movimentos, de forma a organizá-los ou adaptá-los a determinado
fim. A realização de um ato, mesmo que habitual, envolve diversas operações
mentais e motoras. Os déficits dessa função são chamados dispraxias, sendo o
grau mais elevado dessa disfunção conhecido como apraxia, comum nas fases
avançadas das demências.
Segundo Dassen e Fustinoni (1955), as etapas envolvidas na execução de
um ato são:
1) reconhecimento do objeto ou instrumento que será empregado no ato;
2) decisão sobre o uso do objeto;
3) evocação de cada movimento necessários para cumprir o ato;

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47
4) execução da série de movimentos elementares que integram um ato
(chamada fórmula cinética global do movimento).
Alterações das habilidades visuoconstrutivas podem ocorrer sem que
prejuízos do funcionamento visuoperceptivo estejam presentes, de forma que os
testes neuropsicológicos devem ser empregados para distinguir entre alterações
sensoriais, apraxias, desorientação espacial e dificuldades atencionais e/ou
resultantes da motivação (LEFEVRE; PORTO, 2006). No caso de apraxia, por
exemplo, ocorre uma disfunção da motricidade que não pode ser explicada por
paralisia, fraqueza muscular ou prejuízo na compreensão sobre o que se deve fazer.
O declínio ocorre nas habilidades de planejamento, organização e execução da
sequência correta para concluir o ato desejado. As desordens cognitivas estão
detalhadas por função cognitiva no Módulo IV deste curso.

FIM DO MÓDULO II

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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49
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

MÓDULO III

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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50
MÓDULO III

4 BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS

Testes de desempenho global em geral são utilizados para rastreio e


impressões gerais sobre o desempenho cognitivo de um indivíduo, portanto, não
substituem as avaliações amplas e específicas que buscam detalhar o desempenho
de um indivíduo em cada função cognitiva, em geral, com objetivo de estabelecer
diagnóstico. As testagens feitas somente com uso de testes breves, de rastreio,
podem resultar em falsos negativos ou apresentar resultados limítrofes e
inconclusivos, que tidos como verdadeiros impedem ou diminuem as chances de
realização de diagnósticos precoces que seriam possíveis com a aplicação de uma
avaliação neuropsicológica detalhada.

4.1 TESTES PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO GLOBAL

4.1.1 Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUPSILIN)

O NEUPSILIN é um instrumento utilizado para descrever o desenvolvimento


neuropsicológico de pessoas com idade entre 12 e 90 anos. Pode ser útil para
aplicação na clínica e no contexto hospitalar, pois é breve e de fácil aplicação. O
instrumento é composto de 32 subtestes que avaliam as seguintes funções cognitivas:
orientação temporal e espacial; atenção concentrada; percepção visual; habilidades
aritméticas; linguagem oral e escrita; memória verbal (de trabalho, episódica,
semântica, prospectiva) e visual (reconhecimento); praxias; funções executivas. Foi
desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva (NEUROCOG),

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51
em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e
a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (FONSECA et al., 2009). Uma
versão para uso em crianças vem sendo estudada (SALLES et al., 2011).
O instrumento deve ser utilizado para levantamento do perfil do paciente de
forma a descrever as funções preservadas e aquelas com comprometimento,
fornecendo uma base para a avaliação neuropsicológica mais aprofundada.

4.1.2 Miniexame do Estado Mental (MEEM)

O MEEM é um dos instrumentos de avaliação do funcionamento cognitivo


global mais utilizados no contexto clínico e de pesquisa para rastreio de perda
cognitiva em adultos e, principalmente, idosos. Trata-se de um conjunto de testes
simples, de rápida aplicação e de baixo custo. Este instrumento avalia os seguintes
domínios cognitivos:
1) orientação temporal – perguntando ao respondente o dia do mês, dia da
semana, mês, ano, hora (cinco pontos);
2) orientação espacial – perguntando sobre o local específico, o local
genérico, o bairro, a cidade o estado no qual ele está (cinco pontos);
3) memória imediata e evocação – solicitando o registro e evocação tardia
de três palavras (seis pontos);
4) atenção e cálculo – solicitando subtrações sucessivas a partir de “100 –
7” (cinco pontos);
5) praxia – solicitando-se ao respondente que pegue uma folha com a mão
direita, dobre-a ao meio e a jogue no chão;
6) linguagem e compreensão – solicitando-se ao respondente que nomeie
objetos que lhe são apresentando(um relógio e uma caneta); que repita a
expressão “nem aqui, nem ali, nem lá”; que escreva uma frase, e que
execute o comando escrito “Feche os olhos”– (oito pontos);
7) capacidade visuoconstrutiva – solicitando-se que seja feita cópia de uma
figura (um ponto).

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52
A pontuação do instrumento varia de 0 a 30 pontos e é obtido com a soma
dos pontos em cada tarefa.
A versão original deste instrumento foi elaborada por Folstein et al. (1975) e
diferentes versões foram adaptadas e sugeridas para uso na população brasileira com
seu respectivo ponto de corte (BRUCKI et al., 2003; LOURENÇO; VERAS, 2006).
O Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s Disease, conhecido
como CERAD (MORRIS et al.,1989), reúne uma bateria de testes neuropsicológicos
utilizada para auxiliar no diagnóstico de demência em fase inicial. No Brasil, os
testes da bateria CERAD foram traduzidos por Bertolucci et al. (1998). Nesta bateria
estão incluídos: os testes de fluência verbal; de nomeação de Boston (versão
reduzida); de memória, evocação e reconhecimento de uma lista de palavras; de
praxia construtiva (cópia de figuras geométricas) e evocação tardia das figuras; de
trilhas; e o MEEM. Cada teste incluído nesta bateria foi detalhado a seguir na
respectiva função cognitiva que o mesmo avalia.

4.1.3 Clinical Dementia Rating (CDR)

Clinical Dementia Rating (CDR) consiste em um instrumento que fornece o


estadimento de demência, isto é, permite classificar graus de demência, além de
identificar casos questionáveis, aqueles que não são enquadrados como tendo
desempenho cognitivo normal (declínio cognitivo associado ao envelhecimento ou
ao comprometimento cognitivo leve). Este instrumento foi desenvolvido por Hughes
et al. (1982) e adaptado por Morris (1993). Uma versão para uso no Brasil foi
adaptada por Motaño e Ramos (2005).
O CDR avalia cognição e comportamento, além da influência das perdas
cognitivas na capacidade de realizar adequadamente as atividades de vida diária.
Constitui-se de entrevista semiestruturada com paciente e com um
informante/cuidador.
São avaliadas seis categorias cognitivo-comportamentais: 1) memória; 2)
orientação; 3) julgamento/solução de problemas; 4) participação social/relações

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comunitária; 5) atividades no lar ou de lazer; e 6) cuidados pessoais. Cada uma
dessas seis categorias deve ser classificada em:
 0 (nenhuma alteração);
 0,5 (questionável);
 1 (demência leve);
 2 (demência moderada);
 3 (demência grave), exceto a categoria cuidados pessoais, que não tem
o nível 0,5.
Para se chegar à classificação final, também varia de 0 a 3, deve-se analisar
o escore obtido nas seis categorias cognitivo-comportamentais. A categoria memória
é considerada principal, ou seja, com maior significado, e as demais categorias são
secundárias. Então, para se chegar ao escore global é necessário basear-se no
escore da memória e verificar a dispersão em relação a esta categoria. Apesar da
relevância de memória para a pontuação no CDR, é fundamental não superestimar o
comprometimento desta função memória em detrimento das demais funções
preservadas. Profissionais que desconsideram as potencialidades do paciente ao
considerar somente seus prejuízos podem contribuir para um declínio acelerado da
funcionalidade do paciente.
Não há notas de corte estabelecidas pelo desempenho populacional, pois o
comprometimento é baseado no princípio da mudança intraindividual, isto é, os
indivíduos são comparados ao seu próprio desempenho passado.
É importante lembrar que o CDR não faz o diagnóstico etiológico de
demência, para isso devem ser utilizados instrumentos específicos.

4.2 TESTES DE INTELIGÊNCIA

As Escalas de Inteligência de Wechsler, para uso de psicólogos, são


compostas de vários subtestes que mensuram a capacidade intelectual. Estas
escalas fornecem o chamado quociente de inteligência (QI). Para Wechsler,
inteligência seria definida como “a capacidade global de uma pessoa agir
resolutamente, pensar racionalmente e se relacionar eficazmente com o seu

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ambiente”. A versão atualmente utilizada para avaliação de adultos é a Wechsler
Adult Intelligence Scale – WAIS-III (Escala de Inteligência Wechsler para Adultos)
(WECHSLER, 1997) e a versão para crianças é a Wechsler Intelligence Scale for
Children Fourth Edition – WISC-IV (Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
Quarta Edição) (WECHSLER, 2003). As Escalas de Inteligência de Wechsler
possuem padronização para uso na população brasileira, devem ser aplicadas
individualmente e o tempo de aplicação é de, aproximadamente, 90 minutos.

4.2.1 Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III)

A Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III) é utilizada para


avaliar indivíduos de 16 a 89 anos.
A WAIS-III é organizada em 14 subtestes e fornece as seguintes medidas
(LOPES et al., 2012):
 QI Verbal – refere-se às habilidades verbais e ao conhecimento
adquirido a partir da influência sociocultural e educacional. Para sua
avaliação, são utilizados os seguintes subtestes: vocabulário, semelhanças e
informação, compreensão e sequência de números e letras;
 QI de Execução – refere-se às habilidades não verbais como a
organização perceptual, a habilidade de manipular estímulos visuais. Para
sua avaliação, são utilizados os seguintes subtestes: completar figuras,
códigos, cubos, raciocínio matricial, arranjo de figuras, procuras símbolos e
armar objetos;
 QI Total – refere-se ao nível global de funcionamento intelectual. São
utilizados os subtestes verbais mais os subtestes de execução;
 Índice de Compreensão Verbal – refere-se às habilidades de raciocínio
verbal adquirido, como a compreensão de instruções e de perguntas, bem
como a capacidade de expressar ideias e o vocabulário. Para sua avaliação,
são utilizados os seguintes subtestes: vocabulário, semelhanças e
compreensão;

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 Índice de Organização Perceptual – refere-se à habilidade de raciocínio
não verbal, a aptidão para perceber, organizar, integrar estímulos
espaciais/visomotores. Para sua avaliação, são utilizados os seguintes
subtestes: completar figuras, cubos e raciocínio matricial;
 Índice de Memória Operacional – trata-se de uma mensuração da
memória de trabalho, e da capacidade de atenção, de concentração e de
planejamento e controle mental. Portanto, refere-se à habilidade de retenção
de informação por período de tempo apenas suficiente para manipulação
desta informação e produção de um resultado ou raciocínio desejado. Este
índice é avaliado por meio dos subtestes de aritmética, dígitos e sequência
de números e letras;
 Índice de Velocidade de Processamento – envolve as funções da
atenção, da memória e da concentração para que uma informação visual
seja processada sem distração. Permite avaliar a resistência à estímulos
distratores fornecendo uma medida da velocidade de processamento da
informação. Para sua avaliação, são utilizados os seguintes subtestes:
códigos e procurar símbolos.
O WAIS-III é utilizado, principalmente, para avaliação da capacidade
intelectual. Contudo, conforme descrito em revisão de Lopes et al. (2012), seus
diversos subtestes são úteis em diversos propósitos diagnósticos:
 testagem de dificuldades de aprendizagem ou identificação de
superdotados;
 predizer desempenho acadêmico;
 auxiliar no diagnóstico de deficiência mental;
 descrever alterações em funções cognitivas específicas para auxiliar no
diagnóstico diferencial de quadros neuropsicológicos. Por exemplo, com a
avaliação de alterações das funções executivas pode-se esclarecer sobre a
presença de quadros como o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).

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4.2.1.1 Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)

A Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI) (THE


PSYCHOLOGICAL, 1999) foi desenvolvida com o objetivo de reduzir o tempo de
aplicação da WAIS. Consiste em uma versão reduzida daquela proposta por
Wechsler e permite mensurar a inteligência e déficits cognitivos de forma rápida e
eficaz, por isto, é indicada para uso em triagens para diagnósticos de retardo mental,
superdotação, traumatismo crânio-encefálico e transtornos de aprendizagem e de
déficit de atenção e hiperatividade (YATES et al., 2006).

4.2.2 Escala de Inteligência Wechsler para Crianças Quarta Edição (WISC-IV)

Escala de Inteligência Wechsler para Crianças Quarta Edição (WISC-IV) é


um instrumento de avaliação da capacidade intelectual de crianças entre 6 e 16
anos e 11 meses. Indicada para uso clínico individual, sendo largamente utilizada
para: auxiliar no diagnóstico de problemas de aprendizagem; no diagnóstico
diferencial de desordens neurológicas e psiquiátricas; para acompanhamento
pedagógico ou tratamento psicológico e de reabilitação cognitiva.
Assim como a WAIS, a WISC é composta de subtestes que mensuram:
compreensão verbal; raciocínio abstrato; organização perceptual; raciocínio
quantitativo; memória; velocidade de processamento. E seus subtestes principais
fornecem as pontuações para o QI Total.

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4.2.3 Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV)

Objetiva avaliar o quociente de inteligência não verbal. Permite avaliar o


raciocínio espacial, matemático, a memória de reconhecimento em tarefas que
envolvem a organização e execução de estímulos visuais. Trata-se de um teste
composto de 30 itens de múltipla escolha que pode ser aplicado de forma individual
ou coletiva. Sua possibilidade de aplicação em grupo faz deste teste uma boa opção
para uso nos contextos, não só clínico, como da psicologia organizacional e escolar.
Este instrumento está padronizado para uso na população brasileira nas
faixas etárias de 10 a 79 anos. O tempo de aplicação é em torno de 40 minutos.
LEMBRE-SE: Os escores nas escalas de inteligência não devem ser
utilizados isoladamente para diagnósticos de deficiência mental ou qualquer outro
transtorno neuropsiquiátrico. Qualquer diagnóstico só deve ser conclusivo a partir de
uma avaliação completa que inclua, além das informações sobre a funcionalidade
cognitiva determinada por critérios objetivos, dados subjetivos obtidos a partir de
fontes que apontem a funcionalidade do indivíduo em suas tarefas cotidianas.
Algumas fontes que podem auxiliar nesta investigação incluem: observação do
indivíduo em seu ambiente social, escolar e/ou de trabalho; entrevistas com pessoas
que convivem com o indivíduo; informações clínicas prévias para investigação de
histórico patológico.

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4.3 TESTES DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

4.3.1 Teste de Aprendizagem Auditivo Verbal de Rey (RAVLT)

O RAVLT (REY, 1958) consiste em um teste para avaliar memória e


aprendizagem e memória. O instrumento é composto de uma lista contendo 15
palavras (lista A), que deve ser lida para o respondente cinco vezes consecutivas, a
cada leitura é solicitada a evocação imediata da lista. Nesta etapa espera-se que o
respondente consiga aumentar gradualmente o número de palavras recordadas. A
manutenção ou diminuição do número de palavras evocadas ao longo das
repetições da lista A indicam prejuízos de memória e aprendizagem.
Uma segunda lista (lista B), também com 15 palavras, é lida e é solicitada a
evocação imediata. Após aplicação da lista B, solicita-se novamente ao respondente
que diga as palavras de que se recorda da lista, mas desta vez sem representá-la.
Após intervalo de 20 minutos, solicita-se a evocação tardia da lista A.
Após evocação tardia aplica-se a tarefa de reconhecimento da lista A, que
consiste em apresentar as palavras da lista junto a outras palavras. Então, em um
total de 50 palavras, o respondente deve reconhecer as palavras apresentadas
anteriormente.
O RAVLT possui padronização para uso na população brasileira (MALLOY-
DINIZ et al., 2000) a partir dos 16 anos, sendo adaptada uma outra versão
específica para população de idosos(MALLOY-DINIZ et al., 2007). O nível de
escolaridade, a idade e o gênero influenciam no desempenho do teste e, portanto, a
padronização oferecida por estes autores oferece tabela de desempenho para as
diferentes faixas etárias, níveis educacionais e para homens e mulheres.

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4.3.2 Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD

O Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD (BERTOLUCCI et al.,


1998) é composto por uma lista de dez palavras, que deve ser lida para o
examinando e, após a leitura, solicitada evocação livre, por um período de no
máximo 90 segundos. O procedimento é repetido três vezes e a pontuação
corresponde à soma das palavras evocadas nas três tentativas. A repetição
consecutiva permite avaliar a curva de aprendizagem. Em idosos normais, com oito
anos de escolaridade, espera-se a recordação de pelo menos 13 palavras.
Na segunda etapa deste teste, após intervalo mínimo de dez minutos, é feita
a evocação tardia da lista de palavras. O tempo máximo fornecido para que o
respondente tente se lembrar da lista é de 90 segundos, durante este tempo o
respondente deve ser incentivado a esforçar-se para lembrar-se das palavras. Cada
palavra lembrada corresponde a um ponto. A evocação tardia das palavras
corresponde a uma medida da memória de longo prazo. O total de três palavras é
adotado como ponto de corte para discriminar entre o funcionamento normal e a
alteração cognitiva.
Após a tarefa de evocação tardia, aplica-se o reconhecimento da lista de
palavras, no qual as dez palavras da lista são apresentadas em meio a dez outras
palavras e o respondente deve apontar quais são as palavras lidas na lista de
aprendizagem. Cada palavra reconhecida corretamente como pertencente ou não
pertencente à lista aprendida equivale a um ponto. A soma máxima de pontos no
reconhecimento é de 20 pontos. O escore final de reconhecimento é obtido
subtraindo-se 10 pontos do número de respostas corretas para evitar o efeito de
acerto ao acaso. Portanto, o escore máximo final desse teste é 10 pontos. Para
idosos normais, com oito anos de escolaridade, espera-se pelo menos 7 pontos.
Este teste de memória é recomendado para uso na população idosa, pois,
como mencionado anteriormente, é parte da bateria CERAD elaborada para auxílio
no diagnóstico de demência.

AN02FREV001/REV 4.0

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4.3.3 Teste de Memória de Figuras

O Teste de Memória de Figuras (NITRINI et al., 1994) consiste em


apresentar ao respondente uma folha que contém dez figuras. Esta folha é
apresentada três vezes, sendo na primeira solicitado que o respondente nomeie
cada figura e nas demais vezes, após exibição das figuras por 30 segundos, solicita-
se a evocação imediata das figuras. Após um intervalo, no qual é aplicada alguma
outra tarefa como distrator, solicita-se a evocação tardia das figuras. Na última etapa
do teste, outra folha com diversas figuras, incluindo entre elas aquelas apresentadas
para memorização, é apresentada ao respondente para que ele faça o
reconhecimento das figuras que se lembra de ter visto anteriormente.
O desempenho esperado para indivíduos sem prejuízos de memória e de
atenção é de que se lembrem de pelo menos sete figuras na solicitação da memória
imediata e seis figuras na memória tardia. Além disto, indivíduos normais tendem a
identificar e nomear todas as figuras corretamente. Assim, a avaliação qualitativa
deste teste permite perceber erros de percepção emitidos quando o paciente
confunde os objetos com outros objetos parecidos, por exemplo, dizer que o balde é
um copo e também erros de nomeação, por exemplo, se o paciente não consegue
nomear a figura da tartaruga, mas menciona que é um animal. Mais de uma falha
pode indicar problemas de nomeação e agnosias (descritas no Módulo IV no
subitem de desordens visuoespaciais e construtiva).

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61
4.3.4 Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR)

O Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR) avalia a


memória imediata, tardia e prospectiva por meio de situações mais próximas às
situações do cotidiano e desta forma se configura também como instrumento útil
para avaliação da perda da capacidade funcional do indivíduo na vida real e não
somente em situação de testagem.
Existe uma versão deste instrumento para uso em adultos (WILSON et al.,
1985) adapta para uso no Brasil por Schmidt e Oliveira (1999). O instrumento
também possui uma versão adaptada para uso em crianças de cinco a dez anos
(WILSON et al., 1993).

4.4 TESTES DE ATENÇÃO

4.4.1 Teste de Atenção por Cancelamento

O Teste de Atenção por Cancelamento de Montiel e Capovilla (2007) é


composto de matrizes que contêm diferentes tipos de estímulos visuais (círculo,
quadrado, triângulo, cruz, estrela e traço) apresentados em cor preta sobre fundo
branco. O respondente é solicitado a assinalar todos os estímulos iguais a um
estímulo-alvo anteriormente determinado, sendo fornecido tempo máximo de um
minuto para execução da tarefa. A Figura 15 apresenta uma ilustração da primeira
parte do Teste de Atenção por Cancelamento, com a representação das respostas
esperadas.

AN02FREV001/REV 4.0

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FIGURA 15 - EXEMPLO DE TAREFA DE CANCELAMENTO NA ETAPA UM DO
TESTE DE MONTIEL E CAPOVILLA

FONTE: Tornella, 2008.

Na etapa dois do teste, a estrutura da matriz apresentada é a mesma, mas o


estímulo pré-determinado é composto por dois símbolos. A tarefa consiste no
cancelamento do alvo somente se este aparecer precedido do mesmo símbolo que
aparece no estímulo pré-determinado. A Figura 16 apresenta uma ilustração desta
segunda etapa do teste com a representação das respostas esperadas.

FIGURA 16 - EXEMPLO DA TAREFA DE CANCELAMENTO NA ETAPA DOIS DO


TESTE DE MONTIEL E CAPOVILLA

FONTE: Tornella, 2008.

Na última parte do teste, a matriz impressa contém o mesmo tipo de


estímulo nas fileiras para cancelamento. Contudo, o estímulo-alvo muda a cada linha
e é exibido no inicial de cada linha, indicando uma nova norma de cancelamento por
linha. A Figura 17 apresenta uma ilustração desta terceira etapa do teste com a
representação das respostas esperadas.

AN02FREV001/REV 4.0

63
FIGURA 17 - EXEMPLO DA TAREFA DE CANCELAMENTO NA ETAPA TRÊS DO
TESTE DE MONTIEL E CAPOVILLA

FONTE: Tornella, 2008.

Nas duas primeiras etapas do teste, avalia-se a atenção seletiva, então o


respondente deve estar atento para selecionar o estímulo predeterminado em
detrimento aos diversos estímulos apresentados. Na etapa três avalia-se a atenção
alternada.

4.4.2 D-2 Teste de Atenção Concentrada

O teste D-2 consiste em um teste de cancelamento que avalia a atenção


concentrada e seletiva e ainda a flutuação da atenção, velocidade de
processamento e precisão.
O teste é aplicado individualmente e sua aplicação leva de 8 a10 minutos.
Na folha de exame são apresentadas 14 linhas, cada uma com 47 caracteres (´d´ ou
´p) com um, dois, três ou quatro traços em cima e/ou em baixo. A tarefa do sujeito
consiste em procurar em cada linha as letras ´d´, incialmente com dois traços, e,
posteriormente, com um traço.
O teste possui padronização para uso no Brasil em crianças (com idade
superior a 8 anos) e adultos (BRICKENKAMP e WELTER, 1990).

AN02FREV001/REV 4.0

64
4.4.3 Teste de Trilhas

O Teste de Trilhas avalia a atenção alternada, a velocidade e flexibilidade de


pensamento. Na primeira parte do teste (forma A), uma folha de papel com 25
números dispostos de forma aleatória é apresentada ao respondente e é solicitado
que ele, utilizando um lápis, ligue os números de acordo com a ordem crescente. Na
segunda parte do teste (forma B), a folha contém letras e números, também
correspondentes a 25 elementos dispostos de forma aleatória, e o respondente deve
ligar estes elementos alternando a sequência entre um número e uma letra
respeitando a ordem crescente para escolha dos números e a alfabética para letras.
O teste é interrompido após três erros ou em cinco minutos após início de sua
aplicação.
Este teste ainda demanda padronização para uso na população brasileira.

4.5 TESTES DO FUNCIONAMENTO EXECUTIVO

4.5.1 Teste do Desenho do Relógio (TDR)

O TDR é um instrumento utilizado para avaliar diversas funções cognitivas


como: memória visual; habilidades visuoespaciais; programação motora;
pensamento abstrato; funções executivas. A aplicação do teste consiste em solicitar
ao respondente que desenhe a face de um relógio com todos os seus números e
adicione os ponteiros deste relógio marcando um determinado horário, por exemplo,
11 horas e 10 minutos. As normas de aplicação e de pontuação variam em função
das diferentes versões existentes do instrumento. Entre estas versões estão os
testes de: Shulman et al., Sunderland et al., Wolf-Klein et al., Mendez et al., Tuokko

AN02FREV001/REV 4.0

65
et al., Manos & Wu e Shua-Haim (para revisão, ver Atalaia-Silva e Lourenço, 2004)
(ATALAIA-SILVA; LOURENÇO, 2008).
O TDR é útil no rastreio de quadros demenciais, pois é um instrumento
breve e de fácil aplicação, sensível aos prejuízos da memória, do funcionamento
executivo e das habilidades visuoespaciais de indivíduos idosos (NITRINI et al.,
2005). Contudo, é importante considerar que o desempenho neste teste é
influenciado pelo nível de escolaridade do respondente, não sendo recomendado
para uso entre pessoas com menos de cinco anos de estudo.

4.5.2 Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (WCST)

O WCST é empregado na avaliação do raciocínio abstrato e a habilidade


para desenvolvimento de estratégias de solução de problemas em resposta a
situações que demandam adaptação.
O material do teste inclui 4 cartas-chave e 128 cartas-resposta. As cartas
contêm figuras de diferentes formas (cruzes, círculos, triângulos ou estrelas), cores
(vermelho, verde, amarelo ou azul) e números (um, dois, três ou quatro). O
respondente é solicitado a combinar as cartas-estímulo com as cartas-chave. Existe
uma combinação previamente estabelecida que não é revelada ao avaliando. Para
cada combinação que ele faz é informado se a resposta está correta ou não. Assim,
pretende-se que possa modificar sua estratégia em caso de erro.
Este teste é considerado uma medida da função executiva e avalia além
desta função a memória de trabalho e aspectos cognitivos como flexibilidade de
pensamento e inibição perseveração. Indicado, portanto, para auxílio da avaliação
do funcionamento frontal e pré-frontal.
O teste está padronizado para uso na população brasileira com uma versão
para faixa etária de 6 a 18 anos (HEATON et al., 2005) e uma outra versão para uso
em idosos, acima dos 60 anos (TRENTINI et al., 2010).

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66
4.5.3 Torre de Hanói, Torre de Londres e Torre de Toronto

Testes de torres consistem em cumprir a tarefa de montar a torre com a


melhor solução, a mais direta. Ao respondente é solicitado cumprir a tarefa com o
menor número de movimentos possíveis e, para isto, deve planejar seus
movimentos. Este tipo de tarefa é semelhante a montar quebra-cabeça ou solucionar
enigmas e exige a habilidade de planejamento (LEZAK, 2004). O teste permite
avaliar habilidades de resolução do problema, planejamento e execução de
sequências lógicas; memória operacional.
Existem três tipos de testes com uso de torres: de Londres, de Hanói e de
Toronto. Na Torre de Londres, o objetivo é remontar uma torre mantendo as
posições pré-determinadas das peças. Na Torre de Toronto a complexidade da
tarefa é maior. O quarto bloco de anéis de diferentes cores (branco, amarelo,
vermelho e preto) deve ser organizado de forma que as cores mais claras fiquem
sobre as mais escuras.
A Torre de Hanói (ToH) tem nível de complexidade intermediário e é
composta de três hastes verticais nas quais se encaixam aros coloridos de
diâmetros diferentes. A tarefa é mover os aros de uma haste à outra, até chegar à
mesma organização inicial. As regras são: manter as peças maiores abaixo das
menores e mover apenas uma peça de cada vez.
Estes testes ainda demandam adequado processo de validação para uso na
população brasileira.

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67
4.6 TESTES DE RACIOCÍNIO E LINGUAGEM

4.6.1 Testes de Fluência Verbal

Os Testes de Fluência Verbal são de fácil e rápida aplicação. Por isto, são
recomendados para uso em triagens e rastreio de declínio cognitivo e são incluídos
nas baterias neuropsicológicas a fim de auxiliar no diagnóstico. Tratam-se de tarefas
nas quais se solicita ao respondente que evoque palavras em um período limitado
de tempo, em geral, um minuto. Durante este tempo, é normal que o número de
palavras evocadas seja maior nos primeiros 15 segundos e pode ir reduzindo,
gradualmente, até o fim do tempo estipulado. Contudo, na presença de patologias
essa evocação pode estar comprometida e o indivíduo apresente desempenho
diferente do esperado, como: não evocar palavras nos primeiros segundos; repetir
as mesmas palavras; evocar um número reduzido de palavras.
Estes testes foram inicialmente propostos para avaliação de lesões no lobo
frontal em pacientes adultos, sendo utilizados para avaliação de diversas funções
cognitivas, como: funções executivas; pensamento abstrato; flexibilidade cognitiva e
uso de estratégia; velocidade de processamento; memória semântica. No que se
refere à linguagem, avalia a capacidade para organizar e recuperar palavras
foneticamente, para procurar palavras de categorias específicas armazenadas na
memória, o conhecimento de palavras. Os testes mais utilizados buscam avaliar a
fluência verbal semântica e a fluência verbal fonêmica.
No teste de fluência verbal semântica (categoria animais) é solicitado ao
respondente que fale todos os animais que conseguir se lembrar espontaneamente.
São pontuados todos os animais mencionados pelo respondente no período de um
minuto. A fluência verbal avaliada por este teste depende da capacidade de acesso
semântico e da riqueza de vocabulário do respondente. Testes de fluência verbal
avaliam a linguagem e também o funcionamento executivo.

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No Brasil, os pontos de corte sugeridos para adultos são de nove animais
por minuto para indivíduos com até oito anos de escolaridade e de 13 animais por
minuto para aqueles com mais de oito anos de escolaridade (BRUCKI et al., 1997).
Em estudo realizado com adultos brasileiros para verificar efeitos da
escolaridade, foi apresentada a média de animais lembrados para grau de
educação: para analfabetos, média de 12,1 animais; para 1 a 4 anos de estudos,
12,3 animais; para 5 a 8 anos, 14,0; para 9 a 11 anos, 16,7; e, para mais de 11 anos
de estudos, 17,8 animais (BRUCKI e ROCHA, 2004).
Outras categorias semânticas que podem ser utilizadas são: nomes de
frutas; nomes próprios de pessoas, peças do vestuário; entre outros. Contudo, não
existe normatização destes outros formatos para uso no Brasil.
No teste fluência verbal fonêmica – letras FAS – é solicitado ao respondente
que diga o máximo de palavras que conseguir se lembrar iniciadas com as letras “F”,
“A” e “S”, sendo fornecido o comando para cada letra, separadamente. O tempo
dado ao respondente é de um minuto para cada letra. O escore total é a soma de
palavras evocadas com as três letras.
O teste vem sendo utilizado no Brasil, principalmente, no âmbito da pesquisa
e na clínica para avaliação de quadros de afasia, com o intuito de verificar não só a
fluência verbal fonêmica, mas também para avaliação da memória semântica e de
disfunção executiva decorrentes de agravos em regiões cerebrais como o lobo
frontal e as estruturas temporais. Contudo, este teste sofre influência da idade e da
escolaridade, sendo ainda necessários dados normativos para estabelecer pontos
de corte adequados para a população brasileira. Dados internacionais são utilizados
para a pontuação, mas sem a certeza de que os mesmos se aplicam à nossa
população (BENTON, 1989; STRAUSS, 2006).

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4.6.2 Teste de Nomeação de Boston (versão reduzida)

Uma versão resumida do Teste de Nomeação de Boston foi elabora com 15


figuras, que o respondente deve nomear assim que lhe são apresentadas (árvore,
cama, apito, flor, casa, canoa, escova de dentes, vulcão, máscara, camelo, gaita,
pegador de gelo, rede, funil, dominó). Cada nomeação correta corresponde a um
ponto. Esse teste avalia linguagem, mais especificamente, a capacidade de
nomeação e de percepção visual. Esta versão foi inserida junto à versão adaptada
do CERAD para uso em idosos. Versões para uso na população geral brasileira
ainda precisam ser adaptadas.

4.6.3 Teste de Provérbios

A testagem com o uso de provérbios é forma simples de avaliar aspectos


cognitivos como a linguagem, a capacidade de abstração e a memória. A avaliação
pode ser feita mencionando parte de provérbios e solicitando que o indivíduo
complete os provérbios e que explique o significado, isto é, que interprete o
provérbio. É importante selecionar provérbios conhecidos na cultura do indivíduo
avaliado. Falhas em completar e interpretar o ditado podem indicar
comprometimento da memória, da compreensão e da capacidade de abstração.

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4.6.4 Testes de Leitura e Escrita

Para avaliar aspectos como a escrita e a leitura, o avaliador pode utilizar de


estratégias como: solicitar leitura e escrita espontânea; ditados com palavras
utilizadas regularmente em nossa língua e com palavras pouco conhecidas e com
não palavras (palavras inexistentes em qualquer idioma); e contar histórias.

4.7 TESTES DE PERCEPÇÃO E DO FUNCIONAMENTO VISUOCONSTRUTIVO

4.7.1 Teste de Praxia Construtiva da bateria CERAD

Neste Teste de Praxia Construtiva do CERAD são apresentadas quatro


figuras (círculo, losango, retângulos sobrepostos e cubo) e é solicitado ao
respondente que faça cópia de cada uma das figuras. Fornecido tempo máximo de
dois minutos para cada cópia. A pontuação é feita para cada cópia separadamente,
avaliando-se os seguintes aspectos: formato, ângulos, dimensão e tamanho. A
pontuação máxima do teste é de 11 pontos. Este teste avalia habilidades
perceptivas e visuoconstrutivas. O desempenho esperado é de pelo menos nove
acertos para indivíduos com escolaridade média de oito anos.
Na evocação tardia das praxias solicita-se ao respondente que reproduza os
quatro desenhos copiados anteriormente de acordo com o que se lembrar.
Seguindo-se os mesmos critérios de correção da construção das praxias, o escore
máximo é de 11 pontos. Esse teste avalia, além das habilidades visuoconstrutivas, a
memória de longo prazo. O ponto de corte é de quatro pontos.
Este teste de é recomendado para uso na população idosa, pois como
mencionado anteriormente, é parte da bateria CERAD elaborada para auxílio no
diagnóstico de demência.

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4.7.2 Figuras Complexas de Rey

A Figura Complexa consiste em instrumentos que, por meio da cópia e


posterior reprodução de memória de uma figura complexa – composta por diversos
traçados geométricos –, permite a avaliação de diversos processos cognitivos,
como: habilidade de construção visuoespacial; planejamento, estratégias de
soluções de problemas; percepção visual; motricidade; e memória visual.
Os aspectos avaliados para pontuação do teste são: riqueza e exatidão de
cópia; tempos para executar a cópia (em minutos); riqueza e exatidão da reprodução
de memória. As Figuras Complexas de Rey possuem normatização para população
adulta (18 a 52 anos) e também para crianças (4 a 15 anos) (OLIVEIRA, 1999).

4.7.3 Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG)

O Teste de Bender-Gestalt (BENDER, 1955; SISTO et al., 2006) é composto


de nove desenhos cujas cópias, segundo Lefevre e Porto (2006), “permitem avaliar a
tendência do sistema perceptual visual dentro da Gestalt”. Além das alterações das
habilidades construtivas, estes autores apontam a utilidade deste teste para
diagnóstico de negligência unilateral.

4.7.4 Subteste Cubos do WAIS

O Teste de Cubos corresponde a um instrumento para avaliação da


organização visual em adultos por meio de tarefas que consistem em montar figuras
que estão impressas e são exibidas para que o respondente as copie utilizando
cubos coloridos em vermelho e branco.

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4.7.5 Subteste Quebra-Cabeça do WISC

Este teste é composto de quatro quebra-cabeças e é indicado para avaliar


as habilidades de organização visual em crianças. Além da utilidade em crianças, foi
indicado como sensível para identificar prejuízos de habilidades motoras pacientes
portadores de doença de Huntington (LEFEVRE e PORTO, 2006).

5 AVALIAÇÃO DO HUMOR, COMPORTAMENTO E FUNCIONAMENTO


ADAPTATIVO

5.1 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE DEPRESSÃO

5.1.1 Inventário de Depressão de Beck (BDI)

O BDI (BECK et al., 1961; GORENSTEIN; ANDRADE, 1998; CUNHA, 2001)


consiste em escala para auxílio no diagnóstico de depressão e é composto de 21
itens, cada item fornece quatro afirmativas que abordam sobre intensidade de
sintomas e atitudes associadas a depressão. O respondente deve escolher para
cada item a afirmativa que mais condiz com o que tem sentido recentemente. As
afirmativas variam de 0 a 3, indicando desde ausência até a intensidade grave do
sintoma. O inventário é autoaplicável. A padronização para uso na população
brasileira atende a faixa etária de 17 a 80 anos (CUNHA, 2001).
Os itens avaliam os seguintes aspectos: tristeza, pessimismo, sensação de
fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa, sensação de punição,
autodepreciação, autoacusações, ideias suicidas, crises de choro, irritabilidade,
retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para o trabalho,

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distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática,
diminuição de libido.

5.1.2 International Neuropsychyatric Interview (MINI)

A MINI é uma escala compatível com os critérios do DSM-III-R/IV e da CID-


10. O instrumento possui uma versão curta para uso em atenção primária e
compreende 19 módulos que avaliam 17 transtornos do eixo I do DSM-IV mais o
risco de suicídio e o transtorno da personalidade antissocial. Além desta, existe uma
versão mais ampla, a MINI Plus, que investiga os principais transtornos psicóticos e
do humor do DSM-IV, fornecendo não só exclusão e inclusão para os diagnósticos,
mas também uma cronologia da patologia (início, duração e número de episódios).
A MINI é indicada para clínica e também para atenção primária, pois trata-se
de uma entrevista padronizada de rápida aplicação (15 a 30 minutos). A versão
brasileira foi traduzida e adaptada por Amorim (2000).

5.1.3 Escala de Depressão Geriátrica (EDG)

O diagnóstico da depressão em idosos é dificultado pela presença de


comorbidades e a frequente interação medicamentosa nesta população (PARADELA
et al., 2005), demandando dos profissionais de saúde o exercício do diagnóstico
diferencial. O uso de instrumentos de avaliação da depressão específicos para
indivíduos mais velhos pode ser a forma mais adequada de garantir o diagnóstico
correto e de oferecer o tratamento mais eficaz.
A Escala de Depressão Geriátrica (EDG) (SHEIKH; YESAVAGE, 1986) é um
dos instrumentos mais utilizados para o rastreamento de sintomas depressivos em
idosos. Uma versão reduzida (EDG-15) foi adaptada para uso na população
brasileira por Almeida e Almeida (1999) e sua validade para uso na clínica vem
sendo confirmada (PARADELA et al., 2005). Trata-se de um questionário composto

AN02FREV001/REV 4.0

74
por 15 perguntas com respostas do tipo sim ou não. Para cada resposta depressiva
é contado um ponto, sendo o escore a partir de seis indicativo de presença de
depressão.

5.2 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE ANSIEDADE

5.2.1 Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)

O BAI (BECK et al., 1988; CUNHA, 2001) é um instrumento composto por 23


itens que correspondem a sintomas de ansiedade. Cada item deve ser avaliado
segundo o grau de intensidade que foi sentido na última semana e pontuado em
uma escala de 0 a 3. O respondente pode escolher mais de uma resposta para
descrever a intensidade de seu sintoma, mas deverá ser considerada somente a
intensidade mais alta para soma no escore total. A soma dos pontos em cada item
fornece o escore total, que vai de 0 a 63. Este inventário é autoaplicável. Possui
padronização para uso na população brasileira na faixa etária de 17 a 80 anos
(CUNHA, 2001).

5.2.2 Escala de Ansiedade de Hamilton

Escala de Ansiedade de Hamilton (HAMILTON, 1959; AMBAN, 1985) é um


instrumento com 14 itens divididos em dois grupos: sintomas de humor ansioso e
sintomas físicos de ansiedade. Cada item deve ser avaliado, segundo o grau de
intensidade, em uma escala de 0 a 4 (0 = ausente; 1 = leve; 2 = média; 3 = forte; 4 =
máxima). A soma dos pontos de cada item resulta no escore total, que vai de 0 a 56.
A escala é aplicada por um avaliador.

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5.2.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD)

A HAD (ZIGMOND; SNAITH, 1983) uma escala indicada ara avaliar a


de ress o e a ansiedade em acientes com doen as org nicas, nas quais est o
resentes sintomas f sicos ins nia, cansa o, erda de eso, etc. tamb m
presentes em um quadro depressivo. Seu uso é mais frequente em conte to
hos italar. O instrumento com osto de um total de quest es, sendo sete para
mensurar a ansiedade (HAD-A) e sete ara mensurar a de ress o AD-D). Solicita-
se ao respondente que dê uma nota de 0 a 3 para cada uma das questões. O total
pode variar de 0 a 21 pontos em cada subescala. O instrumento foi validado para
uso no Brasil para pacientes epiléticos, com idade a partir de 17 anos atendidos em
ambulatório, e o corte sugerido foi de oito pontos para ansiedade e nove para
depressão (BOTEGA et al., 1998). Atualmente, o instrumento continua sendo
testado e utilizado em pacientes com diversas patologias.

5.3 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL

Na prática clínica, quando o objetivo é o diagnóstico de distúrbios


neuropsiquiátricos, a prioridade da avaliação neuropsicológica é comprovar
prejuízos cognitivos. Contudo, é imprescindível a identificação da incapacidade,
resultante destes prejuízos, para condução de uma vida independente. Para auxiliar
na identificação destas incapacidades existem escalas e questionários que podem
garantir uma avaliação objetiva e padronizada. Estas escalas avaliam a
independência para realização de atividades de vida diária (AVDs). No conceito de
atividades de vida diária estão incluídas as atividades básicas (autocuidado), as
atividades instrumentais (incluem a relação com o meio ambiente) e as atividades
avançadas (participação social que envolve interação com outras pessoas).

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76
A seguir, são apresentados alguns instrumentos que avaliam a capacidade
de um indivíduo realizar de forma independente as AVDs e neles são exemplificados
os tipos de atividades entendidas como básicas, instrumentais e avançadas.

5.3.1 Índice de Katz para Atividades Básicas da Vida Diária

O questionário de Katz (KATZ et al., 1963; LINO et al., 2008) é composto de


seis itens sobre o grau de dependência para realizar atividades básicas do dia a dia:
tomar banho, vestir-se, fazer a higiene pessoal, alimentar-se, ter continência
esfincteriana e transferir-se de um local para outro. Para cada pergunta há três
possibilidades de resposta: totalmente independente, parcialmente dependente e
totalmente dependente. O resultado pode variar desde independência completa para
todas as atividades até a dependência total. Quanto maior o escore obtido, maior o
grau de dependência.

5.3.2 Functional Activities Questionnaire (FAQ)

O FAQ (PFEFFER et al., 1982; SANCHEZ et al., 2011) é um instrumento


que avalia o grau de independência de um indivíduo para realizar dez atividades de
vida diária. Foi criado, originalmente, para auxiliar no diagnóstico de demência. O
questionário dever ser aplicado a um informante que deve responder se o indivíduo
avaliado consegue realizar cada atividade. As opções de resposta incluem: a) é
capaz; nunca o fez, mas poderia fazer agora; b) faz, mas com alguma dificuldade; c)
nunca o fez, mas poderia fazer agora; d) necessita de ajuda; e) não é capaz, com as
respectivas pontuações para cada reposta 0, 0, 1, 1, 2, 3.
O escore final é obtido com a soma de todas as repostas e pode variar de 0
a 30. Quanto maior a pontuação, maior o nível de incapacidade para realizar as
tarefas de vida diária.

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Os domínios de atividades de vida diária avaliados pelo FAQ são:
administração de finanças; realização de compras; entretenimentos/passatempos;
preparo refeição completa e de café/chá; e compreensão de programas de TV ou
leituras; atenção eventos/notícias atuais; lembrar-se de eventos; e sair de casa
sozinho.

5.3.3 Inventário de Atividades Avançadas de Vida Diária

O Inventário de Atividades Avançadas de Vida Diária, elaborado por Reuben


et al. (1990), pode ser utilizado como forma estruturada de levantar sobre a
independência de um indivíduo para realizar atividades de lazer, de trabalho e outras
tarefas associadas a atividades sociais comuns na fase adulta. O questionário é
composto por uma lista que reúne atividades desta natureza e o respondente deve
responder para cada atividade se nunca fez, parou de fazer, ou ainda faz. Entre
algumas atividades incluídas neste instrumento estão: visitas, festas, viagens,
prática religiosa, eventos culturais e etc.
A partir deste levantamento, é possível uma avaliação qualitativa sobre a
diminuição no engajamento em atividade de cunho social. O inventário é útil para
uso em diagnóstico de quadros clínicos, como a síndrome demencial, onde é
necessário identificar se existe um declínio na participação das atividades sociais em
relação ao nível anterior de funcionalidade do indivíduo.

5.3.4 Informat Questionnaire of Cognitive Decline of the Elderly (IQCODE)

O IQCODE (JORM; JACOMB, 1989; SANCHEZ; LOURENÇO, 2009) é um


instrumento padronizado utilizado para identificação do declínio cognitivo a partir do
relato de um informante que conviva com o indivíduo a ser avaliado. Os autores
desta escala sugerem que o informante deve ser em parente ou amigo próximo e
que tenha uma convivência com indivíduo avaliado de no mínimo dez anos, pois a

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entrevista busca comparar as alterações no desempenho do indivíduo avaliado ao
longo de vários anos. Este instrumento tem se mostrado válido para o rastreio e
diagnóstico da síndrome demencial na fase inicial. Entre as vantagens desta escala
está a de poder ser aplicado em paciente com grande comprometimento e/ou
instáveis e que, geralmente, não podem ser submetidos a avaliações
neuropsicológicas. Além disto, corresponde a uma forma de avaliar efeitos do
prejuízo cognitivo nas demandas ambientais.
Para cada pergunta do questionário deve ser respondida a seguinte reposta:
muito melhor (1) ; um pouco melhor (2); não houve mudança (3); um pouco pior (4 );
muito pior (5). O escore final é dado pela soma ponderada dos itens, dividindo-os
pelo total de itens da escala. O total varia de um a cinco, sendo a pontuação menor
ou igual a três indicativo de alguma alteração; a pontuação quatro indica uma
alteração considerável, e cinco muita alteração (SANCHEZ; LOURENÇO, 2009).

FIM DO MÓDULO III

AN02FREV001/REV 4.0

79
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

80
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

MÓDULO IV

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO IV

6 DESORDENS COGNITIVAS

6.1 DISTÚRBIOS DA MEMÓRIA

6.1.1 Amnésia

A síndrome amnésica – também conhecida como amnésia anterógrada, do


lobo temporal medial ou, simplesmente, como amnésia global – é caracterizada pelo
prejuízo da memória anterógrada, isto é, o paciente não consegue lembrar-se dos
eventos que ocorrem após o trauma que resultou no quadro de amnésia. Contudo, o
paciente pode lembrar-se de eventos remotos, ocorridos bem antes do trauma, e
mantém preservadas as habilidades que demandam a memória implícita. Por isto,
apesar dos prejuízos na aprendizagem de novas informações, é possível que o
paciente consiga aprender novas tarefas que demandam apenas habilidades
motoras e outras funções cognitivas também preservadas, como a linguagem, o
raciocínio o e julgamento (BUENO; OLIVERIA, 2004).
O caso do paciente H. M. é o mais conhecido na literatura como relato
clínico deste tipo de amnésia. Trata-se de um paciente com quadro de epilepsia
grave que, para tratamento, sofreu remoção bilateral do lobo temporal. A cirurgia
resolveu a epilepsia, mas resultou em alterações da memória deste paciente. O
paciente apresentou perda da memória para eventos que ocorriam após a cirurgia
(amnésia anterógrada) e incapacidade para lembrar-se de eventos ocorridos cerca
de três anos antes da cirurgia, apesar de lembrar-se, perfeitamente, de eventos que
ocorreram antes deste período (amnésia retrógrada parcial). Apesar da amnésia

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82
este paciente mantinha preservada sua inteligência e era capaz de manter um
diálogo de forma coerente desde que não interrompido por algum tipo de distração.
Outros quadros clínicos nos quais os pacientes sofrem lesões focais ou
unilaterais no lobo medial podem diferir da síndrome amnésica e ser considerados
como quadros de amnésia mais restrita. Quanto menor a área lesionada, mais
restrito será o prejuízo de memória. Algumas condições que podem levar a uma
amnésia restrita são: rupturas de aneurisma, anoxia, tumores cerebrais, infecções,
traumatismos cranianos, etc. (BUENO; OLIVERIA, 2004). Nestes quadros as
alterações apresentadas dependerão da área lesionada; em casos de lesões do lobo
temporal esquerdo, por exemplo, os prejuízos estarão associados à memorização de
informação verbal.
Na amnésia retrógrada o principal sintoma é a dificuldade de lembrar-se de
evento do passado. Nestes quadros o paciente aprende novas habilidades sem
dificuldade. Alguns quadros de amnésia retrógrada são descritos como amnésia
dissociativa ou psicogênica, na qual o prejuízo de memória é explicado por
distúrbios ou traumas emocionais. Contudo, nestes quadros a principal característica
é a dificuldade de lembrar-se de acontecimentos pessoais importantes, isto é, a
amnésia não se daria para todos os eventos do passado, mas seriam lacunas na
memória de alguns eventos da história de vida do paciente nos quais foram
atribuídas grande carga emocional, como em casos de abusos sexuais ou de
presenciar catástrofes ou episódio violento. Nestes quadros é comum a presença de
sintomas psiquiátricos como depressão e despersonalização.

6.1.2 Síndrome de Korsakoff

A síndrome de Korsakoff também apresenta a amnésia como um de seus


principais sintomas. Trata-se de doença que acomete pacientes com quadro de
alcoolismo crônico. Assim como na síndrome amnésia, nesta síndrome o paciente
apresenta amnésia anterógrada global, apresentando, portanto, incapacidade de
aprender novas tarefas (BUENO; OLIVEIRA, 2004).

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83
Na síndrome de Korsakoff, os prejuízos também ocorrem na memória
retrógrada com dificuldades para lembrar-se de eventos remotos, como os
acontecimentos da infância, e de outras funções cognitivas como a capacidade para
solucionar problemas e dificuldades nas habilidades motoras. Estão preservadas as
capacidades de memória imediata e de procedimento, por isto o paciente pode ainda
mostrar-se capaz de realizar tarefas complexas que envolvem condicionamento
obtido antes do aparecimento da síndrome.
As regiões cerebrais afetadas nesta doença são, principalmente, as
estruturas do diencéfalo. Por isto, esta síndrome também é chamada de amnésia
diencefálica (BUENO; OLIVEIRA, 2004).

6.1.3 Comprometimento ou cognitivo leve (CCL)

O CCL é caracterizado por declínio cognitivo leve que, frequentemente, não


implica perda na funcionalidade do indivíduo para realizar suas atividades de vida
diárias. Os critérios diagnósticos do CCL foram definidos como (PETERSEN, 2004):
1) queixa de declínio cognitivo relatada pelo próprio indivíduo e/ou por outro
informante que convive com o indivíduo avaliado;
2) declínio do desempenho cognitivo comprovado por avaliação objetiva das
funções cognitivas;
3) funcionamento cognitivo global preservado;
4) capacidade para realização das atividades de vida diária relativamente
preservada;
5) ausência de síndrome demencial, pois o grau de comprometimento
cognitivo não deve ser suficiente para caracterizar demência.
Os subtipos de CCL quanto ao domínio cognitivo comprometido são
(WINBLAD et al., 2004):
 CCL amnéstico – quando o prejuízo cognitivo é no domínio da memória;
 CCL não amnéstico – quando a memória está intacta e há prejuízos em
outros domínios cognitivos.

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84
Os subtipos de CCL quanto ao número de domínios cognitivos
comprometidos são (WINBLAD et al., 2004):
 CCL de domínio único – quando apenas uma função cognitiva está
comprometida;
 CCL de multidomínio – quando há o comprometimento de duas ou mais
funções cognitivas.

6.1.4 Síndrome demencial

O DSM-IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000) define os


seguintes critérios diagnósticos para síndrome demencial:
1) prejuízos da memória associados ao comprometimento de pelo menos
mais uma função cognitiva, como linguagem, praxias, orientações espaciais
e/ou temporais, capacidade de abstração e funções executivas;
2) comprometimento do funcionamento social e ocupacional decorrente das
perdas cognitivas, avaliado em relação ao nível prévio de funcionamento do
indivíduo;
3) prejuízos cognitivos não relacionados ao uso de substâncias e não
explicados por outras condições do sistema nervoso central, como doença
de Parkinson, hidrocefalia de pressão normal, e tumor cerebral;
4) os déficits não ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium.
O National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke
and the Alzheimer's Disease and Related Disorders Association (NINCDS-ADRDA)
(MCKHANN et al., 1984) enfatizou que o diagnóstico de demência deve ser
comprovado por testes neuropsicológicos, reconhecendo que exames laboratoriais e
de imagem são úteis para o diagnóstico etiológico da demência.
A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais frequente de demência,
acometendo, principalmente, idosos. Estudos mostraram que a DA representa mais
de 50% das causas de demência na população a partir de 65 anos, podendo
ultrapassar 60% dos casos entre as faixas etárias mais velhas – 70 anos ou mais
(GASCÓN-BAYARRI et al., 2007; PLASSMAN et al., 2007; BOTTINO et al., 2008). A

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85
DA consiste em processo neurodegenerativo que, inicialmente, acomete a região
hipocampal, e depois as áreas corticais associativas e implicam em déficit na
memória episódica de longo prazo e na memória de curto prazo. Em casos de início
precoce, antes dos 65 anos, os prejuízos de memória e de linguagem são mais
frequentes nas fases iniciais da doença e nos indivíduos acometidos mais
tardiamente ou entre aqueles que chegam às fases avançadas da doença surgem
sintomas psicóticos como delírios e alucinações (GIL; BUSSE, 2009). Além disto,
pacientes com DA podem apresentar prejuízos nas tarefas de nomeação, fluência
verbal, e vocabulário, e em consequência dos prejuízos cognitivos são acometidos
por graves e progressivos declínios da capacidade para realizar as atividades de
vida diária.
Veja alguns cuidados a seguir.
1) O critério para o diagnóstico clínico de doença de Alzheimer provável
inclui:
a) demência estabelecida por exame clínico e documentada por
testes neuropsicológicos;
b) déficit em duas ou mais funções da cognição;
c) declínio progressivo da memória e outras funções cognitivas;
d) ausência de distúrbio da consciência;
e) início entre 40 e 90 anos, mais frequentemente após 65 anos; e
f) ausência de doenças sistêmicas ou outras doenças cerebrais que,
por si, poderiam ser responsáveis pelos prejuízos progressivos de
memória outras funções cognitivas.
2) O diagnóstico de doença de Alzheimer provável tem como
características:
a) deterioração progressiva de funções cognitivas específicas como
linguagem (afasia), habilidades motoras (apraxia), e percepção
(agnosia);
b) prejuízo em atividades de vida diária e padrões alterados de
comportamento;
c) história familiar de distúrbios similares, particularmente se houver
confirmação neuropatológica; e
d) resultados laboratoriais de:

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86
 líquido cefalorraquidiano normal por técnicas padrão;
 padrão normal ou alterações inespecíficas no
eletroencefalograma, tais como aumento da atividade de ondas
lentas,
 evidência de atrofia cerebral na tomografia computadorizada
(TC) de crânio com progressão documentada por observação
seriada.
A segunda causa mais frequente de síndrome de demência em idosos é a
demência vascular (DV), cujo subtipo mais comum é a demência por múltiplos
infartos, que é resultante de efeitos de graves lesões tromboembólicas. Outros
subtipos de demência vascular são: as causadas por estados lacunares; por lesões
únicas em regiões específicas como tálamo, giro angular esquerdo, núcleo caudado;
por lesões extensas da substância branca e conhecida como doença de
Binswanger; por angiopatia amiloide e aquelas decorrentes de demência de
acidentes vasculares cerebrais (ROMÁN et al., 1993; ROMÁN et al., 2002;
TATEMICHI et al., 1993). O quadro de DV tem início abrupto após acometimento por
um acidente vascular cerebral ou um ataque isquêmico transitório e sua evolução
ocorre de forma flutuante ou com deterioração em degraus.
Existem diversos fatores de risco para DV, entre os quais estão: hipertensão
arterial sistêmica, diabetes, tabagismo, alcoolismo, doença cardíaca, aterosclerose,
dislipidemia e obesidade.
Outro tipo de demência é a chamada demência por corpos de Lewy (DCL),
que ocorre a partir da presença de corpos de Lewy em regiões corticais e
subcorticais do encéfalo. O quadro se manifesta com os seguintes sintomas:
flutuações do desempenho cognitivo e do nível de consciência; alucinações visuais
vívidas; confusão mental recorrente; e sintomas parkinsonianos, como rigidez e
distúrbio na marcha, podendo ocorrer quedas, síncope, perda transitória da
consciência, e delírios (CAIXETA, 2004). As flutuações podem ocorrer em intervalos
de dias, horas ou minutos. Os corpos de Lewy também podem surgir no processo de
envelhecimento normal do cérebro e estar presentes em pacientes acometidos pela
DA, mas sempre em quantidades pequenas se comparadas ao que se observa em
pacientes com DCL (TAVARES; AZEREDO, 2003).

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Existem quadros de declínio cognitivo que ocorrem a partir de causas
tratáveis e são chamados demência reversível. A partir de um tratamento adequado
do agravo que levou aos prejuízos cognitivos é possível uma regressão do quadro
demencial, embora a minoria dos pacientes apresente uma recuperação completa
(FORNARI et al., 2010). São exemplos de causas reversíveis de demência: a
hidrocefalia de pressão normal; o hipotireoidismo, a deficiência de vitamina B12 ou
ácido fólico.
O líquido cefaloraquidiano (líquor) é produzido dentro dos ventrículos
cerebrais e, na ausência de patologia, flui através de vias de um ventrículo ao outro, e
então para fora do cérebro através da medula espinhal. Se houver alguma obstrução
das vias de drenagem do líquor, o fluido se acumula no cérebro, causando um
inchaço, a hidrocefalia. Em bebês, ocorre um alargamento da cabeça; nas crianças
mais velhas e em adultos não ocorre esse alargamento porque os ossos do crânio já
estão unidos e impedem essa expansão do fluido. Nos quadros clínicos em adultos
que apresentam a chamada hidrocefalia de pressão normal ocorre a presença de três
agravos: a demência, o distúrbio de marcha e a incontinência urinária. Nestes
quadros, a demência é de início insidioso e se apresenta, principalmente, com
alterações de memória (GALLUCCI NETO et al., 2005).
No quadro de alterações cognitivas decorrentes de hipotireoidismo observa-
se prejuízos da memória e da atenção; podendo ocorrer sintomas psicóticos
(RIBEIRA et al., 2004).
Em casos de deficiência de vitamina B12, as principais alterações cognitivas
são: prejuízos do funcionamento cognitivo global, lentificação mental, alterações de
memória; dificuldade de concentração.
Existem ainda outras causas que levam ao prejuízo cognitivo que podem
caracterizar uma de demência reversível, entre elas: traumatismo craniano;
exposição a metais pesados (arsênico, mercúrio, alumínio, lítio, chumbo); medicação
(TRIPATHI; VIBHA, 2009); e também quadros de infecções disseminadas pelo
sistema nervoso central. Em casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV) e a neurossífilis, por exemplo, é possível observar dificuldade de
concentração, prejuízos de memória e das funções executivas, além de distúrbios de
comportamento (RIBEIRA et al., 2004; GALLUCCI NETO et al., 2005).

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Outra patologia que pode levar a graves alterações cognitivas e pode
demandar um diagnóstico diferencial da síndrome demencial em estágios iniciais é a
depressão. Em quadros de depressão grave é comum a presença de: prejuízos de
memória e de atenção; o rebaixamento da velocidade de processamento mental;
além de sintomas psiquiátricos como a irritabilidade; apatia; e as alterações de
aspectos da personalidade (FORNARI et al., 2010). Para os quadros em que as
alterações cognitivas de uma depressão se assemelham ao da síndrome demencial
utiliza-se os testes de funções executivas, tendem a não ajudar na diferenciação
entre pacientes deprimidos e aqueles com demência em fase inicial. Ao contrário, os
testes de atenção e de memória e reconhecimento verbal, principalmente, nas
tarefas que utilizam distratores entre as tarefas de evocações imediata e tardia, são
recomendados, pois indivíduos deprimidos tendem a armazenar a informação e
evocá-la após intervalo, diferente dos pacientes com demência, principalmente do
tipo Alzheimer, que esquecem a maior parte da informação após intervalo e
apresentam desempenho pior o teste de reconhecimento comparado aos deprimidos
(ÁVILA; BOTTINO, 2006).
É preciso considerar que em alguns casos a depressão pode ser um sintoma
da demência em sua fase inicial. Em pacientes, por exemplo, que declínio cognitivo
progride caracteriza-se a síndrome demencial não reversível e classificar este
quadro como uma pseudodemência seria um erro de diagnóstico (GANGULI, 2009).
Se sintomas depressivos são anteriores ao declínio cognitivo, mas este último
persiste, mesmo ao ser tratada a depressão, é preciso desconfiar da demência e
buscar sua verdadeira causa (FORNARI et al., 2010).

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6.2 DISTÚRBIOS ATENCIONAIS

6.2.1 Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou

Esse transtorno também é considerado uma síndrome disexecutiva, por conta dos
prejuízos no funcionamento executivo.

impulsividade persistentes (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). O


TDAH pode ser classificado em: 1) predominantemente desatento; 2)
predominantemente hiperativo-impulsivo; e 3) combinado.
A ausência dos sintomas graves de hiperatividade, mas persistência dos
déficits de atenção, caracteriza o subtipo predominantemente desatento, que é
também conhecido como Transtorno ou Dis (DDA).
O diagnóstico de TDAH ou DDA é feito a partir de avaliação clínica e no
caso de crianças implica em visita à escola e entrevista com pais e professores.
Os critérios da desatenção no caso do TDAH foram resumidos por Lopes
(2005, p. 66) da seguinte forma:

ou por uma incapaci


tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; f) frequentemente evita,
ojeriza ou reluta se envolver em tarefas que exijam um esforço mental
constante (deveres de casa, escolares); g) frequentemente perde coisas
necessárias para suas tarefas e atividades (brinquedos,

rias.

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O diagnóstico do TDAH ou DDA em adultos é mais complicado, pois os
sintomas de impulsividade e déficit de atenção apresentam maior diversidade de
manifestações como, por exemplo, a desorganização em atividades do trabalho e
problemas com a tomada de decisão sem medir as consequências. Além de serem,
frequentes, as comorbidades em decorrência do próprio TDAH e os prejuízos
funcionais na execução de atividades de vida diária. Nestes quadros com
sintomatologia diversa o diagnóstico diferencial com outros transtornos psiquiátricos
é imprescindível.
Entre as desordens mentais cujos sintomas podem ser confundidos com o
TDAH, principalmente, em adultos estão: depressão maior; transtorno de ansiedade;
abusos de substância; e os transtornos de personalidade Borderline e antissocial.
Avaliações das funções cognitivas, principalmente para identificação dos
prejuízos atencionais e das funções executivas bem como na manutenção de outras
funções diferenciando-se de como elas ocorrem nos demais transtornos mentais,
podem auxiliar no diagnóstico de TDAH em adultos.
Pacientes com TDAH tendem a apresentar baixo desempenho nos testes de
atenção e nas baterias frontais, mas tendem a um escore global nos testes
padronizados de inteligência o que demonstra prejuízo em funções específicas neste
transtorno.

6.3 DISFUNÇÃO EXECUTIVA

6.3.1 Síndromes disexecutivas

As desordens relacionadas aos lobos frontais são chamadas síndrome


disexecutias e seus sintomas podem variar em função da região do córtex frontal
que se encontra lesionada.

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6.3.2 Demências frontotemporais (DFTs)

As DFTs são síndromes neurodegenerativas ocasionadas por atrofia do lobo


frontal e/ou temporal e são marcadas por sintomas neuropsiquiátricos como as
alterações de comportamento, os distúrbios de personalidade; e prejuízos de
linguagem (MENDEZ et al., 2008). O mais comum é o aparecimento da doença na
meia idade. Entre as características diagnósticas estão: início insidioso e progressão
lenta; deterioração da conduta interpessoal; diminuição da higiene e do cuidado
pessoal; rigidez e inflexibilidade mental; embotamento emocional; perda de insight;
hiperoralidade; condutas perseverativas; redução progressiva da fala, estereotipada;
ecolalia; mutismo; e também podem aparecer sintomas afetivos (depressão,
ansiedade, hipocondria, apatia) (THE LUND; MANCHESTER GROUPS, 1994).
Mckhann et al. (2001) apresentam os seguintes subtipos de DFT:
 demência frontal;
 doença de Pick;
 doença do neurônio motor (esclerose lateral amiotrófica);
 demência semântica (que afeta primordialmente o lobo temporal);
 afasia progressiva primária não fluente.
Nos subtipos de degeneração dos lobos frontais (doenças de Pick e do
neurônio motor) é comum, logo no início da doença, observar mudanças de
comportamento social e da personalidade do paciente e nos aspectos cognitivos
serão predominantes os prejuízos das funções executivas. Nos subtipos de
demência semântica e de afasia progressiva são mais comuns os prejuízos de
linguagem (falhas de fonemas, dificuldades de nomeação e compreensão do
significado das palavras). Em todos os tipos de DFT, observa-se no estágio inicial da
demência uma preservação da memória, sendo este um sinal importante para
diferenciação deste quadro em relação aos outros tipos de demência). Nos estágios
avançados da DFT, o quadro apresenta semelhanças à DA, pois surgem os
prejuízos da memória, a incapacidade para aprender novas habilidades e alterações
nas demais funções cognitivas.

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Alguns transtornos psiquiátricos também envolvem prejuízos das funções
cognitivas, alguns deles são: esquizofrenia, o transtorno obsessivo compulsivo, o
transtorno afetivo bipolar, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade. Este último
será detalhado junto às desordens que levam a déficits atencionais. O diagnóstico
de transtornos psiquiátricos muitas vezes não demanda avaliação neuropsicológica,
visto terem outros sintomas que definem a presença do transtorno, sendo na maioria
das vezes em que se aplica a avaliação das funções cognitivas voltadas para
elaboração de programas de reabilitação.

6.4 DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM

6.4.1 Afasias

As afasias ocorrem em decorrência de lesões nas regiões cerebrais


associadas à linguagem e são caracterizadas por prejuízos específicos, como no
nível fonético, sintático, semântico ou pragmático. O clínico especialista na terapia
com pacientes afásicos é o fonoaudiólogo. Contudo, para tratar a afasia é ideal o
trabalho de equipe multiprofissional.
Existem diferentes tipos de afasia, que são classificados de acordo com a
área onde a lesão está localizada (GOODGLASS; KAPLAN, 1984). Os principais
tipos de afasia são:
 afasias de Wernicke – lesão na área de Wernicke, caracterizada por
prejuízo da compreensão (oral e escrita), mas com a fala fluente apesar do
uso de circunlóquios e parafrasias, prejuízos na nomeação, etc.;
 afasia de Broca ou afasia motora – lesão na área de Broca,
caracterizada pela incapacidade de pronunciar as palavras na sequência e
no ritmo adequado, mas com compreensão da fala relativamente
preservada, além disto ocorre incapacidade de coordenação motora;
 afasia global – ocorrem lesões em várias áreas envolvidas na
linguagem, como no giro angular e na área de Wernicke. Características

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marcantes são a estereotipia e outros comprometimentos graves de
compreensão (oral ou escrita);
 afasia de condução – a lesão ocorre no fascículo arqueado (região que
associa a área de Wernicke e a área de Broca) marcada pela incapacidade
na coordenação entre o raciocínio e as palavras expressas o que pode ser
percebido por sintomas como prejuízos em tarefas de repetição, ditados e
leitura em voz alta, presença de parafonias na linguagem espontânea, etc.;
 afasia transcortical sensorial – lesão do hemisfério dominante, no giro
temporal médio e inferior, caracterizada pela fala fluente, mas com uso de
jargões e pela presença de agnosias;
 afasia transcortical motora – lesão do hemisfério dominante na área
fronto-dorso-lateral e na área motora suplementar frontal, caracterizada pela
compreensão preservada, mas a fala não fluente marcada por dificuldades
de iniciar a fala, ecolalia, preseverações, parafrasias, etc.;
 afasia transcortical mista: lesão do hemisfério dominante na área motora
e na transcortical sensorial, caracterizada por hemiparesia à direita, ecolalia,
comprometimento da nomeação e da compreensão (oral e escrita), etc.
As afasias podem ser decorrentes de diferentes causas, algumas delas são:
tumores cerebral lesão do corpo caloso; acidente vascular cerebral (AVC);
traumatismo cranioencefálico; infecções (como a meningite); esclerose múltipla;
demências; transtornos do desenvolvimento psicológico; epilepsia, etc.
(JAKUBOVICZ; CUPELLO, 2005).

6.5 DESORDENS VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVA

Apraxia consiste na incapacidade para realização de gestos ou ato motores


simples, quando nenhuma disfunção motora ou sensorial está presente. Pode ser
uma apraxia ideomotora, quando se trata de incapacidade de execução de ato motor
simples; ou uma apraxia ideatória, quando a incapacidade é para organizar a
sequência lógica que envolve a execução de vários atos simples até se chegar ao
ato final pretendido (LEFEVRE; PORTO, 2006).

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94
As alterações na organização e no reconhecimento dos estímulos
percebidos são conhecidas como agnosias. Segundo Cummings e Mega (2003),
agnosia é uma síndrome clínica na qual o indivíduo é incapaz de reconhecer um
material, um objeto, por exemplo, mesmo não apresentando qualquer
comprometimento da percepção sensorial do mesmo. As agnosias podem ser
visuais, táteis ou auditivas e ocorrem em decorrência de lesões nas áreas de
associação secundária do córtex cerebral.
Nas agnosias visuais, lesões cerebrais ocorrem nas áreas de associação
visual, sendo preservada a percepção do estímulo visual o comprometimento é no
estágio de reconhecimento daquilo que é visto. Na agnosia visual para objetos, por
exemplo, o indivíduo não consegue reconhecer um objeto quando este lhe é
apresentado, mesmo que seja capaz de descrever sua funcionalidade, sua forma ou
qualquer outra forma de identificação de um objeto conhecido.
Na chamada agnosia associativa a incapacidade de reconhecimento do
objeto pode ser percebida pelas inabilidades de: nomear um objeto; fazer imitações
de atos motores que demonstrem o uso de objetos; fazer categorizações e
associações semânticas com objetos.
Outros tipos de agnosias visuais são:
 agnosia para cores – o paciente pode não reconhecer as cores seja no
âmbito perceptivo ou no reconhecimento verbal e conceitual da cor, isto é,
pode negligenciar várias cores, enxergando por exemplo somente o preto e
o branco, ou não conseguir nomear as cores (anomia para cores);
 prosopagnosia – o paciente não consegue reconhecimento de uma face
conhecida. O paciente falha, não reconhece a face de seus próprios
familiares e nem mesmo a sua própria imagem é reconhecida. O paciente
pode reconhecer alguém pela voz, pela roupa que a pessoa está utilizando
em determinada ocasião, por exemplo, mas não consegue associar a face
de forma a discriminar as pessoas e reconhecer-lhes em momento posterior.
Agnosia auditiva ocorre quando o reconhecimento de sons está alterado. A
agnosia auditiva pode ser aperceptiva ou associativa. Na agnosia aperceptiva ocorre
a inabilidade para emparelhar sons idênticos; e na associativa, apesar de
emparelhar os sons, o paciente não consegue identificá-los, por exemplo, não
consegue atribuir a um carro o barulho de uma buzina. Este tipo de agnosia pode

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ser seletivo, não aplicando a todo tipo só, o paciente pode, por exemplo, ser capaz
de reconhecer músicas, mas não o barulho de animais; ou pode ser também musical
e o paciente não estar apto a reconhecer melodias, ritmo, duração, timbre. Está ou
não associada a afasia. Existem ainda relatos de agnosias que afetam a
identificação de quem fala – como na fonoagnosia, na qual a voz de um conhecido
não é reconhecida, assim como ocorre na prosopagnosia com as faces conhecidas.
Nas agnosias tácteis o indivíduo é incapaz de reconhecer objetos por meio
da percepção tátil (palpação). Um tipo específico da agnosia tátil é a
assomatognosia, que trata-se de incapacidade de reconhecimento do esquema
corporal.
A chamada negligência unilateral é o distúrbio no qual o indivíduo falha em
responder a estímulos em uma metade do espaço. Em testes de cancelamento ou
de cópia de figuras é possível perceber a presença deste tipo de negligência quando
o paciente executa a tarefa cancelando objetos somente em metade da folha ou se
copia o desenho parcialmente ignorando a metade direita ou esquerda da figura a
ser copiada (LEFEVRE; PORTO, 2006).

7 INTRODUÇÃO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

7.1 OBJETIVO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

A reabilitação neuropsicológica consiste no conjunto de intervenções


realizadas com o objetivo de melhorar os prejuízos cognitivos, emocionais e sociais
decorrentes de uma lesão encefálica de forma a auxiliar o indivíduo lesionado a
alcançar maior independência e qualidade de vida. Para alcançar este objetivo o
paciente coopera com os profissionais, familiares e demais envolvidos na
reabilitação no intuito de tratar ou aliviar deficiências cognitivas resultantes do dano
neurológico (WILSON, 2003).
Na reabilitação voltada para a adaptação do indivíduo à sua nova condição
de vida, como no caso de sequela pós-lesão cerebral, o objetivo será lidar com as

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limitações ou com as alterações comportamentais apresentadas pelo paciente em
seu contexto cotidiano. Neste tipo de reabilitação, é comum empregarmos
estratégias como orientações educacionais, compensação com uso de recursos
externos e as modificações ambientais. Entre alguns dos recursos utilizados,
principalmente para reabilitação da memória, da atenção e do funcionamento
executivo, estão: uso de dispositivos eletrônicos (alarmes, telefones celulares,
computadores, gravadores, calculadoras, etc.); técnicas escritas (agendas, quadros
e bilhetes de anotações com recados e listas, calendários, cartazes etc.). Dessa
forma, procura-se tornar o meio mais seguro ao paciente, minimizando. Entre as
estratégias de modificações, estão: redução de estímulos irrelevantes nos locais
(cômodos, armários, gavetas) onde são guardados objetos de uso frequente (óculos,
chaves, etc.); uso de listas para execução de tarefas que demandam sequê

rte determinante da eficácia de técnicas de reabilitação que


envolvem mudanças no ambiente do paciente. Com uso de mecanismos externos e
compensatórios um paciente, mesmo ainda tendo déficits cognitivos, torna-se capaz
de lembrar e planejar seus compromissos e atividades fundamentais de seu
cotidiano. Neste sentido, uma das técnicas mais utilizadas em reabilitação é a
aprendizagem sem erro, que consiste em possibilitar que o paciente adquira a
habilidade de completar determinada tarefa, evita-se os erros que normalmente são
comuns na aprendizagem, o que é conseguido a partir da execução passo a passo
do que é pretendido. Para auxiliar os passos corretos são oferecidas as respostas
corretas, de forma que as erradas não sejam consolidadas nas etapas do processo
de aprendizagem.

otimização de diversas funções cognitivas ou estar voltada para um foco específico


(reabilitação apenas da memória ou da atenção, por exemplo). Além disto, existem
programas elaborados para a intervenção individual e também para o trabalho em
grupo, sendo que para o segundo é preciso bastante homogeneidade na demanda
dos participantes. A partir da avaliação neuropsicológica identifica-se o melhor
formato de intervenção.

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FIGURA 18 - MODELO DE REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

FONTE: Gindri et al., 2012, adaptada de Wilson e Gracey, 2009.

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Um programa de reabilitação neuropsicológica inclui os procedimentos
realizados junto ao paciente e também as orientações de manejo que devem ser
conduzidas com familiares/cuidadores. Gindri et al. (2012) apresentaram um modelo
de reabilitação neuropsicológica (Figura 18) e destacaram as seguintes etapas em
uma reabilitação neuropsicológica:

2. Suporte aos problemas cognitivos de base.

Sobre os fatores a serem considerados na reabilitação, Santos et al. 2008, p.


21) afirmaram:

[...] as possibilidades e eficácia do tratamento dependem não apenas do


insight, nível decisório e motivação, mas também da etiologia e localização
da lesão, extensão e severidade do comprometimento, a idade e o tempo
decorrido desde o inicio da patologia, curso de progressão da doença,
condições ambientais, estilo pré-mórbido de vida, saúde física, educação,
nutrição, profissão, dentre outros.

Outros fatores que devem ser considerados e podem auxiliar na eficácia do


programa de reabilitação são: metas terapêuticas de acordo com as metas pessoais
do paciente; incentivo de emoções positivas e a busca de melhora de crenças do
paciente sobre si e sobre seu próprio desempenho (autoeficácia).

7.2 ORIENTAÇÕES À FAMÍLIA DO PACIENTE E O ENCAMINHAMENTO PARA


REABILITAÇÃO

A avaliação neuropsicológica determina e auxilia no tipo de reabilitação que


deve ser oferecida ao paciente. A avaliação e reabilitação, como visto anteriormente,
depende da identificação de quais habilidades cognitivas e funcionais estão
prejudicadas e também preservadas e do que se pretende modificar a partir da
situação observada. Sendo assim, pessoas próximas ao paciente (familiares,
amigos, cuidadores) correspondem à fonte de informação que auxiliarão na
identificação de sintomas e sinais essenciais para elaborar o diagnóstico e à fonte

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de suporte estrutural e emocional que interfere na elaboração de metas e estratégias
do programa de reabilitação neuropsicológica. Por isto, a família e os cuidadores do
paciente devem acompanhar todo o processo, recebendo orientações sobre o que
estão vivenciando e como podem auxiliar o paciente e a si mesmos durante o
tratamento.
A complexidade do cuidado em reabilitação neuropsicológica é, em geral,
atendida por equipe multidisciplinar incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos,
terapeutas ocupacionais, cuidadores formais etc. Assim, uma vez concluída a
avaliação, o profissional que avaliou deve orientar o paciente e seus
familiares/cuidadores sobre a forma de tratamento mais adequada e, prevendo
sempre uma intervenção multidisciplinar, encaminhá-los para atenção de outros
especialistas que possam atender às demandas específicas do paciente avaliado.
A equipe deve estar preparada para identificar agravos comuns também nos
cuidadores. Entre os comprometimentos mais frequentes em familiares/cuidadores
estão: a depressão, o estresse e a sobrecarga. Sempre que identificados estes
agravos, a equipe deve oferecer as devidas intervenções (diagnóstico, medicações,
terapias individual ou em grupos, etc.) ou fazer o encaminhamento para outros
profissionais.
No cuidado emocional, as habilidades de comunicação da equipe de
saúde constituem uma medida terapêutica eficaz e contribuem para (DE SOUZA;
SARAN, 2012):
 conhecer melhor o paciente/família (problemas, anseios, temores,
expectativas, valores culturais e espirituais) e, assim, oferecer medidas de
apoio;
 tornar a relação entre profissionais e paciente/família mais direta e
interativa, pautada na ajuda efetiva, confiança mútua e sinceridade;
 informações verdadeiras, passadas de modo delicado e progressivo,
com clareza, compaixão e empatia, facilitam as tomadas de decisão;
 diminuição do estresse psicológico e emocional vivenciado por aquele
núcleo familiar;
 otimizar o processo de retomada da autonomia e independência por
parte do paciente, quando possível;
 facilitar o alívio de sintomas e melhora da autoestima do paciente;

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 identificar o que pode aumentar o bem-estar;
 oferecer oportunidades para a resolução de assuntos pendentes
(despedidas, agradecimentos, reconciliações);
 em casos de patologia progressivas e degenerativas, auxiliar o paciente
e familiares no bom enfrentamento e na vivência do processo de morte.
Concluindo, os pacientes neurológicos e seus familiares, muitas vezes,
precisam enfrentar a incapacidade física e demandam, além da intervenção em
reabilitação, uma assistência emocional. Além disto, profissionais que acompanham
quadros progressivos e degenerativos podem acompanhar as famílias até o
processo de finitude do paciente de forma que devem estar preparados para auxiliá-
los seja para possibilidade de cura ou para possibilidade de um tratamento contínuo
e desgastante. Por isto, é necessário pensar o cuidado do ponto de vista técnico e
também emocional.

8 CONCLUSÃO

Os conhecimentos produzidos pela neuropsicologia, na atualidade, são


empregados nos campos científico e profissional. Junto à ciência, a neuropsicologia
contribui para o avanço do conhecimento das relações entre o cérebro e o
comportamento. No âmbito profissional, a avaliação e a reabilitação neuropsicológica
consistem em estratégias de auxílio diagnóstico e de tratamento em diversas
patologias que envolvem o comprometimento do sistema nervoso central.
Neste curso foram descritas as principais atuações da neuropsicologia no
âmbito profissional, enfatizando aspectos da avaliação neuropsicológica de adultos e
idosos e descrevendo brevemente intervenções conduzidas a partir da reabilitação
neuropsicológica. Para esta atuação, existem hoje diversos instrumentos e testes e
aqui foram apresentados alguns dos mais utilizados e já padronizados para uso no
Brasil, bem como a fonte de aquisição dos mesmos. Contudo, é importante destacar
que ainda existe uma carência de instrumentos validados para as diversas faixas
etárias e níveis de escolaridade da população brasileira. Muitas vezes, é necessário,

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101
que o clínico utilize as tabelas de correção de grupos próximos ao paciente avaliado
quanto às suas características de idade e escolaridade.
No âmbito da pesquisa, a validação de testes é um dos grandes desafios
dos pesquisadores brasileiros na área da neuropsicologia. A maioria dos testes
padronizados devem ser adquiridos junto às editoras que possuem os direitos
autorias sobre os mesmos. Existem outros instrumentos, além dos mencionados
aqui, e espera-se com a bibliografia indicada ter oferecido a fonte de consulta
necessária para que o leitor obtenha estas informações.
O resumo das patologias descritas aqui visou apresentar as principais
demandas clínicas voltadas para área diagnóstica da neuropsicologia na atualidade.
Então, a partir da apresentação dos quadros clínicos e formas de avaliação e de
reabilitação neuropsicológica espera-se a compreensão sobre os recursos utilizados
pela neuropsicologia para auxiliar o indivíduo com lesão cerebral a
recuperar/desenvolver sua independência e autonomia e a melhorar sua qualidade
de vida e de seus familiares.

FIM DO MÓDULO IV

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