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CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
Aluno:
AN02FREV001/REV 4.0
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CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
MÓDULO I
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
2.1 HISTÓRICO DA NEUROPSICOLOGIA
2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE
2.3 OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
MÓDULO II
3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
3.1 BASES ANATÔMICO-FUNCIONAIS DAS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
3.2 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
3.3 ATENÇÃO
3.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS
3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
3.6 PERCEPÇÃO E FUNÇÕES VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVAS
MÓDULO III
4 BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS
4.1 TESTES PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO GLOBAL
4.1.1 Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUPSILIN)
4.1.2 Miniexame do Estado Mental (MEEM)
4.1.3 Clinical Dementia Rating (CDR)
4.2 TESTES DE INTELIGÊNCIA
4.2.1 Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III)
4.2.1.1 Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)
4.2.2 Escala de Inteligência Wechsler para Crianças Quarta Edição (WISC-IV)
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4.2.3 Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV)
4.3 TESTES DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
4.3.1 Teste de Aprendizagem Auditivo Verbal de Rey (RAVLT)
4.3.2 Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD
4.3.3 Teste de Memória de Figuras
4.3.4 Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR)
4.4 TESTES DE ATENÇÃO
4.4.1 Teste de Atenção por Cancelamento
4.4.2 D-2 Teste de Atenção Concentrada
4.4.3 Teste de Trilhas
4.5 TESTES DO FUNCIONAMENTO EXECUTIVO
4.5.1 Teste do Desenho do Relógio (TDR)
4.5.2 Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (WCST)
4.5.3 Torre de Hanói, Torre de Londres e Torre de Toronto
4.6 TESTES DE RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
4.6.1 Testes de Fluência Verbal
4.6.2 Teste de Nomeação de Boston (versão reduzida)
4.6.3 Teste de Provérbios
4.6.4 Testes de Leitura e Escrita
4.7 TESTES DE PERCEPÇÃO E DO FUNCIONAMENTO VISUOCONSTRUTIVO
4.7.1 Teste de Praxia Construtiva da bateria CERAD
4.7.2 Figuras Complexas de Rey
4.7.3 Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG)
4.7.4 Subteste Cubos do WAIS
4.7.5 Subteste Quebra-Cabeça do WISC
5 AVALIAÇÃO DO HUMOR, COMPORTAMENTO E FUNCIONAMENTO
ADAPTATIVO
5.1 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE DEPRESSÃO
5.1.1 Inventário de Depressão de Beck (BDI)
5.1.2 International Neuropsychyatric Interview (MINI)
5.1.3 Escala de Depressão Geriátrica (EDG)
5.2 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE ANSIEDADE
5.2.1 Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)
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5.2.2 Escala de Ansiedade de Hamilton
5.2.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD)
5.3 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL
5.3.1 Índice de Katz para Atividades Básicas da Vida Diária
5.3.2 Functional Activities Questionnaire (FAQ)
5.3.3 Inventário de Atividades Avançadas de Vida Diária
5.3.4 Informat Questionnaire of Cognitive Decline of the Elderly (IQCODE)
MODULO IV
6 DESORDENS COGNITIVAS
6.1 DISTÚRBIOS DA MEMÓRIA
6.1.1 Amnésia
6.1.2 Síndrome de Korsakoff
6.1.3 Comprometimento ou cognitivo leve (CCL)
6.1.4 Síndrome demencial
6.2 DISTÚRBIOS ATENCIONAIS
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MÓDULO I
1 INTRODUÇÃO
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últimas décadas, o que gera aumento da incidência de patologias neurológicas
relacionadas ao aumento da idade. Por isto, nesta apostila será enfatizada a
avaliação de adultos e idosos com descrição das principais desordens que levam à
busca pela avaliação neuropsicológica nestas faixas etárias. A apresentação dos
objetivos e instrumentos de avaliação neuropsicológica é feita de forma a discriminar
o uso dos mesmos entre as diferentes fases do desenvolvimento.
O Módulo I apresenta uma breve descrição de como as funções mentais
foram explicadas ao longo do histórico da neuropsicologia, abordando suas
principais descobertas. Além disto, discute-se a prática clínica da neuropsicologia e
os vários objetivos da avaliação neuropsicológica na atualidade. O Módulo II traz
uma revisão geral sobre o sistema nervoso e a conceituação das principais funções
neuropsicológicas, como a memória, a atenção, as funções executivas, a linguagem,
a percepção e as funções visuoconstrutivas. O Módulo III aborda alguns dos testes
mais empregados em avaliação neuropsicológica. Os testes existentes não se
resumem aos apresentados aqui. A escolha dos testes descritos foi pautada na
facilidade de aplicação, priorizando-se aqueles que possuem normatização para uso
na população brasileira e, portanto, comercializados e divulgados para aquisição e
uso clínico dos profissionais da área. Finalmente, o Módulo IV apresenta uma
descrição das principais desordens cognitivas e uma introdução dos objetivos da
reabilitação neuropsicológica.
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2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
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FIGURA 1 - ILUSTRAÇÃO DE CRÂNIO SUBMETIDO A TREPANAÇÃO
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ventricular, haveria três ventrículos, o primeiro associado às sensações, o segundo
associado à razão e ao pensamento e o terceiro seria o responsável pela memória.
A Igreja reconhecia a explicação de Galeno de que os fluidos que circulavam nos
ventrículos seriam os espíritos e que estes determinavam os comportamentos
(COSENZA et al., 2008). Com apoio da Igreja, que tinha forte influência sobre as
ideias da época, a teoria ventricular perdurou até boa parte da Idade Média.
O filósofo francês René Descartes (1596-1650), baseado nos princípios do
dualismo cartesiano, defende, no final do século XVII, a ideia de que a mente e o
corpo seriam entidades separadas e elas interagiam a partir de uma estrutura
encontrada no corpo humano, a glândula pineal. Esta glândula era vista como a
sede do espírito no corpo e por meio dela eram controlados os comportamentos
(HAMDAN et al., 2011).
A hipótese cerebral tornou-se a ideia predominante e o debate passou a ser
quanto à organização e ao funcionamento do órgão de comando. Entre os
estudiosos que defenderam a hipótese cerebral estavam os holistas e os
localizacionistas, que apesar de concordarem sobre o cérebro como a sede do
funcionamento mental discordavam sobre a forma como esse controle era possível.
Para os holistas, o cérebro atuaria como um todo comandando as funções mentais e
o comportamento; enquanto os localizacionistas acreditavam em um funcionamento
fragmentado, de forma que cada uma de suas regiões cerebrais teria uma função
específica (COSENZA et al., 2008).
Entre os localizacionistas, teve grande influência a frenologia – teoria de
Franz Joseph Gall (1757-1828), difundida por seu aluno Johann Gaspar Spurzheim
(1776-1832). Estes estudiosos afirmavam que o cérebro estava organizado em
aproximadamente 35 funções específicas (ver Figura 2) e acreditavam ser possível,
por meio da análise do crânio, descrever a personalidade de uma pessoa. Esta
técnica foi chamada de personologia anatômica.
Segundo Consenza et al. (2008), os pressupostos básicos da frenologia
podem ser resumidos da seguinte forma:
1) cada região cerebral pode ser entendida m m “ó g ”q m
determinada atividade mental ou comportamental específica;
2) a superfície craniana poderia ser moldada a partir do desenvolvimento de
cada região cerebral;
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3) uma região cerebral bem desenvolvida pode crescer em volume e resultar
em um crescimento visível no crânio.
A frenologia foi criticada pela comunidade científica porque seus
pressupostos não foram comprovados. Um grande opositor de Gall foi Flourens
(1794-1867), um fisiologista que estudava o cérebro de animais e percebeu que
alguns comprometimentos em determinadas regiões cerebrais não resultavam em
danos permanentes. Em seu estudo com pássaros observou que, independente do
local lesionado, o animal poderia restabelecer o padrão de funcionamento, pois não
era a região lesionada e sim a extensão da lesão que dificultava a recuperação.
Suas conclusões o fizeram defender as ideias de que qualquer região cerebral
poderia assumir as funções de outra área em caso de lesão e que, portanto, o
cérebro funcionaria como um todo no qual todas as partes estariam envolvidas em
todos os comportamentos (GAZZANIGA et al., 2006). Outro opositor das ideias
localizacionistas e defensor das propostas de Flourens foi Karl Lashley (1890-1958),
q í “ m ” m ferência a ideia de que seria
a quantidade de material lesionado que determinaria os prejuízos funcionais e
m m í “ q l ” m ê l
de diferentes regiões cerebrais poderem exercer a mesma função. Lashey fez
experimentos com ratos em labirintos e mostrou que os animais conseguiam
executar a tarefa de encontrar a saída mesmo após lesão em determinadas áreas
cerebrais. Sua conclusão sobre estes resultados era que para aprender a se
locomover o animal utilizava funções visuais e proprioceptivas, então a lesão em
somente uma destas áreas era compensada com uso da área preservada.
Mesmo diante do fracasso das ideias de Gall e de descobertas como a de
Floures, o debate entre holistas e localizacionistas permanecia a favor do segundo
grupo uma vez que novas e importantes descobertas foram feitas no sentido de se
identificar áreas especializadas do cérebro. Assim, por longo período os
neurocientistas estudaram o cérebro no intuito de descobrir novas regiões do
cérebro responsáveis por uma função mental ou comportamentos específicos. Entre
as principais contribuições para as ideias localizacionistas estão as descobertas
sobre as regiões cerebrais relacionadas à linguagem. Paul Broca (1824-1880)
apresentou a descrição de pacientes acometidos por lesões nos lobos frontais do
hemisfério cerebral esquerdo, que apresentavam comprometimento na produção da
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fala e preservação da compreensão da linguagem. Essa síndrome foi chamada de
afasia de Broca e a área da lesão, conhecida atualmente como a área de Broca,
m “ l l g g m”
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A localização cerebral das áreas de Broca e de Wernicke podem ser vistas
na Figura 3.
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FIGURA 4 - SIMULAÇÃO COMPUTADORIZADA DA ÁREA CEREBRAL
LESIONADA NO PACIENTE PHINEAS GAGE
FONTE: Imagem por Roy Baty (2004), sob licença Creative Commons Attribution.
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A partir de estudos de casos como este e outros conduzidos – principalmente
durante a guerra – com indivíduos que sofreram lesões cerebrais, os processos
mentais passaram a ser explicados como dependentes da integridade de centros
nervosos e suas conexões e não, simplesmente, do funcionamento de áreas cerebrais
específicas.
Contribuíram também para os avanços sobre a compreensão do
funcionamento cerebral os estudos histológicos de Camilo Golgi e do histologista
Santiago Cajal. Golgi desenvolveu o famoso método de coloração por prata, técnica
que permitiu a identificação de toda estrutura da célula nervosa (corpo celular,
dendritos e axônios). Cajal, utilizando este método de coloração, mostrou que estava
errada a ideia de que o cérebro era uma massa contínua e demonstrou que o tecido
neural era composto de um emaranhado de células (RODRIGUES; CIASCA, 2010).
Outra importante contribuição para a forma como o funcionamento cerebral é
visto hoje foi dada pelo anatomista Korbinian Brodmann (1909). A partir de seu
estudo com tecido corado, o córtex cerebral foi dividido em 52 regiões diferentes
(Figura 5), conhecidas como áreas citoarquitetônicas, isto é, áreas em que se
diferenciam pela estrutura e disposição de suas células (neurônios). Esta divisão é
conhecida como mapa das áreas corticais do cérebro humano e é uma das mais
reconhecidas pelos neurocientista que ainda a estudam e buscam seu
aprimoramento.
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As tendências localizacionistas ainda prevaleceram no início do século XX
com importantes descobertas que as validavam, como a diferenciação de funções
entre os dois hemisférios cerebrais. Contudo, as controvérsias apresentadas, nesta
época, sobre a localização de regiões específicas para a execução das chamadas
“ õ ”, m m mó m , m í am as certezas
sobre as hipóteses localizacionistas. Esse campo fértil de contradições contribuiu
para ideias como a de Monakow, que defendia a diásquise – dano em uma das
regiões encefálicas pode resultar em prejuízo em outras regiões – influenciasse
muitos estudos com tendência holista (GAZZANIGA et al., 2006).
A discussão entre localizacionistas e holistas toma novos rumos a partir das
descobertas de Lev Vygotsky (1896-1934). Vygotsky argumentou que a organização
cerebral ocorria a partir de uma inter-relação complexa entre suas partes e que
desta forma se daria o funcionamento do todo. Vygotsky desenvolveu seus estudos
mostrando que o funcionamento mental variava para os diferentes estágios do
desenvolvimento humano e, ainda hoje, suas ideias estão entre um dos importantes
expoentes da psicologia da aprendizagem. Influenciado por estas ideias, o psicólogo
soviético Alexander Luria (1902-1977), a partir do estudo com pacientes acometidos
por lesão cerebral, desenvolveu um novo conceito de função. Assim, as premissas
localizacionistas deram lugar à proposta de funcionamento interligado das áreas
cerebrais que predomina na neuropsicologia atual. Luria atuou junto com Vygotsky
focalizando, inicialmente, no estudo da afasia e na relação da linguagem com outros
processos mentais, sendo um de seus maiores interesses o desenvolvimento de
técnicas de reabilitação. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Luria
desenvolveu pesquisas no Hospital do Exército e focou na descoberta de métodos
de reabilitação de deficiências no pacientes com lesões cerebrais.
Luria atuou também na elaboração de baterias compl l
lóg , q m m l m lz m m l XX e
ainda influenciam a forma como os testes são elaborados e utilizados na testagem
neuropsicológica. A primeira versão dos testes de Luria deu origem a diversas
outras baterias neuropsicológicas, como a Luria-Nebraska e o teste de Barcelona,
que consistem em avaliações amplas dos diversos domínios cognitivos (HAMDAN et
al., 2011). Estes testes ainda são úteis, mas dividem espaço com uma infinidade de
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testes neuropsicológicos que vêm sendo elaborados com intuito de se tornarem
cada vez mais específicos.
Além disto, Luria trabalhou na elaboração do conceito de neuroplasticidade,
que pode ser entendida como a capacidade adaptativa do sistema nervoso frente às
agressões sofridas em sua estrutura, isto é, a possibilidade do cérebro se regenerar,
de modificar sua morfologia e reassumir suas funções. Este é um conceito central na
área da neurociência atual, sobre o qual muitos cientistas se debruçam na busca de
inovações. A grande contribuição de Luria para as técnicas utilizadas hoje na área
da neuropsicologia, tanto no âmbito da avaliação quanto da reabilitação, faz com
que ele seja considerado por alguns como o pai da neuropsicologia.
Luria argumentava que apenas funções mais simples poderiam ser
l lz q õ m l “ m
”, ,g m m m m q
atuam em conjunto, independente se áreas envolvidas estão localizadas em partes
diferentes ou mesmo distantes do cérebro. Baseando-se nesta proposta de Luria, é
possível distinguir no cérebro três grandes sistemas funcionais (ver Figura 6),
conforme descrito por Cosenza e Fuentes et al. (2008):
m g l gíl l m
formação reticular e áreas do sistema límbico. O segundo se encarrega de
receber, processar e armazenar as informaçõ q g m m
m ó l l lz
posteriormente ao sulco central. Ele organiza-se em áreas corticais
primárias, secundárias e terciárias. J m g l
estratégi m m ó m l, í l
ó l gõ g z - ,
m m q m , m m ,
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FIGURA 6 - UNIDADES FUNCIONAIS DO CÉREBRO SEGUNDO LURIA
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2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE
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Atualmente, a neuropsicologia está voltada não só para os temas clássicos
da psicologia cognitiva, como a aprendizagem; a percepção, a atenção, como
também se utiliza da psicologia experimental e da psicometria para atuar na
construção de testes. O neuropicólogo ganhou espaço em hospitais, fóruns, clínicas,
consultórios privados e em atendimentos domiciliares com diferentes propósitos.
Sua atuação é, em geral, multidisciplinar e voltada não só ao próprio paciente, mas
também à orientação de familiares. Além disto, pode atuar no meio acadêmico
conduzindo pesquisas e auxiliando na formação de futuros profissionais, por meio de
aulas e supervisões. O campo para novas descobertas sobre a forma de
funcionamento cerebral é amplo e continuamente promove inovações que obrigam
os clínicos a reverem suas práticas. A neuropsicologia consiste, portanto, em campo
de conhecimento científico e prático ainda em expansão, e seus desafios são ainda
maiores em países como o Brasil, onde a delimitação profissional ocorreu tão
recentemente.
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3) orientação para o tratamento;
4) auxílio no planejamento de reabilitação;
5) seleção de pacientes para técnicas especiais como cirurgias de risco ou
medicações de alto custo;
6) perícia.
No auxílio diagnóstico uma avaliação neuropsicológica estabelece o
correlato neuroanatômico com o desempenho cognitivo e funcional observado a
partir das alterações e manutenções dos mesmos. O objetivo neste caso é
confirmar e/ou refutar as hipóteses diagnósticas que explicam os sinas e sintomas
apresentados pelo paciente. Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica é de
grande relevância para o processo de diagnóstico diferencial no qual relatos
subjetivos das alterações cognitivas não auxiliam para diferenciar entre as diversas
possibilidades diagnósticas. Por exemplo, em casos de pacientes idosos com
prejuízos cognitivos cujos resultados dos exames de neuroimagem e dos testes
laboratoriais são insatisfatórios para explicar as causas dos prejuízos que
poderiam ser decorrentes de um quadro depressivo ou de uma síndrome
demencial em fase inicial.
No que se refere à orientação ao tratamento, a partir dos resultados da
avaliação neuropsicológica, é possível orientar sobre a melhor intervenção a ser
oferecida em diferentes contextos, como no educacional, auxiliando no planejamento
vocacional e da aprendizagem, e na saúde, fornecendo dados que facilitam na
escolha e execução das intervenções cirúrgicas, medicamentosas e de reabilitação.
No processo terapêutico, contribui para avaliação da eficácia de tratamento
farmacológico e de técnicas de reabilitação direcionadas para pacientes
acometidos por agravos neurológicos. No caso de pacientes acometidos pela
doença de Alzheimer, por exemplo, a medicação parece eficaz somente até a fase
intermediária da doença, de forma que reavaliação do funcionamento cognitivo do
paciente é essencial para demonstrar de forma objetiva se a medicação auxilia no
sentido de retardar o avanço dos prejuízos ou se, em caso de progressão para
fase grave, o tratamento farmacológico tornou-se ineficaz (ABRISQUETA-GOMEZ
et al., 2004).
A avaliação neuropsicológica também pode ser aplicada e reaplicada ao
longo do tratamento e ajudar a descrever o impacto de um agravo na condição de
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indivíduos em acompanhamento longitudinal. Além dos prejuízos, a avaliação
neuropsicológica permite a identificação de domínios cognitivos preservados e/ou
recuperadas.
Um exemplo do uso da avaliação neuropsicológica como ferramenta útil no
prognóstico é em caso de sua aplicação com pacientes epilépticos no pré-
operatório. Segundo Camargo et al. (2008), q , “ êm
mostrando que quando a avaliação neuropsicológica dá indícios de que as
alterações cognitivas são bilaterais, ou quando a integridade funcional do
m l l , l g ”
Alguns procedimentos (cirurgias ou tratamentos com medicamentos, por
exemplo) implicam em algum tipo de risco para o paciente e nestes casos é
necessária uma forma objetiva de estimar os benefícios e os possíveis prejuízos
decorrentes de tais procedimentos. Nestes casos, uma avaliação neuropsicológica
pode auxiliar em um processo de triagem de quais pacientes seriam indicados para
o procedimento de risco (CAMARGO et al., 2008).
Os exames neuropsicológicos podem também ser utilizados por
especialistas da área jurídica para auxílio na tomada de decisão e elaboração de
documentos em questões legais, tais como: interdições; indenizações; absolvição ou
detenção em julgamentos; admissão e afastamentos de trabalhadores.
O planejamento de uma reabilitação neuropsicológica é indicado para os casos
em que um agravo leva a perda da capacidade do indivíduo para manejar, parcial ou
completa, sua própria vida e a intervenção sobre os aspectos cognitivos do paciente
pode levar à recuperação desta capacidade ou à adaptação de como viver com sua
nova condição. Neste caso, a intervenção é feita junto ao paciente e também à sua
família. Contudo, um programa de reabilitação deve ser elaborado a partir da
identificação dos prejuízos e das potencialidades do indivíduo de forma que a avaliação
do funcionamento cognitivo e funcional preliminar a esta intervenção é obrigatória.
Os profissionais da neuropsicologia podem atuar também no âmbito da
pesquisa e contribuir para ampliação dos modelos que visam explicar as
interações entre o cérebro e o comportamento. Além disso, somente por meio da
associação entre conhecimentos prático e científico é possível a elaboração de
materiais e instrumentos para uso clínico, como: testes adequados aos diferentes
contextos culturais e para diferentes patologias; jogos e programas
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computacionais para uso com crianças e em pacientes com variadas deficiências;
e os livros e artigos científicos.
Dentre os vários propósitos da avaliação neuropsicológica, o diagnóstico é o
de maior demanda. Entre os acometimentos do sistema nervoso central que levam à
demanda da avaliação neuropsicológica estão os traumatismos cranioencefálicos
(TCE), as epilepsias, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), as demências, as
desordens metabólicas, as deficiências de vitaminas e as desordens toxicológicas (a
descrição destes agravos está no Módulo IV deste curso).
Outra demanda, em geral, para avaliação neuropsicológica infantil está
associada ao diagnóstico de transtornos do desenvolvimento, em geral, associados
a déficits de aprendizagem. Este tipo de demanda aparece, com frequência, quando
a criança está em idade escolar, pois no contexto de aprendizagem são facilmente
observadas alterações da percepção, da atenção, da memória ou mesmo de
comportamento e motivação. Hamdan et al. (2011, p. 52) descreve da seguinte
forma os objetivos da avaliação neuropsicológica voltada para crianças:
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No que se refere aos procedimentos práticos de uma avaliação
neuropsicológica, o profissional deve seguir um roteiro que, apesar das adaptações
necessárias para atender a faixa etária e a demanda de solicitação da avaliação,
deve contemplar:
Entrevista clínica (anamnese) para investigar os seguintes aspectos:
o Histórico clínico e do surgimento da patologia ou queixas que
levaram a solicitação da avaliação;
o Medicações em uso;
o Funcionamento cognitivo prévio.
Escolha e aplicação de testes e escalas:
o Testes para avaliação do desempenho cognitivo global;
o Testes para avaliação de cada domínio cognitivo;
o Escalas e testes para avaliação humor;
o Escalas para avaliação da capacidade funcional.
Escolha e aplicação de outras ferramentas diagnósticas:
o Exames de neuroimagem (tomografia computadorizada,
ressonância magnética, spect);
o Observação do comportamento em ambiente real;
o Relatos de informantes que convivam com o paciente.
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Formação do examinador. Alguns testes são de uso exclusivo dos
profissionais de psicologia. Informações sobre teste podem ser obtidas no
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos do Conselho Federal de
Psicologia (SATEPSI, 2013).
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programa de reabilitação neuropsicológica que visa à recuperação do desempenho
cognitivo global ou específico.
FIM DO MÓDULO I
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
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CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
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dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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MÓDULO II
3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
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controle de temperatura, apetite, hidratação, sono, emoção e comportamento
sexual). Além disto, é área central do sistema límbico (que será detalhado mais à
frente, ainda neste módulo).
Cerebelo
Medula
Espinhal
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O encéfalo é protegido pelo crânio e a medula espinal pela coluna vertebral.
Após esta proteção óssea, existe ainda uma proteção formada por tecido conjuntivo,
são as meninges, organizadas em três camadas: a dura-máter, a aracnoide e a pia-
máter. Entre a aracnoide e a pia-máter está o líquido cefalorraquidiano (líquor), que
é produzido dentro dos ventrículos cerebrais e, na ausência de patologia, flui de um
ventrículo ao outro, e então para fora do cérebro, por meio da medula espinhal. Se
houver alguma obstrução das vias de drenagem do líquor, o fluido se acumula no
cérebro, causando um inchaço conhecido como hidrocefalia. Em bebês, ocorre um
alargamento da cabeça; nas crianças mais velhas e em adultos, não ocorre esse
alargamento porque os ossos do crânio já estão unidos e impedem essa expansão
do fluido.
A maior parte do encéfalo é composta pelo telencéfalo, que se divide em
dois hemisférios: o hemisfério direito (HD) e o hemisfério esquerdo (HE). Estes
hemisférios estão unidos pelo corpo caloso, uma estrutura composta de fibras
nervosas separadas por uma lâmina de dura-máter, a foice cerebral.
Atualmente, sabe-se que existe uma lateralização do hemisfério cerebral,
isto é, ocorre uma dominância de um hemisfério sobre o outro. Algumas funções são
facilmente diferenciadas por hemisfério, como a linguagem, gnosia (capacidade de
interpretar estímulos sensoriais) e a praxia (realização de atos motores complexos).
Assim, no HE fica o controle de habilidades como: linguagem; raciocínio lógico; de
padrões gerais de comportamentos; destreza manual; e demais membros do lado
direito do corpo etc. O HD é responsável pela resposta a estímulos inesperados;
pelo processamento de informação visuoespacial e não verbal; e pela habilidade de
reconhecer faces.
As superfícies dos hemisférios cerebrais estão divididas em estruturas
chamadas de giros que são delimitadas por depressões chamadas de sulcos. Além
disto, os hemisférios estão dispostos em grandes regiões ou lobos (ver Figura 8).
Estes lobos são: o frontal, o parietal, o temporal, o occipital e a ínsula (localizada na
parte interna do cérebro). Os sulcos são: sulco central (entre o lobo frontal e o
parietal), sulco lateral ou de Sylvius (entre os lobos temporal, frontal e parietal) e
sulco parieto-occiptal (entre o parietal e o occiptal).
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FIGURA 8 - LOBOS CEREBRAIS
As funções gerais dos lobos cerebrais foram descritas por Machado (1988),
conforme apresentado na Figura 9, e podem ser resumidas da seguinte maneira:
a. lobo frontal – funções de planejamento de ações estão associadas área
pré-frontal e controle de movimentos sob responsabilidade do córtex e da
área pré-motora localizada neste lobo;
b. lobo temporal – processamento das informações auditivas, pois nele
situa-se a área auditiva primária; funções da linguagem na área de
Wernicke; processamento da informação visual ocorrem em suas porções
inferiores e ainda funções associadas a aprendizagem e memória ocorrem
na parte mais medial deste lobo. Divide os lobos temporal e frontal, destaca-
se a fissura de Sylvius, esta área é conhecida como “zona da linguagem
perisylviana”;
2) lobo parietal – recebe as informações sensoriais vindas do meio externo
(por exemplo, dor e temperatura) e interpreta estas informações;
3) lobo occipital – associado à visão, nele estão situadas as áreas visual
primária e visual de associação;
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32
4) lobo da ínsula – está envolvido no processamento de estímulos
emocionais e respostas fisiológicas.
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33
4) giro cingulado – é a região de processamento de odores e também de
alguns estímulos visuais;
5) amígdala – é a região que percebe o perigo e, portanto, associadas as
sensações de medo e ansiedade. As amígdalas também estão associadas
ao processamento das memórias emocionais;
6) hipocampo – é a estrutura responsável pela memória recente.
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34
O sistema nervoso é constituído pela substância branca e a substância
cinzenta (ver Figura 11). A substância branca é encontrada, principalmente, na parte
interna da região cerebral e nela estão localizados os axônios. A substância cinzenta
corresponde à camada mais externa do cérebro e nela estão os corpos celulares
dos neurônios.
Os neurônios são as células do tecido nervoso responsáveis por
transmissão de impulsos elétricos. São compostos de três partes (corpo celular,
dendritos e axônios), cada uma com uma função específica. A estrutura do neurônio
(Figura 12) é composta por: corpo celular, onde ocorre a síntese proteica; dendritos,
que são ramificações cuja principal função é receber estímulos; e axônios, que são
prolongamentos que se originam, em geral, do corpo celular e por meio deles são
transmitidos os impulsos (LEVADA, 1996). A porção terminal do axônio sofre várias
ramificações formando milhares de terminais onde ficam armazenados os
neurotransmissores. Ao redor do axônio são encontradas as “bainhas de mielina”,
responsáveis por acelerar o transporte de impulsos elétricos.
AN02FREV001/REV 4.0
35
As áreas do córtex são divididas em áreas primárias, correspondem às
regiões, sensitiva primária e motora primária, e em áreas de associação secundária
e terciária. As áreas de associação secundária recebem informações das áreas
primárias e as repassam para outras áreas do córtex, enquanto as áreas de
associação terciária recebem e integram informações sensoriais que já passaram
por processamento nas áreas secundárias (MACHADO, 1988).
As áreas de associação primária do cérebro, segundo Seeley et al. (2006),
podem ser vistas na Figura 13, e suas principais funções estão resumidas na Tabela 1.
AN02FREV001/REV 4.0
36
TABELA 1 - ÁREAS CORTICAIS E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES
Área Cortical Função
Córtex de Associação
Coordenar movimento complexo
Motor
Área de Associação
Processar informação auditiva
Auditiva
Área de Associação
Processar informação multissensoriais
Somestésica
AN02FREV001/REV 4.0
37
que o indivíduo deixe de fazer qualquer atividade diária que já realizava (RAZ,
1999). Por outro lado, na presença de quadros patológicos (tema do Módulo IV
deste curso), as perdas cognitivas acontecem em intensidade maior, provocadas por
alterações significativas do sistema nervoso central, e resultam em graves prejuízos
funcionais (CANÇADO; HORTA, 2002).
AN02FREV001/REV 4.0
38
por um curto período de tempo, e que envolve participação consciente no processo
de escolha e manipulação das informações a serem lembradas (BERTOLUCCI,
2000). Um exemplo desse tipo de operação é a realização de cálculos feitos
mentalmente (sem o uso de papel e lápis para visualizar os números). A memória
operacional também é chamada de memória de trabalho, mas este é um termo mais
recomendado pelos especialistas e foi empregado no português em função de uma
tradução literal do termo em inglês working memory.
O termo memória imediata é, em geral, utilizado para falar do
armazenamento de informações que dura apenas alguns segundos e não implica na
manipulação das informações como ocorre com a memória operacional. Contudo,
algumas vezes a memória imediata aparece na literatura citada como correlato da
memória operacional.
O tempo de armazenamento da memória operacional é apenas o suficiente
para que a informação seja utilizada para conclusão de uma tarefa. Depois de
concluído o procedimento que demandava a informação armazenada, ela é
descartada (BERTOLUCCI, 2000). O processo de repetição e atenção é o que
garante a manutenção deste tipo de memória e pode aumentar o tempo de
armazenamento da mesma, mas não a torna permanente. Quando a informação
precisa ser armazenada para além do cumprimento de uma tarefa ela passa a ser
uma memória de longo prazo.
A memória de longo prazo é dividida em memória explícita ou declarativa e
memória implícita ou não declarativa. A memória explícita corresponde ao
armazenamento e à recordação de eventos, de lembranças que podem ser
declaradas verbalmente ou com a lembrança de imagens do fato ocorrido (BUENO;
OLIVERIA, 2004).
A memória explícita está subdivida em memória semântica e memória
episódica. A semântica envolve o conhecimento de fatos que não estão
temporalmente delimitados, isto é, o indivíduo não é capaz de identificar em que
momento adquiriu determinada informação. Trata-se da memória de conceitos, de
conhecimentos gerais sobre o mundo adquiridos ao longo da vida. A memória
episódica é relacionada ao tempo, e a memória dos acontecimentos da vida
conhecida como a memória autobiográfica, embora não se restrinja aos eventos
pessoais (BUENO; OLIVERIA, 2004).
AN02FREV001/REV 4.0
39
A memória implícita envolve o armazenamento de habilidades motoras e
condicionadas que exigem a participação consciente para que sejam emitidas,
isto é, não é necessário pensar nelas ou declará-las verbalmente para emissão
do conhecimento aprendido. Fazem parte da memória implícita as memórias
obtidas por condicionamento, como: memórias de procedimento; memórias
associativa e não associativa; e memória de representação perceptual (BUENO;
OLIVERIA, 2004).
A memória de procedimento envolve toda habilidade e comportamentos
habituais como, por exemplo, escovar os dentes e andar de bicicleta. As memórias,
associativa e não associativa são àquelas obtidas por condicionamento clássico,
como aprendizados obtidos a partir da exposição a estímulo associados (BUENO;
OLIVERIA, 2004). Por exemplo, uma sirene pode ser um alerta para o qual nosso
reflexo seria ficar atento à fonte que causou o barulho, contudo, se a sirene ocorrer,
frequentemente, em seu ambiente e não exigir reação, sem que você se dê conta
conseguirá ouvi-la e ignorá-la de forma automática, pois um armazenado da
memória implícita indica que este barulho corresponde a algo a ser ignorado e não a
um alerta que demanda resposta. A memória de representação perceptual
corresponde àquelas memórias para as quais podemos não ter registros
padronizados, mas permitem algum tipo de reconhecimento evocado por “pistas”
(priming). Por exemplo, fragmentos de imagens, odores, sons, partes de um texto
podem ser armazenados mesmo sem que sejam estabelecidas conexões completas
sobre esta informação, ou seja, mesmo sem saber o que é ou para que serve algo é
possível armazená-lo em nossa memória de representação perceptual.
Os subsistemas da memória de longo prazo, bem como as diferentes
regiões cerebrais envolvidas em cada um deles, foram resumidos no esquema de
Helene e Xavier (2003), apresentado na Figura 14.
AN02FREV001/REV 4.0
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FIGURA 14 - TAXONOMIA DOS SISTEMAS DE MEMÓRIA DE LONGO PRAZO
AN02FREV001/REV 4.0
41
do lobo temporal medial – parece ser a responsável por modular alguns conteúdos
da memória declarativa conferindo-lhes uma espécie de alerta, um destaque
(BUENO; OLIVERIA, 2004). As experiências de caráter afetivo seriam processadas
na fase de codificação via amígdala, que lhes confere uma facilitação na percepção.
Assim, no momento da evocação estas lembranças emocionalmente armazenadas
estariam mais vívidas que aquelas não processadas no sistema límbico.
3.3 ATENÇÃO
AN02FREV001/REV 4.0
42
estímulo é influenciada pelo significado que os estímulos têm para quem o processa.
Então, por exemplo, na situação onde uma pessoa focada em conversa escuta seu
nome em uma conversa paralela, da qual não está participando, imediatamente o
sistema atencional o filtra como informação relevante, à qual precisa responder. O
próprio nome é sempre tido como estímulo relevante pelo sistema atencional pelo
significado que a história de vida atribuiu a este estímulo.
O efeito Stroop evidencia que estímulos sobrepostos influenciam no
processo atencional resultando na redução da velocidade de processamento das
informações e, consequente aumento do tempo de resposta. No teste de Stroop
(1935) observa-se que ao solicitar ao respondente que diga em voz alta a cor com a
qual uma palavra está escrita (estímulo a ser focado), o tempo de resposta é maior
quando a palavra colorida (estímulo a ser ignorado) é o nome de uma cor diferente
daquela que deve ser mencionada (resposta esperada), por exemplo, a palavra
“verde” escrita na cor vermelha demanda a reposta vermelho, mas para emiti-la o
respondente tem que inibir o estímulo verde dado pela palavra escrita.
O efeito das pistas visuais é observado quando, diante de pistas visuais,
ocorre uma melhora do tempo de resposta atencional que pode ser explicada pelo
aumento do tempo de alerta diante de um estímulo visual (uma pista) (NABAS;
XAVIER, 2004). Um exemplo dos benefícios dos efeitos das pistas para melhora no
tempo de resposta é o uso de placa de advertência nas rodovias onde o motorista
ao visualizar a placa (pista) fica alerta e responderá mais prontamente ao estímulo
que virá adiante (curvas, desvios, etc.) do que responderia se não houvesse a placa
de advertência.
O funcionamento da atenção relaciona-se com o de outras funções
cognitivas. Desta forma, prejuízos atencionais podem resultar na alteração de outras
funções cognitivas e vice-versa. No caso da memória, por exemplo, a atenção é
imprescindível no momento da seleção da informação a ser armazenada e lembrada
posteriormente (NABAS; XAVIER, 2004).
Prejuízos nas funções executivas também podem estar associados a
alterações da atenção como distração, perseveração, suscetibilidade para intrusão,
lentidão das reações aos estímulos, dificuldade da manutenção em um único foco e
na inibição de estímulos irrelevantes (LEFEVRE; PORTO, 2006).
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43
Alterações da atenção relacionadas ao aumento da idade são citadas como
a base para diversas ineficiências cognitivas entre idosos e podem resultar em
dificuldades na realização das tarefas diárias (BERTOLUCCI, 2000). Além disto,
alguns mecanismos gerais que mostram declínio associado à idade e podem
interferir na atenção são:
a diminuição da velocidade de processamento da informação;
a piora na memória de trabalho;
os déficits sensoriais como diminuição da acuidade visual e auditiva.
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44
QUADRO 1 - FUNÇÕES E DESORDENS
RELACIONADAS AOS LOBOS FRONTAIS
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3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
AN02FREV001/REV 4.0
46
1) instrumentos não padronizados, 2) instrumentos padronizados de
avaliação do desempenho comunicativo e 3) escalas de mensuração da
linguagem funcional. Essas três classes de instrumentos de avaliação
neuropsicológica da linguagem podem ser subdivididas em formais ou
funcionais, a partir do grau de aproximação com o dia a dia da
comunicação. Os instrumentos de avaliação formal da linguagem podem ser
considerados mais artificiais. Isso porque avaliam a linguagem com tarefas
distantes do dia a dia comunicativo dos pacientes. As avaliações funcionais
da linguagem complementam as formais. São constituídas por subtestes ou
itens que examinam a linguagem funcional, ou seja, consistem em
avaliações orientadas para a demanda comunicativa da vida diária dos
pacientes que sofreram lesões cerebrais.
AN02FREV001/REV 4.0
47
4) execução da série de movimentos elementares que integram um ato
(chamada fórmula cinética global do movimento).
Alterações das habilidades visuoconstrutivas podem ocorrer sem que
prejuízos do funcionamento visuoperceptivo estejam presentes, de forma que os
testes neuropsicológicos devem ser empregados para distinguir entre alterações
sensoriais, apraxias, desorientação espacial e dificuldades atencionais e/ou
resultantes da motivação (LEFEVRE; PORTO, 2006). No caso de apraxia, por
exemplo, ocorre uma disfunção da motricidade que não pode ser explicada por
paralisia, fraqueza muscular ou prejuízo na compreensão sobre o que se deve fazer.
O declínio ocorre nas habilidades de planejamento, organização e execução da
sequência correta para concluir o ato desejado. As desordens cognitivas estão
detalhadas por função cognitiva no Módulo IV deste curso.
FIM DO MÓDULO II
AN02FREV001/REV 4.0
48
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
Aluno:
AN02FREV001/REV 4.0
49
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
MÓDULO III
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
AN02FREV001/REV 4.0
50
MÓDULO III
AN02FREV001/REV 4.0
51
em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e
a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (FONSECA et al., 2009). Uma
versão para uso em crianças vem sendo estudada (SALLES et al., 2011).
O instrumento deve ser utilizado para levantamento do perfil do paciente de
forma a descrever as funções preservadas e aquelas com comprometimento,
fornecendo uma base para a avaliação neuropsicológica mais aprofundada.
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52
A pontuação do instrumento varia de 0 a 30 pontos e é obtido com a soma
dos pontos em cada tarefa.
A versão original deste instrumento foi elaborada por Folstein et al. (1975) e
diferentes versões foram adaptadas e sugeridas para uso na população brasileira com
seu respectivo ponto de corte (BRUCKI et al., 2003; LOURENÇO; VERAS, 2006).
O Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s Disease, conhecido
como CERAD (MORRIS et al.,1989), reúne uma bateria de testes neuropsicológicos
utilizada para auxiliar no diagnóstico de demência em fase inicial. No Brasil, os
testes da bateria CERAD foram traduzidos por Bertolucci et al. (1998). Nesta bateria
estão incluídos: os testes de fluência verbal; de nomeação de Boston (versão
reduzida); de memória, evocação e reconhecimento de uma lista de palavras; de
praxia construtiva (cópia de figuras geométricas) e evocação tardia das figuras; de
trilhas; e o MEEM. Cada teste incluído nesta bateria foi detalhado a seguir na
respectiva função cognitiva que o mesmo avalia.
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53
comunitária; 5) atividades no lar ou de lazer; e 6) cuidados pessoais. Cada uma
dessas seis categorias deve ser classificada em:
0 (nenhuma alteração);
0,5 (questionável);
1 (demência leve);
2 (demência moderada);
3 (demência grave), exceto a categoria cuidados pessoais, que não tem
o nível 0,5.
Para se chegar à classificação final, também varia de 0 a 3, deve-se analisar
o escore obtido nas seis categorias cognitivo-comportamentais. A categoria memória
é considerada principal, ou seja, com maior significado, e as demais categorias são
secundárias. Então, para se chegar ao escore global é necessário basear-se no
escore da memória e verificar a dispersão em relação a esta categoria. Apesar da
relevância de memória para a pontuação no CDR, é fundamental não superestimar o
comprometimento desta função memória em detrimento das demais funções
preservadas. Profissionais que desconsideram as potencialidades do paciente ao
considerar somente seus prejuízos podem contribuir para um declínio acelerado da
funcionalidade do paciente.
Não há notas de corte estabelecidas pelo desempenho populacional, pois o
comprometimento é baseado no princípio da mudança intraindividual, isto é, os
indivíduos são comparados ao seu próprio desempenho passado.
É importante lembrar que o CDR não faz o diagnóstico etiológico de
demência, para isso devem ser utilizados instrumentos específicos.
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54
ambiente”. A versão atualmente utilizada para avaliação de adultos é a Wechsler
Adult Intelligence Scale – WAIS-III (Escala de Inteligência Wechsler para Adultos)
(WECHSLER, 1997) e a versão para crianças é a Wechsler Intelligence Scale for
Children Fourth Edition – WISC-IV (Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
Quarta Edição) (WECHSLER, 2003). As Escalas de Inteligência de Wechsler
possuem padronização para uso na população brasileira, devem ser aplicadas
individualmente e o tempo de aplicação é de, aproximadamente, 90 minutos.
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55
Índice de Organização Perceptual – refere-se à habilidade de raciocínio
não verbal, a aptidão para perceber, organizar, integrar estímulos
espaciais/visomotores. Para sua avaliação, são utilizados os seguintes
subtestes: completar figuras, cubos e raciocínio matricial;
Índice de Memória Operacional – trata-se de uma mensuração da
memória de trabalho, e da capacidade de atenção, de concentração e de
planejamento e controle mental. Portanto, refere-se à habilidade de retenção
de informação por período de tempo apenas suficiente para manipulação
desta informação e produção de um resultado ou raciocínio desejado. Este
índice é avaliado por meio dos subtestes de aritmética, dígitos e sequência
de números e letras;
Índice de Velocidade de Processamento – envolve as funções da
atenção, da memória e da concentração para que uma informação visual
seja processada sem distração. Permite avaliar a resistência à estímulos
distratores fornecendo uma medida da velocidade de processamento da
informação. Para sua avaliação, são utilizados os seguintes subtestes:
códigos e procurar símbolos.
O WAIS-III é utilizado, principalmente, para avaliação da capacidade
intelectual. Contudo, conforme descrito em revisão de Lopes et al. (2012), seus
diversos subtestes são úteis em diversos propósitos diagnósticos:
testagem de dificuldades de aprendizagem ou identificação de
superdotados;
predizer desempenho acadêmico;
auxiliar no diagnóstico de deficiência mental;
descrever alterações em funções cognitivas específicas para auxiliar no
diagnóstico diferencial de quadros neuropsicológicos. Por exemplo, com a
avaliação de alterações das funções executivas pode-se esclarecer sobre a
presença de quadros como o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).
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4.2.1.1 Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)
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4.2.3 Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV)
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4.3 TESTES DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
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4.3.2 Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD
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4.3.3 Teste de Memória de Figuras
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4.3.4 Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR)
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FIGURA 15 - EXEMPLO DE TAREFA DE CANCELAMENTO NA ETAPA UM DO
TESTE DE MONTIEL E CAPOVILLA
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FIGURA 17 - EXEMPLO DA TAREFA DE CANCELAMENTO NA ETAPA TRÊS DO
TESTE DE MONTIEL E CAPOVILLA
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4.4.3 Teste de Trilhas
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65
et al., Manos & Wu e Shua-Haim (para revisão, ver Atalaia-Silva e Lourenço, 2004)
(ATALAIA-SILVA; LOURENÇO, 2008).
O TDR é útil no rastreio de quadros demenciais, pois é um instrumento
breve e de fácil aplicação, sensível aos prejuízos da memória, do funcionamento
executivo e das habilidades visuoespaciais de indivíduos idosos (NITRINI et al.,
2005). Contudo, é importante considerar que o desempenho neste teste é
influenciado pelo nível de escolaridade do respondente, não sendo recomendado
para uso entre pessoas com menos de cinco anos de estudo.
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4.5.3 Torre de Hanói, Torre de Londres e Torre de Toronto
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4.6 TESTES DE RACIOCÍNIO E LINGUAGEM
Os Testes de Fluência Verbal são de fácil e rápida aplicação. Por isto, são
recomendados para uso em triagens e rastreio de declínio cognitivo e são incluídos
nas baterias neuropsicológicas a fim de auxiliar no diagnóstico. Tratam-se de tarefas
nas quais se solicita ao respondente que evoque palavras em um período limitado
de tempo, em geral, um minuto. Durante este tempo, é normal que o número de
palavras evocadas seja maior nos primeiros 15 segundos e pode ir reduzindo,
gradualmente, até o fim do tempo estipulado. Contudo, na presença de patologias
essa evocação pode estar comprometida e o indivíduo apresente desempenho
diferente do esperado, como: não evocar palavras nos primeiros segundos; repetir
as mesmas palavras; evocar um número reduzido de palavras.
Estes testes foram inicialmente propostos para avaliação de lesões no lobo
frontal em pacientes adultos, sendo utilizados para avaliação de diversas funções
cognitivas, como: funções executivas; pensamento abstrato; flexibilidade cognitiva e
uso de estratégia; velocidade de processamento; memória semântica. No que se
refere à linguagem, avalia a capacidade para organizar e recuperar palavras
foneticamente, para procurar palavras de categorias específicas armazenadas na
memória, o conhecimento de palavras. Os testes mais utilizados buscam avaliar a
fluência verbal semântica e a fluência verbal fonêmica.
No teste de fluência verbal semântica (categoria animais) é solicitado ao
respondente que fale todos os animais que conseguir se lembrar espontaneamente.
São pontuados todos os animais mencionados pelo respondente no período de um
minuto. A fluência verbal avaliada por este teste depende da capacidade de acesso
semântico e da riqueza de vocabulário do respondente. Testes de fluência verbal
avaliam a linguagem e também o funcionamento executivo.
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68
No Brasil, os pontos de corte sugeridos para adultos são de nove animais
por minuto para indivíduos com até oito anos de escolaridade e de 13 animais por
minuto para aqueles com mais de oito anos de escolaridade (BRUCKI et al., 1997).
Em estudo realizado com adultos brasileiros para verificar efeitos da
escolaridade, foi apresentada a média de animais lembrados para grau de
educação: para analfabetos, média de 12,1 animais; para 1 a 4 anos de estudos,
12,3 animais; para 5 a 8 anos, 14,0; para 9 a 11 anos, 16,7; e, para mais de 11 anos
de estudos, 17,8 animais (BRUCKI e ROCHA, 2004).
Outras categorias semânticas que podem ser utilizadas são: nomes de
frutas; nomes próprios de pessoas, peças do vestuário; entre outros. Contudo, não
existe normatização destes outros formatos para uso no Brasil.
No teste fluência verbal fonêmica – letras FAS – é solicitado ao respondente
que diga o máximo de palavras que conseguir se lembrar iniciadas com as letras “F”,
“A” e “S”, sendo fornecido o comando para cada letra, separadamente. O tempo
dado ao respondente é de um minuto para cada letra. O escore total é a soma de
palavras evocadas com as três letras.
O teste vem sendo utilizado no Brasil, principalmente, no âmbito da pesquisa
e na clínica para avaliação de quadros de afasia, com o intuito de verificar não só a
fluência verbal fonêmica, mas também para avaliação da memória semântica e de
disfunção executiva decorrentes de agravos em regiões cerebrais como o lobo
frontal e as estruturas temporais. Contudo, este teste sofre influência da idade e da
escolaridade, sendo ainda necessários dados normativos para estabelecer pontos
de corte adequados para a população brasileira. Dados internacionais são utilizados
para a pontuação, mas sem a certeza de que os mesmos se aplicam à nossa
população (BENTON, 1989; STRAUSS, 2006).
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69
4.6.2 Teste de Nomeação de Boston (versão reduzida)
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70
4.6.4 Testes de Leitura e Escrita
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4.7.2 Figuras Complexas de Rey
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4.7.5 Subteste Quebra-Cabeça do WISC
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distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática,
diminuição de libido.
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por 15 perguntas com respostas do tipo sim ou não. Para cada resposta depressiva
é contado um ponto, sendo o escore a partir de seis indicativo de presença de
depressão.
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5.2.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD)
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A seguir, são apresentados alguns instrumentos que avaliam a capacidade
de um indivíduo realizar de forma independente as AVDs e neles são exemplificados
os tipos de atividades entendidas como básicas, instrumentais e avançadas.
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77
Os domínios de atividades de vida diária avaliados pelo FAQ são:
administração de finanças; realização de compras; entretenimentos/passatempos;
preparo refeição completa e de café/chá; e compreensão de programas de TV ou
leituras; atenção eventos/notícias atuais; lembrar-se de eventos; e sair de casa
sozinho.
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78
entrevista busca comparar as alterações no desempenho do indivíduo avaliado ao
longo de vários anos. Este instrumento tem se mostrado válido para o rastreio e
diagnóstico da síndrome demencial na fase inicial. Entre as vantagens desta escala
está a de poder ser aplicado em paciente com grande comprometimento e/ou
instáveis e que, geralmente, não podem ser submetidos a avaliações
neuropsicológicas. Além disto, corresponde a uma forma de avaliar efeitos do
prejuízo cognitivo nas demandas ambientais.
Para cada pergunta do questionário deve ser respondida a seguinte reposta:
muito melhor (1) ; um pouco melhor (2); não houve mudança (3); um pouco pior (4 );
muito pior (5). O escore final é dado pela soma ponderada dos itens, dividindo-os
pelo total de itens da escala. O total varia de um a cinco, sendo a pontuação menor
ou igual a três indicativo de alguma alteração; a pontuação quatro indica uma
alteração considerável, e cinco muita alteração (SANCHEZ; LOURENÇO, 2009).
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
Aluno:
AN02FREV001/REV 4.0
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CURSO DE
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
MÓDULO IV
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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MÓDULO IV
6 DESORDENS COGNITIVAS
6.1.1 Amnésia
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82
este paciente mantinha preservada sua inteligência e era capaz de manter um
diálogo de forma coerente desde que não interrompido por algum tipo de distração.
Outros quadros clínicos nos quais os pacientes sofrem lesões focais ou
unilaterais no lobo medial podem diferir da síndrome amnésica e ser considerados
como quadros de amnésia mais restrita. Quanto menor a área lesionada, mais
restrito será o prejuízo de memória. Algumas condições que podem levar a uma
amnésia restrita são: rupturas de aneurisma, anoxia, tumores cerebrais, infecções,
traumatismos cranianos, etc. (BUENO; OLIVERIA, 2004). Nestes quadros as
alterações apresentadas dependerão da área lesionada; em casos de lesões do lobo
temporal esquerdo, por exemplo, os prejuízos estarão associados à memorização de
informação verbal.
Na amnésia retrógrada o principal sintoma é a dificuldade de lembrar-se de
evento do passado. Nestes quadros o paciente aprende novas habilidades sem
dificuldade. Alguns quadros de amnésia retrógrada são descritos como amnésia
dissociativa ou psicogênica, na qual o prejuízo de memória é explicado por
distúrbios ou traumas emocionais. Contudo, nestes quadros a principal característica
é a dificuldade de lembrar-se de acontecimentos pessoais importantes, isto é, a
amnésia não se daria para todos os eventos do passado, mas seriam lacunas na
memória de alguns eventos da história de vida do paciente nos quais foram
atribuídas grande carga emocional, como em casos de abusos sexuais ou de
presenciar catástrofes ou episódio violento. Nestes quadros é comum a presença de
sintomas psiquiátricos como depressão e despersonalização.
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Na síndrome de Korsakoff, os prejuízos também ocorrem na memória
retrógrada com dificuldades para lembrar-se de eventos remotos, como os
acontecimentos da infância, e de outras funções cognitivas como a capacidade para
solucionar problemas e dificuldades nas habilidades motoras. Estão preservadas as
capacidades de memória imediata e de procedimento, por isto o paciente pode ainda
mostrar-se capaz de realizar tarefas complexas que envolvem condicionamento
obtido antes do aparecimento da síndrome.
As regiões cerebrais afetadas nesta doença são, principalmente, as
estruturas do diencéfalo. Por isto, esta síndrome também é chamada de amnésia
diencefálica (BUENO; OLIVEIRA, 2004).
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Os subtipos de CCL quanto ao número de domínios cognitivos
comprometidos são (WINBLAD et al., 2004):
CCL de domínio único – quando apenas uma função cognitiva está
comprometida;
CCL de multidomínio – quando há o comprometimento de duas ou mais
funções cognitivas.
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85
DA consiste em processo neurodegenerativo que, inicialmente, acomete a região
hipocampal, e depois as áreas corticais associativas e implicam em déficit na
memória episódica de longo prazo e na memória de curto prazo. Em casos de início
precoce, antes dos 65 anos, os prejuízos de memória e de linguagem são mais
frequentes nas fases iniciais da doença e nos indivíduos acometidos mais
tardiamente ou entre aqueles que chegam às fases avançadas da doença surgem
sintomas psicóticos como delírios e alucinações (GIL; BUSSE, 2009). Além disto,
pacientes com DA podem apresentar prejuízos nas tarefas de nomeação, fluência
verbal, e vocabulário, e em consequência dos prejuízos cognitivos são acometidos
por graves e progressivos declínios da capacidade para realizar as atividades de
vida diária.
Veja alguns cuidados a seguir.
1) O critério para o diagnóstico clínico de doença de Alzheimer provável
inclui:
a) demência estabelecida por exame clínico e documentada por
testes neuropsicológicos;
b) déficit em duas ou mais funções da cognição;
c) declínio progressivo da memória e outras funções cognitivas;
d) ausência de distúrbio da consciência;
e) início entre 40 e 90 anos, mais frequentemente após 65 anos; e
f) ausência de doenças sistêmicas ou outras doenças cerebrais que,
por si, poderiam ser responsáveis pelos prejuízos progressivos de
memória outras funções cognitivas.
2) O diagnóstico de doença de Alzheimer provável tem como
características:
a) deterioração progressiva de funções cognitivas específicas como
linguagem (afasia), habilidades motoras (apraxia), e percepção
(agnosia);
b) prejuízo em atividades de vida diária e padrões alterados de
comportamento;
c) história familiar de distúrbios similares, particularmente se houver
confirmação neuropatológica; e
d) resultados laboratoriais de:
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líquido cefalorraquidiano normal por técnicas padrão;
padrão normal ou alterações inespecíficas no
eletroencefalograma, tais como aumento da atividade de ondas
lentas,
evidência de atrofia cerebral na tomografia computadorizada
(TC) de crânio com progressão documentada por observação
seriada.
A segunda causa mais frequente de síndrome de demência em idosos é a
demência vascular (DV), cujo subtipo mais comum é a demência por múltiplos
infartos, que é resultante de efeitos de graves lesões tromboembólicas. Outros
subtipos de demência vascular são: as causadas por estados lacunares; por lesões
únicas em regiões específicas como tálamo, giro angular esquerdo, núcleo caudado;
por lesões extensas da substância branca e conhecida como doença de
Binswanger; por angiopatia amiloide e aquelas decorrentes de demência de
acidentes vasculares cerebrais (ROMÁN et al., 1993; ROMÁN et al., 2002;
TATEMICHI et al., 1993). O quadro de DV tem início abrupto após acometimento por
um acidente vascular cerebral ou um ataque isquêmico transitório e sua evolução
ocorre de forma flutuante ou com deterioração em degraus.
Existem diversos fatores de risco para DV, entre os quais estão: hipertensão
arterial sistêmica, diabetes, tabagismo, alcoolismo, doença cardíaca, aterosclerose,
dislipidemia e obesidade.
Outro tipo de demência é a chamada demência por corpos de Lewy (DCL),
que ocorre a partir da presença de corpos de Lewy em regiões corticais e
subcorticais do encéfalo. O quadro se manifesta com os seguintes sintomas:
flutuações do desempenho cognitivo e do nível de consciência; alucinações visuais
vívidas; confusão mental recorrente; e sintomas parkinsonianos, como rigidez e
distúrbio na marcha, podendo ocorrer quedas, síncope, perda transitória da
consciência, e delírios (CAIXETA, 2004). As flutuações podem ocorrer em intervalos
de dias, horas ou minutos. Os corpos de Lewy também podem surgir no processo de
envelhecimento normal do cérebro e estar presentes em pacientes acometidos pela
DA, mas sempre em quantidades pequenas se comparadas ao que se observa em
pacientes com DCL (TAVARES; AZEREDO, 2003).
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Existem quadros de declínio cognitivo que ocorrem a partir de causas
tratáveis e são chamados demência reversível. A partir de um tratamento adequado
do agravo que levou aos prejuízos cognitivos é possível uma regressão do quadro
demencial, embora a minoria dos pacientes apresente uma recuperação completa
(FORNARI et al., 2010). São exemplos de causas reversíveis de demência: a
hidrocefalia de pressão normal; o hipotireoidismo, a deficiência de vitamina B12 ou
ácido fólico.
O líquido cefaloraquidiano (líquor) é produzido dentro dos ventrículos
cerebrais e, na ausência de patologia, flui através de vias de um ventrículo ao outro, e
então para fora do cérebro através da medula espinhal. Se houver alguma obstrução
das vias de drenagem do líquor, o fluido se acumula no cérebro, causando um
inchaço, a hidrocefalia. Em bebês, ocorre um alargamento da cabeça; nas crianças
mais velhas e em adultos não ocorre esse alargamento porque os ossos do crânio já
estão unidos e impedem essa expansão do fluido. Nos quadros clínicos em adultos
que apresentam a chamada hidrocefalia de pressão normal ocorre a presença de três
agravos: a demência, o distúrbio de marcha e a incontinência urinária. Nestes
quadros, a demência é de início insidioso e se apresenta, principalmente, com
alterações de memória (GALLUCCI NETO et al., 2005).
No quadro de alterações cognitivas decorrentes de hipotireoidismo observa-
se prejuízos da memória e da atenção; podendo ocorrer sintomas psicóticos
(RIBEIRA et al., 2004).
Em casos de deficiência de vitamina B12, as principais alterações cognitivas
são: prejuízos do funcionamento cognitivo global, lentificação mental, alterações de
memória; dificuldade de concentração.
Existem ainda outras causas que levam ao prejuízo cognitivo que podem
caracterizar uma de demência reversível, entre elas: traumatismo craniano;
exposição a metais pesados (arsênico, mercúrio, alumínio, lítio, chumbo); medicação
(TRIPATHI; VIBHA, 2009); e também quadros de infecções disseminadas pelo
sistema nervoso central. Em casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV) e a neurossífilis, por exemplo, é possível observar dificuldade de
concentração, prejuízos de memória e das funções executivas, além de distúrbios de
comportamento (RIBEIRA et al., 2004; GALLUCCI NETO et al., 2005).
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Outra patologia que pode levar a graves alterações cognitivas e pode
demandar um diagnóstico diferencial da síndrome demencial em estágios iniciais é a
depressão. Em quadros de depressão grave é comum a presença de: prejuízos de
memória e de atenção; o rebaixamento da velocidade de processamento mental;
além de sintomas psiquiátricos como a irritabilidade; apatia; e as alterações de
aspectos da personalidade (FORNARI et al., 2010). Para os quadros em que as
alterações cognitivas de uma depressão se assemelham ao da síndrome demencial
utiliza-se os testes de funções executivas, tendem a não ajudar na diferenciação
entre pacientes deprimidos e aqueles com demência em fase inicial. Ao contrário, os
testes de atenção e de memória e reconhecimento verbal, principalmente, nas
tarefas que utilizam distratores entre as tarefas de evocações imediata e tardia, são
recomendados, pois indivíduos deprimidos tendem a armazenar a informação e
evocá-la após intervalo, diferente dos pacientes com demência, principalmente do
tipo Alzheimer, que esquecem a maior parte da informação após intervalo e
apresentam desempenho pior o teste de reconhecimento comparado aos deprimidos
(ÁVILA; BOTTINO, 2006).
É preciso considerar que em alguns casos a depressão pode ser um sintoma
da demência em sua fase inicial. Em pacientes, por exemplo, que declínio cognitivo
progride caracteriza-se a síndrome demencial não reversível e classificar este
quadro como uma pseudodemência seria um erro de diagnóstico (GANGULI, 2009).
Se sintomas depressivos são anteriores ao declínio cognitivo, mas este último
persiste, mesmo ao ser tratada a depressão, é preciso desconfiar da demência e
buscar sua verdadeira causa (FORNARI et al., 2010).
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6.2 DISTÚRBIOS ATENCIONAIS
Esse transtorno também é considerado uma síndrome disexecutiva, por conta dos
prejuízos no funcionamento executivo.
rias.
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O diagnóstico do TDAH ou DDA em adultos é mais complicado, pois os
sintomas de impulsividade e déficit de atenção apresentam maior diversidade de
manifestações como, por exemplo, a desorganização em atividades do trabalho e
problemas com a tomada de decisão sem medir as consequências. Além de serem,
frequentes, as comorbidades em decorrência do próprio TDAH e os prejuízos
funcionais na execução de atividades de vida diária. Nestes quadros com
sintomatologia diversa o diagnóstico diferencial com outros transtornos psiquiátricos
é imprescindível.
Entre as desordens mentais cujos sintomas podem ser confundidos com o
TDAH, principalmente, em adultos estão: depressão maior; transtorno de ansiedade;
abusos de substância; e os transtornos de personalidade Borderline e antissocial.
Avaliações das funções cognitivas, principalmente para identificação dos
prejuízos atencionais e das funções executivas bem como na manutenção de outras
funções diferenciando-se de como elas ocorrem nos demais transtornos mentais,
podem auxiliar no diagnóstico de TDAH em adultos.
Pacientes com TDAH tendem a apresentar baixo desempenho nos testes de
atenção e nas baterias frontais, mas tendem a um escore global nos testes
padronizados de inteligência o que demonstra prejuízo em funções específicas neste
transtorno.
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6.3.2 Demências frontotemporais (DFTs)
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Alguns transtornos psiquiátricos também envolvem prejuízos das funções
cognitivas, alguns deles são: esquizofrenia, o transtorno obsessivo compulsivo, o
transtorno afetivo bipolar, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade. Este último
será detalhado junto às desordens que levam a déficits atencionais. O diagnóstico
de transtornos psiquiátricos muitas vezes não demanda avaliação neuropsicológica,
visto terem outros sintomas que definem a presença do transtorno, sendo na maioria
das vezes em que se aplica a avaliação das funções cognitivas voltadas para
elaboração de programas de reabilitação.
6.4.1 Afasias
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marcantes são a estereotipia e outros comprometimentos graves de
compreensão (oral ou escrita);
afasia de condução – a lesão ocorre no fascículo arqueado (região que
associa a área de Wernicke e a área de Broca) marcada pela incapacidade
na coordenação entre o raciocínio e as palavras expressas o que pode ser
percebido por sintomas como prejuízos em tarefas de repetição, ditados e
leitura em voz alta, presença de parafonias na linguagem espontânea, etc.;
afasia transcortical sensorial – lesão do hemisfério dominante, no giro
temporal médio e inferior, caracterizada pela fala fluente, mas com uso de
jargões e pela presença de agnosias;
afasia transcortical motora – lesão do hemisfério dominante na área
fronto-dorso-lateral e na área motora suplementar frontal, caracterizada pela
compreensão preservada, mas a fala não fluente marcada por dificuldades
de iniciar a fala, ecolalia, preseverações, parafrasias, etc.;
afasia transcortical mista: lesão do hemisfério dominante na área motora
e na transcortical sensorial, caracterizada por hemiparesia à direita, ecolalia,
comprometimento da nomeação e da compreensão (oral e escrita), etc.
As afasias podem ser decorrentes de diferentes causas, algumas delas são:
tumores cerebral lesão do corpo caloso; acidente vascular cerebral (AVC);
traumatismo cranioencefálico; infecções (como a meningite); esclerose múltipla;
demências; transtornos do desenvolvimento psicológico; epilepsia, etc.
(JAKUBOVICZ; CUPELLO, 2005).
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As alterações na organização e no reconhecimento dos estímulos
percebidos são conhecidas como agnosias. Segundo Cummings e Mega (2003),
agnosia é uma síndrome clínica na qual o indivíduo é incapaz de reconhecer um
material, um objeto, por exemplo, mesmo não apresentando qualquer
comprometimento da percepção sensorial do mesmo. As agnosias podem ser
visuais, táteis ou auditivas e ocorrem em decorrência de lesões nas áreas de
associação secundária do córtex cerebral.
Nas agnosias visuais, lesões cerebrais ocorrem nas áreas de associação
visual, sendo preservada a percepção do estímulo visual o comprometimento é no
estágio de reconhecimento daquilo que é visto. Na agnosia visual para objetos, por
exemplo, o indivíduo não consegue reconhecer um objeto quando este lhe é
apresentado, mesmo que seja capaz de descrever sua funcionalidade, sua forma ou
qualquer outra forma de identificação de um objeto conhecido.
Na chamada agnosia associativa a incapacidade de reconhecimento do
objeto pode ser percebida pelas inabilidades de: nomear um objeto; fazer imitações
de atos motores que demonstrem o uso de objetos; fazer categorizações e
associações semânticas com objetos.
Outros tipos de agnosias visuais são:
agnosia para cores – o paciente pode não reconhecer as cores seja no
âmbito perceptivo ou no reconhecimento verbal e conceitual da cor, isto é,
pode negligenciar várias cores, enxergando por exemplo somente o preto e
o branco, ou não conseguir nomear as cores (anomia para cores);
prosopagnosia – o paciente não consegue reconhecimento de uma face
conhecida. O paciente falha, não reconhece a face de seus próprios
familiares e nem mesmo a sua própria imagem é reconhecida. O paciente
pode reconhecer alguém pela voz, pela roupa que a pessoa está utilizando
em determinada ocasião, por exemplo, mas não consegue associar a face
de forma a discriminar as pessoas e reconhecer-lhes em momento posterior.
Agnosia auditiva ocorre quando o reconhecimento de sons está alterado. A
agnosia auditiva pode ser aperceptiva ou associativa. Na agnosia aperceptiva ocorre
a inabilidade para emparelhar sons idênticos; e na associativa, apesar de
emparelhar os sons, o paciente não consegue identificá-los, por exemplo, não
consegue atribuir a um carro o barulho de uma buzina. Este tipo de agnosia pode
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ser seletivo, não aplicando a todo tipo só, o paciente pode, por exemplo, ser capaz
de reconhecer músicas, mas não o barulho de animais; ou pode ser também musical
e o paciente não estar apto a reconhecer melodias, ritmo, duração, timbre. Está ou
não associada a afasia. Existem ainda relatos de agnosias que afetam a
identificação de quem fala – como na fonoagnosia, na qual a voz de um conhecido
não é reconhecida, assim como ocorre na prosopagnosia com as faces conhecidas.
Nas agnosias tácteis o indivíduo é incapaz de reconhecer objetos por meio
da percepção tátil (palpação). Um tipo específico da agnosia tátil é a
assomatognosia, que trata-se de incapacidade de reconhecimento do esquema
corporal.
A chamada negligência unilateral é o distúrbio no qual o indivíduo falha em
responder a estímulos em uma metade do espaço. Em testes de cancelamento ou
de cópia de figuras é possível perceber a presença deste tipo de negligência quando
o paciente executa a tarefa cancelando objetos somente em metade da folha ou se
copia o desenho parcialmente ignorando a metade direita ou esquerda da figura a
ser copiada (LEFEVRE; PORTO, 2006).
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limitações ou com as alterações comportamentais apresentadas pelo paciente em
seu contexto cotidiano. Neste tipo de reabilitação, é comum empregarmos
estratégias como orientações educacionais, compensação com uso de recursos
externos e as modificações ambientais. Entre alguns dos recursos utilizados,
principalmente para reabilitação da memória, da atenção e do funcionamento
executivo, estão: uso de dispositivos eletrônicos (alarmes, telefones celulares,
computadores, gravadores, calculadoras, etc.); técnicas escritas (agendas, quadros
e bilhetes de anotações com recados e listas, calendários, cartazes etc.). Dessa
forma, procura-se tornar o meio mais seguro ao paciente, minimizando. Entre as
estratégias de modificações, estão: redução de estímulos irrelevantes nos locais
(cômodos, armários, gavetas) onde são guardados objetos de uso frequente (óculos,
chaves, etc.); uso de listas para execução de tarefas que demandam sequê
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FIGURA 18 - MODELO DE REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
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Um programa de reabilitação neuropsicológica inclui os procedimentos
realizados junto ao paciente e também as orientações de manejo que devem ser
conduzidas com familiares/cuidadores. Gindri et al. (2012) apresentaram um modelo
de reabilitação neuropsicológica (Figura 18) e destacaram as seguintes etapas em
uma reabilitação neuropsicológica:
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de suporte estrutural e emocional que interfere na elaboração de metas e estratégias
do programa de reabilitação neuropsicológica. Por isto, a família e os cuidadores do
paciente devem acompanhar todo o processo, recebendo orientações sobre o que
estão vivenciando e como podem auxiliar o paciente e a si mesmos durante o
tratamento.
A complexidade do cuidado em reabilitação neuropsicológica é, em geral,
atendida por equipe multidisciplinar incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos,
terapeutas ocupacionais, cuidadores formais etc. Assim, uma vez concluída a
avaliação, o profissional que avaliou deve orientar o paciente e seus
familiares/cuidadores sobre a forma de tratamento mais adequada e, prevendo
sempre uma intervenção multidisciplinar, encaminhá-los para atenção de outros
especialistas que possam atender às demandas específicas do paciente avaliado.
A equipe deve estar preparada para identificar agravos comuns também nos
cuidadores. Entre os comprometimentos mais frequentes em familiares/cuidadores
estão: a depressão, o estresse e a sobrecarga. Sempre que identificados estes
agravos, a equipe deve oferecer as devidas intervenções (diagnóstico, medicações,
terapias individual ou em grupos, etc.) ou fazer o encaminhamento para outros
profissionais.
No cuidado emocional, as habilidades de comunicação da equipe de
saúde constituem uma medida terapêutica eficaz e contribuem para (DE SOUZA;
SARAN, 2012):
conhecer melhor o paciente/família (problemas, anseios, temores,
expectativas, valores culturais e espirituais) e, assim, oferecer medidas de
apoio;
tornar a relação entre profissionais e paciente/família mais direta e
interativa, pautada na ajuda efetiva, confiança mútua e sinceridade;
informações verdadeiras, passadas de modo delicado e progressivo,
com clareza, compaixão e empatia, facilitam as tomadas de decisão;
diminuição do estresse psicológico e emocional vivenciado por aquele
núcleo familiar;
otimizar o processo de retomada da autonomia e independência por
parte do paciente, quando possível;
facilitar o alívio de sintomas e melhora da autoestima do paciente;
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100
identificar o que pode aumentar o bem-estar;
oferecer oportunidades para a resolução de assuntos pendentes
(despedidas, agradecimentos, reconciliações);
em casos de patologia progressivas e degenerativas, auxiliar o paciente
e familiares no bom enfrentamento e na vivência do processo de morte.
Concluindo, os pacientes neurológicos e seus familiares, muitas vezes,
precisam enfrentar a incapacidade física e demandam, além da intervenção em
reabilitação, uma assistência emocional. Além disto, profissionais que acompanham
quadros progressivos e degenerativos podem acompanhar as famílias até o
processo de finitude do paciente de forma que devem estar preparados para auxiliá-
los seja para possibilidade de cura ou para possibilidade de um tratamento contínuo
e desgastante. Por isto, é necessário pensar o cuidado do ponto de vista técnico e
também emocional.
8 CONCLUSÃO
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que o clínico utilize as tabelas de correção de grupos próximos ao paciente avaliado
quanto às suas características de idade e escolaridade.
No âmbito da pesquisa, a validação de testes é um dos grandes desafios
dos pesquisadores brasileiros na área da neuropsicologia. A maioria dos testes
padronizados devem ser adquiridos junto às editoras que possuem os direitos
autorias sobre os mesmos. Existem outros instrumentos, além dos mencionados
aqui, e espera-se com a bibliografia indicada ter oferecido a fonte de consulta
necessária para que o leitor obtenha estas informações.
O resumo das patologias descritas aqui visou apresentar as principais
demandas clínicas voltadas para área diagnóstica da neuropsicologia na atualidade.
Então, a partir da apresentação dos quadros clínicos e formas de avaliação e de
reabilitação neuropsicológica espera-se a compreensão sobre os recursos utilizados
pela neuropsicologia para auxiliar o indivíduo com lesão cerebral a
recuperar/desenvolver sua independência e autonomia e a melhorar sua qualidade
de vida e de seus familiares.
FIM DO MÓDULO IV
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