Você está na página 1de 22

Curso Intensivo

“Avaliação Neuropsicológica”

Manual do Formando
Módulo III

Avaliação Neuropsicológica: Instrumentos de


Avaliação

Formadora

Manuela Páris
manelaparis_19@live.com.pt
facebook.com/mparisneuropsic

1
Índice

I. Objetivos ................................................................................................................... 3

II. Instrumentos de Avaliação ...................................................................................... 4

2.1. Testes e Baterias de Avaliação Neuropsicológica .............................................. 5

 Avaliação Quantitativa............................................................................................... 7

 Avaliação Qualitativa ................................................................................................. 9

2.2. Testes de screening cognitivo ...................................................................... 10

 MMSE (mini-Mental state Examination) ................................................................. 11

 MoCA (Montreal Cognitive Assessment) ................................................................. 12

 ACE-III (Addenbrooke’s Cognitiva Examination) ..................................................... 12

2.3. Algumas provas de avaliação com relevância clínica ................................... 13

 Matrizes Progressivas coloridas de Raven ............................................. 13

 Trail Making Teste (TMT) ........................................................................ 14

 Teste de Stroop Color Word ................................................................... 15

 BLAD – Bateria de Lisboa na Avaliação da Demência ............................ 16

 Figura Complexa de Rey ......................................................................... 17

III. Bibliografia ............................................................................................................ 20

2
I-. Objetivos

No final deste módulo pretende-se que os formandos:

 entendam a contextualização do uso de instrumentos específicos ao longo


da avaliação neuropsicológica;
 percebam que estas provas neuropsicológicas permitem não só a
identificação de défices, mas que contribuem também para traçar planos de
reabilitação/intervenção;
 saibam distinguir baterias de avaliação neuropsicológica e testes de
screening; entendam a pertinência e a utilidade de cada um mediante o
paciente em questão;
 entendam que o uso de provas neuropsicológicas permite obter quer
conclusões quantitativas (psicometria) quer qualitativas (descritivas);
 conheçam algumas provas de avaliação neuropsicológica e seus contextos
de aplicabilidade.

3
II. Instrumentos de Avaliação

A neuropsicologia clínica preocupa-se em adquirir conhecimentos


provenientes de investigações clínicas e experiências específicas sobre a relação
cérebro-comportamento, a partir da identificação, mensuração e descrição de
mudanças comportamentais relativas a disfunção cerebral e pretende investigar a
presença de défices cognitivos e seus efeitos na vida diária de pacientes com
comprometimentos neurológicos (Quemada & Echeburúa, 2008). Para um
neuropsicólogo clínico, o principal objetivo é conhecer a magnitude do(s) défice(s)
e, a partir dessa inferência, planear um programa de reabilitação individualizado e
específico (Tirapu-Ustárroz, 2011).

A avaliação Neuropsicológica é vista como um processo de investigação que


utiliza entrevistas, observações, provas de screening e testes psicométricos para
obter o perfil de performance cognitiva do indivíduo, com vista a perceber se a
integridade cognitiva funcional está mantida ou comprometida. Enumeram-se, a
seguir, alguns objetivos principais neste processo:

 identificar comprometimentos ou alterações no funcionamento psicológico;


 clarificar o diagnóstico em situações onde se detetem alterações cerebrais
através de técnicas de neuroimagem;
 avaliar a evolução de quadros clínicos decorrentes de patologias
neurodegenerativas;
 fazer a correlação entre os resultados das provas de avaliação e os aspetos
neurobiológicos e/ou dados obtidos por neuroimagem;
 averiguar se as alterações cognitivas e comportamentais apresentadas estão
relacionadas com comprometimentos psiquiátricos e/ou neurológicos
(Harvey, 2012; Quemada, & Echeburúa, 2008; Tirapu-Ustárroz, 2011).

Se por um lado, os resultados obtidos através da avaliação neuropsicológica


são a base para a o tratamento e para o planeamento dos programas de

4
intervenção, os instrumentos neuropsicológicos, por sua vez, permitem explorar
comportamentos e atividades cujas características sejam semelhantes aquelas que
são desenvolvidas habitualmente pelo paciente, o que vai auxiliar a compreensão
do seu funcionamento no quotidiano (Tirapu-Ustárroz, 2007). Um dos grandes
desafios da neuropsicologia, atualmente, é estabelecer a correlação entre o
desempenho nos testes neuropsicológicos e o funcionamento no dia-a-dia de cada
paciente (Verdejo-García, & Bechara, 2010). A esta relação dá-se o nome de validade
ecológica das provas, isto é, em que medida os resultados obtidos pelas provas
neuropsicológicas são próximos e refletem verdadeiramente o nível de
desempenho do paciente nas suas atividades da via diária (Chaytor, & Schmitter-
Edgecombe, 2003).

Existe uma diferença entre a psicometria e a avaliação neuropsicológica: a


psicologia não estabelece a relação entre os resultados dos testes com as
características do sistema nervoso do paciente, ao contrário do que acontece com a
neuropsicologia, já que é exatamente acerca dessa relação que procura fazer
inferências.

Os resultados que um paciente obtém estão relacionados com o seu


desempenho anterior. Isto implica que seja conhecido o seu nível pré-mórbido.
Contudo, nem sempre é fácil que isto se consiga. As performances devem sempre
ser relacionados com as qualidades das provas (sensibilidade, fidelidade, validade) e
com variáveis do indivíduo avaliado (idade, género, nível sociocultural,
antecedentes psiquiátricos ou comportamentais anteriores) (Siksou, 2008).

2.1. Testes e Baterias de Avaliação Neuropsicológica

Para realizar uma avaliação neuropsicológica, o técnico tem de planear e


escolher os instrumentos a utilizar, em função das hipóteses formuladas sobre a

5
problemática apresentada pelo paciente. Para Mäder (1996), ao ser elaborado um
protocolo de avaliação, este deve ser básico e com a possibilidade de
complementar a avaliação com outros testes sobre funções mentais com maior
nível de comprometimento.

Uma bateria de avaliação não é mais do que um conjunto de tarefas


organizadas de forma estruturada, sendo o seu objetivo principal permitir a
avaliação do desempenho cognitivo global, bem como averiguar a existência de
disfunções específicas a nível da atenção, memória, linguagem e funções executivas
que são os constructos básicos para o desenvolvimento das capacidades
intelectuais (Maia, Correia & Leite, 2009).

Para Ardila e Ostrosky (1996), uma bateria de avaliação neuropsicológica deve


obedecer a características específicas:

1) ter uma fundamentação teórica sólida;

2) possibilitar que seja feita a exploração de formas fundamentais do


comportamento, resultantes da atividade do sistema nervoso e, nesse sentido,
afetadas o mínimo possível por fatores socioculturais e educacionais;

3) ser passível de ser aplicável com um mínimo de ajuda e instruções verbais,


permitindo avaliação de pacientes com distúrbios de linguagem significativos;

4) ter critérios de avaliação e objetivos definidos, permitindo a quantificação de


forma a possibilitar a obtenção de índices de validade e precisão;

5) precisar de um reduzido número de recursos e materiais para a sua aplicação.

Portanto, numa bateria de avaliação neuropsicológica devem constar provas


que avaliem todas as dimensões cognitivas. Para Lezak (1995) devem ser avaliadas
as funções: atenção, processamento visuoespacial, memória, funções linguísticas –
orais e escritas, cálculo, funções executivas, formação de conceitos, habilidades

6
motoras e estados emocionais. Com mais detalhe ainda, as dimensões cognitivas a
avaliar podem inclui: atenção (dividida, sustentada e focalizada); flexibilidade
cognitiva; memória (curto e longo prazo, verbal e visual); processos intelectuais
(raciocínio, abstração e pensamento); funções motoras (movimentos, lateralidade,
entre outros); funções visuais (perceção e discriminação); organização visuoespacial
e organização visuoconstrutiva.

A importância destes instrumentos está no papel que têm na prevenção e


deteção precoce de distúrbios/disfunções cerebrais, indicando de forma precisa o
ritmo e a qualidade do processo e permite que seja feito um mapeamento
qualitativo e quantitativo das áreas cerebrais e das suas interconexões, que levará a
uma intervenção terapêutica precoce e detalhada (Maia, Correia & Leite, 2009).

Portanto, deve utilizar-se sempre testes ou provas neuropsicológicas do tipo


psicométrico – avaliação quantitativa – e descrição clínica que usa um conjunto
sistemático e flexível de provas - avaliação qualitativa.

 Avaliação Quantitativa:

A psicometria permite a medição das funções psíquicas através de testes


normalizados destinados a estabelecer uma base quantificável das diferenças entre
indivíduos. A testagem psicométrica permite traduzir os resultados do desempenho
em números (Cronbach, 1996), neste caso, os números são uma forma de expressar
os acontecimentos da mente humana.

O principal objetivo dos testes é examinar as capacidades cognitivas por meio


de uma escala, que podem alternar entre desempenhos superiores à média ou
comprometimentos gravíssimos (Walsh, 1982). Portanto, mais importante que
avaliar é a forma de como se avalia, pois, o profissional interpreta os resultados dos
testes mediante a sua formação. Por exemplo, se um psicólogo não tem formação

7
em neuropsicologia não será capaz de relacionar as funções psicológicas avaliadas
com o funcionamento cerebral (Mäder, 1996).

É fácil obter informação teórica sobre a elaboração de uma bateria de


avaliação neuropsicológica e sobre a forma como utilizar testes específicos.
Contudo, este tipo de material, ao ser utilizado por pessoas sem treino ou formação
adequada, pode ter consequências graves, como por exemplo, determinar que uma
criança se encontre com um atraso cognitivo ao qual não corresponde
verdadeiramente. Pessoas sem treino, não só podem administrar provas de forma
errada como também podem inferir erradamente conclusões pois não entenderam
exatamente o que o teste estava a medir. Portanto, o mais importante é que os
técnicos se limitem ao uso de provas para as quais estão devidamente habilitados.
Por estas razões, Cronbach (1996) postulou que os profissionais que utilizem este
tipo de provas de avaliação tenham em conta:

 primeiramente, deve ser definido o propósito da utilização de


instrumentos de medida e a população sujeita a essa medição, tendo por
base a análise da informação disponibilizada;
 não se basearem apenas no resultado das provas, mas terem em conta a
recolha de informações potencialmente úteis e fazer a sua análise
integrativa;
 pesquisar a bibliografia fornecida pelos autores dos testes e evitar provas
que não permitam a obtenção de informações claras e completas;
 determinar se os conteúdos das provas e o(s) grupo(s) de controlo e de
comparação são adequados para o paciente;
 selecionar e utilizar apenas as provas para as quais estejam disponíveis as
habilidades para a aplicação e interpretação correta dos resultados.

Não se pode descartar a ideia de que a avaliação fornece dados relativos ao


indivíduo num determinado momento e, em alguns casos, algumas características
pessoais são relativamente estáveis e outras menos constantes ao longo do tempo.
Se pensarmos no humor, é pouco provável que este seja estável ao longo de dias ou

8
mesmo entre uma hora e a seguinte, o que torna difícil ou quase impossível
estabelecer o humor em termos quantitativo.

 Avaliação Qualitativa:

Como temos vindo a esclarecer, um protocolo de avaliação envolve a


utilização de testes específicos que, por si só, não abrangem todas as dimensões da
cognição e do comportamento de um paciente (Cronbach, 1996). Deve ter-se
sempre em conta que quando lidamos com pacientes, não podemos negligenciar a
individualidade de cada um. Portanto, uma boa avaliação neuropsicológica é capaz
de reduzir incertezas, desde que o profissional faça a análise integrativa entre os
resultados psicométricos e o paciente.

No processo de avaliação neuropsicológica devem ter-se em conta, ainda, os


seguintes aspetos:

1) História de vida: é importante saber quando se iniciou o problema, os


sintomas e a evolução da história, as características de personalidade e as
alterações posteriores à lesão/disfunção;

2) História clínica: informação obtida através de outros profissionais de


saúde, por exemplo, neurologistas e resultados de exames de
neuroimagem.

3) Observação do comportamento: por vezes, a informação obtida através


da anamnese e da observação do comportamento tem um nível de
significância maior do obtido nas pontuações dos testes
neuropsicológicos;

4) Semiologia quantitativa do exame neuropsicológico: as pontuações de


uma subprova assumem relevância quando correlacionadas com outros
dados, quanto à similaridade e complementaridade, sem esquecer o

9
contexto global dos dados obtidos em toda a investigação
neuropsicológica.

5) Semiologia qualitativa do exame neuropsicológico: as pontuações dos


subtestes, que compõem uma bateria neuropsicológica ou uma seleção
de testes, devem enriquecer com a maior e mais ampla valorização
qualitativa possível.

6) Testes complementares: quando utiliza uma bateria de avaliação


neuropsicológica, o profissional tem de conhecer as limitações dela e,
mediante problemas específicos, tem de selecionar testes
complementares mais adequados ao quadro patológico do paciente.

7) Grupo de controlo: as caraterísticas das manifestações neuropsicológicas


das lesões/disfunções cerebrais são variáveis e têm uma natureza
distinta. Portanto, a sua incidência pode determinar problemas
diferentes que necessitem de normatização de grupos de controlo
(Tabaquim, 2003).

2.2. Testes de screening cognitivo

Os testes de screening ou testes de rastreio cognitivo são instrumentos


breves e de fácil aplicação e que requerem um tempo limitado. Têm grande
utilidade na diferenciação entre a normalidade e casos clínico patológicos, uma vez
que dá indicações sobre a presença de alterações e sugerindo possíveis áreas de
investigação. No entanto, não permitem uma avaliação detalhada. Note-se que em
situações onde o défice é subtil, estes instrumentos são claramente incapazes de o
detetar (Malloy-Diniz, Fuentes, Mattos & Abreu, 2018).

10
Como exemplo temos:

 MMSE (mini-Mental State Examination) (Foltein & McHugh,


1975):
Instrumento muito útil no rastreio do declínio cognitivo e é o mais utilizado na
prática clínica, para avaliar, de uma forma geral, as funções cognitivas. Demora
entre 5 a 10 minutos a ser administrado e não há cronometragem. Avalia 6 domínios
cognitivos: orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e
capacidade construtiva. Cada item varia a pontuação entre 0 e 1 pontos sendo a
pontuação total de 30 (Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro & Martins, 2009).

É visto como um teste adequado para o acompanhamento e evolução de


diversos quadros neurológicos, assim como no processo de reabilitação. É indicado
para população com baixo nível de escolaridade, principalmente em idades mais
avançadas (Freitas et al., 2013).

Contudo, têm vindo a ser relatadas algumas desvantagens na utilização da


prova: existem críticas quanto à complexidade reduzida de muitas das tarefas que
compõem o teste, à baixa sensibilidade para identificar casos de demência e,
principalmente, de défice cognitivo ligeiro e a ausência de tarefas que avaliem as
funções executivas. Deve ter-se em conta que por ser um instrumento tão simples,
é muito fácil de ser aprendido pelo paciente, principalmente quando as aplicações
acontecem com um intervalo de 6 meses, por exemplo. Nestes casos é frequente
que o indivíduo dê as respostas antes de termos terminado a pergunta. Claro está
que isto aumenta o risco de falsos negativos (Freitas, Alves, Simões & Santana,
2013).
Autores afirmam que pode ser aplicado o Teste do Relógio (Schulman, Cohen
& zucchero, 1993) para colmatar estas falhas do MMSE, uma vez que avalia a
representação simbólica e grafomotora, capacidades linguísticas auditivas,
hemiatenção, memória semântica, praxias e funções executivas (Lezaun, Manchola
& Méndez, 2001; Freitas, Alves, Simões & Santana, 2012; Apóstolo, 2012).

11
 MoCA (Montreal Cognitive Assessment) (Freitas, Simões, Martins,
Vilar & Santana, 2010):
Instrumento breve, criado para a avaliação do défice cognitivo ligeiro. Composto
por uma folha de papel, muito prático e eficaz na discriminação entre o desempenho
de indivíduos que padecem de um processo de envelhecimento normal e indivíduos
com défice cognitivo. Permite a avaliação de estádios intermédios de défices
cognitivos principalmente entre défice cognitivo ligeiro e doença de Alzheimer ligeira e
moderada (Nasreddine et al., 2005). Demora cerca de 10 minutos a ser aplicado. Tem
manual de administração e cotação e a sua pontuação total é de 30 pontos, resultado
da soma de todas as subprovas (Duro, Simões, Ponciano & Santana, 2008). As áreas
cognitivas que comtempla são: função executiva, capacidade visuoespacial, memória,
memória de trabalho, atenção e concentração, linguagem e orientação (Freitas,
Simões, Martins, Vilar & Santana, 2010).

A aplicação da prova na população portuguesa levou a diversos estudos que


permitiram chegar a alguns pontos de corte importantes: pontuação abaixo dos 26
sugere alterações; por sua vez, pontuações inferiores a 17 foram identificadas em
casos de Demência de Alzheimer, Demência Vascular e Demência Frontotemporal
variante comportamental e abaixo de 22 pontos, em quadros de Défice Cognitivo
Ligeiro (Simões, 2013).

 ACE-III (Addenbrooke’s Cognitiva Examination) (Peixoto,


Baeta & Pimentel, 2013):
Instrumento útil e sensível à disfunção precoce que permite distinguir diversos
subtipos de demências (Mioshi, Dawson, Mitchell, Arnold & Hodges, 2006). Através
da sua aplicação consegue-se obter a pontuação total do desempenho cognitivo,
mas também, e de forma individual, a pontuação de cinco domínios distintos:

 atenção (máximo de 18 pontos), representada por tarefas de orientação,


evocação verbal imediata e de subtração em série;

12
 memória (máximo de 26 pontos), composta por tarefas de evocação
verbal diferida (livre e por reconhecimento), de aprendizagem verbal e
de memória semântica;
 fluência verbal (máximo de 14 pontos), avaliada através de uma prova de
fluência fonológica e de uma prova de fluência semântica;
 linguagem (máximo de 26 pontos), que incluiu tarefas de compreensão,
repetição, nomeação, leitura e escrita;
 capacidades visuoespaciais (máximo de 16 pontos), contemplando
tarefas visuoconstrutivas (e.g.: cópia do cubo, desenho do relógio) e de
perceção.

A pontuação total é de 100 pontos e tem um tempo médio de aplicação de 20


minutos.

2.3. Algumas provas de avaliação com relevância clínica

- Matrizes Progressivas coloridas de Raven (Raven et al., 2004)

 prova de avaliação da inteligência – raciocínio lógico – e de processamento


intelectual de dados visuoespaciais, ou seja, avalia as funções preceptivas e
cognitivas;

 Vantagens: fácil de administrar; fácil de interpretar; medida não verbal para


aceder às capacidades cognitivas;

 existem em várias versões, sendo a versão original chamada de Matrizes


Progressivas Standard (SPM), constituída por 60 itens [12 em cada série – A,
B, C e D], que abrange todas as faixas etárias; posteriormente, o autor
desenvolveu duas outras escalas:

13
o Matrizes Progressivas Coloridas (CPM), composta por 36 itens [12 em
cada série], para crianças entre os 5 e os 11 anos, idosos ou indivíduos
portadores de deficiência mental;
o Matrizes Progressivas Avançadas, constituída por 48 itens [12 numa
série – Set I e 36 noutra – Set II], indicadas para pessoas com
capacidades intelectuais superiores à média;

 são chamadas progressivas porque o grau de dificuldades vai aumentando


gradualmente, quer de nível para nível quer de série para série;
 composto por um conjunto de tarefas não-verbais que medem a aptidão do
sujeito para apreender relações entre figuras;
 população alvo: crianças e adultos;
 podem ser aplicadas em grupo ou individualmente;
 o indivíduo tem de selecionar, dentro de 6 ou 8 alternativas, a
correspondente à parte que falta e que completa logicamente cada padrão
ou sistema de relações, depois de ter percebido a estrutura do desenho
(Simões, 2000).

- Trail Making Teste (TMT) (Partington & Leiter, 1938; versão portuguesa
Cavaco et al, 2013)
 avalia atenção dividida, velocidade de processamento, sequência
visuomotora, planeamento e flexibilidade cognitiva;
 divide-se em 2 partes que avaliam respetivamente atenção, scanning visual,
coordenação motora e velocidade de processamento de informação (parte
A) e memória de trabalho, funções executivas e capacidade de alternação
entre estímulos (parte B) (Cavaco et al, 2013);

14
 composto por 2 folhas de prova (parte A e B), é cronometrado e a sua
aplicação demora poucos minutos;

 o teste divide-se em 2 etapas:


 parte A - existe uma folha com 25 número dentro de círculos. Pede-se
ao sujeito que una os números com um risco por ordem crescente o
mais depressa que conseguir (os números encontram dispersos ao
acaso na folha);
 parte B - existe uma folha com 13 números e 8 letras. O sujeito deve
ligar números a letras em sequências alternadas (número-letra-número-
letra) o mais rápido que conseguir.
 quanto mais tempo for despendido e mais erros forem efetuados, menor é a
flexibilidade mental.

- Teste de Stroop Color Word (J. Ridley Stroop, 1935)


 composto por 2 tarefas:
 1ª) averiguar a fluência de leitura da primeira parte para posterior
comparação com a segunda tarefa.
 2ª) nomear as cores coma dificuldade de haver uma incongruência entre a
palavra escrita e a cor da tinta para escrever (e.g. vermelho escrito a
verde).

 em cada tarefa existem 112 palavras escritas na folha:


 na 1ª) pede-se ao sujeito que leia as palavras que tem à frente coluna a
coluna o mais depressa que conseguir.
 na 2ª) é-lhe pedido que diga a cor da tinta com que a palavra foi escrita
igualmente o mais depressa que conseguir.

15
 as duas tarefas são cronometradas – aplicação demora apenas alguns
minutos;
 material: folha de registo e uma folha de prova (Spreen & Sprauss, 1998);
 avalia atenção seletiva, flexibilidade cognitiva e controlo inibitório;
 Vantagem: aplicação fácil e rápida;
 Desvantagem: prova muito curta que dificulta a identificação de défices
atencionais mais subtis (Homack, & Riccio, 2004).

- BLAD – Bateria de Lisboa na Avaliação da Demência (Garcia, 1984)

 bateria abrangente, que incluiu testes da Escala de Memória da Wechsler


(WMS), avalia vários domínios e foi validada para a população portuguesa;
 formada por 28 subprovas que permitem avaliar 9 domínios cognitivos
considerados os mais importantes para despistes de demência:
o atenção e funções executivas: tarefa de cancelamento (colocar uma
cruz em 16 letras "A" de um conjunto de 100 letras);
o memória de dígitos (direta e inversa);
o iniciativa e perseveração;
o linguagem;
o memória (memória verbal e aprendizagem; memória verbal com
interferência; memória lógica; memória associativa);
o orientação;
o praxias;
o capacidade construtiva;
o cálculo;
o abstração;
 população alvo: adultos;

16
 tempo de aplicação: 90 minutos;
 permite fazer a distinção entre défices cognitivos ligeiros, moderados e
graves e é extremamente útil em populações com níveis baixos de
escolaridade (Guerreiro, 1998; Guerreiro, 2019).

- Figura Complexa de Rey (Rey, 1988)


 prova neuropsicológica utilizada para avaliar capacidades visuoespaciais,
organização percetiva, aptidão visuoespacial construtiva, memória visual,
atenção, planeamento, resolução de problemas (funções executivas) e
função motora (Deckersbach et al., 2000; Meyers & Meyers, 1995; Rocha &
Coelho, 1988);

 o teste é composto por uma figura geométrica complexa e abstrata;

 possui 2 formas: a forma “A” da figura é direcionada à avaliação de pessoas


com idade entre 5 e 88 anos; a forma “B” pode ser utilizada na avaliação de
crianças pequenas, com idade entre 4 a 7 anos (Rey, 1999);

 o teste aplica-se em 2 partes:


 1) solicita-se que o paciente reproduza a cópia da figura, numa folha
branca na posição horizontal. Alguns autores pedem que o examinando
utilize alternadamente lápis coloridos, durante a cópia, e que o
examinador solicite a troca de lápis de acordo com a sequência dos
elementos copiados. Com isto pretende-se avaliar a existência de uma
estratégia de cópia do sujeito examinado (Jamus & Mader, 2005);

 2) o paciente tem de reproduzir de memória a figura copiada. O intervalo


entre essas duas partes do processo de aplicação varia de acordo com o

17
interesse de investigação do aplicador, porém não deve exceder 3
minutos (Rey, 1999).

 esta figura complexa é formada por 18 itens, os quais juntos formam o todo
da figura, sendo pontuada de 0 a 36 pontos, que variam de acordo com a
precisão e o bom posicionamento de cada item da figura tanto na memória
quanto na cópia (Rey, 1999).

Tabela resumo sobre provas neuropsicológicas e as dimensões que avaliam:

Testes psicológicos para avaliação da inteligência

Desenho da Figura Humana Dos 5 aos 12 anos

Matrizes Progressivas de Raven Crianças e adultos

Escala de Inteligência Wechsler > 16anos


para Adultos – WAISS III
Escala de Inteligência Wechsler Dos 6 aos 16 anos
para Crianças – WISC III
Teste dos Dominós D-70 > 18 anos

18
Testes psicológicos para avaliação das funções executivas

Cubos de Corsi
atenção, concentração, memória de trabalho, memória
(presente na WMS III – escala
sequencial espacial a curto-prazo
de memória de Wechsler)
atenção seletiva, flexibilidade cognitiva,
Teste de Stroop
controlo inibitório e velocidade de processamento
raciocínio abstrato; capacidade de gerar, modificar e
aplicar uma estratégia cognitiva em função das
Wisconsin Card Sorting Test contingências ambientais mutáveis; a flexibilidade
(WCST)
cognitiva; planeamento estratégico; inibição de respostas
impulsivas
atenção dividida, velocidade de processamento,

Trail Making Test (TMT) sequência visuomotora, planeamento e flexibilidade


cognitiva
Torre de Londres
Torre de Hanói planeamento
Labirintos de Porteus
Labirintos (WISC III)
Bateria de Avaliação Frontal
(FAB)

Ineco Frontal Screening (IFS)


Provas de avaliação frontal
Behavioral Assessment of the
Dysexecutive Syndrome
(BADS)

Teste do Desenho do Relógio


capacidades visuoespaciais, organização percetiva,

Figura Complexa de Rey aptidão visuoespacial construtiva, memória visual,


atenção, planeamento, resolução de problemas
Escala de Memória de Diferentes modalidades da memória
Wechsler - III

19
III. Bibliografia

Apóstolo, J. (2013). Instrumentos para avaliação em geriatria. Coimbra: Escola Superior de


Enfermagem de Coimbra.

Ardila, A., & Ostrosky-Solís, F. (1996). Diagnóstico del daño cerebral: enfoque
neuropsicológico. Editorial Trillas.

Cavaco, S., Gonçalves, A., Pinto, C., Almeida, E., Gomes, F., Moreira, I., Fernandes, J. , &
Teixeira-Pinto, A. (2013). Trail Making Test: regression-based norms for the portuguese
population. Archives of Clinical Neuropsychology, 7, 2013.

Chaytor, N. & Schmitter-Edgecombe, M. (2003). The ecological validity of


neuropsychological tests: A review of the literature on everyday cognitive skills.
Neuropsychology Review, 13(4), 181-197.

Cronbach, L. (1996). Fundamentos da testagem psicológica. Artmed.

Deckersbach, T., Savage, C., Henin, A., … Jenike, M. (2000). Reliability and Validity of a
Scoring system for measuring organizational approach in the complex figure test. Journal of
Clinical and Experimental Neuropsychology, 22(5), 640-648.

Duro, D., Simões, M., Ponciano, E. & Santana, I. (2009). Validation studies of the portuguese
experimental version of the montreal cognitive assessment (MoCA): confirmatory factor
analysis. Journal Neurol, 257, 728-734.

Duro, D., Freitas, S., Alves, L., Simões, M. & Santana, I. (2012). O Teste do desenho do
relógio: influência das variáveis sociodemográficas e de saúde na população portuguesa.
Sinapse, 12(1), 5-12.

Freitas, S., Alves, L., Simões, M. & Santana, I. (2013). Importância do rastreio cognitivo na
população idosa. Temas em psicologia do envelhecimento, 3 (1),4-24.

Freitas, S., Simões, M., Martins, C., Vilar, M. & Santana, I. (2010). Estudos de adaptação ao
montreal cognitive assessment (MoCA) para a população portuguesa. Avaliação
Neuropsicológica, 9(3), 345-357.

Folstein, M., Folstein, S. & McHugh, P. (1975). Mini-mental state: a practical method for
grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal Psychiatric Research, 12, 189-
98.

Harvey, P. (2012). Clinical applications of neuropsychological assessment. Dialogues in


Clinical Neuroscience, 14(1), 91-99.

20
Homaxk, S. & Riccio, C. (2004). A meta-analysisof the sensitivity and specificity of Stroop
Color and Word Teste with children. Archives of Clinical Neuropsychology, 19(6), 725-743.

Jamus, D. R. & Mãder, M. J. (2005). A Figura Complexa de Rey e seu papel na avaliação
neuropsicológica. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology, 11 (4), 193-198.

Lezak, M. (1995). Neuropsychological assessment. Oxford University Press.

Mäder, M. J. (1996). Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e situação


atual. Psicologia Ciencia e Profissão,16(3).

Maia, L., Correia, C. & Leite, R. (2009). Avaliação e intervenção neuropsicológica. Estudos de
casos e instrumentos. Lidel.

Malloy-Diniz, L., Fuentes, D., Mattos, P. & Abreu, N. (2018). Avaliação neuropsicológica (2ª
ed). Artmed.

Meyers, J. E. e Meyers, Κ. R. (1995). Rey complex figure test and recognition trial:
Professional manual. Psychological Assessment Resources.

Mioshi, E., Dawson, K., Mitchell, J., Arnold, R. & Hodges, J. (2006). The addenbrooke’s
cognitive examination revised (ACE-R): a brief cognitive test battery for dementia
screening. International journal of geriatric psychiatry, 21, 1078–1085.

Morgado, J., Rocha, C., Maruta, C., Guerreiro, M. & Martins, I. (2009). Novos valores
normativos do Mini-Mental state Examination. Publicação da Sociedade Portuguesa de
Neurologis, 9(2), 12-16.

Nasreddine, Z., Philips, N., Bedirian, V., Charbonneaus, S., Whitehead, V., Collin, I.,
Cummings, J. & Chertkow, H. (2005). The Montreal Cognitive Assessment, MoCA: a brief
screening tool for mild cognitive impairement. Journal of American Geriatric Society, 53(4),
695-699.

Quemada, J. & Echeburúa, E. (2008). Funciones y formación del neuropsicólogo clínico: una
propuesta. Papeles del Psicólogo, 29(3), 301-306.

Raven, J. e Raven, J. (2004). Raven Progressive Matrices. Em R. S. McCallum (Ed.),


Executive Functioning and Intelligence (pp. 223–236). Boston, MA: Springer US.

Rey, A. (1999). Figuras Complexas de Rey: Teste de Cópia e de Reprodução de Memória de


Figuras Geométricas Complexas. Casa do Psicólogo.

Simões, M. R. (2012). Instrumentos de avaliação psicológica de pessoas idosas: investigação


e estudos de validação em Portugal. RIDEP, 34 (1), 9-33.

21
Simões, M. (2000). Investigações no âmbito da aferição nacional do Teste das Matrizes
Progressivas Coloridas de Raven (M.P.C.R.). Fundação Calouste Gulbenkian.

Siksou, M. (2008). Introdução à neuropsicologia (1ª ed). Climepsi Editores.

Spreen, O. & Strauss, E.A. (1998). Compendium of Neuropsychological tests – Administration,


Norms and Commentary. Oxford-New York.

Tabaquim, M. (2003). Avaliação neuropsicológica nos distúrbios de aprendizagem. In: CIASCA,


S.M. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. Casa do Psicólogo.

Tirapu-Ustárroz, J. (2007). La evaluación neuropsicológica. Intervención Psicosocial, 16(2),


189-211.

Tirapu-Ustárroz, J. (2011). Neuropsicología: neurociência y las ciencias “Psi”. Cuadernos de


Neuropsicología, 5(1), 11-24.

Verdejo-García, A. & Bechara, A. (2010). Neuropsicología de las funciones ejecutivas.


Psicothema, 22(2), 227-235.

Walsh K. (1982). Neuropsychology - A clinical approach. Churchil Livingstone.

22

Você também pode gostar