ANeuropsicologia é uma área de conhecimento de caráter
interdisciplinar que tem suas origens na interface entre Psicologia e a Medicina, sobretudo a Neurologia. Se dedica a estudar a expressão comportamental das disfunções cerebrais e as alterações comportamentais e cognitivas associadas a correlatos cerebrais. Ou seja, trata-se do estudo da relação entre o sistema nervoso, a cognição e o comportamento (MALLOY-DINIZ et al., 2014).
Já a avaliação neuropsicológica, um dos aspectos práticos da
Neuropsicologia, se trata de um método de investigação do funcionamento cerebral através do quesito comportamental. Através de técnicas de caráter quantitativo e qualitativo, avaliam-se funções cognitivas e socioemocionais. Se possível, também se investiga como tais cognições - manifestadas através de comportamentos - se relacionam com o cérebro, em busca de possíveis correlatos neuroanatomofuncionais.
A avaliação neuropsicológica conta com 3 principais técnicas de
investigação e avaliação, sendo elas 1) as técnicas psicométricas – testes e instrumentos; 2) técnicas qualitativas – observação e testes projetivos; e 3) entrevista – histórico pessoal, médico, familiar, história de vida e evolução da queixa. Levando em consideração a constante mudança pela qual os seres humanos passam, assim como a flutuação e alteração da atenção e vigília ao longo dos dias, a avaliação neuropsicológica é um exame que indica o estado/perfil neuropsicológico do paciente no momento em que a avaliação foi realizada, tendo um ‘prazo de validade’.
Vários são os objetivos para a realização de uma avaliação
neuropsicológica, sendo um exame que responde a diferentes necessidades clínicas e diferentes áreas profissionais, como a Medicina, a Fonoaudiologia e a própria Psicologia. Dentre as mais comuns, há a identificação e descrição de alterações no funcionamento neuropsicológico/cognitivo; o diagnóstico clínico; a identificação e prevenção de alterações no desenvolvimento; o diagnóstico diferencial; o planejamento de intervenções; a elaboração de documentos legais; etc.
Em geral, o processo ocorre ao longo das etapas: 1)
encaminhamento; 2) contrato; 3) descrição de demanda; 4) levantamento de hipóteses; 5) elaboração de plano de trabalho; 6) escolha dos testes e técnicas; 7) avaliação/levantamento dos dados; 8) análise dos dados; 9) devolutiva; 10) encaminhamento (reabilitação ou não). Ao final do processo avaliativo, o profissional elabora um laudo dentro das normas da Resolução 006/2019 do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Resumidamente, o laudo é o documento fundamentado técnico e científico, fruto de uma avaliação, que resume os resultados de um processo avaliativo e faz encaminhamentos.
O primeiro (e o único obrigatório) instrumento utilizado no
processo avaliativo é a entrevista. As entrevistas podem ser de anamnese (investigação minuciosa da história de vida e do desenvolvimento), diagnóstica (investigar suspeita diagnóstica), sistêmica (investigar aspectos familiares) ou outra. No caso de crianças, após a anamnese com os pais, a Hora do Jogo Diagnóstica é uma excelente técnica para iniciar a avaliação infantil.
Em seguida, o profissional elabora o protocolo de avaliação,
avaliando funções como atenção, praxia motora, funções executivas, memória, linguagem, percepção, aspectos socioemocionais, de personalidade, comportamentais, etc. O uso de testes normatizados e comercializados no país deve seguir as normas do Conselho Federal de Psicologia (CFP), sendo necessário observar se o mesmo se encontra favorável através do SATEPSI, plataforma do CFP em que constam os testes favoráveis e desfavoráveis para uso clínico.
Após o processo avaliativo, o laudo neuropsicológico fornecerá
os resultados esmiuçadamente, com as respectivas classificações baseadas nas tabelas normativas dos instrumentos. O laudo também contará com a análise e interpretação dos resultados e, por fim, com os encaminhamentos, que podem ou não ser necessários. Em casos de rebaixamentos ou déficits em funções cognitivas, a reabilitação neuropsicológica é um dos encaminhamentos mais comuns, sendo essa modalidade uma continuação no processo da Neuropsicologia clínica (exame – avaliação; intervenção - reabilitação).
Se considerarmos o estudo científico e a elaboração de protocolos de
avaliação como a primeira fase da Neuropsicologia e a avaliação neuropsicológica como a segunda, a terceira seria a reabilitação neuropsicológica (RN). A RN é um agrupamento de técnicas interventivas e de estimulação que tem a finalidade de potencializar as funções que, por algum motivo, se encontram prejudicadas no paciente, estimulando a plasticidade neuronal. Para que um plano de reabilitação neuropsicológica possa ser elaborado, se faz necessário um laudo de uma avaliação neuropsicológica, que fornecerá as bases clínicas para se estruturar um protocolo interventivo personalizado para cada paciente, buscando torná-lo o mais independente e autônomo possível para as atividades da vida diária. Logo, é necessário avaliar para reabilitar.
Atividade Extra
“O Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoveu no dia 25 de
agosto, às 15h, a terceira live da série "Você sabia que a Avaliação Psicológica faz parte da sua vida?", no contexto da Neuropsicologia.
A transmissão sobre Avaliação Psicológica no contexto da
Neuropsicologia contou com a participação da psicóloga Daniela Sacramento Zanini (CRP 09/003595), integrante da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica (CCAP), que fez a mediação da live; da psicóloga Clarissa Trentini (CRP 07/08471), especialista em Avaliação Psicológica e professora Titular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS,); e a psicóloga Helenice Fichman (CRP 05/38227), Neuropsicóloga Clínica e professora na PUC-Rio.”
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zK5V5-D6xAw
Referência Bibliográfica
MÄDER, M. J. Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e
situação atual. Psicologia: ciência e profissão, v. 16, n. 3, p. 12-18, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/3HbDmGVsn6WbXFVgFNX3JpQ/? lang=pt
MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Neuropsicologia: aplicações clínicas.