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AVALIAÇÃO

NEUROPSICOLÓGICA

Autoria: Rosi Meri da Silva

1ª Edição
Indaial - 2019

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2019


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

SI586a
Silva, Rosi Meri da
Avaliação neuropsicológica. / Rosi Meri da Silva. – Indaial:
UNIASSELVI, 2019.
186 p.; il.

ISBN 978-85-7141-400-6
ISBN Digital 978-85-7141-401-3
1. Neuropsicologia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo
Da Vinci.

CDD 616.8914

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO......................................................................... 05

CAPÍTULO 1
Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica
na Prática Clínica........................................................................07

CAPÍTULO 2
Neuropsicologia: Diagnóstico e Intervenção........................65

CAPÍTULO 3
Funções Neuropsicológicas e as Possíveis Alterações
Clícas em Lesões Cerebrais e Nas Principais Doenças
Neurológicas..............................................................................121
APRESENTAÇÃO
Prezado estudante, o Livro Didático de Avaliação Neuropsicológica faz
parte do curso de Pós-Graduação Lato Sensu EAD em Neuropsicologia da
UNIASSELVI. Tem como finalidade disponibilizar fundamentos que permitam
integrar os conhecimentos teóricos e práticos para planejar, realizar avaliação
neuropsicológica e elaborar relatório (laudo), possibilitando o desenvolvimento de
programas de intervenção, condizentes com os sintomas avaliados em crianças,
adolescentes, adultos e idosos.

O livro está dividido em três capítulos, cada um com objetivos,


conteúdos, atividades de estudo, dicas, orientações e referências para leituras
complementares.

No primeiro capítulo, você será levado a acessar os Fundamentos


da avaliação psicológica; Princípios, técnicas e instrumentos de avaliação
neuropsicológica; Avaliação neuropsicológica na prática clínica com crianças e
adolescentes; Avaliação neuropsicológica na prática clínica com adultos e idosos.

No segundo capítulo, você terá acesso ao processo de elaboração de


relatório e devolutiva nos vários contextos de atuação da neuropsicologia; assim
como conduzir você ao processo de diagnóstico, intervenções e prognóstico em
neuropsicologia.

Com o terceiro capítulo, você entenderá os conceitos gerais das funções


neuropsicológicas, assim como as alterações neuropsicológicas nas lesões
cerebrais e nas principais doenças neurológicas.

De forma ampla, este livro é para você, aluno do Curso de Pós-Graduação


Lato Sensu EAD em Neuropsicologia que deseja se aprofundar na área
de avaliação neuropsicológica, pois discorre sobre os principais conceitos,
instrumentos e processos para realizar com segurança e técnica o processo de
avaliação neuropsicológica na prática clínica.

Bons estudos!

Professora Rosi Meri da Silva


C APÍTULO 1
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA
CLÍNICA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Saber:
• apresentar teoria e técnica em avaliação psicológica;
• descrever os passos da Avaliação Neuropsicológica;
• apontar as técnicas e instrumentos de avaliação neuropsicológica;
• expor o processo para interpretação dos resultados da avaliação
neuropsicológica;
• demonstrar os processos da avaliação neuropsicológica na prática clínica com
crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Fazer:
• empregar os instrumentos de avaliação neuropsicológica de acordo com as
necessidades apresentadas em cada situação;
• utilizar a avaliação neuropsicológica na prática clínica com crianças,
adolescentes, adultos e idosos.
Avaliação Neuropsicológica

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, discutiremos temas que lhe auxiliarão na prática em
neuropsicologia. Você será levado a pensar de forma técnica e científica, pois
uma boa avaliação neuropsicológica dependerá de você, pois vai exigir estudo,
treino e muita atenção em todos os passos.

A neuropsicologia é uma área da neurociência que tem por objetivo estudar


a relação entre comportamento e funcionamento cerebral em condições normais
e patológicas. Mas para chegarmos até a avaliação neuropsicológica, vamos
percorrer um caminho, pelo qual você será nosso convidado especial. Vamos
percorrer a trilha da avaliação psicológica, estudar as resoluções do Conselho
Federal de Psicologia (CFP), que regulamentam a nossa prática profissional.

Lembre-se de que não basta conhecer, ler e praticar, também é necessário


ser ético, para tanto temos que saber nossos limites profissionais, temos que
conhecer a legislação vigente, temos que saber quais instrumentos são validados
para uso no Brasil de acordo com o CFP.

Neste capítulo você terá acesso a alguns modelos de instrumentos, porém,


lembre-se de que você deverá adaptar cada um destes instrumentos ao contexto
no qual irá aplicar e, principalmente, a queixa de cada paciente, além do que você
poderá ir aprimorando, principalmente a entrevista ao longo de sua prática clínica.

Você também será convidado a refletir sobro o uso da avaliação


neuropsicológica na prática clínica, considerando as diferentes faixas etárias e
suas peculiaridades.

A avaliação neuropsicológica é um tipo bastante complexo


de avaliação psicológica, porque exige do profissional não
apenas uma sólida fundamentação em psicologia clínica e
familiaridade com a psicometria, mas também especialização
e treino em contexto em que seja fundamental o conhecimento
do sistema nervoso e de suas patologias (LEZAK, 1995 apud
CUNHA, 2000, p. 171).

2 FUNDAMENTOS DA AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA
No atual contexto, a avaliação psicológica é considerada um procedimento
técnico que possibilita analisar dados da personalidade, aspectos cognitivos,
tomando prováveis manifestações, dificuldades do desenvolvimento, demandas

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Avaliação Neuropsicológica

neuropsicológicas, características adaptativas e desadaptativas, entre outros,


possibilitando assim um prognóstico e as melhores indicações de tratamento
(HUTZ et al., 2016).

Segundo a Resolução nº 9, de 25 de abril de 2018, do Conselho Federal de


Psicologia:

Art. 1º - Avaliação Psicológica é definida como um processo


estruturado de investigação de fenômenos psicológicos,
composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo
de prover informações à tomada de decisão, no âmbito
individual, grupal ou institucional, com base em demandas,
condições e finalidades específicas.
Art. 2º - Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga
e o psicólogo devem basear sua decisão, obrigatoriamente,
em métodos e/ou técnicas e/ou instrumentos psicológicos
reconhecidos cientificamente para uso na prática profissional da
psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação),
podendo, a depender do contexto, recorrer a procedimentos
e recursos auxiliares (fontes complementares de informação).
Consideram-se fontes de informação:
I – Fontes fundamentais:
a) Testes psicológicos aprovados pelo CFP para uso
profissional da psicóloga e do psicólogo e/ou;
b) Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou;
c) Protocolos ou registros de observação de comportamentos
obtidos individualmente ou por meio de processo grupal e/
ou técnicas de grupo.
II – Fontes complementares:
a) Técnicas e instrumentos não psicológicos que possuam
respaldo da literatura científica da área e que respeitem o
Código de Ética e as garantias da legislação da profissão;
b) Documentos técnicos, tais como protocolos ou relatórios
de equipes multiprofissionais (CFP, 2018, p. 2-3).

A área da avaliação psicológica fundamenta-se em dados científicos, que


caracterizam a percepção das manifestações psicológicas, e sua evolução tem
ocorrido frente às novas exigências que têm demandado a definição de métodos,
técnicas e teorias científicas (CFP, 2013).

A avaliação psicológica é compreendida como um amplo


processo de investigação, no qual se conhece o avaliado
e sua demanda, com o intuito de programar a tomada de
decisão mais apropriada do psicólogo. Mais especialmente,
a avaliação psicológica refere-se à coleta e interpretação de
dados, obtidos por meio de um conjunto de procedimentos
confiáveis, entendidos como aqueles reconhecidos pela
ciência psicológica.

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Compete ao psicólogo planejar e realizar o processo avaliativo


com base em aspectos técnicos e teóricos. A escolha do
número de sessões para a sua realização, das questões a
serem respondidas, bem como de quais instrumentos/técnicas
de avaliação devem ser utilizados será baseada nos seguintes
elementos:
1. contexto no qual a avaliação psicológica se insere;
2. propósitos da avaliação psicológica;
3. construtos psicológicos a serem investigados;
4. adequação das características dos instrumentos/técnicas
aos indivíduos avaliados;
5. condições técnicas, metodológicas e operacionais do
instrumento de avaliação (CFP, 2013, p. 11).

2.1 PSICODIAGNÓSTICO
O psicodiagnóstico é um método científico que se utiliza de técnicas e testes
psicológicos, em nível individual ou coletivo, quer para responder demandas
teóricas, detectar e analisar particularidades ou para identificar o quadro e avaliar
seu possível caminho (CUNHA, 2000).

QUADRO 1 – PASSOS DE UM PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO

Passos Especificações
Determinar os motivos da consulta e/ou do encaminhamento
1. e levantar dados sobre a história pessoal (dados de natureza
psicológica, social, médica, profissional, escolar).
Definir as hipóteses e os objetivos do processo de avaliação.
2. Estabelecer o controle de trabalho (com o examinando e/ou
responsável).
Estruturar um plano de avaliação (selecionar instrumentos e/ou
3. técnicas psicológicas).

4. Administrar as estratégias e instrumentos de avaliação.


Corrigir ou levantar, qualitativa e quantitativamente, as estratégias
5. e os instrumentos de avaliação.
Integrar os dados colhidos, relacionados com as hipóteses iniciais
6.
e com os objetivos da avaliação.
Formular as conclusões, definindo potencialidades e
7. vulnerabilidades.
Comunicar os resultados por meio de entrevista de devolução
8. e de um laudo/relatório psicológico. Encerrar o processo de
avaliação.

FONTE: Hutz et al. (2016, p. 29)

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Avaliação Neuropsicológica

Cunha (2000, p. 30) sugere alguns passos para operacionalização


psicodiagnóstico:

a) determinar o motivo do encaminhamento [...];


b) levantar dados de natureza psicológica, social, médica,
profissional [...];
c) colher dados sobre a história clínica e história pessoal [...];
d) realizar o exame do estado mental [...];
e) levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame;
f) estabelecer um plano de avaliação;
g) estabelecer um contrato de trabalho [...];
h) administrar testes e outros instrumentos psicológicos;
i) levantar dados quantitativos e qualitativos;
j) selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos
para os objetivos do exame [...];
k) comunicar resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo,
parecer e outros informes [...];
l) encerrar o processo.

Para fazer um psicodiagnóstico, “o profissional deve saber avaliar com


cuidado a demanda trazida pelo paciente ou pela fonte de encaminhamento, para,
a partir disso, realizar considerações éticas sobre o pedido e, quando estas forem
favoráveis, tecer os objetivos de sua realização” (HUTZ et al., 2016, p. 21).

O psicodiagnóstico é um procedimento científico de


investigação e intervenção clínica, limitado no tempo, que
emprega técnicas e/ou testes psicológicos com propósito de
avaliar uma ou mais características psicológicas visando a um
diagnóstico psicológico (descritivo e/ou dinâmico), construído
à luz de uma orientação teórica que subsidie a compreensão
da situação avaliada, gerando uma ou mais indicações
terapêuticas e encaminhamentos (HUTZ et al., 2016 p. 25).

Aprofundar o tema: Conselho Federal de Psicologia. Avaliação


psicológica: diretrizes na regulamentação da profissão / Conselho
Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2010. 196 p.

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

3 PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
Nesta oportunidade, iremos conduzir você ao encontro dos principais
instrumentos e técnicas a serem utilizados em um processo de avaliação
neuropsicológica, tendo como ênfase a entrevista clínica, os testes psicológicos,
testes neuropsicológicos e alguns instrumentos de rastreio. Mas antes de
entrarmos nestes temas específicos, faremos uma breve explanação sobre a
neuropsicologia e suas possibilidades de atuação, tendo como ponto principal a
“avalição neuropsicológica”.

Você terá acesso a informações que serão utilizadas ao longo de sua


formação, sendo por muitas vezes necessário retomar este livro, pois nele
será tratado o fundamento da atuação do profissional em neuropsicologia, sua
ferramenta de trabalho, que é em primeiro lugar a avaliação neuropsicológica.

Desta forma, convidamos você a focar seus estudos priorizando momentos


que irão para além deste material, sendo necessário fazer, por vezes, leituras
extras, no intuito de complementar seus estudos.

Hamdan, Pereira e Riechi (2011) definem a neuropsicologia de modo geral


como um estudo entre o cérebro e o comportamento, e de uma forma mais
restrita, como o campo que investiga as alterações cognitivas e comportamentais
associada às lesões cerebrais. Vamos nos basear nestes autores para descrever
as áreas e os conhecimentos que mediam a prática da neuropsicologia:

FIGURA 1 – ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE MEDIAM


A PRÁTICA DA NEUROPSICOLOGIA

Neuroanatomia

Psicologia
Neurofisiologia Cognitiva

Psicologia
Neurofarmacologia Neuropsicologia Clínica

Psicopatologia Psicometria

Neuroquímica

FONTE: Adaptado de Hamdan, Pereira e Riechi (2011)

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Avaliação Neuropsicológica

A neuropsicologia tem como principal objetivo identificar a


consequência das características estruturais e funcionais do
cérebro e do comportamento em situações de estímulo e de
respostas definidas, e o processo de avaliação é basicamente
representado por meio de duas grandes questões: 1) quais são
as funções comprometidas e 2) que aspectos comportamentais
podem minimizar essa expressão psicopatológica (ANDRADE;
SANTOS; BUENO, 2004, p. 22).

O profissional especialista em neuropsicologia pode atuar em diferentes


contextos, entre eles:

• Consultório;
• Clínicas especializadas com equipe interdisciplinar;
• Hospitais;
• Ambulatórios;
• Grupos de pesquisa;
• Universidades.

Entre as principais funções do profissional da neuropsicologia está a


avaliação neuropsicológica. Segundo Malloy-Diniz et al. (2010 p. 47), “a avaliação
neuropsicológica consiste no método de investigar as funções cognitivas e
o comportamento. Trata-se da aplicação de técnicas de entrevista, exames
quantitativos e qualitativos das funções que compõem a cognição abrangendo
processos de atenção, percepção, memória, linguagem e raciocínio”.

Segundo a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 013/2007:

XI – Psicólogo especialista em Neuropsicologia Atua no


diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na
pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e
do comportamento sob o enfoque da relação entre estes
aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de
conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências e pela
prática clínica, com metodologia estabelecida experimental
ou clinicamente. Utiliza instrumentos especificamente
padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas
envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção,
linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,
habilidades acadêmicas, processamento da informação,
visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas (CFP,
2007, p. 23-24).

Segundo Fuentes et al. (2008), a avaliação neuropsicológica tem como


objetivos:

• Auxiliar diagnóstico;
• Prognóstico;

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

• Orientação para o tratamento;


• Auxílio para o planejamento da reabilitação;
• Perícia.

Para darmos sequência ao entendimento do objetivo e do funcionamento do


processo de avaliação neuropsicológica é necessário entendermos a diferença
entre a neuropsicologia e a psicometria:

QUADRO 2 – DIFERENÇA ENTRE A NEUROPSICOLOGIA E A PSICOMETRIA


O neuropsicólogo realiza um estudo clínico, utilizando vários instrumentos, dentre
eles, testes para confrontar as mudanças comportamentais do paciente, com as
prováveis áreas cerebrais comprometidas.
DIFERENÇA
Já a psicometria colabora para a evolução da neuropsicologia, mas sem atém
à elaboração de metadologias e elaboração de teste, priorizando amostras e
padroniezações em grupo de pessoas.

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

Como podemos perceber através deste quadro, a neuropsicologia se utiliza


da psicometria em seus estudos, tendo como foco a avaliação das alterações
cognitivas, que serão mensuradas através de instrumentos padronizados.

O processo de avaliação neuropsicológica exige que você se atente à


demanda procedente do encaminhamento. Aqui utilizaremos o esquema proposto
por Cunha (2010), para facilitar seu entendimento:

FIGURA 2 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

FONTE: Adaptado de Cunha (2000, p. 172)

Segundo Andrade, Santos e Bueno (2004, p. 21), “a avaliação


neuropsicológica é realizada via entrevista e testes, que podem ser agrupados
em baterias fixas ou flexíveis, e exames psicofisiológicos, além de inventários
e questionários que possam avaliar o humor, as condições socioculturais, a
qualidade de vida, entre outros”.

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Avaliação Neuropsicológica

Você pode estar se perguntando o que significa uma bateria e quais


as diferenças entre elas. Para isto, iremos contextualizar cada uma das
possibilidades de baterias, levando em consideração o contexto mais propício
para sua utilização:

QUADRO 3 – POSSIBILIDADES DE BATERIAS PARA


AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

• São extremamente úteis em pesquisas ou em serviços especializados


em determinadas doenças neurológicas;
• Permite às equipes a organização de dados e viabiliza a visão
comparativa de casos;
Bateria Fixa • A escolha de testes deve ser abrangente para investigar as funções
comprometidas nas doenças a seres investigadas.

• São mais indicadas para aplicação no contexto ambulatorial ou de


internamento hospitalar;
• É mais indicada quando a solicitaçao exige um posicionamento imediato;
• Proporciona apenas um resultado indicativo de alteração e sugere
Bateria Breve possíveis áreas de investigação;
• Em casos em que a alteração é sutil, essa técnica é insuficiente.

• É mais indicada para uso na clínica;


• A partir da demanda, o profissional seleciona as técnicas adequadas,
com flexibilidade;
• As tarefas iniciais podem ser mais simples, de modo a introduzir o ritmo
Bateria Flexível e verificar a capacidade do paciente em se adaptar e de colaborar com
o processo.

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010, p. 51-52)

Como você pôde perceber, são vários os pontos a serem considerados


em uma avaliação neuropsicológica, entre eles a seleção dos instrumentos que
serão utilizados, porém, fique calmo, iremos detalhar esse processo ao longo do
capítulo.

Consideramos pertinente fazer um apontamento com alguns itens a


serem considerados durante o processo de planejamento de uma avaliação
neuropsicológica, mesmo que iremos aprofundá-los mais a frente, isso facilitará
seu entendimento ao longo do capítulo deste livro. Desta forma, preste atenção
nas seguintes pontuações:

• Planejar – levando em consideração as queixas do paciente e o motivo do


encaminhamento.

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

• A entrevista deve ser adequada à faixa etária e, se necessário, solicitar a


presença de familiares, responsáveis legais ou cuidadores.
• Utilizar testes psicológicos e neuropsicológicos validados e autorizados
para uso de Psicólogos (as), além de considerar a escolaridade e faixa
etária de cada paciente.
• O número de sessões para realização da avaliação neuropsicológica
vai estar diretamente vinculado às condições clínicas do paciente e do
local onde será realizada (contexto hospitalar, ambulatório, consultório,
escola).
• Interromper sempre que o paciente apresentar: cansaço, desmotivação,
sonolência, falta de um artifício que possa causar interferência, tais como
óculos, aparelhos auditivos.
• Usar instrumentos de rastreio que tenham validação para uso no Brasil.

• escolaridade
Outro ponto a ser considerado antes de iniciar uma avaliação e fatores
neuropsicológica é aprofundar o seu conhecimento no que se refere socioeconômicos;
aos fatores que podem interferir neste processo. Aqui podemos citar: • uso de
medicamentos;
• escolaridade e fatores socioeconômicos; • distúrbios de
memória e de
• uso de medicamentos;
linguagem;
• distúrbios de memória e de linguagem; • cansaço;
• cansaço; • sonolência;
• sonolência; • motivação
• motivação reduzida; reduzida;
• limitações motoras; • limitações motoras;
• depressão e
• depressão e ansiedade.
ansiedade.

Os fatores aqui citados devem ser considerados no momento da escolha


dos instrumentos de avaliação, assim como na sua decisão profissional de dar
sequência à avaliação neuropsicológica ou de interrompê-la, pois o paciente com
sonolência, por exemplo, não conseguirá realizar ou realizará com dificuldade
várias tarefas propostas.

Atenção: Não basta identificar as dificuldades e fragilidades


dos pacientes em processo de avaliação neuropsicológica,
pois na condição de Neuropsicólogo é imprescindível propor
encaminhamentos e possíveis tratamentos ou reabilitação, neste
caso, temos que identificar quais as potencialidades deste paciente,
quais as áreas cognitivas preservadas ou com possibilidade de
habilitação ou reabilitação.

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Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 3 – POTENCIALIDADES E DIFICULDADES DO PACIENTE NO


PROCESSO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Dificuldades Potencialidades

FONTE: A autora

Vamos nos aprofundar um pouco nesses dois conceitos. As dificuldades


são todas as funções cognitivas que se encontram comprometidas ou alteradas
no processo de avaliação neuropsicológica, entre elas podemos citar: memória,
linguagem, percepção. Já as potencialidades são todas as funções cognitivas que
estão preservadas ou com potencial para ser estimuladas ou reabilitadas após
a avaliação neuropsicológica, na literatura podemos encontrar esses conceitos
descritos também como forças e fraquezas.

A avaliação neuropsicológica estabelece quais são as forças


e as fraquezas cognitivas, provendo assim um “mapa” para
orientar quais funções devem ser reforçadas ou substituídas por
outras. Além disso, permite auxiliar as mudanças nas opções
profissionais, acadêmicas e no ambiente familiar, ampliando os
recursos cognitivos que possibilitam melhorar a qualidade de
vida (FUENTES et al., 2008, p. 108).

No que se refere às dificuldades e potencialidades, é fundamental que


você perceba que o seu papel profissional vai muito além de só avaliar, você irá,
através dos dados obtidos, elencar as áreas com maior potencial de intervenção
profissional, assim como orientar o paciente, familiares e/ou cuidadores e
equipe interdisciplinar em como relacionar-se com os possíveis déficits, quando
presentes. Mas não se preocupe, você retomará esta temática quando falarmos
especificamente das intervenções em neuropsicologia.

Outro conceito importante é o de instrumento. Segundo Andrade, Santos e


Bueno (2004, p. 10), “um instrumento pode ser considerado como qualquer meio
de estender nossa ação ao meio e, assim, poder minimizar nossas limitações em
uma ação investigativa da observação, maximizando a eficácia da obtenção de
dados e os seus resultados”.

Segundo a Resolução nº 9/2018 do Conselho Federal de Psicologia:

Art.2º. Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga


e o psicólogo devem basear sua decisão, obrigatoriamente,
em métodos e/ou técnicas e/ou instrumentos psicológicos
reconhecidos cientificamente para uso na prática profissional da
psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação),
podendo, a depender do contexto, recorrer a procedimentos
e recursos auxiliares (fontes complementares de informação).

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Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Consideram-se fontes de informação:


I – Fontes fundamentais:
a) Testes psicológicos aprovados pelo CFP para uso
profissional da psicóloga e do psicólogo e/ou;
b) Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou;
c) Protocolos ou registros de observação de comportamentos
obtidos individualmente ou por meio de processo grupal e/
ou técnicas de grupo.
II – Fontes complementares:
a) Técnicas e instrumentos não psicológicos que possuam
respaldo da literatura científica da área e que respeitem o
Código de Ética e as garantias da legislação da profissão;
b) Documentos técnicos, tais como protocolos ou relatórios de
equipes multiprofissionais (CFP, 2018, p. 2-3).

Antes de entrarmos no processo propriamente dito de “avaliação


neuropsicológica, você deve se atentar para o que aprendeu até aqui. Faça
uma breve reflexão sobre os conceitos e estratégias a serem seguidas antes
de realizar uma avaliação neuropsicológica, principalmente a necessidade de
planejar as intervenções antes de entrar em atendimento.

MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto


Alegre: Artmed, 2010.

3.1 ENTREVISTA CLÍNICA


A entrevista clínica no contexto da psicologia é um agrupamento de
técnicas de inquirição, com tempo demarcado, realizada por um entrevistador
com conhecimentos técnicos e psicológicos, numa relação profissional,
tendo como propósito descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou
sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), visando recomendações,
encaminhamentos, ou recomendar tratamento em benefício das pessoas
entrevistadas (CUNHA, 2000).

Para Silva e Bandeira (2016), a entrevista clínica é um instrumento muito


usado na psicologia, tendo como propósito coletar informações sobre o avaliado,
com foco nas áreas mais importantes da sua vida e os motivos que direcionam
ao atendimento, podendo, assim, formular hipóteses diagnósticas e selecionar
os instrumentos e técnicas para o psicodiagnóstico.

19
Avaliação Neuropsicológica

A entrevista clínica tem início com o histórico do paciente,


onde é investigado (escolaridade, ocupação, antecedente
familiar e histórico da doença atual), na entrevista também
é fundamental saber como era o funcionamento anterior a
doença e ou acidente, para que seja possível avaliar suas
perdas (MALLOY-DINIZ et al., 2010 p. 49).

Como podemos observar, a entrevista clínica é um dos momentos


fundamentais para o processo de avaliação neuropsicológico, pois é através
dela que vamos levantar dados para dar seguimento à escolha de testes e
instrumentos para avaliação.

Já aprendeu muito até aqui? Vamos lá, agora vamos apresentar para você
algumas sugestões de roteiro para entrevista neuropsicológica nas diferentes
faixas etárias. Os modelos aqui propostos foram adaptados dos modelos
sugeridos por Hutz et al. (2016) e Spreen e Strauss (1998), bem como da prática
clínica da autora.

QUADRO 4 – ROTEIRO PARA ENTREVISTA NEUROPSICOLÓGICA: CRIANÇA

Data da Entrevista:___________________________Local da Entrevista:_______


_________________________________________________________________
Informações fornecidas por: __________________________________________

Nome:________________________________________ DN: _______________


Endereço: ________________________________________________________
Sexo: M ( ) F ( ) Língua Nativa da Criança: _________________________
Endereço:__________________________Bairro:__________________________
Cidade____________________________________________ CEP:__________
Telefone(s) para Contato: ____________________________________________

Solicitante: _______________________________________________________
Motivo do Encaminhamento__________________________________________
________________________________________________________________

Breve Histórico da vida escolar:


Escolaridade: _________________ Idade que ingressou na escola:__________
Desempenho escolar, sucessos ou dificuldades encontradas:________________
Relacionamento no ambiente escolar: __________________________________
Interesses acadêmicos, atividades extracurriculares:_______________________
________________________________________________________________

20
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Descrição dos sintomas e queixas: ___________________________________


Breve história da evolução da queixa que provocou o encaminhamento:
________________________________________________________________

Dinâmica Familiar: Descreva o nome idade, sexo e vínculo de todos os que


residem no ambiente familiar:

Nome Idade Sexo Grau de parentesco

Com quem a criança passa a maior parte do tempo: (Nome, idade e vínculo
com a criança): ___________________________________________________
________________________________________________________________

Histórico do Desenvolvimento: Como foi o desenvolvimento da criança do


período de gestação à infância (biológico, social, psicológico, psicomotor)?

Gravidez
Complicações

Exposição a substâncias nocivas

Duração da gravidez

Idade materna

Nascimento

Tipo de parto

Complicações

Problemas neonatais

Desenvolvimento inicial

Maturidade psicomotora

Idade dos primeiros passos


Com que idade falou as primeiras
palavras

21
Avaliação Neuropsicológica

Histórico de Saúde:
Alguma doença diagnosticada: Sim ( ) Não ( ) Qual: ____________________
________________________________________________________________
Teve hospitalização, cirurgia e/ou acidentes durante o desenvolvimento: ______
________________________________________________________________
Fez ou faz uso de medicação (descreva): ______________________________
________________________________________________________________
É acompanhado por alguma especialidade: Sim ( ) Não ( ) Qual: _________
________________________________________________________________
Como é o desenvolvimento emocional da criança (algum tratamento psicológico
até o momento, motivo do tratamento, ainda está em acompanhamento): _____
________________________________________________________________
Algum familiar com doença neurológica, desordem emocional e ou psiquiátrica:
________________________________________________________________
A criança teve alguma perda significativa durante o seu desenvolvimento (ex.:
falecimento de alguém, separação dos pais, acolhimento institucional): _______
________________________________________________________________
Como são seus hábitos e rotina (o que gosta de fazer, preferências,
alimentação, sono): ________________________________________________
Apresentou alguma alteração nestes hábitos nos últimos tempos:____________
________________________________________________________________
Apresentou alguma alteração ou sintoma físico (descreva):_________________
________________________________________________________________
Apresentou alguma mudança no comportamento nos últimos tempos :________
_______________________________________________________________

Exames realizados nos últimos meses: ________________________________


________________________________________________________________
Relatório escolar ou de outra avaliação realizada: ________________________
________________________________________________________________

Observações importantes durante a entrevista: __________________________


________________________________________________________________
________________________________________________________________
Assinatura do Entrevistado

Carimbo e Assinatura do Profissional

FONTE: Adaptado de Hutz et al. (2016), Spreen e Strauss (1998) e a autora

22
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

QUADRO 5 – ROTEIRO PARA ENTREVISTA


NEUROPSICOLÓGICA: ADOLESCENTE

Data da Entrevista:___________________________Local da Entrevista:_______


_________________________________________________________________
Informações fornecidas por: __________________________________________

Nome:________________________________________ DN: _______________


Endereço: ________________________________________________________
Sexo: M ( ) F ( ) Língua Nativa da Criança: _________________________
Endereço:__________________________Bairro:__________________________
Cidade____________________________________________ CEP:__________
Telefone(s) para Contato: ____________________________________________

Solicitante: _______________________________________________________
Motivo do Encaminhamento__________________________________________
________________________________________________________________

Breve Histórico da vida escolar:


Escolaridade: _________________ Idade que ingressou na escola:__________
Desempenho escolar, sucessos ou dificuldades encontradas:________________
Relacionamento no ambiente escolar: __________________________________
Interesses acadêmicos, atividades extracurriculares:_______________________
________________________________________________________________

Descrição dos sintomas e queixas: _________________________________


Breve história da evolução da queixa que provocou o encaminhamento:
________________________________________________________________
As queixas e/ou sintomas estão estagnados ou piorando:__________________

Dinâmica Familiar: Descreva o nome idade, sexo e vínculo de todos os que


residem no ambiente familiar:

Nome Idade Sexo Grau de parentesco

Histórico do Desenvolvimento: Como foi o desenvolvimento da criança do


período de gestação à infância (biológico, social, psicológico, psicomotor)?

23
Avaliação Neuropsicológica

Gravidez
Complicações
Exposição a substâncias nocivas
Duração da gravidez
Idade materna
Nascimento

Tipo de parto
Complicações
Problemas neonatais
Fatos marcantes durante o
desenvolvimento
Algum fato marcante na
puberdade

Histórico de Saúde:
Alguma doença diagnosticada: Sim ( ) Não ( ) Qual: ___________________
Teve hospitalização, cirurgia e/ou acidentes durante o desenvolvimento: _____
_______________________________________________________________
Fez ou faz uso de medicação (descreva): ______________________________
_______________________________________________________________
É acompanhado por alguma especialidade: Sim ( ) Não ( ) Qual: _________
_______________________________________________________________
Como é o desenvolvimento emocional do adolescente (algum tratamento
psicológico até o momento, motivo do tratamento, ainda está em
acompanhamento): _______________________________________________
Algum familiar com doença neurológica, desordem emocional e ou psiquiátrica:
_______________________________________________________________
O adolescente teve alguma perda significativa durante o seu desenvolvimento
(ex.: falecimento de alguém, separação dos pais, acolhimento institucional):___
_______________________________________________________________
Como são seus hábitos e rotina (o que gosta de fazer, preferências,
alimentação, sono): _______________________________________________
Apresentou alguma alteração nestes hábitos nos últimos tempos:___________
_______________________________________________________________
Apresentou alguma alteração ou sintoma físico (descreva):________________
_______________________________________________________________
Apresentou alguma mudança no comportamento após a queixa clínica:______
_______________________________________________________________
Alguma mudança na capacidade de realizar as atividades do dia a dia (vestir-
se, ir à escola, sair de casa): ________________________________________

24
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Histórico familiar:

Relação do (a) adolescente com os pais:_______________________________


Atitudes com os irmãos, colegas, amigos: ______________________________
________________________________________________________________
Intimidade com as pessoas da família, conflitos entre os membros da família: __
________________________________________________________________
Como o (a) adolescente lida com frustrações: ___________________________
Como o (a) adolescente lida com normas e limites: _______________________
Como é sua relação de dependência/independência dos pais:______________
Alguma mudança na relação com os membros da família nos últimos
tempos:_________________________________________________________

Relações Sociais:

Qual é o círculo de relacionamento do (a) adolescente: ____________________


Quem é ou são as pessoas que o (a) adolescente tem maior afinidade: _______
________________________________________________________________
Quais são as atividades que despertam maior interesse no (a)
adolescente:______________________________________________________
Houve alguma mudança nos interesses do (a)adolescente nos últimos tempos?
Se houve, em que áreas:____________________________________________
Histórico de namoro (caso tenha ou teve):______________________________

O (a) adolescente apresentou algum comportamento como:

Fuga de casa
Uso de drogas
Transtornos alimentares
Isolamento social
Sentimentos de inferioridade
Rebeldia
Rejeição

25
Avaliação Neuropsicológica

Exames realizados nos últimos meses: ________________________________


_______________________________________________________________
Relatório escolar ou de outra avaliação realizada: _______________________
_______________________________________________________________
Observações importantes durante a entrevista: _________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura do Entrevistado

Carimbo e Assinatura do Profissional

FONTE: Adaptado de Hutz et al. (2016), Spreen e Strauss (1998) e a autora

QUADRO 6 – ROTEIRO PARA ENTREVISTA NEUROPSICOLÓGICA: ADULTO

Data da Entrevista:___________________________Local da Entrevista:_______


_________________________________________________________________
Informações fornecidas por: __________________________________________

Nome:________________________________________ DN: _______________


Endereço: ________________________________________________________
Sexo: M ( ) F ( ) Língua Nativa da Criança: _________________________
Estado Civil ou Relacionamento:_______________________________________
Filhos: Sim ( ) Não ( )
Endereço:__________________________Bairro:_________________________
Cidade:____________________________________________ CEP:__________
Telefone(s) para Contato: ____________________________________________

Solicitante: _______________________________________________________
Motivo do Encaminhamento__________________________________________
________________________________________________________________

Descrição dos sintomas e queixas: _________________________________


Breve história da evolução da queixa que provocou o encaminhamento:
________________________________________________________________
As queixas e/ou sintomas estão estagnados ou piorando:__________________
Você sabe precisar em que momento teve início estes sintomas:_____________
________________________________________________________________

26
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Breve histórico de vida: Gestação (eventos marcantes):__________________


Aspectos marcantes durante o desenvolvimento: _________________________
Características que mais se destacaram na infância: ______________________
Características mais evidentes na adolescência:__________________________
Algum fato e/ou problema específico na adolescência: ____________________
Descreva brevemente o percurso escolar até o momento atual:______________

Dinâmica Familiar: Descreva o nome idade, sexo e vínculo de todos os que


residem no ambiente familiar:

Nome Idade Sexo Grau de parentesco

Idade Adulta
Percurso ocupacional: ______________________________________________
________________________________________________________________
Escolha profissional: _______________________________________________
________________________________________________________________
Ocupação e situação atual: __________________________________________
Relações com colegas, chefias, subordinados e ambiente de trabalho: ________
________________________________________________________________
Número de empregos e duração: _____________________________________
________________________________________________________________
Satisfação com o trabalho atual (possíveis problemas, estresse, esgotamento):
________________________________________________________________

Histórico de Saúde:
Alguma doença diagnosticada: Sim ( ) Não ( ) Qual: ___________________
Teve hospitalização, cirurgia e/ou acidentes durante o desenvolvimento: _____
_______________________________________________________________
Fez ou faz uso de medicação (descreva): ______________________________
_______________________________________________________________
É acompanhado por alguma especialidade: Sim ( ) Não ( ) Qual: _________
_______________________________________________________________
Como é o seu desenvolvimento emocional (algum tratamento psicológico até o
momento, motivo do tratamento, ainda está em acompanhamento): _________
_______________________________________________________________
Algum familiar com doença neurológica, desordem emocional e ou psiquiátrica:
_______________________________________________________________

27
Avaliação Neuropsicológica

Como são seus hábitos e rotina (o que gosta de fazer, preferências,


alimentação, sono): _______________________________________________
Apresentou alguma alteração nestes hábitos nos últimos tempos: __________
Apresentou alguma alteração ou sintoma físico (descreva):________________
Apresentou alguma mudança de comportamento após a queixa clínica: ______
Percebeu alguma mudança nas atividades de vida diária, no trabalho ou nas
atividades sociais após o surgimento da queixa:__________________________

Histórico familiar:

Relação com os seus familiares:______________________________________


Atitudes com os irmãos, colegas, amigos: ______________________________
________________________________________________________________
Intimidade com as pessoas da família, conflitos entre os membros da família:
________________________________________________________________
O problema atual afetou de alguma forma sua vida familiar:________________

Relações Sociais:

Qual é o círculo de relacionamento: ___________________________________


Quem é ou são as pessoas que você tem maior afinidade: _________________
Quais são as atividades que despertam maior interesse em você:___________
Houve alguma mudança nos seus interesses nos últimos tempos? Se houve,
em quais áreas: __________________________________________________
Histórico de namoro (caso tenha ou teve):______________________________
Caso casado (a), descreva seu relacionamento conjugal: __________________
________________________________________________________________

Apresentou alguma das alterações abaixo


Sim Não
após início dos sintomas (queixa)
Dificuldade com planejamento e organização
Dificuldade em terminar uma atividade
Dificuldade em se adaptar a mudanças
Dificuldade para se concentrar
Distrai-se com facilidade
Aumento da impulsividade
Dificuldade em lembrar de eventos ou
compromissos
Dificuldade de compreensão

28
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Dificuldade de expressão
Dificuldade de localização
Dificuldade com a escrita
Dificuldade em ler
Dificuldade em lidar com dinheiro

Até o momento, quais medidas foram tomadas em relação à queixa


apresentada: _____________________________________________________
________________________________________________________________
Exames realizados nos últimos meses: ________________________________
Relatório escolar ou de outra avaliação realizada: ________________________
Observações importantes durante a entrevista __________________________
________________________________________________________________
Assinatura do Entrevistado

Carimbo e Assinatura do Profissional

FONTE: Adaptado de Hutz et al. (2016), Spreen e Strauss (1998) e a autora

Como você pôde observar nos modelos propostos, a entrevista clínica vai
guiá-lo no entendimento do que demandou a avaliação neuropsicológica. Na sua
prática profissional, você vai aprimorar os modelos propostos de acordo com o
público atendido ou com o local de atuação, pois caso sua prática venha a ser
desenvolvida em um hospital, por exemplo, você terá que fazer uma entrevista
reduzida.

Lembre-se de que a entrevista é, na maioria das vezes, o primeiro momento


em que você terá contato com o paciente, para isso é necessário usar sua
empatia, acolher o paciente ou a família e/ou responsável legal, de forma que este
se sinta confortável em responder às perguntas.

Na sequência, você irá adentrar aos testes psicológicos e teste


neuropsicológico, partes integrantes do processo de avaliação neuropsicológica.

29
Avaliação Neuropsicológica

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Aponte as principais diferenças que você percebeu entre os


modelos de entrevista clínica, considerando a diferença entre as
faixas etárias.

3.2 TESTES PSICOLÓGICOS E


TESTES NEUROPSICOLÓGICOS
Neste momento do livro didático, vamos levar você ao encontro e
entendimento do que é um teste psicométrico e neuropsicológico. Vamos estudar
as principais funções dos testes em um processo de avaliação, assim como as
implicações técnicas e legais na sua utilização. Não temos aqui a função de
findar o assunto, pois existe uma variedade de testes disponíveis, assim, será
necessário que você busque leituras e cursos auxiliares para além deste livro.

Segundo Andrade, Santos e Bueno (2004), os testes são utilizados em


investigações de caráter científico para medição de padrões psíquicos e os
comportamentais deles decorrentes. Para Fuentes et al. (2008), um teste
psicométrico tem por propósito a mensuração do comportamento presumindo que
se alguma coisa existe, existe certa quantidade, podendo então ser quantificada.

Considerando o exposto, percebemos que os testes psicométricos serão


utilizados no processo de avaliação como um instrumento para medir as alterações
cognitivas e/ou comportamentais, assim como as funções preservadas, auxiliando
assim o profissional no diagnóstico e intervenções, caso seja necessário.

Segundo a Resolução nº 9, de 25 de abril de 2018, do Conselho Federal


de Psicologia, em seu Art 4º: “Um teste psicológico tem por objetivo identificar,
descrever, qualificar e mensurar características psicológicas, por meio de
procedimentos sistemáticos de observação e descrição do comportamento
humano, nas suas diversas formas de expressão, acordados pela comunidade
científica” (CFP, 2018, p. 4).

Na avaliação psicológica, os testes são instrumentos objetivos e


padronizados de investigação do comportamento, que informam
sobre a organização normal dos comportamentos desencadeados
a partir de sua execução (por figuras, sons, formas espaciais, etc.

30
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Visam assim avaliar e quantificar comportamentos observáveis,


por meio de técnicas e metodologias específicas, embasadas
cientificamente em constructos teóricos que norteiam a análise
de seus resultados (AIKEN, 1996 apud ANDRADE; SANTOS;
BUENO, 2004, p. 17).

Porém, antes de sairmos por aí aplicando testes, devemos entender um


pouco mais sobre sua aplicabilidade, pois um teste nunca deve ser utilizado de
forma isolada, mas deve ter um propósito dentro de um contexto mais amplo, em
que seja pensada a sua finalidade, ou seja, responder antes a algumas perguntas:

• Por que eu vou aplicar um teste?


• Qual é o objetivo?
• O que cada teste vai avaliar?
• O teste que irei utilizar vai contribuir nas respostas que busco na avaliação
neuropsicológica?
• Quanto teste deve-se utilizar para buscar responder à hipótese
diagnóstica?
• O teste está validado para uso no Brasil?

Após responder a tais perguntas, você pode dar sequência à escolha dos
testes para compor uma bateria de avaliação neuropsicológica.

“Quando pensamos na ordem de aplicação da bateria de testes selecionada,


é recomendável que os primeiros testes sejam os menos ansiogênicos para que
não se desenvolva alguma resistência ante o processo” (HUTZ et al., 2016, p
31-32).

Na avaliação neuropsicológica são usados uma gama de testes que avaliam,


principalmente, as seguintes funções:

QUADRO 7 – AS PRINCIPAIS FUNÇÕES AVALIADAS EM NEUROPSICOLOGIA


Organização
Inteligência Geral Memória verbal e visual
visuoespacial
Capacidade de
Atenção e concentração Raciocínio
planejamento
Formação de conceito
Linguagem Funções executivas
verbal e não verbal
Aprendizagem Flexibilidade cognitiva Memória auditiva
Memória de curto e
Funções motoras Habilidades acadêmicas
longo prazo
Personalidade Humor Escrita, Leitura
FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

31
Avaliação Neuropsicológica

A Resolução nº 9/2018, do Conselho Federal de Psicologia, regulamenta


o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI. O SATEPSI foi
desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) com o objetivo de avaliar
a qualidade técnico-científica de instrumentos psicológicos para uso profissional,
a partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos e divulgar
informações sobre os testes psicológicos à comunidade e aos profissionais da
psicologia.

Prezado pós-graduando, este é um dos momentos do processo de estudo-


aprendizagem em que será exigido de você mais do que a leitura deste livro, será
necessário que você acesse o sistema SATEPSI, lei atentamente as indicações
dos testes autorizados para uso exclusivo para psicólogos (as), assim como a
aba que trata dos testes e escala não indicados para uso. O sistema também
apresenta instrumentos que não são de uso exclusivo para os psicólogos (as).
Essa medida é necessária, pois não conseguiremos apresentar todos os testes
neste livro.

De acordo com esta orientação, daremos seguimento aos nossos estudos.


Apresentamos para você alguns dos principais testes utilizados nas avaliações
neuropsicológicas (validados e liberados para uso, segundo o SATEPSI):

Atenção: Acesse o SATEPSI para conhecer os testes validados


para uso no Brasil e os que não devem ser usados pelos profissionais
da psicologia: http://satepsi.cfp.org.br/

QUADRO 8 – TESTES VALIDADOS PARA USO NO BRASIL QUE


PODEM SER UTILIZADOS EM AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Teste Autores Construto Público-alvo Aplicação


David
Escala de
Wechsler
Inteligência de De 16 a 89
Elizabeth do Inteligência Individual
Wechsler para anos
Nascimento
adulto (WAIS III)

32
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Desenho da
figura humana
Desenho da
Solange
figura humana Individual
Muglia Desenvolvimento Crianças
– avaliação do e coletivo
Wechsler
desenvolvimento
cognitivo infantil
(DFHIV)

Clarissa
Escala de
Marceli Trentini
Inteligência
Denise Balem De 6 a 89
Wechsler Inteligência Individual
Yates anos
Abreviada
Vanessa
(WASI)
StumpfHeck

Acácia
Aparecida
Angeli dos
Santos
Ana Paula
Escala de
Porto Noronha
Inteligência
Fabián Javier De 6 a 16
Wechsler para Inteligência Individual
Marín Rueda anos
Crianças – 4ª
Fermino
edição (WISC-IV)
Fernandes
Sisto
Nelimar
Ribeiro de
Castro

Figura A: a
Maisa dos
Percepção Visual partir de 5
Figura Complexa Santos Rigoni
Memória anos Individual
de Rey Margareth da
Figura B: 4 a
Silva Oliveira
7 anos

33
Avaliação Neuropsicológica

Orientação
têmporo-espacial;
Jerusa
Atenção
Fumagalli de
Concentrada;
Salles
Instrumento Percepção visual;
Maria Alice
de Avaliação Habilidades
de Mattos De 18 a 90
Neuropsicológica Aritméticas;
Pimenta anos
Breve Linguagem oral e
Parente
(NEUPSILIN) escrita;
Rochele Paz
Memória verbal
Fonseca
e visual, praxias
e funções
executivas

Camila Cruz-
Rodrigues
Claudia Berlim
De Mello
Jerusa
Fumagalli De
Instrumento Salles
de Avaliação Maria Alice
Processos De 6 a 12
Neuropsicológica De Mattos Individual
Neuropsicológicos anos
Breve Infantil Pimenta
(NEUPSILIN-Inf) Parente
Mônica
Carolina De
Miranda
Rochele Paz
Fonseca
Thais Barbosa

Blanca Susana
Guevara
Werlang
Clarice
Inventário de pré-
Gorenstein Individual
Depressão de Depressão adolescente
Irani Iracema e Coletivo
Beck (BDI –II) até idoso
de Lima
Argimon
Yuan-Pang
Wang

34
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Alexandre Luiz
De Oliveira
Serpa
Lucas
Matrizes
Francisco De De 18 a 63 Individual
Avançadas de Inteligência
Carvalho anos e Coletiva
Raven
Maria Márcia
De Oliveira
Nakano
Ricardo Primi

Homens e
mulheres
com idades
variando de
17 a 52 anos,
estudantes
Lucas De universitários;
Matrizes Raciocínio e
Francisco bem como
Progressivas capacidade para Individual
Carvalho homens e
Avançadas de resolução de e Coletiva
Ricardo Primi mulheres
Raven problemas
com idades
variando de 18
a 63 anos com
escolaridade
de Ensino
Médio a pós-
graduação

Carlos
Guilherme
Maciel Furtado
Schlottfeldt
Matrizes Gisele
De 5 anos a
Progressivas Aparecida Da Individual
Inteligência 11 anos e 6
Coloridas de Silva Alves e Coletivo
meses
Raven - CPM Jonas Jardim
De Paula
Leandro
Fernandes
Malloy-Diniz

35
Avaliação Neuropsicológica

Alina Gomide
Vasconcelos
Clauco Piovani
Memória de Elizabeth Do De 18 até 89 Individual
Memória recente
Faces Nascimento anos e Coletivo
Marco
Antônio Silva
Alvarenga

Suzy Vijande Atenção De 17 até 64 Individual


Teste AC
Cambraia concentrada anos e Coletivo

André Rey
Teste de Jonas Jardim
Aprendizagem De Paula Processos Sem
Individual
Auditivo-Verbal Leandro Neuropsicológicos informação
de Rey (RAVLT) Fernandes
Malloy-Diniz
Teste de Dehaut Processos Sem
Cancelamento Joanette Individual
Gauthier Neuropsicológicos informação
dos Sinos
Abigail Benton
Sivan
Clarissa
Marceli Trentini
Claudio Simon Memória visual;
Teste de Hutz De 7 a 30
Percepção visual;
Retenção Visual Denise anos e idosos
Práxia Individual
de Benton Ruschel entre 60 a 75
Bandeira visuoconstrutiva
(BVRT) anos
Jerusa
Fumagalli de
Salles
Joice Dickel
Segabinazi
Irene F.
Almeida de Sá
Leme
Ivan Sant’ana Atenção
Teste de Trilhas Rabelo De 18 até 86
Sustentada e Individual
Coloridas Milena de anos
Oliveira dividida
Rosseti
Sílvia Verônica
Pacanaro

36
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Fábio de
Vasconcelos
Teste dos Souza De 29 a 69 Individual
Inteligência
relógios (C e C) Suzy Vijande anos e coletivo
Cambraia

Teste Não Verbal


de Raciocínio De 5 até 14
Luiz Pasquali Inteligência Individual
para Crianças anos
(TNVRI)

Blanca
Guevara
Werlang
Clarissa
Marceli Trentini Raciocínio
Teste Wisconsin Irani de Lima abstrato e De 6 anos
de Classificação Argimon estratégias e meio a 89 Individual
de Cartas Jurema Alcides de solução de anos
Cunha problemas
Margareth da
Silva Oliveira
Rita Gomes
Prieb

Bruna Gomes
Mônego
Clarissa
Marceli Trentini
Irani Iracema
Processos Crianças,
de Lima
Teste Wisconsin Neuropsicológicos; adolescentes,
Argimon
de Classificação Processos adultos e Sem
José Humberto
de Cartas perceptivos/ idosos, a informação
da Silva Filho
(WCST) cognitivos partir de 6 até
Larissa Leite
89 anos
Barboza
Maisa dos
Santos Rigoni
Margareth da
Silva Oliveira

37
Avaliação Neuropsicológica

Blanca
Guevara
Teste Wisconsin Werlang Raciocínio
de Classificação Clarissa abstrato e
A partir de 60
de Cartas – Marceli Trentini estratégias Individual
anos
versão para Irani de Lima de solução de
idosos Argimon problemas
Margareth da
Silva Oliveira

FONTE: <http://satepsi.cfp.org.br>. Acesso em: 26 jun. 2019.

Ao fazer uso de testes para elaborar um protocolo de avaliação


Preste atenção:
neuropsicológica, é necessário pesquisar os testes validados,
você só deve aplicar
o teste do qual você considerar as funções cognitivas a serem avaliadas, a faixa etária, a
tenha conhecimento escolaridade do paciente. Mas antes de tudo, preste atenção: você só
e habilidade, pois deve aplicar o teste do qual você tenha conhecimento e habilidade,
erros de aplicação pois erros de aplicação podem gerar falsos resultados. Fique atento!
podem gerar falsos Estude os manuais! Treine! Faça cursos específicos!
resultados. Fique
atento! Estude os
manuais! Treine!
Faça cursos
específicos!

Sugestão de leitura para aprimoramento da temática testes.


CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico – V. 5. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2000.
SPREEN, O.; STRAUSS, E. A compendium of
neuropsychological tests: Administration, norms and commentary.
2. ed. New York: Oxford University Press, 1998.

Você já deve ter notado que são muitos testes e escalas que podem ser
utilizados, assim, iremos nos deter ao estudo mais aprofundado da Escala de
Inteligência Wechsler para Adultos –WAIS-III. Para isto, iremos nos basear no
Manual para Administração e Avaliação e Manual Técnico do WAIS-III, bem como
no livro de Cunha (2000).

38
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

3.2.1 Escala de Inteligência de Wechsler


para Adulto (WAIS III)
O WAIS-III é um instrumento clínico de aplicação individual
para avaliação da capacidade intelectual de adultos na faixa
etária entre 16 e 89 anos. [...] contém um total de 14 subtestes.
[...] o WAIS-III é composto de vários subtestes, cada qual
medindo um aspecto diferente da inteligência. O WAIS-III
fornece os três escores de QI Verbal, de Execução e Total –
além de quatro escores de Índices Fatoriais – Compreensão
Verbal, Organização Perceptual, Memória Operacional
(semelhante ao fator de Resistência à Distração WISC-III) e
Velocidade de Processamento (WECHSLER, 1997a, p. 19).

QUADRO 9 – SUBTESTES DO WAIS-III AGRUPADO EM ESCALA VERBAL E


ESCALA DE EXECUÇÃO

Verbal Execução

2. Vocabulário 1. Completar Figuras

4. Semelhanças 3. Códigos

6. Aritmética 5. Cubos

8. Dígitos 7. Raciocínio Matricial

9. Informação 10. Arranjo de Figuras

11. Compreensão 12. Procurando Símbolos

13. Sequência de Números e Letras 14. Armar Objetos

FONTE: Wechsler (1997, p. 21)

NOTA: Ordem de aplicação sugerida no Manual do teste.

Nossa intenção neste momento é a de que você leia atentamente e faça uma
reflexão sobre a importância de conhecer uma escala, um teste ou um instrumento
de avaliação, para que então você possa decidir quais instrumentos utilizará em
cada avaliação neuropsicológica. Você perceberá, neste momento, que cada

39
Avaliação Neuropsicológica

subteste da escala WAIS-III tem um ou mais propósitos de avaliação e que você


deve considerá-los no momento da aplicação e de análise dos resultados.

A Escala Wechsler de Inteligência (WAIS-III) é um dos principais instrumentos


de avaliação do desempenho intelectual de adolescentes e adultos. A aplicação
da escala é de forma individual, exigindo conhecimento e técnica para aplicar
e corrigir os subtestes. Esta escala possibilita a avaliação de várias funções
cognitivas (essa temática discutiremos de forma mais abrangente no Capítulo 3
deste livro), como vamos observar no texto a seguir:

Atenção: Lembre-se: você não precisa aplicar toda escala, vai


depender do que você quer avaliar.

1. Completar Figuras: avalia a percepção e organização visual, concentração


e reconhecimento visual dos detalhes essenciais dos objetos. Requer
memória de longo prazo, raciocínio, além de reconhecimento visual e
conhecimento prévio do objeto.
2. Vocabulário: analisa a capacidade de conhecimento do significado das
palavras e a capacidade de expressar os significados verbalmente.
3. Códigos: avalia memória de curto prazo, capacidade de aprendizagem,
percepção visual, coordenação visomotora, capacidade de rastreamento
visual, flexibilidade cognitiva, produção e velocidade grafomotoras,
velocidade e precisão em tarefas repetitivas.
4. Semelhanças: formação de conceito verbal, capacidade de categorização
e pensamento lógico abstrato.
5. Cubos: organização perceptual e visual, formação de conceito não verbal.
Avalia a capacidade para analisar, sintetizar e reproduzir um estímulo
visual abstrato bidimensional, coordenação visomotora, aprendizagem e a
capacidade para separar figuras e lidar com estímulo visual.
6. Aritmética: capacidade de resolver operações matemáticas, avalia a
capacidade para manipular conceitos numéricos. Envolve manipulação
mental, concentração, atenção, memória de curto prazo e longo prazo,
capacidade de raciocínio numérico e alerta mental.
7. Raciocínio matricial: processamento da informação visual e raciocínio
abstrato analógico.

40
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

8. Dígitos (ordem direta e inversa): recordação, repetição imediata e


memória operacional. Avalia a memória auditiva imediata, habilidades
sequenciais, atenção e concentração, flexibilidade cognitiva e alerta
mental.
9. Informação: avalia a capacidade da pessoa em administrar, reter e
recordar conhecimentos gerais, envolve a inteligência cristalizada,
memória remota, capacidade para reter e recordar informações
acadêmicas e do próprio ambiente.
10. Arranjo de figuras: reconhecer a essência da estória, antecipar
e compreender a sequência de eventos (sociais), habilidade de
planejamento da sequência temporal. Avalia a capacidade de planejar
e de fazer antecipação.
11. Compreensão: avalia raciocínio e conceitualização verbal,
compreensão e expressão verbal, a capacidade de usar a experiência
passada e a capacidade para demonstrar informação prática. Também
envolve conhecimento e padrões convencionais de comportamento,
maturidade, julgamento social e senso comum, a função do juízo e do
julgamento.
12. Procurar símbolos: avalia a capacidade de atenção, discriminação
visual, concentração, rapidez de processamento, memória operacional,
memória visual imediata e flexibilidade cognitiva. Pode também
avaliar compreensão auditiva, organização perceptual, capacidade de
planejamento e aprendizagem.
13. Sequência de números e letras: avalia a capacidade de atenção,
concentração, rapidez de processamento, memória operacional auditiva
e flexibilidade cognitiva.
14. Armar objetos: avalia coordenação visomotora e habilidade de
organização perceptual, bem como a capacidade de percepção das
partes e do todo.

A Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III) é de


uso exclusivo de Psicólogos, para sua aquisição é necessário ter o
Registro no Conselho de Psicologia da sua Região.

41
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 4 – ESCALA WAIS-III

FONTE: <https://www.valordoconhecimento.com.br/produto/wais-iii-kit-completo-86686>.
Acesso em: 26 jun. 2019.

Ao adquirir o WAIS-III, o seu registro profissional será vinculado a ele, sendo


de sua responsabilidade a utilização e guarda do material. A Escala WAIS-III vem
em forma de KIT, composto por: 1 manual administração e avaliação, 1 manual
técnico, 5 Protocolos de Registro Geral, 5 Protocolos Procurar Símbolos, 1 Livro
de Estímulo, 1 arranjo de figuras, 1 caixa com cubos, 5 caixas com quebra-cabeça,
1 crivo códigos, 1 crivo Procurar Símbolos, 1 anteparo e 1 apostila de aplicação.

Atenção: A seleção dos instrumentos dependerá das


informações relativas à queixa e à pergunta clínica, dados pessoais
do paciente como idade, escolaridade, ocupação e local da avaliação
(hospital, consultório, pesquisa, perícia).

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Com base na Resolução nº 9/2018 do Conselho Federal de


Psicologia, a qual regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos – SATEPSI – responda: Quais são os requisitos
mínimos obrigatórios que os testes devem possuir para serem
usados por psicólogas e psicólogos?

42
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

4 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
NA PRÁTICA CLÍNICA COM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Iremos adentrar a uma área bastante delicada no que se refere à avaliação
neuropsicológica: a área da infância. Essa é uma área que requer muita atenção
do neuropsicólogo, pois implica nas questões peculiares ao processo de
desenvolvimento humano. Neste momento, convidamos você a visitar conceitos
que não trabalharemos neste livro devido a sua extensão, que são as fases de
desenvolvimento humano. Para tanto, você deve se debruçar a estudar estes
conceitos e o esperado em cada uma dessas etapas de desenvolvimento, pois
é a partir destes conceitos, junto à queixa da criança, familiares, escola e/ou
cuidadores que o profissional traçará um plano de avaliação.

Sugestão de leitura:
BEE, H. A Criança em Desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996.
SALLES, J. F.; HAASE, V. G.; MALLOY-DINIZ, L. F. (Org.).
Neuropsicologia do desenvolvimento: infância e adolescência.
Porto Alegre: Artmed, 2016.

A avaliação psicológica de crianças e adolescentes é um mecanismo


imprescindível na prevenção de problemas futuros. Assim, é fundamental que sua
realização seja feita de maneira ética, contextualizada e fundamentada, através
do uso de instrumentos psicológicos apropriados (HUTZ et al., 2016).

O estudo da criança exige formação especial, levando-se em


conta os processos de crescimento e maturação cerebral,
o desenvolvimento neuropsicomotor, bem como variáveis
críticas que determinam e interferem nestas habilidades, tais
como as ambientais. Portanto, abrange a compreensão do
desenvolvimento normal e a intervenção das funções cognitivas
alteradas (ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 10).

A seguir, apresentamos uma imagem das áreas primárias do cérebro


que irão se desenvolver durante o crescimento da criança (é necessário se
aprofundar neste entendimento para uma boa avaliação neuropsicológica com
crianças). A avaliação neuropsicológica com crianças deve considerar a idade

43
Avaliação Neuropsicológica

de cada criança e o que é esperado dela em cada faixa etária, além do que, é
necessário considerar também o contexto em que a criança vive e o nível de
estímulo que recebe.

FIGURA 5 – ÁREAS PRIMÁRIAS DO CÉREBRO

FONTE: <https://www.auladeanatomia.com/novositesistemas/
sistema-nervoso/telencefalo/>. Acesso em: 26 jun. 2019.

Durante a infância, as áreas cerebrais apontadas na figura passarão por


várias mudanças até atingirem sua maturação e, com isso, também vão ocorrendo
mudanças significativas em seus comportamentos. Para você, estudante de
neuropsicologia, é fundamental compreender o processo de desenvolvimento
cerebral, pois conhecendo o desenvolvimento cerebral você terá domínio para
perceber alterações neste processo que possam indicar mudanças sugestivas
para transtornos, distúrbios neuropsiquiátricos ou doenças neurológicas em
crianças.

Neste livro, você será levado a compreender de forma mais detalhada o


funcionamento cerebral e suas manifestações ao longo do desenvolvimento
humano. Mas é necessário que você busque se aprimorar, caso queira trabalhar
com crianças e adolescentes, terá que estudar de forma mais detalhada as fases
do desenvolvimento humano e a maturação das áreas cerebrais e das respectivas
funções cognitivas ao longo deste processo.

44
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Segundo Malloy-Diniz et al. (2010, p. 228), “os estudos em neurospiscologia


do desenvolvimento constituem um campo amplo de pesquisa clínicas e científicas
ao possibilitar maior conhecimento do desenvolvimento cognitivo e emocional
da criança, bem como dos problemas de comportamento e aprendizagem
associados”.

A avaliação neuropsicológica com criança é um momento A avaliação


neuropsicológica
diferenciado, em que o profissional precisa compreender o momento
com criança é
peculiar de desenvolvimento da criança, o ambiente onde irá realizar um momento
a avaliação e planejar de forma cuidadosa os instrumentos que irá diferenciado,
utilizar. em que o
profissional precisa
Vários são os recursos utilizados para a avaliação compreender o
neuropsicológica infantil anamnese, testes, exame momento peculiar
de neuroimagem e as informações provenientes de desenvolvimento
da escola, neste último caso, também o contrário
da criança, o
é verdadeiro, o reforço escolar será programado
com maior eficiência quando o exame
ambiente onde irá
neuropsicológico “as forças” e as fraquezas da realizar a avaliação
criança (LEFÉVRE apud ANDRADE; SANTOS; e planejar de forma
BUENO, 2004, p. 249). cuidadosa os
instrumentos que irá
A avaliação neuropsicológica com crianças é utilizada, utilizar.
principalmente para auxiliar no diagnóstico e tratamento de:

• enfermidades neurológicas;
• problemas de desenvolvimento infantil;
• comprometimentos psiquiátricos;
• alterações de conduta;
• dificuldades e distúrbios de aprendizagem;
• TDAH;
• transtorno global do desenvolvimento (autismo);
• transtorno de aprendizagem não verbal;
• deficiência intelectual;
• síndromes genéticas.

Percebemos até este ponto, que a avaliação neuropsicológica com


crianças exige do profissional uma atuação focada no seu peculiar estágio
de desenvolvimento, e este deve permear todo o processo de avaliação
neuropsicológica com crianças. Gostaríamos de ressaltar que na avaliação
neuropsicológica com crianças você deve atentar para alguns tópicos:

• A entrevista inicial deve ser realizada com os pais e ou responsável legal


da criança, e com a presença da criança.
• Os instrumentos de avaliação devem ser adequados à idade da criança,
sempre considerando o seu nível cognitivo antes da queixa principal.

45
Avaliação Neuropsicológica

• É fundamental uma observação bem minuciosa por parte do Psicólogo


durante a entrevista e aplicação dos testes (análise qualitativa).
• Muitas vezes se faz necessária a utilização de atividades lúdicas para
criar vínculo com a criança.
• É fundamental uma atuação interdisciplinar, com análise e laudos
de outros profissionais (neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos,
professores, psicopedagogo, entre outros).
• O relatório deve ser elaborado com base nas evidências clínicas.
• A devolutiva deve ser realizada na presença dos pais e ou responsáveis e
da criança.

Após esta breve reflexão sobre o desenvolvimento da criança e suas


implicações na avaliação, conduzimos você ao encontro dos testes mais
utilizados, segundo a literatura, para avaliação neuropsicológica na área da
criança, mas lembre-se: antes de utilizá-los, você deve consultar se os testes ou
escalas estão validados para uso no Brasil.

QUADRO 10 – ALGUNS DOS TESTES MAIS UTILIZADOS PARA


AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA COM CRIANÇA

Funções cognitivas a
Testes
serem avaliadas
Escala Wechsler de Inteligência para Inteligência: (Medida da capacidade
Criança - WISC-III; mental geral).
Matrizes Progressivas de Raven.

Teste de atenção por cancelamento Atenção.


(MWCT);
Teste de trilhas (Trail Making Test).

O teste do desenho contínuo (CPT) Atenção Sustentada.


TAVIS-III.
Teste de recordação livre de palavras Memória (Memória e Aprendizagem).
(RAVLT).
Recordação de Histórias. Memória Episódica.
Repetição de Palavras; Memória Operacional.
Pseudopalavras;
Dígitos Ordem Inversa (WISC-III).
Informação e Vocabulário (WISC-III). Memória Semântica.
Figuras de Rey. Memória Visual.
Dígitos (WISC-III); Memória Auditiva.
Recuperação da figura de Rey.

46
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Vocabulário e Semelhanças Linguagem.


(WISC-III);
CONFIAS;
Teste do Desenho Escolar (TDE).

Cubos (WISC-III). Funções Visoespaciais e


Completar Figuras (WISC-III); Visoconstrutivas.
Cópia de Figuras Simples (Bender);
Armar Objetos (WISC-III);
Figura de Rey.
Cubos (WISC-III); Funções Executivas.
Armar Objetos (WISC-III).

Wisconsin Card; Flexibilidade Mental.


Trail Making Test.
Códigos (WISC-III). Velocidade de Pensamento.
Cubos (WISC-III); Praxias.
Imitação NEPSY.

FONTE: Adaptado de Miranda, Borges e Rocca (2010)

Nossa intenção é possibilitar a você uma relação entre a teoria e a prática,


neste sentido, apresentamos para você uma proposta inicial de Protocolo para
Avaliação Neuropsicológica com Criança, considerando o que você aprendeu
até o momento, porém, lembre-se! É necessário adaptar este protocolo a cada
paciente, levando em consideração: a queixa, o motivo do encaminhamento, a
hipótese diagnóstica e as condições físicas e clínicas de cada criança.

QUADRO 11 – SUGESTÃO DE PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA – CRIANÇA

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA – INFANTIL

Nome:__________________________________________________________
Idade:_________________Escolaridade:______________________________
Lateralidade:______________________Queixa Principal:_________________

Resultado
Teste Percentil Classificação Observações
Bruto
Funções Intelectuais
Vocabulário
(WISC-III)

47
Avaliação Neuropsicológica

Semelhanças
(WISC-III)
Cubos (WISC-III)
QI Total (WISC-III)
Memória
Dígito Direto
(WISC-III)

Dígito Indireto
(WISC-III)
Memória para faces
MEPSY
Figuras de Rey
Informação e
Vocabulário
(WISC-III)
Memória e Aprendizagem
Teste de
recordação livre de
palavras (RAVLT)
Atenção
Teste Wisconsin de
Classificação de
Cartas (WCST)
Teste de trilhas
(Trail Making Test)
Teste do desenho
contínuo (CPT)
Teste AC
Funções Executivas
Cubos (WISC-III)
Armar Objetos
(WISC-III)
Funções Visoespaciais e Visoconstrutivas
Cubos (WISC-III)
Completar Figuras
(WISC-III)
Cópia Formas
NEPSY

48
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Armar Objetos
(WISC-III)
Linguagem e Habilidades Acadêmicas
Vocabulário e
Semelhanças
(WAIS-III)

Escrita (pedir para


escrever uma
história, um bilhete)
Não é teste –
dados qualitativos.
Oralidade (pedir
para ler um texto
ou uma história)
Não é teste –
dados qualitativos.
FONTE: A autora

Hutz, C. S. (Org.). Avanços em Avaliação Psicológica e


Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2010.

Atenção: Além do protocolo aqui apresentado, você deve


usar a entrevista para criança (modelo proposto neste capítulo),
instrumentos ou técnicas complementares: como atividades de pintar,
colar ou jogos, para criar vínculo, observações clínicas, juntamente
com a análise dos exames e/ou relatório da equipe interdisciplinar
na qual a criança é acompanhada. Após este processo o Psicólogo,
especialista em Neuropsicologia, deverá elaborar o relatório e/ou
laudo com itens que iremos tratar no Capítulo 2.

49
Avaliação Neuropsicológica

4.1 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA


NA PRÁTICA CLÍNICA COM
ADOLESCENTES
Neste item iremos tratar das particularidades da avaliação neuropsicológica
com adolescentes. Devemos ter muito claro, como já visto no quadro de testes,
que em alguns casos você deverá incluir no seu planejamento para avaliação,
testes que dispõem de tabela de correção para adolescentes e adultos e outros
que são específicos para esta faixa etária.

“Um psicodiagnóstico de criança ou adolescente deve levar em consideração


elementos desenvolvimentais, que abrangem a avaliação das características
cognitivas, psicomotoras e emocionais” (HUTZ et al., 2016, p. 232).

“A partir da adolescência, vão sendo atingidos os níveis mais altos do


desenvolvimento cognitivo. Os adolescentes já são capazes de pensar em termos
abstratos, podem usar metáforas e linguagem simbólica sem maiores dificuldades”
(MALLOY-DINIZ et al., 2010, p. 223).

Segundo Hutz et al. (2016), a infância e a adolescência caracterizam-se


por um período de importantes aquisições neurológicas, cognitivas, afetivas e
sociais, dependendo da fase do desenvolvimento na qual se encontram crianças
e adolescentes, podem apresentar diferentes características.

Jarros, Toazza e Manfro (2016) apontam a importância de investigar o


perfil neuropsicológico em adolescentes como uma das possíveis formas de
compreensão do funcionamento cognitivo, fornecendo suporte para planejar
intervenções precoces e minimizando as consequências da cronicidade dos
transtornos de ansiedade até a idade adulta.

50
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

QUADRO 12 – CONSIDERAÇÕES A SEREM FEITAS NA


AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA COM ADOLESCENTES

• Quem demandou a avaliação neuropsicológica;


• O que motivou o encaminhamento;
• O período de peculiar desenvolvimento da adolescência;
• Utilizar a entrevista para adolescente (modelo proposto neste capítulo);
• Adequar à proposta de protocolo de avaliação neuropsicológica para crianças
e adultos, de acordo com a faixa etária do adolescente, pois alguns testes
infantis são usados para faixa etária de adolescentes, assim como alguns
testes de adultos possuem tabela para aplicação em adolescentes;
• Avaliar o humor, pois a adolescência é um período de muitas mudanças
hormonais, de papéis sociais, entre outros;
• Ter uma postura acolhedora, pois na maioria das vezes, o adolescente não
procura a avaliação por conta própria, foi encaminhado ou trazido pelos
responsáveis.

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

5 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
NA PRÁTICA CLÍNICA COM ADULTOS
Segundo Malloy-Diniz et al. (2016, p. 235), “a avaliação Neuropsicológica
(ANP) do adulto é complexa e pede cuidado, especialmente quando se considera
que se trata de uma faixa etária em que, teoricamente, o indivíduo deveria estar
sadio, fora do “grupo de risco” dos distúrbios da senescência ou daqueles comuns
a infância”.

A adultez representa um período em que as habilidades e


capacidades gerais do indivíduo devem estar mais definidas
do que o período infanto-juvenil. Desordens neuropsicológicas
em adultos são consideradas anormalidades específicas do
comportamento apresentadas pelo indivíduo, anteriormente
sadio, enquanto um resultado de uma disfunção (de natureza
neuronatômica, neurofisiológica ou neuroquímica) (ANDRADE;
SANTOS; BUENO, 2004, p. 10).

51
Avaliação Neuropsicológica

QUADRO 13 – INDICAÇÕES MAIS COMUNS DE AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA EM ADULTOS
• Traumatismo cranioencefálico • Acidente vascular cerebral
• Epilepsia • Diferenciação de síndrome
• Uso de drogas psicológica e neurológica
• Déficit cognitivo • Transtorno mental
• Transtorno do déficit de atenção

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

Lembre-se que É fundamental que você recorde daquilo que já mencionamos


de uma avaliação no item teste, que a escolaridade pode interferir no desempenho
neuropsicológica dos testes, por isso é necessário verificar os testes que apresentam
tem início com uma tabela de correção para cada nível de escolaridade. Este tópico
boa entrevista.
é fundamental, considerando a realidade do Brasil, onde parte da
A entrevista é feita
comumente com o população tem níveis baixos de escolaridade.
próprio examinando
e com os membros No que se refere às doenças neurológicas, iremos nos deter de
da família, mas forma mais detalhado no Capítulo 3.
pode, em casos
específicos,
Você deve lembrar que tratamos da entrevista neste capítulo,
se estender a
professores, agora é o momento de utilizar o modelo de entrevista para adulto.
empregadores e Lembre-se que de uma avaliação neuropsicológica tem início com
colegas de trabalho. uma boa entrevista.
Durante esta etapa,
o comportamento A entrevista é feita comumente com o próprio examinando e
do paciente é com os membros da família, mas pode, em casos específicos,
observado de forma se estender a professores, empregadores e colegas de
global: nível de trabalho. Durante esta etapa, o comportamento do paciente é
alerta, presença ou observado de forma global: nível de alerta, presença ou não
de anosognosia, reações frente à situação da avaliação, fala
não de anosognosia,
espontânea, índices de cuidados pessoais, orientação no tempo
reações frente e no espaço (ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 282).
à situação da
avaliação, fala
espontânea, Nossa intenção aqui é apresentar uma proposta de protocolo de
índices de cuidados avaliação neuropsicológica para adultos, lembrando que este deve
pessoais, orientação ser adaptado à queixa, escolaridade, idade, hipótese diagnóstica e
no tempo e no limitações, caso tenha, de cada paciente:
espaço (ANDRADE;
SANTOS; BUENO,
2004, p. 282).

52
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

QUADRO 14 – PROPOSTA DE PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICO PARA ADULTO

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA – ADULTO

Nome:__________________________________________________________
Idade:_________________Escolaridade:______________________________
Lateralidade:______________________Queixa Principal:_________________

Resultado
Teste Percentil Classificação Observações
Bruto
Funções Intelectuais
Vocabulário
(WASI)
Matrizes (WASI)

QI Total (WASI)

Memória
Dígito Direto
(WAIS-III)

Dígito Indireto
(WAIS-III)

RAVLT – total

RAVLT – tardia

RAVLT –
reconhecimento
Teste de retenção
visual (BVRT)
Atenção

Teste AC

Funções Executivas
Teste Wisconsin
de Classificação
(WCST)
Teste de trilhas
coloridas

53
Avaliação Neuropsicológica

Funções Visuespaciais
Completar Figuras
(WAIS-III)
Cubos (WAIS-III)

Códigos (WAIS-III)

Teste dos Relógios


(B e C)
Armar Objetos
(WAIS-III)

Linguagem Habilidades Acadêmicas


Vocabulário e
Semelhanças
(WAIS-III)
Compreensão

Compreensão
(WAIS-III)
Informação
(WAIS-III)
Leitura de um
texto (não é teste,
dados qualitativos)
Escrita – elaborar
um texto (não
é teste, dados
qualitativos)

Humor
Inventário de
Depressão de
Beck (BDI-II)
Estado Mental – Teste de Rastreio
Miniexame do
Estado Mental
(MMSE)

FONTE: A autora

54
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

QUADRO 15 – DICAS IMPORTANTES PARA AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA EM ADULTOS

• O profissional deve evitar a utilização de termos técnicos durante a


avaliação;
• É aconselhável o uso de instrumentos válidos, adequados ao paciente,
indicação clínica e faixa etária do paciente;
• Caso o paciente use óculos ou algum outro artefato compensatório, deve
usar durante a avaliação;
• O profissional deve verificar se não ocorreu nenhuma situação que possa
interferir na avaliação nas últimas 24 horas;
• No momento da correção dos testes, o profissional deve verificar
corretamente a classificação, pois alguns são por idade, outros por sexo ou
por ano de escolaridade;
• É fundamental considerar o desempenho global do paciente, levando
em consideração os exames e as avaliações realizadas pela equipe
multidisciplinar;
• O laudo deve ser técnico-científico.

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

5.1 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA


NA PRÁTICA CLÍNICA COM IDOSOS
A fase da vida que corresponde ao envelhecimento é uma das etapas que tem
demandado bastante trabalho ao profissional da neuropsicologia, uma vez que
muitas das patologias neurológicas que atingem essa faixa etária, em especial,
geram muitas dúvidas, sendo solicitada, assim, avaliação neuropsicológica.

A Organização Mundial de Saúde, em seu Relatório Mundial Sobre


Envelhecimento e Saúde (2015), aponta que a maioria da população pode ter uma
perspectiva de atingir 60 anos ou mais. Reforça a importância do investimento em
envelhecimento saudável física e psicologicamente.

Segundo Mattos e Júnior, a avaliação neuropsicológica


de idosos tem como principal objetivo a mensuração de
desempenho cognitivo permitindo: a) o diagnóstico diferencial
entre envelhecimento harmonioso e processos mórbidos
incipientes (suspeitados ou não), através da identificação de
padrões patológicos de mudanças cognitivas; b) a estimativa
da capacidade funcional (malgrado a existência de embates
quanto à correlação entre déficits neuropsicológicos e
comprometimento funcional) e c) o planejamento de estratégias
terapêuticas (MALLOY-DINIZ et al., 2010, p. 248).

55
Avaliação Neuropsicológica

As formas que normalmente levam os pacientes idosos ao


consultório são: 1) Por intermédio de familiares; 2) por indicação
médica (muitas vezes geriatras, psiquiatras ou neurologistas);
3) por exigências jurídica (casos de possíveis interdições ou
necessidade de declaração do funcionamento cognitivo do
idoso para processos de doação, testamento, entre outros); e
4) ou vontade própria, com queixa de problemas de memória
ou após perdas importantes na vida (HUTZ et al., 2016, p. 248).

Considerando o aumento da estimativa de vida e do processo de


envelhecimento, a avaliação neuropsicológica tem a possibilidade de contribuir
na avaliação global do idoso, pois considerando os dados obtidos através dos
instrumentos de avaliação pode auxiliar no diagnóstico precoce de várias doenças
que comprometem as funções cognitivas, permitindo um melhor prognóstico e
reabilitação para estes pacientes.

QUADRO 16 – CUIDADOS IMPORTANTES AO REALIZAR AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA EM IDOSOS

• Ponderar dificuldades de visão e audição;


• Possíveis dificuldades motoras que podem interferir na velocidade e destreza
motoras;
• Presença de fadiga;
• Grau de escolaridade;
• Motivação do idoso para se submeter à bateria de testes;
• Quadros de depressão.

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

No que se refere aos passos para avaliação neuropsicológica com idosos,


sugerimos a utilização do protocolo de avaliação neuropsicológica e entrevista
para adultos (modelos propostos neste capítulo), no entanto, é necessário adaptar
os testes segundo as queixas apresentadas pelo paciente, assim como incluir
perguntas específicas para esta faixa etária, tais como:

• Você consegue realizar suas atividades de vida diária (acordar, vestir-se,


fazer suas refeições, ir ao mercado, ir ao banco)?
• Percebeu alguma mudança na sua rotina de vida nos últimos tempos
(teve esquecimentos, perda de memória, dificuldade com o dinheiro)?
• Apresentou alguma mudança significativa no humor (irritabilidade,
tristeza)?
• Como é sua vida social (participa de algum grupo, realiza atividades
físicas, vai a reuniões ou festividades)?

56
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Observação: é fundamental repetir tais perguntas aos familiares Observação: é


ou cuidadores, pois em quadros de demência é muito comum o idoso fundamental repetir
não perceber tais alterações. tais perguntas
aos familiares ou
cuidadores, pois em
quadros de demência
é muito comum o
idoso não perceber
tais alterações.

QUADRO 17 – INSTRUMENTOS DE RASTREIO

Em idosos é fundamental incluir na avaliação alguns instrumentos


de rastreio para depressão e para atividades de vida diária ou atividades
funcionais, neste caso sugerimos:

• EDG 15 – Escala de Depressão geriátrica, usada para rastreio de sintomas


depressivos em idosos (sugerimos aprofundar os estudos através da leitura
do artigo:

PARADELA, Emylucy Martins Paiva; LOURENCO, Roberto Alves; VERAS,


Renato Peixoto. Validação da escala de depressão geriátrica em um
ambulatório geral. Rev. Saúde Pública [online]. 2005, v. 39, n. 6, p. 918-
923. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102005000600008.
Acesso em: 26 jun. 2019.

• Questionário de Atividades Funcionais (FAQ) ou Questionário


Pfeffer, ler o material da validação em https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/
bitstream/123456789/1199/1/Marina%20Carneiro%20Dutra.pdf

FONTE: Adaptado de Malloy-Diniz et al. (2010)

Outro ponto importante é o uso de instrumentos de rastreio cognitivo,


em casos de suspeitas de demência, antes mesmo de iniciar a avaliação
neuropsicológica. Este ponto é discutido por Yassuda (apud MALLOY-DINIZ et
al., 2010), que fala da importância do uso de testes de rastreio para verificar a
necessidade do processo de avaliação neuropsicológica e para averiguar o grau,
a possível etiologia, além de especificar quais são as funções cognitivas afetadas.

Os testes rápidos de avaliação do “estado mental” são úteis


na abordagem diagnóstica das demências e na apreciação da
intensidade do déficit cognitivo demencial. Alguns deles, como
o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), sem dúvida o mais
utilizado, avaliam a orientação, a aprendizagem, o controle
mental (subtração em série do número 7, a partir de 100), a
denominação, a repetição, a compreensão de uma ordem tripla
e a cópia de um desenho: a pontuação limite para demência é
de 23-24 (GIL, 2010, p. 12).

57
Avaliação Neuropsicológica

Nesse contexto, propomos para você a utilização do miniex-


ame do estado mental, segundo Brucki et al. (2003). Sugerimos a leitura
completa do artigo.

QUADRO 18 – MINIEXAME DO ESTADO MENTAL

Apêndice – Miniexame do estado mental


Orientação temporal - pergunte ao indivíduo: (dê um ponto para cada
resposta correta)

• Que dia é hoje?


• Em que mês estamos?
• Em que ano estamos?
• Em que dia da semana estamos?
• Qual a hora aproximada? (considere a variação de mais ou menos uma
hora)

Orientação espacial - pergunte ao indivíduo: (dê um ponto para cada


resposta correta)

• Em que local nós estamos? (consultório, dormitório, sala - apontando para


o chão)
• Que local é este aqui? (apontando ao redor num sentido mais amplo:
hospital, casa de repouso, própria casa).
• Em que bairro nós estamos ou qual o nome de uma rua próxima?
• Em que cidade nós estamos?
• Em que Estado nós estamos?

Memória imediata: Eu vou dizer três palavras e você irá repeti-las a seguir:
carro, vaso, tijolo (dê 1 ponto para cada palavra repetida acertadamente na
1º vez, embora possa repeti-las até três vezes para o aprendizado, se houver
erros). Use palavras não relacionadas.

Cálculo: subtração de setes seriadamente (100-7, 93-7, 86-7, 79-7, 72-7, 65).
Considere 1 ponto para cada resultado correto. Se houver erro, corrija-o e
prossiga. Considere correto se o examinado espontaneamente se autocorrigir.

Evocação das palavras: pergunte quais as palavras que o sujeito acabara de


repetir - 1 ponto para cada.

Nomeação: peça para o sujeito nomear os objetos mostrados (relógio, caneta)


- 1 ponto para cada.

58
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Repetição: Preste atenção: vou lhe dizer uma frase e quero que você repita
depois de mim: “Nem aqui, nem ali, nem lá”. Considere somente se a repetição
for perfeita (1 ponto)

Comando: Pegue este papel com a mão direita (1 ponto), dobre-o ao meio (1
ponto) e coloque-o no chão (1 ponto). Total de 3 pontos. Se o sujeito pedir
ajuda no meio da tarefa não dê dicas.

Leitura: mostre a frase escrita “FECHE OS OLHOS” e peça para o indivíduo


fazer o que está sendo mandado. Não auxilie se pedir ajuda ou se só ler a frase
sem realizar o comando.

Frase: Peça ao indivíduo para escrever uma frase. Se não compreender o


significado, ajude com: alguma frase que tenha começo, meio e fim; alguma
coisa que aconteceu hoje; alguma coisa que queira dizer. Para a correção não
são considerados erros gramaticais ou ortográficos (1 ponto).

Cópia do desenho: mostre o modelo e peça para fazer o melhor possível.


Considere apenas se houver 2 pentágonos interseccionados (10 ângulos)
formando uma figura de quatro lados ou com dois ângulos (1 ponto).

FONTE: Brucki et al. (2003, p. 778)

Hutz et al. (2016) propõem um fluxograma das etapas de avaliação


psicológica com idosos. Vamos aproveitar para introduzir este modelo a você,
pois consideramos muito significativo para a avaliação neuropsicológica nesta
faixa etária, porém, lembramos a você que todo processo de avaliação deve levar
em consideração a queixa, a hipótese diagnóstica e o motivo da mesma:

59
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 6 – FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DE


AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA COM IDOSO

Avaliação Psicológica do Idoso

Anamnese com idoso,


familiares e /ou cuidadores

Encaminhamento (demanda)
e demais exames realizados

Elaboração da bateria
(escolha dos instrumentos)

Aspectos Aspectos
cognitivos emocionais

Personalidade

Correção, interpretação e
contextualização dos resultados

Devolução dos resultados

Familiares Profissional

Paciente

FONTE: Hutz et al. (2016, p. 253)

60
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

Observamos que a atuação neuropsicológica na área do idoso é rica em


possibilidades de atuação, porém, complexa no que se refere às peculiaridades
desta faixa etária. É necessário atentar-se para questões inerentes a sua rotina
de vida, suas atividades diárias, seu desenvolvimento social e familiar, desta
forma, você deve considerar que, na maioria das vezes se faz necessário realizar
entrevista com um representante familiar, responsável legal ou cuidador, porque
em muitas situações os idosos não percebem as alterações cognitivas que se
entalam.

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Aponte os principais objetivos da avaliação neuropsicológica na


prática clínica com crianças, adolescentes, adultos e idosos,
utilizando-se para isso o referencial teórico sugerido, em especial
os seguintes livros:
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo:
Artmed, 2008.
MALLOY-DINIZ, L.F. et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto
Alegre: Artmed, 2010.

2) Após leitura detalhada do artigo Sugestões para o uso do


miniexame do estado mental no Brasil, de Brucki et al. (2003),
procure descrever o principal fator que influenciou o desempenho
dos indivíduos neste estudo.

6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste primeiro capítulo, estudamos um pouco sobre os fundamentos
da avaliação psicológica, identificamos o processo de psicodiagnóstico e os
instrumentos necessários para uma boa avaliação. Neste contexto, podemos
considerar a avaliação psicológica como um processo estruturado de investigação
de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos.

61
Avaliação Neuropsicológica

Outro ponto destacado foram os instrumentos utilizados para uma boa


avaliação psicológica ou neuropsicológica, dentre eles: a entrevista clínica nas
diferentes faixas etárias, o uso de testes padronizados para população brasileira,
inclusive com acessar o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI.
A melhor estratégia para aprimorar seus estudos é ser curioso, buscar cada
vez mais informações, pois neste capítulo disponibilizamos a você algumas
resoluções, livros e o endereço do SATEPSI para que você possa aprofundar os
conhecimentos adquiridos até aqui.

Também foram apresentadas para você as diferenças da avaliação


neuropsicológica nas diferentes faixas etárias, assim como a proposta de
protocolo de testes e instrumentos a serem usados, porém, é fundamental lembrar
que durante sua atuação profissional, você deverá acompanhar as legislações
vigentes, se adequar à realidade do ambiente onde irá realizar a avaliação, assim
como a demanda e hipótese diagnóstica de cada paciente.

Finalizando este capítulo, convidamos você a fazer parte dos estudos do


Capítulo 2, em que trataremos do processo de elaboração de relatório e devolutiva
nos vários contextos de atuação da neuropsicologia, assim como: diagnóstico,
intervenções e prognóstico em neuropsicologia.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. M.; SANTOS, F. H.; BUENO, O. F. A. Neuropsicologia Hoje. São
Paulo: Artes Médicas, 2004.

BRUCKI, S. M. D. et al. Sugestões para o uso do miniexame do estado mental no


Brasil. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 2003, v. 61, n. 3B, p. 777-781. Disponível
em: http://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014. Acesso em: 26 jun.
2019.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha sobre Avaliação


Psicológica. Brasília, jun. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 013 de 2007. Brasília,


DF, 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Avaliação psicológica: diretrizes na


regulamentação da profissão. Brasília: CFP, 2010. 196 p.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Relatório do Ano Temático da


Avaliação Psicológica 2011/2012. Brasília: CFP, 2013. 46 p.

62
Capítulo 1 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA NA PRÁTICA CLÍNICA

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 9, de 25 de abril de


2018. Brasília, DF, 2018.

CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico – V. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.


677 p.

FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Artmed, 2008.

GIL, R. Neuropsicologia. Tradução de Maria Alice Araripe de Sampaio Doria. 4.


ed. São Paulo: Santos, 2010.

HAMDAN, A. C.; PEREIRA, A. P. A.; RIECHI, T. I. J. S. Avaliação e reabilitação


neuropsicológica: desenvolvimento histórico e perspectivas atuais. Interação em
Psicologia, v. 15 (n. especial), p. 47-58, 2011.

HUTZ, C. S. et al. Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016.

JARROS, R.; TOAZZA, R.; MANFRO, G. G. Aspectos neuropsicológicos nos


transtornos de ansiedade na infância e na adolescência. In: SALLES, J. F.; HAASE,
V. G.; MALLOY-DINIZ, L. F. (Org.). Neuropsicologia do desenvolvimento:
infância e adolescência. [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed, 2016.

MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed,


2010.

MATTOS, P.; JÚNIOR, C. M. P. Avaliação Cognitiva de Idosos: envelhecimento


e Comprometimento Cognitivo Leve. In: MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação
Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2010.

MIRANDA, M. C.; BORGES, M.; ROCCA, C. C. A. Avaliação neuropsicológica


infantil. In: MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

PARADELA, Emylucy Martins Paiva; LOURENCO, Roberto Alves; VERAS, Renato


Peixoto. Validação da escala de depressão geriátrica em um ambulatório geral. Rev.
Saúde Pública [online]. 2005, v. 39, n. 6, p. 918-923. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000600008&lng=pt&
tlng=pt. Acesso em: 26 jun. 2019.

SALLES, J. F.; HAASE, V. G.; MALLOY-DINIZ, L. F. (Org.). Neuropsicologia do


desenvolvimento: infância e adolescência. [recurso eletrônico]. Porto Alegre:
Artmed, 2016.

63
Avaliação Neuropsicológica

SILVA, M. A.; BANDEIRA, D. R. A entrevista de Anamnese. In: HUTZ, C. S. et al.


Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016.

SPREEN, O.; STRAUSS, E. A compendium of neuropsychological tests:


Administration, norms and commentary (2nd ed.). New York: Oxford University
Press, 1998.

WECHSLER, D. WAIS-III. Manual Para Administração e Avaliação. São Paulo:


Casa do Psicólogo, 1997a.

WECHSLER, D. Manual Técnico, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997b.

64
C APÍTULO 2
NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO
E INTERVENÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• compreender o processo para elaboração de relatório neuropsicológico e laudos


de acordo com as normativas vigentes do Conselho Federal de Psicologia;

• compor o diagnóstico, o prognóstico e intervenções após a avaliação neuropsi-


cológica.
Avaliação Neuropsicológica

66
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Antes de adentrarmos ao processo de elaboração de documentos e no tema
central deste capítulo, se faz necessário resgatarmos conceitos já discutidos, mas
que precisam ser revisitados a todo o momento, para que você possa entender
que a neuropsicologia se constitui de um processo, a partir do encaminhamento,
da queixa ou demanda, da entrevista, do planejamento do protocolo de testes
e instrumentos de avaliação, das observações qualitativas durante a avaliação
neuropsicológica, do processo de correção dos testes, da análise dos dados, até
o processo de elaboração de relatório, laudo ou parecer, dependendo do local
onde este profissional estiver inserido, e para além deste, também não podemos
deixar de falar da importância da devolutiva, como o fechamento do processo de
avaliação.

Cabe mencionar que este processo pode ser o início de outra possibilidade
de atuação profissional, a intervenção, em que o profissional da neuropsicologia
pode propor estratégias de intervenção de acordo com os resultados extraídos
da avaliação neuropsicológica considerando os pontos fortes e fracos de cada
pessoa.

Segundo Hutz et al. (2016), o profissional, ao realizar uma avaliação


neuropsicológica, deve se atentar para o meio em que o avaliando está inserido,
sua história de vida e suas condições sociais, econômicas e políticas, incluindo
estas informações aos dados obtidos por meio das técnicas aplicadas.

Considerando o exposto até o momento, devemos considerar o paciente


como o centro do processo de avaliação neuropsicológica, conforme a
seguinte figura:

67
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 1 – CONTEXTO A SER OBSERVADO NO


PROCESSO DE AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Queixa Demanda

Meio ao qual
está inserido
História de Vida Paciente em
Processo de
Avaliação
Neuropsicológica

Questões Nível Educacional


Socioconômicas

FONTE: Adaptado de Hutz et al. (2016)

A partir do momento em que você tiver a clareza de que não basta aplicar
testes e instrumentos em neuropsicologia, você está apto a seguir em frente, pois
se faz necessário lembrar que estamos inseridos no contexto do humano, em
que para além dos dados quantitativos, precisamos nos atentar para os dados
qualitativos, considerando este paciente a partir da sua realidade, ou seja, é
necessário considerar como era a sua vida nos aspectos cognitivos, afetivos e
sociais antes da queixa ou demanda apresentada.

Após breve contextualização, podemos citar Tisser (2017), em que versa


que os resultados da avaliação neuropsicológica são analisados do ponto de vista
quantitativo e qualitativo, ou seja, dos resultados quantitativos dos instrumentos
de avaliação, assim como comportamento no momento da avaliação e das
entrevistas.

Seguiremos nossos estudos revisitando os conteúdos estudados do primeiro


capítulo deste livro, para dar sustentabilidade ao processo de escrita documental,
uma vez que é necessário nos basearmos nos resultados da avaliação
neuropsicológica para elaborar relatórios e/ou laudos neuropsicológicos.

68
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

2 ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO
E DEVOLUTIVA NOS VÁRIOS
CONTEXTOS DE ATUAÇÃO
DA NEUROPSICOLOGIA
Os dados advindos da avaliação neuropsicológica vão gerar resultados
qualitativos e quantitativos que servirão de base para a elaboração documental.
Segundo a Resolução nº 007/2003 do Conselho Federal de Psicologia, os
resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem
como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação
desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a
conclusão do processo de avaliação psicológica.

Na mesma resolução, também podemos encontrar os princípios norteadores


para elaboração de documentos, em que o profissional deve usar as técnicas da
linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos da profissão.

Em relação às técnicas da linguagem escrita, é indispensável


que o psicólogo consiga comunicar, de forma efetiva, os
resultados de seu trabalho. Para tanto é necessária uma
redação bem estruturada, com frases gramaticalmente corretas
e com um encadeamento ordenado e lógico de parágrafos
(HUTZ et al., 2016, p. 173).

As modalidades de documentos, de acordo com a Resolução CFP nº


007/2003 são:

1. Declaração;
2. Atestado Psicológico;
3. Relatório laudo psicológico;
4. Parecer psicológico.

O modelo de comunicação dos resultados é delimitado pelos objetivos


da avaliação. Cunha et al. (2000) exemplificam que os laudos, normalmente
respondem a perguntas como “o que, quando, como, por que, para que e
quando”, ao mesmo tempo em que os pareceres se restringem à investigação
de questões singulares posicionadas por determinado profissional que já possui
diversas informações sobre o sujeito. Os mesmos autores chamam a atenção
que, “em conformidade com os objetivos, podem ser imprescindíveis mais do que
um instrumento de comunicação, como por exemplo, entrevista de devolução

69
Avaliação Neuropsicológica

com os pais e com o sujeito, laudo encaminhado ao pediatra, laudo encaminhado


à escola especial e parecer para o serviço de orientação de uma escola, que fez a
sugestão inicial do exame” (CUNHA et al., 2000, p. 121).

2.1 LAUDO EM NEUROPSICOLOGIA


O laudo elaborado pelo profissional tem por obrigação ser claro, objetivo,
imparcial, alicerçado em dados técnicos e científicos de sua área, contribuindo
para elucidação de intervenções reabilitadoras (MALLOY-DINIZ et al., 2010).

“O laudo inclui uma classificação diagnóstica e uma formulação dinâmica


para permitir uma compreensão dos motivos que justificam o encaminhamento”
(CUNHA et al., 2000, p.120).

O laudo neuropsicológico é a finalização de um complexo


e rico processo de avaliação neuropsicológica, quando o
conteúdo desta é relatado desde o motivo do encaminhamento
até as conclusões realizadas. É o registro, a memória do
exame neuropsicológico, que pode ser consultado pelo próprio
paciente e seus familiares, sendo, portanto, um importante
Atenção! O instrumento psicoeducativo. Sua finalidade principal é ser
conteúdo apresentado a diferentes profissionais, em geral da área
de um laudo da saúde ou da educação, que são a fonte encaminhadora
neuropsicológico ou membros da equipe que atende o indivíduo avaliado
é confidencial (KOCHHANN et al., 2016, p. 192).
e não deve ser
compartilhado Atenção! O conteúdo de um laudo neuropsicológico é confidencial
com outros que
e não deve ser compartilhado com outros que não tenham sido
não tenham
sido claramente claramente autorizados pelo paciente ou com profissionais que não
autorizados pelo estejam envolvidos com a avaliação do caso.
paciente ou com
profissionais A seguir apresentamos uma proposta para elaboração de um laudo
que não estejam neuropsicológico, lembrando que este é um modelo, mas você pode
envolvidos com a
criar o seu modelo-base e ir adaptando de acordo com a demanda e o
avaliação do caso.
contexto da devolutiva.

70
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

QUADRO 1 – SEÇÕES DE UM LAUDO NEUROPSICOLÓGICO

Seção Conteúdo

Título da avaliação (avaliação ou


1. Cabeçalho reavaliação neuropsicológica) e apre-
sentação do profissional responsável.

Informações introdutórias indicando a


2. Introdução fonte e o(s) motivo(s) do encaminham-
ento ou da procura pela avaliação.

Nome completo do paciente; idade;


sexo; lateralidade manual; anos de
3. Identificação do paciente
escolaridade; nome do(s) informante(s)
(quando houver); ocupação atual.

Baseada na entrevista de anamnese


realizada durante a avaliação e em en-
4. História pregressa e atual do
trevistas com informantes, além de na
paciente
consulta a avaliações prévias de saúde
e educacionais/laborais.

Dados de entrevistas com informantes;


5. Procedimentos e instrumentos
Observações durante toda a avaliação;
utilizados na avaliação
Técnicas principais e complementares.

Descrição dos escores dos testes, sen-


6. Resultados da avaliação neu-
do apresentados os achados quantitati-
ropsicológica
vos e qualitativos.
Última seção de conteúdo propria-
7. Síntese dos resultados, con- mente dito; tem por objetivo apresentar
clusões e impressões a(s) hipótese(s) diagnóstica(s) neurop-
sicológica(s).
Deve incluir orientações de manejo, de
mudanças de hábitos, encaminhamen-
8. Sugestões de encaminhamento
tos para avaliações complementares
e intervenção
ou intervenções e se há necessidade
de reavaliação.
Informação que serve de orientação
9. Data da realização do laudo em relação ao período em que a aval-
iação foi realizada.

Assinatura do clínico que conduziu a


10. Assinatura avaliação; é sugerido que as outras
laudas sejam rubricadas.

FONTE: Kochhann et al. (2016, p. 194)

71
Avaliação Neuropsicológica

2.2 PARECER EM NEUROPSICOLOGIA


Na área da neuropsicologia, o parecer corresponde a um processo mais
específico, é muito utilizado na área hospitalar. Na maioria das vezes, é solicitado
ou demandado pela equipe médica, com o objetivo de esclarecer ou responder
a uma demanda pontual, que pode corresponder a uma dificuldade apresentada
em alguma função cognitiva, logo após um traumatismo cranioencefálico, por
exemplo.

“O Parecer pressupõe um único objetivo, são mais focalizados, resumidos e


curtos” (CUNHA et al., 2000, p. 121).

O Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre


uma questão focal do campo psicológico cujo resultado pode
ser indicativo ou conclusivo. O parecer tem como finalidade
apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento
psicológico, através de uma avaliação especializada, de
uma “questão problema”, visando dirimir dúvidas que estão
interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma
consulta, que exige de quem responde competência no assunto.
4.2. Estrutura O psicólogo parecerista deve fazer a análise do
problema apresentado, destacando os aspectos relevantes e
opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com
fundamento em referencial teórico-científico (CFP, 2003, s.p.).

2.3 RELATÓRIO EM NEUROPSICOLOGIA


O relatório é o desfecho do processo de avaliação e início das instruções
para reabilitação. Deve compreender informações descritivas e a análise dos
resultados obtidos no processo de avaliação, lembra que é um documento oficial,
que responde à demanda e pode ter desdobramentos jurídicos (MALLOY-DINIZ et
al., 2010).

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação


descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e
suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais,
pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como
todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos
e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas,
dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico,
intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-
filosófico e científico adotado pelo psicólogo. A finalidade do
relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e
conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica,
relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o
diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e
sugestão de projeto terapêutico, bem como caso necessário,

72
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a


fornecer somente as informações necessárias relacionadas à
demanda, solicitação ou petição. 3.2. Estrutura - O relatório
psicológico é uma peça de natureza e valor científicos,
devendo conter narrativa detalhada e didática, com clareza,
precisão e harmonia, tornando-se acessível e compreensível
ao destinatário. Os termos técnicos devem, portanto, estar
acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas
dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam. O
relatório psicológico deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens:
identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e
conclusão (CFP, 2003, p. 7-8).

“O relatório pode também subsidiar profissionais de outras áreas nas


decisões sobre retorno ao trabalho ou uma interdição. Nessa situação convém
incluir comentários sobre as condições do paciente de exercer suas atividades
ocupacionais anteriores ou sobre a necessidade de atendimento especial”
(MALLOY-DINIZ et al., 2010, p. 55).

Spreen e Strauss (1998) expõem que a maioria dos relatórios de avaliação


neuropsicológica deve conter informações básicas. Os autores sugerem que o
relatório seja preparado em treze etapas, organizando as informações coletadas
durante a avaliação, seguindo o esquema:

1. Dados do cliente;
2. Motivo do encaminhamento;
3. História relevante;
4. Revisão de relatórios anteriores (relevantes);
5. Preocupações atuais do cliente;
6. Relatório do informante;
7. Observações durante a história e testes;
8. Resultados dos testes.

• Status de inteligência geral;


• Realização;
• Funções executivas;
• Atenção/concentração;
• Memória/aprendizagem;
• Linguagem;
• Habilidade visoespacial;
• Função sensorial;
• Personalidade/humor.

9. Interpretação e observações dos resultados dos testes;


10. Resumo diagnóstico;

73
Avaliação Neuropsicológica

11. Recomendações;
12. Implicações vocacionais;
13. Apêndice: testes administrados.

É importante você perceber que existe uma diversidade de possibilidades na


forma de elaborar um relatório. Você vai identificar a melhor opção em sua prática
profissional, respeitando as normativas vigentes e o Código de Ética Profissional.
Você vai utilizar toda aprendizagem nesta disciplina para elaborar um relatório
consistente, que tenha propriedade técnica científica e clarifique o processo de
avaliação e os resultados advindos deste.

A seguir vamos propor um modelo de relatório, mas lembre-se de que a


escolha da forma de devolutiva vai estar diretamente vinculada ao seu ambiente
de trabalho e a quem demandou. Outro ponto a ser considerado é que o local de
trabalho, se em clínica, consultório, ambulatório, deve ser nomeado no Relatório
através da logo ou descrição deste no início do relatório.

QUADRO 2 – MODELO DE RELATÓRIO EM AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

RELATÓRIO – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Cidade: ____________________Data da Avaliação:______________________

Nome do Profissional Avaliador: _____________________________________


1. IDENTIFICAÇÃO

Nome do Paciente:________________________________________________

Idade:_______________________ Escolaridade:_______________________

Lateralidade: ____________________________________________________

Quem Encaminhou: ______________________________________________

2. BREVE DESCRIÇÃO DO QUADRO CLÍNICO

______________________________________________________________

______________________________________________________________

3. METODOLOGIA
Exemplo: para a avaliação neuropsicológica foram realizadas duas sessões de
uma hora e trinta minutos cada, através de entrevista, testes neuropsicológicos,
testes psicológicos, escala de depressão, desesperança e ansiedade. Você
pode descrever todos os testes utilizados ou deixar para incluí-los no anexo do
relatório.

74
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO

Dados qualitativos: _______________________________________________

_______________________________________________________________

Desenvolvimento físico, psicológico e escolar ao longo da vida:____________


_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Resultados quantitativos: neste item você deve descrever os resultados dos


testes, escalas e instrumentos utilizados, assim como um breve detalhamento
das principais funções avaliadas.

Exemplo: Funções Intelectuais, Memória, Linguagem, Funções Executivas,


Funções visuoespacial e visuoconstrução, Práxia, Atenção, Processamento de
informações, Humor.

Lembre-se! Os resultados detalhados estão diretamente vinculados aos tes-


tes e instrumentos utilizados em todo o processo de avaliação, por isso, você
só pode utilizar testes validados pelo CFP e padronizados para população
brasileira.

5. CONCLUSÃO

Neste espaço você deve fazer uma análise de todo processo da avaliação,
comparando os resultados obtidos com a demanda apresentada no início do
processo de avaliação neuropsicológica. Você também deve considerar as
funções preservadas e as funções neuropsicológicas comprometidas, possibil-
itando assim, uma compreensão do funcionamento cognitivo do paciente.

6. DIAGNÓSTICO

Dependendo de quem demandou, você deverá, caso possível, descrever o di-


agnóstico, baseado no DSM-V e no CID 10. Caso não seja possível este en-
quadramento, você deverá descrever que não foi possível identificar um diag-
nóstico.

7. SUGESTÕES E/OU ENCAMINHAMENTO

Este espaço deve ser utilizado para sugerir ou mesmo encaminhar o paciente,
caso seja necessário a processos de reabilitação cognitiva, psicoterapia, neu-
rologista, fonoaudiólogo, ou outros encaminhamentos necessários.

8. PROGNÓSTICO
Em alguns casos, o neuropsicólogo será demandado a realizar um prognóstico,
então, neste caso, deverá, através dos resultados da avaliação, descrever qual
o percurso que o quadro de alterações cognitivas pode percorrer ao longo do
tempo.

75
Avaliação Neuropsicológica

9. ANEXO
Sugerimos que você inclua uma tabela com os testes aplicados e com os
respectivos resultados, percentuais e classificações.
10. ASSINATURA E REGISTRO PROFISSIONAL

FONTE: A autora

2.4 DEVOLUTIVA DOS RESULTADOS


EM NEUROPSICOLOGIA
Após a elaboração do instrumento proveniente da avaliação neuropsicológica,
é necessário que você pense na comunicação dos resultados. Segundo o Código
de Ética do Profissional do Psicólogo, é responsabilidade do psicólogo:

Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:


f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicoló-
gicos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e
ao seu objetivo profissional;
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da
prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o
que for necessário para a tomada de decisões que afetem o
usuário ou beneficiário (CFP, 2005, p. 8).

A devolução das informações é indispensável para o processo


de psicodiagnóstico, englobando de forma sistematizada
todas as etapas, estabelecendo a integração entre elas,
levando a um fechamento e possibilitando novos rumos. A
devolução das informações encerra um miniprocesso bastante
complexo, responsável por ratificar a importância da realização
do psicodiagnóstico e por produzir efeitos no sujeito que o
vivenciaram [...] (HUTZ et al., 2016, p. 160).

A devolutiva é realizada aproximadamente duas semanas


após o término da avaliação, para o avaliador ter condições
de analisar o caso e elaborar o laudo. No momento da
devolutiva, é entregue o laudo com a exposição de todos
os achados e informações sobre o funcionamento cognitivo
da criança, assim como aspectos emocionais e estilo de
aprendizagem, seus pontos fortes e fracos. Trata-se de um
momento que visa contribuir para enriquecer a percepção dos
pais para com seu filho e contribuir para os procedimentos
médicos, além de oferecer sugestões para o desenvolvimento
e reabilitação das áreas que se encontram comprometidas
(TISSER, 2017, p. 41).

Para o paciente, a entrevista devolutiva é fundamental, permitindo ao


paciente o acesso a informações referentes a mudanças observadas no

76
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

processo de avaliação, que devem ser explicadas de forma clara, de preferência


com exemplos de acontecimentos práticos. Tanto o paciente como o familiar
necessitam de instruções e informações para o acompanhamento futuro
(MALLOY-DINIZ et al., 2010).

Você deve estar se perguntando: Para quem devo dar a devolutiva?

Considero que a devolução das informações do psicodiagnóstico


não deve ser exclusividade dos pais ou dos responsáveis, pois
a criança, o adolescente e o adulto dependente também têm
direito a esse momento de processamento. Mesmo nos casos
que o encaminhamento terapêutico será direcionado a outros
membros da família, o avaliando não deve ser privado do
direito à revista devolutiva, pois sua problemática foi o motivo
central para o processo (HUTZ et al., 2016, p. 164).

Como você pode acompanhar, a devolutiva é parte fundamental do processo


de avaliação neuropsicológica, ela possibilita ao paciente, familiares e demais
envolvidos (desde que previamente autorizados), uma explicação técnica e prática
da avaliação neuropsicológica e dos resultados obtidos. Na devolutiva, você terá
a oportunidade de clarificar ao paciente as dúvidas que podem surgir, assim como
explicar os achados no que se refere à resposta à queixa apresentada no início
do processo.

Outro ponto que deve ser explorado na devolutiva são os possíveis


encaminhamentos, caso o paciente possa se beneficiar, como por exemplo,
psicoterapia ou programas de reabilitação.

Após tais explanações, vamos aprofundar a temática devolutiva em


neuropsicologia, considerando os vários contextos de atuação.

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Levando em consideração as especificidades da neuropsicologia,


quais são os instrumentos mais utilizados na forma de
documentos?

2) Considerando os autores citados neste tópico e as resoluções


vigentes, quais são os itens que não podem faltar em um laudo
ou relatório neuropsicológico?

77
Avaliação Neuropsicológica

3 DEVOLUTIVA NOS VÁRIOS


CONTEXTOS DE ATUAÇÃO DA
NEUROPSICOLOGIA
O neuropsicólogo pode atuar em diferentes contextos, para tanto é
necessário observar as peculiaridades na atuação em cada uma das áreas, tanto
na realização da avaliação neuropsicológica como na forma de dar a devolutiva.
Neste livro didático vamos nos deter à:

• Neuropsicologia Clínica;
• Neuropsicologia Hospitalar – Ambulatorial;
• Neuropsicologia Forense;
• Neuropsicologia Educacional.

Seguindo as normativas do Código de Ética do Psicólogo, o paciente tem


direito a receber a devolutiva no que se refere ao seu tratamento e/ou avaliação:
“Princípios Fundamentais: VII. O psicólogo considerará as relações de poder
nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas ativida-
des profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os
demais princípios deste Código” (CFP, 2005, p. 7).

Frente o exposto, antes de colocarmos as observações pertinentes a cada


área de atuação, é necessário que estejam claras as questões éticas inerentes
ao processo de devolutiva de uma avaliação neuropsicológica, em que o princípio
norteador é o contrato de prestação de serviços, em que será pactuado com o
paciente ou responsável legal as formas de devolução. Ex.: para o paciente,
família, escola, médico, judiciário etc.

Neste mesmo viés é necessária uma reflexão, no que se refere ao sigilo


profissional, antes mesmo de realizar o contrato de trabalho e o processo de
devolutiva. Segundo Cunha et al. (2000), o sigilo profissional impede o psicólogo
a conceder algumas informações ou a disponibilizá-las exclusivamente a quem de
direito e a todo tempo pensando em favor do paciente.

A ética e o sigilo profissional devem ser respeitados e discutidos com o


paciente ou responsável legal no início do processo de avaliação neuropsicológica,
e esclarecidos no contrato de prestação de serviço, pois caso seja necessário o
encaminhamento de qualquer documento a terceiros, escolas, médicos e outros,
devem estar previstos no contrato de prestação de serviço para não ferir o direito
do sigilo e o código de ética da profissão.

78
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Outro ponto para se atentar é a guarda dos documentos provenientes da


avaliação neuropsicológica. A Resolução nº 001/2009 do Conselho Federal de
Psicologia dispõe: “§ 2º. O registro documental deve ser mantido em local que
garanta sigilo e privacidade e mantenha-se à disposição dos Conselhos de
Psicologia para orientação e fiscalização, de modo que sirva como meio de prova
idônea para instruir processos disciplinares e à defesa legal” (CFP, 2009, p. 2).

Lembre-se! Nenhuma informação pode ser repassada antes de Lembre-se!


ser acordada com o paciente ou responsável legal. Nenhuma
informação pode
ser repassada antes
A ética deve permear todo o processo de avaliação e devolutiva
de ser acordada
em neuropsicologia, o profissional precisa olhar para sua prática e com o paciente ou
priorizar o paciente, ter discernimento e conhecimento técnico-científico responsável legal.
em sua prática, sem perder o caráter humano em todo o processo. É
necessário pensar que, na maioria das vezes, quem demanda de uma avaliação
neuropsicológica já está em sofrimento, em função de uma alteração cognitiva, o
que precisa ser considerado e acolhido.

Sugestão de Leitura:
ROMARO, R. Ética na psicologia. Petrópolis, Vozes, 2006.

3.1 NEUROPSICOLOGIA NO
CONTEXTO HOSPITALAR E A
DEVOLUTIVA
No espaço hospitalar, o neuropsicólogo atua em atendimento ao paciente
em consultas ambulatoriais ou unidades de internação (enfermaria, pronto
atendimento e unidade de terapia intensiva), na orientação aos cuidadores
(ADDA, 2007).

O laudo neuropsicológico no contexto hospitalar deve responder às perguntas


significativas à demanda da equipe médica para definições ou orientações
referentes ao quadro clínico. É recomendado que o neuropsicólogo mantenha
um constate diálogo com o paciente a respeito das principais preocupações da
equipe e dos procedimentos médicos que estão sendo planejados, seus riscos e
alternativas, caso existirem.

79
Avaliação Neuropsicológica

Na conclusão do laudo, algumas perguntas devem ser


respondidas, como: a) O perfil neuropsicológico é consistente
com a lateralização e localização levantadas nos exames de
imagem? b) O perfil neuropsicológico atual, em conjunto com
o clínico neurológico e sociodemográfico, tem indicação de que
grau de risco de prejuízo cognitivo no pós-operatório? Nesse
aspecto, é importante considerar que um maior risco de prejuízo
cognitivo pós-cirúrgico é associado a um perfil cognitivo pré-
cirúrgico mais preservado comparado à norma (ALPHERTSET
et al., 2006 apud MALLOY-DINIZ, 2016, p. 206).

A neuropsicologia no espaço hospitalar, muitas vezes é solicitada a dar


pareceres, em diferentes quadros clínicos e em diferentes especialidades.
Conforme já tratado em outro momento deste capítulo, devemos lembrar que
neste caso, em especial, deve ser respeitada a privacidade do paciente, as
informações devem ser objetivas, respondendo apenas ao demandado, pois os
dados, na sua maioria, ficam expostos no prontuário do paciente, podendo ser
lidos e manuseados por todos que atendem ao paciente.

Em alguns casos, a equipe de reabilitação pode ser crucial


na aderência ao tratamento agudo e pós-agudo, promovendo:
Informações para clínicos, para enfermagem e para outros
profissionais sobre as condições cognitivas emocionais e
sobre as necessidades dos pacientes; Informações educativas
para o paciente e sua família; Suporte Psicológico (FUENTES
et al., 2008, p. 115).

Desta forma, podemos esquematizar a atuação e intervenção da


neuropsicologia no contexto hospitalar, com o apoio da figura a seguir:

FIGURA 2 – POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO


DA NEUROPSICOLOGIA NA ÁREA HOSPITALAR

Acompanhamento
do quadro clínico
ou tratamento
medicamentoso

Auxílio no
Situação pré e
diagnóstico
pós-operatório
médico

Neuropsicologia

Sempre que existir Orienta para


uma pergunta da retorno às
equipe sobre o atividades
funcionamento profissionais ou
cognitivo do escolares
paciente

FONTE: Adaptado de ADDA (2007)


80
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Outra área de atuação do neuropsicólogo pode se dar em


hospitais de pronto-socorro, no Serviço para pacientes com
acidente vascular cerebral ou traumatismo cranioencefálico.
Como nesses cenários os pacientes em geral ganham alta
após um período mais breve de internação, o neuropsicólogo
pode realizar uma avaliação cognitiva global e apontar áreas
de maior prejuízo para investigação posterior e indicações para
o tratamento cognitivo (MALLOY-DINIZ et al., 2016, p. 206).

Você deve considerar que no ambiente hospitalar, seja no ambulatório, nas


clínicas de especialidades ou no serviço de pronto-socorro, o neuropsicólogo é
chamado para atender a uma solicitação, em que uma pergunta é formulada,
desta forma, a avaliação neuropsicológica e, posteriormente, o parecer, laudo
ou relatório na área da neuropsicologia hospitalar procuram dar respostas a
quem demandou.

No ambiente hospitalar, na maioria das vezes, a devolutiva da avaliação


neuropsicológica é via prontuário do paciente, porém em hospitais onde o
Neuropsicólogo integra o corpo clínico, ele mesmo é responsável por dar a
devolutiva para o paciente e, quando autorizado por este, aos familiares. Há
exceção de casos que envolvam crianças, adultos ou idosos com dependência,
quando a devolutiva ocorre com o paciente e seus responsáveis.

Outro ponto importante, no caso de o neuropsicólogo compor a equipe


clínica é poder dar essa devolutiva também à equipe, com o propósito de realizar
um estudo de caso coletivo e planejar o tratamento e/ou encaminhamentos
necessários.

O ambiente hospitalar vai exigir de você, profissional em neuropsicologia,


uma adaptação em sua prática, considerando as peculiaridades deste espaço
de trabalho, pois você terá que atender ao paciente, na maioria das vezes, no
seu leito de internação, dividindo o espaço com outros pacientes e profissionais,
assim será necessário se atentar para as adaptações necessárias ao planejar
uma avaliação neuropsicológica e/ou uma a devolutiva.

3.2 NEUROPSICOLOGIA NO
CONTEXTO FORENSE E DEVOLUTIVA
A neuropsicologia forense é uma área em que os conhecimentos e
instrumentos neuropsicológicos auxiliarão em processos jurídicos embasando
cientificamente as capacidades cognitivas, funcionais e comportamentais do
paciente.

81
Avaliação Neuropsicológica

Diferentemente do que acorre na neuropsicologia clínica, que


define a existência ou não de urna disfunção das funções
cognitivas, a neuropsicologia forense deve responder a uma
questão legal, isto é, se determinada disfunção afeta ou não
a capacidade de entendimento e de autodeterminação da
pessoa (HOM, 2003 apud SERAFIM; SAFFI, 2015, p. 21).

Este é um espaço de atuação que demanda uma postura muito específica


por parte do profissional neuropsicólogo. Para conduzir você a este espaço de
atuação, intervenção e devolutiva, vamos tentar esclarecer algumas possibilidades
de intervenção, considerando as diferentes varas:

QUADRO 3 – APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA NAS DIFERENTES VARAS

Aplicação da
Avaliação Objetivo O que avalia
Neuropsicológica
Incidência de farmacode-
pendência, dúvidas da ve- Verifica a capacidade de
racidade das informações imputação, verificação da
colhidas, incidência de eficácia do processo reed-
insanidade mental e so- ucativo (reinserção social;
Vara criminal licitação de progressão probabilidade de reincidên-
de pena e exame da sus- cia), cessação de periculo-
pensão de medida de se- sidade.
gurança.
Ações de interdição,
ações de anulações de
atos jurídicos, avaliação
da capacidade de testar
(fazer testamento), an-
ulações de casamentos Interdição, danos psíquicos,
e separações judiciais neurofuncionais, psicológi-
Vara cível litigiosas, ações de mod- cos e simulação.
ificação de guarda de fil-
hos, regulamentação de
visitas, avaliação de tran-
stornos mentais em ações
de indenização.

82
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Verificação da capacidade
Acidentários e doenças laboral (médico-legal),
profissionais, doença relação nexo-causal (relação
decorrente das condições entre o fato e o dano físico
de trabalho, indeni- ou psíquico), verificação das
zação, erro ou negligên- condições mentais, de acor-
Vara trabalhista cia médica e hospitalar, do com a legislação vigente
intoxicações (chumbo, para fins de aposentadoria
mercúrio, monóxido de por doença mental, bem
carbono, entre outras). como para o desempenho
de cargos.

FONTE: Malloy-Diniz et al. (2010, p. 315-316)

Como você pode perceber, as demandas para o neuropsicólogo na área


forense são bem diferentes no que se refere ao objetivo e ao que avaliar, sendo
assim, você precisa considerar a demanda solicitada pelo agente jurídico. Serafim
e Saffi (2012 apud SERAFIM; SAFFI, 2015, p. 21) ressaltam que o procedimento
da perícia deve ser fundamentado nos quesitos elaborados pelo agente jurídico
(juiz, promotor, procurador, delegado, advogado), “cabendo ao perito investigar
uma ampla faixa de funcionamento mental do indivíduo envolvido em ação judicial
de qualquer natureza (civil, trabalhista, criminal etc.), por meio do exame de sua
personalidade e de suas funções cognitivas”.

A principal responsabilidade do perito forense é fornecer informações


baseadas em princípios psicológicos e neuropsicológicos cientificamente
validados e com metodologia clínica clara. Sua aplicação não se resume apenas a
informar se o periciando apresenta determinado diagnóstico, mas responder se tal
patologia ou quadro gera incapacidade a ponto de interferir na responsabilidade
penal ou na capacidade civil do sujeito.

Segundo Serafim, Moraes e Saffi (2016), a avaliação neuropsicológica


é usada na prática forense como auxílio para perícia, contribuindo de forma
especializada através de conhecimento técnico/científico singulares, colaborando
no esclarecimento de pontos tidos como relevantes para o trâmite
processual. Quando há incerteza quanto à saúde mental da pessoa Atenção: Em
no meio jurídico há uma em questão e, para tanto, precisa de termos práticos, a
fundamentos de outra área para aplicar a lei. Posteriormente, a perícia avaliação forense
busca estabelecer
fornecerá conhecimento técnico ao juiz, caracterizando como prova
as possíveis causas
para suplementar sua decisão por meio de fundamentação técnica do que levaram una
fato, descrito em laudo. pessoa a adotar
uma conduta
Atenção: Em termos práticos, a avaliação forense busca incompatível com as
estabelecer as possíveis causas que levaram una pessoa a adotar normas sociais.
uma conduta incompatível com as normas sociais.
83
Avaliação Neuropsicológica

O objeto de estudo na prática pericial de qualquer espécie


(penal, cível, trabalhista, família, previdenciária, etc.) deve
agregar: os componentes subjetivos e/ou psicológicos:
cognitivos, intelectuais, recursos de controle de impulsos,
agressividade em grau e natureza, dinâmica e estrutura de
personalidade. Os aspectos sociais: capacidade de introjeção
e adesão a normas e limites sociais, capacidade de adaptação
social, grupo étnico, grupo social, fatores de risco divergentes
linquencial ou de recidiva do ato antijurídico, cultura, princípios
religiosos. O espírito jurídico: grau de periculosidade do
agente, grau de responsabilidade penal (imputabilidade) e
grau de capacidade civil, medidas socioeducativas, medida de
segurança (SERAFIM; SAFFI, 2015, p. 49).

Neste sentido, a neuropsicologia jurídica se organiza de forma a conduzir


um processo de avaliação em função de uma resposta ao sistema de justiça,
independentemente de quem demandou. Neste sentido, você deve organizar a
sua prática de forma a responder à pergunta ou às perguntas feitas, porém, cabe
lembrar que nem sempre estas perguntas terão respostas, pois neste espaço
pode ocorrer de o paciente não colaborar com o neuropsicólogo, considerando
que não foi ele quem procurou o serviço.

Para facilitar o processo de avaliação neuropsicológica forense é importante


elaborar um roteiro para que você possa visualizar o processo como um todo. Você
pode usar os já propostos no Capítulo 1, ou pode pensar em uma adequação,
considerando o atual contexto de intervenção.

QUADRO 4 – ETAPAS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA FORENSE

ETAPA PROCEDIMENTO
1. Estudos dos documentos
2. Contrato
3. Entrevista psicológica
4. Entrevista de anamnese/objetiva
5. Avaliação cognitiva
6. Elaboração do laudo

FONTE: Serafim e Saffi (2012 apud SERAFIM; SAFFI, 2015, p. 270)

Outro ponto a ser observado neste espaço de atuação, no momento da


devolutiva, é a forma da escrita, o laudo e/ou relatório deve ser descrito de
forma a evitar inclusões pessoais, deve ser usada uma linguagem técnica, com
priorização de informações técnicas, porém com linguagem acessível para quem
for ler.

84
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

QUADRO 5 – ORDEM NA EXPOSIÇÃO TÉCNICA DE UM


LAUDO EM NEUROPSICOLOGIA FORENSE

Identificação do autor/relator do laudo. Coloca-se o nome


do psicólogo que realizou a perícia, seu número de in-
scrição no Conselho Regional de Psicologia (CRP) e suas
Preâmbulo
qualificações profissionais.
Identificação do periciando, com nome completo, RG,
idade, estado civil, escolaridade e filiação. Neste item, tam-
bém devem ser colocados o nome do autor do pedido de
Identificação
avaliação e o motivo da solicitação.
É preciso relatar quais foram os métodos e as técnicas uti-
lizados na avaliação, quantos encontros ocorreram, quais
Procedimentos pessoas foram ouvidas, quais testes foram utilizados etc.
Nesta seção, descrevem-se o histórico do caso estudado,
Descrição da as informações referentes à problemática apresentada e os
demanda motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do
documento.
O histórico diz respeito ao fato investigado e não à vida da
Histórico
pessoa.
Neste item, descreve-se a história de vida do periciando.
Antecedentes
Colocam-se as informações em ordem cronológica, e ape-
pessoais
nas aquelas relevantes para o estudo.
Relata-se o desempenho do periciando na avaliação. Os
resultados quantitativos são importantes, mas, acima de
tudo, é necessário descrever como o avaliando realizou as
tarefas. Não cabe ao psicólogo fazer afirmações sem suste-
Análise dos da- ntação em fatos e/ou teorias. Além disso, a linguagem deve
dos ser precisa, clara e exata, especialmente quando se referir
aos dados de natureza subjetiva.
A discussão não é obrigatória, mas, em certos casos, é con-
veniente que faça parte do relatório. Pode ser de dois tipos:
Discussão teórico, quando versa sobre uma questão específica do
caso estudado, e geral, quando há mais de um periciando.
Na conclusão, todas as informações para o entendimento
do caso são relacionadas (dados de história, do exame e
Conclusão dos documentos consultados), e são levantadas hipóteses
sobre o avaliando. Esta seção deve ser sucinta.
Quando quesitos são formulados, devem ser transcritos
e respondidos neste item. As respostas devem ser claras,
Respostas aos sucintas e ater-se ao que foi questionado. Se não for pos-
quesitos sível responder ao quesito, seja por falta de elementos, seja
por ele ser inadequado ao objetivo da avaliação, coloca-se
"prejudicado".

FONTE: Saffi, Marques e Serafim (2015, p. 282)

85
Avaliação Neuropsicológica

Considerando a complexidade desta temática, sugerimos que você aprimore


sua leitura com os livros citados na referência bibliográfica, pois esta área de
atuação da neuropsicologia está sendo bastante demandada no Brasil, porém,
neste livro estamos apenas fazendo uma inserção deste assunto. É necessário
conhecer as especificidades das diferentes patologias e déficits a serem avaliados
para poder dar uma devolutiva dentro dos princípios éticos e científicos.

3.3 NEUROPSICOLOGIA NO
CONTEXTO EDUCACIONAL E
DEVOLUTIVA
No contexto educacional, a neuropsicologia pode contribuir de forma
significativa quando de uma avaliação neuropsicológica, pois pode clarificar as
mudanças comportamentais ou cognitivas que muitas vezes permeiam o ambiente
escolar, sem respostas, gerando angústia, sofrimento para o aluno, professores e
pais. Também pode auxiliar no melhoramento cognitivo através do processo de
habilitação e reabilitação.

Segundo Carvalho e Guerra (2010), a avaliação neuropsicológica pode


conduzir para utilização de estratégias pedagógicas e/ou intervenções terapêuticas
mais apropriadas e eficientes na singularidade de cada indivíduo. Os mesmos
autores também apontam que “a avaliação neuropsicológica estabelece quais são
as funções cognitivas que estão preservadas dentro dos limites da normalidade
e que aquelas que apresentam algum comprometimento, identificando forças e
fraquezas do aprendiz” (CARVALHO; GUERRA, 2010, p. 328).

Há duas situações em que um laudo para fins educacionais em geral é


necessário:

• Laudo neuropsicológico clínico para hipóteses diagnósticas cognitivas


quanto à aprendizagem escolar;
• Laudo originado de uma triagem escolar.

O laudo de triagem escolar é normalmente emitido nos casos


em que são identificadas particularidades no desempenho
acadêmico de crianças. Em geral, o funcionamento do aluno
está negativamente discrepante dos colegas de aula. Embora
não se configure transtorno de aprendizagem, de acordo com
o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-5) (American Psychiatric Association), o funcionamento
do aluno gera demanda para a avaliação neuropsicológica.
Porém, se a equipe escolar especializada estiver capacitada,
com treinamento apropriado para identificar problemas em

86
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

domínios cognitivos específicos e com supervisão de um


especialista para interpretar os resultados, poderá realizar
avaliações que caracterizem o perfil do aluno e identificar
se será necessário encaminhar a criança para a avaliação
neuropsicológica formal (HARRISON; HOOD, 2016, p. 203).

Segundo Carvalho e Guerra (2010), é importante que o indivíduo, a


família e a escola, com as adequações inerentes a cada um deles, sejam
devidamente informados a respeito do diagnóstico, bem como sobre a
terapêutica a ser desenvolvida. Os autores também pontuam a necessidade de
esclarecer as limitações das intervenções para que sejam evitadas expectativas
superdimensionadas.

“Se bem conduzida, a triagem escolar servirá como base para o


desenvolvimento de estratégias terapêuticas e intervenções que diminuirão o
avanço das dificuldades e os prejuízos causados por elas” (MALLOY-DINIZ et al.,
2016, p. 203).

Sugere-se que, após autorização do paciente e de seus


responsáveis, a devolução escrita e oral seja realizada na escola
que solicitou a avaliação. Nesse encontro, é recomendável
que estejam presentes os professores que trabalham com o
avaliado, a equipe de coordenadores pedagógicos, orientadores
educacionais, psicólogo escolar, professor da sala de recursos
(quando houver indicação para tal) e as demais partes
envolvidas com a reabilitação ou estimulação preventiva da
criança (KOCHHANN et al., 2016, p. 203).

Malloy-Diniz et al. (2010) apontam que, tanto os pais como os professores e


outros profissionais que atendem à criança, precisam de um diagnóstico funcional,
para além de um rótulo diagnóstico, precisam do maior número de informações
sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, assim como das
dificuldades de comportamento e de aprendizagem relacionados.

ATIVIDADES DE ESTUDO:

1) Descreva as principais diferenças no processo de devolutiva


neuropsicológica considerando as diferentes áreas de atuação.

2) No que se refere à atuação do neuropsicólogo na área forense,


qual seria a melhor forma de exposição técnica de um laudo,
segundo os autores apresentados neste livro?

87
Avaliação Neuropsicológica

4 DIAGNÓSTICO, INTERVENÇÕES
E PROGNÓSTICO EM
NEUROPSICOLOGIA
Neste momento, vamos entrar em uma área importante para o
neuropsicólogo(a), iremos contextualizar o processo entre a demanda,
diagnóstico, prognóstico e intervenção. Você será convidado a olhar para os
temas estudados até aqui e realizar uma análise aprofundada entre os resultados
obtidos e os enquadramentos técnicos científicos para poder, então, propor as
intervenções necessárias a cada paciente.

Para tanto, se faz necessário olhar para o momento atual, em que a


neuropsicologia está passando por um remodelamento frente à inserção de
técnicas de imagem que contribuem para uma análise ainda mais técnica do
processo de avaliação neuropsicológica. Em linhas gerais, as demandas por
avaliação neuropsicológica estão direcionadas para:

1. A qualidade e a quantificação e a qualificação detalhadas de


alterações cognitivas, buscando um diagnóstico ou detecção
precoce de sintomas, tanto em clínica como em pesquisa;
2. A avaliação e a reavaliação para acompanhamento dos
tratamentos cirúrgicos, medicamentosos e de reabilitação;
3. A avaliação direcionada para o tratamento, visando
principalmente à programação de reabilitação
neuropsicológica;
4. A avaliação direcionada para os aspectos legais, gerando
informações e documentos sobre as condições ocupacionais
ou incapacidades mentais de pessoas que sofrem algum
insulto cerebral ou doença, afetando o sistema nervoso
central (MALLOY-DINIZ et al., 2010, p. 51).

Neste sentido, a neuropsicologia vem ampliando sua área de trabalho,


sendo a demanda para atuar na prevenção, avaliação, diagnóstico, prognóstico
e intervenção nos diferentes contextos profissionais. Mas para tanto, você
deve buscar de forma contínua o aprimoramento profissional, pois atuar em
neuropsicologia requer um vasto conhecimento em áreas do desenvolvimento
humano, neuroanatomia, testes psicológicos e neuropsicológicos, áreas
específicas como a forense e hospitalar, com foco cada vez mais na prevenção.

Chama a atenção para os avanços nos conhecimentos


científicos e a experiência também têm mostrado a importância
da identificação do diagnóstico precoce de problemas cognitivos
emocionais, porque embora falhas grosseiras nestas funções
possam ser prontamente reconhecidas e toleradas, falhas sutis
podem provocar dificuldades na atividade produtiva da criança
e do adulto, às vezes com impacto marcante (FUENTES et al.,
2008, p. 106).

88
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Considerando os breves apontamentos, vamos levar você ao encontro


de conceitos atuais na área de diagnóstico, prognóstico e intervenção em
neuropsicologia. Lembre-se de que você deve ir para além deste livro, buscar
leituras complementares para ampliar seus conhecimentos.

Sugestão de leitura:

MAIA, L.; CORREIA, C.; LEITE, R. Avaliação e Intervenção


Neuropsicológica: Estudos de Casos e Instrumentos. Portugal: Lidel-
Zamboni, 2009.

4.1 DIAGNÓSTICO EM
NEUROPSICOLOGIA
O diagnóstico neuropsicológico proporcionará entender não somente o
sintoma, mas especialmente sua inserção, modificação e interação nos vários
níveis e nas várias formas dinâmicas em que sintoma e ambiente se articulam
(MIRANDA; MELLO; MUSZKAT, 2006).
O diagnóstico
No século XXI, a neuropsicologia tem expandido neuropsicológico é
para além do diagnóstico, estabelecendo- o procedimento no
se de maneira mais consistente nas áreas de qual são coletados
reabilitação neuropsicológica e compreensão de
dados quanto
aspectos funcionais relacionados às alterações
cerebrais. A mesma autora considera a avaliação
ao desempenho
neuropsicológica como um procedimento do paciente nas
importante no diagnóstico diferencial das áreas biológico,
demências, nas investigações da natureza, grau de cognitivo, afetivo,
extensão dos mais diversos quadros neurológicos familiar e social. O
e psiquiátricos [...] (MIOTTO, 2007, p. 138). seu maior objetivo
é contribuir na
Segundo Malloy-Diniz et al. (2010), ao final da avaliação, o clínico tomada de decisões
será capaz de confirmar que um perfil determinado é indicativo de uma (BARRAQUER-
BORDAS, 1976
alteração, ou somente detalhar os achados cognitivos. Não tendo desta
apud MALLOY-
forma, o propósito de realizar um diagnóstico em si, mas sugeri-los. DINIZ et al., 2016).

O diagnóstico neuropsicológico é o procedimento no qual são coletados


dados quanto ao desempenho do paciente nas áreas biológico, cognitivo,
afetivo, familiar e social. O seu maior objetivo é contribuir na tomada de decisões
(BARRAQUER-BORDAS, 1976 apud MALLOY-DINIZ et al., 2016).

89
Avaliação Neuropsicológica

Oliveira, Antunes e Haase (2016) diferenciam o diagnóstico em diagnóstico


funcional, diagnóstico topográfico e diagnóstico ecológico. Assim, baseado nestes
autores, vamos descrever cada um a seguir:

QUADRO 6 – TIPOS DE DIAGNÓSTICO

Tipos de Diagnóstico Descrição


Baseia-se em detalhar os sinais e sintomas em
padrões de associação (síndromes) ou disso-
ciação entre funções comprometidas e preser-
Diagnóstico funcional vadas, as quais são analisadas no nexo de mod-
elos de processamento de informação.
Auxiliar na elaboração de expectativas e suprimir
hipóteses quanto ao padrão de funções compro-
metidas e preservadas que deve ser averiguado.
O diagnóstico topográfico diminui a área de in-
vestigação, colaborando na diminuição dos cus-
Diagnóstico topográfico tos e riscos. O exame neuropsicológico ainda é a
única forma de realizar um diagnóstico topográfi-
co no momento em que os exames de neuroima-
gem são normais.
O diagnóstico ecológico, procura avaliar a conse-
quência do quadro de saúde no funcionamento
cognitivo do indivíduo. Consideram como sendo
a parte mais complexa e técnica do diagnóstico
neuropsicológico. Os autores consideram que o
Diagnóstico ecológico
diagnóstico ecológico precisa ser desenvolvido
de forma ampliada, incluindo as perspectivas
cognitiva, comportamental e contextual.

FONTE: Adaptado de Oliveira, Antunes e Haase (2016)

Como podemos observar, o diagnóstico em neuropsicologia não é o ponto


central da avaliação neuropsicológica, porém, em casos específicos, é necessária
a sua utilização, como nos casos que envolvem decisões judiciais e nas
solicitações para tratamentos junto a convênios médicos. No entanto, cabe a você
analisar cada situação, considerando sempre que o resultado mais importante
para avaliação neuropsicológica é identificar as potencialidades e fragilidades
cognitivas de cada indivíduo.

Considerando o nosso papel de articuladores dos conteúdos, pensamos


ser importante introduzir o conceito de diagnóstico nosológico. Para Hutz et al.
(2016), o diagnóstico nosológico em laudos psicológicos, quer dizer apresentar os
diagnósticos segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-5) ou a Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

90
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o diagnóstico


nosológico deve ser contemplado no laudo ou relatoria se esta Atenção! Muitas
vezes o diagnóstico
informação for relevante à demanda. A Resolução 015/1996 do CFP
nosológico é
versa em seu Parágrafo único – “Fica facultado ao psicólogo o uso necessário,
do Código Internacional de Doenças – CID, ou outros Códigos de principalmente
diagnóstico, científica e socialmente reconhecidos, como fonte para nos casos de
enquadramento de diagnóstico” (CFP, 1996, p. 1). tratamentos
via convênio e
encaminhamentos
Atenção! Muitas vezes o diagnóstico nosológico é necessário,
para perícias.
principalmente nos casos de tratamentos via convênio e
encaminhamentos para perícias.

4.2 PROGNÓSTICO EM
NEUROPSICOLOGIA
Expor os possíveis desdobramentos da condição atual é uma das mais
importantes tarefas da devolução de informações do psicodiagnóstico. Considera-
se que apresentar um prognóstico em curto, médio e longo prazo, de forma clara,
faz parte do dever científico do profissional.

Para Fuentes et al. (2008, p. 107), “a solicitação de subsídios “O fato da avaliação


neuropsicológica se
que auxiliam o estabelecimento de prognóstico geralmente ocorre
basear em funções
dentro da prática hospitalar, mas também pode ocorrer após a alta cognitivas mais do
em condições cronificadas. O diagnóstico está feito, mas deseja-se que em estruturas
estabelecer o curso da evolução e o impacto que tal desordem terá em permite identificar
longo prazo”. os recursos
remanescentes e
“O fato da avaliação neuropsicológica se basear em funções potenciais após a
cognitivas mais do que em estruturas permite identificar os recursos instrução de um
quadro, e isso dá
remanescentes e potenciais após a instrução de um quadro, e isso
mais subsídios
dá mais subsídios para formulação do prognóstico” (FUENTES et al., para formulação
2008, p. 107). do prognóstico”
(FUENTES et al.,
O Prognóstico, segundo Cunha et al. (2000), necessita 2008, p. 107).
principalmente da classificação nosológica, nessa perspectiva, não é
exclusivo do psicólogo. O Prognóstico é capaz de proporcionar uma colaboração
significativa, e através do psicodiagnóstico pode avaliar situações que, de certa
forma, possam agir no percurso do transtorno.

O prognóstico em neuropsicologia baseia-se nas funções cognitivas, busca


identificar previamente o curso das alterações cognitivas no futuro e as funções
com potencial de reabilitação, resultados estes obtidos a partir de interpretações
feitas com base na avaliação neuropsicológica.
91
Avaliação Neuropsicológica

4.3 INTERVENÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
Através dos achados da avaliação neuropsicológica é possível planejar
uma intervenção direcionada para as funções cognitivas deficitárias e para os
distúrbios psicológicos psiquiátricos, buscando melhorias na condição do paciente
e de sua qualidade de vida (MALLOY-DINIZ et al., 2010).

“O exame neuropsicológico que visa a esclarecimentos diagnósticos avalia o


funcionamento cognitivo geral e identifica áreas específicas desse funcionamento
que se situam abaixo ou dentro do esperado em comparação a um grupo de
pessoas com idade e escolaridade semelhantes [...]” (MIOTTO, 2016, p. 226).

Em se tratando de exame neuropsicológico para estruturar uma


intervenção, é necessário que este possa auxiliar a responder
a perguntas, tais como:
1. Quais são as dificuldades encontradas na vida real
decorrentes do quadro neurológico ou neuropsiquiátrico?
No caso de uma alteração de memória episódica verbal, é
possível que haja dificuldades para aprender e reter novas
informações lidas em jornal, textos e livros, em conversas,
aulas, conferências e reuniões?
2. Qual o impacto dessas dificuldades na funcionalidade,
nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD), nas
atividades ocupacionais, familiares, pessoais e sociais?
Seguindo o exemplo do caso anterior, foi necessário
afastar-se das atividades laborativas ou dos estudos? Não
utiliza mais o transporte público ou automóvel?
3. Como são realizadas as AVD e atividades ocupacionais
atualmente? Há necessidade de ajuda ou supervisão
para conduzir a rotina diária, realizar compras, administrar
as finanças, lembrar-se de compromissos, manusear as
medicações?
4. Quais as estratégias que o paciente utiliza atualmente para
lidar com essas dificuldades? Por exemplo, passou a fazer
uso dos recursos do celular, como alarmes e agenda, para
se lembrar de compromissos e do horário das medicações?
Ou tornou-se dependente do cuidador ou familiar para
essas atividades, que antes eram realizadas de maneira
independente?
5. Quais os recursos, auxílios externos e estratégias que eram
utilizados antes do quadro neurológico ou neuropsiquiátrico?
6. Quais as dificuldades que geram maior sofrimento ou
preocupação para o paciente e o familiar?
7. A família está envolvida na recuperação do paciente, ou ele
reside sozinho e não pode contar com a ajuda dos familiares
ou de um cuidador?

92
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

8. Há presença de quadro de alteração do humor, incluindo


depressão ou ansiedade, que possa estar acentuando as
dificuldades cognitivas e influenciando a participação e a
recuperação do paciente?
9. O paciente apresenta alguma alteração comportamental
ou redução da autocrítica decorrente do quadro clínico?
Há evidência de alguma alteração comportamental ou
transtorno neuropsiquiátrico, abuso de substância ilícita ou
álcool anterior à instalação do quadro clínico?
10. Existem fatores ou condições externas A avaliação
que precipitam as alterações cognitivas ou neuropsicológica
comportamentais? (MIOTTO, 2016, p. 227- vai mapear os
228).
déficits, os recursos
e as estratégias
Como você pode observar, ao pensar num processo de avaliação utilizadas.
neuropsicológica com foco em possíveis intervenções, o profissional Dessa forma, os
em neuropsicologia deve ampliar seu foco, pensar em todas as funções dados obtidos
cognitivas que podem ser avaliadas, com o objetivo de identificar possibilitarão a
escolha das metas,
o maior número de áreas preservadas ou com potencialidades para
como, por exemplo,
reabilitação e/ou outras formas de intervenções. Em alguns casos, reparar os danos ou
as intervenções podem ter o foco de orientar o paciente, a família, os contornar os déficits.
cuidadores ou responsáveis sobre as dificuldades que este pode ter no Ela também vai
dia a dia. propiciar a escolha
dos métodos que
A avaliação neuropsicológica vai mapear os serão utilizados.
déficits, os recursos e as estratégias utilizadas. Dependendo do
Dessa forma, os dados obtidos possibilitarão a mapeamento, opta-
escolha das metas, como, por exemplo, reparar se por restaurar a
os danos ou contornar os déficits. Ela também função perdida por
vai propiciar a escolha dos métodos que serão
meio de prática
utilizados. Dependendo do mapeamento, opta-se
por restaurar a função perdida por meio de prática e retreino, ou
e retreino, ou compensá-la com a utilização de compensá-la com
suportes externos, tais como agendas e alarmes, a utilização de
ou ainda otimizar funções residuais do hemisfério suportes externos,
mais preservado (CAMARGO; BOLOGNANI; tais como agendas
ZUCCOLO, 2008, p. 115-116). e alarmes, ou
ainda otimizar
Percebemos através da literatura e da prática em neuropsicologia, funções residuais
que a intervenção nesta área está diretamente vinculada à avaliação do hemisfério
mais preservado
neuropsicológica, pois é através dos dados quantitativos e qualitativos
(CAMARGO;
resultantes deste processo de avaliação que o profissional da BOLOGNANI;
neuropsicologia vai traçar um plano de intervenção, que possa ZUCCOLO, 2008, p.
beneficiar o indivíduo no que se refere aos aspectos cognitivos. 115-116).

93
Avaliação Neuropsicológica

4.4 INTERVENÇÃO DA
NEUROPSICOLOGIA EM
NEUROCIRURGIA E NEUROLOGIA
A neuropsicologia vem gradativamente ampliando sua área de atuação,
auxiliando de maneira considerável no processo de avaliação diagnóstica, em
especial na área da neurologia e neurocirurgia.

Uma lesão cerebral pode ocasionar incapacidade tanto na execução de


tarefas simples como nas tarefas complexas, assim como à região lesionada,
podem estar relacionadas com múltiplas funções, ocasionando uma síndrome
neurocomportamental (LEZAK, 1995 apud MALLOY-DINIZ et al., 2010).

4.4.1 Intervenção em Neuropsicologia


na Neurocirurgia
As intervenções da neuropsicologia na área da neurocirurgia têm contribuído
em vários aspectos, porém o maior número de pesquisas nesta área tem sido
em avaliações neuropsicológicas em pré-cirurgia e pós-cirurgia de epilepsia.
Mas, a neuropsicologia também contribui na avaliação de pacientes com tumores
cerebrais que necessitam de intervenção cirúrgica, avaliando os impactos
cognitivos que podem ocorrer ao realizar o processo cirúrgico.

4.4.2 Epilepsia
“As epilepsias são síndromes identificadas pela presença de crises
epilépticas que recorrem na ausência de condições tóxico-metabólicas do
organismo, como por exemplo, intoxicação por álcool, hipoglicemia e outros”
(FUENTES et al. 2008, p. 312).

“Há evidências de que indivíduos com determinados tipos de epilepsia podem


apresentar prejuízos cognitivos graves, sendo que, para alguns, tais déficits
podem ser mais debilitantes do que as próprias crises epilépticas” (FUENTES et
al., 2014, p. 278).

94
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Sugestão de leitura:

MADER, Maria Joana. Avaliação neuropsicológica nas


epilepsias: importância para o conhecimento do cérebro. Psicol.
cienc. prof., v. 21, n. 1, p. 54-67, 2001. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1590/S1414-98932001000100007. Acesso em: 27 jun. 2019.

Na cirurgia da epilepsia, a avaliação neuropsicológica pré-cirúrgica é


fundamental, pois vai avaliar se as estruturas contralaterais à lesão no lobo
temporal estão disfuncionais ou comprometidas e, caso estejam e se decida
por realizar a cirurgia de lobectomia temporal unilateral, pode-se gerar quadro
de amnésia devido à ausência de reserva no outro hemisfério. A avaliação
neuropsicológica também é relevante como fator preditivo de problemas cognitivos
pós-cirúrgico.

FIGURA 3 – IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA EM QUADROS DE EPILEPSIA

Condições
neurológicas
do paciente

Compreender os
Auxiliar na decisão problemas emocionais,
de seu tratamento educacionais e
psicossociais

Avaliação
Neuropsicológica

Monitorar os efeitos Monitorar os efeitos


dos medicamentos e dos medicamento e
ou epilepsia sobre a ou epilepsia sobre a
cognição cognição

Impacto dessa
disfunção cognitiva
no dia a dia

FONTE: Adaptado de Fuentes et al. (2014)

95
Avaliação Neuropsicológica

Segundo Fuentes et al. (2008, p. 111), “na epilepsia a avaliação


neuropsicológica é um método consagrado de auxílio no diagnóstico localizatório
e é mandatória na avaliação pré-cirúrgica. Mais de meio século de pesquisa
correlacionando achados neuropsicológicos com áreas específicas de lesão ou
disfunção atestam a eficácia desse exame”.

“As técnicas neuropsicológicas continuam sendo uma parte essencial do


protocolo de exames pré e pós-operatório de pacientes cirúrgicos, estando os
neuropsicólogos inseridos nas equipes multidisciplinares” (LEZAK, 1995 apud
MALLOY-DINIZ, 2010, p. 285).

No pré-operatório:

• Pode ajudar na decisão da indicação do procedimento


cirúrgico visando ao não surgimento de possíveis sequelas
neuropsicológicas e buscando o melhor momento para a
realização do procedimento;
• Auxiliar na localização do dano estrutural e funcional;
• Deve se atentar para as funções cognitivas prejudicadas
e as que se encontram preservadas, de forma a traçar,
objetivamente, o perfil de potencialidades e de prejuízos
apresentados – podendo contribuir para comparação no pós-
cirúrgico, considerando os benefícios ou prejuízos cognitivos
advindos da patologia e/ou das intervenções neurocirúrgicas;
• Na cirurgia de epilepsia de lobo temporal, o neuropsicólogo
tem a função de detectar a lateralização hemisférica da
linguagem, deve-se determinar o impacto da ressecção
sobre essa importante função cognitiva (MALLOY-DINIZ et
al., 2010, p. 287-288).

Avaliação Neuropsicológica no pós-cirúrgico:

• Pode ser indicada para verificar as consequências cognitivas


decorrentes do insulto cerebral, bem como a evolução ou
não das funções comprometidas após a cirurgia;
• O acompanhamento em longo prazo é particularmente
importante quando se procura analisar o nível de progresso
ou de deterioração do estado cognitivo;
• O acompanhamento pós-cirúrgico também é importante
para o planejamento de estratégias de reabilitação e para
indicação, quando possível, do retorno do paciente a sua
vida ocupacional e social prévia (MALLOY-DINIZ et al., 2010,
p. 287-288).

Como você pode perceber, a avaliação neuropsicológica na área cirúrgica


é de suma importância para os profissionais que atuam nesta área, que podem
ter uma visão mais detalhada sobre as possíveis consequências da cirurgia
nas funções cognitivas, assim como para o paciente que pode acompanhar
o desempenho das suas potencialidades e dificuldades cognitivas ao longo do
processo, tomando decisões de forma consciente e orientada.
96
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

ATIVIDADE DE ESTUDOS:

1) Após a leitura do artigo intitulado Avaliação neuropsicológica


nas epilepsias: importância para o conhecimento do cérebro,
responda: Quais são as funções descritas pela autora como
fundamentais após o processo de avaliação neuropsicológica?

2) Na cirurgia de epilepsia, por que a avaliação neuropsicológica


pré-cirúrgica é fundamental?

4.5 ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO


DA NEUROPSICOLOGIA NA
NEUROLOGIA
Após uma lesão cerebral, algumas pessoas manifestam melhoras nas
condições físicas e cognitivas, por vezes, sendo aptas a prosseguirem sua
rotina de vida, sem que sejam indispensáveis alterações significativas em
seus projetos prévios. No entanto, há um grupo de pacientes que demostram
problemas contínuos ao longo do tempo, que se encaminham para problemas
crônicos, influenciando a vida do indivíduo e de sua família (BOLOGNANI;
FABRÍCIO, 2006).

Neste espaço de atuação, a neuropsicologia pode intervir tanto no processo


de avaliação neuropsicológica das funções cognitivas preservadas e alteradas,
como atuar na reabilitação das funções cognitivas, caso possível.

4.5.1 Intervenções em lesões


cerebrais adquiridas – Traumatismo
Cranioencefálico (TCE)
A atuação da neuropsicologia em traumatismo cranioencefálico é bastante
diferenciada, pois o profissional pode ser demandado a atuar no pronto
atendimento, na internação, no ambulatório, no consultório por encaminhamento
ou já em clínicas de reabilitação. Tanto a avaliação neuropsicológica quanto

97
Avaliação Neuropsicológica

a intervenção em TCE são de suma importância, porém é necessário um


entendimento por parte do neuropsicólogo do quadro clínico de cada paciente, no
intuito de planejar o processo de atuação, considerando as limitações impostas
pelo TCE.

O TCE define-se por uma agressão traumática que gera lesão


anatômica ou comprometimento funcional de couro cabeludo,
crânio, meninges ou encéfalo. Essa lesão pode ocorrer devido
a objeto penetrante e provocar uma fratura no crânio ou ser
decorrente de um impacto que provoca lesão intracraniana
(PEREIRA; HAMDAM, 2014, p. 223).

As modificações cognitivas e comportamentais resultantes de um


traumatismo cranioencefálico estão diretamente vinculadas à localização das
lesões e da sua proporção, sofrendo também influência das características
pré-mórbidas dos indivíduos e do meio em que estão estabelecidos (SILVER;
MCALLISTER; YUDOFSKY, 2011).

As intervenções neuropsicológicas nesta área visam entender a demanda


de cada paciente, através de uma avaliação neuropsicológica detalhada,
identificando as dificuldades adquiridas e as potencialidades preservadas para
planejar um programa de intervenção. As intervenções nesta patologia adquirida
podem ser de orientação, incialmente ao paciente, familiares e/ou cuidadores,
como de encaminhamento e intervenção em reabilitação cognitiva.

Segundo Gouveia (2009), a atribuição da neuropsicologia, na fase inicial de


um TCE, visa acompanhar a evolução cognitiva do quadro, que se configura por
estágios diferentes e momentâneos, os quais apresentaram alterações ao longo
dos primeiros meses.

Vamos realizar uma breve discussão no que se refere a uma das principais
áreas de atuação da neuropsicologia: a reabilitação, considerando que em TCE é
uma das principais intervenções neuropsicológicas.

O programa de reabilitação neuropsicológica para pacientes


vítimas de lesão cerebral inicia-se já na fase aguda e tem
como objetivos a educação e suporte à família do paciente.
A educação e suporte aos familiares visam orientá-los quanto
ao perfil cognitivo atual do paciente e formas de interação e
comunicação adequadas, além de auxiliá-los no enfrentamento
desta situação de crise (TAUB; PRADE, 2006, p. 84).

Wilson (2005 apud FUENTES et al., 2014, p. 228) aponta o futuro da


reabilitação neuropsicológica pautado nos seguintes princípios norteadores:

98
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

a) a necessidade de parceria entre pacientes, suas famílias e


os profissionais da área;
b) a criação de procedimentos baseados em objetivos
claramente estabelecidos;
c) a percepção de que as articulações entre déficits emocionais,
cognitivos e comportamentais devem ser observadas
durante as intervenções;
d) o papel importante da tecnologia no desenho das
intervenções;
e) o início da reabilitação imediata ainda durante a fase aguda;
f) a incorporação de modelos teóricos para fundamentar a
prática e possibilitar a interpretação dos resultados.

Segundo Gouveia (2004), o atendimento tem por objetivo a aplicação


de diversos procedimentos com cada paciente, dando atenção ao contexto
biopsicossocial de cada paciente, além do trabalho interdisciplinar para trabalhar
os déficits em suas diversas formas de manifestação.

QUADRO 7 – ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO


PARA PACIENTES COM TCES

Atendimento familiar: fornecer informações de como conseguir lidar com o


paciente após a lesão frente às alterações cognitivas e comportamentais
adquiridas.

Atendimento em grupo: proporciona um contato direto com os prejuízos, a


partir da interação com outros participantes.

Psicoterapia: um espaço individual de reflexão sobre as mudanças ocorridas e


o impacto na sua vida.

Plano de reabilitação: selecionar as técnicas após o processo de avaliação


neuropsicológica através de trabalhos cognitivos.

FONTE: Adaptado de Gouveia (2004)

Sugestão de leitura, no intuito de ampliar seus conhecimentos.


Capítulo 7 do Livro Reabilitação Neuropsicológica: da teoria à
prática.
ABRISQUETA-GOMEZ, J.; SANTOS, F. H. Reabilitação
Neuropsicológica: da teoria à prática. São Paulo: Artes Médicas, 2006.

99
Avaliação Neuropsicológica

Considerando o exposto até o momento, é possível verificar a complexidade


de atuação nesta área, pois o TCE envolve uma grande complexidade no que se
refere à dinâmica do quadro clínico. Para tanto, vamos ampliar o seu entendimento
no Capítulo 3, quando iremos detalhar as lesões provocadas por TCE e sua
interferência na cognição humana.

4.5.2 Atuação e Intervenção da


Neuropsicologia no Acidente Vascular
Cerebral (AVC)
“O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou, mais genericamente, a doença
vascular cerebral (DVC) é uma das causas de comprometimento cognitivo de
grande relevância epidemiológica, uma vez que se trata de condições frequentes
na população geral, especialmente entre os idosos” (TEIXEIRA; CARAMELLI,
2010, p. 282).

O AVC causa a interrupção do fluxo sanguíneo em áreas do cérebro,


ocasionado por hemorragia ou oclusão de uma artéria. Dependendo da área em
que ocorrer o AVC, pode causar déficits motores, de linguagem, visuoperceptivos,
de memória e déficits de funções executivas.

O AVC geralmente se relaciona com doenças vasculares


anteriores, como arteriosclerose, hipertensão arterial e
diabetes. A maioria dos casos é causada pelo bloqueio de uma
artéria cerebral. Existem três causas principais do insulto:
a) trombose cerebral (formação de uma obstrução em artéria
cerebral);
b) embolia, caso em que a obstrução ocorre em outra parte do
corpo e posteriormente se instala em uma artéria cerebral;
c) hemorragia, ou seja, a ruptura de vasos sanguíneos
(FUENTES et al., 2014, p. 219).

Denomina-se comprometimento cognitivo vascular (CCV) a síndrome clínica


em que há evidência de ocorrência de AVE ou lesão vascular cerebral subclínica
e prejuízo de pelo menos um domínio cognitivo. Dessa forma, o conceito de
CCV “engloba todas as formas de comprometimento cognitivo associadas à
DCV, desde a presença de déficits sutis em indivíduos globalmente preservados,
comprometimento cognitivo leve, até demência vascular (DV)” (RADANOVIC,
2014, p. 198).

Em estudo realizado nas bases de dados Web of Science, Pubmed e Bireme,


entre os anos de 2000 e 2011, Scheffer, Klein e Almeida (2013) constataram que as
funções cognitivas aplicadas com maior periodicidade em planos de reabilitação

100
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

foram memória, funções executivas, compreensão e linguagem escrita. Essas


funções cognitivas foram correlacionadas à melhoria na recuperação em
atividades da vida diária.

A intervenção neuropsicológica para pacientes com AVC perpassa por uma


avaliação inicial para identificar os possíveis déficits cognitivos e só depois planejar
um plano de reabilitação, caso possível. No entanto, pensamos ser necessário
apontar que são poucos os estudos nesta área, sendo mais comum discutir a
avaliação propriamente dita, sem aprofundar os processos de intervenção, ponto
este que dificulta um pouco a explanação desta temática.

Sugestão de leitura:

SCHEFFER, M.; KLEIN, L. A.; ALMEIDA, R. M. M. Reabilitação


neuropsicológica em pacientes com lesão vascular cerebral:
uma revisão sistemática da literatura. Avances en Psicología
Latinoamericana, v. 31, n. 1, p. 46-61, 2013.

4.6 INTERVENÇÕES DA
NEUROPSICOLOGIA NA ÁREA
DA INFÂNCIA
Segundo Malloy-Diniz et al. (2010), a neuropsicologia infantil divide a sua
área de atuação em duas, se espelhando na:

• Clínica neurológica infantil: a Neuropsicologia do Desenvolvimento – que


se dedica ao estudo do desenvolvimento cognitivo normal e patológico.
• Neuropsicologia Pediátrica: se dedica ao estudo das doenças pediátricas
com repercussão no sistema nervoso central.

No infante as lesões podem ser congênitas (pré, peri ou


neonatais), comprometendo a formação de uma dada função
cognitiva. Assim, a intervenção pediátrica destina-se muitas
vezes à habilitação de funções não desenvolvidas em
contraposição à recuperação de funções afetadas tardiamente
em adultos, daí o termo “reabilitação”. Os grupos de estimulação
precoce para bebês e de atividades psicopedagógicas para
pré-escolares são recomendados neste caso (SANTOS, 2006,
p. 19-20).

101
Avaliação Neuropsicológica

“A consultoria neuropsicológica complementa o acompanhamento pediátrico,


neurológico, psiquiátrico e ou psicológico da criança, tendo como finalidade definir
aspectos neurologicamente relacionados às dificuldades funcionais em crianças e
adolescentes” (ABRISQUETA-GOMEZ; SANTOS, 2006, p. 21).

FIGURA 4 – FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NA INFÂNCIA

Possibilita o acompanhamento
da evolução do quadro
Auxiliar no diagnóstico
patalógico em relação aos
diferencial tratamentos medicamentosos,
cirúrgicos e de reabilitação

Observar o nível de
Localizar alterações sutis
funcionamento operacional

Contribui para o melhor


Estabelecer presença ou não
planejamento preventivo
de disfunções cognitivas
e remediático

FONTE: Adaptado de YI et al. (1995 apud ABRISQUETA-GOMEZ; SANTOS, 2006, p. 40)

De modo particular, “os transtornos específicos do desenvolvimento são


responsáveis pelo referimento de inúmeros casos devido aos problemas de
adaptação acadêmica, ocupacional e social que eles causam tanto na infância
como na adolescência e na vida adulta” (FUENTES et al., 2008, p. 112).

Para iniciar qualquer programa de remediação ou intervenção


com uma criança com um problema neurológico específico,
causado por trauma ou lesão e que tenha como consequência
um distúrbio de aprendizagem, é necessário:
a) Saber a localização, extensão e comprometimento da lesão
ou trauma.
b) Conhecer o sistema de escrita do português.
c) Investigar, por meio da prática clínica, o nível de
conhecimento acadêmico da criança antes e depois da
lesão, principalmente relacionados à leitura, escrita e
raciocínio matemático.
d) Planejar programas individuais de remediação.
e) Identificar as potencialidades e necessidades de cada
criança (CIASCA, 2006, p. 41).

102
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Na reabilitação cognitiva pediátrica, a neuropsicologia pode atuar na


habilitação ou na reabilitação das funções com baixo desenvolvimento ou com
déficit nas crianças. Andrade, Santos e Bueno (2006) citam as estratégias
propostas por Teeter (1997) para algumas desordens neurológicas em crianças.

QUADRO 8 – ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO E


PRINCIPAIS DESORDENS NEUROLÓGICAS

Treinamento de atenção, peer tutoring (em casa e na


Hiperatividade e escola: atenção ao alvo, completar o trabalho, obe-
Déficit de Atenção diência e interações sociais) e gerenciamento de con-
tingências.

Técnicas para modificação de comportamento estereo-


Síndromes Autísticas tipado e melhora da comunicação, tratamento medica-
mentoso (fluoxetina e clomipramina).

Convulsivas Medicamentos anticonvulsivantes (por exemplo, fenobar-


Epilepsia bital) ou tratamento cirúrgico. Estratégias mnemônicas.
Parcerias entre escola e família são utilizadas em as-
sociação aos planos individuais de intervenção e es-
TCE
tratégias compensatórias para melhorar o desempenho
acadêmico e comportamental.
Radiação, quimioterapia e intervenções cirúrgicas.
Tumores Cerebrais Estratégias compensatórias para dificuldades acadêmi-
cas, em funções executivas e no ajuste psicossocial.

FONTE: Teeter (1997 apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2006, p. 275)

O objetivo da reabilitação cognitiva é reparar ou diminuir os impactos de


déficits cognitivos globais, de maneira que os pacientes obtenham recursos
adequados para atingir objetivos funcionais singulares (BEM-YISHA, 1981 apud
ABRISQUETA-GOMEZ; SANTOS, 2006).

Segundo Santos (2006), são quatro as principais abordagens de reabilitação


cognitiva:

• Abordagem psicrométrica: tem como foco minimizar os déficits vistos nos


testes peculiares. Exemplo: REHABIT.
• Abordagem de automatização: nesta abordagem, as tarefas são
“superaprendidas” através da repetição até que seu domínio seja
alcançado.

103
Avaliação Neuropsicológica

• Abordagem biológica: consiste na identificação dos componentes


específicos dos estímulos que contribuem para o prejuízo do paciente.
• Abordagem comportamental: o objetivo central é identificar e
sistematicamente modificar os antecedentes ambientais que estão
subjacentes ao problema.

Salientamos que cada criança apresenta uma determinada manifestação,


dependendo da idade, do quadro clínico e das funções cognitivas comprometidas,
sendo necessário planejar um programa de intervenção para cada paciente.

O estabelecimento do programa de reabilitação é feito para


cada caso, no qual ocorre a definição do profissional e/ou
profissionais (psicopedagoga, psicólogo, neuropsicóloga,
fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicomotricista,
terapeuta familiar) que melhor atenderão às necessidades
apontadas, assim como o programa personalizado. Este
programa personalizado envolve a seleção de técnicas e
materiais a serem utilizados e ocorre em dois momentos:
atendimento em grupo e atendimento individual (MIRANDA;
MELLO; MUSZKAT, 2006, p. 55).

É importante pontuar que a temática “reabilitação” será tratada de forma


mais detalhada em uma disciplina específica durante o curso.

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Quais os principais objetivos da avaliação neuropsicológica em


pacientes com traumatismo cranioencefálico:

2) O que é necessário, segundo autores citados neste capítulo, para


iniciar um programa de remediação ou intervenção com crianças
com problemas neurológicos específicos, causado por trauma ou
lesão, tendo como consequência um distúrbio de aprendizagem?

3) Durante nosso processo de estudo de intervenção


neuropsicológica com crianças, podemos perceber a importância
da avaliação neuropsicológica como instrumento para mediar os
programas de reabilitação. Desta forma, como poderíamos definir
as principais funções da avaliação neuropsicológica na área da
infância?

104
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

4.7 ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DA


NEUROPSICOLOGIA NA ÁREA DO
IDOSO
Nos idosos é muito comum verificar mudanças neuropsicológicas,
principalmente déficits cognitivos, mudanças na memória, no sono, alterações
nas atividades da vida diária, que podem se relacionar com sintomas demenciais
e depressivos. No entanto, a Organização Mundial de Saúde aponta em seu
Relatório de Envelhecimento e Saúde que a perda das habilidades geralmente
relacionadas ao envelhecimento na verdade está ocasionalmente relacionada
com a idade cronológica das pessoas. A heterogeneidade das competências e
necessidades de saúde dos adultos maiores não é imprevisível, mas resultante
de acontecimentos ao longo de todo o curso da vida e constantemente são
modificáveis, demonstrando a relevância do ciclo de vida para se compreender o
curso do envelhecimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2015).

O declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento é um assunto que vem


recebendo progressiva atenção no que se refere à epidemiologia descritiva e
analítica. Delimitar o que é envelhecimento cognitivo normal e patológico passou
a ser um desafio para os pesquisadores, já que dependendo da intensidade do
dano cognitivo podemos estar ante estados prévios de síndromes demenciais
(ABRISQUETA-GOMEZ, 2006).

Neste contexto, a neuropsicologia pode atuar na avaliação neuropsicológica,


no diagnóstico diferencial, no planejamento de um processo de reabilitação e na
orientação para familiares e cuidadores.

A avaliação neuropsicológica é o exame das funções


cognitivas do indivíduo, como orientação, memória, linguagem,
atenção, raciocínio, através de procedimentos e testes
padronizados. Ela pode ser utilizada na identificação de
declínio cognitivo no idoso, avaliação dos prejuízos de áreas
cerebrais em alterações neurológicas (como traumatismo
crânio-encefálico, epilepsia, acidente vascular cerebral),
diferenciação de síndrome psicológica e neurológica, como
a depressão e a demência (além de considerar exames,
como tomografia axial computadorizada (TAC), ressonância
magnética, eletroencefalograma e consultas neurológicas,
psicológicas e psiquiátricas). Tendo em vista o resultado
do exame neuropsicológico, é possível considerar uma
intervenção reabilitadora. A reabilitação cognitiva foca-se nas
funções cognitivas deficitárias e visa à melhora da condição do
paciente, tanto no âmbito neuropsicológico como da qualidade
de vida (SCHLINDWEIN-ZANINI, 2010, p. 225).

105
Avaliação Neuropsicológica

Segundo Fuentes et al. (2008), a doença de Alzheimer (DA) possui como


maior causa de risco a idade. Neste sentido, os autores pontuam que com
o crescimento da população idosa, aumentou conjuntamente o número de
ocorrências de doenças degenerativas. Também expõem que em média, 5 a
10% das pessoas com idade acima de 65 anos apresentam um tipo de declínio
cognitivo apresentado como fora do normal para esta parte da população, dentre
as quais 50% estarão suscetíveis a um determinado tipo de demência, das quais
a causa mais comum em todo o mundo é a DA.

Pacientes com doença de Alzheimer na sua maioria


apresentam juntamente com os déficits cognitivos transtornos
psicológicos, principalmente apatia, ansiedade, agitação e
depressão, provavelmente relacionados com a degeneração
dos sistemas de neuromoduladores monoaminérgicos que se
projetam do tronco cerebral para estruturas cortico-límbicas
(DAMASCENO, 2007, p. 63).

A doença de Alzheimer é uma desordem cerebral degenerativa, descrita por


uma perda gradativa da memória e de outras funções cognitivas, que prejudica
o paciente em suas atividades do dia a dia e no seu funcionamento sócio-
ocupacional (ABRISQUETA-GOMEZ, 2006).

“O diagnóstico da DA, quando em fase moderada é relativamente simples,


pois o declínio de memória, funções executivas, de linguagem, praxias e de
habilidades visuconstrutivas costuma ser evidente até para o observador menos
atento” (NITRINI, 2007, p. 54).

As intervenções neuropsicológicas têm uma função significativa ao enfrentar


o excesso de deficiência e ao proporcionar o bem-estar e qualidade de vida
do indivíduo com demência e de sua família. A reabilitação pode colaborar na
manutenção da autoestima da pessoa com demência, bem como melhorar a
percepção de sua personalidade pelos demais (ABRISQUETA-GOMEZ, 2006).

Abrisqueta-Gomez (2004) propõe um modelo de reabilitação neuropsicológica


dirigida a pacientes com doença de Alzheimer e outras doenças do cérebro,
degenerativas ou não, em fases iniciais e moderadas, conforme a figura a seguir:

106
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

FIGURA 5 – ETAPAS DO PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

Entrevista Inicial

Avaliação (linha de entrada)


Neurológica e Neuropsicológica

Desenho do programa de reabilitação

TRATAMENTO

Avaliação de saída Após


Programa de Reabilitação

FONTE: Abrisqueta-Gomez (2004, p. 410)

Para Fuentes et al. (2014, p. 360), o ponto fundamental da reabilitação


deve ser funcional: “as ações de reabilitação devem ser centradas nos ganhos
operacionais do cliente. Para tanto propõe que o cliente esteja no centro do
processo de reabilitação recebendo intervenções de vários profissionais”.

107
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 6 – O CLIENTE DA REABILITAÇÃO RECEBE INTERVENÇÕES


PROFISSIONAIS DE IGUAL VALOR

Terapeuta
ocupacional

Cliente da
Médico Psicólogo
Reabilitação

Fonoaudiólogo

FONTE: Fuentes et al. (2014, p. 360)

Como podemos perceber, a reabilitação neuropsicológica é de suma


importância na vida do cliente/paciente incluindo técnicas que visam ampliar os
ganhos cognitivos, possibilitando, na maioria das vezes, um benefício significativo
na capacidade funcional dos idosos.

Sugestão de leitura:

CAIXETA, L.; TEIXEIRA, A. L. (Org.). Neuropsicologia


Geriátrica: neuropsiquiatria cognitiva em idosos. [recurso eletrônico]:
Porto Alegre: Artmed, 2014.
MALLOY-DINIZ, L. F.; FUENTES, D.; CONSENZA, R. M. (Orgs.).
(Coord.). Neuropsicologia do envelhecimento: uma abordagem
multidimensional. Porto Alegre: Artmed, 2013.

108
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) No seu entendimento, qual é o ponto fundamental da reabilitação


neuropsicológica e seus objetivos, no que se refere à intervenção
com idosos?

2) Como pensar e estruturar um programa de reabilitação


neuropsicológica para pessoas com doença de Alzheimer?

4.8 INTERVENÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
E REABILITAÇÃO
Neste subtópico, iremos descrever brevemente uma das principais
intervenções em neuropsicologia: a reabilitação neuropsicológica, porém não
vamos aprofundar o tema, considerando que você terá uma disciplina exclusiva
durante sua formação.

A Reabilitação Neuropsicológica (RN) fundamenta-se num método dinâmico


que pretende qualificar o paciente para fortalecer o seu nível de funcionamento
social, físico e psíquico com a potencialização das funções cognitivas, contribuindo
no bem-estar emocional, no restabelecimento das atividades da vida diária e na
convivência social (SOARES; SOARES, 2014).

Para Abrisqueta-Gomez e Silva (2016), a reabilitação


neuropsicológica é uma técnica que visa restabelecer ou reorganizar a
funcionalidade de pessoas que tiveram determinado prejuízo cerebral.

O objetivo diário de programas de reabilitação executiva deve


ser o de aprimorar a autonomia do indivíduo nas situações
cotidianas, retirando-os de seus ciclos de ação, nos quais as
habilidades executivas não são utilizadas, e habilitando-os

109
Avaliação Neuropsicológica

a resolver problemas de acordo com suas capacidades. As


intervenções na síndrome disexecutiva podem ser divididas
em quatro tipos:

• Restaurar o funcionamento cognitivo;


• Trabalhar o déficit a partir de estratégias internas ou externas;
• Promover a modificação do ambiente, a partir do trabalho
com cuidadores;
• Realizar intervenções farmacológicas (MIOTTO, 2012 apud
MALLOY-DINIZ et al. 2016, p. 283).

Na reabilitação neuropsicológica, considera-se essencial abordar as diversas


situações do comprometimento físico, cognitivo, psicológico e comportamental do
paciente (SILVA, 2009).

No processo de reabilitação neuropsicológica, o profissional deve buscar


formação específica, considerando a peculiaridade deste processo, pois se
faz necessário ampliar o conhecimento no que se refere às estruturas do
sistema nervoso, metodologias de reabilitação, estratégias de intervenção em
neuropsicologia da reabilitação, os modelos de reabilitação.

O objetivo e a metodologia do Programa de Reabilitação


Neuropsicológico (PRN) diferem conforme o diagnóstico e
a gravidade da doença. Por exemplo, no caso de pacientes
com doenças degenerativas, os objetivos do tratamento são
estacionar ou reduzir o impacto da velocidade da progressão
da doença e melhorar o estado emocional do paciente, o que
é importante para a manutenção das capacidades cognitivas
e o desempenho das atividades da vida diária (ANDRADE;
SANTOS; BUENO, 2004, p. 411).

Um programa de RN organizado, amparado por fundamentos científicos


desenvolvidos e coordenado por uma equipe multidisciplinar habilitada pode
caracterizar o resgate do estado produtivo e, em determinadas situações, da
dignidade do indivíduo (NERY-BARBOSA; BARBOSA, 2016).

Do ponto de vista operacional, os programas de RN podem ser divididos em


etapas elaboradas para orientar o terapeuta no processo decisório, com o objetivo
de maximizar as oportunidades de sucesso. Wilson (2011 apud MALLOY-DINIZ et
al., 2016, p. 296) propõe uma abordagem composta por 10 passos, a saber:

1. Identificar os problemas do cotidiano


2. Formular e testar as hipóteses que explicam o problema
3. Definir metas
4. Mensurar as dificuldades
5. Identificar reforçadores
6. elaborar as estratégias de intervenção

110
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

7. iniciar a intervenção
8. monitorar o progresso
9. mudar de estratégias, se necessário
10. planejar a generalização

Sugestão de Leitura:

ABRISQUETA-GOMEZ, J.; SANTOS, F. H. dos (Eds.).


Reabilitação neuropsicológica: da teoria à prática. São Paulo:
Artes Médicas, 2006.

O termo reabilitação cognitiva (RC) é utilizado, a princípio, para especificar


intervenções orientadas para pessoas que apresentam déficits cognitivos depois
de um acometimento cerebral (ABRISQUETA-GOMEZ; SILVA, 2016).

[...] à luz dos conhecimentos atuais, podemos dizer que os


programas de RC podem ser dirigidos a:
1. Restaurar a função perdida;
2. Encorajar a reorganização anatômica;
3. Ajudar o paciente a usar suas habilidades residuais de forma
mais eficiente;
4. Ajudá-lo a encontrar meios alternativos para sua adaptação
funcional;
5. Modificar o ambiente para contornar os problemas, ou usar
uma combinação dessas abordagens;
6. Auxiliar no retorno ao contexto ocupacional ou laboral;
7. Dar suporte no ajuste psicossocial e emocional;
8. Favorecer a integração social e outras condições em
benefício de sua qualidade de vida (ABRISQUETA-GOMEZ;
SILVA, 2016, p. 250).

O programa holístico de reabilitação neuropsicológica dispõe algumas


particularidades específicas associadas a seus princípios, que constituem
elementos de seu respectivo planejamento. As tarefas nos planos de modelo
holístico visam à reinserção social e ao avanço na vida produtiva do indivíduo,
observando seus limites. Entre as principais tarefas, apresenta-se o treinamento
de habilidades cognitivas, a aquisição de estratégias compensatórias, a
sistematização e o planejamento da rotina, a execução de atividades do dia a
dia, entre outras. Nesse sentido, juntamente encontra-se tarefas psicoeducativas
e de orientação aos familiares, como também o processo psicoterapêutico dos
pacientes (ABRISQUETA-GOMEZ, 2012 apud MALLOY-DINIZ et al., 2016).

111
Avaliação Neuropsicológica

Para Abrisqueta-Gomez (2012), a abordagem holística é uma possibilidade


na direção mais humanizada de intervenção, sendo usada principalmente nos
serviços de saúde e educação de países desenvolvidos.

Na atualidade, a abordagem holística se destaca, apresentando um


planejamento integrado para intervir nos déficits cognitivos resultantes de
prejuízos cerebrais e nas questões emocionais e psicossociais complementares
ao quadro neurológico. Essa abordagem pressupõe a tentativa da percepção e
aceitação, por parte do paciente, das alterações que impactam nas atividades
de vida diária e a construção de recursos, por meio de feedback, para o êxito do
plano terapêutico (NERY-BARBOSA; BARBOSA, 2016).

A eficácia de cada programa de reabilitação neuropsicológica


deve ser avaliada não apenas considerando parâmetros
quantitativos de melhora cognitiva, mas todo o funcionamento
biopsicossocial do paciente, adotando como medida de
controle entrevista com os familiares e cuidadores, com o
próprio paciente, considerando os aspectos comportamentais
e as atividades da vida diária (SOARES; SOARES, 2014).

A técnica de psicoeducação pode ser empregada a partir do começo da


intervenção até o fim, desenvolvendo atividade educativa. A psicoeducação
disponibiliza explicações ao paciente e à família a respeito da patologia, dos
sintomas, seu andamento e sua maneira de tratamento, como também noções a
respeito do funcionamento cerebral e as funções cognitivas (GINDRI et al., 2012
apud MALLOY-DINIZ et al., 2016).

A psicoeducação é um tratamento que deve ser estruturado,


diretivo e focado no presente. Busca a resolução de
problemas, orientando o paciente por diferentes meios, tais
como esclarecimentos, folhetos, livros, atlas anatômicos,
filmes, etc. Possibilita que o paciente identifique pensamentos
e comportamentos disfuncionais ou distorcidos, geradores de
aflição e sofrimento (BASCO; RUSH, 2005 apud MALLOY-
DINIZ et al., 2016, p. 305).

Independentemente da técnica a ser utiliza em um programa de reabilitação


neuropsicológico é necessária uma rede de suporte ao paciente, seja esta
formada por familiares ou cuidador, pois muitas vezes, ou na maioria das vezes,
esse paciente necessita de alguém para auxiliar no processo, seja em clínicas
ou na própria casa. Segundo Abrisqueta-Gomez (2006), no início de um PRN é
indispensável que haja uma família ou alguém que se responsabilize em ajudar no
trabalho, independentemente da presença ou não de cuidador. Os familiares são
instruídos a estimular os pacientes que têm capacidade cognitiva para regressar
alguma atividade que praticaram com aptidão no anteriormente.

112
Capítulo 2 NEUROPSICOLOGIA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Com base no tema intervenção neuropsicológica e reabilitação,


descreva as particularidades inerentes a um programa de
reabilitação neuropsicológica holística.

2) Considerando os conhecimentos adquiridos até o momento,


podemos dizer que os programas de Reabilitação Cognitiva são
dirigidos a quê?

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, você teve acesso às peculiaridades no que diz respeito à
elaboração de documentos na área da neuropsicologia, sendo levado ao encontro
das normativas vigentes e proposições de escritores de referência na área da
neuropsicologia. Além da elaboração documental, você foi levado a percorrer o
caminho da devolutiva ao paciente, família, responsável e/ou solicitante, em que
foi evidenciada a importância da entrevista de devolutiva nos vários contextos de
atuação da neuropsicologia. Neste aspecto, você teve acesso à contextualizações
do espaço de atuação do neuropsicólogo e das diferentes demandas no momento
de elaboração de relatório, laudo ou parecer, considerando sempre o princípio do
respeito ao direito do paciente.

Vimos também a importância da neuropsicologia para o diagnóstico


diferencial e prognóstico, considerando sempre o demandado na avaliação
neuropsicológica, ou seja, quem solicitou o motivo da solicitação e o objetivo desta
avaliação, retomando a todo momento os estudos do Capítulo 1, assim como os
conceitos éticos advindos do código de ética da psicologia.

Não obstante, fomos ao encontro das possibilidades de intervenção da


neuropsicologia, sendo explanadas de forma um tanto superficial, pois você será
levado a aprimorar tais conhecimentos na disciplina de Reabilitação.

Neste capítulo, pudemos inserir você na prática da neuropsicologia, trazendo


conceitos fundamentais para o bom desempenho profissional. Também sugerimos
leituras complementares para que você possa aprimorar seus estudos.

113
Avaliação Neuropsicológica

No próximo capítulo, você será convidado a conhecer as funções


neuropsicológicas e suas alterações nas principais patologias neurológicas.

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119
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120
C APÍTULO 3
FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS
POSSÍVEIS ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM
LESÕES CEREBRAIS E NAS PRINCIPAIS
DOENÇAS NEUROLÓGICAS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

Saber:
• Relacionar o funcionamento neuropsicológico às estruturas neurológicas;

• Identificar as possíveis alterações neuropsicológicas decorrentes de lesões


cerebrais e das principais doenças neurológicas.

Fazer:
• Avaliar os níveis de funcionamento das funções neuropsicológicas;

• Identificar as consequências neuropsicológicas nas lesões cerebrais e nas


principais doenças neurológicas.
Avaliação Neuropsicológica

122
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Seja bem-vindo ao terceiro capítulo do livro didático. Neste capítulo, iremos
conduzi-lo ao encontro das funções neuropsicológicas ou funções cognitivas.
A avaliação neuropsicológica possibilita a análise e investigação das funções
neuropsicológicas ou cognitivas, preservadas ou alteradas, por exemplo:
percepção, atenção, linguagem, memória e funções executivas.

Neste capítulo você também será convidado a realizar a correlação entre


lesões cerebrais, principais doenças neurológicas e fazer sua correlação com
funções neuropsicológicas alteradas ou comprometidas.

A partir deste ponto, você, na condição de futuro profissional da


neuropsicologia, vai compreender a importância da neuropsicologia no processo
de prevenção, avaliação e reabilitação, pois seu olhar profissional passa a integrar
os conteúdos adquiridos até o momento, fazendo uma ponte entre teoria e prática,
sendo possível trazer os conteúdos do primeiro e segundo capítulos como um
fechamento prático do processo de avaliação. Neste ponto, você será capaz de
entender através de seu percurso de aprendizagem a importância da entrevista,
dos instrumentos de avaliação neuropsicológica, da produção documental para
que na condição de profissional você possa ter a melhor intervenção nos quadros
clínicos que serão apresentados neste capítulo.

Lembre-se de que este é um livro que procura conduzir você ao processo


de conhecimento, no entanto, se faz necessário seu aprofundamento através de
leituras adicionais, que iremos propor ao longo do capítulo.

2 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
E/OU FUNÇÕES COGNITIVAS
As funções neuropsicológicas ou funções cognitivas são partes integrantes
de um processo de avaliação neuropsicológica, é através da avaliação detalhada
de cada uma das principais funções que o profissional da neuropsicologia poderá
identificar as funções comprometidas ou preservadas, fazendo uma relação com
os possíveis quadros clínicos no qual podem estar diretamente vinculadas.

Neste capítulo, iremos nos deter ao estudo das funções cognitivas: memória,
atenção, linguagem, percepção e funções executivas. É a partir da relação entre
todas estas funções que entenderemos a maioria dos comportamentos, desde o
mais simples até as situações de maior complexidade e que exigem atividades
cerebrais mais elaboradas.
123
Avaliação Neuropsicológica

Falando em atividades cerebrais, vamos fazer um breve percurso pelo


cérebro humano, mesmo não sendo nosso intuito neste capítulo, se faz necessário
visualizar na prática da neuropsicologia a localização das funções cognitivas.
Você terá oportunidade de acessar este conteúdo de forma mais consistente
ao longo do curso, porém, pensamos ser importante você ter o entendimento
da localização dessas funções, para que ao mencionarmos algumas doenças
neurológicas ou traumáticas você possa se localizar nas estruturas cerebrais.

[...] toda atividade mental humana é um sistema funcional


complexo efetuado por meio de uma combinação de estruturas
cerebrais funcionando em concerto, cada uma das quais dá a
sua contribuição peculiar para o sistema funcional como um
todo. Isto significa, na prática, que o sistema funcional como
um todo pode ser perturbado por uma lesão de um número
muito grande de zonas, e também que ele pode ser perturbado
diferentemente em lesões situadas em diferentes locais
(LURIA, 1981, p. 23).

A seguir, apresentamos a você uma figura, em que através dos marcadores


são mostradas as áreas responsáveis pela percepção, atenção, planejamento,
memória, fala, entre outras funções cognitivas.

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS

FONTE: <www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Educacao/
Neurociencia_Cognitiva.ppt>. Acesso em: 15 ago. 2019.

124
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Na Figura 1, podemos perceber a complexidade do cérebro humano,


e que apesar de termos áreas específicas para as diferentes funções, elas se
correlacionam, sendo necessária a compreensão que em determinadas doenças
ou quadros clínicos uma única área acometida pode ocasionar alterações em
várias funções cognitivas.

Pensamos ser importante apresentar de forma clara como ocorre esse


processo de correlação entre as diferentes funções cognitivas, neste sentido, a
Figura 2 demonstra um fluxograma proposto por Espirito-Santo (2013), no que se
refere ao ordenamento cerebral de como as informações vão sendo analisadas
pelo cérebro humano, se utilizando das funções cognitivas.

FIGURA 2 – ORDEM PELA QUAL O CÉREBRO


ANALISA A INFORMAÇÃO RECEBIDA

Atenção e Concentração

Percepção Sensorial

Aprendizagem e memória
Aptidões
Linguagem visoespaciais e
visoconstrutivas
Formação de Conceitos

Funções executivas

Resposta Motora

FONTE: Espirito-Santo (2013, p. 12)

Através deste fluxograma, podemos compreender a inter-relação das funções


cognitivas num processo contínuo e diário dos seres humanos, desta forma, uma
lesão ou um comprometimento em uma das funções cognitivas, pode ter reflexos
em outras habilidades.

125
Avaliação Neuropsicológica

Para tornar o estudo das funções neuropsicológicas e/ou funções cognitivas


mais claro, se faz necessário trazer alguns conceitos e figuras de áreas
cerebrais, responsáveis pelas principais funções neuropsicológicas. Não é nossa
função findar o conteúdo neuroanatômico, mas sim clarificar alguns termos
que utilizaremos neste livro didático. Neste sentido, apresentaremos figuras e
descrições do córtex pré-frontal, do lobo frontal, lobos occipitais, lobos temporais
e lobos parietais.

2.1 ESTRUTURAS CEREBRAIS E AS


FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E/
OU COGNITIVAS
O sistema nervoso central é formado por regiões que auxiliam o
gerenciamento do comportamento e da cognição, instrumentos de estudo da
neuropsicologia, entretanto, é no cérebro que estão os principais grupamentos
neuronais e circuitos envolvidos nessa mediação, sobressaindo nessa perspectiva
o córtex cerebral (FUENTES et al., 2014).

Segundo Fonseca (1995), o cérebro humano é dividido em dois hemisférios.


O hemisfério esquerdo é encarregado pelas atividades de investigação,
sistematização, seriação, atenção auditiva, fluência verbal, sistematização dos
comportamentos, pela fala, praxias, raciocínio verbal, vocabulário, cálculo,
leitura e escrita. É considerado o hemisfério predominante da linguagem e das
funções psicolinguísticas. Já o hemisfério direito é incumbido pelas funções de
síntese, organização, processo emocional, atenção visual, memória visual de
objetos e figuras.

Na Figura 3 você consegue visualizar a divisão do cérebro em dois


hemisférios cerebrais e suas respectivas funções.

126
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

FIGURA 3 – HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

FONTE: <https://psicologiaparaofuturo.files.wordpress.com/2012
/08/01_thumb.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2019.

Segundo Franco (2006), os hemisférios cerebrais são assimétricos, isto


é, são diferentes em suas funções. O autor relata que o hemisfério esquerdo
está vinculado às funções da linguagem, do raciocínio matemático, da
organização do tempo e da sequência. Enquanto o hemisfério direito aparenta
estar preferencialmente relacionado à execução de habilidades artísticas como
música e pintura, percepção de relações espaciais, reconhecimento fisionômico e
visualização de imagens (FRANCO, 2006).

Convém assinalar que a assimetria funcional dos hemisférios


cerebrais se manifesta apenas nas áreas de associação,
uma vez que o funcionamento das áreas de projeção, tanto
motoras como sensitivas é igual dos dois lados. Em 96% dos
indivíduos destros, o hemisfério dominante é o esquerdo, mas
nos indivíduos canhotos ou ambidestros esse valor cai para
70% (MACHADO, 2000, p. 273).

O córtex cerebral está anatomicamente dividido em regiões, chamadas de


lobos: frontal, parietal, temporal, occipital e lobo da ínsula (FUENTES et al., 2014).

FIGURA 4 – LOBOS DA SUPERFÍCIE CORTICAL

FONTE: Fuentes et al. (2014, p. 29)


127
Avaliação Neuropsicológica

Vamos fazer uma breve contextualização para cada um dos lobos


apresentados na Figura 4, considerando a importância dessas estruturas para as
funções cognitivas. Lembre-se de que você sempre irá retomar estes conteúdos,
pois seja através da avaliação neuropsicológica ou do processo de reabilitação,
você terá como ponto de intervenção as funções cognitivas e suas implicações na
vida de cada paciente.

2.1.1 Lobos Frontais


Os lobos frontais possuem funções significativas na regulação de estados
de atividade que representam o pano de fundo para o comportamento, é um
dos principais modos pelos quais as áreas pré-frontais do cérebro participam da
sistematização do comportamento humano (LURIA, 1981).

O lobo frontal, localizado próximo à parte da frente da cabeça


(o rosto), é importante para o julgamento, à solução de
problemas, a personalidade e o movimento intencional. Ele
contém o córtex motor primário, especializado no planejamento,
no controle e na execução de movimentos, sobretudo os que
envolvem qualquer tipo de resposta retardada (STERNBERG,
2008, p. 61).

Na Figura 5 podemos localizar o lobo frontal na estrutura cerebral humana:

FIGURA 5 – LOBO FRONTAL

FONTE: <https://br.depositphotos.com/59529347/stock-photo-male-
frontal-lobe-brain-anatomy.html>. Acesso em: 15 ago. 2019.

Andrade, Santos e Bueno (2004) relatam que o lobo frontal tem finalidade
significativa nas funções de memória, tanto na memória operacional como na
memória de longo prazo declarativa e episódica.

128
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS
A região pré-frontal, de forma estratégica, coordena a
ligação entre as áreas de associação sensoriais e as áreas
límbicas e, portanto, entre as informações do mundo externo
e os processos emocionais e motivacionais, importantes
para a sobrevivência do organismo e para a regulação do
comportamento. O córtex pré-frontal, por meio de seus
circuitos e conexões, coordena as funções executivas, ou
seja, as capacidades de determinar objetivos, estabelecer uma
estratégia comportamental, escolher prioridades e inibir ações
desnecessárias, além de monitorar o comportamento para que
os objetivos sejam alcançados (FUENTES et al., 2014, p. 37).

Pacientes com alterações frontais apresentam alterações em testes que


envolvem a solução de problemas verbais, especialmente em tarefas que
necessitam a solução de problemas aritméticos com mudança permanente de
uma ação para outra, e testes que exijam a solução de tarefas escolares gerais,
detentores de uma organização complexa (LURIA, 1981).

Lesões dorsolaterais causam problemas com a memória


operacional, bem como deficiência na capacidade de
planejamento e execução de planos de ação. A síndrome lateral
traz dificuldades na sustentação da atenção, perda de iniciativa
e na capacidade de tomar decisões. Há perda da fluência
verbal, bem como apatia e depressão. A síndrome causada por
lesão orbitofrontal caracteriza-se por impulsividade, distração,
hiperatividade, desinibição e perseveração. Já a síndrome
medial (e do cíngulo anterior) gera perda da iniciativa e da
espontaneidade, apatia e hipocinesia (FUENTES et al., 2014,
p. 37-38).

Luria (1981) coloca que lesões intensas do lobo frontal tendem resultar na
apraxia de ações dirigidas a metas. Essa apraxia traduz-se na inabilidade do
indivíduo para submeter seus movimentos ao objetivo apresentado em fala, na
automatização de projetos organizados, e na alteração de uma atividade racional,
direcionada a metas.

2.1.2 Lobos Parietais


Na parte inferior do lobo parietal, observa-se a existência dos denominados
“neurônios espelho”, que são achados igualmente na região pré-motora. Esses
neurônios apresentam a particularidade de lançar impulsos no momento em que a
pessoa realiza uma atividade e também quando a mesma atividade é reconhecida
em outros indivíduos. Os neurônios espelho encontram-se possivelmente
envolvidos em um circuito parieto-pre-motor, significativo para assimilação dos
atos motores e do objetivo que os desencadeiam, constituindo a base para a
teoria da mente, isto é, a habilidade de reconhecer pensamentos e propósitos nas
outras pessoas (FUENTES et al., 2014).

129
Avaliação Neuropsicológica

“O lobo parietal está associado ao processamento somatossensorial. Recebe


dados dos neurônios com relação a pensamento, dor, sensação de temperatura
e posição dos membros” (CULHAM, 2003; GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2002
apud STERNBERG, 2008, p. 61).

FIGURA 6 – LOBOS PARIETAIS

FONTE: <https://cerebroemente.weebly.com/lobos-
parietais.html>. Acesso em: 15 ago. 2019.

Principais Funções Cognitivas Lobos Parietais

• recebem informações sobre as sensações corporais;


• no lobo parietal anterior – recepção de sensações;
• no lobo parietal posterior – analisa, interpreta e integra as informações
recebidas pela área anterior, permitindo a localização do corpo no espaço.

“Pacientes com lesão no córtex parietal posterior têm um quadro conhecido


como ataxia óptica, apresentam dificuldade para realizar movimentos precisos
que sejam visualmente guiados, embora sua visão e habilidade de mover os
braços estejam intactas na essência” (EYSENCK, 2017, p. 49).

2.1.3 Lobos Temporais


A área unimodal auditiva fica localizada no lobo temporal, compreende sub-
regiões que possibilitam a posição espacial das fontes sonoras e o reconhecimento
de sequências auditivas complexas e dos sons (FUENTES et al., 2008).

130
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

A região do córtex cerebral relacionada à audição está localizada


no lobo temporal abaixo do lobo parietal, que realiza a análise
auditiva. Esse tipo de análise é necessário, por exemplo,
para se entender a fala humana ou escutar uma sinfonia. As
áreas auditivas são também especializadas. Algumas partes
são mais sensíveis aos sons mais agudos; outras, aos mais
graves. A região auditiva é basicamente contralateral, embora
ambos os lados da área auditiva tenham pelo menos alguma
representação de cada ouvido (STERNBERG, 2008, p. 62).

Nas partes laterais da área temporal do cérebro está situado o córtex


auditivo, que se divide em regiões auditivas primárias (de projeção) e região
auditiva secundária (LURIA, 1981).

Andrade, Santos e Bueno (2004) apontam para os estudos neuropsicológicos


que têm comprovado a relevância de áreas do lobo temporal e do diencéfalo para
a memória de longo prazo declarativa.

Segundo Luria (1981), um ponto fundamental é que as regiões secundárias do


córtex temporal, em função da lei de lateralização, do córtex temporal do hemisfério
dominante (esquerdo), são particularmente feitas para a investigação e para a
síntese dos sons da fala, ou seja, tem a finalidade da audição da fala qualificada.

“O polo temporal (área 38 de Brodmann) localiza-se na porção mais anterior


do lobo temporal. Tem conexões com a amígdala, o córtex orbitofrontal e com o
hipotálamo. Recebe informações sensoriais olfatórias, gustativas e relacionadas
com a visão e a audição” (FUENTES et al., 2014, p. 39).

Abaixo você pode visualizar o posicionamento dos lobos temporais na


estrutura cerebral:

FIGURA 7 – LOBOS TEMPORAIS

FONTE: <https://amenteemaravilhosa.com.br/lobo-temporal-afetividade-memoria/>.
Acesso em: 15 ago. 2019.

131
Avaliação Neuropsicológica

A área de associação supra modal temporoparietal ocupa


as regiões B7, B39 e B40 e mantém conexões estratégicas
com as diversas regiões unimodais do córtex cerebral,
encarregando-se da integração de informações sensoriais
processadas pelo cérebro – o que é importante, por exemplo,
para a computação da linguagem, uma de suas funções. Do
ponto de vista funcional, essa região está relacionada com a
praxia, a linguagem, a integração e o planejamento visuomotor
e a atenção espacial. Quanto à atenção, ela contribui para
selecionar um entre os vários estímulos existentes e para a
mudança da atenção para um novo foco, atuando de forma
integrada com o córtex pré-frontal (LURIA, 1981, p. 34-35).

Neste momento, vamos descrever algumas das principais alterações


que podem ocorrer nos seres humanos após lesões cerebrais ou alterações,
ocasionadas por doenças neurológicas, nos lobos temporais através do
seguinte quadro:

QUADRO 1 – ALTERAÇÕES EM LESÕES NA REGIÃO TEMPORAL

Alterações em lesões na
Descrição
região temporal

Perda da capacidade de diferenciar


claramente entre os sons da fala. Tal
quadro se baseia em um distúrbio de
audição fonêmica, e seus resultados
secundários (ou sistêmicos) são dificuldade
na compreensão do significado de
palavras, um distúrbio do processo de
Afasia sensorial nomear objetos, defeitos de fala coerente,
distúrbios de escrita e dificuldades de um
tipo especial na realização de operações
intelectuais consecutivas, cuja severidade é
determinada pela extensão da dependência
dessas operações em relação a traços
estáveis e diferenciados na memória áudio
verbal.

132
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Os distúrbios que surgem em lesões das


zonas posteriores da região temporal
esquerda, ao nível de seu limite com a
região occipital, são de particular interesse.
O sintoma fundamental dessas lesões e um
distúrbio tanto da função nominativa da fala (a
nomeação de objetos), como da capacidade
de evocar imagens visuais em resposta a
uma dada palavra. Isto se manifesta não
Afasia óptica apenas por grande dificuldade para encontrar
o significado de uma dada palavra (que desta
vez se baseia não tanto em um distúrbio de
audição como em uma perturbação do elo
entre as zonas corticais dos analisadores
auditivos e visuais), como também por
grosseira incapacidade para desempenhar
uma figura de um objeto nomeado, embora o
paciente seja ainda perfeitamente capaz de
copiar o referido objeto.
A dificuldade que esses pacientes
experimentam ao escrever é devida não à
incapacidade de diferenciar claramente o
som ou fonema a ser escrito, mas, sim, à
incapacidade de reter a requerida posição
Apraxia construtiva
espacial das linhas que formam a letra, e,
como resultado, os seus desenhos (ou cópias)
de letras assumem um caráter desorganizado;
às vezes, em casos menos severos, a letra é
substituída por sua imagem especular.
Um aspecto característico de pacientes
com lesões do sistema parietal (ou parieto-
temporo-occipital) inferior esquerdo é que,
embora eles exibam uma boa compreensão
do significado de palavras individuais, não
conseguem apreender o significado da
construção como um todo, tais pacientes
tentam, com grande esforço, reunir os
Afasia semântica elementos individuais da construção, e
frequentemente declaram que construções
que incorporam palavras idênticas (por
exemplo, “bratottsa” — o irmão do pai — e
“otetsbrata” — o pai do irmão) tem o mesmo
significado, visto que eles não conseguem
apreciar o significado das relações
lógico-gramaticais expressas por essas
construções.

FONTE: Adaptado de Luria (1981)

133
Avaliação Neuropsicológica

Sugerimos que você procure leituras complementares, pois este tema é


bastante vasto e não daremos conta neste livro.

Manual de psicologia cognitiva de EYSENCK, M. W. [recurso


eletrônico]. Tradução: Luís Fernando Marques Dorvillé, Sandra Maria
Mallmann da Rosa; revisão técnica: Antônio Jaeger. 7. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2017.

2.1.4 Lobos Occipitais


As áreas occipitais do cérebro formam o centro cortical do sistema visual,
certamente, uma lesão nessas zonas ocasiona inicialmente uma perturbação no
processamento de informações visuais e isto repercute nos processos mentais
nos quais a observação e as sínteses visuais estão envolvidas diretamente
(LURIA, 1981).

“Há diversas áreas visuais no lobo occipital, cada uma delas especializada
em analisar aspectos específicos de uma cena, incluindo cor, movimento,
localização e forma” (GAZZANIGA et al., 2002 apud STERNBERG, 2008, p. 61).

Os lobos occipitais, junto às áreas temporais, por impulso visual a partir


de suas particularidades, possibilitando a pessoa o seu reconhecimento; outras
regiões dos lobos occipitais cujas projeções se direcionam para o lobo parietal,
implicam-se na atenção espacial, significativa para localização dos objetos pela
visão (FUENTES et al., 2008).

Neste sentido, você pode visualizar a localização dos lobos occipitais na


estrutura cerebral na Figura 8:

134
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

FIGURA 8 – LOBOS OCCIPITAIS

FONTE: <https://amenteemaravilhosa.com.br/lobo-occipital-estrutura-e-funcoes/>.
Acesso em: 15 ago. 2019.

Lesões das áreas occipitais direitas podem ocasionar sintoma de agnosia


para rostos ou prosopagnosia. Pessoas com este sintoma não conseguem
identificar nem mesmo rostos bem familiares, apresentam dificuldade para
reconhecer uma fotografia de alguém conhecido, mas reconhecem um amigo
exclusivamente por sua voz, e não por impressão visual direta (LURIA, 1981).

ATIVIDADE DE ESTUDO:

1) Descreva de forma resumida as principais atribuições dos lobos


cerebrais no que se refere aos processos cognitivos.

2.2 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS


E/OU COGNITIVAS
Luria (1981) relata que os processos psicológicos não são “funções” ou
“faculdades” únicas, mas sistemas funcionais complexos fundamentados na
atividade comandada por um conjunto de áreas cerebrais, na qual cada uma delas
dá a sua colaboração para a estruturação do processo psicológico complexo.

135
Avaliação Neuropsicológica

Lezak (1995) propôs quatro funções cognitivas principais que


compõem uma classe diferente de comportamento, embora
normalmente elas trabalhem juntas. As funções receptivas
envolvem habilidades de selecionar, adquirir, classificar e
integrar informações por meio da percepção e da memória;
isto é, impressões sensoriais são integradas em informações
psicologicamente significativas. Os processos de memória e
aprendizagem referem-se ao armazenamento e à evocação
da informação. O raciocínio concerne à organização
mental e à reorganização da informação. Por fim, as
funções expressivas, como a fala, o desenho ou a escrita, a
manipulação, os gestos, as expressões faciais ou movimentos,
fazem referência à forma como a informação é comunicada ou
atuada, podendo ser inferida por meio delas a atividade mental
(LEZAK, 1995 apud MALLOY-DINIZ et al., 2016, p. 45, grifo
do autor).

As funções cognitivas são os processos mentais que nos permitem receber,


selecionar, armazenar, transformar, desenvolver e recuperar informações dos
estímulos externos. Esse processo nos permite entender e relacionar o mundo
que nos rodeia mais eficazmente. Nesse sentido, conduziremos você ao estudo,
de forma individualizada de cada uma das principais funções neuropsicológica e/
ou cognitivas, sendo que no decorrer do curso você irá retomá-las.

2.2.1 Percepção
“A percepção é o conjunto de processos pelos quais reconhecemos,
organizamos e entendemos as sensações que recebemos dos estímulos
ambientais” (STERNBERG, 2008, p. 117).

O processo de percepção é, assim, evidentemente, de


natureza complexa, começa pela análise da estrutura
percebida, ao ser recebida pelo cérebro, em um grande
número de componentes ou pistas que são subsequentemente
codificados ou sintetizados e inseridos nos sistemas móveis
correspondentes. Este processo de seleção e síntese de
aspectos correspondentes é de natureza ativa e ocorre sob a
influência direta das tarefas com que o indivíduo se defronta.
Realiza-se com o auxílio de códigos já prontos (especialmente
os códigos de linguagem) que servem para colocar o aspecto
percebido no seu devido sistema e para conferir a ele um
caráter geral ou categórico; por fim, incorpora sempre um
processo de comparação do efeito com a hipótese original, ou,
em outras palavras, um processo de verificação da atividade
perceptiva (LURIA, 1981, p. 200).

Para Sternberg (2008), a percepção pode ser definida como um procedimento


complexo, através do qual reconhecemos, organizamos e entendemos os
estímulos em nosso meio. Segundo o mesmo autor, a percepção pode ser

136
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

analisada através de duas abordagens teóricas: de cima para baixo (a percepção


construtiva) e de baixo para cima (a percepção direta).

O ponto de vista da percepção construtiva (ou inteligente)


afirma que quem percebe constrói essencialmente o estímulo
percebido, usando conhecimento anterior, informação
contextuai e informação sensorial. Por sua vez, o ponto de
vista da percepção direta afirma que toda a informação de que
precisamos para perceber advém dos dados sensoriais (como
os da retina) que recebemos (STERNBERG, 2008, p. 154).

“A percepção de um objeto está constantemente relacionada a sua inserção


em um conjunto de associações familiares. O método de reconhecimento
pode ser prejudicado se as sínteses visuais forem afetadas e se o sujeito, não
conseguir sintetizá-las em uma única entidade percebida visualmente” (LURIA,
1981, p. 208).

A partir de uma perspectiva ecológica, é muito


importante compreender como nos movimentamos As habilidades
no ambiente. Por exemplo, que informações usamos perceptuais
quando andamos em direção a determinado
abrangem quatro
alvo? Se quisermos evitar uma morte prematura,
precisamos nos assegurar de que não seremos
elementos: objeto
atropelados pelos carros quando atravessamos distal, meio de
a rua, e quando dirigimos precisamos evitar informação,
bater nos carros que vêm na direção oposta. Se estimulação
quisermos jogar tênis bem, temos de desenvolver proximal e objeto
a habilidade de prever exatamente quando e onde perceptual. As
a bola irá atingir nossa raquete. A percepção constâncias
visual desempenha um papel crucial na facilitação perceptuais (por
da locomoção humana e na garantia de nossa
exemplo, constância
segurança (EYSENCK, 2017, p. 125).
de tamanho e forma)
resultam quando
As habilidades perceptuais abrangem quatro elementos: objeto nossas percepções
distal, meio de informação, estimulação proximal e objeto perceptual. dos objetos tendem
As constâncias perceptuais (por exemplo, constância de tamanho a permanecer
e forma) resultam quando nossas percepções dos objetos tendem a constantes. Ou seja,
vemos constâncias
permanecer constantes. Ou seja, vemos constâncias mesmo quando
mesmo quando
os estímulos registrados por nossos sentidos mudam (STERNBERG, os estímulos
2008, p. 153). registrados
por nossos
“Tradicionalmente podemos distinguir diferentes sistemas sentidos mudam
sensoriais como visão, audição, olfato, gustação, tato e sistema (STERNBERG,
2008, p. 153).
vestibular. Entretanto, podemos tentar incluir ainda a percepção de
espaço (dependente de aspectos visuais) e a de tempo (dependente
de aspectos visuais e auditivos)” (LIMA, 2011, p. 274).

137
Avaliação Neuropsicológica

A seguir apresentaremos, de forma breve, algumas alterações que podem


surgir no que se refere à função de percepção, no entanto, é necessário ampliar
seu conhecimento nesta área, pois não conseguiremos abordar todas as formas
de percepção e de alteração desta função neuropsicológica neste livro.

Sugerimos a leitura de:

STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Tradução de Roberto


Cataldo Costa. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

QUADRO 2 – DÉFICITS NA PERCEPÇÃO

Déficits Descrição
Resulta em uma deficiência grave na capacidade
de reconhecer rostos humanos. Pode nem
Prosopagnosia
conseguir reconhecer seu próprio rosto no
espelho.
Uma incapacidade de reconhecer objetos,
Agnosia aperceptiva está ligada a um problema no processamento
perceptual.
“O problema não está no processamento
perceptual, e sim nos processos cognitivos
Agnosia associativa associativos que operam sobre as representações
perceptuais” (STERNBERG, 2008, p. 151).

“Cada elemento de uma estrutura visual é percebido


com suficiente clareza, mas o paciente não
Agnosia óptica consegue sintetizar o elemento em um todo único,
de forma que é incapaz de reconhecer objetos ou
figuras dos mesmos” (LURIA, 1981, p. 202).

“Em alguns casos, o caráter de um distúrbio da


percepção visual das letras individuais (alexia
literal), e, em outros, o de incapacidade de
Alexia óptica combinar letras visualmente percebidas para
formar palavras completas e de um distúrbio da
percepção visual de palavras (alexia verbal)”
(LURIA, 1981, p. 206).

138
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

“Condição na qual existem problemas graves


na percepção da forma (o que o objeto é), mas
Agnosia da forma visual habilidade razoável para produzir ações guiadas
visualmente com precisão” (EYSENCK, 2017, p. 50).

FONTE: Adaptado de Eysenck (2017), Sternberg (2008) e Luria (1981)

É importante colocarmos para você que a percepção faz parte de vários


processos do nosso cotiado, por exemplo, sentir o cheiro, o gosto, as sensações
de dor, frio, calor, além das percepções visuais e auditivas aqui abordadas, desta
forma, não se preocupe, pois você terá uma disciplina que se aprofundará nas
funções cognitivas, tendo espaço para novas aprendizagens.

2.3 ATENÇÃO
A atenção pode ser vista como uma condição primordial para outras funções.
É uma função cognitiva que envolve meios responsáveis pela seleção, inibição,
alternância e sustentação de estímulos.

Segundo Coutinho, Mattos e Abreu (2010), a atenção tem função essencial


em nosso dia a dia, pois as nossas funções mentais acontecem em ambientes
cheios de estímulos, importantes ou não, que ocorrem de maneira contínua. Os
estímulos que nos envolvem (sejam olfatórios, visuais, auditivos etc.) precisam
ser selecionados ou não.

Em linguagem coloquial, o termo “atenção” denota percepção


direcionada e seletiva a uma fonte particular de informação,
incluindo um aspecto sem quantitativo (presente, por exemplo,
na expressão “preste mais atenção”) e com duração definida.
Esse uso coloquial do termo sugere ainda a ocorrência de
esforço. Trata-se, portanto de um processo multifacetado
(ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 77, grifo do autor).

A atenção é uma função neuropsicológica e/ou cognitiva que você, na


condição de estudante, está se utilizando neste momento, pois para se dedicar
aos estudos você teve que selecionar entre os estímulos externos presentes, e
dedicar um momento para leitura deste livro.

“As aptidões atencionais são de extrema relevância a todas as questões do


desempenho cognitivo, constituindo-se como essenciais para a aprendizagem e
solução de problemas em várias etapas do desenvolvimento” (MALLOY-DINIZ et
al., 2014, p. 134).

139
Avaliação Neuropsicológica

Muir (1996 apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 91) propôs a


“existência de três formas básicas de atenção à vigilância ou atenção sustentada,
a atenção dividida e a atenção seletiva”:

QUADRO 3 – TRÊS FORMAS BÁSICAS DE ATENÇÃO À VIGILÂNCIA

Atenção sustentada – Atenção dividida – Atenção seletiva –


geralmente demanda refere-se à refere-se à capacidade
que a atenção seja necessidade de atender de direcionar a atenção
direcionada para uma concomitantemente a para uma determinada
fonte de informação por duas ou mais fontes porção do ambiente,
prolongados períodos de estimulação, o que enquanto os demais
de tempo (ANDRADE; pode envolver tanto estímulos a sua
SANTOS; BUENO, 2004, aspectos espaciais como volta são ignorados
p. 91). Corresponde à aspectos temporais (ANDRADE; SANTOS;
capacidade de manter (ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 91).
o foco atentivo em uma BUENO, 2004, p. 91). Refere-se à capacidade
determinada atividade Situação nas quais duas de focalizar um
por um tempo mais tarefas são realizadas estímulo específico
prolongado com o mesmo ao mesmo tempo; em detrimento de
padrão de consistência [...] também conhecida como distratores (COUTINHO;
(COUTINHO; MATTOS; multitarefas (EYSENCK, MATTOS; ABREU,
ABREU, 2010, p. 88). 2017, p. 155). 2010, p. 88).

FONTE: Muir (1996 apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 91)

Como percebemos, a atenção tem uma grande relevância nos processos


mentais, sendo uma área de grande complexidade no que se refere ao estudo da
neuropsicologia, sendo necessário, no processo de avaliação neuropsicológico não
apenas um teste, mas alguns testes para avaliar os diferentes níveis atencionais.

Gil (2010) propõe que a atenção está no princípio da cognição e do


comportamento humano, alerta que a vigília é requisito fundamental para
podemos usar a atenção. Segundo o mesmo autor, a ação de vigília está no
pilar dos processos de atenção que possibilitam ao indivíduo desempenhar um
comportamento de orientação em vista de estímulos obtidos.

Se a vigília for inexistente, o sujeito pode estar num estado de


obnubilação ou comatoso; mas, a confusão mental comporta
uma falha mais discreta da vigília, que não permite que o
sujeito mantenha uma vigília de atenção e que é acompanhada
de um distúrbio do pensamento, de uma desorientação espaço
temporal, de uma falha global da memória e, é claro, de um
déficit de todas as funções especializadas: escrita, leitura,
identificação das percepções e, ás vezes, até de um delírio
onírico (GIL, 2010, p. 12).

140
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Dando sequência aos nossos estudos, convidamos você a conhecer e


estudar as funções executivas.

2.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS


Apesar de não haver consonância a respeito da conceituação das funções
executivas (FEs), essas comumente são mencionadas na literatura como um
grupo de habilidades e competências que nos possibilitam executar as atividades
indispensáveis para alcançar um objetivo. Elas compreendem uma série de
competências correlacionadas e de alto grau de processamento cognitivo, que
são essenciais para a adaptação do indivíduo às exigências do dia a dia (UEHARA
et al., 2016).

O conceito de “funções executivas” designa um conjunto de


habilidades cognitivas necessário para programar e monitorizar
a realização de atividades, desde as mais simples da vida
cotidiana como a de seguir a sequência correta para tomar
banho e vestir-se de novo até a elaboração de complexas
construções concretas ou teóricas, que estão subordinadas ao
funcionamento de áreas pré-frontais e da circuitaria frontoestrial
(MAGILA; CARAMELLI, 2000 apud MIOTTO; LUCIA; SCAFF,
2007, p. 56).

Segundo Spreen e Strauss (1998), as funções executivas se referem a uma


diversidade de recursos cognitivos de ordem superior, compreendendo iniciação,
planejamento, geração de hipóteses, flexibilidade cognitiva, tomada de decisão,
regulação, julgamento, utilização de feedback e autopercepção indispensáveis
para uma conduta adequada.

Pesando no que contextualizamos até o momento, podemos pensar as


funções executivas como habilidades essenciais à vida humana, que fazem
parte do seu cotidiano. Nesta direção, Malloy-Diniz et al. (2014) apontam que as
funções executivas são um conjunto de capacidades cognitivas que possibilitam
aos seres humanos orientar seu comportamento a metas, determinar fases para
alcançá-las, monitorar a execução destas fases com o propósito de solucionar
questões próximas e futuras.

Neste momento, vamos apresentar de forma visual as funções executivas,


através da Figura 9, com o objetivo de fazer você se atentar à dimensão e
complexidade dessas funções no processo cognitivo humano.

141
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS (FE)

Flexibilidade
Mental

Abstração e Fluência
categorização Verbal

Memória Resolução
operacional de problemas

Autocontrole Processamento
de informação

Regulação
Estratégias
comportamental

Automonitoramento Planejamento

Controle
Organização
inibitório

FONTE: Adaptado de Abreu et al. (2016, p. 278) e Majolino (2000


apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 125)

Após a análise da Figura 9, convidamos você a adentrar na conceituação de


algumas das funções executivas apontadas acima, porém, lembre-se de que você
terá que complementar seus estudos, pois a compreensão do funcionamento das
referidas funções é essencial para sua prática profissional.

A memória operacional é o tipo de memória que preserva informações ativas


até que elas sejam utilizadas para algum propósito. Encontra-se conservada
essencialmente pela atividade elétrica de neurônios do córtex pré-frontal e
demanda a manutenção da atenção (TOMAZ et al. 2016).

O termo memória operacional vem sendo utilizado para


descrever um sistema de memória de curta duração envolvido
no processamento e armazenamento de informações por
curtos períodos de tempo; esse sistema seria crucial para
o desempenho de uma diversidade de tarefas complexas
rotineiras como o raciocínio lógico, aritmética mental, retenção
de lista de dígitos, compreensão da linguagem, incluindo a
verificação semântica, e uso da memória de longa duração,
entre inúmeras outras (ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004,
p. 121).

142
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Segundo Abreu et al. (2016), a memória operacional pode ser descrita


também como memória de trabalho, possibilita a manutenção e a manipulação
de informação de forma provisória, durante o tempo em que são realizados os
trabalhos mentais.

Spreen e Strauss (1988) apontam a flexibilidade cognitiva como uma


capacidade de olhar para eventos objetivos a partir de muitos pontos de vistas,
particularmente quando se lida com um novo contexto. Para Abreu et al. (2016),
a flexibilidade cognitiva oportuniza alternância entre uma resposta e outra, isto é,
a troca entre duas ou mais necessidades ou exigências ou, inclusive, entre várias
tarefas.

A seguir apresentamos um quadro contendo a descrição técnica de algumas


funções executivas, para que você possa fazer uma análise no contexto diário de
uma pessoa.

QUADRO 4 – FUNÇÕES COGNITIVAS E SUAS FUNCIONALIDADES

Representa a habilidade, partindo de uma meta


definida, de organizar a melhor forma para atingi-
Planejamento la, levando em consideração etapas e recursos
fundamentais para a conquista de objetivos.

É a função executiva correspondente à capacidade


de o indivíduo organizar os elementos em categorias
Categorização que compartilham determinadas características e
propriedades estruturadoras.

É um processo que envolve a escolha de uma dentre


Tomada de decisões várias alternativas em situações que incluam algum
nível de incerteza.
É um processo executivo caracterizado pela
capacidade do indivíduo de emitir uma série de
Fluência comportamentos dentro de uma estrutura de regras.
Ela pode ser dividida em componentes verbais e não
verbais.

FONTE: Malloy-Diniz et al. (2010, p. 109)

Como podemos perceber nesse quadro, as funções executivas são


primordiais para os seres humanos, estão presentes nos processos diários,
na execução de tarefas, no planejamento de ações, no controle de ações e
comportamentos, ou seja, são fundamentais para a vida em sociedade.

143
Avaliação Neuropsicológica

2.5 CONSEQUÊNCIAS DE
ALTERAÇÕES NAS FUNÇÕES
EXECUTIVAS
As lesões cerebrais podem ser resultado de eventos internos
ou externos, como traumas, acidentes vasculares, tumores,
infecções ou processos demenciais. Os lobos frontais costumam
ser os mais suscetíveis a lesões, sendo seu envolvimento
frequente tanto em traumatismo cranioencefálico (TCE) como
em acidentes vasculares, principalmente os dos territórios das
artérias cerebrais média e anterior, o que representa perigo
direto às FEs (ABREU et al., 2016, p. 280).

As alterações das funções executivas vêm sendo largamente discutidas


na literatura, sendo que várias implicações se encontram correlacionadas ao
mau desempenho em: inibição de respostas prepotentes, tomada de decisões,
iniciação de tarefas, manutenção de atividades e metas e gestão da própria vida e
das finanças (MALLOY-DINIZ et al., 2016).

Uma das condições clínicas em que é evidente a falha nas funções de


categorização é o denominado pensamento concreto, a pessoa não consegue
associar estímulos em uma categoria mais abrangente, detendo-se exclusivamente
nos postos particulares do mesmo (MALLOY-DINIZ et al., 2010).

Os déficits nas funções executivas têm sido referidos com o


termo “síndrome disexecutiva” e geralmente ocorrem como
consequência de um comprometimento envolvendo o córtex
pré-frontal ou os circuitos a ele relacionados. Pacientes com
a síndrome disexecutiva costumam apresentar dificuldades
no processo de tomada de decisão traçando metas irrealistas
e sem prever as consequências de suas atitudes em longo
prazo, passam a tentar solucionar seus problemas pelo método
de tentativa e erro, apresentam dificuldades em controlar os
impulsos e tornam-se distraídos e insensíveis às consequências
de seus comportamentos. As alterações do humor são
frequentes e podem se traduzir por quadros de apatia, sintomas
depressivos, euforia e afeto descontextualizado (MALLOY-
DINIZ et al., 2014, p. 135).

Através desta explanação, você pode perceber o quão complexa pode ser
uma alteração nas funções executivas, sendo que estas participam de processos
que permeiam o dia a dia dos seres humanos. Na área da neuropsicologia, essas
funções devem ser priorizadas no processo de avaliação, incluindo testes que
possibilitem a verificação das diferentes habilidades que compõem as funções
executivas.

144
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

2.6 MEMÓRIA
Segundo Spreen e Strauss (1998), a memória é um processo complexo
que nos permite codificar, armazenar e recuperar informações. Se o sistema de
atenção não funciona corretamente, não seremos tão eficientes na realização
dessas ações. Se não prestamos atenção a alguma coisa, não podemos codificar,
armazenar ou recuperar essas informações.

A memória é uma das mais complexas funções neuropsicológicas,


possibilitando ao indivíduo remeter-se a experiências
impressivas, auxiliando na comparação com experiências atuais
e projetando-se nas prospecções e programas futuros, assim, a
memória para o processo pelo qual as experiências passadas
levam à alteração do comportamento (HELENE; XAVIER, 2003
apud MALLOY-DINIZ et al., 2016, p. 76).

A memória é fundamentalmente uma habilidade humana de registrar,


conservar e relembrar mentalmente conhecimentos, vivências, conceitos,
emoções e pensamentos. Nesse sentido, seguiremos nossos estudos através da
análise da taxionomia da memória e suas implicações em possíveis lesões ou
patologias. A seguir você pode visualizar o modelo de taxionomia da memória que
iremos nos deter neste livro.

FIGURA 10 – TAXIONOMIA DA MEMÓRIA

Memória

Memória de Memória de
Curto Prazo Longo Prazo

Memória
Memória Memória Memória
Operacional ou
Imediata Explícita Implícita
de Trabalho

Memória
Episódica

Memória
Semântica

FONTE: Adaptado de Andrade, Santos e Bueno (2004) e Fuentes et al. (2014)

145
Avaliação Neuropsicológica

Avançamos, neste momento, para um breve resumo dos processos de


memórias apresentados na Figura 10, partiremos da memória de curto prazo e na
sequência para a memória de longo prazo e suas respectivas ramificações.

2.6.1 Memória de Curto Prazo


A memória de curto prazo seria restrita a uma capacidade de informações
que precisaria ou do descarte ou de uma junção de novos fundamentos para sua
utilização (ABREU; MATTOS, 2010). Segundo o modelo adotado neste livro, a
memória de curto prazo é dividida em: memória imediata e memória operacional
ou de trabalho.

“O termo memória operacional implica num sistema para manutenção


temporária e manipulação de informações durante o desempenho de uma série de
tarefas cognitivas, como compreensão, aprendizagem e raciocínio” (BADDELEY,
1986, p. 33-34 apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 138).

A memória operacional possibilita o armazenamento de uma informação


durante o tempo em que se executa uma intervenção semelhante, ou mesmo,
uma nova função cognitiva concomitantemente (ABREU; MATTOS, 2010).

Segundo Eysenck (2017), a memória operacional ou de trabalho é utilizada


quando uma função necessita do armazenamento provisório de certa informação
ao passo que outra é elaborada. O autor cita como exemplo o ato de escrever –
quem escreve precisa se lembrar do que terminou de escrever ao mesmo tempo
que planeja o que irá escrever na sequência.

Alterações na área responsável pela memória de curto prazo podem


ocasionar: dificuldade de realizar várias coisas ao mesmo tempo; dificuldade de
concentração; dificuldade de seguir múltiplas instruções.

2.6.2 Memória de Longo Prazo


Dando prosseguimento ao modelo de memória proposto para seus estudos,
iremos nos deter à conceituação da memória de longo prazo que se divide em:
memória explícita e memória implícita; a memória explícita, por sua vez, se
subdivide em memória episódica e memória semântica.

A memória de longo prazo (MLP) é um sistema que retém a informação por


um tempo mais duradouro, diferenciando de minutos a décadas. É um sistema
de armazenamento complementar e tem amplitude irrestrita (NERY-BARBOSA;
BARBOSA, 2016). Neste contexto, vamos conhecer a memória explícita e suas
subdivisões.

146
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

A memória explícita traz recordações intencionais ou conscientes de


experiências anteriores (SPREEN; STRAUSS, 1998). Segundo Eysenck (2017),
a memória explícita ou declarativa compreende a recordação consciente da
informação, envolve saber que algo é assim; inclui a memória para fatos (memória
semântica) e eventos (memória episódica).

• Memória episódica: é considerada um sistema de armazenamento de


informações sobre eventos ou episódios pessoalmente vividos dentro de
um determinado tempo e contexto. Alterações na área responsável pela
memória episódica: esquecimento de fatos recentes, perda de objetos,
acidentes domésticos (ex.: esquecer o fogão ligado); desorientação
temporal e espacial; repetição de fatos.
• Memória semântica: sistema que armazena informações sobre fatos,
conhecimentos gerais, regras, menos susceptível à perda de informações.
Forma de memória de longo prazo que consiste em um conhecimento
geral sobre o mundo, conceitos, linguagem etc. (EYSENCK, 2017).
Alterações na área responsável pela memória semântica: empobrecimento
do conhecimento do mundo, nomeação inadequada, discurso pobre,
dificuldade de compreensão de conceitos. A memória não declarativa
ou implícita de adquirir habilidades perceptomotoras ou cognitivas por
meio da exposição repetida a atividades que seguem regras constantes,
mas que não requer resgate, é a habilidade consciente ou intencional da
experiência (SCHACTER, 1987).

Alterações na área responsável pela memória implícita podem ocasionar


dificuldade de aprendizagem por exposição repetitiva; dificuldade de aprendizagem
automática ou perda de habilidade motora (AVDs básicas); dificuldade em tocar
instrumentos musicais ou na prática de esportes e/ou hobbies; dificuldade na
deambulação, mastigação, deglutição etc. (EYSENCK, 2017).

Após falarmos dos tipos de memória, vamos prosseguir propondo a você


uma análise no que se refere ao caminho percorrido pelas informações até a
memória e a sua utilização nos processos diários dos seres humanos.

“A memória comporta processos complexos pelos quais o indivíduo codifica,


armazena e resgata informações. A codificação refere-se ao processamento da
informação que será armazenada” (ABREU; MATTOS, 2010, p. 76).

“A armazenagem, também chamada de retenção ou conservação, é o


processo que envolve o fortalecimento das representações enquanto estão sendo
registradas” (MALLOY-DINIZ et al., 2010, p. 76).

147
Avaliação Neuropsicológica

Abreu e Mattos (2010) conceituam a recuperação ou repescagem como o


procedimento de lembrança da informação previamente armazenada.

A seguir, na Figura 11, faremos uma breve interpretação visual do


processamento da memória, para que possamos pensar num processo contínuo
de ir e vir, ou seja, a todo o momento estamos codificando, armazenando e
recuperando as memórias, seja na forma de lembrança, na forma de movimento
ou tarefas.

FIGURA 11 – FASES DA MEMÓRIA

Aquisição - Armazenamento - Recuperação -


Codificação Consolidação Decodificação

FONTE: Adaptada de Malloy-Diniz et al. (2010)

2.6.3 Possíveis alterações na memória


Neste subtópico, vamos apresentar um quadro com algumas manifestações
ou alterações na memória:

QUADRO 5 – ALTERAÇÕES NA MEMÓRIA

Alterações Descrição

Condição causada por lesão cerebral na qual há


Amnésia
prejuízo grave da memória de longo prazo.
Habilidade reduzida de recordar informações
Amnésia anterógrada
adquiridas após o início da amnésia.
Habilidade prejudicada dos pacientes amnésicos
Amnésia retrógrada para recordar informações e eventos do período
anterior ao início da amnésia.

Síndrome de Korsakoff Amnésia causada por alcoolismo crônico.

FONTE: Adaptado de Eysenck (2017)

148
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Além das alterações de memória, expostas no quadro anterior, têm outras


mudanças nos processos de memória que devem ser discutidas com você, entre
elas, as possíveis transformações de memória que podemos encontrar durante o
envelhecimento. “A senilidade é acompanhada de um enfraquecimento geral dos
diversos tipos de memória. Isso se deve à perda neuronal que, como se sabe hoje
em dia, se manifesta através de uma perda de função só quando ultrapassa certo
limiar mínimo e necessário para o desempenho” (IZQUIERDO, 2014, p. 112).

Pessoas com amnésia por lesões nos lobos temporais mediais apresentam
desempenho bastante pobre em testes de memória explícita que abrange a
recordação consciente. Entretanto, essas pessoas constantemente possuem
desempenho tão bom quanto os sujeitos saudáveis em testes de memória implícita
(quando a recordação consciente não se faz obrigatória) (EYSENCK, 2017).

Izquierdo (2014) chama a atenção no que se refere às alterações de memória


que podem estar presentes em doenças afetivas, principalmente em quadros
de depressão, em que usualmente se acompanham de certo grau de amnésia.
Nessas patologias não ocorre mudanças morfológicas comprovadas, no entanto,
aparecem danos em vários sistemas moduladores centrais comprometidos no
processo de modulação das memórias.

IZQUIERDO, I. Memória [recurso eletrônico]. 2. ed. Revisão


Ampliada. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Durante o nosso percurso de aprendizagem foi possível aprender um pouco


mais sobre a função da memória no dia a dia dos seres humanos. Você teve a
oportunidade de aprofundar seus conhecimentos no que se refere aos diferentes
tipos de memória, além de conhecer algumas das principais alterações na
função neuropsicológica da memória. Também foi chamada a sua atenção para
as possíveis alterações de memória em quadros de patologias afetivas, assim
como para o processo de envelhecimento das pessoas, pontos estes a serem
considerados na sua atuação profissional, em especial no momento da avaliação
neuropsicológica.

149
Avaliação Neuropsicológica

2.7 LINGUAGEM
A linguagem se manifesta na fala e na escrita. A linguagem expressa sob a
forma de línguas, que podem ser concebidas como instituições sociais construídas
pelas comunidades humanas são formadas “por um sistema estruturado de signos
que exprimem ideias”, das quais “a fala é a manifestação” (GIL, 2010, p. 22).

Segundo Mansur (2010), a linguagem é determinada a partir de questões


biológicas e sociais que representam seu caráter fundamental de possibilitar a
adequação do indivíduo ao meio. Na neuropsicologia, a avaliação da linguagem
nunca deve ser realizada de maneira separada de elementos linguísticos,
cognitivos e sociais.

Os componentes de representação da linguagem envolvem o


processamento nos seguintes níveis: a) Semântico: refere-se
ao significado das palavras ou ideias veiculadas. b) Fonético:
compreende a natureza física da produção e da percepção
dos sons da fala humana. c) fonológico: corresponde aos
sons da fala (fonemas). d) Morfológico: diz respeito às
unidades de significado – palavras ou partes de uma palavra.
e) Lexical: envolve compreensão e produção de palavras.
Léxico é o conjunto de palavras em uma dada língua ou no
repertório linguístico de uma pessoa. f) Sintático: refere-se às
regras de estruturadas frases, às funções e às relações das
palavras em uma oração. g) Pragmático: compreende o modo
como a linguagem é usada e interpretada, considerando as
características do falante e do ouvinte, bem como os efeitos
de variáveis situacionais e contextuais. h) Prosódico: integra a
habilidade de reconhecer, compreender e produzir significado
afetivo ou semântico com base na entonação, na ênfase e em
padrões rítmicos da fala (FUENTES et al., 2014, p. 93).

Para Gil (2010), a linguagem está totalmente vinculada à maturação cerebral,


ao meio ambiente, social e familiar. O autor também chama a atenção quanto
à importância de uma audição adequada, uma vez que a criança desenvolve
suas atividades fonológicas e fonéticas a partir de percepções audioverbais
procedentes das pessoas a sua volta.

Percebemos o quão importante se faz a linguagem no processo de


socialização dos seres humanos, neste sentido, conduziremos você ao estudo
de algumas das possíveis alterações na função neuropsicológica da linguagem,
conforme o quadro a seguir.

150
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

QUADRO 6 – POSSÍVEIS ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM

DISTÚRBIOS DE LINGUAGEM DESCRIÇÃO

Chamamos de as anomalias da voz que


resultam de lesões dos órgãos fonadores,
como uma laringite ou um tumor da
laringe. Também existem disfonias por
Disfonias
distonia das cordas vocais, sendo que
a voz bitonal das paralisias recorrentes
também é classificada entre as disfonias
(GIL, 2010, p. 21).

Quadro causado por lesão cerebral no


qual se perde a capacidade de nomear os
Anomia objetos (EYSENCK, 2017, p. 471).
(Invenção de histórias para justificar a
dificuldade cognitiva, rodeio de palavras).

Situação em que, na produção da fala,


perde-se a estrutura gramatical e muitas
Agramatismo palavras de função e terminações de
palavras são omitidas (EYSENCK, 2017,
p. 473).
São distúrbios da fala ligados a lesões
das vias piramidais, do motoneurônio
periférico, tanto no nível dos núcleos
Disartrias quanto dos nervos cranianos bulbares,
e das vias cerebelares e extrapiramidais
que garantem a coordenação dos
movimentos (GIL, 2010, p. 21).
Disfunção grave na capacidade de escrita
que ocorre em indivíduos com lesão do
Agrafia disexecutiva lobo frontal quando a função executiva
está prejudicada (EYSENCK, 2017, p.
489).

Quadro causado por lesão cerebral


no qual há dificuldade para soletrar
palavras irregulares, soletração razoável
Disgrafia superficial
de palavras regulares e algum grau de
sucesso na soletração de não palavras
(EYSENCK, 2017, p. 493).

Quadro causado por lesão cerebral


no qual palavras familiares podem ser
Disgrafia fonológica
soletradas razoavelmente bem, mas não
palavras, não (EYSENCK, 2017, p. 492).

151
Avaliação Neuropsicológica

Condição que envolve erros semânticos


quando o indivíduo tenta repetir palavras
Disfasia profunda faladas e uma capacidade em geral
deficiente para repetir palavras faladas e
não palavras (EYSENCK, 2017, p. 399).

Designam desorganizações da
linguagem que se referem tanto ao seu
polo expressivo, quanto ao seu polo
receptivo, tanto aos aspectos falados
quanto aos aspectos escritos, e que
Afasias tem ligação com um dano das áreas
cerebrais especializadas nas funções
linguísticas (GIL, 2010, p. 21). Déficits
graves na compreensão e/ou produção
da linguagem causada por lesão cerebral
(EYSENCK, 2017, p. 470).

Lesão cerebral na qual a fala é


razoavelmente correta em termos
gramaticais, mas apresenta problemas
Afasia de jargão graves no acesso às palavras
apropriadas. Desenvolve um quadro
de Neologismos Criação de palavras
(EYSENCK, 2017, p. 476).

É uma condição que envolve problemas


na leitura de palavras não familiares e
uma incapacidade de ler não palavras. No
Dislexia profunda entanto, o sintoma mais surpreendente
são os erros de leitura semânticos (p. ex.,
navio lido como barco) (EYSENCK, 2017,
p. 365).

Os disléxicos de superfície têm problemas


na leitura de palavras de exceção
(palavras irregulares ou inconsistentes),
Dislexia de superfície mas têm um desempenho razoavelmente
bom com palavras regulares ou
consistentes e com não palavras
(EYSENCK, 2017, p. 369).

Envolve dificuldades graves na leitura de


palavras não familiares e pseudopalavras
(EYSENCK, 2017, p. 369). Condição na
Dislexia fonológica qual palavras familiares podem ser lidas,
mas há prejuízo na habilidade de ler
palavras não familiares e pseudopalavras
(EYSENCK, 2017, p. 364).

152
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Condição que envolve percepção da fala


gravemente prejudicada, mas a produção
da fala, da leitura e da escrita, bem
Surdez verbal pura
como a percepção de sons não verbais
permanecem intactas (EYSENCK, 2017,
p. 397).

Condição na qual há prejuízo seletivo da


Surdez para o significado capacidade de compreender a linguagem
das palavras falada (mas não a escrita) (EYSENCK,
2017, p. 399).

Condição na qual as palavras faladas


podem ser repetidas, mas a compreensão
Afasia transcortical sensorial da linguagem falada e escrita está
gravemente prejudicada (EYSENCK,
2017, p. 399).

Transtornos que envolvem dificuldades


na interação social e na comunicação e
padrões repetitivos de comportamento e
pensamento (EYSENCK, 2017, p. 403). A
maioria dos indivíduos com transtornos do
Transtornos do espectro autista
espectro autista apresenta dificuldades de
aprendizagem geral e, portanto, todos os
aspectos da linguagem se desenvolvem
mais lentamente do que para as outras
crianças (EYSENCK, 2017, p. 420).

Transtorno do espectro autista que


envolve problemas com a comunicação
social, apesar da inteligência pelo menos
média e sem retardos no desenvolvimento
Síndrome de Asperger
da linguagem (EYSENCK, 2017, p. 420).
Desenvolvem a linguagem normalmente,
mas ainda têm dificuldades com a
comunicação social.

Discurso pobre, termos vagos (coisa,


Logorreia troço), neologismo, erros gramaticais,
frases inacabadas.

FONTE: Adaptado de Eysenck (2017) e Gil (2010)

Além das alterações apontadas neste quadro, vamos detalhar a afasia de


Broca e afasia de Wernick. Na Figura 12 podemos visualizar a área de Broca e
área de Wernick, sendo que lesões nessas áreas ocasionam as referidas afasias.

153
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 12 – ÁREA DE BROCA E ÁREA DE WERNICK


corteza motora surco corteza
primaria central somatosensorial
área premotora primaria
área del sabor

área de
asociación
somatosensorial
aire
área visuelle
prefrontal associative

corteza
visual

Área de Broca
Área de
Wernicke
área de
asociación auditiva
Corteza auditiva
primaria
FONTE: <http://imensoamor01.blogspot.com/2015/10/area-de-broca-e-
area-de-wernicke.html>. Acesso em: 15 ago. 2019.

2.7.1 Afasia de Broca


A afasia de Broca, segundo Eysenck (2017), é um tipo de afasia que
compreende a fala não fluente e erros gramaticais. Lesões na área de Broca
podem provocar perda quase completa da capacidade de falar, redução da
expressão do vocabulário e da expressão das frases, agramatismo, produção
verbal lenta e com esforço, disartria, alteração da prosódia (melodia), compreensão
razoavelmente preservada, repetição e nomeação comprometidas, assim como o
comprometimento da leitura e da escrita.

As afasias de Broca caracterizam-se por fala espontânea


e repetição de sentenças não fluentes (extensão da frase
reduzida, melodia e agilidade articulatória alteradas, menor
número de palavras por minuto, produção de sentenças
agramáticas), com anomias associadas à relativa preservação
da compreensão da linguagem. Frequentemente, ocorrem
dificuldades na associação fonema-grafema na leitura e na
escrita de palavras não familiares e maior dificuldade em
nomear verbos do que substantivos, dificuldades essas que
não podem ser explicadas por um único déficit subjacente
(HILLIS, 2007 apud FUENTES et al., 2014, p. 96-97).

154
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

2.7.2 Afasia de Wernick


Para Eysenck (2017), a afasia de Wernick mantém a fala fluente com
inexistência de muitas palavras, com prejuízo no conteúdo e na compreensão.
Lesão na área de Wenick pode ocasionar perturbações na linguagem (surdez
verbal), dificuldade em compreender o que as outras pessoas dizem.

A afasia de Wernick caracteriza-se por linguagem expressiva


espontânea e repetição fluentes, mas desprovidas de
sentido (jargão), além de comprometimento da compreensão
de palavras, sentenças e conversação. Os prejuízos na
compreensão da linguagem parecem refletir inabilidade de
acessar, usar ou manipular informações semânticas, mais do
que uma perda nas representações semânticas das palavras
(KAHLAOUI; JOANETTE, 2008 apud FUENTES et al., 2014,
p. 97).

2.8 APRENDIZAGEM
A aprendizagem é um processo heterogêneo que engloba várias funções
cognitivas, além de estar diretamente relacionada às condições internas e
externas de cada pessoa. As pessoas vão aprender a partir das suas vivências
familiares, sociais e acadêmicas na qual estão inseridas.

Aprendizagem e memória envolvem uma série de estágios.


Os processos que ocorrem durante a apresentação do
material de aprendizagem são conhecidos como codificação
e incluem muitos dos processos envolvidos na percepção.
Esse é o primeiro estágio. Como resultado da codificação, as
informações são armazenadas dentro do sistema da memória.
Assim, o armazenamento é o segundo estágio. O terceiro
estágio é a recuperação, que envolve recuperar ou extrair as
informações armazenadas do sistema da memória (EYSENCK,
2017, p. 209).

Valle (2011) descreve aprendizagem segundo aspectos biológicos como


a transformação de comportamento devido a uma vivência anterior (seja esta
positiva ou negativa). Consequentemente, só acontece aprendizagem se ocorrer
modificação de comportamento.

155
Avaliação Neuropsicológica

FIGURA 13 – ALTERAÇÕES NA APRENDIZAGEM

Dificuldade ou
Transtorno de Deficiências,
Problema de
Aprendizagem TGD, Síndromes
Aprendizagem
6% 2%
40%

Características de
Termo genérico Termo genérico que natureza física,
que se refere ao descreve o rendimento intelectual, sensorial ou
comprometimento do acadêmico abaixo do genética, as quais, em
desempenho escolar e, esperado para a idade, interação com diversas
por, vezes a problemas nível intelectual e série, barreiras, podem obstruir
de comportamento, os relacionado a um sua participação plena e
quais estão ligados a conjunto de efetiva na sociedade e,
questões situacionais, características. também, influenciar no
processo de
familiares ou contextuais.
aprendizagem.

FONTE: <https://pt.slideshare.net/anaihaeser/cognio-44938336>.
Acesso em: 15 ago. 2019.

A dislexia de desenvolvimento é um dos exemplos de transtorno de


aprendizagem. Segundo Cardoso-Martins, Corrêa e Magalhães (2010), a dislexia
de desenvolvimento se caracteriza pela existência de dificuldade na aprendizagem
da leitura e da escrita de palavras. Existem indícios de que esses problemas
envolvem diferentes níveis, de déficit na aprendizagem da leitura por meio da
recodificação fonológica, quer dizer, a interpretação das letras ou conjunto de
letras em seus sons equivalentes.

Os transtornos específicos de aprendizagem (TEAs) estão relacionados


a um conjunto de situações em que se encontra uma incompatibilidade entre o
funcionamento escolar em uma ou mais competências acadêmicas e a capacidade
cognitiva geral do indivíduo, excluindo como fontes primárias outras causas de
risco, como deficiência neurossensorial, pobreza, ausência de estimulação,
experiências pedagógicas impróprias etc. (HAASE; SANTOS, 2003, p. 139).

STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Tradução de Roberto


Cataldo Costa. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

156
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

ATIVIDADES DE ESTUDO:

1) A partir dos estudos deste livro e através de leituras


complementares, descreva as principais diferenças entre os
processos atencionais e cite exemplos práticos desses processos
no nosso dia a dia.

3 POSSÍVEIS ALTERAÇÕES
CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS
E NAS PRINCIPAIS DOENÇAS
NEUROLÓGICAS
Neste momento, você será levado ao encontro das principais alterações
clínicas que acometem o cérebro e as estruturas do sistema nervoso, ocasionando
alterações nas funções cognitivas estudadas anteriormente. Neste ponto do livro,
você será convidado a retornar aos itens estudados previamente, fazendo a
todo o momento uma correlação entre as lesões cerebrais ou doenças e suas
consequências nas funções neuropsicológicas e/ou cognitivas, assim como nas
principais doenças neurológicas.

Lembre-se de que você deve prestar atenção nas alterações clínicas, nas
alterações das funções cognitivas e comportamentais presentes nos quadros
expostos ao longo deste subtópico, isto porque todos os sintomas podem
interferir no processo de avaliação neuropsicológica e confundir o profissional.
Caso você tenha dúvida, procure estudar o caso antes de realizar a avaliação
neuropsicológica em si. Um dos guias de apoio é o DSM-V, você deve ter este
livro como auxiliar ao seu processo, independentemente da área de atuação.

3.1 TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO (TCE)
O traumatismo cranioencefálico é definido como um acometimento traumático
com lesão anatômica ou comprometimento funcional de couro cabeludo, crânio,
meninges ou encéfalo. Essa lesão pode acontecer devido a um objeto penetrante

157
Avaliação Neuropsicológica

e causar uma fratura no crânio, assim como ser causado ou ser ocasionado por
um impacto que gera contusão intracraniana (PEREIRA; HAMDAN, 2014).

Os sintomas imediatos de um TCE incluem: perda de


consciência, respiração anormal, lesão ou fratura grave visível,
perda de consciência, respiração anormal, lesão ou fratura
grave visível, sangramento ou fluido claro do nariz, dos ouvidos
ou da boca, perturbação da fala ou visão, pupilas de tamanho
desigual, fraqueza ou paralisia, tontura, dor ou enrijecimento
do pescoço, convulsões, vômito mais de duas ou três vezes,
perda de controle da bexiga ou dos intestinos (STERNBERG,
2008, p. 67).

Os quadros de TCE são muito comuns de serem atendidos por profissionais


da neuropsicologia, em especial os que trabalham na área hospitalar, sendo de
fundamental importância o conhecimento dos impactos cognitivos nestes quadros
logo no início da instalação do quadro.

Na atualidade, pesquisas têm apresentado dificuldades relevantes na


aprendizagem de funções complexas em crianças após TCE com múltiplos níveis
de gravidade. As funções executivas e a memória, avaliadas imediatamente após
o acidente, representam ser causas que indicam o funcionamento acadêmico em
crianças com TCE moderado/grave um ano depois (PEREIRA; HAMDAN, 2014).

Neste sentido, se faz necessário que você conheça um pouco mais sobre a
classificação dos TCEs no que se refere à gravidade e às alterações cognitivas e
comportais relacionadas a cada nível de comprometimento neurológico.

QUADRO 7 – CLASSIFICAÇÃO TCE E POSSÍVEIS ALTERAÇÕES

Possíveis Alterações Possíveis Alterações


Classificação TCE
Cognitivas Comportamentais
Déficit de velocidade Fadiga, irritabilidade,
de processamento de oscilação de humor,
informações; depressão, ansiedade.
Atenção seletiva e
alternada;
Leve e Moderado Memória episódica de
evocação imediata e
tardia;
Memória imediata e
operacional.

158
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Déficit de velocidade Irritabilidade, desinibição,


de processamento de impulsividade, labilidade
informações; emocional, oscilação de
Atenção seletiva e humor, agressividade,
alternada; Memória fadiga e estresse pós-
episódica de evocação traumático.
imediata e tardia;
Memória imediata e
Grave operacional;
Déficits de funções
executivas;
Insaits e metacognição
(capacidade de perceber
suas limitações e suas
possibilidades); Alteração
na linguagem; Alterações
visuoespaciais.

FONTE: Pereira e Hamdan (2014); Morse e Montgomer (1992 apud ANDRADE;


SANTOS; BUENO, 2004, p. 299)

“O traumatismo cranioencefálico (TCE) é um processo patológico que resulta


de lesão encefálica aguda, devido à energia mecânica de forças físicas externas
sobre o crânio, e que pode gerar transformações profundas no sistema nervoso
central e na vida de relação” (TAVARES; VARGAS; AMARAL, 2014, p. 221).

O TCE pode ser ocasionado por uma contusão focal, no qual a lesão é situada
em uma região do encéfalo, ou difusa, na qual é generalizada. Pode ser primária,
apresentando-se no momento da perturbação, ou secundária, manifestando-se
pouco tempo depois. As lesões secundárias devem ser evitadas e reduzidas,
com intervenções adequadas. O TCE pode ser aberto ou fechado, se o encéfalo
foi exposto ou não (FLANAGAN et al., 2006). Tavares, Vargas e Amaral (2014)
relatam que no TCE aberto ocorre o contato do encéfalo com o meio externo, com
probabilidade de infecção microbiana.

Existem dois mecanismos principais que originam TCE, como


resultado da transferência de energia: a) Por impacto: quando
há uma colisão da cabeça com objeto fixo ou algum objeto em
movimento atinge a cabeça; b) Por fatores inerciais: quando
há uma mudança abrupta de movimento envolvendo forças de
aceleração e desaceleração (ANDRADE; SANTOS; BUENO,
2004, p. 298).

159
Avaliação Neuropsicológica

Andrade, Santos e Bueno (2004) descrevem que as lesões focais refletem


em déficits associados às áreas atingidas, no entanto, em lesões por golpe e
contragolpe, os transtornos mais relevantes costumam encontra-se relacionados
à área contralateral ao choque. Nas lesões por desaceleração, as regiões
temporais e frontais são as mais sujeitas à lesão, devido ao choque por partes
ósseas, neste contexto, podem acontecer problemas associados à memória
e à aprendizagem, às funções executivas (planejamento, automonitoração,
resolução de problemas) e de personalidade (alterações da capacidade de crítica
e julgamento, impulsividade).

3.2 ACIDENTES VASCULARES


CEREBRAIS (AVC)
O acidente vascular cerebral é frequentemente denominado de derrame,
relaciona-se a uma disfunção neurológica, passageira ou definitiva, focal e abrupto,
resultante de uma evolução patológica dos vasos sanguíneos encefálicos. O AVC
pode ser classificado como isquêmico (devido ao entupimento) ou hemorrágico
(devido ao rompimento) dos vasos (PEREIRA; HAMDAN, 2014). Os autores
relatam que os AVCs isquêmicos são as causas mais comuns de afasia, definida
como um déficit adquirido da linguagem, ocorrendo cerca de 75% dos pacientes.

Os AVCs acontecem quando o fluxo de sangue ao


cérebro sofre uma interrupção súbita. As pessoas que
experimentam AVCs geralmente apresentam perdas sérias
de funcionamento cognitivo. A natureza da perda depende da
área do cérebro afetada pelo AVC. Pode haver paralisia, dor,
dormência, perda da capacidade de fala, de compreensão de
linguagem, prejuízos aos processos de pensamento, perda
dos movimentos de partes do corpo ou outros sintomas
(STERNBERG, 2008, p. 66).

A sequela física A sequela física mais evidente em consequência do AVC é a


mais evidente em hemiplegia do lado oposto ao hemisfério lesionado. As manifestações
consequência do cognitivas e comportamentais do AVC diferem significativamente de
AVC é a hemiplegia acordo com a área afetada (PEREIRA; HAMDAN, 2014). É a paralisia
do lado oposto de metade sagital (esquerda ou direita) do corpo.
ao hemisfério
lesionado.
É a paralisia de Como você pode perceber, os AVCs podem ocasionar tanto
metade sagital comprometimento físico, cognitivo e emocional, desta forma,
(esquerda ou direita) iremos demostrar no quadro a seguir algumas alterações cognitivas
do corpo. encontradas em quadros de AVCs.

160
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

QUADRO 8 – POSSÍVEIS ALTERAÇÕES COGNITIVAS


EM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

• Déficits de linguagem: afasia, dislexia, disgrafia e discalculias.


• Déficits de visuoperceptivos: heminegligência visual, agnosia aperceptiva,
apraxia do ato de se vestir.
• Déficits de memória: imediata, operacional, episódica ou semântica.
• Déficits de funções executivas: flexibilidade mental, planejamento, fluência
verbal.

FONTE: Adaptado de Pereira e Hamdan (2014)

O quadro clínico do AVC pode ser bastante incapacitante para a vida do


indivíduo, mas isso vai estar diretamente vinculado à área do cérebro que for
acometida. O neuropsicólogo pode ter papel fundamental no processo de
avaliação e reabilitação neuropsicológica nesta patologia.

3.3 AS EPILEPSIAS
A epilepsia é um transtorno cerebral definido por uma tendência do cérebro,
a causar crises epilépticas e pelas implicações neurobiológicas, cognitivas,
psicossociais e sociais desta situação. Os autores relatam que as crises
epilépticas podem dispor de topografias bastante diferentes, visto que dependem
da área do cérebro implicada, podendo afetar regiões específicas, áreas mais
extensas e, inclusive, o cérebro completo (FUENTES et al., 2014).

A maior parte das síndromes epilépticas não possuiu um fator comum. Elas
podem ser divididas conforme sua causa: genética – consequência direta de uma
falha genética conhecida ou suposta, em que as crises são a base da doença;
estrutural/metabólica – epilepsias cujos motivos são determináveis e de causa
desconhecida (sem motivo) (BERG et al., 2010 apud FUENTES et al., 2014).

“A epilepsia, como distúrbio do sistema nervoso central, tem um impacto


significativo sobre a cognição dos indivíduos acometidos, independentemente
da idade, da síndrome epiléptica ou da localização e do tamanho da região de
descargas epileptiformes” (FUENTES et al. 2014, p. 283).

161
Avaliação Neuropsicológica

3.3.1 Epilepsia do Lobo Temporal (ELT)


A epilepsia do lobo temporal (ELT) é considerada por Teixeira e Caramelli
(2010) como a epilepsia com maior evidência em adultos. Os autores pontuam
que este tipo de epilepsia compromete a estrutura do hipocampo (responsável
pela fixação da memória declarativa), aparecendo, assim, déficits neste tipo de
memória.

Fuentes et al. (2014) relatam que há indícios de que pessoas com estes tipos
específicos de epilepsia podem exibir déficits cognitivos graves, e para alguns
indivíduos esses comprometimentos podem ser mais debilitantes do que as crises
epilépticas em si.

As Epilepsias de Lobo Temporal (ELT) podem se manifestar


como crises parciais simples, complexas, com ou sem
generalização, que podem vir acompanhadas de automatismo
oroalimentares, postura distônica de mãos, alucinações
olfatórias, gustativas e visuais complexas, além de confusão
pós-ictal. Podem ser separadas de acordo com as regiões mais
atingidas do lobo temporal, crises da região límbica (amígdala
e hipocampo) e crises temporais laterais [...] (CENDES;
KOBAYASHI, 2000; LIMA, 1998 apud MIOTTO; LUCIA; SCAFF,
2007, p. 180, grifo do autor).

A seguir vamos apresentar algumas alterações cognitivas encontradas em


indivíduos portadores de epilepsia do lobo temporal:

QUADRO 9 – POSSÍVEIS ALTERAÇÕES COGNITIVAS


EM EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL
Foco epilético à esquerda Déficits de memória verbal

Foco epilético à direita Déficits de memória visuoespacial


São descritas também: alterações atencionais, de funções executivas e de
nível de inteligência geral.
Maior risco para o insucesso acadêmico, no entanto, de modo geral,
apresentam coeficiente de inteligência dentro da média.
Comprometimento generalizado das habilidades verbais com prejuízo na
fluência verbal, nomeação e vocabulário.

FONTE: Adaptado de Andrade, Santos e Bueno (2004) e Malloy-Diniz et al. (2010)

162
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Percebemos que a epilepsia do lobo temporal pode comprometer de forma


significativa a vida do indivíduo, não somente pelas crises epiléticas, mas também
pelos comprometimentos cognitivos apresentados.

3.3.2 Epilepsia do Lobo Frontal (ELF)


Para Teixeira e Caramelli (2010), a epilepsia do lobo frontal seria o segundo
tipo mais comum de epilepsia focal, representando 20 a 30% dos casos. “As
Epilepsias do Lobo Frontal (ELF) são caracterizadas por uma combinação de
crises parciais simples, complexas e secundariamente generalizadas” (LIMA,
1998 apud MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2007, p. 180, grifo do autor).

São três as principais regiões de foco epileptogênico nos


lobos frontais – córtex motor, córtex motor suplementar e
córtex pré-frontal – e, dependendo da região acometida, são
esperadas diferentes sintomatologias. No entanto, é comum
que pacientes com ELF apresentem crises hipermotoras ou
bizarras, com atividade motora proeminente caracterizada por
alterações posturais ou movimentos excessivos dos membros
motores, vocalizações, predomínio noturno e com confusão
pós-ictal breve. Essas crises costumam ter duração de 10 a 30
segundos e uma frequência elevada (FUENTES et al., 2008,
p. 318).

Após uma breve descrição da epilepsia do lobo frontal, pensamos ser


importante para você conhecer as principais alterações cognitivas encontradas
nesta patologia, desta forma, apresentamos o Quadro 10.

QUADRO 10 – POSSÍVEIS ALTERAÇÕES COGNITIVAS


EM EPILEPSIA DO LOBO FRONTAL

• Tendem a exibir menos alteração de memória e maior nível de inteligência


geral.
• Pior desempenho em tarefas de habilidades motoras.
• Prejuízo em funções executivas, como velocidade de processamento,
organização, planejamento, inibição de respostas e de cognição social.

FONTE: Fuentes et al. (2008) e Malloy-Diniz et al. (2010)

Nesta breve explanação, você pode perceber o quão impactante a epilepsia


do lobo frontal pode ser para o indivíduo, considerando as alterações nas funções
executivas e a intensidade das crises epiléticas.

163
Avaliação Neuropsicológica

3.4 COMPROMETIMENTOS
COGNITIVOS LEVES (CCL)
“O termo comprometimento cognitivo leve (CCL) é usado para descrever
uma condição sindrômica de transição entre cognição normal e demência. É
uma fase sintomática, porém pré-demencial, de várias condições neurológicas”
(PETERSEN, 2004; PETERSEN et al., 2011 apud CAIXETA; TEIXEIRA, 2014,
p. 145).

“Atualmente o CCL é concebido como uma condição na qual o indivíduo pode


apresentar comprometimento de um ou mais domínios em relação ao esperado
para a idade, porém sem atender critérios para demência” (PETERSEN et al.,
1999 apud MALLOY-DINIZ et al., 2010).

Segundo Porto e Nitrini (2014), o comprometimento cognitivo leve é um


diagnóstico sindrômico de progressiva relevância na neurologia, sendo capaz de
assimilar os fatores possivelmente tratáveis, inclusive um estágio sintomático pré-
demencial da doença de Alzheimer.

A doença de Alzheimer (DA) com frequência é precedida


por disfunção cognitiva leve (DCL), um quadro que envolve
problemas menores de memória e raciocínio. Há interesse
prático e teórico em considerar que aspectos da produção da
fala estão prejudicados nos indivíduos com disfunção cognitiva
leve (EYSENCK, 2017, p. 453).

Na literatura encontramos autores que classificam o comprometimento


cognitivo leve em tipos, que segundo Mattos e Junior (2010), podem estar
relacionados ao número de funções acometidas e no comprometimento ou não da
memória, aqui utilizaremos a divisão proposta por estes autores:

• CCL amnéstico dominante único: comprometimento significativo apenas


na memória.
• CCL amnéstico múltiplos domínios: comprometimento significativo
na memória e de ao menos outra função cognitiva (por exemplo, a
linguagem).
• CCL não amnéstico domínio único: comprometimento significativo de
apenas uma função que não a memória.
• CCL não amnéstico múltiplos domínios: comprometimento significativo de
mais de uma função que não a memória (funções executivas e linguagem,
por exemplo).

164
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

No caso do comprometimento cognitivo leve, percebemos que são tratados


como uma transição entre alterações pontuais de funções cognitivas e quadros
de demência de Alzheimer, sendo necessária uma avaliação neuropsicológica
aprofundada para demarcar tais pontuações.

3.5 DEMÊNCIAS
Vamos nos deter neste momento ao estudo das demências e suas
implicações na vida das pessoas, objetivando o seu conhecimento no que se
refere às alterações cognitivas nos diferentes tipos de demência.

A demência é definida como uma síndrome de diminuição cognitiva-


comportamental que se evidencia pelo comprometimento de, pelo menos, duas
funções cognitivas, como memória, linguagem e habilidade visuoespacial, de alta
intensidade, que atrapalha a autonomia da pessoa na execução das atividades da
vida diária (SOUZA; TEIXEIRA, 2014).

3.5.1 Demência de Alzheimer (DA)


Para Avila e Bottino (2008), a doença de Alzheimer é uma desorganização
neurodegenerativa gradual que apresenta traços neuropatológicos. O início do
quadro se dá de forma gradual e com diminuição constante de vários déficits
cognitivos, neste caso, a memória e pelo menos mais uma função cognitiva.

As funções neuropsicológicas da doença de Alzheimer têm sido amplamente


pesquisadas. O comprometimento da memória, em especial da memória recente,
pois é o sintoma de apresentação mais habitual, frequentemente representada por
meio da repetição de informações ou perguntas em um breve intervalo de tempo,
associado por complicações na área da aprendizagem e de novos conhecimentos
(CAIXETA et al., 2014).

A forma típica da DA costuma acometer pacientes a partir dos 65


anos. Nesses casos, o sintoma inicial é a amnésia, caracterizada
por déficit progressivo de memória episódica anterógrada. Os
sintomas amnésicos iniciais estão estreitamente relacionados
ao acometimento de regiões temporais mediais, em especial
o hipocampo e o córtex entorrinal. A evolução dos sintomas
cognitivos e comportamentais da DA correlaciona-se com a
progressão das alterações neuropatológicas (emaranhados
neurofibrilares, perda sináptica e morte neuronal), que se
iniciam em áreas temporais mediais (córtex entorrinal e
formação hipocampal) e, posteriormente, atingem o neocortex,
localizado em áreas temporais, parietais e frontais (HYMAN,
2011 apud FUENTES et al. 2014, p. 322).

165
Avaliação Neuropsicológica

Segundo Ballard et al. (2011), na proporção que se verifica o avanço dessas


lesões no neocórtex, aparecem dificuldades em diferentes funções cognitivas,
como linguagem, habilidades visoespaciais e visuoperceptivas

Caixeta et al. (2014) relatam que a principal reclamação de pacientes e


cuidadores, falando de DA, é o declínio na memória. Essa deficiência é mais
comum no âmbito da memória episódica anterógrada (recente), ou melhor
dizendo, na habilidade de retenção de novas informações sobre experiências
individuais diárias, ou seja, nas memórias com indicações autobiográficas.

A seguir apresentamos para você um quadro com alterações cognitivas


esperadas na doença de Alzheimer, mas lembre-se de você deve buscar recursos
adicionais de leitura para complementar sua formação.

QUADRO 11 – ALTERAÇÕES EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER

• A presença de comprometimento de memória.


• Podem ocorrer déficits nos domínios da atenção seletiva e dividida, além
de significativo alenticiamento global do processamento cognitivo.
• A linguagem sofre alterações desde as fases iniciais da DA.
• Déficits executivos são frequentemente observados na DA, já em fases
iniciais.
• À medida que a DA evolui, alterações visuoperceptivas vão surgindo,
causando formas de agnosia visual.
• Pacientes com DA leve mostram desempenho inferior de sujeitos normais
em testes de informação de conceitos e raciocínio verbal.
• Mecanismos atencionais estão frequentemente comprometidos na DA,
às vezes de forma precoce; Pessoas com doença de Alzheimer têm a
produção de fala espontânea alterada.

FONTE: Adaptado de Nitrini (2007), Souza e Teixeira (2014); Eysenck (2017)

CAIXETA, L., TEIXEIRA, A. L. (Org.). Neuropsicologia


geriátrica: neuropsiquiatria cognitiva em idosos [recurso eletrônico].
Porto Alegre: Artmed, 2014.

166
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

“A percepção se faz comprometida na DA nos estágios moderados da


doença, podendo produzir desde fenômenos corriqueiros (não reconhecer objetos
de uso pessoal) até situações mais bizarras, como aquela descrita por Sacks
(1985), em que um paciente confundiu sua mulher com um chapéu” (CAIXETA et
al., 2014, p. 157).

Na sequência, vamos descrever para você os estágios da doença de


Alzheimer propostos por Souza e Teixeira (2014):

• No primeiro estágio, o principal aspecto clínico é a perda de memória


para acontecimentos recentes, com conservação da memória para fatos
remotos. O indivíduo esquece nomes, não se lembra de onde guardou
materiais pessoais e reproduz a mesma pergunta diversas vezes.
Diferentes competências cognitivas, como linguagem e praxias, estão
perfeitamente conservadas. Ausência de perturbação da funcionalidade
da pessoa, de maneira que a independência do sujeito está mantida.
• No estágio moderado, além do comprometimento da memória episódica,
outras funções cognitivas apresentam evidências de declínio, como
a linguagem em que se evidencia um discurso fluente e parafásico,
compreensão alterada, mas repetição moderadamente preservada,
as memórias recentes e remotas estão bastante comprometidas, as
habilidades visoespaciais são gradativamente comprometidas, assim
como as praxias gestuais. Nessa fase da doença, os indivíduos se
perdem dentro da sua casa e apresentam problemas para se vestir ou
para realizar os cuidados pessoais. O paciente precisa de ajuda para a
realização de atividades do cotidiano.
• No estágio grave, as funções cognitivas estão seriamente comprometidas.
A fluência verbal se reduz à ecolalia, palilalia ou mutismo. Acontece
incontinência esfincteriana, e a pessoa pode progredir para rigidez
generalizada, assumindo aparência de flexão dos quatro membros. Nessa
fase da doença surgem muitas complicações clínicas, como restrição
ao leito por dificuldades motoras, problemas de deglutição, pneumonia
aspirativa, entre outros.

Após a explanação das fases da doença de Alzheimer, vamos adentrar às


características neuropsicológicas desta doença. Apresentaremos para você,
aluno, um quadro em que você poderá visualizar os aspectos qualitativos
apontados nas testagens neuropsicológicas.

167
Avaliação Neuropsicológica

QUADRO 12 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


NEUROPSICOLÓGICAS DA DOENÇA DE ALZHEIMER

FONTE: Caixeta et al. (2014, p. 155)

Dentro do contexto da doença de Alzheimer, você, na condição de


neuropsicólogo, pode identificar de forma prematura o início da doença. Através
de uma avaliação neuropsicológica é possível identificar alterações cognitivas
indicativas desta patologia, proporcionando, muitas vezes, um encaminhamento
precoce à reabilitação, auxiliando o indivíduo e sua família e/ou cuidadores no
funcionamento e na autonomia do dia a dia.

3.5.2 Neuropsicologia da Demência


Frontotemporal (DFT)
Segundo Souza e Teixeira (2014), o quadro clínico da DFT é comandado,
desde o início, por manifestações neuropsiquiátricas relacionadas a modificações
de personalidade e a dificuldades de conduta social. Pacientes com demência
frontotemporal manifestam sintomas e condutas como impulsividade, desinibição,
indiferença afetiva, apatia e perda de regras sociais.

“Em pacientes com demência frontotemporal, o desempenho nos testes


neuropsicológicos é marcado por falta de aderência às regras das tarefas,
prejuízo na geração e sequenciamento da informação, desatenção, impulsividade,
pensamento concreto, perseveração e piora da estratégia” (BAHIA, 2007, p. 45).

168
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

“Do ponto de vista neuropsicológico, as disfunções executivas são os


achados mais frequentes, e os pacientes têm desempenho reduzido em testes
de flexibilidade cognitiva, de elaboração de conceitos, de categorização, de
planificação e de resolução de problemas” (SOUZA; TEIXEIRA, 2014, p. 325).

Vamos acompanhar o quadro a seguir, nele se evidenciam as principais


alterações encontradas em indivíduos com quadro clínico de demência
frontotemporal. Lembre-se de que, para fechar um diagnóstico, você deve
considerar a história clínica, os encaminhamentos e exames médicos, além dos
resultados obtidos na avaliação neuropsicológica.

QUADRO 13 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


DA DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL

Aspectos qualitativos Economia de esforço; falta de engajamento; respostas


impulsivas; padrão de erros com organização pobre;
da testagem concretismo; confabulações e superficialidade.
QI pode estar normal ou diminuído devido à falta de
Inteligência geral, QI esforço mental.
Principal grupo de alterações; falta de insight; prejuízo
no planejamento; julgamento; abstração; organização;
Função executiva resolução de problemas; perseveração; falha da inibição
de respostas inapropriadas.
Prejuízo da manutenção da atenção; distrabilidade;
Atenção apatia; automonitoração pobre; impulsividade.
Memória do dia a dia normal; amnésia episódica
Memória geralmente ausente; amnésia do tipo frontal (dificuldade
de evocação, mas com reconhecimento preservado).
Síndrome PEMA (palilalia, ecolalia, mutismo e amimia);
Linguagem diminuição da fluência verbal (categorial e fonética).
Percepção Com frequência, normal.

Praxia Geralmente está preservada.

Cálculo Preservado.

FONTE: Caixeta et al. (2014, p. 159)

Observe que na demência frontotemporal há um prejuízo na personalidade,


fato este que interfere diretamente na vida social do indivíduo, sendo por muitas
vezes o papel do profissional da neuropsicologia realizar intervenções com os
familiares no que se refere à psicoeducação e orientações para a condução do
processo de vida deste indivíduo.

169
Avaliação Neuropsicológica

3.5.3 Neuropsicologia da Demência


Semântica (DS)
Souza e Teixeira (2014) relatam que indivíduos com demência semântica
apresentam um desempenho ruim em testes de memória semântica. Os autores
colocam que isto fica evidente em testes que avaliam fluência verbal para
categorias, de nomeação de figuras e de definições de palavras e figuras. Os
familiares podem perceber substituição de palavras por frases vagas e problemas
para entender o sentido de palavras não muito comuns.

3.5.4 Neuropsicologia da Demência


Corpos de Lewy (DCL)
“A demência com corpos de Lewy (DCL) é uma demência degenerativa
marcada pela presença de, pelo menos, duas das seguintes características:
parkinsonismo, alucinações visuais recorrentes e flutuação cognitiva” (SOUZA;
TEIXEIRA, 2014, p. 327).

O diagnóstico de DCL baseia-se na presença de um quadro de


declínio cognitivo progressivo que é suficiente para interferir
com a capacidade de o paciente realizar suas atividades sociais
e/ou ocupacionais habituais. As manifestações principais
da doença seriam a presença de: flutuações cognitivas,
alucinações visuais bem formadas e parkinsonismo (TUMAS,
2014, p. 186).

Podem ocorrer também alucinações auditivas e delírios. Na DCL é comum


que os pacientes desenvolvam ideias da presença de estranhos em casa, de
visitas de parentes falecidos ou que acreditem que algum familiar foi trocado
por um impostor (síndrome de Capgras). Essas manifestações psicóticas,
especialmente as alucinações visuais, correlacionam-se com a presença de
patologia “tipo corpos de Lewy” nas regiões anteriores e inferiores dos lobos
temporais e com índices de degeneração colinérgica cortical (HUANG; HALLIDAY,
2013 apud CAIXETA et al., 2014).

170
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

3.5.5 Neuropsicologia da Demência


Vascular
A demência vascular é uma consequência de lesões corticais ou subcorticais.
Nas demências corticais igualmente referidas como demência por múltiplos
infartos há predomínio de declínio cognitivo com influência de quadros de afasia,
apraxia, agnosia relacionadas a modificações na memória (CARVALHO, 2007).

Segundo Caixeta et al. (2014), o indicativo para diagnóstico diferencial


entre demência vascular e demência de Alzheimer aparenta ser a acentuada e
prematura disfunção executiva encontrada na DV, relacionada a uma preservação
relativa na execução de tarefas de aprendizado e reconhecimento de estímulos.

Na sequência, você vai encontrar uma descrição bem detalhada no que


se refere aos processos indicativos de demência vascular, sendo possível
compreender e diferenciar de forma mais efetivas dos demais quadros demenciais.

Não apresenta declínio cognitivo global; estágio precoce,


sempre fluente, marcado com faltas de palavras e uma
incoerência no discurso; se beneficia com o uso de pistas;
predominância dos riscos subcorticais (lentidão psicomotora,
déficits de funções executivas, alteração do humor;
organização empobrecida, percepção preservada; diminuição
da fluência verbal como um déficit geral do processo tanto
da memória semântica como episódica); apresenta mais
erros do tipo semântico; déficits mais intensos em testes de
movimentos repetitivos e dependentes de velocidade motora
e de mecanismos corticais e subcorticais; a linguagem pode
permanecer inalterada, mesmo com média de seis anos de
enfermidade; no estágio precoce, o deterioro é moderado e
a produção verbal é espontânea; dificuldade em tarefas que
envolvam fluência verbal, atenção, desempenho motor que
envolvam a alternância de estratégias e planejamento (LIMA,
2011, p. 823-824).

Fica evidente, a partir deste estudo, que a demência vascular pode se


manifestar de formas diferentes, considerando as áreas lesionadas e/ou alteradas
após o comprometimento neurológico.

171
Avaliação Neuropsicológica

ENGELHARDT, E. et al. Vascular dementia Cognitive, functional


and behavioral assessment Recommendations of the Scientific
Department of Cognitive Neurology and Aging of the Brazilian
Academy of Neurology. Part II. Dement. neuropsychol. v. 5, n. 4,
p. 264-274, oct./dec. 2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/
S1980-57642011DN05040004. Acesso em: 15 ago. 2019.

3.6 ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM)


Neste subtópico iremos conduzir você de encontro ao conhecimento da
doença esclerose múltipla e suas complicações nas funções cognitivas. Esta é
uma doença neurológica complexa e bastante agressiva na vida do paciente,
sendo que, na maioria das vezes, aparece de forma abrupta, ocasionando
dificuldades na vida pessoal, social e profissional deste indivíduo.

“A EM é uma doença neurológica, desmielizante, que atinge o sistema


nervoso central de adultos jovens. Os pacientes apresentam em média entre 20
e 40 anos de idade, sendo o início da doença infrequente em crianças e idosos”
(MCKHANN, 1982 apud ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 319).

Segundo Coyle (2000), a evolução da doença pode ocorrer


clinicamente com as seguintes características: Surto-
Remissão: 80% a 85% dos casos são caracterizados por
ataques agudos, seguidos por remissões e uma linha de base
constante entre os ataques. Secundariamente Progressiva:
após 10 anos do início da doença, em média, 30% a 50%
dos pacientes com EM (Surto-Remissão) mostram uma
deterioração progressiva com ataques menos marcantes, mas
sem remissão dos sintomas. Primariamente Progressiva:
em 10% a 15% dos pacientes ocorre deterioração progressiva
desde o princípio da doença, sem os surtos; frequentemente,
apresentam mais placas medulares. Progressiva com surtos:
aproximadamente 6% dos pacientes da forma primariamente
progressiva apresentam claros surtos em paralelo com
a progressão inexorável da doença (COYLE, 2000 apud
ANDRADE; SANTOS; BUENO, 2004, p. 322, grifo do autor).

Oliveira e Souza (1998) citam alguns dos sinais e sintomas mais comumente
encontrados em pacientes com esclerose múltipla, tais como: alterações
piramidais que englobam fraqueza, espasticidade e sinais de liberação piramidal,
alterações cerebelares como comprometimento do equilíbrio e da coordenação,
alterações sensitivas, manifestações visuais e esfincterianas.

172
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Após conhecermos as manifestações físicas na esclerose múltipla, vamos


caminhar para estudar as implicações cognitivas nesta patologia. Andrade,
Santos e Bueno (2004) relatam que embora muitos resultados discrepantes
ainda sejam apontados, algumas dúvidas sobre as funções cognitivas destes
pacientes são menores atualmente. A inteligência geral, as funções de linguagem
e visuomotoras parecem mais bem preservadas do que outras funções, por
exemplo, aquelas que envolvem funções atencionais, executivas e mnemônicas.
É possível que o processamento de informações subjacentes a estas funções
esteja lento, prejudicando os resultados dependentes de rapidez mental,
dinamicidade e simultaneidade de ações.

Existem funções que podem se manter ou se deteriorarem


no decorrer do tempo na EM, porém não existem dados
consistentes de que a progressão cognitiva tenha uma
relação direta com o aumento da incapacidade física. O que
é de conhecimento, é que a piora cognitiva leva a um forte
impacto da qualidade de vida dos pacientes. Portanto, se
torna importante o acompanhamento evolutivo cognitivo
principalmente em pacientes que apresentam algum tipo de
prejuízo para receberem a orientação dentro de um trabalho
de reabilitação melhorando as funções prejudicadas ou
conseguirem desempenhar suas atividades com segurança,
apesar do prejuízo cognitivo (BALSIMELLI et al., 2011, p. 5).

Artigo Científico de:


BALSIMELLI, S. F. et al. Desempenho cognitivo nos pacientes
com esclerose múltipla: Followup de cinco anos. Revista Medicina
de Reabilitação, v. 30, p. 3-6, 2011. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1590/S0102-79722011000200019. Acesso em: 15 ago. 2019.

Continuando nossos estudos, vamos reforçar os conhecimentos adquiridos


até o momento e ampliá-los por meio do quadro a seguir, em que descreveremos
possíveis alterações cognitivas encontradas em várias fases da esclerose múltipla.
Esses dados vão facilitar sua atuação no processo de avaliação neuropsicológica,
auxiliando você na escolha dos melhores instrumentos a serem utilizados na
avaliação.

173
Avaliação Neuropsicológica

QUADRO 14 – POSSÍVEIS ALTERAÇÕ ESCOGNITIVAS


EM ESCLEROSE MÚLTIPLA

• Atenção e velocidade de processamento de informações são as dificuldades


mais presentes, podem interferir nas alterações de memórias destes
pacientes.
• Déficit leve de amplitude atencional.
• Déficit moderado de atenção alternada e seletiva (tem dificuldade em manter
o foco durante conversas em grupo, por exemplo).
• Alterações de memória operacional.
• Codificação e evocação (imediata e tardia) verbal e visuoespacial.
• Alteração do funcionamento intelectual não verbal.
• Dificuldade leve de nomeação e fala não fluente.
• Dificuldade em habilidades visuoespaciais.
• Funções executivas estão frequentemente alteradas (flexibilidade mental,
formação de conceitos e abstração, resolução de problemas, Dificuldade de
planejar as atividades de vida diária, fluência verbal reduzida, fala tangencial
e pensamento desorganizado).

FONTE: Adaptado de Andrade, Santos e Bueno (2004)

Como podemos observar neste subtópico, a esclerose múltipla manifesta


diferentes alterações nas funções cognitivas, porém não existe um consenso entre
os autores no que se refere às funções que devem estar alteradas nesta patologia,
mas sim alguns indicativos. O que fica evidente, no entanto, é a necessidade
de um constante acompanhamento e avaliação das funções cognitivas nesta
patologia.

3.7 DOENÇA DE PARKINSON


“A doença de Parkinson (DP) é uma entidade clínica, descrita inicialmente
por James Parkinson, em 1817, caracterizada principalmente pela presença de
tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural” (ANDRADE; SANTOS;
BUENO, 2004, p. 349).

Acredita-se que na fase inicial da DP a perda cognitiva poderia


estar associada ao envolvimento de várias estruturas e
sistemas subcorticais afetados pelo processo degenerativo e
que participam ativamente do processamento cognitivo. Isso
inclui a degeneração de sistemas ascendentes que inervam
partes do neocortex e do sistema límbico constituídos por
sistemas dopaminérgicos, colinérgicos, noradrenérgicos e
serotonérgicos (JELLINGER, 1997 apud CAIXETA; TEIXEIRA,
2014, p. 191-192).

174
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Andrade, Santos e Bueno (2004) apontam que na doença de Parkinson


as alterações com maior evidência são as disfunções da memória. Os autores
também expõem que são notadas irregularidades nos testes que mensuram
a habilidade visuomotora, cognitiva visuoespacial, atenção espacial visual e
orientação corporal.

Na sequência, você pode observar no quadro as alterações neuropsicológicas


com incidência na doença de Parkinson, lembre-se de que se faz necessário
seu aprofundamento nesta área de conhecimento, pois a compreensão destas
alterações vai auxiliar na sua intervenção profissional, seja no planejamento da
avaliação neuropsicológica seja no processo de reabilitação.

QUADRO 15 – ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS


NA DOENÇA DE PARKINSON

Alterações nas funções executivas,


incluindo memória operacional, iniciação e
Alteração na memória.
execução de movimentos dependentes de
processamento interno.

Inabilidade na programação da ação e na Alteração na percepção


tomada de decisão para reter informações. visuoespacial.

Alteração na linguagem e
Redução do controle inibitório.
velocidade de processamento.

Diminuição dos recursos de processamento e Podem desenvolver quadro de


controle da atenção. demência.
Tem dificuldade para antecipar os
movimentos.

FONTE: Adaptado de Pinto (2007, p. 196)

Apesar de termos pontuado de forma significativa as alterações cognitivas,


pensamos que seja importante você conhecer também as alterações
comportamentais e neuropsiquiátricas que podem estar presentes nos pacientes
com doença de Parkinson, considerando que tais manifestações podem ter uma
relação direta com as alterações cognitivas ou mesmo interferir ou alterar testes
que avaliam funções como memória, atenção e outras.

Barbosa (2007) é um dos autores que traz à tona este tema, ele
chama a atenção para as alterações neuropsiquiátricas que podem se
manifestar em pacientes com Parkinson, como mudanças cognitivas/
demência, alucinações/delírio/delirium, depressão, distúrbio do sono, mania/

175
Avaliação Neuropsicológica

hipomaníaco, hipersexualidade, ansiedade/crises de pânico, transtorno


obsessivo compulsivo. Segundo o autor, tais alterações estão relacionadas a
mudanças neurobiológicas específicas da doença, como também podem estar
associadas ao uso de medicamentos para o tratamento do quadro clínico de
Parkinson.

Após o exposto neste item, esperamos que você tenha compreendido a


inter-relação entre as alterações físicas, funções cognitivas e neuropsiquiátricas
na doença de Parkinson e a importância da neuropsicologia no processo de
diagnóstico e tratamento.

MIOTTO, E. C., LUCIA, M. C. S., SCAFF, M. Neuropsicologia


e as interfaces com as neurociências. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2007.

3.8 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE


ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)
Neste subtópico, vamos nos dedicar a apresentar para você uma explanação
sobre o déficit de atenção e hiperatividade, considerando sua frequência e sua
consequência na vida de crianças, adolescentes e adultos.

O transtorno do déficit de atenção-hiperatividade (TDA-H)


é o distúrbio neurocomportamental mais encontrado em
crianças e congrega em diferentes combinações déficit de
atenção, impulsividade e hiperatividade que, dependendo da
intensidade, levam a alterações do convívio familiar e social,
do rendimento escolar, do desenvolvimento emocional e da
autoestima (REED, 2007, p. 223).

Costa et al. (2014) chamam a atenção no que se refere aos aspectos


cognitivos prejudicados em pacientes com TDAH, e relatam que não ocorre apenas
a alteração da atenção, mas especialmente nas questões de autorregulação,
descritas por estes autores como um conjunto de competências que possibilitam a
adequação da conduta frente a um ambiente de mudança.

Parece não haver dúvidas de que o TDAH é causado por uma


multiplicidade de fatores com um largo conjunto de aspectos

176
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

neurobiológicos e ambientais operando de maneira altamente


complexa. As características clínicas são marcadas por
diferentes graus de severidade dos sintomas; com frequência
há a presença de comorbidades como ansiedade e depressão,
sendo o transtorno da conduta e o transtorno de oposição
desafiante às comorbidades mais comuns e graves do TDAH,
podendo, muitas vezes, ocorrer a presença de mais de uma
delas. Assim, a associação de TDAH com outras condições
clínicas encontra-se entre 30 e 50% dos casos, embora em
algumas situações esse número possa ser ainda maior
(STEINHAUSEN, 2009 apud SALLES et al., 2016, p. 265).

Partindo destas breves explicações, vamos dar sequência aos nossos


estudos com o Quadro 16, em que você pode se familiarizar com algumas das
manifestações clínicas mais evidentes em indivíduos com TDAH. É fundamental
você se atentar para as implicações físicas, considerando que nesta patologia,
em especial, podem interferir na execução de testes, sendo necessário considerar
esses pontos na aplicação e correção de testes, assim como na elaboração de
relatório.

QUADRO 16 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NO TDAH

Incapacidade para manter a atenção numa tarefa ou atividade pelo tempo


necessário para realizá-la.
Alta propensão à distração.
Impulsividade (autocontrole falho e incapacidade de medir as consequências
das próprias ações).
Hiperatividade.
Hiperatividade motora: se envolvem em situações perigosas, têm dificuldade
de se manter em círculo para ouvir as explicações, realizam atividades
repetitivas, sem propósito.
Hiperatividade verbal: a criança fala continuamente, passando de um assunto
para o outro, não sendo capaz de inibir a verbalização, cantarolando ou
emitindo sons repetitivos.
Na criança maior, a falta de equilíbrio e coordenação para atividades motoras
globais ou precisas torna-a desajeitada e desastrada nas atividades.
Impropriedade de ser inoportuno, dizendo e fazendo coisas erradas nos
lugares errados e não sabendo distinguir hierarquia, dificulta o convívio social
das crianças com TDAH, que desenvolvem poucos amigos e relações estáveis.

A ansiedade pode agravar este contexto clínico.

FONTE: Reed (2007, p. 224)

177
Avaliação Neuropsicológica

Como percebemos no quadro, a desatenção, a impulsividade e a


hiperatividade aparecem como sintomas constantes na vida de pessoas com
TDAH. Vamos procurar esclarecer a diferença destas manifestações através das
proposições de Costa et al. (2014, p. 165):

 A desatenção pode expressar-se na forma de esquecimentos,


distração, perda de objetos, desorganização, falta de
concentração e falta de atenção aos detalhes. Os autores
pontuam que estes sintomas não podem ser resultantes de
condutas opositoras ou ausência de entendimento.
 A impulsividade se evidencia através de complicações para
esperar sua vez, respostas precipitadas, intromissões e
interrupções frequentes em atividades alheias. Os sintomas
devem estar presentes em mais de um ambiente e devem
interferir no funcionamento acadêmico, ocupacional e social
do indivíduo.
 A hiperatividade, por sua vez, compreende: Problemas
externalizantes são aqueles comportamentos “externos” (os
quais podem ser observados de forma direta) que refletem
ações negativas no ambiente; são comportamentos
disruptivos, inapropriados, hiperativos e/ou agressivos.

Neste texto fica evidente a complexidade do quadro clínico de TDAH e


as implicações que esta patologia pode ocasionar na vida das pessoas. É
frequente ouvirmos falas dos professores, pais e/ou cuidadores no que se refere
à dificuldade na vida escolar destas pessoas. Reed (2007) relata que com os
tratamentos disponíveis, associando medicamento, tratamento psicológico e
pedagógico, aproximadamente 60% das crianças com TDAH transformam-se
em adultos funcionais, nos demais 40% há alta taxa de mudança de emprego e
de relações afetivas instáveis, bem como índice maior de violações de trânsito,
delinquência juvenil, criminalidade, alcoolismo e toxicomanias.

APA: American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico


e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico].
Tradução de Maria Inês Correa Nascimento... et al.]; revisão técnica:
Aristides Volpato Cordioli... [et al.]. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.'

178
Capítulo 3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS E AS POSSÍVEIS
ALTERAÇÕES CLÍNICAS EM LESÕES CEREBRAIS E
NAS PRINCIPAIS DOENÇAS NEUROLÓGICAS

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como podemos observar neste capítulo, as funções neuropsicológicas ou
funções cognitivas são consideradas o centro da avaliação neuropsicológica,
uma vez que é a partir da avaliação destas funções que o profissional da
neuropsicologia descreverá seu relatório e/ou laudo e traçar um plano de
intervenção ou os encaminhamentos necessários.

Você foi levado ao encontro dos conceitos das funções neuropsicológicas e/


ou funções cognitivas, fazendo uma breve inter-relação com as áreas cerebrais
responsáveis pelos processos básicos dessas funções. Através deste capítulo,
você, na condição de aluno, futuro neuropsicólogo, pôde perceber que as funções
cognitivas se inter-relacionam, assim como as áreas cerebrais, ou seja, uma lesão
ou doença que altere as estruturas cerebrais pode comprometer não apenas uma
função cognitiva, mas várias.

Também foram explanadas algumas das principais alterações clínicas em


lesões cerebrais e nas principais doenças neurológicas, fazendo um paralelo
com as possíveis alterações das funções cognitivas, assim como os quadros
decorrentes destas alterações.

No final deste capítulo, esperamos ter contribuído para sua formação, e


sugerimos a busca constante por leitura e cursos complementares, considerando
a complexidade e a importância da neuropsicologia nos diferentes contextos de
atuação.

REFERÊNCIAS
ABREU, N.; MATTOS, P. Memória. In: MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação
Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed, 2010.

ABREU, N. et al. Reabilitação das funções executivas. In: MALLOY-DINIZ et al.


Neuropsicologia: aplicações clínicas [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed,
2016.

ANDRADE, V. M.; SANTOS, F. H., BUENO, O. F. A. (Org.). Neuropsicologia


Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.

AVILA, R.; BOTTINO, C. M. C. Avaliação neuropsicológica das demências. In:


FUENTES, D. et al. (Orgs.). Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre:
Artmed, 2008.

179
Avaliação Neuropsicológica

BADDELEY, A. (1986). Working memory. Oxford: Claredon Press. In: ANDRADE,


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