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Dezembro de 2008
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SUMÁRIO
Apresentação 4
Capítulo I
Introdução 6
1.1 Transtorno obsessivo compulsivo 6
1.2 Substratos Neurobiológicos no TOC 9
2. Funções neuropsicológicas de pacientes com TOC 14
2.1 Funções Executivas 14
3. Componentes das funções executivas 19
3.1 Memória de Trabalho 19
3.2 Atenção seletiva e controle inibitório 21
3.3 Planejamento e seleção de uma determinada ação 23
3.4 Flexibilidade Cognitiva 24
4. Avaliação neuropsicológica das funções executivas 26
5. As técnicas de avaliação executiva 28
5.1 WASI (Escala de Inteligência Wechsler abreviada) 28
5.2 Wechsler Memory Test 29
5.3 Figuras Complexas de Rey-Osterrieth 29
5.4 Digit Span (WAIS III) 30
5.5 Brief Visuomotor Test (BVMT) 30
5.6 California Verbal Learning Test (CVLT) 30
5.7 Trail Making Test (A & B) 31
5.8 Stroop Test 31
5.9 Seqüência de Números e Letras (WAIS III) 32
5.10 FAS 32
5.11 WISCONSIN (WCST) 33
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APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
certos padrões de comportamento com o objetivo de atenuar sua ansiedade; por outro lado, a
pessoa sente-se gradativamente mais frustrada e estressada em virtude do tempo despendido para
completar sua compulsão e da interferência desses comportamentos em sua vida pessoal
(Rapoport & cols., 2000 apud Reppold, 2005). A respeito das compulsões mais freqüentemente
observadas nos pacientes com TOC, encontram-se as compulsões por verificação e limpeza,
repetição, simetria/ordenação e tocar em objetos ou pessoas (Geller & cols., 1998 apud Reppold,
2005).
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) define que os sintomas obsessivo-
compulsivos devem ter determinadas características, a saber: serem reconhecidos como sendo
pensamentos e impulsos próprios do paciente em questão; que exista pelo menos um pensamento
ou comportamento ao qual a pessoa não consiga resistir; o pensamento ou ato não deve ser, por si
próprio, prazeroso; os pensamentos, imagens ou impulsos devem ser repetitivos. Além disso,
aponta que os rituais seriam tentativas de afastar os pensamentos ruminativos e, dessa forma,
reduzir a ansiedade e o desconforto.
Apesar de inicialmente ser classificado como um transtorno passível de ser desenvolvido
somente a partir do início da fase adulta, desde a descrição realizada por Pierre Janet em 1903,
sabe-se que a síndrome obsessivo-compulsiva infantil já foi amplamente constatada e investigada
em crianças e adolescentes. Reconhecidamente, as obsessões e/ou compulsões podem iniciar em
qualquer etapa do ciclo vital, embora em pelo menos um terço dos casos ocorra primeiramente na
infância (Geller & cols., 1998; Fontenelle, Mendlowicz, Marques & Versiane, 2003; Mataix-Cols
& cols., 2005 apud Reppold, 2005). O TOC é um dos únicos transtornos de ansiedade que não
apresenta diferenças sexuais quanto à prevalência dos sintomas na vida adulta (Fontenelle,
Marques & Versiane, 2002 apud Reppold, 2005). No entanto, em se tratando da população
infantil, a freqüência desse diagnóstico é mais comum em pessoas do sexo masculino (Hanna,
1995; Geller & cols., 1998; Zohar, 1999; Rapoport & cols., 2000 apud Reppold, 2005).
Entretanto, segundo Fontenelle & cols. (2003 apud Reppold, 2005), esta diferença inverte-se na
adolescência (quando os sintomas tendem a tornar-se egodistônicos), havendo uma maior
incidência dos sintomas, sobretudo das obsessões, nas meninas.
De acordo com o Epidemiologic Catchment Area Study, os primeiros sintomas de TOC
iniciam mais freqüentemente na infância (20%) ou na adolescência (29%) (citado por Ferrão &
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cols., 2003). Aproximadamente 2/3 dos pacientes relatam seu início antes dos 25 anos e quase 3/4
(74%) desenvolvem o distúrbio antes dos 30 anos (Thiel & cols., 1995 apud Ferrão & cols.,
2003). No entanto, a cerca do aparecimento dos primeiros sintomas, não há um consenso entre os
pesquisadores. Geller e colaboradores (1998 apud Reppold, 2005) citam uma idade média de 10,3
anos como a relatada, por seus pacientes clínicos adultos, do aparecimento dos primeiros
sintomas. O DSM-IV-TR (APA, 2002) aponta a idade modal para o aparecimento dos sintomas
em homens variando de 6 a 15 anos e entre as mulheres de 20 a 29 anos. Cordioli (2004) explica
que, em grande parte dos casos, os sintomas acompanham essas pessoas ao longo de toda sua
vida, evoluindo para uma progressiva deterioração da qualidade de vida em aproximadamente
10% dos casos. Ainda, o autor aponta para o impacto do transtorno sobre a família do paciente,
que, em maior ou menor grau, interfere em sua rotina de funcionamento. Também é comum que
pacientes com TOC apresentem, ao longo de sua vida, comorbidades como a depressão maior,
fobia social, fobia específica, abuso de álcool, transtorno de pânico, transtornos alimentares,
tiques e transtorno de Tourette.
Tanto do ponto de vista das apresentações clínicas como em relação à gravidade dos
sintomas, ao curso do transtorno e à resposta ao tratamento; o TOC constitui-se em um transtorno
bastante heterogêneo. Haja vista diversas evidências sugerindo a existência de subgrupos do
transtorno obsessivo-compulsivo – que refletem diferenças quanto à etiologia, e,
conseqüentemente, ao curso, à resposta ao tratamento e ao prognóstico. Dentre eles, o subgrupo
de início precoce ou tardio, associado a tiques ou ao transtorno de Tourette e à febre reumática ou
à Coréia de Sydenham (Cordioli, 2004). Na diferenciação desses subtipos de TOC, o tratamento
farmacológico (efeito terapêutico das drogas) pode dar importantes pistas, assim como ocorre em
outros transtornos de ansiedade como a esquizofrenia e a depressão (Ferrão, 2002; Pinel, 2005). O
fato de muitas drogas ansiolíticas serem agonistas dos receptores de GABAa (por exemplo os
benzodiazepínicos)ou os receptores de serotonina (como a buspirona e o Prozac) concentram a
atenção num possível papel de déficits de transmissão GABAérgica e serotonérgica nos
transtornos de ansiedade (Pinel, 2005). Quanto às especulações sobre estruturas cerebrais
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A organização cerebral de uma função cognitiva implica estudar como diferentes partes do
cérebro humano participam na realização de determinada atividade cognitiva, sendo este um dos
principais objetos de estudo da neuropsicologia. Existem algumas funções consideradas essenciais
e diretamente ligadas ao comportamento social do ser humano: a linguagem, o reconhecimento de
faces e as diferentes funções executivas (Parente, 2002).
A análise do papel que desempenham as regiões pré-frontais do cérebro na atividade
cognitiva e comportamental constitui uma das áreas de trabalho mais sobressalentes da
neuropsicologia contemporânea. Muitos têm sido os avanços nas pesquisas desenvolvidas nessa
área, no entanto, ainda estamos longe de uma compreensão definitiva a cerca de como os lobos
frontais permitem uma organização planejada do comportamento.
Existe uma série de processos cognitivos complexos influenciando de maneira essencial os
comportamentos que permitem a interação, de uma maneira objetiva, do ser humano com o
mundo. Esses comportamentos podem ser denominados comportamentos orientados para um
objetivo (Gazzaniga, 2006) e constituem-se na formulação, por parte do indivíduo, de um plano
de ação – que deve ser flexível e adaptativo – baseado em suas experiências passadas de vida e
que possa moldar-se às situações atuais. O conceito de funções executivas descreve um conjunto
de habilidades cognitivas que controlam e regulam outras dessas capacidades mais básicas (como
a atenção, a memória e as habilidades motoras), e que estão a serviço de conduzirem as condutas
dirigidas a um objetivo ou resolução de problemas (Drake, M., 2007). Compreendem uma série
de processos cuja função principal é facilitar a adaptação do indivíduo a situações novas e pouco
habituais, principalmente quando as rotinas de ação não são suficientes para realizar uma tarefa.
Por possuírem grande influência na regulação do comportamento, estão implicadas em todas as
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atividades não-automáticas (controladas). Ainda, segundo Lezak, Howieson e Loring (2004 apud
Drake, M., 2007), as funções executivas são definidas como aquelas que permitem a uma pessoa
aproximar-se, de maneira eficaz, de uma conduta independente, propositiva e proveitosa. Para
esses autores, as funções executivas possuiriam quatro componentes fundamentais: a volição, o
planejamento, uma ação com propósito definido e um desempenho eficiente – tornando-se,
portanto, a base para uma conduta adulta auto-suficiente, apropriada e socialmente responsável.
As funções executivas estão estreitamente ligadas ao funcionamento do córtex pré-frontal
(Duncan e Owen, 2000; Owen, Lee e Williams, 2000; Petrides, 2000; Postle e D`Esposito,2000;
Smith & Jonidees, 1999 apud Pinel e Gazzaniga, 2006), porém seu correto funcionamento
depende também de outras regiões cerebrais em conexão com o lobo frontal (Drake, M., 2007;
Fontenelle & cols., 2008). Sob o aspecto neuropsicológico, nenhum consenso foi alcançado
quanto a uma taxonomia cognitiva de funções executivas ou em relação a uma teoria
neuropsicológica de como e onde as funções executivas são localizadas, dentro das áreas pré-
frontais. Gazzaniga (2006) salienta que as funções executivas não habitam uma única estrutura,
mas resultam de interações entre diversos sistemas neurais corticais e subcorticais. Uma lista de
funções executivas possíveis inclui habilidades organizacionais, planejamento, comportamento
orientado para o futuro, manutenção de disposição, auto-regulação, atenção seletiva, manutenção
de atenção ou vigilância, inibição (selecionando a resposta comportamental mais adequada à
situação e inibindo outras respostas) e até mesmo criatividade. Este é, segundo Sacks (2002 apud
Goldberg), o papel central dos lobos frontais: liberar o organismo de repertórios e reações fixas,
permitindo a representação mental de alternativas, imaginação, liberdade, intencionalidade
(julgamento, empatia, identidade). Obviamente, algumas dessas funções se sobrepõem ou são
redundantes umas com as outras.
Segundo Pennington (1997), a partir de uma perspectiva evolucionária, as habilidades de
função executiva devem estar sujeitas a uma variação maior do que a constatada em muitos outros
domínios das funções cerebrais, porque tanto o tamanho relativo como o absoluto dos córtices
pré-frontais aumentaram extraordinariamente na evolução recente. Assim sendo, do mesmo modo
que as áreas de linguagem no cérebro, os lobos frontais devem ser particularmente vulneráveis a
patologias evolutivas. Para este autor, parte do problema em determinar a incidência de distúrbios
na função executiva é que os sintomas comportamentais dos déficits de função executiva
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do corpo caloso, e projeções bilaterais para regiões pré-motoras e subcorticais. Também recebe
aferências provenientes das áreas olfativas da base do cérebro e está ligado, através do tálamo e
suas conexões descendentes, ao sistema nervoso autônomo. Portanto, quase todas as áreas
corticais e subcorticais influenciam o córtex pré-frontal diretamente ou através de algumas
sinapses (Gil, 2005; Gazzaniga, 2006).
Encontra-se na literatura a descrição de diversos casos de pacientes vítimas de distúrbio
nos lobos frontais, com prejuízos nas funções executivas descritos. Dentre eles, está o famoso
caso de Phineas Gage (descrito por Goldberg, 2002; Pinel, 2005) – trabalhador de uma ferrovia
que foi atingido, durante uma explosão, por uma bucha de aço de setenta centímetros quando
instalava uma carga de explosivos, em 1948. Após o terrível acidente, Phineas apresentou sua
inteligência preservada, bem como sua capacidade de movimentar-se, linguagem, visão. No
entanto, foram percebidas outras profundas mudanças em seu repertório comportamental: tornou-
se impulsivo, imprudente e descuidado, irreverente, sem capacidade de planejar ou prever
comportamentos futuros, incapaz de levar a cabo um objetivo determinado. As pessoas que o
haviam conhecido antes do acidente diziam que “não era mais o Gage de antes”. O mais grave é
que, como quase todos os casos de pacientes com lesões severas nos lobos frontais, ele não tinha
nenhuma consciência de todas essas mudanças.
Gazzaniga (2006) também cita o caso de um paciente – W.R. – que, após sofrer uma
convulsão e queixar-se de “perda de seu ego”, teve seu caso investigado. Através de uma
tomografia computadorizada descobriu-se que o paciente tinha um astrocitoma, ou seja, um tumor
que se estendeu ao longo das fibras do corpo-caloso e invadiu amplamente o córtex pré-frontal
lateral do hemisfério esquerdo e uma parte considerável do lobo frontal direito. Ao ouvir esta
notícia dada pelo médico, W.R. permaneceu passivo e desinteressado, incapaz de chegar a alguma
resolução para tomar uma atitude: havia perdido a habilidade de ter o comando de sua própria
vida (“seu ego”). O paciente era capaz de administrar algumas atividades diárias, porém somente
ações sem o contexto de um objetivo final – perdeu a habilidade de se engajar em
comportamentos orientados para um objetivo.
Em resumo, há um consenso amplo, nos estudos e pesquisas desenvolvidas, de que as
funções executivas são dependentes de áreas pré-frontais e que as disfunções nessas áreas
rompem a organização e o controle do comportamento, especialmente em tarefas novas ou
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desafiantes. Além disso, para que haja um comportamento orientado para um objetivo é
necessária, fundamentalmente, a existência de outros componentes implicados. Esses
componentes das funções executivas relacionam-se, resumidamente, à memória de trabalho
(essencial na representação e no acesso de informações que não estão imediatamente presentes no
ambiente); ao controle inibitório; à atenção seletiva; ao planejamento e à flexibilidade cognitiva
(Gil, 2002; Gazzaniga, 2006).
A partir disso, vários tipos de déficits em funções executivas têm sido pesquisados e
constatados em pacientes com TOC (Fontenelle & cols., 2008). A grande maioria dos estudos
nessa área sugere que as principais funções cognitivas comprometidas no TOC estão relacionadas
à disfunção de um dos seguintes sistemas: circuito pré-frontal dorsolateral – CPFDL – e circuito
pré-frontal orbitomedial – CPFOM (Fuster, 2000 apud Fontenelle & cols., 2008).
O comprometimento da flexibilidade mental (avaliada com instrumentos como o Teste de
Seleção de Cartas de Wisconsin (WCST) e o Trail Making Test), comprometimento da fluência
verbal (teste auditivo de atenção seriada – COWAT), comprometimento da memória operativa
(Self Ordering Pointing Test e Spatial Working Memory) e do planejamento (Torre de Hanoi e
Torre de Londres), parece estar relacionado a possíveis disfunções no CPFDL (Fontenelle et al.,
2004 apud Fontenelle & cols., 2008). Já o comprometimento da capacidade de tomada de
decisões (Gambling Task), disfunção da atenção seletiva (Teste de Stroop e suas versões
“emocionais”), lentidão na execução e adoção de estratégias organizacionais improdutivas (Teste
da Figura Complexa de Rey – RCFT), comprometimento do desempenho do Teste go-no-go e
comprometimento da capacidade de identificação olfatória (avaliada pelo University of
Pennsylvania Smell Identification Test), estariam ligadas a padrões de disfunção cognitiva
compatíveis com existência de uma disfunção no CPFOM (Fontenelle et al., 2004 apud
Fontenelle & cols., 2008). No entanto, estes estudos não possibilitam afirmações inequívocas
acerca de exatamente quais circuitos cerebrais estariam disfuncionais em pacientes com TOC.
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Segundo Helene & Xavier (2003), apud Muszkat & cols. (2006), a atenção corresponde a
um conjunto de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias
de informação, isto é, atenção é o termo que se refere aos mecanismos pelos quais se dá a seleção.
Os processos atencionais facilitam, melhoram ou inibem outros processos neuropsicológicos
(como a memória, a percepção, a linguagem), acessando recursos cognitivos que permitem que a
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tarefa seja cumprida de maneira eficaz (Cohen, Malloy e Jenkins, 1998 apud Drake, M., 2007). A
atenção pressupõe, ao mesmo tempo, orientação e concentração mental dirigidas para uma tarefa
e inibição de atividades concorrentes (Gil, 2002) e, assim como a percepção e a memória formam
o substrato da cognição, a atenção governa o fluxo do processamento desses substratos cognitivos
(Drake, M., 2007). Gazzaniga (2006) explica que todo comportamento orientado para um objetivo
requer a seleção de informação relevante à tarefa, sendo este processo de seleção uma
característica fundamental de tarefas associadas ao córtex pré-frontal lateral.
Dentro desse contexto, Gazzaniga (2006) explica que a função pré-frontal mudaria seu
papel na memória e passaria a envolver-se na alocação de recursos atencionais: quando se reconta
um fato passado a um ouvinte, muitas informações semânticas da memória de longa duração são
ativadas (localização, forma, cores) assim como informações episódicas. No modelo de memória
de trabalho uma pasta transitória é estabelecida para que se possam dar essas informações.
Quando a pessoa é questionada sobre uma informação específica, exige-se automaticamente que
essa informação necessária para a resposta torne-se mais saliente do que as outras informações.
Para responder, é necessário selecionar essa informação dos conteúdos da memória de trabalho.
Shimamura (2000), apud Gazzaniga (2006), argumenta que o córtex pré-frontal poderia ser
definido como um mecanismo de filtro dinâmico, portanto destacaria a informação que é mais
relevante para a demanda da tarefa corrente. A filtragem dinâmica pode influenciar o conteúdo do
processamento de informação de, pelo menos, duas maneiras. Primeiro, acentuando a informação
em evidência e, de outro modo, prestando atenção de maneira seletiva, excluindo informações
irrelevantes.
Assim sendo, o conceito de atenção seletiva refere-se à necessidade do sistema selecionar,
dentre grandes quantidades de estímulos simultâneos, aqueles que são relevantes de serem
processados em determinados momentos, ao mesmo tempo em que se continua recebendo outros
estímulos que constituem uma fonte potencial de distratibilidade (Drake, M., 2007).
A Tarefa de Stroop, na qual a demanda de memória é mínima, exige que o indivíduo
selecione somente informações relevantes à realização da tarefa – a mais conhecida é o teste de
cores-palavras, no qual são apresentados por escrito nomes de cores em letras de outra cor (não
correspondente), por exemplo, a palavra “rosa” escrita na cor “azul”. A tarefa consiste em o
indivíduo dizer a cor com que a palavra está escrita (“azul”) e não em ler a palavra escrita
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(“rosa”). Nos pacientes com lesão pré-frontal as interferências (desprezar a palavra escrita e
selecionar apenas a sua cor) são muito mais marcadas do que nos indivíduos sem a lesão, além de
os erros serem mais numerosos (Gil, 2002; Gazzaniga, 2006). Fontenelle (2001) apresenta uma
revisão bibliográfica na qual pacientes com sintomas clínicos ou subclínicos do TOC têm um pior
desempenho no Teste de Stroop (Fontenelle, 2008).
Para testar a hipótese de filtragem dinâmica – Thompson-Schill, D’Esposito e cols. (1998)
apud Gazzaniga 2006 – utilizaram a tarefa de geração semântica. Esta, por sua vez, consiste em
dois momentos: uma condição de baixa seleção e outra de alta seleção. Na primeira condição, a
pessoa deve associar um substantivo a um único verbo como, por exemplo, “tesoura” ser
associada ao verbo “cortar”. Na segunda condição, cada substantivo tem diversas associações, por
exemplo, “corda” pode ser associada às ações “amarrar, laçar, enrolar”. Nas duas condições as
demandas semânticas são semelhantes e o indivíduo deve compreender o substantivo-teste e
lembrar a informação semântica associada. Em pessoas com lesão pré-frontal percebem-se
dificuldades em selecionar apenas um verbo para associar ao substantivo. A tarefa torna-se ainda
mais difícil para estas pessoas, quando estão diante da situação de alta seleção semântica.
A perda do filtro dinâmico capta uma característica essencial dos pacientes com dano pré-
frontal. As capacidades cognitivas básicas são geralmente poupadas – parecem ter sua inteligência
com poucas evidências de mudanças, podendo realizar muitos dos testes de função psicológica.
No entanto, encontram-se em condição particularmente vulnerável: em ambiente com várias
fontes de informação competindo por sua atenção, esses pacientes apresentam dificuldade em
manter o foco (Gazzaniga, 2006).
Este estudo utilizará, para avaliação da atenção seletiva e controle inibitório, os dados
obtidos através da aplicação da Tarefa de Stroop, Iowa Gambling Task e Trail Making Test B, em
pacientes com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Gazzaniga, 2006). Existe, então, uma hierarquia no desenvolvimento de um plano de ação. Para
atingir com sucesso objetivos complexos, é necessário planejamento e organização em múltiplos
níveis de comportamento.
Quando uma doença neurológica afeta os lobos frontais, a capacidade de manter-se em
uma meta (um caminho) se perde, o paciente fica à mercê de estímulos ambientais acidentais e
associações internas tangenciais (indivíduo suscetível a processos de pensamento com associações
irrelevantes). Esta incapacidade de manter o planejamento e seleção de uma determinada ação é
totalmente disruptiva para a pessoa acometida. Distrair-se com facilidade é uma característica de
muitos distúrbios neurológicos e psiquiátricos, e está geralmente associada com disfunção do lobo
frontal (Goldberg, 2002).
Pesquisas indicam que indivíduos com marcadores de compulsão/obsessão apresentam
baixa competência para planejar atividades e elaborar estratégias organizacionais – tais como
copiar a Figura Complexa de Rey e inibir comportamentos indesejados no desenvolvimento dessa
tarefa (Fontenelle, 2001; Penadés & cols., 2005 apud Reppold, 2005). Fontenelle & cols. (2008),
sintetizam que pacientes com TOC, em situações ambíguas e complexas, tendem a cometer erros
estratégicos. Esses pacientes, como explicam estes pesquisadores, costumam focalizar
excessivamente os detalhes, deixando de considerar a gestalt visual – no caso da Figura
Complexa de Rey-Osterrieth – tendo dificuldades de mudar o cenário cognitivo.
Este estudo pretende utilizar os dados resultantes da aplicação da Figura Complexa de
Rey-Osterrieth nos pacientes com TOC e analisá-los.
Segundo Shallice (1988 apud Gil, 2002), o lobo frontal controlaria um sistema de
supervisão atenta – modulando o nível de ativação de esquemas de ação competitivos,
selecionados por um plano diretor – que evitaria, ao mesmo tempo, a distratibilidade (ao inibir os
esquemas parasitas) e a perseveração (ao inibir os esquemas dominantes) permitindo, dessa
forma, a flexibilidade. A flexibilidade mental refere-se à capacidade do indivíduo de alternar a
atenção de um aspecto do estímulo a outro durante uma tarefa em andamento, de acordo com as
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contingências reforçadoras do momento (Fontenelle & cols., 2008). Gil (2002) explica que a
flexibilidade dificilmente pode ser separada do controle inibidor – capacidade de inibir respostas
não adaptadas – e que os casos de lesão frontal provocam uma desinibição. Como é esperado,
déficits da flexibilidade mental são centrais no TOC, já que perseverações, repetições e falta de
flexibilidade são sintomas presentes nesses pacientes.A flexibilidade cognitiva também implica
no potencial criativo do indivíduo, na produtividade cognitiva e na capacidade de abstração
(Drake, M., 2007).
O teste conhecido como Wisconsin Card Sorting Test (Teste de Escolha de Cartas de
Wisconsin) revela-se bastante sensível para deficiências sutis de flexibilidade mental (Goldberg,
2002). Este teste requer que o sujeito escolha cartas com formas geométricas simples em três
categorias: forma, cor e número (estímulos multidimensionais). No entanto, o princípio de
classificação não é revelado de antemão e o sujeito deve estabelecê-lo por meio de tentativa e
erro. Uma vez que o indivíduo aprendeu a escolher uma dimensão, o experimentador muda as
regras sem informá-lo. E assim, os princípios vão mudando sucessivamente. Esta tarefa requer
planejamento, orientação por representação interna, flexibilidade mental e memória de trabalho.
Pacientes com lesão de lobo frontal costumam perseverar nos erros – continuamente escolhendo
por uma regra velha, mesmo quando lhe é esclarecido que esta regra é inapropriada. Essa
perseveração pode ser vista como uma falha no processo de seleção (Gazzaniga, 2006). Além
disso, de acordo com Muszkat & cols. (2006), do ponto de vista neurobiológico a função do
sistema atencional supervisor – inibindo e ativando esquemas de respostas diretamente – estaria
relacionada à atividade dos lobos frontais, indicando que danos nessa região nervosa usualmente
levariam à perseverança comportamental (inflexibilidade) e ao aumento de distratibilidade. Como
foi explicitado, o desempenho do WCST é particularmente dependente da integridade de regiões
pré-frontais dorsolaterais e, nem todos os estudos encontraram alterações no desempenho de
pacientes com TOC nesse teste (Fontenelle & cols., 2008).
Nesse sentido, estudos mais recentes têm feito uso de tarefas computadorizadas na
tentativa de aumentar a sensibilidade, como é o caso do Object Alternacion Test (OAT). Este
instrumento mede aspectos diferentes da flexibilidade mental: o comportamento reverso, no qual
o paciente deve ser capaz de aplicar uma regra aprendida e revertê-la (Fontenelle & cols., 2008).
Estes mesmos autores explicam que os desempenhos no OAT parecem depender mais do
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Dado o amplo leque de habilidades englobadas nas funções executivas, não é esperado que
um único tipo de avaliação neuropsicológica seja capaz de avaliar o funcionamento executivo de
um indivíduo, fazendo-se necessário a utilização de inúmeras técnicas que permitam evidenciar os
distintos componentes das funções executivas – já que o seu déficit pode afetar a todos os
processos executivos ou ser seletivo, apresentando-se em apenas alguns deles (Drake, M., 2007).
Em geral, por serem as funções executivas extremamente complexas e apresentarem
vários subdomínios, a avaliação neuropsicológica dessas funções envolve vários procedimentos,
que podem estar agrupados em baterias formais especificamente desenvolvidas para medi-las ou
em baterias flexíveis, nas quais os instrumentos são agrupados à partir de critérios definidos pelo
examinador (Malloy-Diniz, L. & cols., 2008).
Em princípio, qualquer teste que tenha por objetivo avaliar funções executivas deveria
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constar, em maior ou menor grau, das seguintes características: ser novidade para o indivíduo,
demandar esforço cognitivo e exigir memória de trabalho (Phillips, 1997 apud Drake, 2007). O
fato de ser algo novo para o indivíduo é essencial, uma vez que o aspecto chave das funções
executivas implica em pôr em jogo a resolução de situações não habituais pela pessoa.
Diretamente relacionado ao que foi exposto, está a demanda quanto ao esforço cognitivo, uma vez
que a planificação dos objetivos a serem atingidos e as etapas seguintes que possibilitem suas
resoluções, devem incluir algum grau de complexidade de resolução, implicar em
automonitoramento e recrutar a inibição de respostas automáticas (que tentam sobrepor-se), das
quais o sujeito deve impor resistência (Drake, 2007).
Denckla (1994 apud Drake, 2007) adverte que os testes que são fáceis e agradáveis de
serem realizados não são bons candidatos para avaliar funções executivas. Isso se explica pelo
fato de que quando um sujeito enfrenta uma tarefa desafiadora (nova), tende naturalmente a
utilizar estratégias de enfrentamento efetivas, no intuito de maximizar seu desempenho com um
esforço mínimo, tentando fazer com que a tarefa demande menos esforço e seja mais automática.
Por isso, o objetivo da avaliação das funções executivas é evitar este automatismo na realização
da tarefa, provocando um novo processamento que demande esforço cognitivo.
O fato de tarefas para avaliação de funções executivas exigirem demanda de memória de
trabalho está relacionado à coordenação e manutenção dos elementos e regras da tarefa –
recrutando determinados processos cognitivos que possibilitem a manipulação dos dados
necessários para sua adequada resolução.
As competências em domínios cognitivos básicos (memória, percepção, habilidades
lingüísticas) expõe efeitos de teto e piso para a espeficidade e sensibilidade da avaliação das
funções executivas (Drake, 2007). Para tanto, deve-se levar em conta a capacidade cognitiva
(inteligência geral) do sujeito em avaliação, uma vez que um alto QI em alguns sujeitos pode
fazer com que certas tarefas sejam demasiadamente fáceis para eles e, portanto, não sensíveis para
avaliar alguma disfunção executiva.
5.1 WASI
A pontuação obtida neste subteste, que faz parte da Bateria de Inteligência WAIS III,
deriva da soma das pontuações parciais das duas tarefas que compõe esta prova: Dígitos Diretos e
Dígitos Inversos. A repetição dos dígitos na forma direta constitui uma avaliação da amplitude
atencional e da memória auditiva imediata. Já a repetição de dígitos na forma inversa constitui
uma boa medida da memória de trabalho do sujeito, uma vez que requer tanto a retenção como a
manipulação da informação.
minutos, durante o qual o paciente realiza outras provas não-verbais, avalia-se novamente a livre
recordação das palavras da lista A, sem que esta seja novamente apresentada. Desta forma, o
Teste de Aprendizado Verbal da Califórnia permite a obtenção de informações dos seguintes
parâmetros: a quantidade total de palavras recordadas ao longo dos ensaios, estratégias de
aprendizagem, efeito de primazia e recência, curva de aprendizagem ao longo dos ensaios, a
consistência da recordação através dos ensaios, o grau de vulnerabilidade e interferência proativa
e retroativa, a retenção de informação durante os diferentes intervalos, perseveração e intrusão e
falsos positivos no reconhecimento.
O Teste de Stroop é uma das medidas de controle atencional (atenção seletiva) e controle
inibitório que consiste na denominação de palavras e cores. Mede a capacidade de uma pessoa de
mudar de uma resposta à outra, de acordo com a demanda, e de inibir uma resposta habitual em
favor de uma resposta não habitual. Nesta tarefa, na qual a demanda de memória é mínima, exige-
se que o indivíduo selecione somente informações relevantes à realização da tarefa. A mais
conhecida é o teste de cores-palavras, no qual são apresentados cartões ao sujeito, um de cada
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vez, contendo diferentes padrões de estímulos que ele deverá nomear. No primeiro cartão estão
pequenos retângulos coloridos (verde, rosa e azul). No segundo, palavras comuns coloridas com
as cores anteriormente mencionadas. No terceiro, no qual é medido o “efeito Stroop”, são
apresentados por escrito os nomes das cores (rosa, azul e verde) em letras de outra cor (não
correspondente), por exemplo, a palavra “rosa” escrita na cor “azul”. A tarefa consiste em o
indivíduo dizer a cor com que a palavra está escrita (“azul”) e não em ler a palavra escrita
(“rosa”). O “efeito Stroop” pode aparecer com a lentificação significativa das respostas desta
última parte do teste ou com respostas erradas – leitura da palavra no lugar da nomeação da cor
com a qual ela foi impressa.
A prova de fluência verbal é uma das mais utilizadas para a avaliação de funções
executivas, especificamente a de fluência fonológica (Drake, 2007). Nesta tarefa solicita-se ao
sujeito que nomeie, em 60 segundos, a maior quantidade de palavras possíveis que iniciem com
determinadas letras, no caso desta pesquisa, com as letras F, A e S. Foram excluídos os usos de
palavras como nomes próprios; conjugação de um verbo; aumentativos e diminutivos; palavras de
33
O WCST - do inglês: Wisconsin Card Sorting Test - foi muitas vezes considerado como
padrão ouro das provas que se propõe avaliar funções executivas. Nele são apresentadas aos
sujeitos 128 cartas (uma de cada vez) que devem ser agrupadas a uma das quatro cartas alvo - o
sujeito escolhe cartas com formas geométricas simples em três categorias: forma, cor e número
(estímulos multidimensionais). No entanto, o princípio de classificação não é revelado de antemão
e o sujeito deve estabelecê-lo por meio de tentativa e erro. Cada vez que o sujeito escolhe uma
carta, o examinador apenas assinala se a escolha está "correta" ou "errada". Uma vez que o
indivíduo aprendeu a escolher uma dimensão e acerta por 10 vezes consecutivas dentro deste
mesmo critério, o experimentador muda as regras sem informá-lo. Assim, os princípios vão
mudando sucessivamente e, conseqüentemente, o paciente deve mudar o critério de escolha de
acordo com o feedback dado pelo examinador. Quando o sujeito insiste em empregar a antiga
regra, comete um erro perseverativo e este tipo de erro é uma medida indicativa de inflexibilidade
cognitiva. Além disso, o WCST também fornece informações sobre processos de categorização,
impulsividade e atenção. No caso deste projeto, será utilizada a versão computadorizada do
WSCT, na qual é o próprio computador que fornece o feedback positivo ou negativo para as
34
escolhas do indivíduo.
instrução dada ao sujeito será a de que ele tente pegar o máximo de moedas possíveis, porém sua
tarefa será aprender que o objeto sob o qual a moeda de um real foi encontrada será alternado
após cada resposta correta.
Os objetos são colocados da esquerda para a direita e as posições são modificadas de
acordo com programação aleatória. Na primeira tentativa do problema proposto pela tarefa do
OAT, ambos os objetos são isca com as moedas de um real sob si. Para a segunda tentativa do
sujeito, a moeda de um real é colocada sob a figura não escolhida na tentativa anterior e, dessa
forma, é dada a seqüência no desenvolvimento da avaliação.
5.14 Go no-go
As tarefas do tipo “go no-go” podem ser utilizadas para verificar falhas em mecanismos
inibitórios (Grafman, 1999; Luria, 1966; Pennington, 1997 apud Kristensen, 2007). É um
paradigma de emissão e supressão de respostas, nos quais, frente a um determinado grupo de
estímulos, o sujeito deve emitir a resposta; frente a outros, deve suprimí-la. Tarefas que se
utilizam deste paradigma fornecem medidas sobre erro de ação, omissão e tempo de reação.
Enquanto a medida de erro por ação está relacionada ao controle inibitório, a medida de omissão
está relacionada à atenção. Se a tarefa medir tempo de reação com interrupção sinalizada, também
poderá avaliar controle inibitório. Na tarefa do tipo “go-no go” utilizada nesta pesquisa
apareciam na tela do computador diversas letras, a cada segundo, em diversas cores. A avaliação
consistia em o sujeito não apertar a barra de espaço no computador para todas as vezes nas quais
na tela aparecessem as letras O na cor azul e E na cor rosa e apertar a barra de espaço para todas
as outras letras.
6. OBJETIVO
36
GERAL
ESPECÍFICOS
7. MÉTODO
7.1 Delineamento
7.2 Participantes
7.3 Instrumentos
Instrumentos computadorizados:
Tabela1
Resultados de avaliação utilizando a Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)
WASI Mínimo Máximo Média Desvio
Vocabulário 19 89 47,5 10,82
Cubos 2 66 36,5 15,42
Semelhanças 9 44 31,8 6,79
Matrizes 0 33,00 21,6 8,39
Q.I. Verbal 49 131 79,5 16,02
Q.I. Execução 2 95 58,1 22,10
Q.I. Global 52 196 137,0 33,03
média de acertos dos pacientes foi de 20,4. A tabela 2 representa estes resultados.
Tabela 2
Resultados da avaliação da amostra através do Teste de Memória Lógica Wechsler
Memória Lógica Mínimo Máximo Média Desvio
Wechsler
Memória Lógica A (imediata) 2 21 13,4 4,12
Memória Lógica B (imediata) 0 19 11,0 4,35
Total Memória Lógica 4 38 24,4 7,42
Imediata
Recuperação Memória Lógica 3 20 11,3 4,03
A (30 minutos)
Recuperação Memória Lógica 0 17 8,9 4,31
B (30 minutos)
Total Memória Lógica 6 35 20,4 7,14
Recuperação (30minutos)
Tabela 3
Resultados de avaliação através do instrumento Figuras Complexas de Rey-Osterrieth
Figura Complexa de Rey- Mínimo Máximo Média Desvio
Osterrieth
Cópia 12 36 30,9 4,45
Tempo de Cópia 1 15 4,1 2,57
Tempo Recordação 0 6 3,3 2,02
seqüência de números na ordem direta quanto inversa, a média da maior seqüência memorizada
foi de 14,0. Esses resultados estão expostos na tabela 4 abaixo.
Tabela 4
Resultado do desempenho dos pacientes no subteste Span de Dígitos (WAIS III)
Digit Span Mínimo Máximo Média Desvio
Na avaliação feita através do instrumento Brief Visual Memory Test, exposta na tabela 5, o
total de reconhecimento nas três tentativas foi, em média, 20,7 figuras geométricas. O resultado
médio de uma possível aprendizagem possibilitada ao longo do desenvolvimento do teste foi de
4,7 (aprendizagem: melhor resultado subtraindo-se o pior resultado) e a memória visuo-espacial
de longo prazo após os três ensaios apresentou um resultado médio de 8,8. Em relação à
aprendizagem retida ao longo dos intervalos de apresentação das figuras, o resultado médio foi de
91,5 e a média de reconhecimento, após um intervalo de 20 minutos, foi de 5,6 figuras.
Tabela 5
Apresentação dos resultados do Brief Visual Memory Test
Brief Visual Memory Test Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 6
Resultado do desempenho dos pacientes no Teste de Aprendizado Verbal da Califórnia
CVLT Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 7
Apresentação dos resultados no Teste das Trilhas partes A e B
Trail Making Test Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 8
Resultados obtidos através do Teste de Stroop
Teste de Stroop Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 9
Resultados obtidos na prova de Ordenamento de Números e Letras (WAIS III)
Ordenamento de Números e Letras Mínimo Máximo Média Desvio
(WAIS III)
Total (seqüência de números e 4 17 9,1 3,12
letras)
Tabela 10
Resultados da avaliação de Fluência Verbal Fonológica (FAS)
Avaliação de Fluência Verbal Mínimo Máximo Média Desvio
Fonológica
Total 8 67 37,0 11,62
Tabela 11
Resultados obtidos através do Teste de Escolha de Cartas de WISCONSIN (WCST)
WCST Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 12
Apresentação dos resultados no Iowa Gambling Task
Iowa Gambling Test Mínimo Máximo Média Desvio
Quanto ao instrumento OAT (Object Alternation Task), o resultado médio em relação aos
acertos na tarefa foi de 38,6 e a média de erros cometidos foi de 4,6. Já na tarefa de paradigma
“go no-go” o resultado médio de acertos foi 5,1 e a média de erros cometidos foi de 7,9. Os
resultados de ambos os testes estão expostos na tabela 13.
45
Tabela 13
Resultados obtidos nas avaliações com os instrumentos OAT e “go no-go”
OAT Mínimo Máximo Média Desvio
Tabela 15
Correlação entre as dimensões da DY-BOCS (pior fase)
Agressão, Simetria, ordem,
violência e contagem e
desastres Sexual e arranjo Contaminação Colecionismo
naturais religião e limpeza
Sexual e ,38**
religião
Simetria,
ordem,
contagem e ,34** ,23
arranjo
Contaminacão ,22 ,21 ,41**
e limpeza
Colecionismo ,32** ,44** ,33** ,30*
Diversas ,39** ,43** ,43** ,25* ,35**
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 16
Correlação entre resultados da WASI e dimensões da DY-BOCS (pior fase)
1 2 3 4 5 6 7
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 17
Correlação entre resultados da Figura complexa de Rey, do Teste de Memória Lógica,
do Brief Visual Memory Test, STROOP e dimensões da DY-BOCS (pior fase)
1 2 3 4 5 6 7
Figura
Complexa de
Rey
Cópia ,01 ,01 ,29* -,16 ,08 ,05 0
Tempo de cópia -,07 -,17 -,09 ,03 -,13 -,21 -,18
Tempo de ,04 -,04 ,20 ,04 ,15 ,04 ,01
recordação
Memória Lógica
Wechsler
Total Imediata ,04 ,03 ,15 0 ,21 ,26* -,04
Total -,01 ,13 ,19 ,04 ,21 ,21 -,13
Recuperação
Brief
Total de -,04 ,07 ,30* ,12 ,14 ,24 ,30*
Reconhecimento
Imediato
Reconhecimento -,21 -,07 ,02 -,12 ,02 ,16 -,03
após 20 min.
Stroop
Interferência ,16 0 ,16 ,28* ,23 -,10 ,21
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 18
Correlação entre resultados do Wisconsisn Card Sorting Test (WCST), do Trail Making
Test, do Teste de Aprendizado Verbal da Califórnia (CVLT) e dimensões da DY-BOCS (pior
fase)
1 2 3 4 5 6 7
WCST
Categorias ,05 ,05 ,17 -,06 ,11 ,22 ,28*
completadas
Fracasso em
manter o ,03 -,14 ,03 ,20 0 -,01 -,10
contexto
Respostas ,03 -,13 -,03 ,06 -,17 -,12 ,22
perseverativas
Aprendendo a -,04 -,10 -,22 ,01 -,07 -,19 -,12
aprender
Trail Making
Test
Trail B (tempo
em segundos) -,10 -,13 -,12 ,12 -,20 -,19 -,05
Trail (B - A)
tempo em -,09 -,11 -,08 ,15 -,19 -,13 ,01
segundos
CVLT
Total de
respostas ,05 -,02 ,12 -,10 -,06 ,12 -,07
corretas
Total de
respostas ,09 ,12 ,13 ,10 ,02 ,04 ,03
perseverativas
Aprendizagem -,07 ,09 -,05 -,11 -,12 -,08 ,08
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 19
Correlação entre resultados da Seqüência de Números e Letras(WAIS III), do Digit Span, do
Teste de Fluência Verbal Fonológica (FAS) e dimensões da DY-BOCS (pior fase)
1 2 3 4 5 6 7
Seqüência de
números e letras
(WAIS III)
Total ,01 ,12 ,05 -,03 ,02 ,25* ,04
Digit Span
Maior seqüência
dígitos indireto ,11 ,01 ,12 -,03 -,15 ,05 ,09
Maior seqüência
total ,20 ,12 ,15 0 -,04 ,29* ,20
(direto+indireto)
FAS
Total ,27* ,07 ,27* -,01 ,16 ,32** ,25*
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 20
Correlação entre resultados do Object AlternationTask (OAT) , do “Go no-go”, do Iowa
Gambling Task e dimensões da DY-BOCS (pior fase)
1 2 3 4 5 6 7
OAT
Acertos -,12 ,12 -,13 -,05 ,14 ,07 -,14
Erros -,05 -,10 ,07 -,03 ,30* -,24 0
Go no-go
Acertos ,09 -,07 0 ,20 0 -,11 -,04
Erros -,22 -,01 -,42** -,22 -,01 -,26 -,41**
Iowa Gambling
Task
Baralhos (C+D)
– (A+B) ,09 ,11 0 -,21 ,09 ,02 ,25*
* p<0,05; ** p<0,01
1- Agressão, violência e desastres naturais
2- Sexual e religião
3- Simetria, ordem, contagem e arranjo
4- Contaminação e limpeza
5- Colecionismo
6- Diversas
7- Todas
Tabela 21
Correlação entre as dimensões da DY-BOCS (fase atual – última semana)
Agressão, Simetria, ordem,
violência e contagem e
desastres Sexual e arranjo Contaminação Colecionismo
naturais religião e limpeza
Sexual e ,36**
religião
Simetria,
ordem,
contagem e ,33** ,13
arranjo
Contaminação ,20 ,17 ,37**
e limpeza
Colecionismo ,29* ,39** ,26* ,16
Diversas ,41** ,40** ,39** ,26* ,27*
* p<0,05; ** p<0,01
Tabela 22
Correlação entre resultados da WASI e dimensões da DY-BOCS (fase atual – última semana)
1 2 3 4 5 6 7
* p<0,05; ** p<0,01
1- Agressão, violência e desastres naturais
2- Sexual e religião
3- Simetria, ordem, contagem e arranjo
4- Contaminação e limpeza
5- Colecionismo
6- Diversas
7- Todas
54
Tabela 23
Correlação entre resultados da Figura Complexa de Rey, do Teste de Memória Lógica,
do Brief Visual Memory Test, STROOP e dimensões da DY-BOCS (fase atual – última
semana)
1 2 3 4 5 6 7
Figura
Complexa de
Rey
Cópia ,04 ,02 ,31* -,17 ,12 -,02 -,05
Tempo de cópia -,03 -,16 0 ,06 -,09 -,22 -,08
Tempo de ,03 -,01 ,18 ,05 ,14 ,05 ,05
recordação
Memória
Lógica
Wechsler
Total Imediata ,07 0 ,11 -,05 ,15 ,12 -,14
Total 0 ,10 ,13 -,01 ,16 ,05 -,22
Recuperação
Brief
Total de -,09 ,02 ,19 ,07 ,08 ,24 ,18
Reconhecimento
Imediato
Reconhecimento -,25* -,10 -,01 -,13 ,02 ,15 -,02
após 20 min.
Stroop
Interferência ,11 -,04 ,11 ,23 ,17 -,10 ,12
* p<0,05; ** p<0,01
1- Agressão, violência e desastres naturais
2- Sexual e religião
3- Simetria, ordem, contagem e arranjo
4- Contaminação e limpeza
5- Colecionismo
6- Diversas
7- Todas
55
Tabela 24
Correlação entre resultados do Wisconsisn Card Sorting Test (WCST), do Trail Making Test, do
Teste de Aprendizado Verbal da Califórnia (CVLT) e dimensões da DY-BOCS (fase atual – última
semana )
1 2 3 4 5 6 7
WCST
Categorias 0 -,01 ,04 -,12 ,04 ,15 ,12
completadas
Fracasso em
manter o ,06 -,12 ,09 ,22 0 -,03 -,05
contexto
Respostas 0 -,15 -,09 ,05 -,21 -,11 ,19
perseverativas
Aprendendo a 0 -,02 -,12 ,06 -,02 -,12 -,02
aprender
Trail Making
Test
Trail B (tempo
em segundos) -,08 -,11 -,04 ,16 -,18 -,16 ,06
Trail (B - A)
tempo em -,07 -,10 -,02 ,18 -,18 -,11 ,10
segundos
CVLT
Total de
respostas ,04 -,02 ,09 -,11 -,09 ,06 -,09
corretas
Total de
respostas ,05 ,14 ,10 ,09 0 ,12 -,06
perseverativas
Aprendizagem -,11 ,09 -,07 -,13 -,13 0 ,02
* p<0,05; ** p<0,01
1- Agressão, violência e desastres naturais
2- Sexual e religião
3- Simetria, ordem, contagem e arranjo
4- Contaminação e limpeza
5- Colecionismo
6- Diversas
7- Todas
56
Tabela 25
Correlação entre resultados da Seqüência de Números e Letras(WAIS III), do Digit Span, do
Teste de Fluência Verbal Fonológica (FAS) e dimensões da DY-BOCS (fase atual – última
semana)
1 2 3 4 5 6 7
Seqüência de
números e letras
(WAIS III)
Tabela 26
Correlação entre resultados do Object AlternationTask (OAT) , do “Go no-go”, do Iowa
Gambling Task e dimensões da DY-BOCS (fase atual – última semana)
1 2 3 4 5 6 7
OAT
Acertos -,13 ,14 -,15 -,07 ,12 ,03 -,21
Erros -,03 -,09 ,14 0 -,26* -,20 ,08
Go no-go
Acertos ,13 -,04 ,10 ,24 -,05 -,09 ,10
Erros -,20 ,01 -,39** -,18 ,07 -,23 -,42**
Iowa Gambling Task
Baralhos (C+D) –
(A+B) ,08 ,05 -,07 -,28* ,04 -,06 ,03
* p<0,05; ** p<0,01
1- Agressão, violência e desastres naturais
2- Sexual e religião
3- Simetria, ordem, contagem e arranjo
4- Contaminação e limpeza
5- Colecionismo
6- Diversas
7- Todas
58
10. DISCUSSÃO
detalhes da figura, habilidades práxicas, dentre outras. Pessoas que apresentam maior escore nesta
dimensão tiveram um melhor desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey-Osterrieth
provavelmente por prestarem muita atenção aos detalhes da figura, por obedecerem à
proporcionalidade exigida pelo teste; ou seja, habilidades que já estão presentes de maneira
exagerada na expressão de seus sintomas. Esses resultados vêm de encontro com achados nas
pesquisas de Bannon & cols (2006), que não encontram déficits de planejamento em pacientes
com TOC.
Um dos resultados mais interessantes do estudo refere-se ao bom desempenho dos
participantes nos testes que avaliam memória. Indivíduos com o transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC) freqüentemente reportam insatisfação em relação a sua memória e, muitas vezes, referem
esta suposta dificuldade como razão essencial para seus comportamentos de checagem como, por
exemplo, escrever listas e checar a porta (Jelinek, L. & cols., 2006). Nos últimos 20 anos, as
dificuldades de memória vêm sendo discutidas como um fator de risco patogenético para a
emergência do TOC, particularmente de compulsões de checagem (Sher et al., 1984 apud Jelinek,
L. & cols., 2006). Esta hipótese de déficits específicos na memória de indivíduos com TOC
promoveria dúvidas e causaria compulsões de checagem (Zitterl et al., 2001 apud Jelinek, L. &
cols., 2006). No entanto, pesquisas sobre estes déficits são ainda inconclusivas. Recentemente,
diversos estudos têm proposto que há uma possível razão para os déficits de memória no TOC.
Estas pesquisas, por sua vez, desafiam a visão de que a memória é primariamente afetada no
TOC. Isso porque, disfunções podem ser mediadas, em parte, por déficits nas funções executivas
(Penades et al., 2005; Savage et al., 1999 apud Jelinek, L. & cols., 2006), comorbidades com
sintomas depressivos (Moritz et al., 2003 apud Jelinek, L. & cols., 2006) e o uso de medicação
(Kuelz et al., 2004 apud Jelinek, L. & cols., 2006). Em alguns estudos, os participantes com
déficits de memória apresentavam , sempre, ao menos um desses fatores de risco.
A presente pesquisa avaliou a memória dos pacientes com TOC, especialmente a
memória de trabalho (como sub-componente das funções executivas), através dos seguintes
instrumentos: Weschler Memory Test (Teste da Memória Lógica de Weschler), a Figura
Complexa de Rey-Osterrieth, o Brief Visual Memory Test, os subtestes Digit Span e Ordenamento
de Números e Letras (WAIS – III) e o Teste de Aprendizado Verbal da Califórnia (CVLT). Em
relação aos resultados do instrumento Memória Lógica Wechsler, a única correlação significativa
61
se encontram, o que é corroborado pelos consistentes achados da literatura que associam o TOC a
um déficit no controle inibitório. Também, observou-se uma fraca correlação entre o número de
categorias completadas no WCST e a dimensão de sintomas obsessivo-compulsivos totais. No
Wisconsin Card Sorting Test, o número de categorias completadas pode sugerir uma boa medida
de flexibilidade mental dos indivíduos avaliados. No caso desta pesquisa, os pacientes avaliados
não apresentaram déficits neste aspecto.
O Teste de Fluência Verbal Fonológica (FAS), avalia as funções executivas (iniciação,
planejamento verbal, inibição, busca na memória léxico-semântica, seleção e manutenção de
estratégias bem-sucedidas, velocidade processual), bem como possibilita a avaliação da
linguagem e memória semântica do indivíduo. Na presente pesquisa, houve uma fraca correlação
entre o total de palavras emitidas pelos participantes e as seguintes dimensões da DY-BOCS: A)
agressão, violência e desastres naturais; B) simetria, ordem, contagem e arranjo e C) todas as
obsessões e compulsões presentes em sua doença (todas as dimensões na pior fase de
apresentação dos sintomas). Houve uma correlação de força média entre a dimensão de obsessões
e compulsões diversas (pior fase) e o total de palavras emitidas no teste. Quando o paciente
considerava seus sintomas em fase atual (última semana), houve uma fraca correlação entre o
total de palavras emitidas no FAS e as dimensões de sintomas de agressão, violência e desastres
naturais e de simetria, ordem, contagem e arranjo. Houve uma correlação de força média entre a
dimensão de sintomas obsessivo-compulsivos diversos e o total de palavras emitidas no teste de
fluência verbal fonológica. Na literatura sobre o TOC, não há achados consistentes a respeito da
avaliação de fluência verbal (Fontenelle, 2001). Os resultados desta pesquisa apontam para um
desempenho melhor dos pacientes com dimensões de sintomas de agressão, violência e desastres
naturais; simetria, ordem, contagem e arranjo e dimensão de sintomas obsessivo-compulsivos
diversos.
O Iowa Gambling Task, a tarefa de paradigma go no-go, o Trail Making Test (parte B:
atenção alternada, função executiva propriamente dita) e o Object Altenation Task (OAT),
também são importantes instrumentos para a avaliação de flexibilidade mental e controle
inibitório. No caso do Gambling, instrumento que objetiva mensurar a habilidade decisional em
situações de incerteza e de âmbito pessoal, os resultados evidenciaram uma fraca correlação entre
a quantidade de boas escolhas feitas pelos sujeitos e a dimensão de sintomas obsessivo-
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