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Cuadernos de Neuropsicología /

Panamerican Journal of Neuropsychology


E-ISSN: 0718-4123
editor@neuropsicologia.cl
Centro de Estudios Académicos en
Neuropsicología
Chile

Menezes, Amanda; Martins Dias, Natália; Gotuzo Seabra, Alessandra


DISFUNÇÃO EXECUTIVA NO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO E NA
SÍNDROME DE TOURETTE
Cuadernos de Neuropsicología / Panamerican Journal of Neuropsychology, vol. 5, núm.
1, julio, 2011, pp. 49-65
Centro de Estudios Académicos en Neuropsicología
Rancagua, Chile

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=439642487004

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Cuad.
Cuad. Neuropsicol.
Neuropsicol. Vol.Vol.
5 Nº5 1;
NºJulio
1; 492011
– 65 Disfunção Executiva Síndrome de Tourette Menezes; Martins; Gotuzo

DISFUNÇÃO EXECUTIVA NO TRANSTORNO


OBSESSIVO -COMPULSIVO E NA SÍNDROME DE
TOURETTE

Amanda Menezes1 - Natália Martins Dias2 - Alessandra Gotuzo Seabra3

Resumo

Dentre as habilidades cognitivas mais estudadas recentemente estão as


funções executivas (FE), que são essenciais na execução de tarefas novas e
permitem o engajamento do indivíduo em ações direcionadas a metas.
Disfunções executivas são reconhecidas em diversos quadros psiquiátricos,
inclusive no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e na síndrome de Tourette
(ST). Esta revisão teórica teve por objetivo ampliar o conhecimento a respeito
da relação entre alterações de FE e os transtornos mencionados. Em sua maior
parte, os estudos científicos voltados à área têm apresentado uma estreita
associação entre o prejuízo no funcionamento executivo, o TOC e a ST.
Entretanto, há pesquisas que refutam esta afirmação, mostrando que não há
ainda uma teoria determinante sobre esta relação. Além disso, mesmo dentre
as pesquisas que compartilham a relação entre FE, TOC e ST, não é possível
afirmar quais habilidades executivas específicas estão prejudicadas em cada
caso. Assim, o estudo permite concluir que, mesmo com o aumento do
número de pesquisas realizadas, muitos questionamentos persistem sobre o
prejuízo das funções executivas nestes transtornos psiquiátricos. Esses dados
revelam a necessidade de mais pesquisas sobre o tema, o que pode vir a
melhorar consideravelmente a qualidade dos diagnósticos, prognósticos e
tratamentos realizados.

Palavras-chave: Funções executivas; Transtorno Obsessivo-Compulsivo; síndrome


de Tourette.































































1
Psicóloga, Mestre em Psicologia e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento – Bolsista FAPESP. Contato: menezes.amanda@uol.com.br
2
Psicóloga, Mestre e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento - Bolsista FAPESP.
3
Doutora e Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo Docente do
Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento - Bolsista de Produtividade
do CNPq.

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EXECUTIVE DYSFUNCTION IN OBSESSIVE -


COMPULSIVE DISORDER AND THE TOURETTE
SYNDROME

Amanda Menezes4 - Natália Martins Dias5 - Alessandra Gotuzo Seabra6

Abtract

Among the cognitive abilities more studied recently are the executive functions
(EF), that are essential in the execution of new tasks and able the individual
commitment in goal directed actions. Executive dysfunctions are recognized in
diverse psychiatric conditions, including the Obsessive-compulsive Disorder
(OCD) and the Tourette Syndrome (TS). This theoretical revision aimed to
extend the knowledge about the relation between EF damages and these
mentioned disorders. In the greater part, the scientific studies in the area have
presented a near association between the EF damage, the OCD, and the TS.
However, there are researches that refute these findings, showing that there is
still not a determinant theory about this relationship. Beyond that, even among
the researches that share the relation between EF, OCD, and TS, is not possible
affirm which specific executive abilities are injured in each case. Then, the
study concludes that, even with the increase of the number of researches
carried out, many questionings persist about the EF damage in psychiatric
disorders. These data reveal the need of more researches about the subject,
what can improve considerably the quality of the diagnoses, prognostics and
treatments carried out.

Keywords: Executive functioning; obsessive compulsive disorder; Tourette


Syndrome.































































4
Psicóloga, Mestre em Psicologia e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento – Bolsista FAPESP. Contato: menezes.amanda@uol.com.br
5
Psicóloga, Mestre e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento - Bolsista FAPESP.
6
Doutora e Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo Docente do
Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento - Bolsista de Produtividade
do CNPq.

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DISFUNCIÓN EJECUTIVA EN EL
TRASTORNO OBSESIVO - COMPULSIVO Y EL
SÍNDROME DE TOURETTE

Amanda Menezes7 - Natália Martins Dias8 - Alessandra Gotuzo Seabra9

Resumen

Entre las habilidades cognitivas más estudiadas recientemente están las


funciones ejecutivas (FE), que son esenciales en la ejecución de tareas nuevas
y permiten el comprometimiento del individuo en acciones direccionadas a
las metas. Disfunciones ejecutivas son reconocidas en distintos cuadros
psiquiátricos, incluso en el trastorno objesivo-compulsivo (TOC) y en el
Síndrome de Tourette (ST). Esta revisión teórica tuvo por objetivo ampliar el
conocimiento al respecto de la relación entre alteraciones de FE y los
trastornos mencionados. En su gran parte, los estudios científicos volteados al
area viene presentando una estrecha asociación entre el perjuicio en el
funcionamiento ejecutivo, el TOC y el ST. Sin embargo, hay investigaciones
que refutan esta afirmación, aportando que no hay todavía una teoría
determinante sobre esta relación. Además, aunque entre las investigaciones
que comparten la relación entre FE, TOC y ST, no es posible afirmar cuales ha
bilidades ejecutivas especificas están perjudicadas en cada caso. Así que, el
estudio permite concluir que, aunque con el aumento de número de
investigaciones realizadas, muchos cuestionamientos persisten sobre el
perjuízio de la funciones ejecutivas en estos trastornos psiquiatricos. Esos
datos revelan la necesidad de más investigaciones al respecto del tema, lo que
puede venir a mejorar considerablemente la calidad de los diagnósticcos,
prognósticos y tratamientos realizados.

Palabras clave: Funciones Ejecutivas; Trastorno Obsesivo - Compulsivo;


Síndrome de Tourette.































































7
Psicóloga, Mestre em Psicologia e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento – Bolsista FAPESP. Contato: menezes.amanda@uol.com.br
8
Psicóloga, Mestre e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento - Bolsista FAPESP.
9
Doutora e Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo Docente do
Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento - Bolsista de Produtividade
do CNPq.

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Funções Executivas
para um estímulo, ignorando ou
O córtex pré-frontal desempenha um reduzindo a ênfase sobre os demais
papel fundamental na formação de estímulos concorrentes; o planejamento,
metas e objetivos, no planejamento de que se refere à capacidade de traçar
estratégias de ação necessárias para a mentalmente um trajeto a fim de atingir
realização de uma dada tarefa, na um objetivo, delimitando as etapas de
seleção de habilidades cognitivas acordo com a ordem de realização de
requeridas para a implementação dos cada uma; e a flexibilidade cognitiva, a
planos, na coordenação das habilidades qual se relaciona à capacidade de
e na execução de cada etapa em uma alternância de respostas que visam
ordem correta. Além disso, essa região é adaptar as escolhas do indivíduo às
responsável pela avaliação do sucesso contingências do meio. Além, todos
ou do fracasso das ações em relação aos estes processos são continuamente
objetivos. Todos esses processos têm supervisionados por um sistema de
sido agrupados sob a nomenclatura de monitoramento, que atua na detecção
funções executivas (Goldberg, 2002), as de erros e na avaliação do
quais, conforme Lezak (1993) e Lezak, comportamento em relação ao plano
Howieson e Loring (2004), direcionam e inicial. Este sistema pode assim regular
regulam várias habilidades intelectuais, comportamentos e cognições, engajando
emocionais e sociais e permitem ao outros processos e corrigindo seu curso
indivíduo engajar-se em de ação (Duncan, Johnson, Swales &
comportamentos deliberados, vias à Frees, 1997; Fuster, 1997; Gazzanig,
resolução com sucesso de ações Ivry & Magnum, 2006; Gil, 2002; Lezak,
direcionadas a metas específicas. 1993; Pliszka, 2004; Souza, Ignácio,
Cunha, Oliveira & Moll, 2001;
Considera-se que as funções executivas Sternberg, 2000).
não se caracterizam por uma única
habilidade cognitiva, mas por Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes e Leite
competências distintas, embora (2008) referem que o comprometimento
relacionadas (Huizinga, Dolan & Van das funções executivas tem sido citado
Der Molen, 2006; Miyake, Friedman, pela literatura especializada como
Emerson, Witzki, & Howerter, 2000). síndrome disexecutiva ou disfunção
Tais habilidades incluem a memória de executiva. Em geral, o desenvolvimento
trabalho, considerada um depositário normal de tais habilidades pode ser
transitório de informações que podem alterado por meio de lesões advindas do
ser acessadas, permitindo a ambiente, como acidentes que atinjam a
representação de informações relevantes região craniana, ou alterações do
para uma dada tarefa; o controle próprio organismo, como tumor
inibitório, que se refere à capacidade de cerebral, além de quadros como o
responder apropriada-mente a estímulos, Transtorno de Déficit de Atenção com
ou seja, inibir as respostas não Hiperatividade (TDAH) e outras
adaptadas, minimizando também o psicopatologias que possam estar
impacto no processamento de relacionadas à região pré-frontal do
informações perceptuais irrelevantes; a cérebro (Santos, 2004), a exemplo do
atenção seletiva, a qual está relacionada Transtorno Obsessivo-Compulsivo
à orientação e à atenção direcionadas (Ferrari, Busatto, McGuire & Crippa,

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2008; Kwon & cols., 2003; Saxena, Bota colecionismo de objetos sem valor, além
& Brody, 2001) e da Síndrome de dos rituais mentais, que não são
Tourette (Channon, Crawfors, Vakili & perceptíveis e interferem bastante na
Robertson, 2003; Goudriaan, concentração, como rezar ou contar em
Oosterlaan, Beurs & Brink van Den, silêncio, repetidamente.
2006). O presente estudo tem como
objetivo discutir os dois últimos
O TOC tem a mesma prevalência em
transtornos citados, bem como suas
homens e mulheres e na maioria dos
relações com as funções executivas.
casos se inicia na infância ou no
começo da vida adulta (OMS, 1993),
sendo o surgimento mais precoce em
meninos, entre os 6 e os 15 anos, do que
Transtorno Obsessivo-Compulsivo nas meninas, nas quais ocorre mais
frequentemente dos 20 aos 29 anos
O transtorno obsessivo-compulsivo (APA, 1994). Embora as manifestações
(TOC) é caracterizado, de acordo com a do TOC em crianças sejam semelhantes
Organização Mundial de Saúde (OMS, àquelas dos adultos e determinadas
1993), por pensamentos obsessivos e pelos mesmos tipos de compulsões,
comportamentos compulsivos que diagnosticar este transtorno em crianças
provocam um grau de sofrimento ao nem sempre é uma tarefa simples. Isso
sujeito, levando-o a tentativas frustradas decorre do fato de que elas geralmente
de resistir às obsessões e compulsões. As têm dificuldades em detectar os
obsessões são pensamentos ou imagens conteúdos das suas obsessões de forma
persistentes e inadequadas que clara, o que é resultante da imaturidade
provocam muita ansiedade ou cognitiva, e tendem a mascarar os
sofrimento; já as compulsões são sintomas e não solicitar ajuda,
comportamentos repetitivos ou atos dificultando a identificação das
mentais cujo objetivo é evitar ou reduzir manifestações por parte daqueles que as
a ansiedade (APA, 1994). O indivíduo cercam (APA, 1994; Mercadante & cols.,
com TOC sofre com os pensamentos e 2004).
compulsões, visto que os reconhece
como ineficazes e desadaptativos, mas
não consegue evitá-los. Cordioli, Kipper e Sousa (n.d.) citam que
a etiologia do TOC permanece em
Conforme a APA (1994), Mercadante, debate, não havendo ainda um fator
Rosario-Campos, Quarantini e Sato específico determinado, o que tem
(2004) e a OMS (1993), as obsessões levado a comunidade científica a aceitar
mais comuns são pensamentos que o TOC é multideterminado e que
constantes de contaminação, dúvidas cada tipo de manifestação desse
repetidas, necessidade de organizar as transtorno pode ser distinto não apenas
coisas em determinada ordem, impulsos na sintomatologia, mas também na
agressivos e imagens sexuais. Dentre as etiologia. Desse modo, existem
compulsões mais comuns estão os rituais evidências do envolvimento de fatores
de limpeza, como lavar e limpar, de biológicos, genéticos, ambientais e
verificação, solicitação ou exigência de psicológicos na determinação do
garantias, repetição de ações, quadro.
organização ou arrumação, simetria,

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Evidências sugerem que os fatores (2001) afirmaram que a sintomatologia


biológicos são influentes no obsessivo-compulsiva (SOC) é
estabelecimento do TOC, o que pode ser decorrente de uma hiperatividade das
inferido a partir da freqüência de regiões frontal e subcortical, resultante
sintomas obsessivo-compulsivos em de um desequilíbrio entre o sistema
outras doenças que afetam os gânglios estriato-palidal.
da base e a região cortical frontal,
também responsável pelas funções Em relação às habilidades executivas, a
executivas. Exemplos dessas doenças capacidade de planejar foi investigada
são a Coréia de Sydenham, febre num estudo realizado por Heuvel van
reumática, Transtorno de Tiques e a Den e cols. (2005), em adultos de 21 a
Síndrome de Tourette (Cordioli & cols., 49 anos. Foi observado um
n.d.; Maia, Barbosa, Menezes & Miguel comprometimento significativo do
Filho, 1999; Taub, D’Alcante, Batistuzzo planejamento nos pacientes com TOC,
& Fontenelle, 2008), a qual também é além de uma redução na atividade do
foco desta revisão. córtex pré-frontal dorsolateral e do
núcleo caudado e um aumento da
Evidências da relação entre TOC e ativação nas regiões responsáveis pelo
funcionamento executivo já foram monitoramento e pela memória de curto
encontradas por diversos autores (e.g. prazo, como o cingulado anterior, o
Goodwin & Sher, 1992; Kwon, Kim, Lee, córtex pré-frontal ventromedial e o
Lee, Kim & cols., 2003; Saxena, Bota & córtex parahipocampal.
Brody, 2001). Segundo Goldberg (2002)
e Taub e cols. (2008), tal conclusão Ao avaliar a flexibilidade cognitiva,
pode colaborar para a compreensão do Goodwin e Sher (1992) encontraram que
fato de o indivíduo com TOC perseverar sujeitos com sintomatologia para
todo o tempo, mostrando ser incapaz de compulsão à checagem apresentam, em
evitar as obsessões e compulsões, apesar relação aos sujeitos do grupo controle,
de compreender que as mesmas são um desempenho significativamente
desadaptativas. inferior no Teste de Wisconsin
(Wisconsin Card Sorting Test ou WCST),
Kwon e cols. (2003) investigaram se as efetuando maior número de erros,
manifestações clínicas e os déficits mantendo os mesmos erros
cognitivos no TOC refletiam disfunção sucessivamente e obtendo maior tempo
nas regiões frontal e subcortical do de reação. Trivedi e cols. (2008)
cérebro. Os achados revelaram avaliaram pacientes dos 18 aos 45 anos,
correlação entre a elevação nas taxas de com diagnóstico de TOC, e observaram
metabolismo da glicose no córtex pré- que o grupo clínico apresentou
frontal e no putâmen e os escores nos desempenho significativamente
testes neuropsicológicos utilizados. Os rebaixado em relação ao grupo controle
autores concluíram que indivíduos com nas tarefas de funções executivas,
TOC têm características metabólicas memória de trabalho espacial, atenção
diferentes no encéfalo durante a sustentada, vigilância e impulsividade.
realização de tarefas cognitivas, e que os
circuitos frontal e subcortical devem Do mesmo modo, Demeter, Csigó,
influenciar tanto a sintomatologia do Harsányi, Németh e Racsmány (2008)
transtorno, quanto as manifestações realizaram uma revisão bibliográfica e
cognitivas. Já Saxena, Bota e Brody identificaram que, dentre as disfunções

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cognitivas, os déficits executivos são os Schmidtke, Schorb, Winkelmann e


que mais contribuem para o perfil Hohagen (1998) aplicaram doze
neuropsicológico dos sujeitos com TOC. instrumentos de avaliação neuro-
Os autores identificaram que, nas tarefas psicológica, a maioria relacionada às
executivas, os sujeitos com TOC foram funções executivas, em sujeitos com
mais lentos, cometeram mais erros por TOC, e identificaram que este grupo
perseveração, além de maior dificuldade mantêm preservadas as capacidades de
de usar feedback para orientar suas abstração, resolução de problemas,
respostas. Por fim, o estudo enfatizou a flexibilidade cognitiva, controle
importância em se definir um padrão de inibitório, rapidez na execução de
funcionamento executivo nessa escolhas e busca ativa de memória.
desordem, permitindo assim que Entretanto, foi encontrado prejuízo no
tratamentos mais eficazes sejam tempo de reação nas tarefas de fluência
executados. verbal e não-verbal, no processamento
da atenção e na auto-regulação do
Supondo que os sintomas obsessivo- comportamento.
compulsivos sugerem déficit na ativação
do controle inibitório, Kowalczyk (2006) Porém, não apenas na presença do
realizou uma revisão bibliográfica sobre diagnóstico de TOC a disfunção
o tema. O autor constatou que sujeitos executiva tem sido relatada. A revisão de
com TOC têm dificuldades na inibição Fontenelle (2001) mostrou que, tanto
de conteúdos específicos associados à indivíduos com o transtorno, quanto
natureza repetitiva das obsessões, mas amostras subclínicas com sintomas do
não um déficit geral da função inibitória. mesmo, apresentaram uma série de
Já Nedeljkovic e cols. (2009) avaliaram alterações neuropsicológicas e, entre
o desempenho neuropsicológico em elas, alterações executivas. De acordo
indivíduos com TOC, levando em com esse autor, as amostras subclínicas
consideração os tipos de sintomas que demostraram maior dificuldade em
prevaleciam em cada sujeito. Ou seja, tarefas que demandem flexibilidade ou
os autores agruparam a amostra de mudança de cenário cognitivo, a
acordo com as seguintes classificações: exemplo do WCST, o que pode estar
compulsão por lavagem, compulsão por relacionado à dificuldade destes
checagem, obsessões ou a combinação indivíduos em mudar ou interromper o
de sintomas. A comparação entre os três comportamento, característica central
primeiros grupos e o grupo controle dos sintomas compulsivos; além, foram
indicou poucas diferenças, embora os relatadas dificuldades associadas ao
“checadores” tenham mostrado desempenho em testes de memória de
performance inferior na tarefa de trabalho e planejamento. Em relação aos
memória de trabalho espacial, enquanto indivíduos diagnosticados, foi
para os “obsessivos” o rebaixamento encontrada uma disfunção executiva
ocorreu na tarefa de reconhecimento semelhante, incluindo alterações
espacial. Ainda, tanto os “checadores” atencionais, na memória de trabalho e
quanto o grupo com combinação de na flexibilidade cognitiva. Algumas
sintomas apresentaram maior tempo até destas alterações podem ainda estar
iniciar a tarefa de planejamento, quando associadas com a gravidade dos
comparados ao grupo controle. sintomas e um dos estudos revisados

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pelo autor, de fato, apontou que quando o foco passa a ser qual
pacientes com piores desempenhos no habilidade específica pode estar
WCST (menos categorias completadas e comprometida. Deste modo, no tocante
mais erros perseverativos) possuíam pior às diferenças entre os estudos aqui
prognóstico e menor inteligência. sumariados, estas podem refletir, na
visão destas autoras, três aspectos
Por outro lado, alguns estudos têm fundamentais: (1) diversidade amostral,
sugerido alterações mais específicas incluindo critérios diagnósticos, idade,
nestes pacientes. Sucolotti (2007), por critérios de inclusão e exclusão ou
exemplo, aplicou uma bateria de testes comorbidades; (2) diferenças nos
que avaliam funções executivas em instrumentos de avaliação utilizados,
indivíduos com diagnóstico de TOC; a assim como em critérios e formas de
avaliação incluiu a administração do aplicação; e (3) a heterogeneidade
Teste de Fluência Verbal FAS, Teste de associada ao próprio quadro.
Stroop, WCST, Teste de Trilhas e Teste
de Atenção Concentrada. O autor Sobre este terceiro aspecto, estudos têm
concluiu que o comprometimento se preocupado em delinear distintas
executivo no transtorno estava dimensões de sintomas de TOC, de
especialmente relacionado à inibição de forma a considerar categorias mais
impulsos e mudança de estratégias, homogêneas e, além, têm investigado
conforme demonstrou seu desempenho características psicométricas de
rebaixado no WCST (número de instrumentos de avaliação dimensional
categorias completas). De modo de sintomas do transtorno. Um exemplo
complementar, pacientes medicados é a Dimensional Yale-Brown Obsessive-
desempenharam-se melhor neste teste Compulsive Scale (DY-BOCS). A escala
em comparação com os não medicados; avalia a presença e intensidade de
porém, nem o período de duração, nem sintomas obsessivo-compulsivos dentro
a intensidade dos sintomas mostraram de seis dimensões: (1) obsessões sobre
relação com os desempenhos nos testes agressão, violência, desastres naturais e
neuropsicológicos. compulsões relacionadas, (2) obsessões
sexuais e religiosas e compulsões
Cabe, porém, uma ressalva com relação relacionadas, (3) obsessões e
a esta conclusão. O WCST é um teste compulsões de simetria, ordem,
complexo do funcionamento executivo contagem e arranjo, (4) obsessões de
(Miyake & cols., 2000; Strauss, Sherman contaminação e compulsões de limpeza,
& Spreen, 2006) e seu desempenho (5) obsessões e compulsões de
pode sofrer a influência de diversas colecionismo, e (5) obsessões e
habilidades executivas. Deste modo, não compulsões diversas (Rosario-Campos &
fica claro qual dificuldade ou cols., 2006).
dificuldades podem estar subjacentes a
este desempenho; e isto é especialmente Com base nessa abordagem dimensional
intrigante face à ausência de alterações para a compreensão do TOC, um estudo
nos demais testes utilizados no estudo. relativamente recente investigou as
relações entre planejamento e memória
De modo geral, há convergência entre não- verbal, a partir das dimensões dos
os estudos no que tange à indicação de sintomas de seus pacientes. Foi
uma disfunção executiva no TOC, verificado que as relações entre as
embora haja menor concordância habilidades mensuradas sofreram

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influência das dimensões específicas de rítmico, ou produção vocal, que é de


sintomas de TOC, ou seja, apenas foi início súbito e sem propósito aparente”
observada correlação significativa entre (p. 276) e que normalmente é
planejamento e memória não- verbal exacerbado em razão da ansiedade,
dentro das dimensões ‘agressão’ e estresse e cansaço (Mercadante & cols.,
‘colecionismo’. Os autores destacam, 2004).
portanto, a necessidade de se considerar
a heterogeneidade dos sintomas do De acordo com Mercadante e cols.
transtorno em estudos futuros (Pinto & (2004), os tiques motores e vocais
cols., 2009). podem ser classificados como simples,
como piscar os olhos e pigarrear, ou
Deste modo, apesar de haver algumas complexos, como agachar-se e repetir
similaridades nas formas de frases ou falar obscenidades (coprolalia).
manifestação do TOC, como a repetição Além disso, os tiques são determinados
e a dúvida constantes, torna-se uma pela duração dos seus sintomas como
tarefa difícil estabelecer classificações transitórios, que duram menos de um
para esse transtorno diante de tamanha ano, crônicos, os quais permanecem por
diversidade nos achados dos estudos mais de um ano, e a Síndrome de
que o relacionam às funções executivas, Tourette, caracterizada pela associação
principalmente quando levada em de tiques vocais e motores por mais de
consideração a variedade da um ano.
sintomatologia (Greisber & Mckay,
2003). Ainda assim, alguns A ST é mais comum no sexo masculino
pesquisadores (Coffey, Miguel, Savage e vale ressaltar que há um
& Rauch, 1994; Cordioli, & cols., n.d.; comprometimento social, acadêmico e
Leckman, Pauls, Peterson, Riddle, ocupacional nesses sujeitos, tanto
Anderson & cols., 1992; Mercadante & provocado pela rejeição social sofrida,
cols. 2004; Rosário & Miguel Filho, quanto pelo isolamento social gerado
1997) fazem a distinção do TOC por pelo receio de ter tiques em meio a um
meio dos seus subtipos, sendo o mais contexto inadequado (APA, 1994; OMS,
comum aquele associado aos tiques ou à 1993). Além disso, é marcante a alta
Síndrome de Tourette (ST), o que sugere incidência de TOC em indivíduos com
uma estreita relação entre ambos. Síndrome de Tourette, com estimativas
variando de 33 a 50%. Já a freqüência
de ST no TOC é menor, com estimativas
Síndrome de Tourette variando entre 5 e 7%, embora o índice
de indivíduos obsessivo-compulsivos
A Síndrome de Tourette (ST) é que relatam tiques atuais ou passados
caracterizada pela associação entre seja de 20 a 30% (APA, 1994).
tiques motores e um ou mais tiques
vocais, podendo ocorrer simultânea- Com relação à etiologia da síndrome, a
mente ou não, e com início freqüente ao partir de estudos com familiares de
longo da infância ou adolescência, antes primeiro grau e com gêmeos, autores
dos 18 anos (APA, 1994; OMS, 1993). têm ressaltado a importância dos fatores
De acordo com a OMS, tique é genéticos no TOC e na ST, encontrando
caracterizado por “um movimento motor quantidades significativas de sintomas
involuntário, rápido, recorrente e não obsessivo-compulsivos e TOC em
familiares com ST, e a presença de

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tiques em sujeitos com TOC (Cordioli & de controle inibitório ao longo da


cols., n.d.; Leckman & cols., 1992; aplicação de uma bateria neuro
Mercadante & cols., 2004). Pauls e psicológica de avaliação das funções
Leckman (1986) investigaram a cognitivas em sujeitos com ST.
interferência de componentes genéticos
em familiares de primeiro grau de Rasmussen, Soleimani, Carroll e
pacientes com ST e concluíram que, de Hodlevskyy (2009) detectaram, numa
fato, existe relação entre a etiologia da amostra dos 6 aos 13 anos, que crianças
ST e do TOC e tiques crônicos nos com ST apresentam prejuízos em
familiares pesquisados, corroborando a relação às crianças com desenvolvi-
existência de influências genéticas. mento típico em medidas de memória
visual, atenção e funções executivas.
Segundo Hounie e Miguel (2005), além Além disso, o estudo mostrou que as
da carga genética, fatores neuro- dificuldades no desempenho das
biológicos também são determinantes da funções executivas, velocidade de
ST. De acordo com os mesmos autores, resposta e da memória de trabalho foram
o circuito córtex frontal-temporal- agravados conforme a progressão da
cingulado-estriado-tálamo tem a sua idade; ou seja, os sujeitos mais velhos
atividade reduzida em portadores da ST. mostraram maiores dificuldades nessas
Para Sheppard, Bradshaw, Purcell e habilidades do que aqueles com idade
Pantelis (1999), o TOC e a ST são inferior. Ainda, foram encontradas
resultantes de um mesmo diferenças entre as pontuações das
comprometimento, a saber, do circuito avaliações realizadas por pais e
gânglio basal – tálamo - cortical. Já professores, sendo a destes últimos a que
George, Trimble, Costa, Robertson, Ring indicou maiores índices de
e Ell (1992) observaram uma comprometimento, o que pode ser
hiperativação do córtex frontal direito explicado por uma maior demanda de
em sujeitos com o referido diagnóstico, concentração em sala de aula, tarefa
quando comparados aos sujeitos do esta de extrema dificuldade para
grupo controle. Os dados sugerem, indivíduos com ST.
portanto, a existência de anormalidades
na região pré-frontal do cérebro em Já Channon, Crawford e Robertson
pacientes com ST, o que poderia estar (2010) avaliaram grupos diversificados,
relacionado a déficits de funções sendo um com ST puro, outro com ST
executivas (Peterson, 2001). em comorbidade com TOC e TDAH, e
um grupo controle, tanto em
Na tentativa de verificar essa relação, instrumentos padrozinados de avaliação
Channon, Crawford, Vakili e Robertson do funcionamento executivo, quanto em
(2003) realizaram um estudo situações sociais da vida real. Os
comparando indivíduos com ST a resultados apresentados pelos grupos
sujeitos controle. Os autores detectaram com transtornos foram inferiores aos do
que o grupo de pacientes obteve pior grupo controle em ambas as avaliações.
desempenho em tarefas de resolução de Além disso, os pacientes com
problemas, na seleção de soluções comorbidades obtiveram desempenho
apropriadas e nas habilidades executivas desfavorável em relação aos
mensuradas. Por outro lado, Goudriaan, participantes com TS puro. No mesmo
Oosterlaan, Beurs e Brink van Den sentido, Muller e cols. (2003)
(2006) identificaram déficits em tarefas encontraram déficits na habilidade

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inibitória e no monitoramento da Por sua vez, os pacientes com ST


realidade em portadores de ST que apresentaram comprometimentos na
tinham como comorbidade o TOC, tomada de e decisões, flexibilidade
reafirmando a teoria de memória de trabalho. Entretanto, o mais
comprometimento do circuito fronto – interessante no estudo foi a ausência de
estriato –tálamo-frontal. Em consonância déficits no controle inibitório neste
com estes achados, Mahone e Silverman grupo. Esses participantes foram capazes
(2008) também apontam que a de inibir, durante a tarefa, respostas
disfunção executiva é frequentemente voluntárias prepotentes, embora a ST
mais severa na presença da tríade de seja caracterizada justamente pela
comorbidades entre TDAH, Síndrome de inabilidade em inibir comportamentos
Tourette e TOC. involuntários. Uma possível explicação
para este achado inconsistente refere
Por outro lado, ao realizar uma revisão que a síndrome pode estar associada a
bibliográfica, Pennington e Ozonoff um comprometimento nos mecanismos
(1996) concluíram que os déficits de de controle de resposta do núcleo
funções executivas são muito pouco estriado e não nos mecanismos no nível
detectados na Síndrome de Tourette, ao cortical propriamente. Não houve
contrário de outras psicopatologias. diferença entre os grupos clínicos ou
Corroborando esses dados, Lavoie, entre eles e controles saudáveis em
Thibault, Stip e O’Connor (2007) tarefa de planejamento.
avaliaram a atenção seletiva, a
flexibilidade cognitiva, o planejamento e
Portanto, apesar dos dados citados
a memória verbal em pacientes com ST
anteriormente, e do mesmo modo que
e concluíram que tais habilidades
ocorre com o TOC, não há unanimidade
estavam intactas naqueles sujeitos.
entre os estudos, de modo que não é
possível determinar prejuízos executivos
Complementando esta discussão,
específicos relacionados à Síndrome de
Watkins e cols. (2005) investigaram o
Tourette. É possível que
desempenho de pacientes com TOC e
comprometimentos executivos
ST em tarefas de habilidades executivas.
particulares também estejam atrelados a
Apesar de algumas similaridades, nas
sintomas ou manifestações específicas
quais em geral os pacientes com TOC
(e.g., tiques vocais, tiques motores ou
demonstraram maior comprometimento,
ambos), de modo que este permanece
seus resultados também revelaram perfis
um campo inesgotável à investigação
de déficits distintos associados a cada
neuropsicológica.
quadro. Pacientes com TOC
demonstraram maior dificuldade quando
a tarefa requeria flexibilidade, ou seja,
mudança no cenário mental ou de
estratégias para resolver a tarefa, e
capacidade de inibição, o que de fato é
condizente com a descrição dos
sintomas típicos do quadro.

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Qual a relevância do Estudo das investigados levando-se em


Alterações Executivas em Quadros consideração o caráter heterogêneo que
têm, talvez a sua associação com o
como o TOC e a ST?
funcionamento executivo, bem como
outros aspectos que os caracterizam,
estivessem mais bem determinados,
Como pôde ser observado, o TOC e a ST
influenciando, dessa forma, o
são quadros caracterizados por uma
prognóstico dos pacientes.
marcante heterogeneidade dos sintomas
apresentados, fato este que é pouco
Achados como os revisados neste artigo
enfatizado e discutido na maior parte
podem auxiliar na descrição e na
das pesquisas. Conforme Goodman e
compreensão das manifestações
cols. (1989), de maneira geral os estudos
associadas ao TOC e à ST, entretanto, a
dedicados ao TOC, por exemplo, fazem
maior relevância dos resultados
comparações entre apenas dois grupos,
neuropsicológicos nestes quadros está
um com diagnóstico do transtorno e um
na sua integração com evidências e
grupo controle, deixando de considerar
práticas de tratamento, posição que
a diversidade existente entre as
também é defendida por Porto e cols.
manifestações sintomatológicas em cada
(2008), os quais discorrem, por exemplo,
um dos sujeitos, conforme realizado por
sobre a colaboração entre resultados da
Kowalczyk (2006).
pesquisa neurocientífica, como os
revisados neste artigo, e a prática da
Por outro lado, em seu trabalho,
terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Nedeljkovic e cols.(2009) efetuaram a
Atendo-se aos transtornos de ansiedade
divisão da amostra, considerando se os
de modo geral, os autores revisaram
sujeitos apresentavam de modo mais
achados do campo da neurociência
marcante compulsão por checagem, por
relacionados à regulação da emoção.
lavagem, obsessões ou a combinação de
Por um lado, a tarefa de regular ou
sintomas. Do mesmo modo, nos estudos
controlar os estados mentais, o que
com ST é possível observar que nem
inclui a emoção, é função do córtex pré-
todos os pesquisadores têm a
frontal (Gazzaniga & cols., 2006; Lezak
preocupação de subdividir a amostra,
& cols., 2004), entretanto, por outro, é
como foi feito por Channon, Crawford e
papel da TCC ensinar ao indivíduo
Robertson (2010) e Muller e cols. (2003),
técnicas e estratégias que tornem mais
os quais consideraram os grupos de
efetiva a avaliação de seus estados
acordo com os tipos de comorbidades.
mentais e o subsequente controle e
regulação destes estados; i.e, permite
Esse tipo de precaução no delineamento
regular a emoção por meio de
das pesquisas é de extrema importância,
mecanismos cognitivos, engajando,
visto que os seus resultados podem
portanto, as funções executivas neste
apresentar vieses decorrentes da escolha
processo.
inadequada da metodologia do estudo,
além de impedir que novas descobertas
Exemplificando esta integração de
sejam feitas. Este pode ser o caso da
conhecimentos, os autores mencionam a
dificuldade encontrada neste trabalho
estratégia de reavaliação cognitiva. Em
em listar as principais habilidades
sua revisão, o uso desta estratégia
executivas relacionadas ao TOC e à ST.
aparece relacionado à atividade do giro
Ou seja, se esses transtornos fossem
cingulado anterior dorsal e do córtex

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pré-frontal e à diminuição da ativação nos quais o córtex pré-frontal está


da amígdala. Ou seja, ao ampliar sua envolvido, além de evidências de
capacidade de interpretar diferente- déficits nas habilidades de
mente as situações e assim limitar sua planejamento, memória de trabalho,
resposta emocional a elas, haveria o fluência verbal, auto-regulação e
engajamento dos mecanismos flexibilidade cognitiva, por exemplo, no
regulatórios (portanto, executivos) do TOC; e de danos no controle inibitório,
córtex pré-frontal modulando a atividade flexibilidade, memória de trabalho e
da amígdala e, logo, a expressão tomada de decisão na ST. Tais
emocional. informações são relevantes porque,
quando coletadas e utilizadas de modo
Tal extrapolação ainda é difícil em adequado, podem servir de base para
relação ao TOC e à ST, dada a grande definir melhor o prognóstico de cada
diversidade de achados que torna paciente, bem como os tipos de
complexo o papel de delimitar um perfil tratamento e intervenções em que
executivo específico associado a tais melhor se encaixam.
quadros. No entanto, o exemplo
fornecido por Porto e cols. (2008) acerca Entretanto, mesmo com o aumento do
da colaboração entre áreas na número de estudos realizados nessa área
compreensão de como alterações de conhecimento, muitos questiona-
executivas se relacionam aos sintomas mentos e conflitos persistem em relação
do transtorno, bem como dos ao funcionamento das habilidades
mecanismos por meio dos quais as executivas nos transtornos psiquiátricos,
terapias funcionam, corrobora a especificamente no TOC e na ST. Como
necessidade de novos estudos, mais pôde ser percebido, ainda não há um
controlados em termos de amostras, consenso entre os autores à respeito de
instrumentos e heterogeneidade das quais habilidades executivas são mais
manifestações, de modo a contribuir na freqüentes e fortemente prejudicadas nos
melhor caracterização das alterações transtornos investigados, havendo, até
executivas no TOC e ST. mesmo, pesquisas que os dissociam dos
déficits executivos. Outra constatação
foi a necessidade de que pesquisas
Considerações Finais futuras formem amostras com subgrupos
mais homogêneos, buscando melhor
O presente estudo buscou apresentar determinar as características sintomato-
maiores esclarecimentos sobre a relação lógicas envolvidas em cada transtorno e,
entre funcionamento executivo, TOC e consequentemente, encontrando
ST, partindo de uma breve revisão de resultados mais fiéis à realidade de cada
alguns estudos direcionados ao tema. quadro. Cabe ainda enfatizar que para
Foi possível concluir que ambos os que esses grupos sejam agrupados
transtornos estão associados às funções adequadamente, também são
executivas, tendo em vista diversas necessárias pesquisas focando uma
pesquisas que apontam para melhor determinação dos marcadores
comprometimentos em circuitos neurais biológicos dessas desordens.

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Além disso, outros fatores que devem ser Referências


ressaltados e bem definidos, a fim de
evitar contradições, são os critérios American Psychiatric Association.
diagnósticos utilizados nos estudos, (1994). Diagnostic and statistical
além dos tipos de instrumentos manual of mental disorders. 4th ed.
utilizados na avaliação neuropsicológica Washington, DC: American
dos sujeitos, bem como as qualidades Psychiatric Association.
psicométricas desses testes. Channon, S., Crawford, S. e Robertson,
M. M. (2010). Problem-solvingand
Portanto, diante das inconsistências executive Functioning in Tourette
entre os dados aqui relatados, as Syndrome. The MIT Press. Disponível
presentes autoras sugerem que sejam em:
realizados mais estudos, inclusive http://cognet.mit.edu/library/conferen
longitudinais, com populações de ces/paper?paper_id=53105.
crianças e adolescentes, utilizando não Channon, S., Crawfors, S., Vakili, K. &
só a avaliação das funções executivas Robertson, M. M. (2003). Real-life-
por meio de medidas neuropsicológicas, type problem solving in Tourette
mas também se beneficiando das syndrome. Cognitive and Behavioral
informações que são disponibilizadas Neurology, 16, 3-15.
pelos recursos de neuroimagem, a fim Coffey, B. J., Miguel, E. C., Savage, C. R.
de melhor esclarecer as habilidades & Rauch, S. L. (1994). Tourette’s
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envolvidos no TOC e na ST, levando em review and update. Harvard Review
consideração os diversos tipos de of Psychiatry, 2, (3), 121-132.
sintomas desses transtornos. Esta posição Cordioli, A. V., Kipper, L. da C. & Sousa,
sustenta-se no ponto de vista de que M. B. de. (n.d.). Neurobiologia do
uma maior compreensão dos transtorno obsessivo-compulsivo.
comprometimentos neuropsicológicos Disponível em:
associados à cada quadro psiquiátrico www.ufrgs.br/toc/neurobiologia/pdf
pode contribuir para o aumento da Demeter G., Csigó, K., Harsányi, A.,
eficácia terapêutica, uma vez que tal Németh, A. & Racsmány, M. (2008).
conhecimento pode subservir ao Impaired executive functions in
aprimoramento ou desenvolvimento de obsessive compulsive (OCD). Review.
novas técnicas de tratamento e suas Psychiatria Hungarica 23, (2), 85-93.
aplicações. Por fim, cabe ressaltar que Duncan, J., Johnson, R., Swales, M. &
tal princípio está pautado no tão Frees, C. (1997). Frontal lobe deficits
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pesquisa e a prática, ao associar os of function. Cognitive Neuro
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