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A Importância do Conhecimento Neurocientífico nas Avaliações
Psicológicas e Neuropsicológicas Aplicadas ao TEA
Ellen Manfrim

Durante o século XX, assistimos ao período mais revolucionário do


crescimento e do estabelecimento da Neurociência como disciplina, tanto na
pesquisa quanto na clínica. Tal foi o destaque dessa disciplina, que a última
década dos anos 90 foi definida como "A década do cérebro ". Os avanços da
neurociência nas últimas décadas confirmam a enorme repercussão dessa
especialidade, e a busca cada vez maior de conhecimento profissional nessa
área. Porém, apesar de todo o conhecimento adquirido, sabemos que ainda há
muito a ser descoberto sobre o cérebro humano e suas funções.

O que é a Neurociências?
A neurociência é a área que estuda o funcionamento do cérebro de um
ponto de vista interdisciplinar, ou seja, através da contribuição de disciplinas
como física, química, biologia, neurologia, genética, informática, psiquiatria e
(neuro) psicologia. Todas essas abordagens, dentro de um novo conceito da
mente humana, são necessárias para entender os processos mentais,
particularmente os mais complexos, como inteligência, consciência,
personalidade ou emoções.
É através da neurociência que são formuladas hipóteses, novos
experimentos, com o objetivo de investigar questões fundamentais sobre o
sistema nervoso. É importante lembrar que as pesquisas em neurociência
iniciaram com a descoberta do neurônio e da sua estrutura celular. Atualmente,
muito tem se pesquisado sobre as propriedades cerebrais, tais como o
aprendizado e memória, a neurogênese (formação de novos neurônios) e
plasticidade neural (readaptação das funções cerebrais frente a um estímulo).
Portanto, a neurociência busca conhecimento para melhor entender a
forma como o cérebro recebe, seleciona, transforma, memoriza, arquiva,
processa e elabora todas as sensações captadas pelos diversos elementos
sensoriais, emitindo um comportamento a partir desses processos complexos.

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Enquanto a neurociência busca entender os fenômenos do sistema
nervoso através de pesquisas experimentais, a neuropsicologia utiliza essas
informações para fazer uma avaliação clínica e diagnosticar as alterações de
comportamento. Já a psicologia clínica ocupa-se em estudar as reações
emocionais e as manifestações psíquicas em todos os tipos de pacientes.
Portanto, a neuropsicologia utiliza-se das descobertas da neurociência para
interpretar o comportamento dos indivíduos através de complexas avaliações
clínicas que auxiliam na determinação de alterações nos processos cognitivos
(memória, atenção, função executiva, viso-construção e percepção) e no
diagnóstico das disfunções cerebrais ligadas à audição, fala escrita, leitura e
raciocínio lógico.
Através da avaliação neuropsicológica é possível investigar quais
estruturas cerebrais estão comprometidas e quais estão preservadas frente à
manifestação de alguns sintomas apresentados pelos pacientes. Dessa forma, a
abordagem do profissional especializado em neuropsicologia é bastante amplo,
sendo neuropsicólogo totalmente apto para identificar transtornos psiquiátricos
(distúrbios de ansiedade, sintomas de hiperatividade em crianças, aspectos
depressivos, fobias e outras desordens mentais), identificar os transtornos e
dificuldades de aprendizagem, tais como dislexia, discalculia, transtornos de
déficit de atenção e hiperatividade, disortografia, dislalia dentre outros, além de
aplicar testagens padronizadas para avaliar a evolução terapêutica do paciente.
Atualmente, a neuropsicologia faz parte do estudo de qualquer distúrbio
que afeta a mente e, evidentemente, isso se deve a uma mudança de paradigma
conceitual. Na última década, começamos a entender que o cérebro e a mente
são os mesmos, ou seja, que todos os processos mentais são devidos à
atividade cerebral e que todas as atividades cerebrais produzem processos
mentais. Esse é o principal conceito subjacente ao apogeu que a neuropsicologia
está enfrentando hoje. Nesse sentido, a neurociência oferece a possibilidade de
construir pontes entre diferentes níveis de análise e colocou-se em uma posição
ideal para unir tecido cerebral com processos mentais. Baseado nas
características da ciência, como a replicabilidade, a interobservação, a medição
e a heurística, percebemos que dentro dos diferentes níveis de análise propostos

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pela psicologia, o mais próximo da ciência assim entendido é o nível
neuropsicológico.
Se acreditamos que todo processo mental é o resultado do funcionamento
do cérebro, que isso é explicado pela neurociência, e que o neuropsicólogo
precisa ter um extenso conhecimento dos processos mentais, não há como ser
apto no atendimento neuropsicológico e na aplicação das avaliações
padronizadas se não houver um amplo conhecimento em neurociências.
Dessa forma, a neuropsicologia e psicologia atuais tem se debruçado
sobre o estudo das funções cognitivas, dos relacionamentos interpessoais e da
neurociência aplicada aos transtornos do desenvolvimento. Em outras palavras,
ela estuda processos como atenção, memória, reconhecimento, linguagem,
controle motor, funções executivas, emoções e cognição social, sendo o estudo
da empatia parte destes dois últimos e amplamente pesquisado nos pacientes
com TEA.
A principal contribuição da avaliação neuropsicológica aplicada em
psicologia, se concentra em fornecer dados objetivos sobre os déficits cognitivos
relacionados aos transtornos mentais e como esses déficits afetam a vida do
paciente. Assim, testes neuropsicológicos nos auxiliam a tentar estabelecer as
bases cerebrais dos diferentes distúrbios psicopatológicos. Nesse contexto, o
papel das modernas técnicas de neuroimagem tem sido crescente e decisivo, de
modo que o exame neuropsicológico pode ser correlacionado não apenas aos
sintomas observados, mas também às alterações de neuroimagem funcional.
A neuropsicologia atualmente é uma disciplina altamente reconhecida,
não apenas para a própria psicologia, mas para outros ramos da ciência, como
a medicina. É cada vez mais comum os hospitais terem psicólogos treinados
nessa disciplina nos serviços de neurologia e psiquiatria. A cada vez, há mais
mestrados nas universidades que oferecem treinamento em neuropsicologia e
há cada vez mais teses e trabalhos de pesquisa que têm como objetivo aspectos
neuropsicológicos.
Vivemos, portanto, o momento de ouro da neuropsicologia: a
neuroimagem, estudos de amostras de pacientes com envolvimento cerebral de
etiologia muito diversa e a união entre neuropsicologia clínica e psicologia
cognitiva estão produzindo muita informação sobre a relação entre processos

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mentais e funcionamento cerebral. A reabilitação neuropsicológica faz parte de
qualquer terapia para distúrbios das mais diversas etiologias, sendo importante
na reabilitação de transtornos neuropsiquiátricos em geral.
Na atualidade, não podemos mais aceitar que diagnósticos e tratamentos
de transtornos do neurodesenvolvimento sejam realizados sem embasamento
nas avaliações neuropsicológicas de qualidade, pois isso aumenta as chances
de acerto e diminui a probabilidade de uma intervenção inadequada.

Referências Bibliográficas

BORGES, J. L., TRENTINI, C. M., BANDEIRA, D. R., DELL’AGLIO, D. D.


Avaliação neuropsicológica dos transtornos psicológicos na infância: um
estudo de revisão. Psico-USF, v. 13, n. 1, p. 125-133, jan./jun. 2008.

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implicações na prática psicoterápica. Cap-47.

CHARCHAT-FICHMAN H, FERNANDES CS, FERNANDEZ JL. Psicoterapia


neurocognitivo-comportamental: uma interface entre psicologia e
neurociência. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas 2012; 8(1), 40-6.

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2017.

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